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LEITURA E GEOGRAFIA: UM DESAFIO PARA A APRENDIZAGEM

Cleonice do Nascimento Silva


Graduanda do 5º bloco do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Piauí
e-mail: nice_cleosilva@hotmail.com

Eliezio dos Santos Silva


Graduando do 5º bloco do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Piauí
e-mail: eliezio_s@hotmail.com

Profª. Dra. Elisabeth Mary de Carvalho Baptista


Orientadora. Professora Adjunta do Curso de Geografia da UESPI. Doutora em Geografia (UFSC); Mestre
em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPI /PRODEMA); Mestre em Educação (UESPI / IPLAC)
e-mail: elisabethbaptista@bol.com.br

Resumo: A tarefa do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas criar condições para o
educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias,
segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Quanto mais freqüente a prática da leitura,
mais o leitor torna-se eficiente. Para que a leitura seja eficiente é necessário também que proporcione ao
aluno a ampliação de horizonte e a realização de novas aprendizagens. No ensino de geografia são usados
alguns gêneros textuais como tabelas, gráficos, figuras, mapas, textos técnicos, textos informativos, etc.
Foram escolhidos para análise nesse artigo mapas e texto. Os procedimentos metodológicos para realização
deste trabalho constituíram-se em pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo de um texto e de dois mapas
selecionados. No caso do texto o professor pode estimular o aluno, a partir do título, a descobrir o que vem
em seguida, partindo de inferências que o leitor faz através do conhecimento prévio, possibilitando-o deduzir
que o autor vai discorrer. Quanto aos mapas infere-se que estes possibilitam uma relação com acontecimentos
vividos por cada um (professor/aluno) usando o conhecimento de mundo tornando o ensino de geografia
mais satisfatório e a aula mais interativa. Neste trabalho a leitura se mostrou como um desafio, pois esta não
aparece apenas como um simples ato de ler, mas de saber interpretar, decifrar e conhecer o assunto proposto.

Palavras-chaves: leitura, ensino, aluno, geografia,

INTRODUÇÃO

Ensinar não é fácil. Resumindo em poucas palavras o professor tem como função
no seu dia-a-dia: planejar e ministrar aulas, elaborar e corrigir provas. Mas será que são
apenas essas tarefas do educador?

Antes de qualquer coisa é necessário que o professor demonstre aos seus alunos que
pode haver interação entre texto e leitor. Não apenas como é usualmente relacionado o ato
de ler apenas com a escrita, e o leitor visto como decodificador da letra. Segundo Martins
(2003, p.7) “bastará, porém apenas decifrar palavras para acontecer à leitura? Como
explicaríamos as expressões de uso corrente “fazer leitura’’ de um gesto, de uma situação;
(...), indicando que o ato de ler vai além da escrita?”
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A leitura ultrapassa a codificação de palavras e símbolos, é sempre uma descoberta,


busca de novos caminhos conforme o desejo do leitor utilizando para isso seu
conhecimento prévio de mundo. Desse modo, para Martins (2003), seria contra-senso
insistir na importância da leitura restringindo-a aos livros ou, quando muito, a textos
escritos em geral. O ato de ler refere-se tanto a algo escrito quanto ao outros tipos de
expressão do fazer humano.

Para que a leitura seja eficiente é necessário também que proporcione ao aluno a
ampliação de horizonte e a realização de novas aprendizagens. No ensino de geografia é
procedimento que não requer muito esforço, pois poderão ser utilizados diversos gêneros
textuais tais como tabelas, gráficos, figuras, mapas e textos para se atingir o resultado
esperado.

A metodologia empregada para realização deste trabalho constituiu-se de pesquisa


bibliográfica, para discutir a relação e a importância entre a leitura e geografia e análise de
conteúdo de um texto e de dois mapas selecionados, com intuito de exemplificar uma
estratégia de como utilizar esse recurso didático no ensino de geografia. Dessa forma, o
objetivo deste trabalho foi o de analisar a leitura como uma ferramenta a ser utilizada pelo
professor de geografia em sala de aula visando à melhoria da aprendizagem dos conteúdos
trabalhados.

1. LEITURA E GEOGRAFIA

A geografia é um dos saberes mais antigos que existem. Ela estuda a superfície da
Terra, sua área física e política, além da relação da sociedade com o meio. Seu início
coincide com o advento dos primeiros mapas na Antiguidade. No passado os mapas eram
empregados para mostrar o caminho para um lugar, localizar um objeto ou fenômeno numa
determinada região, etc. Nos dias atuais eles assumiram novas finalidades, além dessas já
citadas, sendo muito utilizada em escolas como forma de aprofundar o conhecimento dos
alunos sobre o espaço criado pelos seres humanos, identificar aspectos importantes do
modo de vida e da história da sociedade.
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Saber identificar símbolos, entender a legenda entre outros códigos existentes nos
mapas é um fator decisivo para sua compreensão, para isso faz-se uso de níveis de
conhecimento. De acordo com Kleiman (2007 p, 13.) “é mediante a interação de diversos
níveis de conhecimento como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de
mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto”.

Os textos geográficos são, geralmente, expositivos e descritivos, e os mapas fazem


parte desse tipo textual onde mostram as áreas a serem estudadas escrevendo com detalhes
as suas características. Afirma Kleiman (2007, p 20.) que “quanto mais conhecimento
textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto mais fácil será sua
compreensão”.

Para ler um texto geográfico é necessário que haja conhecimento lingüístico, um


conhecimento implícito, que abrange tanto conhecimentos formais quanto informais que
segundo Kleiman (2007, p 16.) “é um componente do chamado conhecimento prévio sem
o qual a compreensão não é possível”. Com esse fator é possível que o leitor entenda a
princípio a intenção do autor.

Utilizando, então, a estratégia metacoginitiva, podem-se estabelecer objetivos na


leitura e através desta o leitor formular hipóteses que o possibilite ao se deparar com o
título de um texto formular uma idéia do que possivelmente ele irá abordar.

No nível do racional o leitor se prende ao texto com um determinado objetivo, que


pode ser, por exemplo, aumentar seu conhecimento, porém seu interesse no tema vai
depender de suas preferências pessoais e também de como o autor vai abordar o tema
(MARTINS, 2003).

A partir dos pressupostos acima, é necessário ao professor que apresente a seus


alunos textos e mapas que sejam desconhecidos para que encarem como um desafio, porém
o conteúdo deve ser familiar para que seja levado em consideração o conhecimento prévio
do aluno que é de fundamental importância na construção de um significado para o texto.
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2. GÊNEROS TEXTUAIS PARA ANÁLISE

Considerando, então o significado da leitura de acordo com as referências estudada,


selecionou-se dois gêneros textuais para análise da possibilidade de seu emprego no ensino
de geografia.

O primeiro gênero textual corresponde a um recorte de revista cuja finalidade é a


informação rápida e dinâmica dos elementos do espaço geográfico e dos fatos ocorrentes
no cotidiano da sociedade, sempre relacionando com a ciência geográfica.

Texto para análise


Titulo: Oceano Degradado
Autor: Caio Cardoso
A revista Science divulgou um mapa do impacto da ação humana sobre os oceanos.
Elaborado por cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados
Unidos, o estudo demonstrou que 41% do toda a área oceânica já foi afetada. Foram
utilizados 17 mapas, que analisam a influência de vários fatores em diversos
ecossistemas marítimos, como recifes de corais, colônias de algas marinhas, plataformas
continentais e oceanos profundos. As regiões mais degredadas se encontram, entre
outras, na costa leste da América do Norte, no Mediterrâneo e no mar da China Oriental
e Meridional, enquanto as menos afetadas estão próximas aos pólos. No Brasil, parte
significativa da costa tem impacto avaliado como “médio alto”, mas no Sudeste ele é
considerado “alto”, com a possibilidade de chegar a “muito alto”.
Fonte: Revista Discutindo Geografia, 2008.

No emprego deste texto então, primeiramente faz-se uma leitura do texto para
classe para que os alunos familiarizem com o mesmo. Posteriormente a partir do título,
Oceano Degradado, o professor pode estimular a curiosidade do aluno, questionando a
descobrir o que vem em seguida, partindo do conhecimento prévio, até que o aluno possa
deduzir que o autor vai falar de poluição dos oceanos, suas causas e efeitos.

O professor deve ser o responsável para dar o significado, e no caso do texto do


exemplo, a importância do tema e a responsabilidade de cada um para a preservação dos
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oceanos. Isso pode servir como estímulo para que a leitura do texto se torne uma atividade
motivadora.

Como já foi dito, a leitura é uma interação entre o autor e o leitor, e é necessário a
este que construa significados no texto. Para o texto do recorte é necessário ao leitor que
esteja em busca de informações concretas, informar-se sobre o fato, confirmar ou refutar
seu conhecimento prévio ou mesmo apenas abstrair suas significações.

É necessário ao leitor que tenha um conhecimento prévio de localização global para


que possa mentalizar a localização dos lugares citados e tenha uma real noção da gravidade
do tema. Mesmo que o leitor não saiba que a Terra possui três quartos de sua superfície
coberta por água, é bem possível que através de seu conhecimento prévio ele saiba que
apesar de muita água, há uma distribuição desigual e que isso é um problema grave.

O leitor pode se guiar na leitura desse texto também através do método da auto-
regulação, que consiste na ponte que o leitor faz entre o que supõe e as respostas que vai
obtendo através do texto.

Mapas para análise

O outro gênero textual selecionado constou de dois mapas que representam dois
municípios brasileiros e suas respectivas áreas urbanas e rurais.

Fonte: Lucena et al. (2005)


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No mapa escolhido, num primeiro momento o professor os mostra para a classe


deixando os alunos observando e analisando os títulos, as cores, as legendas e depois
apresenta questionamentos à turma, como:

• O que esses mapas representam?


• Identifiquem as áreas urbanas e rurais.
• Quando falamos em áreas urbanas lembramos-nos de quê? E as áreas rurais
nos fazem lembrar algo?
• Quais são as atividades produtivas predominantes em municípios com uma
zona urbana e em municípios com uma zona urbana pequena?

Caso os alunos demonstrem dificuldades em compreender os mapas, o professor


deve ativar o conhecimento prévio dos estudantes. Fazer uso do conhecimento de mundo
que pode ser formal (sistematizado na escola) e/ou informal (vivência de cada um).

Assim, realizar uma leitura por imposição do professor torna-se uma tarefa
enfadonha, pois como afirma Kleiman (2007, p, 35.)

Cabe notar que uma leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um
propósito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos
manda ler, como acontece frequentemente na escola, estamos apenas exercendo
atividades mecânicas que pouco tem a ver com significado e sentido.
(KLEIMAN, 2007, p 35.)

Neste caso, concordando com Martins (2003, p. 33), pode-se inferir que

O papel do educador na intermediação do objeto lido com o leitor é cada vez


mais repensado; se, da postura professoral lendo para e/ou educando, ele passar a
ler com, certamente ocorrerá o intercâmbio das leituras, favorecendo a ambos,
trazendo novos elementos um e outro (MARTINS 2003, p. 33).

A partir do exposto, entende-se que, no caso do texto o professor pode estimular o


aluno, a partir do título, a descobrir o que vem em seguida, partindo de inferências que o
leitor faz através do conhecimento prévio, possibilitando-o deduzir que o autor vai
discorrer. Quanto aos mapas estes possibilitam uma relação com acontecimentos vividos
por cada um (professor/aluno) usando o conhecimento de mundo tornando o ensino de
geografia mais satisfatório e a aula mais interativa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geografia por se tratar de uma ciência do espaço e de visão interligada entre


sociedade e natureza, pode ser usada como instrumento para despertar o desejo de
conhecer e compreender o espaço e tempo, realizando uma leitura coerente do mundo
ativando seus conhecimentos prévios criando assim um diálogo do leitor com o objeto lido,
seja um gesto, uma imagem, um texto, ou um mapa, como os analisados neste trabalho.

Como pôde ser visto o ensino de geografia se desenvolve, de forma geral, mediante
aulas expositivas ou leituras, através de gêneros textuais diversos como mapas e textos.
Entretanto, vale destacar que o professor como educador deve planejar situações
considerando os conhecimentos da turma, fazendo da aula uma atividade de interação e
satisfação entre aluno/professor e facilitando o processo de ensino-aprendizagem dos
conteúdos em geografia ou em qualquer área do conhecimento.

Por isso, saber explorar as habilidades e competências do aluno através do uso da


leitura no ensino de geografia torna-se um desafio a partir das diversas maneiras de se
trabalhar em sala de aula. Levando em consideração os aspectos analisados nesse trabalho
foram percebidos caminhos e alternativas interessantes de abordar a leitura de maneira a
interagir com geografia, pois esta não aparece apenas como um simples ato de ler, mas de
saber interpretar, decifrar e conhecer o assunto proposto.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Caio. Oceano Degradado. Revista Discutindo Geografia, ano 4, n. 19, 2008.

CAVALCANTI, Lana de Sousa. Geografia, escola e construção de conhecimento.


Campinas: Papirus, 1998.

KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 10. ed. Campinas:
Pontes, 2007.
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LUCENA, Ana Lúcia; CARVALHO, Carlos Roberto de; SOUDANT, Caroline;

GOULART, Francisco Barros. Trança criança: uma proposta construtivista. São Paulo:
FTD, 2005.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 2003.

MOURA, Maria José de. Leitura: usos e funções. Linguagem e Educação: Revista do
Mestrado em Educação – UFPI, Teresina v. 1, n. 1, p. 69 – 73, 1996.

SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos de. Geografia geral e do Brasil: espaço
geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 1998.

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