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Introdução

O presente trabalho enquadra-se na disciplina de Psicolinguística do curso de Ciências


da Comunicação com o tema Factores que influenciam o desenvolvimento da
linguagem este que é de extrema importância pois diversos factores podem estar
envolvidos com as alterações de linguagem, como, por exemplo, as relações sociais
pobres ou deficitárias, a falta de oportunidades linguísticas no ambiente, o retardo
mental, o autismo, as síndromes genéticas e cromossómicas, os deficits motores ou
sensoriais, além do Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperactividade. E os atrasos
específicos no desenvolvimento da linguagem devem ser identificados precocemente,
uma vez que tais alterações podem interferir nos aspectos sociais e escolares da criança.
Os transtornos de linguagem nas crianças são associados, na literatura, também a
prejuízos psicossociais, tais como baixa auto-estima, isolamento social e ansiedade.

Fazendo o uso de uma pesquisa bibliográfica o trabalho contém duas partes em que a
primeira trata sobre o conceito do pensamento e a linguagem e a segunda trata dos
factores que influenciam o desenvolvimento da linguagem.

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Factores que influenciam o desenvolvimento da linguagem

Pensamento e Linguagem

Segundo Vygotsky citado por Miranda e Senra (2012) o Desenvolvimento da


Linguagem implica também no desenvolvimento do pensamento, pois é através das
palavras que o pensamento ganha existência, se materializa e promove a relação entre
coisas. Isso denota que há uma distinção entre os planos interiores (semântico e
significativo) e exterior (fonético) da fala, mesmo que dêem origem a uma unidade e
tenham suas próprias leis.

Piaget (1967) parte do pressuposto de que a linguagem tem origem a partir do estágio
sensório-motor, quando a função simbólica passa a exercer sua actividade: dar ao
sujeito, à criança a capacidade de representação de objectos, acções e palavras. Através
de uma concepção de desenvolvimento baseada na génese do conhecimento, esse autor
assegurou que a origem do pensamento antecede à linguagem com suas funções, formas
e características. Por esta razão, a aquisição da linguagem só é possível quando as
condutas sensório-motoras passam às acções conceitualizadas por meio da socialização
e dos progressos da inteligência pré-verbal com a interiorização da imitação na forma de
representação.

Em oposição a Piaget, Vygotsky (1998) não possui uma concepção em que cada um
desses processos (pensamento e linguagem) anteceda um ao outro. Para Vygotsky
(1998), há um elo que os conecta e que os faz influenciarem-se mutuamente, que é a
palavra. Referente à origem da linguagem esse autor a explicita através dos estudos da
formação dos conceitos, dos tipos de fala, inclusive em comparação com a compreensão
de Piaget acerca da fala egocêntrica e sua função. Enquanto para Piaget ela é uma
expressão directa do pensamento egocêntrico, que não se adequa ao pensamento adulto,
isto é, um tipo de pensamento intermediário ao autismo primitivo de pensamento e à
socialização; para Vygotsky ela consiste num fenómeno de transição de funções
interpsíquicas para as intrapsíquicas, que abarca toda a actividade social da criança e
constitui um parâmetro de desenvolvimento comum às demais estruturas e funções
psicológicas superiores.

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Factores que influenciam o desenvolvimento da linguagem

Segundo Johnston (2011) o desenvolvimento da linguagem é ainda mais impressionante


quando consideramos a natureza do que é aprendido. Pode parecer que as crianças
precisem apenas lembrar-se do que ouviram e repeti-lo em algum momento posterior.
Mas, como mostrou Chomsky há tempos atrás, se essa fosse a essência da aprendizagem
da linguagem não seríamos comunicadores bem-sucedidos. A comunicação verbal
requer produtividade, isto é, a capacidade de criar um número infinito de enunciados
que nunca ouvimos antes. Essa inesgotável capacidade de inovar exige que alguns
aspectos do conhecimento linguístico sejam abstractos. Em última instância, as “regras”
de combinação de palavras não podem ser regras para determinadas palavras, e sim
regras para classes de palavras, tais como substantivos, verbos ou preposições. Desde
que disponha desses esquemas abstractos, o falante pode preencher os “espaços” de uma
frase com as palavras que melhor traduzam a mensagem do momento. O ponto-chave de
Chomsky era que, uma vez que abstracções nunca podem ser vivenciadas directamente,
precisam emergir da própria actividade mental da criança ao escutar a fala.

Ou seja, a linguagem se desenvolve com base na genética e em estímulos verbais que


são originados no ambiente em que se está inserido. O desenvolvimento da linguagem é
um processo evolutivo e complexo que envolve principalmente a cognição. A criança
tem, ainda, seu desenvolvimento influenciado pela nutrição, estimulação, educação e o
ambiente em que ela e sua família se encontram.

Factores determinantes

Segundo Johnston (2011) há considerável consenso sobre o facto de que o curso do


desenvolvimento da linguagem reflecte a interacção de factores de, pelo menos, cinco
domínios: social, perceptivo, de processamento cognitivo, conceitual e linguístico. Os
teóricos diferem na ênfase que atribuem a cada domínio, mas a maioria deles concorda
que todos são importantes.

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Factores Sociais

Dois estudos verificaram o efeito do ambiente social imediato da criança, da dinâmica


familiar e aspectos da história dos pais como sendo potenciais factores de risco para o
desenvolvimento da linguagem da criança. Um deles destacou que cuidados pediátricos
precoces representam uma oportunidade significativa para o reforço no
desenvolvimento de crianças. Esse estudo ressalta que a pobreza está relacionada a
dificuldades no desenvolvimento da criança e na sua preparação para o início da
alfabetização. Isso porque as interacções verbais entre os pais e a criança são
importantes para o desenvolvimento adequado da linguagem oral e leitura da criança e
tendem a ser reduzidas quando as famílias são consideradas de baixo nível
socioeconómico.

O outro estudo avaliou a relação entre os riscos ambientais e a intervenção precoce


sobre as atitudes parentais. Incluíram, nesse estudo, crianças cujas mães apresentavam
histórico actual ou pregresso de abuso de substâncias. Foram avaliadas 161 mães e seus
filhos, por 18 meses. O grupo de intervenção recebeu visitas semanais nos seis
primeiros meses e quinzenalmente entre os 6 e 18 meses. A linguagem foi avaliada por
meio da ReceptiveExpressive Emergent Language Scale (REEL). Dez factores de risco
para o desenvolvimento e a linguagem foram avaliados: depressão materna, violência
doméstica, tamanho da família, violência não doméstica, encarceramento, ausência de
namorado ou marido, eventos de vida negativos, status psicológico e problemas
psiquiátricos, falta de moradia e uso materno de drogas. Observou-se que mulheres com
mais de cinco factores de risco apresentaram, com maior frequência, comportamentos
abusivos e negligentes, colocando seus filhos em maior risco para o desenvolvimento
infantil geral e da linguagem.

Ou seja, O ambiente verbal influencia a aprendizagem da linguagem. Entre um e três


anos de idade, filhos de famílias de “profissionais” altamente verbais escutam quase três
vezes mais palavras por semana que os filhos de famílias menos verbais “dependentes
de assistência social”. Dados longitudinais mostram que aspecto dessa linguagem
parental no início da vida predizem escore em linguagem aos nove anos de idade.

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Factor Processo cognitivo

1. A frequência afecta a taxa de aprendizagem. Crianças que, apesar de incomum,


ouvem uma alta proporção de exemplos de uma determinada forma linguística
aprendem essa forma mais rapidamente que crianças que recebem estimulação normal
desses mesmos exemplos.

2. Podem ocorrer “negociações” entre os diversos domínios da linguagem quando a


sentença completa em questão exige mais recursos mentais do que os que a criança tem
disponíveis. Por exemplo, as crianças cometem mais erros em pequenas formas
gramaticais, tais como terminações de verbos e preposições, em sentenças com sintaxe
complexa do que naquelas cujas estruturas sintácticas são simples.

Factor Perceptivo

1. A percepção do bebé marca a etapa. As habilidades perceptivas auditivas aos seis ou


12 meses de idade podem predizer o tamanho do vocabulário e a complexidade
sintáctica aos 23 meses de idade.

2. A perceptibilidade faz diferença. Em Inglês, as formas que são mais desafiadoras para
aprendizes com algum deficit são aquelas com pouca saliência acústica – isto é, que não
são tónicas ou que ocorrem dentro de um grupo de consoantes.

Factor Conceitual

1. Termos relacionais estão associados à idade mental. Palavras que expressam noções
de tempo, causalidade, localização, tamanho e ordem estão muito mais correlacionadas
à idade mental do que palavras que se referem simplesmente a objectos e eventos. Além
disso, crianças que aprendem diversos idiomas falam sobre localizações espaciais como
em ou perto de na mesma ordem, independentemente dos recursos gramaticais de cada
idioma que dominam.

2. As habilidades de linguagem são afectadas pelo conhecimento sobre o mundo.


Crianças que têm dificuldades de lembrar determinada palavra também sabem menos
sobre os objectos aos quais essa palavra se refere.

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Factor Linguístico

1. Terminações verbais dão pistas sobre o significado do verbo. [Em inglês], se um


verbo termina em “ ing ”, crianças de três anos de idade entendem que a palavra se
refere a uma actividade, como “ swim ”, e não a uma mudança completa de estado,
como “push off”.

2. O vocabulário actual influencia novas aprendizagens. Crianças pequenas em geral


decidem que uma nova palavra se refere a objectos para os quais elas ainda não têm
uma designação.

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Conclusão

O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema linguístico que


nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa identidade,
além do desenvolvimento dos aspectos cognitivos. Dentre todas as questões complexas
que envolvem esse processo, o atraso simples na aquisição da linguagem dificulta o
amadurecimento e a experimentação da linguagem necessária para a aquisição formal
da leitura/escrita. A imaturidade linguística reflecte-se no vocabulário reduzido e no
conhecimento do mundo restrito. Falhas na aquisição e desenvolvimento fonológico,
como problemas na produção dos sons da fala ou discriminação dos mesmos, podem
reflectir na leitura e/ou na escrita.

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Referências Bibliográficas

JOHNSTON, J. Factores que influenciam o desenvolvimento da linguagem, Canada,


2011.

MIRANDA, J., SENRA, L. Aquisição e desenvolvimento da linguagem:


contribuições de piaget, vygotsky e maturana, Brasil, 2012.

MOUSINHO et al. Aquisição e desenvolvimento da linguagem: Dificuldades que


podem surgir no percurso, Rio de Janeiro, 2008.

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