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Atibaia
2016
JAIME MALOSTE CARRIBEIRO
Atibaia
2016
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
75 p. ; 30 cm.
Aprovada em:
Banca Examinadora
Prof. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
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Julgamento: Assinatura:
RESUMO
Este trabajo tiene como objetivo analizar los profundos cambios operados por la
sociedad del riesgo - a lo largo de las líneas de la teoría desarrollada por el sociólogo
alemán Ulrich Beck, - el espectro político-criminal, la importación de un proceso de
expansión de la ley penal. Para abordar el tema, se eligió el método dialéctico, con la
exposición de tesis y posiciones doctrinales antagónicos, así como el método inductivo,
el análisis de un caso concreto y sus implicaciones teóricas. Sintéticamente, en el inicio
del capítulo se expone a la teoría sociológica de la sociedad del riesgo de Ulrich Beck y
su impacto político y social. En el segundo capítulo, pasamos al análisis de la influencia
de este nuevo modelo social en los ámbitos político-criminal, la importación de una
abstracción del derecho legal - ya no es visto como la protección de la propiedad
individual, sino de los bienes de carácter supraindividuales - el aumento de los delitos
de peligro abstracto, en administrativização derecho penal - dada la proliferación de
leyes penales en blanco - y, por último, la disminución de las garantías penales de
carácter liberal. El tercer capítulo trata de la ley penal clásico conflictiva con la
incriminación modelos desarrollados en la sociedad del riesgo y de los principales
modelos teóricos desarrollados en un intento de una adaptación del sistema penal a las
nuevas dinámicas sociales. En el cuarto y último capítulo saca a la luz del análisis de
una sentencia del Supremo Tribunal Federal en la que se analiza el tema de la previsión
de la protección penal a la bola anterior a los daños en el caso perteneciente al peligro
abstracto del tamaño de la delincuencia arma de fuego desmuniciada.
Palabras claves: Sociedad del riesgo. Derecho Penal de la sociedad del riesgo. Derecho
penal clásico. Garantías penales. La expansión del derecho penal. Las figuras
dogmáticas diferenciadas. Bien legal supraindividual.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................9
CONCLUSÃO ...............................................................................................................69
INTRODUÇÃO
1
BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.
9
dogmáticas diferenciadas, confrontantes do Direito Penal de bases clássicas, buscando-
se demonstrar os eixos de conflito entre estas duas racionalidades penais distintas.
10
1. A SOCIEDADE MUNDIAL DO RISCO
2
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991, p.38.
3
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e princípio da precaução in Revista Brasileira de Ciências
Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais n. 61, julho-agosto 2006, p. 46.
4
Idem, p. 47.
11
Ulrich Beck, em sua obra fundamental5, ao tratar do teor do risco como um ainda
não evento que desencadeia a ação, a ele assim se refere:
Com efeito, o núcleo da consciência do risco não está no presente, e sim no futuro.
Conforme demonstra Beck ao longo de sua obra – o que se buscará trazer ao longo dos
capítulos subsequentes – na sociedade hodierna, traduzida como uma sociedade de
riscos, o passado não é mais o motor de propulsão das ações no presente, sendo
substituído pelo futuro e pelas noções de previsibilidade de fatos ainda inexistentes,
legitimando-se como causa da vivência e atuação humanas.
5
BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.
6
Idem, p. 39.
12
não deve ser compreendida como uma ruptura do tecido social, mas sim como a sua
transmutação pelo processo de reflexividade.
7
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis. Sociedade do Risco e Direito Penal: uma avaliação de novas
tendências político-criminais. São Paulo: IBCCRIM, 2005.
13
Nestes termos, a primeira fase do processo de reflexividade, em que ocorre o
aduzido descompasso entre desenvolvimento e conhecimento, é sintetizado da seguinte
forma por Machado8:
Dessarte, a sociedade, no início desta transição, situa-se como alheia aos riscos
provenientes dos avanços tecnológicos e a consequente industrialização em massa,
abstraída das modificações silenciosas que conduziram à sociedade de riscos. Em
resumo, não há a reflexão sobre as consequências ainda “invisíveis” da modernização.
8
Idem, p. 31.
9
SILVA, Luciana Carneiro. Perspectivas político-criminais sob o paradigma da sociedade mundial do risco. In:
Revista Liberdades, IBCCrim. São Paulo, n. 5, setembro-dezembro de 2010, pp. 85-115.
14
dos meios de comunicação de massa e pela desintegração de pautas de confiança e de
expectativa no agir10.
Por fim, com propriedade, bem explícita Botini acerca da sociedade global
hodierna de riscos e de sua interferência no direito, fator que será abordado nos capítulos
subsequentes:
10
BOTTINI, Pierpaolo Cruz, op. cit., p. 48.
11
Idem, p. 49.
15
1.3. Panorama Geral dos Novos Riscos
Os novos riscos são dotados de uma dimensão até então não vislumbrada e por
muitas vezes incalculável pelos mecanismos científicos de previsibilidade e controle,
passíveis de acarretar dano a um grande número de pessoas e ao próprio planeta. Podem-
se citar, como exemplo, os riscos decorrentes do desenvolvimento tecnológico nuclear,
genético e químico, dotados de potencialidade causadora de consequências difusas ou
transindividuais. Ademais, a principal característica destes riscos é a sua
transindividualidade.
12
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 38-51.
16
(iii) Os riscos podem gerar, muitas das vezes, danos irreversíveis e não
perceptíveis ab initio. Como exemplo, podem ser citadas as contaminações nucleares ou
químicas por meio da radioatividade ou substâncias nocivas e tóxicas presentes no ar,
na água e nos alimentos e a degradação ambiental. Tais riscos permanecem abstraídos
do conhecimento comum e somente tornam-se visíveis por intermédio de avaliações de
experts e por instrumentos adequados de medição.
(v) Os efeitos dos danos, a longo prazo, não se limitam a uma classe ou grupo
social, podendo atingir também aqueles que os produzem e que deles se beneficiam.
Beck denominou este fenômeno como “efeito bumerangue”. Todavia, pelo menos no
início, as classes menos favorecidas sofreriam com mais veemência estes efeitos, o que
será mais profundamente tratado no item sobre a lógica da distribuição dos riscos.
(vi) Por último, os riscos da sociedade global tem um forte conteúdo político, em
que a opinião pública passa a ter influência considerável no âmbito da tomada de
decisões, o que, reflexamente, acabará por influenciar o campo da política criminal.
13
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo, respostas à globalização. São Paulo: Paz e
Terra, 1999, p. 83.
17
Enfim, feita esta sucinta análise sobre o perfil e dinâmica do aparecimento e
funcionamento dos novos riscos na sociedade contemporânea, é relevante trazer a lume
a questão da sua distribuição e delimitação e de seus aspectos políticos relevantes para
o direito penal.
14
BECK, Ulrick, op cit., p. 23.
15
Idem, p. 23.
18
Ocorre ainda, que, no chamado Terceiro Mundo, o pensamento e a ação das
pessoas encontra-se dominado pela carência material, fator legitimador do processo de
modernização, sob a pretensão de, conforme assevera Beck, in verbis, “abrir com as
chaves do desenvolvimento científico tecnológico os portões que levam às recônditas
fontes de riqueza social”16. Por outro lado, nos Estados de Bem-Estar Social, não mais
ameaçados por riscos de insubsistência material, preponderam outros problemas,
advindos dos riscos tecnológicos, circunstâncias em que a modernização perde o seu
fundamento de legitimidade, qual seja, a erradicação da miséria.
16
Idem, p. 24.
19
resultado, os cidadãos não detentores de conhecimento ou de capacidade analítica e
crítica ficam à mercê dos juízos e erros dos expertos.
“Constata-se que a tomada de consciência dos riscos não está, nem pode estar
fundamentada exclusivamente nas premissas científicas, mas está mediada
argumentativamente, ou seja, o grau de visibilidade do perigo potencial fica,
mais do que nunca, sujeito à apropriação política 18”.
17
AMARAL, Cláudio do Prado. Bases Teóricas da Ciência Penal Contemporânea: dogmática, missão do direito
penal e política criminal na sociedade de risco. São Paulo: IBCCRIM, 2007.
18
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20
1.4.3. A sociedade do medo
O modelo proposto por Beck fundamenta-se na análise dos riscos hodiernos e sua
consequente produção de insegurança social. Nos dizeres de Beck, a crescente
insegurança da sociedade, agora ciente dos riscos que a espreitam no segundo estágio
do processo de reflexividade, conduziu ao surgimento de uma “sociedade do medo”.
19
MACHADO, Marta Rodrigues de Assis, p. 75.
21
Este fenômeno de normalização é merecedor de especial atenção, precipuamente
por dizer respeito ao sistema jurídico. Normas são criadas para regulação de condutas e
pacificação social – isso em linhas gerais – e, sendo assim, o que está de acordo com a
norma, em tese, não deveria gerar riscos à sociedade, estando por ela legitimado.
Todavia, como bem explica Machado:
Com efeito, diante desta aparente normalização legitimada pelo sistema jurídico,
riscos potenciais de catástrofes desenvolveram-se de maneira oculta e desapercebida,
até o momento em que suas dimensões tornaram-se tão demasiadas que não mais
conseguiram furtar-se à detecção social. Neste cenário, as instituições de controle social
passam a ser contestadas, mormente porque, apesar de sua aparente atuação frente ao
gerenciamento dos riscos, em verdade atuaram à favor de seu surgimento, tudo em prol
do desenvolvimento tecnológico propiciador de riqueza. Por isso, nos dizeres de Beck,
“a ordem jurídica estabelecida não mais garante paz e estabilidade, mas legitima as
ameaças20”.
20
BECK, Ulrich. World Risk Society. Cambridge: Polity Press, 1999, p. 34, apud Marta Rodriguez de Assis
Machado, op. cit, p. 77.
21
Beck, em sua obra (Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade), traz impressionante relato acerca do
desastre de Bhopal, a seguir transcrito: “Os pássaros caíam do céu. Búfalos, vacas, cães jaziam mortos pelas ruas
e campos – estufados depois de poucas horas devido ao calor da Índia Central. E por toda a parte as pessoas
sufocavam – contorcendo-se, espumando pela boca, mãos contraídas cravadas na terra: eram 3 mil no fim de
semana passado, e surgem sempre novas vítimas, as autoridades já deixaram de contabilizá-las. 20 mil pessoas
22
Outrossim, não se pode olvidar do papel da mídia na divulgação massiva de
eventos catastróficos, potencializando a sensação de insegurança da população.
Em tais termos, conforme ilustrado por Beck em sua teoria da sociedade mundial
de riscos, a sensação de domínio dos riscos deve acompanhar o crescimento destes.
Surgem soluções paliativas enunciadas por Beck como cosmética do risco, dotadas de
efeitos simbólicos e sintomáticos, em detrimento da adoção de uma política real de
prevenção dos riscos23. Ocorre que esta cosmética dos riscos, que não propõe soluções
de eficácia real, leva à uma crise das instituições formais de controle e, diante de tal
provavelmente ficarão cegas. Cerca de 200 mil ficaram feridas. Na cidade de Bhopal, na noite de domingo para
segunda, ocorreu um apocalipse industrial sem paralelo na história: uma nuvem venenosa vasou de uma indústria
química, estendendo-se em seguida como uma mortalha por 65 quilômetros quadrados densamente habitados –
quando finalmente se dissipou, espalhou-se o odor repulsivo da putrefação. A cidade transformou-se numa praça
de guerra, em pleno período de paz. Os hindus incineravam em seus crematórios os mortos, 25 de cada vez. Logo
passou a faltar madeira para a cremação ritual – assim, eram em labaredas de querosene que ardiam os corpos. O
cemitério dos muçulmanos revelou-se demasiado estreito. Velhos túmulos precisaram ser abertos, mandamentos
sagrados do Islã, desrespeitados”. Cf BECK, Ulrich, op. cit., p.
22
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit, p. 84.
23
Idem, p. 86.
23
quadro de sentimento global de insegurança, passa a população a clamar por soluções,
identificadas na atuação do direito penal, provavelmente por representar o meio mais
grave e visto como mais efetivo pela sociedade para a intimidação e coerção de condutas
incompatíveis com o modelo de segurança almejado.
24
Idem, p. 88-89.
24
2. PROPOSTAS DE UM DIREITO PENAL DA SOCIEDADE DE RISCOS
Ocorre a substituição dos crimes individuais por figuras típicas plurais. Ao lado
da proteção dos bens jurídicos individuais, exsurgem os chamados bens jurídicos
coletivos ou supraindividuais como objeto da proteção penal. 25
25
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 118.
25
Conforme exposto alhures, de maneira inicial, essa mudança do panorama penal
clássico para este “novo” direito penal está intimamente relacionada ao processo de
juridicização da opinião pública, traduzido como clamor social por segurança e
expectativa de eliminação ou ao menos redução dos riscos. Em tais termos, consoante
enfatiza Silva26:
26
SILVA, Luciana Carneiro, op. cit., p. 95-96.
27
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit, p. 93.
26
lugar, também há que se fazer menção à desconfiança no que se refere à ciência,
legitimadora dos novos riscos, importando na renúncia de soluções científicas para o
controle dos riscos, reivindicando-se uma proteção ligada ao poder punitivo estatal.
Decerto, o recurso ao direito penal, conforme dito acima, não é algo que se possa
atribuir tão somente à contemporaneidade, uma vez que utilizado para se tentar
solucionar uma diversidade de conflitos existentes em diversos períodos da história e,
em algumas ocasiões, até mesmo para legitimar atrocidades inomináveis. O que não se
pode perder de vista é que, hodiernamente, o direito penal é chamado a atuar de forma
expansiva, passando-se dele a exigir uma atuação garantidora das gerações futuras e de
regulamentação de uma diversidade de temáticas, mormente aquelas ligadas ao meio
ambiente, à sanidade dos produtos distribuídos à população, à manipulação genética e à
atividade econômica29.
28
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; BATISTA, Nilo. Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 68.
29
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 95.
27
Todavia, estes novos conflitos que emergem da sociedade de riscos, suscitam um
novo modelo de intervenção penal. Ademais, é nisto que reside o ponto de conflito, pois
a dinâmica e o perfil dos novos riscos, de características globais e suscetíveis de causar
danos à grupos de pessoas indeterminadas não se coaduna com o modelo liberal, calcado
na individualização de responsabilidades e proteção à bens jurídicos singulares.
Por conta destes novos riscos, capazes de gerar danos massivos e irreparáveis,
observa-se que o direito penal de resultados, de atuação repressiva, não é suficiente e
adequado para a prevenção dos possíveis resultados danosos que possam vir à existir,
justificando-se a antecipação da tutela penal à esferas anteriores ao dano, a proteção de
bens jurídicos desmaterializados e a flexibilização de garantias, importando, tal como
teorizado por Silva Sánchez, em um fenômeno de expansão do direito penal.
30
HASSEMER, Winfried. Perspectivas de uma moderna política criminal in Revista Brasileira de Ciências
Criminais. São Paulo, n. 8, out.-dez. 1994, p. 42-52.
28
gerais, da seguinte forma: a) inexistência de vítimas individuais; b) lesões causadas a
bens jurídicos metaindividuais; c) danos causados com pouca visibilidade à primeira
vista; d) operação caracterizada pela profissionalidade, internacionalidade e pela divisão
do trabalho.
“(...)Isso quer dizer que os instrumentos utilizados pelo Direito Penal são
ineptos para combater a realidade criminal. Por exemplo: aumentar as penas,
não tem nenhum sentido empiricamente. O legislador – que sabe que a política
adotada é ineficaz – faz de conta que está inquieto, preocupado e que reage
imediatamente ao grande problema da criminalidade. É a isso que eu chamo
de “reação simbólica” que, em razão de sua ineficácia, com o tempo a
população percebe que se trata de uma política desonesta, de uma “reação
puramente simbólica”, que acaba se refletindo no próprio Direito Penal como
meio de controle social31”.
31
HASSEMER, Winfried, op. cit., p. 43.
29
de detalhes que demanda, visto que a proposta do presente trabalho é a delimitação de
um panorama geral sobre a problemática do direito penal da sociedade do risco.
Não se concebe a existência de uma conduta típica sem que haja a afetação a um
bem jurídico, tendo em vista que os tipos penais são formas de se tutelar bens tidos como
indispensáveis à existência humana. Desta forma, segundo Zaffaroni e Pierangeli, “o
bem jurídico desempenha um papel central na teoria do tipo, dando o verdadeiro sentido
teleológico (de telos, fim), à lei penal32”.
Deste conceito, pode-se interpretar que o bem jurídico tutelado pela ordem
jurídica não é a coisa em si mesma, e sim a relação de disponibilidade do titular com a
coisa. De forma simplória, bens jurídicos são os direitos que temos a dispor de certos
objetos. Como exemplo, costuma-se dizer que a honra é um bem jurídico. Todavia,
apesar de não estar incorreto tal entendimento, o bem jurídico não é a honra pura e
simplesmente, e sim o direito a dispor da própria honra. Assim, quando uma conduta
importa em impedimento da disposição destes objetos, compreende-se que esta conduta
afeta o bem jurídico, sendo que algumas delas, por uma opção político criminal, estão
proibidas de serem praticadas em razão de norma penal que as tipifica.
32
ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, Parte Geral.
10 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
30
No paradigma penal clássico, é importante destacar que um bem jurídico somente
poderá ser penalmente tutelado quando tiver natureza fundamental e quando for
determinado ou no mínimo passível de determinação. Desta orientação, entende-se que,
para o direito penal liberal, não há crime sem que haja lesão ou perigo de lesão a um
bem jurídico, somente sendo invocada a tutela penal quando for socialmente necessária
à sobrevivência da comunidade e, portanto, nos moldes do princípio da intervenção
mínima.
33
ESTEFAM, André. Direito Penal, Parte Geral. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
31
Se no sistema clássico o bem jurídico é definido e preciso, nesta moderna
conformação social assume uma feição supraindividual e imaterial, consubstanciando-
se em modelos penais vagos e imprecisos. Na atualidade, o direito penal se volta para a
proteção de bens de conteúdo amplo e abstrato, atuando em coexistência com o modelo
de proteção à lesões concretas e individuais. A este processo pelo qual passa a teoria do
bem jurídico, Bernd Müssig denomina de “processo de desmaterialização do bem
jurídico34”.
O bem jurídico vem passando por uma profunda crise em razão da proliferação
de tipos que tutelam bem imprecisos e perigos abstratos, dificultando se estabelecer a
delimitação do espectro de proteção do direito penal.
34
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 107.
35
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 173.
32
2.4.1. Crimes de perigo abstrato e princípio da precaução
36
BOTTINI, Pierpaolo Cruz, op. cit., p. 63.
37
Idem, p. 65.
33
2.4.1.2. Crimes de perigo abstrato
Segundo enfatiza Bottini, esta técnica constitui-se como núcleo central do direito
penal de riscos, como uma consequência da configuração social abordada no capítulo
inicial38.
Sob este panorama social, despontam figuras típicas abstratas. Os tipos de perigo
abstrato prescindem sequer da demonstração de risco concreto da conduta, priorizando-
se a punição de comportamentos em desvalor do resultado. Nesse sentido, ao contrário
do que ocorre com os crimes de perigo concreto, em que a exigência da demonstração
do perigo é ínsita a sua configuração, as tipificações abstratas importam em evidente
adiantamento da zona ou esfera de proteção penal a fases significativamente anteriores
38
Idem, p. 66.
34
ao dano ao bem jurídico, punindo-se simplesmente condutas que, teoricamente,
poderiam acarretar lesão ou importar em perigo concreto a ele39.
39
SILVA, Luciana Carneiro, op. cit., p. 102.
40
Conforme sintetiza José Francisco de Faria Costa, em uma abordagem histórica, vê-se que o conceito de perigo
tardou a ingressar no campo da dogmática penal, que, durante muito tempo, baseou-se, exclusivamente, no
binômio violação-dano e relegou a proteção antecipada de perigos à atividade de polícia de administração. Assim,
por um bom tempo, permaneceu uma clara distinção: a violação propriamente dita do direito subjetivo era tratada
no âmbito do direito penal, enquanto o pôr em perigo era alçada exclusiva do direito administrativo. Cf. COSTA,
José Francisco de Faria. O perigo em direito penal. Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p. 306-307 apud
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 130.
41
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 132.
42
VEGA, Dulcemaria Santana. La protección penal de los bienes jurídicos colectivos. Madrid: Dykinson, 2000
apud BOTTINI, Pierpaolo Cruz, op. cit., p. 68.
35
Com efeito, o perigo abstrato é sintomático do fenômeno da expansão do direito
penal, na ânsia por fazer frente aos temores que acompanham o desenvolvimento
tecnológico e econômico dos tempos hodiernos.
43
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 113.
44
HASSEMER, Winfried, op. cit., p. 45.
45
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 115.
36
Este modelo jurídico penal de incriminações de mera conduta, consubstanciado
em normas penais em branco, prescinde do dano ou do risco concreto de lesão, tal como
ocorre nas infrações de perigo abstrato, extraindo sua legitimação diante do panorama
dos novos riscos, de modo a propiciar a sensação de insegurança reivindicada e a
manutenção do sistema.
46
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A expansão do direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 121.
47
Idem, op. cit., p. 143.
37
O que se percebe neste modelo é que ele atenta de maneira cristalina contra os
princípios da culpabilidade e da lesividade, além de sancionar tipos de conduta
desproporcionalmente, uma vez que, se o comportamento individual é desprezível,
incapaz de gerar lesão ou perigo ao bem jurídico, não se justifica a sua proibição por
intermédio do direito penal. Nessa esteira, obtempera Silva Sánchez que:
48
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María apud SILVA, Luciana Carneiro, op. cit., p. 104.
49
Idem, op. cit., p. 145
38
3. A CELEUMA ENTRE O PARADIGMA PENAL CLÁSSICO E O DIREITO
PENAL DO RISCO
Neste mesmo cenário, o direito penal é influenciado pelas perspectivas dos novos
riscos então percebidos, o que leva a adoção de novos critérios de imputação – a título
exemplificativo, os bens jurídicos supraindividuais, os crimes de perigo abstrato, a
proliferação de normas penais em branco, os delitos cumulativos etc. –, de modo que
este novo panorama do direito penal encontra-se inserido no processo de modernização
reflexiva51. Em tais termos, explica Machado que:
50
SILVA, Luciana Carneiro, op. cit., p. 105.
51
Idem, p. 105.
39
contenção à intervenção penal – tais como: estrita legalidade,
proporcionalidade, causalidade, subsidiariedade, intervenção mínima,
fragmentariedade, lesividade etc. – e que são frequentemente apontados como
obstáculos à adequação eficiente do direito penal às necessidades preventivas
e de proteção da sociedade do risco passam a ser confrontados,
reinterpretados, entendidos de forma flexível e adaptados às novas
necessidades52”.
O princípio da lesividade (nullun crimen sine iniuria) determina que, para haver
crime, é preciso que haja um bem jurídico alheio tutelado e suscetível de ser lesionado.
52
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 155.
53
DIAS, Jorge de Figueiredo. “O direito penal entre a ‘sociedade industrial’ e a ‘sociedade de risco’”. In: Revista
Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, n. 33, 2001, p. 45.
40
Mais ainda, entende-se que esta lesão deve ser substancial, relevante para que o crime
se materialize satisfazendo a exigência deste princípio.
"Está atrelado à concepção dualista da norma penal, isto é, a norma pode ser
primária (delimita o âmbito do proibido) ou secundária (cuida do castigo, do
âmbito da sancionabilidade). A norma primária, por seu turno, possui dois
aspectos: (A) ela é valorativa (existe para a proteção de um valor); e (B)
também imperativa (impõe uma determinada pauta de conduta). O aspecto
valorativo da norma fundamenta o injusto penal, isto é, só existe crime quando
há ofensa concreta a esse bem jurídico. Daí se conclui que o crime exige,
sempre, desvalor da ação (a realização de uma conduta) assim como desvalor
do resultado (afetação concreta de um bem jurídico). Sem ambos os desvalores
não há injusto penal (não há crime) 54”.
O aduzido princípio deve ser enxergado sob duas óticas; uma primeira, abstrata
e estrutural, que se destina à própria criação de crimes, através da qual, para um fato se
previsto na lei como crime, é preciso que haja um bem jurídico alheio tutelado, a ser
lesionado com a realização da conduta prevista.
54
BIANCHINI, Alice, MOLINA, Antonio García-Pablos de, GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal – Introdução e
Princípios Fundamentais. 2. ed. São Paulo: RT, 2009, vol. 1, p. 125.
41
Nelson Hungria, com o saber que lhe é peculiar, explica de maneira esclarecedora
o conteúdo do referido princípio:
“As sanções penais são o último recurso para conjurar a antinomia entre a
vontade individual e a vontade normativa do Estado. Se um fato ilícito, hostil
a um interesse individual ou coletivo, pode ser convenientemente reprimido
com sanções civis, não há motivo para a reação penal. Sob o ponto de vista
histórico e político jurídico, que é o único admissível in subjecta materia, ou
melhor, tendo-se em vista a formação, através das leis editadas pelo Estado,
dos dois sedimentos jurídicos que se chamam direito civil e direito penal, pode
concluir-se que o ilícito penal é a violação da ordem jurídica, contra a qual,
pela sua intensidade ou gravidade, a única sanção adequada é a pena, e ilícito
civil é a violação da ordem jurídica, para cuja debelação bastam as sanções
atenuadas da indenização, da execução forçada ou in natura, da restituição ao
statu quo ante, da breve prisão coercitiva, da anulação do ato etc” 55.
55
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, vol. VII, p. 178.
56
LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 26-27.
42
Decorrência direta do princípio supracitado, se o direito penal deve intervir
minimamente na vida dos cidadãos, isso significa que ao tutelar um bem específico
deve-se fazê-lo de forma fragmentária, ou seja, criminalizando apenas os fragmentos
mais importantes e necessários deste bem para garantia do bem estar social. No dizer de
Luisi, “o direito penal não encerra um sistema exaustivo de proteção a bens jurídicos,
mas um sistema descontínuo de ilícitos decorrentes da necessidade de criminalizá-los,
por ser este o meio indispensável de tutela jurídica57”.
57
Idem, p. 26.
58
STEFAM, André, op. cit., p. 121.
43
Sua origem remonta à Magna Charta Libertatum, nos itens 20 e 21, quando dizia
que: “For a trivial offence, a free man shall be fined only in proportion to degree os his
offence...”; “Earls and barons shall be fined only by their equals, and in proportion to
gravity of their offence59”.
59
Em tradução livre: “Por um delito leve, deve um homem ser punido proporcionalmente à gravidade do ato...”;
“Os condes e barões devem ser apenados somente por seus pares e proporcionalmente à gravidade do delito”. Cf.
STEFAM, André, op. cit., p. 123.
60
BRASIL. Constituição Federal, 1988: “Art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos...”
61
STEFAM, André, op. cit., p. 125.
44
No tocante à necessidade, em matéria penal, tal dimensão se confunde com o
princípio da intervenção mínima e o caráter fragmentário e subsidiário do direito penal,
no sentido de que não se justificará a utilização deste ramo do direito quando os demais
já se revelarem aptos à solução de um dado conflito.
62
ADIn 3.112, Rel. Ministro Ricardo Lewandoski.
63
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O
RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE FURTO
- CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE IDADE - "RES
FURTIVA" NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61% DO SALÁRIO MÍNIMO ATUALMENTE
EM VIGOR) - DOUTRINA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO
DEFERIDO. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE
DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. O princípio da insignificância - que deve ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria
penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter
material. Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a
presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos
por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público (STF - HC 84.412/SP. Min. Rel. Celso de Mello. Julgado
em 19/10/2004).
64
STEFAM, André, op. cit., p. 125.
45
No que concerne à proibição da proteção deficiente (untermassverbot), esta diz
respeito a não se permitir uma deficiência na prestação legislativa, de modo a
desproteger bens jurídicos fundamentais. Assim, por exemplo, seria inconstitucional,
por afronta à proporcionalidade em seu sentido positivo, lei que pretendesse
descriminalizar o homicídio.
65
Ensina Ferrajoli que o princípio da lesividade constitui o primeiro fundamento dos três elementos que constituem
o delito: a natureza lesiva do resultado. A criação da lei penal fica condicionada a critérios que levam em
consideração o desvalor do resultado e não da conduta. Cf. FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: Teoria do
garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 373.
66
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 155.
46
Esse eixo de conflito suscita diversas discussões e posicionamentos doutrinários.
De um lado, há os que defendem que os critérios clássicos de imputação devem ser
mantidos, admitindo-se, apenas de maneira excepcional, a proteção de bens jurídicos
coletivos. De outro lado, os que entendem que o direito penal clássico já está
ultrapassado frente as novas demandas sociais.
Amaral, por sua vez, preceitua que a missão do Direito Penal tem uma finalidade
genérica de proteção. Aduz que já se afirmou que a missão de exclusiva proteção de
bens jurídicos é deficiente e, por outro lado, que a noção de bem jurídico é um referencial
que não pode ser descartado nessa missão protetiva. Afirma que o próprio Jakobs, em
sua teoria funcionalista, não afasta por completo a doutrina do bem jurídico, admitindo-
a como um elemento útil à determinação da configuração do Estado e da sociedade que
pretende se manter69.
67
KINDHAUSER, Urs Konrad apud MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 160/161.
68
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 161.
69
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 192-193.
47
Outro aspecto a ser analisado é a questão da antecipação da tutela penal,
considerando-se que a própria proteção de bens jurídicos supraindividuais impõe a
criação de tipos que importem em adiantamento da intervenção punitiva.
A conflituosidade dos tipos de perigo vem à tona quando analisados sob a égide
dos princípios norteadores do Direito Penal – expostos no subcapítulo anterior -, quais
sejam, da lesividade, da intervenção mínima, da fragmentariedade, da subsidiariedade e
da proporcionalidade.
Se a prevenção ou contenção das ações podem ser obtidas através de outros meios
menos radicais, a partir de outras searas do ordenamento jurídico, então, de acordo com
os referidos princípios, não seria legítima a penalização.
70
Idem, op. cit., p. 162.
48
relação ao bem jurídico. A duas, argumenta que estes tipos prescindem da concretização
do resultado, o que impossibilita a sua verificação de acordo com o critério da existência
de lesão grave a bens de relevância para o indivíduo e para a sociedade71.
“As ideias pugnadas pelos ideólogos do direito penal do risco, embalados pelo
clamor público de máxima segurança, enfrentam sérias dificuldades de serem
absorvidas por um aparato que, até então, tinha como princípios norteadores
a atuação como ratio extrema, conforme critérios de necessidade,
fragmentariedade e subsidiariedade 72”.
71
Idem, op. cit., 165.
72
Idem, op. cit., 168.
49
valores, pois orienta o Direito Penal a proteção de valores egoístas, abdicando da
proteção de valores fundamentais para a garantia de condições saudáveis do
desenvolvimento de toda a sociedade73.
Assim, com base neste pensamento, este autor sustenta que o Direito Penal deve
ter lugar na proteção das bases de subsistência, não só da sociedade atual, mas também
da sociedade futura.
Jorge de Figueiredo Dias, autor considerado moderado, também entende que não
se pode negar ao Direito Penal a intervenção nos conflitos advindos da moderna
sociedade do risco, sob pena de inversão do princípio da intervenção mínima. Isso
porque, se o Direito Penal não intervir nestas situações, estarão sendo subtraídas de sua
tutela condutas gravíssimas que colocam em risco a subsistência do planeta e, por
consectário, os bens afetos à dignidade dos sujeitos individuais75.
Ao lado destas vozes doutrinárias, observa-se que o Direito Penal, tal como
atualmente concebido, possui sérias limitações para intervir nos modernos conflitos.
Diante desse quadro, sustenta-se que ele deva sofrer um radical processo de revisão em
busca de uma estratégia intervencionista e preventiva, caracterizada pelos modelos
penais aduzidos no capítulo anterior.
73
BERND, Schünemann. Sobre la dogmática y la política criminal del derecho penal del médio ambiente.
Cuadernos de Doctrina y Jurisprudencia Penal. Buenos Aires, n. 2-9ª, set. 1999, p. 627-653 apud MACHADO,
Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 180.
74
STRATENWERTH, Günter. Zukunftsicherung mit der Mitteln des Strafretchts? en ZStW 105, 1993, p. 679-96
apud MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 181.
75
DIAS, Jorge de Figueiredo, op. cit., p. 167.
50
Assim é que, alguns autores italianos como Giogio Marinucci e Emilio Dolcini,
criticam ferrenhamente os postulados do Direito Penal mínimo de índole garantista.
Manifestam-se favoravelmente ao processo de expansão do Direito Penal, de modo que
não represente a abdicação da proteção dos interesses coletivos agredidos pelos
poderosos da economia, pela criminalidade organizada e pelos subversores das
instituições democráticas76.
No mesmo sentido, Hassemer entende que o direito penal não pode perder sua
função de tutela de bens jurídicos concretos para proteger vagas e indeterminadas
situações. Defende a criação de um direito de intervenção – que será adiante analisado
–, mantendo firme sua posição contrária à extensão da tutela penal a bens jurídicos
supraindividuais78.
76
MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio. Diritto penale mínimo e nuove forme di criminalità. Rivista Italiana
di Diritto e Procedura Penale, fasc. 3, jul.-set. 1999, p. 802-829 apud MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op.
cit., p. 184.
77
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 185.
78
HASSEMER, Winfried, op. cit., p.
51
Esta postura conservadora do Direito Penal pode ser principalmente atribuída aos
representantes da Escola dos penalistas de Frankfurt, contrários à atribuição ao Direito
Penal da tutela dos novos riscos, entendendo que outros ramos do direito devem ser
acionados, em especial o Direito Administrativo.
Silva Sánchez preceitua que, por meio do Direito Administrativo, não se almeja
tratar de ações imputáveis pessoalmente a um sujeito determinado, mas de um gênero
de condutas que represente, em termos estatísticos, perigo para um determinado modelo
setorial de gestão79.
Não se pode deixa de fazer menção a autores que não se apegam a nenhum desses
modelos teóricos e que entendem ser possível, dentro de certos limites, proceder a
algumas alterações no sistema clássico.
Nesse diapasão, sustenta Prittwitz que o fim de minimizar riscos por meio do
Direito Penal deve ser mantido, apenas na medida em que haja compatibilidade com os
“princípios de atribuição de responsabilidade individual justa80”.
Jorge de Figueiredo Dias, por sua vez, entende que no caso dos megarriscos, em
que outros ramos do direito forem inidôneos para o controle e domínio dos riscos, faz-
se necessária uma punição criminal às violações das normas de comportamentos. Assim,
admite a tutela jurídico-penal, desde que não utilizada como primeira via no
enfrentamento dos riscos hodiernos.
79
SÁNCHEZ, Jesús Maria Silva, op. cit., p.
80
PROTIWITZ, Cornelius. O direito penal do risco e o direito penal do inimigo; tendências atuais em direito penal
e política criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 47, São Paulo: RT, p. 31-45.
52
3.4.1. Direito Penal de duas velocidades
Jesús Maria Silva Sánchez, em sua obra “A expansão do Direito Penal”, adota
uma proposta intermediária de setorização do Direito Penal, denominada expansão
moderada. Recusa a indissociabilidade dos princípios clássicos, ao mesmo tempo em
que nega a adesão à flexibilização deste ramo do direito, propondo um modelo bifásico
ao sistema, chamado de “Direito Penal de duas velocidades81”.
Partindo desta premissa, Sánchez estabelece uma relação direta entre as garantias
do sistema e a severidade das sanções impostas. Conclui que o problema não se encontra
na expansão do Direito Penal, mas, especificamente, na expansão das cominações de
penas privativas de liberdade.
Essa formulação proposta por Silva Sánchez gerou como resultado a divisão do
Direito Penal em dois modelos dogmáticos, quais sejam, o Direito Penal nuclear – no
qual se observam as garantias clássicas -, e o Direito Penal periférico – o qual admite a
81
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María, op. cit., p. 136-147.
82
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 195.
53
flexibilização dos princípios no intuito de viabilizar a proteção penal das novas áreas
oriundas da moderna sociedade do risco.
Como crítica a esta proposta intermediária, preleciona Botini que o autor abstém-
se de questionar substancialmente que, dada a natureza dos objetos de proteção, a
expansão do Direito Penal a novos contextos ainda assim resulta em flexibilização de
princípios e regras de imputação, não resolvendo o problema que gira em torno da
legitimidade do “Direito Penal dos riscos”. Em suma, aduz que este modelo está baseado
na discussão acerca da qualidade da pena, e não da legitimação da intervenção penal 83.
Amaral, por sua vez, com base na teoria funcionalista de Gunther Jakobs,
defendendo um direito penal único e sistêmico, traça algumas críticas contundentes à
proposta formulada por Silva Sánchez. Dentre as principais críticas, podem ser
elencadas as seguintes: a) a proposta de setorização do Direito Penal conduz à
possibilidade de relativização das garantias penais heroicas e historicamente
conquistadas; b) criação de um direito penal de classes, em que seriam sancionados com
pena privativa de liberdade os indivíduos de camadas menos favorecidas, enquanto na
delinquência agressiva aos bens coletivos (v.g. os que atingem a economia) seus autores
seriam sancionados com penas não detentivas; c) desconsideração do caráter
estigmatizante que possui qualquer pena criminal, ainda que não privativa de liberdade;
d) por fim, um Direito Penal de velocidades causaria uma inapropriada atuação do
princípio da proporcionalidade84.
83
BOTTINI, op. cit., p. 104.
84
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., fls. 121-122.
54
estritamente vinculados à pessoa, delitos de perigo concreto graves e evidentes e por
regras de imputação rígidas e princípios de garantia clássicos.
Tal proposta, diferentemente do que propugna Sánchez, remete a uma nova seara
de tutela, situada entre o Direito Penal e o Direito Administrativo e entre o Direito Civil
e o Direito Público, a qual denominou de direito de intervenção85, mais apto a lidar com
as situações emergentes da sociedade do risco.
Exemplificando, afirma Hassemer que este novo campo de regulação seria mais
efetivo no combate aos novos focos de insegurança, como nos casos de crimes de tráfico
de entorpecentes, contra a ordem econômica, ambientais etc., estabelecendo um modelo
prioritariamente preventivo. Assinala ainda, que, por se tratar de uma proposta dotada
de maior flexibilidade em relação às garantias materiais e processuais, disporia de
sanções menos intensas, renunciado definitivamente à imposição de pena privativa de
liberdade86.
Por derradeiro, conclui o penalista que, adotando-se o modelo por ele proposto –
que seria mais adequado para responder aos conflitos oriundos da sociedade pós-
industrial – o Direito Penal se libertaria das expectativas de prevenção com as quais não
pode cumprir, as quais, segundo ele, o arruínam87.
85
HASSEMER, Winfried, op. cit., p. 41-51.
86
Idem, p. 41-51.
87
Idem, p. 41-51.
55
Cláudio do Prado Amaral tece inúmeras críticas a estas propostas. O autor
posiciona-se em uma outra linha de pensamento, pautada nas modernas ideias
normativistas-funcionalistas de Günther Jakobs, apregoando uma proposta de direito
penal como um sistema aberto, receptivo aos influxos de outros ramos do conhecimento
humano, como a sociologia, a antropologia, a economia entre outros.
88
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 123-125.
89
Idem, p. 130.
56
cambiantes expectativas sociais que recaem sobre a norma, o que só se conseguiria
mediante uma formulação fundada na comunicação90.
90
Idem, p. 134.
91
Visto como um sistema aberto, o Direito Penal pode ser representado sob dois aspectos: um científico e outro
objetivo. Cientificamente, o sistema aberto designa a aptidão para rever sempre as proposições vigentes, dado o
caráter de incompletude e provisoriedade com que encara conhecimento científico. Objetivamente, o sistema
aberto representa a passividade do direito penal para o constante aperfeiçoamento de suas estruturas e, assim, o
sistema penal também muda, objetivamente, na medida em que ele incorpora a unidade e a adequação respectivas
à evolução consubstanciada em princípios novos e diferentes daqueles existentes até então. Cf. AMARAL,
Cláudio do Prado, op. cit., p. 245.
92
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 250.
57
4. DISCUSSÃO DE CASO
58
proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 1.2. Modelo exigente de controle de constitucionalidade das leis em matéria
penal, baseado em níveis de intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis ou graus
de intensidade do controle de constitucionalidade de leis penais, consoante as diretrizes
elaboradas pela doutrina e jurisprudência constitucional alemã: a) controle de evidência
(Evidenzkontrolle); b) controle de sustentabilidade ou justificabilidade
(Vertretbarkeitskontrolle); c) controle material de intensidade (intensivierten
inhaltlichen Kontrolle). O Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição
confere ao legislador amplas margens de ação para eleger os bens jurídicos penais e
avaliar as medidas adequadas e necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém,
uma vez que se ateste que as medidas legislativas adotadas transbordam os limites
impostos pela Constituição – o que poderá ser verificado com base no princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso (Übermassverbot) e como proibição de
proteção deficiente (Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um rígido controle
sobre a atividade legislativa, declarando a inconstitucionalidade de leis penais
transgressoras de princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO.
PORTE DE ARMA. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALDIADE. A Lei 10.826/2003
(Estatuto do Desarmamento) tipifica o porte de arma como crime de perigo abstrato. De
acordo com a lei, constituem crimes as meras condutas de possuir, deter, portar, adquirir,
fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador
penal não toma como pressuposto da criminalização a lesão ou o perigo de lesão
concreta a determinado bem jurídico. Baseado em dados empíricos, o legislador
seleciona grupos ou classes de ações que geralmente levam consigo o indesejado perigo
ao bem jurídico. A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só,
comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação de condutas
que geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alternativa ou a
medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de
caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. Portanto, pode o
legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as
medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de determinado bem
59
jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificação próprias de um direito penal
preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa hipótese, transborde os limites da
proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional. 3. LEGITIMIDADE DA
CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há, no contexto empírico legitimador
da veiculação da norma, aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a segurança
pública (art. 6º e 144, CF) e indiretamente a vida, a liberdade, a integridade física e
psíquica do indivíduo etc. Há inequívoco interesse público e social na proscrição da
conduta. É que a arma de fogo, diferentemente de outros objetos e artefatos (faca, vidro
etc.) tem, inerente à sua natureza, a característica da lesividade. A danosidade é
intrínseca ao objeto. A questão, portanto, de possíveis injustiças pontuais, de absoluta
ausência de significado lesivo deve ser aferida concretamente e não em linha diretiva de
ilegitimidade normativa. 4. ORDEM DENEGADA.
Conforme consta dos autos, o paciente dou denunciado como incurso nas
infrações penais tipificadas no artigo 21 da Lei das Contravenções Penais e no artigo 10,
caput, da Lei N. 9.437/97 (Estatuto do Desarmamento).
60
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ao apreciar o apelo, declarou
extinta a punibilidade da contravenção penal e absolveu o acusado da prática do delito
de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido.
Por esta razão, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul interpôs
Recurso Especial, requerendo a mantença da condenação proferida em primeira
instância. O Tribunal da Cidadania conheceu do recurso e deu-lhe integral provimento,
restabelecendo a condenação inicial.
61
desmuniciada não constitui suporte para o crime de porte ilegal, visto que, nessa
hipótese, não haveria a ofensividade necessária ao preenchimento do tipo em seu aspecto
material.
1 – Adequação: em alguns casos, tais figuras típicas representam a melhor forma para a
proteção de bens jurídicos supraindividuais ou de caráter coletivo. Assim, pode o
legislador positivo, dentro de sua margem de avaliação e decisão, definir quais as
medidas mais adequadas e necessárias a efetiva proteção de determinados bem jurídicos.
Isso quer dizer que os crimes de perigo abstrato devem restringir-se aos comportamentos
que, segundo diagnósticos e prognósticos realizados pelo legislador com base em dados
e análises científicas disponíveis, configurem perigo para o bem jurídico protegido,
estando descartados aqueles que apenas de forma excepcional possam ensejar tal perigo.
Por último, não olvida da existência de situações que, ainda que subsumidas
à tipicidade formal, são desprovidas de qualquer significação social. Todavia, tais
questões de absoluta ausência de resultado lesivo devem ser aferidas concretamente, na
aplicação do direito aos diversos fatos que se verificam no cotidiano.
4.2. Discussão
93
Sdasd.
64
Todavia, esta nova tendência político-criminal vai de encontro a princípios
basilares do direito penal de aspiração liberal, fundado na proporcionalidade,
intervenção mínima, fragmentariedade e lesividade. As tipificações de perigo abstrato,
conforme já se pronunciou o Ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso, no
HC 92.533/RS:
O jurista e eminente professor Lenio Luiz Streck, em artigo escrito para a Revista
IBCCrim95, indaga se há compatibilidade do direito penal com a punição de
comportamentos em que não há a demonstração de efetivo risco concreto de lesão a um
bem jurídico. Para tanto, embasa sua argumentação em um caso submetido ao Tribunal
Constitucional espanhol (sentença n. 105/88), no qual foi declarada a
inconstitucionalidade sem redução do texto do delito insculpido no artigo 509, uma vez
que “sem a prova da possibilidade de efetivo dano, não se pode punir. A presunção de
que alguém vai cometer um furto, pelo fato de estar portando instrumentos próprios para
94
asdfasdf
95
STRECK, Lenio Luiz. A hermenêutica diante da relação “regra princípio” e o exemplo privilegiado do crime
de porte de arma de fogo. Revista IBCCrim, Ano 20, volume 98, set-out/2012.
65
tal, não é razão para o enquadramento no tipo penal. Meras condutas não podem ser
punidas; tampouco se pode punir alguém com base em presunções96”.
Com base neste exemplo concreto, o autor faz uma comparação com o delito de
porte de arma de fogo, aduzindo que os juízes, quando da aplicação da lei no exercício
da atividade jurisdicional, devem construir seus argumentos de forma integrada ao
conjunto de regras do ordenamento, mormente a Constituição Federal, de modo a se
evitar arbitrariedades interpretativas.
96
Idem, p. 258.
97
Idem, p. 262.
98
JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique. Legislação Penal Especial. 6ª Edição, São
Paulo: Saraiva, 2010, p. 733.
66
Nada obstante tais entendimentos, dos quais ousamos compartilhar, é pertinente
e produtivo trazer a lume compreensões em sentido oposto, o que só vem a enriquecer
o debate em tela. Assim, posiciona-se Fernando Capez da seguinte maneira:
99
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 4. 4ª Edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 371.
67
distanciar-se das abstrações que comportam flexibilizações de variadas
espécies que podem desencadear a utilização arbitrária do poder punitivo 100.”
100
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e princípio da precaução na sociedade de risco. São Paulo:
RT, 2007, p. 160.
101
BECCARIA, Cesare; tradução de J. Cretella Jr e Agnes Cretella. Dos delitos e das penas. 4ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009.
68
inerente à conduta. Nestes casos, a interpretação corretiva da falta de técnica legislativa
permitiria uma análise da situação de fato, para a verificação da existência do risco real
de perigo102”.
Bem explica o Ministro Cezar Peluso, em voto proferido em caso análogo (HC
92.533/RS), citando Hassemer e Silva Sanchez, que:
102
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Op cit. p. 160.
103
asdasd
69
CONCLUSÃO
Sob o aporte teórico da teoria sociológica de Ulrich Beck, ao longo deste trabalho
procurou-se demonstrar o panorama da atual sociedade, concebida como uma sociedade
de riscos.
70
Como o direito penal liberal não se demonstrou apto a estas novas demandas
preventivas, propostas de reformulação surgiram, consubstanciando-se em uma política
criminal voltada para o controle dos novos riscos.
Decerto é que as princípios estruturantes do Direito Penal não podem ser deixadas
de lado, pois representam garantias indissociáveis dos cidadãos e que, se violadas sob o
pretexto de garantir a proteção da sociedade, poderá se tornar um instrumento de
repressão e autoritário, o que não se pode conceber na sociedade pós-moderna.
104
MACHADO, Marta Rodriguez de Assis, op. cit., p. 213.
71
De outro giro, obviamente, as demandas sociais por segurança também não
podem ser esquecidas. O direito não pode “fechar os olhos” aos novos fenômenos da
sociedade, pois, como um instrumento de pacificação e de solução de controvérsias,
deve estar atento e se adequar aos novos tempos. Assim é que diversas propostas,
aduzidas no presente trabalho, foram formuladas com vistas à proteção contra os riscos,
sem representar violação aos seus princípios norteadores.
É certo que a política criminal não pode se desviar de suas finalidades precípuas
que devem estar em constante equilíbrio: a de prevenir a prática de delitos e assegurar
direitos e garantias fundamentais. A sociedade do risco, como se viu, provocou um
desequilíbrio dessas funções, orientando a política criminal fortemente para a
prevenção105.
105
AMARAL, Cláudio do Prado, op. cit., p. 249.
72
interessante, por não representar uma setorização do Direito Penal e atentar para as
garantias liberais.
73
REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare; tradução de J. Cretella Jr e Agnes Cretella. Dos delitos e das penas.
4ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34,
2010.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 4. 4ª Edição, São Paulo: Saraiva, 2012.
ESTEFAM, André. Direito Penal, Parte Geral. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: Teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, vol.
VII.
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Editor, 1991.
SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. A expansão do direito penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; BATISTA, Nilo. Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro:
Revan, 2003.
75