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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Análise de diferentes metodologias no projeto de estacas de um


edifício
José Orlando Avesani Neto
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, São Paulo, Brasil,
avesani@ipt.br e
Escola de Engenharia de São Carlos da Univeridade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos, Brasil.

Antonio Gilberto Simões de Oliveira


Geotechnique Consultoria e Engenharia Ltda, Salvador, Brasil,
gilbertosimoes@geotechnique.com.br e
Escola de Engenharia de São Carlos da Univeridade de São Paulo – EESC/USP, São Carlos, Brasil.

RESUMO: A usual metodologia de projeto de fundações por estaca de edifícios considera a


resistência do subsolo da obra como constante. Portanto, a curva de distribuição da resistência
obtida para todas as estacas é expressa por um valor único e constante e função da profundidade da
estaca. Desta forma a variabilidade do subsolo é desprezada. Todavia em geotecnia sabe-se que esta
variabilidade é intrínseca a todas as obras e as “suposições” do subsolo podem acarretar estruturas
mal dimensionadas e com segurança e confiabilidade reais inferiores a aparente. Sendo assim, se
faz necessário introduzir este parâmetro (a variabilidade) nos cálculos e projetos realizados. Neste
aspecto, o presente trabalho explora duas metodologias que inserem, de maneira simples e eficaz, a
variabilidade do terreno nos cálculos da capacidade de carga de estacas e geram um novo parâmetro
de verificação da segurança. São realizadas comparações entre as novas metodologias:
profundidade constante das estacas e profundidade variada usando um critério de parada (baseado
no NSPT); e a tradicional: carga admissível. Do presente artigo, verifica-se que sem a análise
probabilística a segurança da obra é “mascarada”, pois um fator de segurança relativamente alto
pode ser relacionado a valores inaceitáveis de probabilidade de ruína. Isto exemplifica que nem
sempre fatores de segurança elevados representam segurança para a obra.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto de fundações, Estacas, Variabilidade, Metodologias, Segurança.

1 INTRODUÇÃO Isto ocorre porque não é considerada,


corriqueiramente, em projetos a variabilidade
Um fator de segurança de projeto satisfatório das solicitações, e tão pouco das resistências.
deve atender os seguintes aspectos de Sendo formas de visualizar a margem de
engenharia: o técnico por meio de segurança de uma obra, mesmo desenvolvidos
equacionamentos de solicitação x resistência; o em diferentes ramos, fator de segurança
legal de acordo com os mínimos exigidos por (determinístico) e probabilidade de ruína
uma norma; e o de mercado que comanda o (estatístico), na verdade há uma relação de
custo do empreendimento, incluindo os riscos interdependência entre elas mostrando que são
associados (Aoki, 2008). O Professor Nelson fruto do mesmo arcabouço. De acordo com
Aoki, em suas aulas, costuma dizer que “fator Aoki (2005), a norma NBR 6122 determina que
de segurança maior que um é um dogma”. o dimensionamento de uma fundação profunda
Como comprovado pelo próprio Prof. Aoki e seja feito a partir da aplicação de fatores de
por outros especialistas, um valor elevado deste segurança e da verificação do comportamento
fator não afasta, necessariamente, a obra da em serviço. Sendo assim, a norma admite que o
ruptura. Pelo contrário: em alguns casos a atendimento dos fatores de segurança garante
mantêm em um nível de aproximação perigoso. também a confiabilidade da obra. Contudo, a

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verificação da confiabilidade exige, por meio da


análise de variabilidades de solicitações e Para um maior aproveitamento e eficiência do
resistências, a determinação da probabilidade de sistema de fundação, foi considerada como
ruína. Neste contexto, o presente artigo realiza valor da carga admissível a própria resistência
a análise de três metodologias plausíveis de estrutural do elemento de fundação, portanto,
utilização em um dimensionamento de Padm = 1700 kN.
fundações profundas, iluminando suas
deficiências e atentando à necessidade da 4.2 Número de Estacas por Pilar
consideração da variabilidade.
O número de estacas por pilar foi obtido
dividindo-se a carga de cada pilar pela carga
2 DADOS DO SOLO E DO EDIFÍCIO admissível da fundação. A Tabela 2 exibe os
valores determinados. O total de estacas
O presente artigo é referente ao projeto de necessárias foi igual a 87.
fundação de um edifício hipotético na cidade de
São Carlos - SP. Portanto, o solo em questão é Tabela 2. Estacas por pilar.
caracterizado predominantemente por camadas Carga na Nº estacas por
Pilares (P)
Fundação (kN) pilar adotado
alternadas de silte argiloso com areia e silte
2, 3, 19, 20, 22, 23 e
arenoso com pedregulho. O projeto foi baseado 27
1820 a 3400 2
em cargas estruturais e em planta de locação 1, 4, 5, 8, 17, 18, 21,
dos pilares hipotéticos. As cargas estruturais 3400 a 5100 3
24, 25, 26 e 28
adotadas do edifício são distribuídas em 28 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13,
5100 a 5960 4
pilares, com cargas que variam entre 1820 e 14, 15 e 16
5960 kN, locados conforme desenho em anexo.

5 DETERMINAÇÃO DA CURVA DE
3 TIPO DE ESTACA SOLICITAÇÕES NAS ESTACAS

Foi adotada a estaca de concreto pré-moldada A solicitação (carga de trabalho) em cada estaca
centrifugada de 50 cm de diâmetro. Sua adoção foi obtida através da divisão entre a carga do
foi por atender às características da obra, do pilar pelo número de estacas por pilar. A Tabela
perfil do terreno obtido pelas sondagens, da 3 exibe a solicitação em cada estaca.
topografia da região, do custo e por Com os dados obtidos na Tabela 3, foi
conveniência dos cálculos. Na Tabela 1 estão as possível traçar a distribuição da freqüência da
principais características da estaca adotada. solicitação pelo método determinístico (CV =
0%) e probabilístico (CV ≠ 0%), através de uma
Tabela 1. Principais características da estaca adotada. distribuição normal. As Figura 1 e 2,
Carga Admissível Compr. max. respectivamente, exibem estas distribuições.
D Estrutural dos elementos
(cm)
Nck (kN) Ntk (kN) (m) ANÁLISE ESTATÍSTICA

50 1700 200 12 3,5E-02

3,0E-02

2,5E-02
DP solicitações

2,0E-02
4 ESTAQUEAMENTO 1,5E-02

1,0E-02
Foram determinadas a carga admissível (Padm), 5,0E-03
o número de estacas por pilar e, 0,0E+00
consequentemente, o número total de estacas. 1000 1100 1200 1300 1400 1500
Solicitação

Figura 1. Distribuição de freqüência da solicitação pelo


4.1 Determinação do Padm
método determinístico.

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ANÁLISE ESTATÍSTICA
Tabela 3. Solicitação por estaca. 3,0E-03
Estaca Solicitação (kN) Estaca Solicitação (kN)
2,5E-03
1 1217 46 1368

DP solicitações
2,0E-03
2 1217 47 1368
1,5E-03
3 1217 48 1368
4 1615 49 1338 1,0E-03
5 1615 50 1338 5,0E-04
6 1615 51 1338
0,0E+00
7 1615 52 1338 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000
Solicitação
8 1217 53 1338
9 1217 54 1338 Figura 2. Distribuição de freqüência da solicitação pelo
método probabilístico.
10 1217 55 1338
11 1230 56 1338
12 1230 57 1250
13 1230 58 1250
6 DETERMINAÇÃO DA CURVA DE
14 1490 59 1250
RESISTÊNCIAS DAS ESTACAS
15 1490 60 1250
16 1490 61 1250 Para cada perfil de sondagem obtido foi
17 1490 62 1250 determinada a resistência - capacidade de carga
18 1483 63 925 - total do sistema solo/estrutura, dividida em
19 1483 64 925 resistência lateral e de ponta, para cada metro
20 1483 65 910 de profundidade. Para essa determinação foi
21 1483 66 910 utilizado um software de aplicação do Método
22 1230 67 1363 Aoki – Velloso, considerando como dados de
23 1230 68 1363 entrada as características dos perfis de
24 1230 69 1363 sondagem e o tipo de estaca.
25 1448 70 1625 A avaliação do comportamento da estrutura
26 1448 71 1625 foi realizada considerado-se três metodologias
27 1448 72 1625 de projeto apresentadas a seguir.
28 1448 73 1625
29 1448 74 1363 6.1 1ª Metodologia
30 1448 75 1363
31 1448 76 1363
Nesta metodologia foi fixada a carga admissível
32 1448 77 1217
e para cada sondagem foi calculado o
33 1325 78 1217
34 1325 79 1217 comprimento das estacas de modo que a
35 1325 80 1194 capacidade de carga fosse duas vezes o valor da
36 1325 81 1194 carga admissível (Padm = 1700 kN), ou seja, foi
37 1325 82 1194 fixado o valor do fator de segurança FS igual a
38 1325 83 1615 2 (mínimo pela norma NBR 6122). Assim, a
39 1325 84 1615 capacidade de carga média será de 3400 kN
40 1325 85 1217 para todos os perfis, apresentando coeficiente
41 1403 86 1217 de variação nulo (modelo determinístico). A
42 1403 87 1217 Figura 3 apresenta a distribuição de freqüência
43 1403 Média 1344,3
de resistência para essa metodologia.
44 1403 Desvio 158
45 1368 CV (%) 11,75

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ANÁLISE ESTATÍSTICA ANÁLISE ESTATÍSTICA


1,8E-02
1,8E-02
1,6E-02 1,6E-02
1,4E-02 1,4E-02

DP comprimento
DP resistências
1,2E-02 1,2E-02
1,0E-02 1,0E-02
8,0E-03 8,0E-03
6,0E-03 6,0E-03
4,0E-03 4,0E-03
2,0E-03 2,0E-03
0,0E+00 0,0E+00
3000 3100 3200 3300 3400 3500 3600 3700 3800 3900 4000 0 5 10 15 20

Resistência Comprimento da Estaca

Figura 3. Distribuição de freqüência da resistência para a Figura 5. Distribuição de freqüência do comprimento das
1ª metodologia. estacas para a 2ª metodologia (CV = 0%).

Neste caso, a única variação do problema foi Em função do comprimento das estacas, e
no comprimento das estacas. A Tabela 4 exibe com os dados de cada folha de sondagem,
o comprimento das estacas para cada um dos foram calculados os diferentes valores de
perfis de sondagens da obra e a Figura 4 capacidade de carga exibidos na Tabela 5 para
apresenta a distribuição de freqüência dos cada sondagem na profundidade pré-
comprimentos das estacas. estabelecida.

Tabela 4. Comprimento das estacas para cada perfil. Tabela 5. Resistência das estacas para cada perfil.
Sondagem (SP) L (m) Sondagem (SP) R (kN)
37 13,24 37 5650
35 18,21 35 2600
34 16,7 34 3160
32 17,1 32 1830
26 14,58 26 4650
Média 15,97 Média 3578
Desvio 2,01 Desvio 1551,54
CV (%) 12,59 CV (%) 43,36

ANÁLISE ESTATÍSTICA Com os valores de resistência média e desvio


2,5E-01
padrão determinados para esta metodologia,
2,0E-01 traçou-se a curva de distribuição de freqüência
normal da resistência, apresentada na Figura 6.
DP comprimento

1,5E-01

1,0E-01 ANÁLISE ESTATÍSTICA


3,0E-04

5,0E-02 2,5E-04

0,0E+00 2,0E-04
DP resistências

0 10 20 30 40 50
Comprimento da Estaca 1,5E-04

Figura 4. Distribuição de freqüência do comprimento das 1,0E-04


estacas para a 1ª metodologia.
5,0E-05

6.2 2ª Metodologia 0,0E+00


0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
Resistência
Nesta metodologia o parâmetro fixado foi a Figura 6. Distribuição de freqüência de resistência das
profundidade de assentamento dos elementos estacas para a 2ª metodologia.
estruturais, valor esse adotado igual a 15 m. A
Figura 5 exibe a distribuição de freqüência dos O fator de segurança para essa metodologia é
comprimentos das estacas. dada pelo valor médio da capacidade de carga
dividido pela carga admissível, o que resultou

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em um valor de 2,1. Sendo superior ao mínimo ANÁLISE ESTATÍSTICA

igual a 2, atende às exigências da NBR 6122. 2,5E-01

2,0E-01
6.3 3ª Metodologia

DP comprimento
1,5E-01

Para essa metodologia adotou-se um critério 1,0E-01

prévio para o limite da profundidade de 5,0E-02


cravação do elemento estrutural em função do
0,0E+00
índice de resistência a penetração (SPT) de cada 0 5 10 15 20 25 30

perfil de sondagem. Para a estaca adotada em Comprimento da Estaca


projeto (concreto pré-moldado, com diâmetro Figura 7. Distribuição de freqüência de comprimentos
de 50 cm) o critério de parada foi adotado para das estacas para a 3ª metodologia.
valores de NSPT variando entre 25 e 35 golpes
(Aoki e Cintra, 2006). Sendo assim, para cada ANÁLISE ESTATÍSTICA

perfil de sondagem obtêm-se valores de 7,0E-04

capacidade de carga correspondentes as 6,0E-04

profundidades de assentamento resultantes 5,0E-04

DP resistências
desta condição. 4,0E-04

A Tabela 6 apresenta, para cada perfil de 3,0E-04

sondagem, a variação dos valores da resistência 2,0E-04

em função do comprimento da estaca, e as 1,0E-04

Figuras 7 e 8 apresentam, respectivamente, a 0,0E+00

distribuição de freqüência dos comprimentos e


0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Resistência
das resistências das estacas. Figura 8. Distribuição de freqüência de resistência das
estacas para a 3ª metodologia.
Tabela 6. Comprimentos e resistências das estacas para
cada perfil.
Sondagem (SP) NSPT L (m) R (kN)
7 ANÁLISE DA SEGURANÇA E DA
25 13 3130
37
35 14 4130
CONFIABILIDADE
25 18 3700
35 De acordo com Aoki e Cintra (2006), a
29 19 4100
25 15 3160 confiabilidade da fundação de uma obra
19 16 2530 depende das formas das curvas de densidade de
34 probabilidade de ocorrência das solicitações e
29 17 3770
35 18 4300 das resistências, referentes a uma determinada
24 17 3080 superfície resistente média dentro do maciço de
32
35 18 4030 solos, representativa da fundação da obra em
26
25 14 2260 estudo. Portanto, a confiabilidade se relaciona
35 15 2920 aos desvios padrões, ou mais especificamente,
Média 16,17 3425,83 aos coeficientes de variação das curvas das
Desvio 1,95 672,07 solicitações e das resistências.
CV (%) 12,04 19,62 Qualquer medida da segurança ou da
confiabilidade é função da posição relativa e do
Pela Tabela 6 a resistência média das estacas grau de dispersão das curvas de densidade de
é igual a 3.426 kN, o que resulta em um fator de probabilidade da solicitação (S) e da resistência
segurança igual a 2. (R), sendo estas referidas a uma superfície
resistente que representa a fundação da obra em
questão, de acordo com a Figura 9.

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de acordo com esta Figura, é definida como a


área sob a curva onde o valor da abscissa Z for
menor que zero.

Figura 9. Funções de densidade de probabilidade –


solicitação (S), resistência (R) e ruina (pF) (Aoki e Cintra,
2006).

Portanto, a probabilidade de ruína da


fundação envolve a probabilidade de ocorrência Figura 10. Método do índice de confiabilidade (adaptado
de valores correntes de resistência iguais aos de de Aoki, 2008).
solicitações (área escura na superposição de
curvas). No ponto A da Figura 9 a densidade de Para cada metodologia foi determinada a
probabilidade de solicitação e de resistência são curva de distribuição de solicitação e resistência
iguais. A curva de densidade de probabilidade visualizada nas Figuras 11, 12 e 13. A
do valor de pF se encontra na região de apresentação dos valores do coeficiente de
superposição, ou seja, sob a curva de resistência segurança, do índice de confiabilidade β, e da
à esquerda do ponto A e sob a curva de probabilidade de ruína, para todas as
solicitações à direita do mesmo ponto A. Desta metodologias, estão na Tabela 7.
forma, quanto maior a área sob esta curva - ou
maior a sobreposição entre as curvas de 3,0E-03
ANÁLISE ESTATÍSTICA
1,0E+02

resistência e solicitação – maior a probabilidade 9,0E+01


2,5E-03
de ruína e, consequentemente, menor a 8,0E+01
7,0E+01
DP solicitações

confiabilidade da fundação (Aoki, 2002, 2005 e 2,0E-03

DP resistências
6,0E+01

2008; e Aoki e Cintra, 2006). 1,5E-03 5,0E+01

A função de probabilidade de ruína da 1,0E-03


4,0E+01

3,0E+01
fundação pode ser expressa pela formulação de 2,0E+01
5,0E-04
Ang e Tang (1984): 1,0E+01
0,0E+00 0,0E+00
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
∞ Solicitação & Resistência
pF = ∫F (y).f S (y) dy (1)
R Figura 11. Distribuição de freqüência para a 1ª
0
metodologia.

A avaliação da confiabilidade da estrutura ANÁLISE ESTATÍSTICA


pode ser feita, também, a partir do índice de 3,0E-03 3,0E-04

confiabilidade β definido em função das 2,5E-03 2,5E-04

resistências e solicitações médias e seus desvios


DP solicitações

DP resistências

2,0E-03 2,0E-04
padrões, por meio da equação:
1,5E-03 1,5E-04

(R m − Sm ) (2)
1,0E-03 1,0E-04
β=
(σ R
2
+ σS )
2 0.5 5,0E-04 5,0E-05

0,0E+00 0,0E+00
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
E a medida da confiabilidade é dado por β.σz, Solicitação & Resistência

sendo σz o desvio padrão da curva de Figura 12. Distribuição de freqüência para a 2ª


distribuição da função margem de segurança Z metodologia.
definida na Figura 10. A probabilidade de ruína,

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ANÁLISE ESTATÍSTICA conseqüências em termos de custos financeiros


3,0E-03 7,0E-04 e perdas de vida), nota-se que a probabilidade
2,5E-03 6,0E-04
de ruptura de uma obra de fundação se situa
entre 1/100 e 1/1.000. O valor determinado pela
DP solicitações

5,0E-04

DP resistências
2,0E-03

1,5E-03
4,0E-04
2ª metodologia se equipara aquele obtido para
3,0E-04
obras de minas, cavas e taludes, cuja chance de
1,0E-03
2,0E-04
romper é mais elevada, contudo, com menor
consequência na ruína. A “sensibilidade” desta
5,0E-04 1,0E-04

0,0E+00
0 1000 2000 3000 4000 5000
0,0E+00
6000
probabilidade de ruptura, fornecida pela Tabela
Solicitação & Resistência 8, é de frequente a provável.
Figura 13. Distribuição de freqüência para a 3ª
metodologia.

Tabela 7. Análise de confiabilidade para a todas as


metodologia.
Metodologias
Índices
1ª 2ª 3ª
FS 2,53 2,66 2,55
β 13,01 1,43 3,01
Prob Ruína (pF) 0 0,076 0,0013
Nº de Ruínas 0 1/13 1/778

7.1 1ª Metodologia

Analisando os dados apresentados na Tabela 7,


a 1ª metodologia, por fixar um valor para a
resistência, apresenta probabilidade de ruína
nula por não ter superfície superposta entre as
curvas de resistência e solicitação, de acordo Figura 14. Probabilidade e consequências da ruína
com a Figura 11. Contudo, esta não é uma (adaptado de Whitman, 1984).
metodologia coerente com a realidade de
projeto (mesmo atendendo ao fator de Tabela 8. Escala subjetiva para probabilidade de ruína
segurança previsto na norma, FS > 2), visto que (adaptado de Clemens, 1983).
esta não leva em consideração a variabilidade Prob ruína Nº de ruínas Descrição da ocorrência
3 x 10-1 1/3,3 Freqüente
do subsolo da obra. Portanto, o valor do fator de
3 x 10-2 1/33 Provável
segurança obtido é função de uma resistência 3 x 10-3 1/333 Ocasional
arbitrada pelo projetista sem considerar as 3 x 10-4 1/3.333 Remoto
variabilidades envolvidas, transmitindo uma 3 x 10-5 1/33.333 Improvável
imagem de “falsa segurança” para a obra.
Em fundações, é recomendável uma
7.2 2ª Metodologia probabilidade de ruína inferior a 1/(m.n) –
sendo “m” função do tipo de obra e do risco que
Na 2ª metodologia o fator de segurança o projetista que correr, e “n” o numero de
estabelecido pela norma (maior que 2) foi estacas do estaqueamento (Aoki e Cintra,
atendido. Todavia, a probabilidade de ruína de 2006). Nesse caso foi adotado “m’’ igual a 2, e
1/13 determinada constitui um valor sendo n igual a 87, a probabilidade de ruína
extremamente alto para este tipo de obra. Em deveria ser inferior a 0,0057 (número de
uma abordagem estatística, de um universo com rupturas de 1/174), muito inferior ao valor
87 estacas desta obra, 6 estacas irão a ruína. encontrado de 0,076 (mais de 6 rupturas para o
Pela Figura 14 (probabilidades de ruína dado estaqueamento).
anual em várias atividades associadas às Os valores encontrados para esta

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metodologia se devem a alta variabilidade da do solo e dos esforços são considerados e os


resistência, causada pela fixação do resultados obtidos melhor representam o
comprimento das estacas (não levando em comportamento do sistema, sendo a mais
consideração a variabilidade da profundidade indicada em projetos de fundações.
da superfície resistente), sendo esta 2ª
metodologia, também não recomendada para
projeto. AGRADECIMENTOS

7.3 3ª Metodologia Os autores agradecem ao amigo e professor


Nelson Aoki pelas inestimadas (e longas) tardes
Na 3ª metodologia (fixando-se um critério de de prosa em sua sala, das quais muitos
parada), os valores obtidos foram os mais ensinamentos, experiências e aprendizados
adequados diante dos parâmetros pré- foram transmitidos.
estabelecidos para este projeto. O valor do fator
de segurança global previsto por norma foi
superado e a probabilidade de ruína de 1/778 REFERÊNCIAS
obtida se encontra próximo ao limite superior
da faixa de valores recomendados para obras de Abnt. (1996). NBR 6122 – Projeto e execução de
fundação de 1/100 a 1/1.000. A “sensibilidade” fundações - procedimentos. Rio de Janeiro.
Ang, A.H-S. e Tang, W. (1984). Probability concepts in
para esta probabilidade de ruptura é de engineering planning and design. Volume II:
ocasional a remota. Decision, Risk and Reliability. John Wiley and Sons.
Esta metodologia leva em consideração o New York. 562 p.
comportamento do sistema solo/elemento de Aoki, N. (2002). Probabilidade de falha e carga
fundação e a variabilidade do terreno, sendo, admissível de fundações por esatcas. Revista Militar
de Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, Vol. XIX, p.
portanto, àquela recomendada para utilização 48-64.
em projetos de fundações. Aoki, N. (2005). Segurança e confiabilidade de
fundações profundas. Congresso Brasileiro de Pontes
e Estruturas, Rio de Janeiro, Vol. 1, p. 1-15.
8 CONCLUSÕES Aoki, N. (2008). Dogma do fator de segurança. VI
Seminário de Engenharia de Fundações e Estruturas,
São Paulo, Vol. 1, p. 9-42.
As análises realizadas ao longo deste artigo Aoki, N. e Cintra, J.C.A. (2006). Notas de aula:
demonstraram a inadequabilidade do estudo de Fundações. Escola de Engenharia de São Carlos da
projetos de fundação baseados na 1ª e 2ª Universidade de São Paulo.
metodologias, apesar de atenderem os requisitos Clemens, P.L. (1983). Combinatorial failure probability
analyses using MIL-STD 82. Journal of Safety
estabelecidos pela norma NBR 6122. Estas
Society, Vol. 18, Nº 4.
metodologias, determinística e semi- Withman, R.V. (1984). Evaluating calculated risk in
probabilística, respectivamente, não avaliam ou geotechnical engineering. Journal of Geotechnical
avaliam de forma incorreta a variabilidade do Engineering, ASCE, Vol. 110, p. 145-188.
solo e dos esforços atuantes e resistentes,
gerando valores de fator de segurança e
probabilidade de ruína discordantes. Na 1ª
metodologia, o fator de segurança foi de 2,53 e
a probabilidade de ruína igual a zero por
ignorar completamente a variabilidade do solo.
Na 2ª metodologia o fator de segurança foi de
2,66 e a probabilidade de ruína de 1/13. O
projetista que utiliza destas metodologias não
consegue obter um perspectiva palpável da
confiabilidade da sua obra.
Todavia, na 3ª metodologia, a variabilidade

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