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Introdução
Diversos tipos de problemas físicos que são encontrados nas ciências e nas
engenharias são descritos matematicamente na forma de equações diferenciais ordinárias e
parciais. A solução exata usualmente é fruto de um método de solução analítica encontrado
através de métodos algébricos e diferenciais aplicados a geometrias e condições de contorno
particulares; a aplicação generalizada dos métodos analíticos para diferentes geometrias e
condições de contorno torna impraticável ou até mesmo impossível a obtenção de soluções
analíticas exatas. O chamado Método dos Elementos Finitos (MEF) consiste em diferentes
métodos numéricos que aproximam a solução de problemas de valor de fronteira descritos
tanto por equações diferenciais ordinárias quanto por equações diferenciais parciais através da
subdivisão da geometria do problema em elementos menores, chamados elementos finitos, nos
quais a aproximação da solução exata pode ser obtida por interpolação de uma solução
aproximada.
Atualmente o MEF encontra aplicação em praticamente todas as áreas de engenharia,
como na análise de tensões e deformações, transferência de calor, mecânica dos fluidos e
reologia, eletromagnetismo, etc, inclusive recebendo designações específicas como na
mecânica dos fluidos computacionais (CFD) e no eletromagnetismo computacional (CEM).
O MEF foi originalmente concebido pelo matemático Courant à época da 2ª guerra
mundial através da publicação de um artigo em 1943. Como nessa época ainda não haviam
sido desenvolvidos computadores capazes de realizar uma grande quantidade de cálculos
matemáticos, o método matemático foi ignorado pela academia durante vários anos.
Na década de 1950 engenheiros e pesquisadores envolvidos no desenvolvimento de
aviões a jato na Boeing iniciaram os primeiros trabalhos práticos no estabelecimento do MEF
aplicados à indústria aeronáutica. M. J. Turner, R. W. Clough, H. C. Martin e L. J. Topp
publicaram em 1956, um dos primeiros artigos que delinearam as principais idéias do MEF,
entre elas a formulação matemática dos elementos e a montagem da matriz de elementos.
Mas, no artigo ainda não se fazia referência ao nome elementos finitos para designar os
elementos de discretização da geometria do problema físico. O segundo co-autor do artigo,
Ray Clough era a época professor em Berkeley que estava trabalhando na Boeing durante o
período de férias escolares e que descreveu o método com o nome de método dos elementos
finitos num artigo publicado subseqüentemente. Os seus trabalhos deram início à intensas
pesquisas em Berkeley por outros professores, entre eles E. Wilson e R. L. Taylor, juntamente
com os estudantes de pós-graduação T. J. R. Hughes, C. Felippa e K. J. Bathe. Durante muitos
anos, Berkeley foi o principal centro de pesquisa em MEF. Essas pesquisas coincidiram com a
rápida disseminação de computadores eletrônicos nas universidades e institutos de pesquisas,
que levaram o método a se tornar amplamente utilizado em áreas estratégicas à segurança
americana durante o período da Guerra Fria, tais como pesquisa nuclear, defesa, indústria
automotiva e aeroespacial.
E. Wilson desenvolveu um dos primeiros programas de computador de cálculo pelo
MEF. A sua popularização foi possível pela disponibilização gratuita do software, fato
bastante comum nos anos 1960, pois o valor comercial de programas de computadore ainda
não eram reconhecidos nessa época.
Em 1965, a agência espacial norte-americana NASA financiou um projeto liderado
por Dick MacNeal para desenvolver um programa de cálculo pelo MEF de uso geral. Este
programa, batizado NASTRAN, incluía uma grande capacidade de manipulação de dados e
permitia análise de tensão e deformação, cálculo de vigas, de problemas de cascas e placas,
1
análise de estruturas complexas como asas de aviões e análise de vibrações em duas e três
dimensões. O programa inicial foi colocado em domínio público, porém continha muito bugs
de programação. Logo após o término do projeto, Dick MacNeal e Bruce McCormick criaram
uma empresa de software que corrigiu a maioria dos bugs e comercializaram essa versão
depurada com o nome MS-NASTRAN.
Na mesma época, John Swanson estava desenvolvendo um programa de MEF na
Westinghouse para a análise de reatores nucleares. Em 1969, Swanson deixou a
Westinghouse para comercializar o programa ANSYS. O programa tinha capacidade de
análise de problemas lineares e não-lineares e essas características tornariam o software
ANSYS um dos programas de elementos finitos comerciais mais utilizados atualmente.
Outros programas comerciais desenvolvidos desde então foram o LS-DYNA usado
para análises não-lineares tais como teste de colisão, conformação de metais e simulação de
protótipos; ALGOR, ABAQUS e COSMOS como programas de MEF de uso geral; sendo que
todos os programas possuem versões para microcomputadores e alguns versões mais potentes
para sistemas computacionais paralelos e “cluster”.
(a) (b)
Fig. 1. (a) Exemplos de malha triangular estruturada e (b) malha estruturada retangular
aplicadas a um polígono regular (retângulo).
2
O emprego de malhas estruturadas dificulta a descrição de geometrias irregulares,
como pode ser observado na Fig. 2 e por essa razão a aplicação do MDF em problemas com
geometria irregulares resulta em problemas numéricos de aproximação da fronteira.
(a) (b)
Fig. 2. (a) Exemplos de malha estruturada retangular e (b) malha estruturada triangular
aplicadas a um polígono com geometria irregular.
O MEF por sua vez não requer topologia de malha estruturada e como usualmente
emprega uma aproximação polinomial aos valores interiores aos elementos discretizados,
pode utilizar para descrever problemas com geometria 2D usando elementos triangulares ou
retangulares não estruturados, isto é, com dimensões diferenciadas entre os elementos
discretos (Fig. 3).
(a) (b)
Fig. 3. Exemplos de malhas não estruturadas (a) triangular e (b) retangular.
3
métodos numéricos aproximados que são representações integrais das equações diferenciais
que governam o problema físico.
A forma forte em contraste com a forma fraca requer continuidade nas soluções das
variáveis dependentes do potencial. Independentemente das funções que definem essas
variáveis, elas devem ser diferenciáveis pelo menos até a ordem da equação diferencial que
define o problema. A obtenção da solução exata pela forma forte é, em geral, difícil e limitada
a casos especiais. O MDF pode ser aplicado na obtenção da solução aproximada de problemas
pela forma forte; entretanto, o MDF funciona bem apenas para problemas com geometrias e
condições de contorno regulares.
A forma fraca permite a aplicação de um método único para resolver diferentes tipos
de problemas físicos, na medida em que os métodos para transformação das equações
diferenciais na forma integral são genéricos e podem ser usadas em diversos tipos de
equações diferenciais. Os principais métodos usados na resolução pela forma fraca são o
método variacional e os métodos dos resíduos ponderados.
d dT
kA − q = 0, 0 < x < L (1)
dx dx
A solução da equação (1) na forma forte pode ser obtida pela sua integração no
intervalo 0 < x < L e atendendo as condições de contorno (2), resulta em:
T (x ) = x (x − L )
q
(3)
2kA
A solução analítica (3) representa a solução pela forma forte da equação de difusão de
calor (1). A equação (3) tem forma gráfica de uma curva parabólica com ponto máximo em
x = L/2.
4
distância de um caminho limitado nas extremidades [a, b] por uma função y(x) que descreve o
caminho (Fig. 4).
y(a)
y4(x)
y3(x)
y2(x)
y1(x)
y(b)
a b x
Fig. 4. Diferentes funções que representam caminhos entre os limites [a, b]. O caminho
mínimo será determinado pela minimização do funcional.I[y].
b
du 2
I [u ] =
∫
a
− Q u 2 + 2 Fu dx
dx
(5)
A relação entre o funcional (5) e a equação diferencial (4) é estabelecida pela condição
de Euler-Lagrange:
∂ ∂ ∂
F ( x , y , y' ) = F ( x , y , y' ) (6)
∂x ∂y' ∂y
minimiza a função (ou caminho) entre os valores de fronteira [a ,b] descrito pela solução da a
equação diferencial (4).
Exemplo:
5
du 2
Verificar que o funcional: I [u ] =
∫
1
a + ku 2 dx é equivalente à equação diferencial
2 dx
d 2u
a − ku = 0 através do critério de Euler-Lagrange.
dx 2
Solução:
O integrando do funcional pode ser escrito como:
F ( x ,u ,u' ) = au' 2 + ku 2
∂F ∂F ∂ ∂F
As derivadas de F(x, u, u’) são:= 2au' , = 2ku e = 2au" . Substituindo
∂u' ∂u ∂x ∂u'
na condição de Euler-Lagrange (6), obtém-se:
d 2u
que corresponde à equação diferencial a − ku = 0 .
dx 2
d dT
kA − q = 0, 0 < x < L (1)
dx dx
L
dT 2 2q
I [T ] =
∫
0
+
dx
T dx
kA
(7)
T ( x ) = ax + bx 2 (8)
6
L
I [T ] =
∫
(
(a + 2bx ) + kA ax + bx
2 2q 2
) dx (9)
0
L
2q ax bx 3
2
I [T ] = a 2 x + 2abx 2 + b 2 x 3 +
4
+ (10)
3 kA 2 3
0
∂I qL2
= 2aL + 2bL2 + =0 (11)
∂a kA
∂I 8 2qL3
= 2aL2 + bL3 + =0 (12)
∂a 3 3kA
T (x ) = x (x − L )
q
(13)
2kA
A solução descrita por (13) é idêntica à solução analítica (3) da EDO (1) e das
condições de contorno (2).
Desta forma, mostramos neste exemplo particular que a solução pela forma fraca
obtida através do método variacional possui o mesmo resultado da solução analítica na forma
forte da EDO.
Lu = f (14)
no qual L é um operador diferencial qualquer. Este método evita a procura por uma expressão
variacional equivalente. Admite-se uma solução aproximada u* e substitui-se esta solução na
equação diferencial. Como esta é uma solução aproximada, a operação define um erro
residual na equação diferencial:
7
Lu* - f = r (15)
Não se pode forçar que o resíduo r desapareça diretamente da equação, mas pode-se
forçar que, para uma integral ponderada sobre o domínio Ω da solução, o resíduo desapareça.
Isto quer dizer que a solução em Ω da solução do produto do termo residual e de uma função
peso w seja igual a zero:
I=
∫ rwdΩ = 0 (16)
Ω
∫ ( Lu )wdΩ = ∫ fwdΩ
*
(17)
Ω Ω
Funções de Aproximação
Diversas formas de aproximação da função u podem ser obtidas. Entretanto, as
condições estabelecidas para que as formulações clássica e fraca sejam equivalentes
restringem a forma e o número de aproximações que podem ser utilizadas para as funções u.
O problema consiste em obter-se uma aproximação de uma função real no intervalo [a, b], na
forma:
n
u n (x ) = c1φ1 ( x ) + c 2φ 2 ( x ) + K + c nφ n ( x ) = ∑ c φ (x )
j =1
j j (18)
A equação diferencial pode ser escrita numa outra forma geral como:
8
sujeita às condições de contorno homogêneas:
y (a ) = y (b ) = 0 (20)
n
u(x ) = ∑ ci Ni (x) (21)
i =1
r ( x ) = D[x ,u ( x )] ≠ 0 (22)
A escolha da função peso wi(x) define o tipo do método de resíduo ponderado a ser
utilizado, de acordo com os seguintes critérios:
Método de Galerkin
No método dos resíduos ponderados pelo critério de Galerkin também conhecido
como Método de Galerkin, a função tentativa Ni(x) é igualada à função peso wi(x), de modo
que o sistema de equações lineares é determinado pela integral:
9
b b
Exemplo:
Resolver o problema de valor de fronteira descrito pela equação diferencial ordinária:
d2y
− 10 x 2 = 5 (25)
2
dx
Solução:
A presença do termo quadrático na EDO sugere que funções tentativas polinomiais
possam ser usadas. Para as condições de contorno homogêneas em x = a e x = b, a seguinte
função tentativa será usada:
N ( x ) = ( x − a ) p ( x − b )q (26)
na qual as constantes p e q são valores estritamente positivos e inteiros. Essa função tentativa
satisfaz as condições de contorno e é contínua no intervalo a ≤ x ≤ b.
A função tentativa mais simples que pode ser escolhida é aquela fazendo p = q = 1:
N1 ( x ) = x ( x − 1) (27)
u ( x ) = c1 x ( x − 1) (28)
d 2u
= c1 (2 x − 1) ,
du
= 2c1
dx dx 2
Observamos neste ponto que a solução escolhida não corresponde à solução “física”
do PVF, pois a derivada segunda acima é constante, enquanto que na EDO que descreve o
problema, a derivada segunda é função da variável x2. Entretanto, continuaremos com o
cálculo do problema para ilustrar o método de Galerkin.
Substituindo a derivada segunda de u(x) na equação para o cálculo do resíduo, resulta:
r ( x ) = 2c1 − 10 x 2 − 5 (29)
10
1
∫
0
x ( x − 1)( 2c1 − 10 x 2 − 5) dx = 0 (30)
u ( x ) = 4 x ( x − 1) (31)
dy
dx
=
d2y
∫ dx 2
dx =
∫ (
10 x 2 + 5)dx = x 3 + 5 x + C1
10
3
(32)
10 3
∫ ∫
dy 5 4 5 2
y= dx = x + 5 x + C1 dx = x + x + C1 x + C 2 (33)
dx 3 6 2
5 4 5 2 10
y= x + x − x (34)
6 2 3
Fig. 5. Comparação entre a solução aproximada pelo método de Galerkin e pela solução
analítica da EDO.
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Comparação entre os métodos de análise
Referências Bibliográficas
H. Pina, MÉTODOS NUMÉRICOS, Lisboa: McGraw-Hill, 1995.
J. Fish, T. Belytschko, A FIRST COURSE IN FINITE ELEMENTS, New York: John Wiley,
2007.
L. J. Segerlind, APLIED FINITE ELEMENT ANALYSIS, New York: John Wiley, 1984.
W. Ritz, "Ueber eine neue Methode zur Lösung gewisser Variationsprobleme der
mathematischen Physik" J. Reine Angew. Math. 135 (1908 or 1909)
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