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A desaprovagao da crian¢ prestados & crianga. & apenas quando a crianga cresce que ele renuncia A maior parte de sua autoridade em favor do irmao de sua mulher, retendo parte dela no caso das meninas, no que diz respeito 20 casamento. » Assim, a participacio do/maridd € definida estritamente pelo cos- fume, sendo considerada socialm: lispensavel, Uma mulher com ‘wma_crianga e sem mari m_grupo_andmalo e incompleto. ae de sua mie é uma particularizagio dda desaprovagao genérica de tudo quanto nao esté de acordo com 0 padrlo social accito ¢ a organizagao tribal te filhos € 0, dating) as fungoer aay 7. A COLETA E A INTERPRETACAO DOS cito que estejafaltando | SS Desse modo, apesar de ignorarem a necessidade fisiol6gica de um homem para a constituigé , encaram-no como socialmente indispensavel. Isso € mui A paternidade, completamente suas partes componentes. Portanto, nao & um de seus membros. [se] desconhecida em seu sentido bi nda assim 6 s i : dogma social que afirma jia deve ter um pai uma mulher A auséncia de clareza filos6fica nos assuntos relacionados com 0 deve se casar antes que possa ter filhos; em toda casa deve haver um trabalho de campo etnogrético e sociolégico tornou-se um grande obsté- denen culo as minhas primeiras tentativas de observar ¢ descrever as instituigdes nativas; considero, portanto, de fundamental importincia demonstrat as dificuldades que encontrei e 0 modo pelo qual procurei resolvé-las. A instituigdo da familia individual é assim sobre um forte sentimento de sua necessidade, totalmente compativel com a absoluta ignorancia de sua fundamentagao biolégica. O papel sociold- ‘Uma das regras fundamentais sobre as quais baseei o trabalho de gico do pai é estabelecido definido sem nenhum recoahecimento de sua campo foi “‘coletar fatos puros, mantendo separados os fatos das inter- natureza fisiol6gica protacdes”. Essa regra é correta se entendermos por “interpretagoes” todas as especulagdes hipotéticas sobre origens etc. e todas as genera- lizagdes precipitadas. Mas hé uma forma de interpretagdo dos fatos et eet cee asi area eT refiro-me A interpretagio que descobre as leis gerais na dade dos fatos; que distingue o essencial do inrelevante, que “a € ordena os fendmenos, relacionando-os mutuamente. Sem t pretagées, todo trabalho cientifico de campo degenera em um simples colecionamento de dados e, quando muito, consegue uma miscelénea de fatos sem qualquer conexao mais profunda, que nunca poder revelar a estrutura sociol6gica de um povo, apresentar uma descri¢do orginica s Reproduaide de Maumowart, B. Bloma: the, apts of the, death in, he 144 de suas erencas ou ainda reproduzir a visio nativa do mundo. A natu: reza freqiientemente nfo-orginica, fragmentéria, incoerente, de grande parte do material etnol6gico de nossos dias deve-se ao culto do “fato puro”. Como se fosse possivel fazer uma trouxa com “os fatos tais como so encontrados” e trazé-los para que nossos estudantes possam fazer generalizagdes e construgdes teéricas em cima deles! Na verdade, tal procedimento é totalmente impossivel. Se se des- pojar um distrito de todos os seus objetos materiais e trazé-los sem uma preocupacao de descrever cuidadosamente o modo como so usados (um método que tem sido empregado sistematicamente em algumas possessoes nio-britinicas do Pacifico), se teri formado uma espécie de colecéo de museu com pouca validade cienttfica pelo simples fato de que a ordenagio, a classificacéo, a 1agio dos fatos devem ser feitas ‘no campo, tendo como referéncia 0 todo orginico, constituido pela vida social nativa. Eo qué impossivel com os fendmenos mais \dos — 08 objetos materiais — 6 mais impossivel ainda com do comportamento nativo, se escondem nas profundezas de sua mente, ou estio apenas parcial- ‘mente consolidados nas cerimdnias ¢ instituigdes. No campo, depa- ramo-nos com um caos de fatos, alguns dos quais tio pequenos que parecem ser insignificantes; outros, tio amplos que parecem dificeis de serem abrangidos de modo sintético. Mas, em sua forma bruta, esses fatos néo so ainda cientificos, so profundamente enganosos © s6 podem ser captados corretamente pela interpretagio, que penetra sob sua aparéncia, apreendendo ¢ fixando 0 que’ é essencial. Apenas as leis @ as generaltzacoes so jatos cientificos, ¢ 0 trabalho de campo consis ‘inica e exclusivamente, na interpretagdo da caética realidade s subordinando-a peri lquer esta qualquer mapa de uma aldeia ou de um territério, qualquer genealogia, qualquer descrigdo de uma ceriménia — em suma, todo e qualquer documento etnol6gico — é, em si, uma generalizagio; a veves, uma generalizagio bem dificil, pois sempre se tem que, primeiro, descobrir © formular as regras sobre © que relatar fe como relatar; todos os esquemas devem ser esbocados de modo a expressar certas estratégias econdmicas ¢ sociolégicas; qualquer gencalo- gia dove expressar as relagdes de parentesco entre pessoas © 96 serd vilida se também forem coletados todos os dados relevantes sobre essas pessoas. Em todas as ceriménias, 0 essencial deve ser distinguido do acidental, 0s aspectos importantes dos insignificantes, os elementos hhabituais daqueles que sio variéveis a cada desempenho. Embora isso 145 mo, 0 fato € que a infortunada énfase sobre ua sendo usada constantemente como principio norteador das instrugdes para o trabalho de campo. Retornando a0 assunto principal, quero acrescentar algumas regras que formular — no s6 para resolver algumas , como também pata faze ido-as de modo a permit aqui aplica-se apenas ampla ou dife- as crengas, ou, de um modo mais especifico, as neste artigo. No decorrer dos meus estudos de campo, o principio geral mais importante com relagio as crengas que fui obrigado a respeitar ¢ levar em consideragao foi o seguinte: uma crenga ou um item do nfo é um simples retalho de informacio que possa ser retido fonte casual qualquer ou de algum informante ocasional ¢ postulado como axioma, de maneira simplista. Ao contrério, cada crenga esté refletida em todas us mentes de uma dada sociedade e se expressa em muitos fenémenos sociais. Trata-se portanto de algo muito complexo, de social sob formas extremamente variadas, ccasticas, enganosas. Em outras palavras, hd renga que deve ser.cuidadosamente estudada; ria renga deve ser analisada em seu movimento nessa dimensio ada levando-se em conta 0s diversos tipos de ges nas quais pode ser encontrada. Ignorar stimar a variedade de formas assumidas por assumindo simplesmente que as variagdes néo so importantes, és que nao pode ser formulado 1 informagio etnolégica sobre crencas de ‘Os nativos acreditam na existéncia de sete ‘ou, ainda, “Nesta tribo encontramos a crenca de que o espirito ata as pessoas nos bosques” etc. Tais afirmagées so indubita- velmente falsas, ou, 0 plural) ndo possuem q suas préprias crengas e idéias. Além do que, essas crengas e idéias no existem apenas nas opinides conscientes, explicitamente formuladas pelos 146 membros de uma comunidade. Elas esto incorporadas nas insttuigées sociais © expressas. no comportamento nativo, dos quais devem ser desembaracadas. E esses relatos etnolgicos “unidimensionais” nfo deixam nunca transparecer que o problema nao é to simples como aparece no modo como é colocado, O etnégrafo consegue um informante fe, de suas conversas com ele, julga-se capaz de formular a opiniio do nativo, digamos, sobre a vida aps a morte. Essa ido no plural e temos as Esse 6 um exemplo do que eu chamo “um P fimensbes sociais nas quais a fa, assim como ignora sua complexidade © multi — E claro que, muitas vezes, embora nem sempre, essa multiplicidade pode ser ignorada, e as variagées de detalhes podem ser consideradas is em vista da uniformidade obscrvada em todos 0s aspectos importantes de uma crenca. Mas o assunto deve ser estudado, usando-se regras met6dicas para simplificar a variedade ¢ uniformizar 2 multiplicidade dos fatos. Qualquer procedimento casual deve ser deseartado como ni ico. E, ainda assim, que eu saiba, nenhum investigador de campo, mesmo entre os ilustres, tentow ainda descobrir estabelecer essas regras met6dicas. Por isso mesmo, as observacées subseqiientes devem ser encaradas com indulgéncia, pois so apenas uma tentativa inicial de sugerit algumas conexées impor- tantes, Sio também julgéncia por se tratarem de resultados de experiéncias reais e dificuldades encontradas no campo. ‘Se no relato anteriormente feito sobre as crengas hé uma certa auséncia do observador s4o, de certo modo, enfatizadas, razio, Procurei mostrar, o mais claramente possivel, constante de considerar simultaneamente, de um lado, as instituigies aso civilizada desse principio ¢ a seguinte: quando dizemos que fereditim na infalbilidade do papa”, s6 estaremos certos se com daquela Tere. O camponds cat dogma quanto sobre 0 célculo quer comus ‘Sselvagens” 147 sociais e a interpretagéo nativa, e, de outro, 0 comportamento nativo, controlando 0 fato social pelo dado psicolégico ¢ vice-versa. Estabelegamos, portanto, as regras que nos permitem reduzir a multiplicidade de manifestagdes de uma crenca a um dado mais simples, ‘Vamos comecar com 2 afirmacio, feita diversas vezes, de que os dados brutos so praticamente caGticos em sua diversidade © multiplicidade, Podemos facilmente encontrar exemplos em meio ao material apresen- tado neste trabalho. Tomemos as crengas correspondentes A qué “Como os nativos imaginam 0 retomo dos baloma?”, Na verdade, cologuei essa questio, formulada.adequadamente, a uma série de mantes, Em primeiro luger, as respostas foram sempre fragment pois o nativo tende a responder de acordo com aquilo que a pergunta suscita momentaneamente em sua mente, mencionando um tinico aspecto @, freqiientemente, um aspecto irrelevante, Alids, um “civilizado” des- treinado faria o mesmo, O carter fragmentério das respostas pode ser parcialmente corrigido repetindo-se a pergunta ¢ usando-se diferentes informantes para preencher a rmuitas vezes, a respostas sao também desanimadorament . Inadequa- © que eu deveria fazer? Elaborar uma espécie de opiniio “ wiedade me parecia muito grande, Além disso, era s constituiam apenas uma pequena parte da infor- ‘magio disponivel. Todas as pessoas, mesmo aquelas que pareciam inca~ pazes de expressar 0 que pensavam sobre 0 retorna dos baloma e 0 que sentiam sobre eles, nem por isso deixavam de apresentar um com: portamento influenciado, de um certo modo, por esses baloma, proce- dendo de acordo com certos costumes ¢ obedecendo a determinados cinones de reagio emocional. ‘Assim, procurando respostas para a questio — ¢ para qual outra relativa & crenga ¢ ao comportamento — fui impelido a it ‘05 costumes correspondentes. Como um primeiro princi estabelecer a diferenca entre a opinitio pessoal, a 7 tigar e que formacio obtida, ‘questionando-se os informantes ¢ as préticas cerimoniais piblicas, Como (© leitor deve se lembrar, enumerei anteriormente certos dogmas que descobri, expressos nos atos costumeiros tradicionais. Assim, a crenca generalizada no retorno dos baloma esté incorporada no fato mais amplo do préprio milamala, A exposigdo de artigos preciosos (ioiova),

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