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CAPITULO 8 139 Enzimas Existem dus condigoes fundamentals para a vida. Una delas & {que o organismo vive deve ser capar de se auto-eplica (topico {que ser visto na Parte IV deste livro). A segunde € que 0 orga nismo deve ser capex de catalisar reages quimicas eficiente e seletivemente, A importancia fundamental da catilise pode sur preender alguns estudantesiniciantes em bioguimica, mas € fi cil Hastsi-la, Come descrito no Capitulo 1, 08 sistemas vivos utilizam energia do meio ambiente, Os seres humanos, por exem- plo, consomem quantidades substancials de sacarose — 0 agt- ‘ar comunente usedo — como uma especie de combustivel at forma de alimentos acucarades, bebidas, ou comoagicar. A con- versio ca sacarnse em CO, © H-O na presenga de oxigenio ¢ um processo akamente exergénico, que libera energia livre que pode ser utilizada para o ato de pensar, mover, sentir e ver. Pntretan- te,um saco de agticar pede ser armazenaclo cirante varios sem ser transformatio em CO, € HO. Embora esse processo qu mmico se termodinamnicamente favordvelsele érmuito lento! Con: tudo, quande a sacarose ¢ consumida por uma pessoa (ou qual ‘quer outro orgenismo), ela libera sua energia quimica em se- gundos. A cllferenca & a catilise. Sem a catélise, as reagGes ‘quimicts necessivias para sustentar a vida nio ocorrem em ume. scala de tempo ati, Voltaremos, agora, nossa atengao para os catalisadores das reagoes que ocorzem nos sisters biologics: 2s enzimas, as mais notives e altamente especializadas proteinas. As enzimas apre sntaim uma eficiénca cataltica extraordindria, em geral muito rior quea dos catalisadores sintéticos ou inorgamicos. Elastém um alto grau de especificidade por seus substratos, aceleram as, reagoes quimicas de uma maneira formidvel e funcionam em sligdes aquosas sob condigdes muito suaves de temperatura € DH. Poucos catalisedores nio-biolégicos apresentam tals pro- Prisdades. As enaimas sio fundamentais para qualquer processo bio: quimico, Agindo em seqiléncias organizadas, clas catalisarn as centenas de reagdes sucessivas pelas quais as mokéculas autrien- tes séo degradadas, a energia quimica € conservada ¢ transfor~ mada ¢ as macromelsculas biol6gicas sa0 sintetizadas a partir de moléculas precursoras simples. Devido & ago das enzimas teguladoras, a8 vias metabvilcas slo altamente coorckenadas de forma a produzir uma atuario harmoniosa des muita diferen: tes atividades neceasirias pare manter a vida ‘Oestudo das enzimas tem uma grande importancia pritica Em algumas doengas, especialmente nas desorderss genéticas hecdadas, pode ovorter uma deficigncia ou mesmo a auséncia total de uma ou mais enzimes, Outras condigdes anormsis tam- bbém podem ser causadas pela excessiva atividade de uma enti ‘ma, Medias da atividade de enzimas no plasma sangOtneo, er trdcitos ou amostras de tecido sio importantes no diagnéstico de virias doengas, Muitas drogas exerosm seu efeto bioldgico por meio de interagbes com as enzimas, As enzimas tornaram= se importantes ferramentas priticas ndo apenas na medicina, ‘mas também na indistria quimica, no processamento de ali mentos ¢ na agricultu Iniciaremos este capitulo com a descrigao das propriedades das ergimas e dos prineipios fundamentais de seu poder cali tico, Em scguida, faremos uma introdueio a cinética encima ‘cena disciplina que fornece a maior parte dos furdamentos ‘para qualquer discussao sobre enzimas, Fxemplos especificns de ecanismos enzimaticos sera entdo mostrados, ilustrando os principios intradurides anteriormente, Finalmente, diseutie ‘mos as enzimas reguladoras. Uma Introdugao as Enzimas A maior parte da istéria da bioguimiea é hist6ria da pesquisa sobre enzias. A catdlse biol6gica foi ineial mente reconhecida ‘eceserita no final de 1700, em estudos sobre a digestao da carne por secrecoes do estOmago, Em 1800 as pesquissscontinuaram cam o estuda da conversto do amido em agticares simples pela salivae por varios extratos vegetais, Fm 1850, Louis Pasteur con- cluiu que a fermentacio do agiicar em slcool pela levedura ¢ ci talisada por”fermentos’, Ele postulou que esses fermentos eram inceparaveis da estrurura das células vivas de levedura, uma hi potese chamada vitalismo, que prevaleceu por muitos anos. Em 1897, Eduard Buchner descobriu que os extratos de levedura podiam fermentar 0 agdear até doo), provando que a fermen tagao era promovida por moléculas que continuuavam funcio~ nando mesmo quand rerovidas das celulas. Frederick W. Kub- ne cenominou ais moléeulas ce enzimas, A medida que as no: ‘gbesdovitalismo da vida foram refutadas,o isolamento de novas fnzimas e ¢ investigacao das suas propriedades propiciaram © progress da ciencia da bioguimics Er Buchner 360-1917), Oiisolamento ea crstalizngan da urease, em 1925, por James ‘Sumner, propiciaram um significante avango nos estudos ini: ciais acerca das enzimas. Sumner demonstrou que 0s crstais de ‘urease consistiam inteiramente de proteina ¢ postulou que to ‘dae as enzimas s20 proteinas. Devido falta de outros exemplos, ‘ssi premissa permaneceu controvertida por algum tempo. So: 190 James Surmet 1887-1955) 185, Haldane (1862-1964) mente em 1930, apds John Northrop e Moses Kini terem cris- talizado a pepsina, a tripsina e outras enzimas digestivas ¢ con- uid que elas também eram proteinas, € que a conclusio de Sumner foi completamente ace'ta, Durante esse perfodo, LBS. Haldane escreveu um tratado intitulade “Enaimas” Bs natureza molecular das enzimas ndo estivesse completamente tlucidado, Heldane fez a extraordindria sugestao de que as inte ragGes fracas que se estabelecem entre a enzima e 0 seu substra to poderiam ser usadas para distorcer a molécula do substrato & catalisara reagto, Ese conhecimento representa o cerne da com- preensao atual da catalise enzimatica, NNo final do século XX, a pesquisa com enzimas que catali sam as reagoes do metabolism celular foi intensa, Esse favo le- vou’ purificagao de milhares ie enzimas,a elucidacao da strat imolecular edo mecanisme quimico da aca de centenas delas © uma eompreensio geral de como as enzimas fu bora a ‘A maioria das enzimas so proteinas Com excecio de um pequeno grapo de moléculas de RNA que apresentam propriedades catalitica (Capitulo 25), todes as en ima s30 proteinas. A sua atividade catalitica depende da inte fridade da sua conformayao prottica nativs. Se uma enzima ¢ desnaturada ou dissocioda em subunidaces, a acvidade cata ca gpralmente¢ destruca, Se uma enzims € guebrada em seus aminodcidos constitutes, 2 sua atiidace cataltica & sempre dlestruida, Asim, as estrus proteicas primar, secundaria, terciriae quatermiria das enzimas so essencias pa a sua ai Vidade catalitica ‘As enzimas, como outeas proteins, tém pesos moleculares «que variam de cerca de 12.000 até mais ce 1 milhio. Algumas ceimas no requerem nenhum outro grupo quimieo, além de scusresiduvos de aminodcidos, Outas requerem um componente

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