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Brasília, 17 a 21 de fevereiro de 1997 - Nº 60

Data (páginas internas): 26 de fevereiro de


1997

Este Informativo, elaborado pela


Assessoria da Presidência do STF a partir de
notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo
das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá
ser aferida após a sua publicação no Diário da
Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Contribuição Social
Custas em Ação Penal Pública
Decisão Ultra Petita
Exercício Arbitrário das Próprias Razões
Habeas Corpus e Autoridade Coatora
Habeas Corpus: Competência
Intimação da Sentença de Pronúncia
Intimação de Defensor Público
Lex Mitior e Retroatividade
Ofensa Propter Officium
Peculato e Verba Repassada pela União
Protesto por Novo Júri: Admissibilidade
Receptação e Competência
Remoção de Preso
Revisão Geral de Remuneração (28,86%)

PLENÁRIO
Revisão Geral de Remuneração (28,86%)
Conhecido e provido recurso ordinário em mandado de
segurança impetrado perante o STJ por servidores públicos
federais, visando à obtenção de reajuste de remuneração
idêntico ao concedido pela Lei 8627/93 a servidores
militares e civis integrantes, estes, de diversas carreiras e
órgãos da Administração (ativos e inativos). O mesmo
reajuste fora estendido à época, por decisões administrativas,
aos servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário da União.
RMS 22.307-DF, rel. Min. Marco Aurélio, 19.2.97.

Peculato e Verba Repassada pela União


Na vigência da CF/88, compete à Justiça Federal o
julgamento de servidor estadual acusado de haver-se
apropriado de verba repassada ao Estado pela União,
mediante convênio, com o fim de ser aplicada no Sistema
Único de Saúde - SUS. Com esse entendimento, o Tribunal
conheceu e deu provimento a recurso extraordinário
interposto pelo Ministério Público Federal contra acórdão do
TRF da 4ª Região que, baseando-se em antigos precedentes
do STF, tomados em face da CF/69 (RREE 76789-RN,
78125-RN, 85644-ES, 75491-PR), afirmara, na hipótese,
a competência da Justiça Estadual. RE 196.982-PR, rel. Min.
Néri da Silveira, 20.2.97.

Contribuição Social - 1
Concluindo o julgamento de dois recursos
extraordinários em que se discutia sobre se o dispositivo
legal que elevou de 8% para 10% a alíquota da contribuição
social instituída pela Lei 7689/88 dispositivo, esse, que
resultara da conversão em lei da MP 86, de 25.09.89 poderia
ser aplicado no próprio exercício de 1989, alcançando o
lucro apurado em 31 de dezembro daquele ano, o Tribunal,
por maioria de votos, admitiu essa possibilidade, afirmando
ainda, também por maioria, a aptidão das medidas
provisórias para instituir e majorar tributos.

Contribuição Social - 2
Quanto ao termo inicial do prazo de noventa dias
previsto no art. 195, § 6º, da CF, o Tribunal entendeu que,
não tendo sofrido a MP 86/89 alteração significativa no
Congresso Nacional ao ser convertida na Lei 7856/89, deve
ele ser contado, na espécie, da data da publicação da medida
provisória, e não da lei de conversão, na linha da orientação
adotada no julgamento plenário do RE 169.740-PR (DJ de
17.11.95), RE 197.790-MG, rel. Min. Ilmar Galvão, e RE
181.664-RS, rel. orig. Min. Carlos Velloso; rel. p/ ac., Min.
Ilmar Galvão, 19.2.97.

PRIMEIRA TURMA
Intimação da Sentença de Pronúncia
A declaração do acusado de estar ciente da sentença de
pronúncia e a circunstância de o recurso interposto contra
essa decisão conter a sua assinatura ao lado da de seu
defensor não suprem a falta de intimação prevista no art. 414
do CPP (“A intimação da sentença de pronúncia, se o crime
for inafiançável, será sempre feita ao réu pessoalmente.”).
Com este entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus
impetrado contra decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo
que não conhecera de recurso em sentido estrito interposto
pela defesa do paciente por não haver sido este intimado na
forma do art. 414. HC 74.711-SP, rel. Min. Moreira Alves,
18.2.97.

Lex Mitior e Retroatividade


O art. 91 da Lei 9099/95 (“Nos casos em que esta Lei
passa a exigir representação para a propositura da ação
penal pública, o ofendido ou seu representante legal será
intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena
de decadência.”), enquanto norma penal mais benéfica, é
aplicável a qualquer tempo antes do trânsito em julgado da
condenação. Habeas corpus deferido para, anulado o
julgamento da apelação, determinar que o tribunal de origem
intime o ofendido para o fim previsto no citado dispositivo.
HC 74.334-RJ, rel. Min. Sydney Sanches, 18.2.97.

Intimação de Defensor Público


A exemplo do que sucede em relação às intimações dos
membros do Ministério Público, a simples entrega dos autos
no protocolo do órgão encarregado da assistência judiciária
não basta para satisfazer a exigência de intimação pessoal,
prevista no art. 5º, § 5º, da Lei 1060/50 (“Nos Estados onde
a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida,
o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será
intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em
ambas as instâncias, ...”). Com base nesse entendimento, a
Turma deferiu pedido de habeas corpus impetrado contra
decisão do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São
Paulo que não conhecera, por intempestividade, de recurso
interposto pela Procuradoria de Assistência Judiciária
Criminal do Estado em favor do paciente. HC 74.628-SP, rel.
Min. Moreira Alves, 18.2.97.

Custas em Ação Penal Pública


A determinação de que a parte comprove o preparo do
recurso no ato de sua interposição (CPC, art. 511, caput) não
se aplica ao processo penal. Com base nesse entendimento, e
reafirmando a orientação acolhida pela jurisprudência do
STF, no sentido de que, nas ações penais públicas, o
processamento dos recursos interpostos independe do
pagamento de custas, a Turma deferiu pedido de habeas
corpus impetrado contra acórdão do Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba que julgara deserto recurso interposto em
favor do paciente. Precedentes citados: HC 61.215-RJ (RTJ
109/536); RE 102.968-MS (RTJ 115/838); HC 74.338-PB
(v. Informativo 46). HC 74.868-PB, rel. Min. Octavio
Gallotti, 18.2.97.

Remoção de Preso
A possibilidade admitida pelo art. 86 da Lei de
Execuções Penais (“As penas privativas de liberdade
aplicadas pela Justiça de uma unidade federativa podem ser
executadas em outra unidade, em estabelecimento local ou
da União”) não se constitui em direito subjetivo do
sentenciado, subordinando-se, antes, às conveniências da
administração da justiça. Precedentes citados: HC 69.978-SP
(DJ de 25.6.93); HC 71.076-GO (DJ de 6.5.94). HC 74.814-
RO, rel. Min. Ilmar Galvão, 18.2.97.

Ofensa Propter Officium


Tratando-se de ofensa dirigida a juiz de direito em razão
de seu ofício, a ação penal pode ser iniciada pelo próprio
ofendido, ou pelo Ministério Público mediante
representação, cabendo ao juízo de primeiro grau e não ao
Tribunal de Justiça, cuja competência se limita ao
conhecimento da exceção de verdade o seu julgamento.
Precedente citado: Inq 726-RJ (AgRg) (RTJ 154/410). HC
74.649-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 18.2.97.

Decisão Ultra-Petita
Deferido habeas corpus impetrado contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que,
ultrapassando os limites do pedido formulado em recurso
interposto pelo Ministério Público aplicação a adolescente
infrator da medida prevista no inciso V do art. 112 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (inserção em regime de
semiliberdade) , determinara, em prejuízo do paciente, a sua
internação em estabelecimento educacional. HC 74.804-SP,
rel. Min. Octavio Gallotti, 18.2.97.

SEGUNDA TURMA
Habeas Corpus: Competência
Julgando tratar-se de pedido substitutivo de recurso
ordinário constitucional (CF, art. 105, II, a: “Compete ao
Superior Tribunal de Justiça: II - julgar, em recurso
ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão for denegatória;”), a Turma não conheceu
de habeas corpus contra acórdão de tribunal regional federal
que confirmara, em agravo regimental, despacho denegatório
de medida liminar em habeas corpus. Em conseqüência,
determinou-se a devolução dos autos ao STJ, reformando
decisão ali proferida que tivera por aplicável à espécie o art.
102, I, i, da CF. HC 74.847-RS, rel. Min. Carlos Velloso,
18.2.97.

Habeas Corpus e Autoridade Coatora


Tratando-se de inquérito instaurado mediante requisição
de autoridade judiciária (CPP, art. 5º, II), a coação alegada
em sede de habeas corpus é de se atribuir ao juiz
requisitante e não ao delegado de polícia. Na espécie, cuida-
se de recurso ordinário contra decisão do STJ que não
conheceu de habeas corpus sob o fundamento de que a
simples “solicitação” de abertura de inquérito policial pelo
Corregedor-Geral de Justiça do Estado do Mato Grosso não
o converteria em autoridade coatora para atrair a
competência daquela Corte para julgar o writ (CF, art. 105, I,
a). Considerando o caráter obrigatório da referida
“solicitação” vez que a autoridade policial não poderia
eximir-se de cumpri-la , a Turma conheceu do recurso e lhe
deu provimento para cassar o acórdão recorrido e determinar
que o STJ prossiga no julgamento do habeas corpus. RHC
74.860-MT, rel. Min. Carlos Velloso, 18.2.97.

Receptação e Competência
Quando a autoria do furto ou do roubo de que proveio o
objeto do crime de receptação for ignorada ou não
comprovada, a competência para julgar este delito será do
juízo da comarca em que ele tiver sido consumado. Com
base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus
em que se pretendia ver reconhecida a incompetência
absoluta do juízo da comarca de Campo Grande-MS local
em que se consumara a receptação imputada ao paciente ,
sob o argumento de que o veículo objeto desse crime havia
sido furtado no Rio de Janeiro. Precedente citado: CJ 2.925
(DJ de 3.12.64). HC 74.007-MS, rel. Min. Carlos Velloso,
18.2.97.

Protesto por Novo Júri: Admissibilidade


O § 1º do art. 607 do CPP, que não admite o “protesto
por novo júri, quando a pena for imposta em grau de
apelação”, não subsiste em face da revogação do art. 606, do
mesmo Código, pela Lei 263, de 23.2.48. Afirmando embora
este entendimento, a Turma acabou indeferindo o habeas
corpus que o sustentava, pelo fato de o paciente não haver
observado a forma e o prazo previstos no § 2º do art. 607
(“O protesto invalidará qualquer outro recurso interposto e
será feito na forma e nos prazos estabelecidos para
interposição da apelação.”). Precedentes citados: HC
54.079-SP (RTJ 77/779); HC 48.924-SP (RTJ 58/798). HC
74.633-SP, rel. Min. Marco Aurélio, 18.2.97.

Exercício Arbitrário das Próprias Razões


Não configura o delito de falsidade ideológica (CP, art.
299), mas sim o de exercício arbitrário das próprias razões
(CP, art. 345), a simulação de dívida por um dos ex-cônjuges
com o fim de subtrair à partilha bem disputado por ambos.
Com base nesse entendimento, a Turma assentou a
ilegitimidade ativa do Ministério Público tendo em vista
tratar-se de crime de ação penal privada (CP, art. 345, par.
único) e, conseqüentemente, declarou extinta a punibilidade
do paciente pela decadência do direito de queixa. HC
74.672-MG, rel. Min. Marco Aurélio, 18.2.97.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 19.2.97 20.2.97 7


1ª Turma 18.2.97 --------- 40
2ª Turma 18.2.97 --------- 22

CLIPPING DO DJ
21 de fevereiro de 1996

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA N. 415-2


RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Ação Cível Originária. Questão de limites entre os
Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia. Ação proposta pelo
Estado do Acre contra Amazonas e Rondônia. 2. Competência do
Supremo Tribunal Federal para processar e julgar, originariamente, a
demanda (Constituição, art. 102, I, letra “f”). Exame da matéria
relativa à competência para causas de limites territoriais entre
Estados da Federação, desde a Constituição de 1891 (Constituição
de 1891, art. 59, I, letra “c”; Constituição de 1934, art. 76, I, letra
“d”; Constituição de 1937, art. 101, I, letra “c”; Constituição de
1946, art. 101, I, letra “e”; Constituição de 1967, art. 114, letra “d”;
Emenda Constitucional nº 1, de 1969, art. 119, I, letra “d”). Posição
da doutrina e jurisprudência americanas sobre a espécie. 3. Ação de
limites entre os Estados litigantes deduzida à vista do art. 12, § 5º,
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
de 1988. Análise das normas transitórias sobre questões de limites
entre os Estados, nos regimes das Constituições de 1934 (art. 13 e
parágrafos, do ADCT), 1937 (art. 184 e parágrafos) e 1946 (art. 6º e
parágrafos, do Ato das Disposições Transitórias). A Constituição de
1937 (art. 184) e o uti possidetis. 4. Natureza e extensão do art. 12, §
5º, do Ato das Disposições Transitórias da Constituição de 1988.
Anteriormente à Constituição de 1988, mediante convênio celebrado
entre os Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia e a Fundação
IBGE, não só se criara uma comissão tripartite com representantes
dos Estados aludidos, colimando solver seus problemas de limites,
mas, também, a Fundação IBGE, no âmbito das atribuições que lhe
conferiu o Decreto-Lei nº 161, de 13.2.1967, se comprometeu a
realizar, - como efetivamente realizou, - os trabalhos de
levantamentos cartográficos e geodésicos atinentes aos limites
territoriais, entre si, das mencionadas Unidades da Federação.
Demonstração dos procedimentos seguidos e dos resultados
apurados, com debates na comissão tripartite. Conclusões do IBGE
sobre os limites territoriais do Acre e Amazonas, do Acre e
Rondônia e do Amazonas e Rondônia, ainda em 1987. “Nota
Técnica da Diretoria de Geociências do IBGE”, de 25 de novembro
de 1987. 5. Configuram-se, no caso concreto, assim, os pressupostos
à incidência do parágrafo 5º do art. 12, do ADCT de 1988, segundo
o qual “ficam reconhecidos e homologados os atuais limites do
Estado do Acre com os Estados do Amazonas e de Rondônia,
conforme levantamentos cartográficos e geodésicos realizados pela
comissão tripartite integrada por representantes dos Estados e dos
serviços técnico-especializados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística.” 6. Inviabilidade de pretender, na presente demanda,
discutir os limites territoriais dos Estados em apreço, fora do
contexto resultante da aplicação da regra do parágrafo 5º do art. 12,
do Ato das Disposições Transitórias da Constituição de 1988, o que
conduz à verificação última do que se contém nos levantamentos
cartográficos e geodésicos apontados nos relatórios e notas dos
serviços técnico-especializados do IBGE, acima aludidos,
precisando-lhes a compreensão e tornando, desse modo, possível a
sua definitiva execução. 7. Não altera a conclusão, quanto à
incidência do art. 12, § 5º, do ADCT da Constituição de 1988, a
circunstância de a comissão tripartite não haver adotado soluções
definitivas e consensuais em torno de certos pontos litigiosos dos
limites dos três Estados, diante dos estudos técnicos do IBGE. Se tal
houvesse sucedido, antes da conclusão dos trabalhos constituintes,
decerto, a regra transitória em alusão (art. 12, § 5º) não teria sentido,
porque, então, por via do acordo, os Estados em foco teriam
encontrado solução às divergências concernentes aos respectivos
limites territoriais. A norma constitucional transitória veio
precisamente pôr fim aos dissídios de limites existentes.
Possibilidade de execução, em concreto, pelo IBGE, dos limites
traçados. 8. Ação julgada procedente, em parte, com base no art. 12,
§ 5º, do ADCT aludido, determinando-se a execução, pelo IBGE,
dos traçados de limites entre os Estados litigantes, na conformidade
de seus levantamentos cartográficos e geodésicos realizados antes da
Constituição de 1988, à vista do convênio mencionado. 9. Não
conhecimento do pedido de indenização, diante da natureza da
demanda. 10. Condenação do Estado do Acre a pagar honorários
advocatícios, em face do princípio da sucumbência, ao Estado de
Rondônia, eis que, quanto a esse, foi julgada improcedente a ação,
compensando-se as verbas respectivas, a esse título, relativamente
ao Estado do Amazonas, por serem, autor e réu, parcialmente
sucumbentes.

ADIn N. 1526-5 - questão de ordem


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: (...)
1. Impugnação, pela CNTI, de normas relativas à aposentadoria
dos magistrados classistas temporários da Justiça do Trabalho,
recrutados entre os trabalhadores na indústria. (...)
3. Questão de ordem resolvida no sentido de não reconhecer o
vínculo de pertinência temática: o juiz classista temporário, nestas
funções, é órgão da magistratura, e não trabalhador da indústria; a
defesa de interesses de parcela da magistratura não integra os
objetivos institucionais da requerente.
4. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 7039-1 *
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Tendo sido dirimido, pela instância constitucional
competente (Superior Tribunal de Justiça), o conflito de competência
entre a Justiça do Trabalho e a comum, não cabia ao Tribunal
Regional do Trabalho pretender renová-lo perante o Supremo
Tribunal Federal.
Conflito de que, em conseqüência, não se conhece, restituídos
os autos à Corte suscitante, para que prossiga no julgamento do
feito.
* noticiado no Informativo 43

HABEAS CORPUS N. 69646-5


REL. P/ ACORDÃO: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: (...)
A identificação da maior ou da menor abrangência temática dos
recursos penais interpostos pelo Ministério Público há de ser aferida
em face da extensão material indicada pelo Parquet em sua petição
recursal (CPP, art. 578), sendo irrelevante, para esse efeito, o
conteúdo das razões ulteriormente deduzidas pelo órgão da acusação
estatal. Precedentes.

HABEAS CORPUS N. 74106-1


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
(...)
PRISÃO - SENTENÇA DE PRONÚNCIA - NATUREZA. A
ordem de prisão formalizada quando da sentença de pronúncia
mostra-se preventiva, submetendo o órgão investido do ofício
judicante à observância do disposto no artigo 312 do Código de
Processo Penal. Cumpre fundamentá-la.
PRISÃO PREVENTIVA - EXCESSO DE PRAZO. Uma vez
configurado o excesso de prazo, cabe, em prol da intangibilidade da
ordem jurídica constitucional, afastar a custódia preventiva. Idas e
vindas do processo, mediante declarações de nulidade, não
justificam a permanência do acusado sob a custódia do Estado.

HABEAS CORPUS N. 74183-5


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
(...)
CONTINUIDADE DELITIVA - CRITÉRIOS - UNIDADE DE
DESÍGNIO - AUSÊNCIA - REITERAÇÃO DE DELITOS -
IRRELEVÂNCIA. Os pressupostos da continuidade delitiva são
objetivos. Consideram-se a prática de dois ou mais crimes da mesma
espécie e as condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes. Descabe potencializar a vida pregressa do
agente e o número de delitos por ele cometidos para, a partir da
óptica da habitualidade criminosa, afastar a incidência do preceito
do artigo 71 do Código Penal. Tanto vulnera a lei aquele que inclui
no campo de aplicação hipótese não contemplada como o que exclui
caso por ela abrangido.

HABEAS CORPUS N. 74254-8 *


RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: “HABEAS CORPUS”
Como bem acentua o parecer da Procuradoria-Geral da
República, ambas as Turmas desta Corte têm entendido que a
imposição da prestação de serviços à comunidade como condição
para o “sursis” não constitui constrangimento ilegal, por não ocorrer
o bis in idem. Assim, no HC 72.233, Segunda Turma, e nos HC
72.683 e 73.110, Primeira Turma, sendo relatores, respectivamente,
os Srs. Ministros Maurício Correa, Sydney Sanches e Octávio
Gallotti.
“Habeas corpus” indeferido.
* noticiado no Informativo 44

HABEAS CORPUS N. 74502-4


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS. QUESTÃO NOVA.
I. - Por conter questão nova, que não foi posta ao exame do Tribunal
estadual, o habeas corpus não pode ser conhecido, sob pena de
supressão de instância.
II. - Remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, para julgamento da questão levantada perante o
Supremo Tribunal Federal, ainda não apreciada por aquele Tribunal.
III. - H.C. não conhecido.

HABEAS CORPUS N. 74503-2


RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Habeas corpus.
- Tratando-se de alegação de nulidade que poderia ter sido declarada
de ofício quando do julgamento da apelação, o Tribunal que julgou o
recurso, omitindo-se a respeito, se tornou o órgão coator, se
ocorrente essa nulidade.
- Inocorrência da alegada colidência de defesas.
Habeas corpus conhecido, mas indeferido.

HABEAS CORPUS N. 74552-1 *


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Pretensão de aplicação retroativa de dispositivos da Lei
nº 9.099-95.
Sendo a sua vigência posterior ao julgamento da apelação, não
se configura, no caso, coação atribuível ao Tribunal estadual,
cabendo, ao Juízo de Execução, quando provocado, decidir sobre o
cabimento da pretensão (Súmula nº 611 do Supremo Tribunal).
* noticiado no Informativo 57

HABEAS CORPUS N. 74683-7 *


RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: HABEAS CORPUS. DECISÃO DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE, MEDIANTE EMPATE NA
VOTAÇÃO, CONCEDEU INDULTO A CO-RÉU, SEM REPARAR
O DANO. PEDIDO DE EXTENSÃO DENEGADO.
A Turma julgadora, com o quorum completo, não fica
constrangida a estender a outros co-réus decisão que em
circunstância especialíssima o empate na votação concedeu
indulto a um deles. A regra do art. 580 do Código de Processo Penal
não comporta a extensão pretendida.
O condicionamento do benefício do indulto ao ressarcimento do
dano resultante da ação delituosa é prática efetiva em nosso sistema
penal, que se orienta no sentido de estimular a composição dos
danos materiais resultantes do delito, mesmo antes do julgamento
condenatório definitivo. No caso, o seqüestro dos bens do paciente,
na linha do que vem decidindo a Primeira Turma, não constitui óbice
suficiente para afastar a obrigação indenizatória.
Habeas corpus indeferido.
* noticiado no Informativo 57

RECLAMAÇÃO N. 449-0 (AgRg)


RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: (...)
- A Lei nº 8.038/90 estabelece que qualquer interessado poderá
impugnar o pedido do reclamante (art. 15). O interessado - vale
dizer, aquela pessoa que dispõe de interesse jurídico na causa -
qualifica-se como sujeito meramente eventual da relação processual
formada com o ajuizamento da reclamação.
A intervenção do interessado no processo de reclamação é
caracterizada pela nota da simples facultatividade. Isso significa
que não se impõe, para efeito de integração necessária e de válida
composição da relação processual, o chamamento formal do
interessado, pois este, para ingressar no processo de reclamação,
deverá fazê-lo espontaneamente, recebendo a causa no estado em
que se encontra.
O interessado, uma vez admitido ao processo de reclamação -
e observada a fase procedimental em que este se acha -, tem o
direito de ser intimado dos atos e termos processuais,
assistindo-lhes, ainda, a prerrogativa de fazer sustentação oral,
quando do julgamento final da causa. Precedente.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 164715-9 *


RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: Direito do Trabalho: legislação federal sobre reajuste de
salário (“gatilho salarial”): incidência direta sobre as relações
contratuais trabalhistas do Estado-membro e suas autarquias.
No âmbito da competência privativa da União para legislar
sobre Direito do Trabalho - que abrange as normas de reajuste
salarial compulsório - a lei federal incide diretamente sobre as
relações contratuais dos servidores dos Estados, dos Municípios e
das respectivas autarquias: uma coisa é repelir - por força da
autonomia do Estado ou da vedação de vinculações remuneratórias
-, que a legislação local possa atrelar os ganhos dos servidores
estaduais, estatutários ou não, a vencimentos da União ou índices
federais de qualquer sorte. Outra coisa bem diversa é afirmar a
incidência direta sobre os salários de servidores locais, regidos pelo
Direito do Trabalho, de lei federal sobre reajustes salariais: aqui, o
problema não é de vinculação; nem de usurpação ou renúncia
indevida à autonomia do Estado; é, sim, de competência da União
para legislar sobre Direito do Trabalho.
* noticiado no Informativo 35

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 172720-9 *


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - EXTRAVIO DE MALA EM
VIAGEM AÉREA - CONVENÇÃO DE VARSÓVIA -
OBSERVAÇÃO MITIGADA - CONSTITUIÇÃO FEDERAL -
SUPREMACIA.
O fato de a Convenção de Varsóvia revelar, como regra, a
indenização tarifada por danos materiais não exclui a relativa aos
danos morais. Configurados esses pelo sentimento de desconforto,
de constrangimento, aborrecimento e humilhação decorrentes do
extravio de mala, cumpre observar a Carta Política da República -
incisos V e X do artigo 5º, no que se sobrepõe a tratados e
convenções ratificados pelo Brasil.
* noticiado no Informativo 18

RMS N. 21943-6
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: (...)
1. Os servidores públicos não podem receber remuneração maior
que a de seus paradigmas, no âmbito de cada Poder.
2. A Retribuição Adicional Variável - RAV, instituída pela Lei nº
7.711/88 deve ser incluída no respectivo teto, bem como a
Gratificação de Estímulo à Fiscalização e à Arrecadação - GEFA,
prevista no art. 13 da Lei Delegada nº 13, de 27.08.92, quando
recebida, por não constituírem vantagem pessoal percebida pelo
servidor.
3. Excluem-se do cálculo elaborado para a aplicação do teto, as
parcelas de caráter eminentemente pessoal representadas pelo
adicional por tempo de serviço, salário-família (art. 42, parágrafo
único da Lei nº 8.112/90 e art. 1º, III, “e” da Lei 8.852/94, e, ainda, o
adicional de 20% a que se refere o artigo 184, da Lei nº 1.711/52.
4. Recurso parcialmente provido.

Acórdãos publicados: 121

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

IPTU e Progressividade
RE 153.771-MG *

Ministro Moreira Alves (relator p/ o acórdão)

1. O eminente relator, Ministro Carlos


Velloso, não conhece do presente recurso extraordinário, porque,
fazendo ampla exposição relativa à progressividade do IPTU,
sustenta que “o que está na Constituição, ao que me parece, é que é
possível distinguir a progressividade fiscal C.F., art. 145, § 1º, art.
156, § 1º da progressividade- sanção inscrita no art. 182, § 4º, II”,
e depois de salientar que

“... forte na
Constituição, art. 145, § 1º, as alíquotas do
IPTU deverão ser progressivas, forma,
aliás, de se emprestar a esse imposto
caráter de pessoalidade, dado que a
progressividade, segundo M.DUVERGER,
lembra Hugo de Brito Machado, ‘constitui
um dos meios mais eficazes de
personalização do imposto’ (‘Hacienda
Pública’, trad. de José Luiz Ruiz Travessi,
Barcelona, 1958, p. 321). Essa
progressividade assentar-se-á,
especificamente, no disposto no art. 156, §
1º, da Constituição, certo que a ‘função
social’ ali inscrita não é a mesma ‘função
social’ do § 2º do art. 182 da Constituição:
a primeira, do art. 156, § 1º, independe do
plano diretor, porque localizada no campo
tributário e não está jungida ao
reordenamento de áreas urbanas. Ela se
assenta, a função social do art. 156, § 1º,
numa política redistributivista, ou a
progressividade assentada no art. 156, §
1º, visa a realizar uma política
redistributivista, na linha da lição de
WILLHERM GERLOFF ... porque se
reconhece estar a renda distribuída de
modo inconveniente à vista das aspirações
éticas da sociedade’,

conclui:
“No caso,
conforme está no acórdão recorrido ‘o
imposto variou de alíquota, levando-se em
consideração o valor venal, a zona de
situação, e o fato de existir ou não
edificação’.
Não praticou,
portanto, o Município de Belo Horizonte,
ao instituir a progressividade fiscal inscrita
na Lei municipal nº 5.641, de 1989,
inconstitucionalidade. Ao contrário, a lei
mencionada está na linha do que dispõem
os artigos 145, § 1º, e 156, § 1º, da
Constituição Federal”.

2. Com a devida vênia do eminente relator,


não me parece que assim seja.
Passo portanto, a examinar os artigos 145,
§ 1º, 156, § 1º, e 182, §§ 1º e 4º, todos da Constituição Federal.
3. Reza o § 1º do artigo 145:
“§ 1º. Sempre que
possível, os impostos terão caráter pessoal
e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente
para conferir efetividade a esses objetivos,
identificar, respeitados os direitos
individuais e nos termos da lei, o
patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte.”
Desse dispositivo
decorre que a Constituição, adotando a
distinção clássica segundo a qual os
impostos podem ter caráter pessoal ou
caráter real (é a classificação que distingue
os impostos em pessoais e reais), visa a que
os impostos, sempre que isso seja possível,
tenham o caráter pessoal, caso em que serão
graduados - e um dos critérios de graduação
poderá ser a progressividade - segundo a
capacidade econômica do contribuinte.
Por outro lado, em face desse dispositivo,
não se pode pretender que a expressão “sempre que possível” se
refira apenas ao caráter pessoal do imposto, e que, por isso, o
princípio da capacidade contributiva seja aplicável a todos os
impostos ainda quando não tenham caráter pessoal, como sustentam
Américo Lacombe e José Maurício Conti, citados no voto do
eminente relator. De feito, a parte final do dispositivo em causa
repele essa conclusão, porque a Constituição atribui à administração
tributária a faculdade de identificar o patrimônio, os rendimentos e
as atividades econômicas do contribuinte, “especialmente para
conferir efetividade A ESSES OBJETIVOS”, ou seja, ao objetivo de
que os impostos, se possível, tenham caráter pessoal e ao de que
esses impostos com caráter pessoal sejam graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, certo como é que essa
faculdade de identificação só tem sentido quando se trata de imposto
de caráter pessoal, ou seja - na definição de GIANINI (Istituzioni di
Diritto Tributario, reimpressão da 9ª ed., p.159, Dott A Giuffrè
Editore, Milano, 1974) -, “aqueles que alcançam o conjunto de
rendimentos ou de bens do contribuinte, ou também uma parte
destes, mas enquanto dizem respeito a uma dada pessoa, levando
em conta, em medida mais ou mesmo ampla, as suas condições”. O
mesmo não ocorre, evidentemente, com os impostos de caráter real
que - também na definição de GIANINI (Ob. Cit., ibidem) - são os
que “alcançam bens singulares ou rendimentos ou também grupos
de bens ou de rendimentos, considerados na sua objetividade, sem
levar em conta a condição pessoal do sujeito passivo do imposto”.
Por isso mesmo, VICTOR UCKMAR (Princípios Comuns de
Direito Constitucional Tributário, trad. MARCO AURÉLIO
GRECO, § 12, p. 82, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
1976), tratando do princípio constitucional da igualdade tributária no
tocante à capacidade contributiva, se refere ao “EVIDENTE
ABSURDO DE ALÍQUOTAS PROGRESSIVAS PARA OS
IMPOSTOS REAIS”. Igualmente, VINCENZO CARULLO (La
Costituzione della Repubblica Italiana, p. 184, Dott. Cesare Zuffi-
Editore, Bologna, 1950), comentando o artigo 53 da Constituição
Italiana que preceitua que “todos são obrigados a concorrer para as
despesas públicas em razão de sua capacidade contributiva” e que
“o sistema tributário é informado por critérios de progressividade”,
acentua: “Naturalmente, não queremos dizer - nem o poderemos -
que todos os impostos indistintamente devem ser progressivos,
porque bem sabemos como isso seria IMPOSSÍVEL ou
cientificamente errado: porque bem sabemos que A PROGRESSÃO
NÃO CONDIZ COM OS IMPOSTOS DIRETOS REAIS e pode
encontrar só inadequada e indireta aplicação nos impostos sobre
consumos e nos impostos indiretos em geral”. No mesmo sentido,
ZINGALI (apud COCIVERA, Principi di Diritto Tributário, I, ps.
253/254, nota 60, Dott. A Giuffrè Editore, Milano, 1974), que dá
como uma das características do imposto real a de que ele “não
pode ser organizado em forma progressiva (sendo a progressividade
das alíquotas fundadas sobre o conceito de capacidade
contributiva)”. Essa também a posição de BERLIRI (Principi di
Diritto Tributario, I, 2ª ed., ps. 268/269, GIUFFRÈ Editore, Milano,
1967, ao advertir: “Um outro elemento que caracteriza a
capacidade contributiva é a sua relação com a pessoa do
contribuinte. A capacidade contributiva, propriamente enquanto
capacidade, é alguma coisa de subjetivo e não de objetivo: a mesma
quantidade de renda ou de patrimônio exprime uma diversa
possibilidade de contribuir para as despesas públicas se possuída
por Tício, pai de 12 filhos ou por Gaio, solteiro; por Semprônio,
jovem em pleno vigor das forças, ou por Mévio, velho paralítico e
necessitado de contínua assistência médica. Tal íntima conexão
entre a riqueza e seu possuidor resulta clara do confronto entre o
art. 15 do Estatuto Albertino - que falava de haveres - e o artigo 53
da Constituição que fala justamente de capacidade contributiva.
Aliás, num sistema inspirado em critérios de progressividade é
natural que a imposição tenha caráter pessoal e não real”. Não é
diversa a lição de GIANINI (Comentario Sistematico alla
Costituzione Italiana diretto da PIERO CALAMANDREI e
ALESSANDRO LEVI, vol. I, p. 284, G.Barbèra, Editore, Firenze,
1950), ao comentar os preceitos da Constituição italiana sobre as
relações tributárias, salienta, com relação à progressividade:
“Pode somente afirmar-se que a não todos os tributos é aplicável o
critério da progressividade (exatamente por isso a Constituição
refere o critério mesmo ao sistema tributário): que os impostos
diretos reais, enquanto alcançam objetivamente os rendimentos
singulares (dos terrenos, das construções, etc.) devem ser
necessariamente proporcionais, pois de outro modo se verificaria a
incongruência de alcançar mais gravemente o possuidor de um
rendimento derivado de uma fonte de renda que não o possuidor de
uma renda igual, mas produzida por fontes de renda diversas; que o
campo em que deve sobretudo operar a progressão é o do imposto
pessoal sobre o rendimento geral do sujeito”. Também na Suíça,
BLUMENSTEIN (Sistema di Diritto delle Imposte, Trad.
FRANCESCO FORTE, § 10, II, 2, Dott. A Giuffrè Editore, Milano,
1954) acentua que “a distinção entre impostos subjetivos e objetivos
(pessoais e reais) decorre do fato de que para determinados tipos
pode prestar-se atenção à capacidade econômica pessoal do sujeito,
enquanto para outros conta só a existência de um determinado
objeto de imposto”. Na Alemanha, CREZELIUS (Steuerrecht II -
Besonderes Steuerrecht, § 30, 1, p. 416, Verlag C.H.Beck, München,
1991), estudando o imposto imobiliário (Grundsteuer), que também
é da competência dos municípios, salienta que ele pertence à espécie
dos impostos reais, e acrescenta: “abarca-se, assim, um
determinado objeto do imposto por seu valor ou com sua renda, sem
que dependa da capacidade de prestação econômica ou pessoal
daquele a quem, juridicamente no tocante ao imposto imobiliário, o
imóvel é imputado”; no mesmo sentido, STEINBERG (verbete
Grundsteuer, in Handwörterbuch des Steuerrechts und der
Steuerwissenschaften, A-K, p. 549, C.H. Beck’sche
Verlagsbuchhandlung, München, 1972). O francês PAUL HUGON
(O Imposto - Teoria Moderna e Principais Sistemas, p. 85, Editora
Renascença S/A, São Paulo, 1945, dissertando sobre as vantagens e
desvantangens dos impostos reais, adverte que “ele agrava
igualmente, por exemplo, os rendimentos de um prédio, seja qual
for a situação econômica e social do proprietário: seja rico ou de
posses médias, nacional ou estrangeiro, celibatário ou chefe de
família; esteja a casa hipotecada ou não, etc.”, esclarecendo: “ele
se estabelece, pois, sem atender à capacidade contributiva”. E, no
Brasil, dentre outros, ZELMO DENARI (Curso de Direito
Tributário, 3ª ed., p. 72, Forense, Rio de Janeiro, 1993) observa,
quanto ao imposto real, que “de índole objetiva, abstrai a
capacidade contributiva do contribuinte”, sendo que “como
exemplos temos o imposto territorial, rural e o imposto predial”.
Ora, no sistema tributário nacional, é o
IPTU inequivocadamente um imposto real, porquanto tem ele como
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel
localizado na zona urbana do Município, sem levar em consideração
a pessoa do proprietário, do titular do domínio útil ou do possuidor,
tanto assim que o Código Tributário Nacional ao definir seu fato
gerador e sua base de cálculo não leva em conta as condições da
pessoa do sujeito passivo. E mais: no artigo 130 estabelece que “os
créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, ... , sub-
rogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando
conste do título a prova de sua quitação”, o que implica dizer que,
se não constar do título de transmissão a prova da quitação desses
impostos (inclusive, portanto, o IPTU), o sujeito passivo do imposto
devido anteriormente à transmissão do imóvel passa a ser o
adquirente, o que importa concluir que essa obrigação tributária,
nesse caso, de certa forma, se aproxima da obrigação ob ou propter
rem, também denominada obrigação ambulatória, porque o devedor
não é necessariamente o proprietário, titular do domínio útil ou
possuidor ao tempo em que ocorreu o fato gerador e nasceu a
obrigação tributária, mas pode ser o que estiver numa dessas
posições quando da exigibilidade do crédito tributário, circunstância
esta que mostra, claramente, que nesses impostos não se leva em
consideração a capacidade contributiva do sujeito passivo, até
porque, no momento da ocorrência do fato gerador anterior à
transmissão, o futuro adquirente não era titular de direito real ou
tinha a posse para daí se inferir, por presunção, que ele tivesse
capacidade contributiva, que obviamente tem de ser aferida quando
do fato gerador e não posteriormente a ele.
Ademais, o caráter real do IPTU foi
exacerbado pelo artigo 156, § 1º, da atual Carta Magna.
Com efeito, BALEEIRO (Limitações
Constitucionais ao Poder de Tributar, 5ª ed., ps. 363 e 365, Forense,
Rio de Janeiro, 1977), que, entre os impostos reais, cita o imposto
territorial, porque “paga, por exemplo, o solo, imposto territorial a
tantos cruzeiros por hectare ou a 1% sobre o seu valor venal, pouco
importando que o proprietário seja celibatário, ausente, rico, que o
conserve na expectativa de valorização ou para caçadas”, observa:
“Em regra geral,
só os impostos pessoais se ajustam
adequadamente à aplicação de critérios
progressivos medidos pela capacidade
contributiva, se bem que esta se possa
presumir da natureza, valor ou aplicação
específica de determinada coisa, no sentido
de que a possui, compra ou prefere o
indivíduo de maiores recursos econômicos.
Mas imposto sobre coisa, em princípio,
exclui, por exemplo, a progressividade em
atenção à pessoa, SALVO CASOS DE
APLICAÇÃO EXTRAFISCAL.”

Essa exceção se explica, porque, em se


tratando de aplicação extrafiscal de imposto, não está em jogo a
capacidade contributiva do contribuinte que só é levada em conta
com relação a impostos pessoais com finalidade fiscal.
Assim, a Constituição de 1988, ao
estabelecer, no artigo 156, § 1º, que o IPTU “PODERÁ SER
PROGRESSIVO NOS TERMOS DE LEI MUNICIPAL, DE FORMA
A ASSEGURAR O CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE”, só admitiu essa progressividade extrafiscal em
atenção à coisa (a função social do direito de propriedade sobre o
imóvel), não permitindo sequer a possibilidade de, com relação a
esse imposto, se impor uma progressividade vinculada a situações
pessoais do contribuinte, o que demonstra inequivocamente - e isso
decorre até da circunstância de ter sido esse dispositivo colocado no
capítulo concernente ao sistema tributário nacional - a exacerbação
do caráter real desse imposto, o qual passou a alcançá-lo ainda
quando utilizado para finalidade extrafiscal. Daí, terem razão os
autores nacionais [...] que sustentam que, em face da Constituição de
1988, a única progressividade admitida para o IPTU é a extrafiscal
destinada a assegurar o cumprimento da função social da
propriedade.
Portanto, sob o império da atual
Constituição, não é admitida a progressividade fiscal do IPTU, quer
com base exclusivamente - como pretendem, entre outros,
ELIZABETH NAZAR CARRAZA e ROQUE CARRAZA, citados
no voto do eminente relator - no seu artigo 145, § 1º, porque esse
imposto tem, como disciplinado no sistema tributário brasileiro,
caráter real que é incompatível com a progressividade decorrente de
capacidade econômica do contribuinte, quer com arrimo - como
pretende o eminente relator - na conjugação desse dispositivo
constitucional (genérico) com o artigo 156, § 1º (específico), pela
singela razão de que este último dispositivo, por admitir a
progressividade para fins extrafiscais (“de forma a assegurar o
cumprimento da função social da propriedade”), não pode,
obviamente, servir de esteio para justificar progressividade fiscal.
Resta, pois, saber se a progressividade, a
que alude o artigo 156, § 1º, da Constituição de 1988 e que é
extrafiscal, é, ou não, a mesma progressividade também extrafiscal
disciplinada no artigo 182, §§ 2º e 4º da mesma Carta Magna.
Rezam os referidos
dispositivos constitucionais, o primeiro
inserto no Título VI (“Da tributação e do
orçamento”) e o segundo no Título VII (“Da
ordem econômica e financeira”): [...]

Como se vê, o artigo 156, I, § 1º, da


Constituição só permite a progressividade do IPTU -
progressividade essa que será instituída nos termos da lei municipal,
uma vez que esse imposto é da competência do município - para o
fim extrafiscal de assegurar o cumprimento da função social da
propriedade. Trata-se, evidentemente, tendo em vista a modalidade
de imposto em causa, da função social da propriedade urbana. Ora, a
função social da propriedade, como bem salienta MARCO
AURÉLIO GRECO (obra citada, p. 333), não está diretamente
ligada à qualidade inerente a certos bens ou às faculdades atribuídas
ao proprietário, “mas está ligada ao uso, à utilização concreta que é
dada àquele determinado bem”, ou seja, diz respeito ao exercício do
direito de propriedade, atuando como limitação ao conceito
individualista desse direito. Como é limitação imposta pela própria
Constituição Federal (depois de o inciso XXII do artigo 5º declarar
que “é garantido o direito de propriedade”, o inciso XXIII desse
mesmo artigo preceitua que “a propriedade atenderá a sua função
social”), se a Carta Magna não estabelecer os seus contornos, caberá
exclusivamente à lei federal fazê-lo, uma vez que se trata de precisar
um conceito constitucional que obviamente não pode variar de
município para município, como poderia ocorrer se a cada um dos
nossos 5.500 municípios fosse permitido, em suas leis, estabelecê-lo
diferentemente, conforme a maior ou menor imaginação criadora de
cada um deles. A Constituição de 1988, porém, preferiu conceituar o
que se deveria entender por função social da propriedade
imobiliária, quer rural, quer urbana. Fê-lo no lugar próprio, ou seja,
no título concernente à ordem econômica e financeira, onde, depois
de acentuar, no artigo 170, incisos II e III, que, dentre os princípios
gerais da atividade econômica, que “tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social”, se
encontram a propriedade privada e a função social da propriedade,
incluiu os capítulos relativos à política urbana e à política agrícola e
fundiária. Neste último, no artigo 186, tendo em vista que a função
social da propriedade - como salientamos acima - diz respeito ao
exercício dela, preceituou que a função social da propriedade rural é
cumprida quando ela “atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I -
aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III -
observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores”. Já naquele, no artigo 182, § 2º, também partindo da
premissa de que a função social da propriedade é ínsita ao exercício
dela, dispôs que “a propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor”, e, em seguida, no § 4º, complementou
esse conceito e estabeleceu os meios de coerção indireta, e não
propriamente sanções, para que a função social da propriedade
urbana fosse alcançada, facultando “ao poder público municipal,
mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou
edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com
pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais”. A
interpretação sistemática da Constituição conduz inequivocamente à
conclusão de que o IPTU com finalidade extrafiscal a que alude esse
inciso II do § 4º do artigo 182 é a explicitação especificada,
inclusive com limitação temporal, do IPTU com finalidade
extrafiscal aludido no artigo 156, I, § 1º, até porque não tem sentido
que se admitam, no mesmo texto constitucional, com a finalidade
extrafiscal de atender à mesma função social da propriedade, um
IPTU sem limitações que não as decorrentes da vontade de cada
município e outro IPTU com as limitações expressamente
estabelecidas pela Carta Magna, podendo um excluir o outro, ou ser
instituídos cumulativamente. Por outro lado, essa exegese não é
infirmada pela circunstância de a Constituição, no § 4º do artigo
182, haver limitado a finalidade extrafiscal do IPTU ao solo urbano
não edificado, seja ele subutilizado, seja ele não utilizado, porque foi
essa a opção adotada pelo constituinte, como o foi também a de
estabelecer a progressividade extrafiscal, em se tratando de IPTU,
como progressividade temporal.
Portanto, é inconstitucional qualquer
progressividade, em se tratando de IPTU, que não atenda
exclusivamente ao disposto no artigo 156, § 1º, aplicado com as
limitações expressamente constantes dos §§ 2º e 4º do artigo 182,
ambos da Constituição Federal.
Atendo-me, porém - já que se trata de
controle difuso - ao pedido formulado neste mandado de segurança,
o qual se refere, apenas, ao IPTU incidente sobre o lote nº 19 do
quarteirão nº 50 do bairro Belvedere (BH), declaro a
inconstitucionalidade, por adotar progressividade não admitida pela
atual Constituição, do sub-item 2.2.3 do setor II da Tabela III
(alíquotas do IPTU) da Lei 5.641, de 22.12.89, do município de Belo
Horizonte, o qual estabelece: [...]

4. Em face do exposto, e com a devida vênia


do eminente relator, conheço do presente recurso extraordinário e
lhe dou provimento, para deferir a segurança, declarando
inconstitucional o sub-item 2.2.3 do setor II da Tabela III da Lei
5.641, de 22.12.89, do município de Belo Horizonte.
* acórdão ainda não publicado.

Assessores responsáveis pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
Miguel Francisco Urbano Nagib
informativo@stf.gov.br

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