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UM
O processo de construção
de refilmagens cinematográficas
SÃO PAULO
2005
2
3
MICHELLE SCHIRPA
UM
O processo de construção
de refilmagens cinematográficas
SÃO PAULO
2005
4
Agradeço,
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 01
CONCLUSÃO 34
ANEXO 1 36
6
Introdução
Assim sendo, é provável que haja espaço para a criatividade em um remake devido à
identidade pessoal dos envolvidos na construção da nova narrativa, ainda que baseada em um
mesmo argumento original. Contudo somente através da análise profunda de suas características
estilísticas e de seu entorno histórico essa hipótese pode ser provada, ou não.
7
Mas como essa definição se aplica ao cinema? Podemos dizer que a linguagem
cinematográfica se limita ao seu roteiro, pois aí está o uso das palavras que se transformarão
através da filmagem em mensagem ao público? Ou a linguagem seria a própria imagem?
Sendo assim, tudo o que é expressão no cinema é linguagem. Resta agora observar os
elementos expressivos da sétima arte. Partindo de uma visão estruturalista, e assim dividindo o
filme em suas diversas partes constituintes, pode-se perceber que tudo em um filme expressa algo
através do sentimento do diretor: a câmera que pode exercer uma função subjetiva ou objetiva da
imagem a ser mostrada; o som e efeitos sonoros, capazes de exprimir sentido através da
complementação da imagem; a montagem, recurso mais expressivo e que detém mais da
subjetividade do diretor, pois é através dela que se mostra a realidade retratada; dentre outros
aspectos..
9
Enfim, sob este ponto de vista tudo o que é técnico é linguagem no cinema, pois este
é visto como arsenal dos meios de expressão fílmicos. Contudo, há uma diferença entre
linguagem e estilo cinematográfico.
Muitos dizem que filmes hollywoodianos são todos iguais e que não acrescentam
muito ao que já foi dito anteriormente ao público. Segundo a definição de linguagem acima
mencionada, esta afirmação não está completamente errada. Como estes filmes se baseiam na
linguagem como fundamento principal da produção imagética, e esta se apresenta dada, feita e
comum a todos os diretores, não há realmente muito que inovar, nem o que passar que já não
tenha sido feito.
“O cinema não consiste mais em contar antes de tudo uma história por meio de imagens,
como outros o fazem com palavras ou notas musicais: reside na necessidade
insubstituível da imagem, na soberania absoluta da especificidade audiovisual do filme
em seu papel de veículo intelectual.”2
1
TRUFFAUT, in MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica.
2
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica.
10
• Os personagens
Assistir à versão cinematográfica original de 11 homens e um segredo é
particularmente curioso para quem viu a segunda primeiro. Isto porque o que define a ligação
entre ambos é tão e somente o título da obra, o nome do personagem principal, Danny Ocean, e a
premissa básica do filme: comandados pelo astuto e bem sucedido Ocean, 11 homens planejam
roubar vários cassinos em Las Vegas ao mesmo tempo, na mesma noite.
Esta primeira versão chega às telas no verão norte americano de 1960, tendo como
carro chefe o intérprete do personagem principal, Frank Sinatra, e seus amigos, interpretados por
Sammy Davis Jr. e Dean Martin, entre outros.
esposa acaba de deixa-lo e sua amante lhe dá um ultimato, até que o deixa também. A esposa é
interpretada pela bela Angie Dickinson, que apesar de fazer muito bem seu papel, tem uma
participação quase descartável para o desenrolar do filme, assim como todas as mulheres da
trama.
Sammy Davis Jr., o único negro da trama, é um motorista de caminhão que não tem
endereço fixo, pois muda de cidade em cidade devido à profissão. É um dos últimos a ser
apresentado ao espectador, e o faz em grande estilo, cantando a bela canção escrita para o filme
“E O Eleven”. Na cena, aparece como centro das atenções de seus companheiros de profissão em
uma parada de descanso. Canta e se apresenta para todos enquanto alguns vão acompanhando-o
na gaita. É boêmio, habilidoso em realizar os trabalhos sem deixar rastros e ambicioso.
Peter Lawford é Jimmy, peça de ligação entre a trama inicial e o desfecho da história.
Interpreta o filho de uma viúva prestes a se casar pela sexta vez desde que seu marido faleceu.
Sem problemas monetários, devido à herança que detém, é ela quem sustenta o filho, dando-lhe a
quantia requisitada a qualquer momento.
3
Ver anexo 1.
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que, segundo a lógica do filme, não deve ser levada a sério. Por isso junta-se aos outros na
investida ao cassino.
Este papel secundário atribuído à figura feminina é ilustrado, além da figura da mulher de Ocean
e sua amante, por Shirley McLane, que faz uma minúscula participação em uma cena que parece
ter sido embutida de ultima hora do roteiro. E foi.
McLane era uma grande amiga de Sinatra, Martin e Davis Jr., e foi visitar o set.
Quando chegou, resolveu filmar uma cena com eles. Toda a cena é improvisada e, para surpresa
do espectador mais leigo, feita em um só take. Ela, uma moça bem afeiçoada e demonstrando ter
posses, chega bêbada de carro com uma amiga à rua em que os planos estão sendo executados,
atrapalhando o andamento do trabalho. A amiga vai embora e ela tem uma cena com Martin, que
tenta tira-la de lá a qualquer preço.
Na vida real, todos os 11 atores eram realmente amigos e trabalhavam em Las Vegas,
seja em casas de shows ou em cassinos. Porém o que une os personagens na trama é o fato de que
todos serviram juntos na segunda guerra mundial, na divisão de pára-quedismo do 82º batalhão.
A partir do momento em que voltaram para os EUA e retomaram suas vidas, cada um seguiu o
seu caminho, apenas um deles criminoso.
• A história
Vê-se Mushy entrar na barbearia e encontrar com Mr. Acebos que tentava fazer uma
ligação para Danny Ocean ou Jimmy Foster sem sucesso.
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Acebos sai da barbearia indignado com o fato de os dois o ignorarem, sendo que ele
era quem tinha as grandes idéias do grupo do qual fazem parte. Jimmy e Ocean estão em um
quarto sendo massageados por duas belas garotas e comentando o quanto Acebos os incomoda
com seus insistentes telefonemas, e Danny Ocean quer saber de Jimmy se Vince Masler aceitou
participar do plano deles, Jimmy responde negativamente.
Acebos fala com Mushy, em sua casa, sobre Sam Harmon que está para chegar. No
aeroporto, este é recepcionado por Curly Steffans, o qual explica ao companheiro que o que estão
organizando é um golpe que lhes dará um lucro de trinta milhões de dólares. Em São Francisco,
Roger Corneal procura por Tony Burdoff, um excelente eletricista indispensável para que o plano
dê certo. Corneal encontra, então, a mulher dele: Grace Burdoff.
Ela explica para ele que seu marido está preso e ela divorciada. Corneal encontra
com Burdoff na saída da prisão e logo diz que seus serviços são necessários para a realização de
um plano que a antiga equipe pretende realizar, mas ele não aceita. O eletricista marca um
horário no médico e lá se subentende que ele tem uma doença grave e pouco tempo de vida, tal
notícia (que a cena não deixa clara) faz Burdoff aceitar a oferta de trabalho já que o dinheiro
daria para pagar os estudos de seu filho.
Josh canta e dança a música “Eee - O Eleven” com amigos quando vê Vince
observando-o, conversam, relembram do passado e pensam na grana que levarão caso o golpe dê
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certo. Existe uma frota de caminhões ao fundo, pois Josh trabalha com transporte. Jimmy e
Danny comunicam Acebos que estão indo para Salt Lake City. Sam Harmon encontra a esposa
de Ocean no hotel que ele está hospedado, eles se tratam com intimidade, ela fala que seu
casamento com Danny já acabou, pois não conseguem mais se entender.
Danny encontra com sua esposa, que chama de Bea, e conversam. Bea acha que o
marido ama mais o jogo do que ela e pede a ele que seja apenas um bom marido, a mulher
demonstra uma mistura de tristeza e melancolia. Enquanto isso, no quarto deste hotel Sam canta
no piano e Jimmy marca de ver sua mãe já que precisa de dinheiro, ela parece ser uma mulher
muito fútil que mimou demais o filho, mas não sabe nada de sua vida. Ela está noiva e pretende
se casar, pela quinta vez. O noivo do momento é Duke Santos. Jimmy confessa a Sam que se
acostumou com a riqueza, mas não consegue conviver com a mãe, por isso rouba, para manter o
padrão de luxo de sua vida sem ter que aturá-la.
Jimmy, na casa de sua mãe, conhece o futuro padrasto e deixa claro não gostar
dele. Percebe-se que o rapaz sabe que Duke tem um passado sujo. À noite os onze homens se
encontram na casa de Acebos para detalhar o assalto que farão. O décimo primeiro homem é
Louis Jackson, e os cinco cassinos a serem roubados na noite de Reveillon são: “Sahara”,
“Riviera”, “Desert Inn”, “The Sands” e “The Flamingo”. Fica acertado que eles se dividirão em
duplas e após a música “Should all the quaintance be forgot” que se inicia à meia-noite do
primeiro dia do ano começar a tocar, eles apagarão as luzes de toda a cidade com uma explosão
numa torre geradora de energia.
Em todos os hotéis, nas portas que dão para os cofres, são passados sprays de tinta
infravermelha que só pode ser vista com óculos apropriados. Na hora em que tudo estiver escuro,
será a maneira deles identificarem o acesso ao cofre.
Adele, não se sabe se coincidentemente ou não, está passando uma estadia no “The
Sands”. Ela encontra Danny e faz questão de ligar para sua mulher para dizer a ela que ele está
em Las Vegas. Bea, porém, a ignora.
Na noite de Reveillon, Josh coloca a bomba na torre para explodi-la. Duke está com
sua noiva, mãe de Jimmy, na festa de Reveillon do “The Flamingo” com um casal, cuja mulher é
Adele, que comenta com a mãe de Jimmy que seu filho está no hotel acompanhado de Danny
Ocean.
Duke Santos, porém, descobre o roubo e se reúne com os donos dos hotéis e promete
conseguir recuperar a quantia roubada desde que fique com 30% do valor. Ele sabe da morte de
Burdoff e descobre que ele pertencia à 82º Divisão Aérea, a mesma que Jimmy. Descobre
também que o enteado está em Las Vegas, assim como Ocean e vários amigos desta Divisão: é aí
que Duke percebe que o rapaz está envolvido no roubo e conta a história para a futura esposa, que
se decepciona muito com o filho.
O homem, então, faz chantagem com Danny e Sam, pedindo 50% do valor do roubo
para não denunciá-los. Para se livrarem do homem, os rapazes decidem esconder o dinheiro no
caixão de Burdoff. A esposa do falecido chega à cidade para providenciar o transporte do corpo
do ex-marido, porém não tem dinheiro para isso e decide que vai deixá-lo em Las Vegas mesmo.
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• A linguagem
Os papéis retratados pelo diretor são mais do que simples retratos da época em que
foram filmados: são também os espelhos da situação pessoal e da vida social dos atores
envolvidos na trama.
Como já antes dito, os 11 atores que fazem parte da turma de Ocean, na verdade,
eram todos amigos fora das telas e, segundo Marco Antônio Pereira do Vale4, tinham seu próprio
“clube do bolinha” em Las Vegas onde Sinatra era o chefe e , de acordo com Vale, tinham
relação com os donos de cassino e com a máfia italiana da Costa Leste.
Neste grupo, não havia lugar para mulheres, salvo dois momentos: as amigas
ingênuas e inofensivas ao trabalho que executavam, ou as mulheres para pura diversão. E esta
realidade é, em si, toda a atmosfera do filme: um universo exclusivamente masculino, para um
público majoritariamente masculino.
4
Professor mestrando pela ECA-USP entrevistado em 24 de agosto de 2005. Ver anexo 2.
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Assim também é com McLane. Pois a mulher que se permite viver com hábitos
masculinos se entrega, na obra, a uma vida promíscua e solitária, pois, novamente, a função que
lhe estabelece estabilidade social é quebrada, só que neste caso com mais intensidade.
Apesar de a figura feminina ser quase anulada pela força e destreza demonstrada pelo
sexo oposto, não se pode deixar de notar que, mesmo havendo outros mais importantes, um dos
pivôs da história é o personagem da mãe de Jimmy. Sem ela não haveria uma conexão lógica
entre seu filho e Duke Santos, e assim a rede de relações não estaria completa.
foca muito mais na problemática interna do grupo do que na forma como abordariam os cassinos
e como estes operam.
Como decorrência deste fato, não é dito ao espectador o plano do roubo em palavras,
mas em imagens pouco reveladoras sobre os locais internos e as infra-estruturas encontradas.
Também é conseqüência a “visão fingidamente inocente”5 dos donos dos estabelecimentos ao
serem saqueados. Apresentam-se frágeis e desorientados, inseguros e, de certa forma ingênuos,
por aceitarem a ajuda de Santos, mesmo sabendo de seus antecedentes ilegais.
Não há em nenhum dos hotéis homens a mando dos donos para vigiar e punir clientes
indesejados de forma ilegal, nenhum tipo de extorsão ou estelionato. Pelo contrário, há apenas
seguranças pacíficos e que executam seu trabalho de uma forma ética, existindo, inclusive, uma
cena em que o guarda do Flamingo retira do salão um homem que já jogou demais e que está a
beira de gastar todo o seu dinheiro, num ato de responsabilidade em relação ao desconhecido e
seu bem-estar.
5
Marco Antonio Pereira do Vale, professor mestrando pela ECA-USP entrevistado em 24 de agosto de
2005. Ver anexo 2.
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A trilha sonora, aliás, tem grande efeito no filme, acompanhando todos os momentos
dos personagens, seus sentimentos e ações. É definitivamente parte integrante e considerável da
narrativa, assim como o uso dos planos imagéticos.
Em relação ao aspecto da imagem, os planos são, em sua maioria, planos médios com
duas ou três personagens bem centradas. Close ups são usados apenas para cenas de alta carga
dramática ou com intenção criar um apelo à beleza do elenco. Quase não são vistos planos gerais,
com exceção dos interiores dos cassinos, onde, mais uma vez, há o cuidado em enaltecer o
ambiente de Las Vegas.
Quanto à justificativa para este uso da linguagem, em seu sentido literal, e não do
estilo cinematográfico, há de se considerar alguns aspectos: Lewis Milestone, o diretor; 1960, o
cinema holliwoodiano neste momento.
6
FIELD, Syd. Manual do roteiro.
21
com O Grande Golpe (1956), Kubrick revela, pela primeira vez, a narrativa subjetiva, mosaica,
em que uma mesma situação é abordada sob diversos pontos de vista, em diversos momentos, e
com uma linha narrativa descontínua.
Já Hitchcock inicia o suspense criado pelo espectador que sabe mais em relação aos
próprios personagens da trama, trazendo o público para dentro da história e envolvendo-o nas
emoções dos personagens, como se ele próprio fosse um.
O diretor desta primeira versão, roda esta obra já no final de sua carreira em
Hollywood, já com a idade avançada e muitos anos de experiência cinematográfica, juntamente
com a sedimentação de conceitos formais e estilísticos sobre como fazer cinema.
Milestone começou sua carreira ainda com filmes mudos, passou pela sonorização e
chega à década de 60 com muitos arquétipos de personalidade e interpretação em sua bagagem. A
partir destas afirmações fica explícito o porque de algumas atuações parecerem exageradas
demais e de os planos serem em sua maioria planos médios com poucas pessoas em quadro, uso
de muitas panorâmicas em planos seqüência e de um uso de fusões entre cenas para demarcar,
visualmente, a mudança de foco narrativo (como se a fusão entre cenas fosse um espaço de
parágrafo, num texto.).
A narrativa paralela é a grande marca deste filme, seja em seu começo, quando as
personagens vão sendo apresentadas uma a uma por meio de uma engenhosa montagem paralela
em que quase podemos ver os acontecimentos em tempo real; ou na cena da contagem regressiva
para o ano novo em que, de uma forma muito criativa, com balões separando um cassino do
outro, o diretor mostrou o mesmo momento em lugares diferentes para aumentar, juntamente com
a música, a apreensão do público.
22
Contudo não se pode dizer que não há nada de novo na linguagem utilizada por
Milestone, há, mesmo que poucos, alguns enquadramentos mais modernos, como leves plongés
em cenas com grande número de pessoas, e o uso das cores do cenário com um “cuidado sígnico
subliminar”7 que complementa a personalidade do personagem em cena.
Isto acontece em cenas entre Santos e os donos dos cassinos, e entre ele, Danny e
Sam. Santos sempre aparece em paredes com tons amarelados, e nunca se mistura com paredes
de cor verde. Os donos dos cassinos e a polícia estão sempre em frente à paredes e objetos
verdes; e Danny, juntamente com Sam, variam entre umas e outras.
Com isso pode-se analisar que enquanto a polícia está ao lado dos donos do cassino,
na categoria de vigilantes da lei, Santos é o fora da lei, o vilão, e Danny e sua turma estão num
patamar intermediário. É como se fossem bandidos por justa causa, ou criminosos porém bons
rapazes.
Assim, resta apenas um detalhe para desvendar todo o processo de criação desta
primeira versão de 11 homens e um segredo: o produtor executivo do filme é o próprio Frank
Sinatra. Com esta informação, simplifica-se o porquê de o universo retratado ser cassinos, shows,
“manda-chuvas”, crime, mulheres em segundo plano e moralismo em relação aos donos dos
estabelecimentos em Las Vegas.
Nenhum filme é inocente em sua proposta. Todo filme traz traços de sua época. Isto
fica mais que provado também para 11 homens e um segredo de Lewis Milestone após a análise
de sua estrutura.
7
Marco Antonio Pereira do Vale, professor mestrando pela ECA-USP entrevistado em 24 de agosto de
2005. Ver anexo 2.
23
• Os personagens
Isto fica muito claro já na primeira cena do filme a qual, em menos de cinco minutos e
com apenas o diálogo necessário para expor sua personalidade, George Clooney é introduzido ao
público no papel de Ocean através de uma entrevista para os responsáveis em concede-lo
liberdade condicional. Em trajes da penitenciária, a imagem nos diz que se trata de um preso. O
diálogo8 em si anuncia qual o motivo de ter sido preso, e que está retornando a liberdade. E a
imagem, no último plano, mais aproximado, da cena, revela sua maior característica: sua
habilidade de desviar a verdade para onde gostaria. Este é o Danny Ocean de 2001: determinado,
astuto, sereno e sempre cheio de bons argumentos para fazer quem quer que seja acreditar em si.
Rusty, interpretado por Brad Pitt, mora em Los Angeles no momento em que é
recrutado por Ocean. Seu emprego é de professor de pôquer para estrelas de cinema de
Hollywood. Por suas ações e respostas sempre ágeis, percebe-se que, dentre todos, é o mais
8
Ver anexo 3
24
A liderança do grupo fica dividida entre os dois, já que Danny tem a autoria do plano
e as táticas para organizá-lo precisamente, ao passo que Rusty não só recruta, como comanda a
equipe, tendo total controle operacional da trupe.
Assim, logo que o dinheiro começa a ser gasto em virtude do plano, os outros são
recrutados por ambos, Rusty e Danny, na seguinte ordem:
9
Ver anexo 4
25
8. Yen: chinês acrobata de estatura baixa e feições serenas. Não é levado a sério por
ninguém no grupo, pois não fala a língua (inglês) corretamente e sua única
participação, apesar de crucial, não se passa em momento nenhum no âmbito
intelectual. Seu papel é saltar do carrinho situado no centro do cofre até a porta
sem tocar o chão, para não fazer soar o alarme.
9. Saul: senhor de idade, com úlceras e de aparência pacata. Não demonstra, em
momento algum de sua vida social regular de um idoso judeu habitante do estado
da Flórida (como todo judeu em idade avançada) que é um membro da antiga
máfia existente nos EUA. Declara que largou a vida fora da lei há um ano, mas ao
saber do plano junta-se a Danny. Seu papel é atuar no cassino como hóspede
europeu, misterioso e determinado, que requisita os serviços do cofre principal
para manter certas pedras preciosas que recebe, fazendo assim o link entre o cofre
e a entrada do grupo no mesmo.
10. Linus: filho de um ex-companheiro de tramas entre Danny e Rusty que já faleceu.
Vive em Chicago e é batedor de carteiras. Ágil, porém inexperiente, é chamado
para completar a trupe, mas não tem função definida. Age como coringa.
11. Tess: ex-mulher de Ocean.Bela, independente, determinada, séria e ressentida
pelas mentiras de Danny, é a atual curadora do museu do Bellagio, um dos
cassinos de Benedict, e namora o próprio. É o pivô da história, motivo pelo qual
Danny resolve ter por alvo os três cassinos de Benedict. Acusa Danny de ser, além
de ladrão profissional, o que sua ética não permite ter como marido, também ser
mentiroso, adjetivo o qual Ocean desmente e prova não ter. No fundo ainda o ama.
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Por último, o grande vilão, latino, é claro, é o próprio dono dos cassinos e também do
coração de Tess: Terry Benedict. Previsível, frio, elegante, pontual, sempre seguidor de uma
rotina “britânica”, gosta de star sob controle de tudo e todos. Mostra-se, ao passo que a história se
desenrola, ser também muito esperto e cruel.
• A história
Esta versão de inicia em uma penitenciária, onde Danny Ocean passa por uma
audiência que permitirá que ele volte a liberdade. Ele comenta que foi abandonado pela esposa,
em seguida pode-se vê-lo saindo do lugar enquanto os créditos iniciais aparecem na tela. Vai a
um cassino que fica em Atlantic City e lá ele encontra Frank Catton, agora auto denominado de
Ramon, trabalhando no lugar.
Agora em Las Vegas, os dois homens conversam com Reuben, na beira da piscina de
sua casa. Este acha que a idéia dos dois é loucura devido ao ótimo sistema de segurança do cofre
do lugar, mas ele aceita ajudá-los já que o proprietário do Bellagio é Terry Benedict, inimigo de
Reuben, pois o fez perder muito dinheiro.
Achando que ainda falta um integrante ao time, Danny vai a Chicago e conhece
Linus, que consegue furtar carteiras como ninguém. É o homem que se demonstra mais
inexperiente e receoso. Todos se encontram na casa de Reuben e Danny começa a explicar o
audacioso plano. Explica que precisam fazer um reconhecimento dos cassinos, seus horários e
etc. Enquanto isso, cenas dos homens nos cassinos são mostradas. Basher fica incumbido de
providenciar o “apagão” enquanto Livingston cuidará de vigiar a segurança, já que é experiente
no assunto.
Após conseguir a chave da sala de controle, este consegue colocar chips nos cabos
das câmeras, o que faz com que os homens consigam monitorar de seu QG todos os movimentos
do hotel. Um cofre idêntico ao do cassino é construído para que o grupo consiga treinar todos os
movimentos para o dia do assalto. Linus tem a função de espionar Benedict já que só ele tem
acesso às senhas do cofre que se alteram diariamente. Um furgão é adquirido para facilitar a ação
do grupo.
A partir daí uma seqüência de fatos se encadeiam perfeitamente para que o plano
tenha um andamento perfeito: Linus já sabe detalhadamente a rotina de Benedict, inclusive que
ele tem uma namorada, Tess, com quem ele tem um relacionamento discreto, não se permitindo
nem troca de carinhos em público.
28
Rusty conhecia Tess, ela é ex-mulher de Danny Ocean e logo o primeiro imagina que
o objetivo do assalto que Danny quer organizar é, justamente, para se vingar do homem que está
com sua esposa e consegui-la de volta.
O hotel de Reuben é explodido por Benedict e isso faz com que Basher perceba que a
equipe de técnica do cassino descobriu o próprio ponto fraco da segurança da empresa,
obrigando-o a mudar os planos de explosão da torre de energia: agora eles são obrigados a roubar
uma morsa, que realizará o black-out sem explodir as torres.
No entanto, outro imprevisto ocorre, o grupo descobre que Benedict sabe quem é
Danny, e Rusty decide por deixá-lo de fora da missão para não prejudicar o grupo. Mais tarde,
sabe-se que isso não passou de tática para despistar Benedict.
Tal situação ocorre no dia em que uma luta de boxe está acontecendo no lugar e após
“Zerga” entrar no sistema de segurança junto com o proprietário com a desculpa de guardar uma
valise valiosa.
Acontece que Danny é amigo do “capanga” e este o ajuda a fugir do lugar e auxiliar Linus a
entrar no cofre onde Yen está.
Os seguranças não os vêem nos monitores de segurança porque “Zerga” passa mal,
fingindo ter um ataque do coração no momento exato, distraindo a atenção deles.
A luta de boxe começa e logo a ativação da morsa faz com que todas as luzes se
apaguem. Danny e Linus, com a ajuda de Yen, conseguem entrar no cofre e realizar o roubo.
Rusty liga para Benedict avisando-o que ele está sendo roubado. O proprietário, ao chegar à
central de segurança, vê o que pensa ser o assalto, chama a polícia, mesmo dizendo a Rusty, no
celular, que concorda em deixá-los fugir desde que só levem metade do valor.
Benedict vai a sala onde Ocean estaria apanhando, desconfiado que ele fizesse parte
daquilo e ao chegar lá, Danny realmente está levando uma surra de seu capanga, intrigando o
dono do cassino.
Danny pergunta a Benedict que se ele pudesse recuperar seu dinheiro, ele o deixaria
ficar com Tess. Benedict diz que sim. Tess vê tudo e é o suficiente para deixar o dono do cassino.
Danny é preso por violar sua liberdade condicional, pois saíra do estado, e Tess o chama de
marido, demonstrando que ainda o ama. Os dez homens se despedem, tendo cumprido suas
missões e cada um vai para um lado.
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• A linguagem
Logo na primeira cena, vemos a introdução de um recurso narrativo que surgiu com
Kubrick em 1956 e é incluído somente nesta versão: a narrativa subjetiva. É através desta que se
revelam as informações mais importantes e são construídas as mais interessantes cenas.
contada ou explicação é mostrada por meio de imagens cheias de travellings, com muito
movimento, para acompanhar o tom descritivo e dinâmico das vozes dos personagens.
Esta preocupação com a trilha é percebida ao longo não só desta cena, mas também
de todo o filme. Assim como na versão estrelada por Frank Sinatra, toda vez que o plano está
sendo explicado ou realizado, ouve-se sempre o mesmo tema ao fundo. Isto para criar uma
identificação da trama com o público por meio de recursos subliminares, tal como a trilha.
Ainda sob a ótica da imagem, há uma preocupação com as cores e o que elas
representam e atribuem a cada personagem e ação. Uma cena específica que deixa esta idéia
muito clara é a cena de apresentação da personagem de Julia Roberts, Tess. Rusty e Linus estão
conversando sobre ela quando a própria surge, em câmera lenta, descendo uma escada dourada.
Tess veste um conjunto social de saia e terninho vermelho, com batom da mesma cor nos lábios.
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A figura de Julia Roberts, já uma mulher com muita presença, vestida de vermelho
em contraste com o cenário dourado já seria suficiente para passar a mensagem de que Tess causa
impacto por onde passa. Porém a cena quer transmitir algo a mais: que ela é o pivô para toda a
história, motivo pelo qual toda a ação acontece. Assim, além de todos os signos pictóricos já
existentes, toma-se cuidado para que, tanto os figurantes, como os próprios Rusty e Linus estejam
vestindo branco, preto ou cinza, para exaltar ainda mais a figura de Tess.
Agora que as análises individuais de ambos os filmes estão claras, pode-se então
confrontar um ao outro para deduzir qual o caminho de construção criativa apresentado neste
processo de refilmagem.
da figura de Terry Benedict. Benedict surge como um homem ganancioso e que se revela ao
longo da trama como um grande vilão, com ameaças, capangas e formas de burlar a lei, fazendo
uso de sua própria.
Assim como a reação dos usuários e diversa, a dos donos também. Em 1960, os
proprietários têm de se reunir e pedir ajuda a outros para que recuperem seu dinheiro, parecem
desolados e indefesos. Contrário a isto se posiciona Benedict, que, ao ouvir de Danny a mesma
proposta que Santos fez aos donos em 1960, que conhece alguém que pode ajudá-lo a recuperar o
dinheiro e descobrir quem o fez, Benedict não aceita, pois não é inocente, nem tampouco confia
em outras pessoas.
Já na refilmagem fica clara a moral da história pela referência de uma cena entre Tess
e Danny no restaurante no final da trama, quando o casal fica junto10: ladrão por ladrão, melhor o
que não é mentiroso. Danny se apresenta como este “ladrão honesto”, que consegue o que quer
sem utilizar-se de nada ilegal além da própria ação de se furtar algo. Já Benedict, além de
bandido, que fica bem claro no fim, com suas ameaças e com os capangas para “punição própria”
de pessoas com atitudes indesejadas, é também apresentado como um homem que nem sempre
diz a verdade. É como se fosse um “ladrão que rouba ladrão”. E com isso, justifica-se o fato de os
11 levarem a melhor, e não o dono do cassino: pois eles são “honrados”.
10
Ver anexo 5
34
Em seu livro A cultura da mídia, Douglas Kellner reflete sobre a influência dos
meios de comunicação de massa e seus usos na sociedade atual, levando em conta os fenômenos
midiáticos recentes e as novas tecnologias utilizadas a seu favor.
Apesar das críticas presentes em seu texto à Escola de Frankfurt e à Teoria crítica,
afirmando ser esta por demais simplificadora do problema, com sua unilateralidade ideológica,
vemos que, na frase a seguir, ele mesmo se mostra Frankfurtiano, porém com teorias mais
sintéticas, menos apocalípticas:
É sabido que cada época tem um certo público, este com suas necessidades próprias.
Destas são que surgem os produtos midiáticos, resposta a esta necessidade dos seres humanos
espectadores da mídia, que, quando funcionam, são elevados a categoria de modelo, fórmula ou
padrão, influenciando toda uma série subseqüente de obras.
Os textos da cultura da mídia não são simples veículos de uma ideologia dominante nem
entretenimento puro e inocente. Ao contrário, são produções complexas que incorporam
discursos sociais e políticos cuja análise e interpretação exigem métodos de leitura e
crítica capazes de articular sua inserção na economia política, nas relações sociais e no
meio político em que são criados, veiculados e recebidos.
Entra aqui a questão da reprodutividade das obras: não importa se a obra é uma
releitura de uma outra anterior, sempre terá valor de peça única pois está embebida no contexto
de seu tempo. É construída segundo a linguagem e ideologia dominante de seu entorno, mesmo
que seja contraria a ela.
Conclusão
Visto estes fatos, fica evidente a presença da teoria de Kellner no processo de produção da
refilmagem de 11 homens e um segredo, pois esta se apresenta como uma reconstrução do
primeiro filme adequada ao contexto sócio-histórico de seu momento.
Toda obra leva em si a subjetividade de seu autor, que por sua vez, como ser humano, é um ser
social e influenciado pelos acontecimentos e normas culturais de sua época. Por isso a mesma
obra não é produzida e nem causa a mesma impressão em contextos diferentes, devido ser
humano uma condição de determinação do seu tempo.
Ao analisar uma obra em seu próprio contexto sócio-histórico, pode-se observar semelhanças
com o presente, mas sempre serão analogias, pois a obra pode continuar com tema atual, mas seu
sentido completo só é possível em seu momento.
Assim, a melhor forma de se analisar uma refilmagem é situando-a em seu próprio entorno,
processo efetuado nesta pesquisa, pois foi para este que a obra foi criada.
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Anexos
JIMMY
What a way to make a living.
(…)
SAM
Jimmy… Why do you need this picnic for? If you want
money, all you have to do is yell for Mother.
JIMMY
You haven’t met mother, have you?
SAM
No, but I gather she’s very generous
JIMMY
Generous to a fault. Especially when it comes to husbands.
She only had five.
SAM
That must’ve left you pretty much out in the cold.
JIMMY
No suck luck.
SAM
Would you mind spelling that out?
JIMMY
I had so much mother love, you’d have thought I was
quintuplets. She wouldn’t let me out of her sight. Everything
as done for me. After the war, I tried to break away from her
but plenty of money is a hard habit to kick. That’s why I’m
going to our picnic.