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REVISÃO REVIEW 1131

“Não” para jovens bombados, “sim” para velhos


empinados: o discurso sobre anabolizantes e
saúde em artigos da área biomédica

“No” for stacked young bodybuilders, “yes” for


manthers: the biomedical discourse on anabolic
steroids and health

“No” a los jóvenes cachas, “sí” a los viejos


cachondos: el discurso sobre agentes anabólicos y
salud en artículos biomédicos
Danielle Ribeiro de Moraes 1
Luis David Castiel 2
Ana Paula Pereira da Gama Alves Ribeiro 3

Abstract Resumo

1 Escola Politécnica de Saúde The article addresses the use of anabolic an- Abordamos o discurso médico sobre o uso dos
Joaquim Venâncio, Fundação
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro,
drogenic steroids (AAS), synthetic drugs whose esteroides anabolizantes androgênicos (EAA),
Brasil. abuse has been characterized as a public health drogas sintéticas cujo abuso vem sendo caracte-
2 Escola Nacional de Saúde
problem, operated in the opposition between rizado como problema de saúde pública, sendo
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz, “medical” and “non-medical” uses. A qualita- operado na contraposição entre usos “médi-
Rio de Janeiro, Brasil. tive approach was used to analyze the text in cos” e “não-médicos”. Com base em abordagem
3 Instituto de Ciências
76 biomedical articles published from 2002 to qualitativa, realizamos análise de enunciações
Humanas e Sociais,
Universidade Federal Rural 2012. The discourse shows a persistent ban on presentes em 76 artigos da área biomédica en-
do Rio de Janeiro, Seropédica, non-medically regulated use of AAS by young tre 2002 e 2012. Nesse discurso, permanece o
Brasil.
people, while the limits on clinically qualified banimento, entre jovens, de usos de EAA não
Correspondência use appear to expand among older people, even regulados pela medicina, ao passo em que as
D. R. Moraes given the contradictions straining the argument fronteiras do emprego clinicamente qualifica-
Laboratório de Educação
Profissional em Atenção à
on the prevention of health risks. Moralizing do parecem se expandir para pessoas idosas,
Saúde, Escola Politécnica de biopolitical stances appear, based on gender mesmo frente a contradições que tensionam o
Saúde Joaquim Venâncio, distinctions or under the aegis of criminalizing argumento de prevenção dos riscos à saúde. Per-
Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Brasil 4365, sala 311,
drug use. cebem-se marcações biopolíticas moralizantes,
Rio de Janeiro, RJ seja via distinções de gênero, seja sob o signo da
21040-900, Brasil. Anabolic Agents; Health Risk; Review criminalização do uso de drogas.
danielle@fiocruz.br

Anabolizantes; Risco Sanitário; Revisão

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00068914 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(6):1131-1140, jun, 2015


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Introdução ratura analisada, que defende que o uso de dro-


gas psicoativas, na medida em que afetaria o es-
O presente texto traz apontamentos sobre a per- tado de consciência, poderia levar pessoas – em
gunta: de que modo os riscos à saúde derivados uma relação direta – a tornarem-se agressivas,
dos usos de esteroides anabolizantes androgê- violentas e a cometerem delitos. Se, por um lado,
nicos (EAA) estão configurados em resumos de essa construção muitas vezes está fundamenta-
periódicos acadêmicos da área biomédica? Che- da em evidências precárias 2,3, por outro, parece
gamos a essa pergunta a partir de achados de tra- remeter a ancoragens culturais em torno de um
balhos anteriores 1,2,3, com os quais pretendemos consenso moral criminalizador que ronda o uso
cotejar nossa análise atual. de drogas em nossa sociedade 11,12.
Os EAA são drogas sintéticas, análogas do As pessoas que lançam mão de EAA sem
hormônio sexual masculino, a testosterona, e são orientação profissional buscam, em geral, por
empregados com fins de aumento da força e da melhora na disposição física e no desempenho
massa muscular. Tradicionalmente utilizados na esportivo (para o que, quando em circuitos de
área biomédica para reposição hormonal mascu- competição, dá-se o nome de doping). Seja mo-
lina (diante de castração cirúrgica ou traumáti- dificando o corpo em prol de alcançar postos de
ca), suas demais indicações médico-clínicas obe- trabalho 13, posição social ou uma imagem cor-
decem a um rol anteriormente restrito de proble- poral mais afeita ao ideal viril de masculinidade
mas geralmente graves de saúde (como exemplo, hegemônica 14,15, o uso de EAA parece relacio-
em anemias severas, insuficiência pulmonar ou nado ao que David Le Breton 16 descreve como
cardíaca, como adjuvantes de tratamentos da produção farmacológica de si. Na análise arguta
AIDS e na quimioterapia para cânceres). de Sabino & Luz 17 sobre o significado da dor fí-
Recentemente, a gama de utilização dos este- sica entre praticantes de bodybuilding, os ana-
roides tem sido ampliada. Essa ampliação acon- bolizantes aparecem inseridos em mecanismos
tece tanto no rol de indicações chanceladas pela culturais de demarcação de papéis identitários,
área acadêmica biomédica como “médicas” ou podendo ainda participar de estratégias de su-
“terapêuticas” quanto por pessoas que buscam peração de sofrimento entre os membros do cir-
seus efeitos a fim de modificarem farmacologica- cuito estudado.
mente seus corpos, visando a repercussões esté- A esse uso “não-terapêutico” (no léxico mé-
ticas e/ou de performance, sem necessariamente dico) é atribuído um rol de riscos à saúde hu-
terem a orientação de um profissional de saúde. mana, que variam desde alterações de caracteres
Em artigos da área biomédica, esse último tipo sexuais secundários (virilização e/ou feminiza-
de uso é denominado “não-médico” ou “não te- ção) até efeitos irreversíveis das funções hepáti-
rapêutico”, e a ele são atribuídos diversos riscos à cas e cardíaca, por exemplo 4. Não obstante em
saúde, descritos seja na literatura especializada análises anteriores se tenha notado um esforço
da área, seja em textos de políticas públicas de expressivo de caracterização dos riscos relacio-
diferentes países, ou mesmo em reportagens de nados ao abuso de EAA, alguns autores, quando
veículos midiáticos. revisam a literatura biomédica, apontam para a
No discurso médico, presente em artigos es- falta de evidências clínicas que possam sustentar
pecializados, os EAA aparecem como possíveis estratégias preventivas nos moldes de vertentes
drogas de abuso 4,5,6,7,8. No Brasil, os anaboli- da redução de danos (ou minimização dos riscos)
zantes são considerados substâncias psicoativas, que não assumem, a priori, um pressuposto de
cujo aumento do consumo tem sido reportado abstenção e/ou de criminalização.
principalmente entre homens jovens 9, o que Ainda que apoiem essa tendência menos
vem sustentando o surgimento de estratégias proibicionista de ações voltadas ao uso inde-
de enfrentamento e prevenção do abuso dessas vido de drogas, tais autores advogam que, para
substâncias. O argumento central que autoriza darmos este passo no sentido do gerenciamento
a delimitação de um problema para as políticas individual de riscos relacionados aos esteroides
públicas de saúde é o reconhecimento de que (e, portanto, circunscrever o “uso não-médico”
os anabolizantes, a exemplo de outras drogas, em uma proposta de redução de danos), é ne-
quando usados indiscriminadamente, trazem cessário preencher lacunas do conhecimento
riscos à saúde de quem os utiliza, podendo tam- científico acerca do problema. Essas lacunas
bém “conferir perigo” a terceiros. Aos usuários de residiriam na exiguidade de dados sobre possí-
EAA muitas vezes são atribuídos comportamen- veis equivalências dose-resposta que permitam
tos autodestrutivos, que poderiam gerar agres- uma estratificação dos riscos. Portanto, seriam
sões a si e a outras pessoas 10. ainda necessários estudos de caracterização de
De todo modo, esse suposto perigo integra motivações, cenários, frequência e padrões de
uma construção argumentativa, presente na lite- uso. Para esses autores, incentivar essa produção

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O DISCURSO SOBRE ANABOLIZANTES E SAÚDE EM ARTIGOS DA ÁREA BIOMÉDICA 1133

científica seria agir sanitariamente por, além de por objetivo identificar elementos discursivos,
não desconsiderar os riscos, compreender que as mapeando o discurso sobre diferentes tipos de
futuras estratégias de controle devam se adequar usos de EAA, presente em artigos publicados em
às configurações sociais dos usuários 5,7,13. periódicos científicos, valendo-se de uma busca
Apesar do ensaio de um tom mais relativiza- sistemática na base de recuperação de referên-
dor quanto às estratégias de enfrentamento des- cias Scopus.
ta questão, notamos que, em geral, propunha-se
o banimento do “uso não-médico”, geralmente
justificado por uma relação, naturalmente con- Materiais e método
ferida pelos autores, entre uso de drogas, mas-
culinidade, agressividade e violência 3. Paralela- Entre maio e junho de 2013, foi realizada busca
mente, percebemos também que haveria outro sistemática no banco online de recuperação de
rol de indicações recentes (que denominamos referências bibliográficas Scopus, lançando-se
emergentes), que ficariam mais próximas do “uso mão dos termos anabolic [AND] steroids [AND]
médico”. Tais indicações seriam voltadas não prevention. A busca foi limitada ao período 2002-
mais ao tratamento de condições potencialmen- 2012, às áreas de ciências da saúde e ciências so-
te fatais, mas situadas no campo de ação da me- ciais e humanas, e aos campos de título, resumo
dicina antienvelhecimento, em que proliferam e palavras-chave. A escolha dos termos de busca
tecnologias de aprimoramento. foi informada por experiência análoga realizada
De acordo com Peter Conrad 18, o aprimora- em artigo anterior 3, em que, utilizando-se ana-
mento biomédico refere-se a qualquer interven- bolic steroids em combinação com effects e ag-
ção que vise a aumentar o desempenho físico ou gression, foi encontrado que o registro principal
mental. E, diferentemente da menopausa, o que da retórica dos trabalhos de periódicos se rela-
alguns chamam de andropausa ainda não é uma cionava com a visão negativa sobre o emprego
doença reconhecida a ponto de constar da 10ª re- “não-médico” de EAA.
visão da Classificação Internacional de Doenças No entanto, naquele momento da pesqui-
(CID-10). Desse modo, sua abordagem farmaco- sa, alguns artigos apontavam para a existência
lógica pode ser considerada como um uso emer- de uma literatura que apoiaria novos usos clí-
gente de EAA, em que análogos da testosterona nicos dos anabolizantes. Dessa feita, a escolha
são prescritos de modo a aumentar o vigor, a for- atual objetivou recuperar artigos que tratassem
ça, delinear o corpo e, principalmente, melhorar da interseção dos termos prevenção e esteroides
a performance sexual de homens idosos. anabolizantes, e que permitissem identificar
Assim, vimo-nos diante de duas tendências: possíveis artigos em que pudessem ser verifica-
a primeira, proibicionista do uso “não-médico”, dos esses efeitos “emergentes” positivos. Ainda
ligando o uso de EAA por homens jovens a episó- que, no jargão do campo da saúde, o termo risco
dios violentos, num desdobramento reduzido do seja muitas vezes relacionado à prevenção, este
fenômeno social violência ao fenômeno biológi- não foi incluído na busca, uma vez que a pala-
co da agressividade; a segunda, uma vertente de- vra risco, quando atribuída a textos deste campo,
fensora do uso de EAA por homens idosos, que se traz geralmente uma conotação negativa 23; aqui,
apresentava como “uso médico”, apesar de não almejava-se justamente a ampliação da busca de
se encaixar nas habituais indicações clínicas. eventuais artigos que apresentassem possíveis
Nossas observações iniciais voltaram-se à registros positivos do uso de EAA. No mesmo
possibilidade de tomar os textos médicos, nome- sentido, optamos por recorte cronológico mais
adamente os do gênero artigo científico, como recente que o do trabalho anterior, pois já havia
material de análise. Tratar os artigos dessa forma pistas de que o uso “emergente” poderia ser ob-
é ainda uma experiência pouco usual, especial- servado em textos mais novos.
mente no campo da saúde coletiva, em que as O banco Scopus foi identificado como sen-
formações discursivas são mais estudadas com do uma base de robustez para o tema, pois além
base em textos midiáticos. No entanto, esse é um de englobar os mesmos periódicos da principal
exercício desejável e necessário, quando foca a base de indexação de artigos da área biomédica,
literatura acadêmica em geral 19,20. Especifica- o MEDLINE, abarca também uma ampla varie-
mente no campo da saúde, o mesmo é referen- dade de publicações de áreas afeitas ao campo
dado por outros autores, que indicam que esses da saúde coletiva, tais como as ciências sociais e
textos poderiam suscitar possíveis formações do humanas em saúde. É importante ressaltar que
discurso médico, em que transitam tacitamen- se deseja, neste trabalho, investigar um núcleo
te aspectos biopolíticos contemporâneos, como de publicações que possui maior influência na
processos de medicalização e de distinções de produção discursiva médica. Isso não significa
gênero 21,22. Nesse sentido, este trabalho tem dizer da inexistência de produções ou emissão

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do discurso médico em outras fontes, seja em Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


outros indexadores ou mesmo em publicações Nível Superior (Capes).
não indexadas. Por fim, podemos considerar que nossa
No entanto, para nossa análise, é importan- abordagem se aproximou da análise do discurso,
te considerar que existe uma hierarquia entre procurando identificar as enunciações sobre os
periódicos da área biomédica, em que textos usos de EAA. Assim, buscou-se localizar possíveis
publicados em revistas de suposta maior re- marcações do discurso médico, que permitiriam
percussão na área são considerados com maior confrontar diferentes posicionamentos e mesmo
atributo científico do que outros. Não é inco- caracterizar diferentes gêneros do discurso, bem
mum que esses veículos obtenham maiores como verificar as problemáticas ligadas à enun-
pontos em escores bibliométricos e sejam con- ciação que são mobilizadas no interior deste dis-
siderados como de maior autoridade no campo, curso 29. Para tanto, por exemplo, cotejou-se a
a despeito da discussão acalorada sobre a per- leitura das seções de introdução com as demais
tinência do uso desses escores para avaliação seções dos trabalhos (metodologia, apresenta-
científica 24,25. ção de dados, discussão, resultados, introdução e
De todo modo, não se pode desprezar que, referências), identificando-se possíveis contradi-
em se tratando dos processos de trabalhos aca- ções, ambivalências e distinções moralizadoras
dêmicos atuais, a informação de alguns periódi- nas enunciações, buscando maior abrangência
cos é considerada de melhor qualidade do que a ao processo de localização de rubricas biopolí-
de outras, o que pesa na orientação da decisão ticas silenciadas ou tácitas, conforme apontado
médica. Nesse caso, a base do MEDLINE é am- em nosso referencial teórico 19,21,22.
plamente utilizada pelos médicos para recupera-
ção de resumos, ainda que seja pobre em relação
ao acesso livre aos textos completos 26. Resultados
Além disso, a capacidade crítica de busca,
escolha e leitura de artigos médicos tem sido Sistematização geral
objeto de expressiva literatura médica, orienta-
da pelos critérios da medicina baseada em evi- A busca resultou na recuperação de 78 referên-
dências: basicamente, todo bom periódico mé- cias. Os documentos classificados pela base de
dico dedica alguma seção à educação médica recuperação Scopus como “artigos” (42) e “revi-
pautada nas evidências clínicas. Porém, não é são” (33) corresponderam à quase totalidade das
raro que os próprios artigos sobre essa formação referências recuperadas (75/78). Foram localiza-
“crítica” naturalizem a hierarquia dos periódicos das duas referências categorizadas como “short
médicos, e podemos tomar como exemplo dis- survey”, que equivaleriam a seções, entre os peri-
to as contribuições de Al-Ateeg 27 e Eveillard & ódicos brasileiros, de nota de pesquisa ou artigo
Hannedouche 28. Na hierarquia das evidências, de opinião. Foi ainda recuperada uma referên-
muitas vezes a qualidade do periódico se trans- cia categorizada como “conference paper”, que
muta num critério sobre o que deve (e o que não se refere a um documento-síntese de uma reu-
deve) ser lido. nião da Organização Mundial da Saúde (OMS)
No presente trabalho, por meio dos critérios sobre o emprego de EAA para o tratamento
de busca anteriormente citados, foi recuperado da osteoporose.
um total de 80 referências. Dessas, duas foram Os resultados da verificação das enuncia-
excluídas da análise, uma vez que faziam refe- ções estão sumarizados na Tabela 1, em que se
rência ao emprego de glicocorticoides (que, por descreve a tipificação dos registros nos quais
vezes, são igualmente nomeados de steroids na opera o conteúdo dos resumos dos trabalhos,
língua inglesa). Assim, ao final da busca, selecio- inicialmente classificado em registros positivos
namos 78 referências, cujas informações de in- ou negativos.
dexação relativas à afiliação de autores e resumos Conseguiu-se classificar dessa maneira 76
foram analisadas. Todos os resumos estavam dentre as 78 referências, e duas delas não ope-
disponíveis em língua inglesa e foram impres- ravam nesta classificação, ou seja, uma delas
sos. Foi realizada a leitura e verificação temática, parecia ambivalente ao uso, em que a retórica
tendo sido, neste trabalho, priorizada a análise ora se mostrava a favor, ora contrária ao uso,
dos resumos. Caso o resumo não apresentasse as frente à análise de riscos. Em outra, a sequência
informações necessárias à análise, partia-se à re- argumentativa do texto não deixava claro o po-
cuperação e leitura da versão na íntegra do texto, sicionamento dos autores a respeito dos riscos à
seja por meio do acesso livre ao sítio eletrônico saúde relacionados ao consumo de anabolizan-
do próprio periódico, seja pelo Portal de Perió- tes. Entre as 76 referências classificadas em posi-
dicos (http://www.periodicos.capes.gov.br/) da tivo ou negativo, 32 apresentavam uma retórica

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O DISCURSO SOBRE ANABOLIZANTES E SAÚDE EM ARTIGOS DA ÁREA BIOMÉDICA 1135

Tabela 1 sexo masculino, sendo a eles destinada a discus-


são sobre estratégias preventivas. Por outro lado,
Tipificação dos registros em que opera o conteúdo
praticamente não há menções desse uso entre
dos resumos.
mulheres, como se a busca de um corpo forte e
de alto desempenho fosse uma marca distintiva-
Tipo do registro n mente masculina.
Considerado anteriormente uma lacuna no
Registro positivo do uso de EAA 32
desenvolvimento científico por alguns autores
Usos considerados “médicos” 7 4,5,6,7, nos últimos anos vêm sendo publicados
Usos emergentes 25 artigos voltados a esclarecer os padrões de uso
Registro negativo do uso de EAA 44 “não-médico” de EAA. Por outra via, são ainda
Usos “não-médicos” 43 comuns trabalhos que caracterizam possíveis
Usos emergentes 1 riscos à saúde desse uso, de modo a servirem de
Ambos os registros 1 alerta sobre seus perigos. Podemos citar, entre
Inclassificável 1 os riscos listados: colestase, que é a redução do
Total 78 fluxo da bile; risco cardiovascular aumentado;
e, caso haja compartilhamento de seringas (no
EAA: esteroides anabolizantes androgênicos.
caso de EAA administrados por via injetável),
risco aumentado de doenças infecciosas trans-
mitidas por esta via, como a hepatite B e a infec-
ção pelo HIV.
preponderantemente favorável ao uso de EAA, Seguindo a argumentação sobre os perigos
ou seja, operavam em um registro positivo do dos anabolizantes, na análise atual percebemos
uso de anabolizantes; de outro modo, 44 apre- uma relação estabelecida, na retórica do cor-
sentavam uma retórica preponderantemente pus, entre abuso de drogas e o emprego de EAA,
desfavorável ao uso de EAA. localizando-os como drogas de abuso e apre-
Confirmando o que já havia sido encontra- sentando-os, inclusive, como possível “porta de
do anteriormente, dentre os registros positivos, entrada” para outras drogas consideradas mais
sete caracterizavam e defendiam os usos con- “pesadas”. Na mesma direção criminalizadora,
siderados “terapêuticos”, já consagrados pela um aspecto novo da análise foi a recorrência de
literatura biomédica, isto é, reforçavam seu em- menção ao doping. Antes o doping era apresen-
prego naquelas circunstâncias em que é habi- tado nos artigos como uma ameaça ao esporte
tual a indicação clínica dos EAA. Em outras 43 “limpo”, isto é, era uma expressão que desvelava
referências os argumentos eram contrários aos uma problemática da presença dos anaboliza-
usos “não-médicos”, localizando-se entre os re- dos nos circuitos esportivos de competição. No
gistros negativos. Essa retórica desfavorável ao entanto, alguns artigos sugerem que o aumen-
uso “não-médico” é compatível com análises to de performance que cerca o uso de EAA, sob
anteriores 2,3. o signo de competição desleal, consiste em um
Chama a atenção, no entanto, a existência de “mau exemplo” exibido por atletas, e que pode
25 referências cujo texto se apresenta em defesa influenciar o uso por não-atletas.
dos usos mais recentes de EAA, o que constituiu Essa demonização do uso “não-médico”
uma novidade da análise atual, frente às obser- desdobra-se em ideias criativas para possíveis
vações citadas da literatura sobre o tema. Apenas propostas de intervenção. Aqui, cabe um exem-
uma das referências de registro negativo criticava plo: apesar de não termos realizado uma aná-
a emergência de novos usos clínicos para os este- lise cientométrica, é notável que o artigo mais
roides anabolizantes, tais como a “terapia de re- citado dentre os analisados – Sjöqvist et al. 30,
posição hormonal bioidêntica” e outros empre- de 2008, com 65 citações na época da pesquisa
gos de EAA da chamada medicina “anti-aging”, – propunha a criminalização da posse de EAA,
por exemplo. além de reverberar a associação atávica entre
agressividade, violência e masculinidade, con-
Enunciações sobre os usos de EAA forme já apontado. Denote-se também que o
artigo em questão foi publicado em uma revista
• A retórica de registro negativo de ampla divulgação na comunidade acadêmi-
ca médica (The Lancet), reconhecida por sua au-
Na mesma linha dos achados de estudos ante- toridade científica neste campo e, portanto, por
riores, também no material ora analisado o uso seu poder de formação de opinião no interior do
“não-médico” de EAA é apresentado como um ethos médico.
problema que ocorre, sobretudo, entre jovens do

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1136 Moraes DR et al.

• A retórica de registro positivo mações discursivas, o que nos é sinalizado pela


existência de hierarquias e disputas entre enun-
Como comentado, no exame de artigos realizado ciações e textos, ou mesmo pela autoridade de
anteriormente, poucos eram os registros positi- classificar os usos de EAA (em chancelados ou
vos ligados ao uso de anabolizantes. Esses esta- não; mais arriscados e menos arriscados; mas-
vam atrelados a usos emergentes, e muitas vezes culinos e femininos etc.) por meio do estatuto
em caráter ainda principiante, como no trata- de verdade que é conferido a estas enunciações,
mento de queimaduras extensas e em casos de sobretudo (mas não somente) por um arcabouço
politraumatismos, o que, à época, era justificado epidemiológico-probabilístico. Tais característi-
pelo dito efeito regenerador dos EAA, como nos cas, juntamente a seus efeitos discursivos, confi-
apresenta Demling 31. Para essas indicações clí- guram marcações do discurso médico 21,22.
nicas, não se percebia distinção de gênero. Destacamos ainda, como parte da constru-
Entretanto, a partir do direcionamento da ção do discurso sobre anabolizantes, assertivas
busca atual, percebemos que, além de a retóri- de conteúdo fortemente moral, que tacham o
ca defensora dos usos emergentes ter se tornado uso de EAA como um “mau exemplo”. Isso vai ao
mais frequente, ela agora também se apresenta encontro da análise de Møller 33, que descreveu
com marcas distintivas de gênero. Ao verificar- o processo de depreciação do doping, ocorrido
mos a Tabela 1, entre as recorrências e observa- com o desenvolvimento do campo das ciências
ções sobre os registros positivos do uso de EAA do esporte, na medida em que esta passou a se
(presentes em 32 dos 78 resumos e textos ana- ancorar na retórica de evitação dos riscos à saú-
lisados) nota-se que houve predominância de de, sobretudo da medicina desportiva. Assim,
menções aos usos emergentes (25), positivando também de argumentos moralizantes e culpabi-
seu uso, com destaque para a discussão do uso lizadores se vale o discurso médico em torno dos
de anabolizantes androgênicos como adjuvantes riscos (neste caso, de anabolizantes), conforme
no tratamento da osteoporose em mulheres. Vale já expuseram alguns autores a respeito de outros
ressaltar que, ainda que a maior parte dos auto- tipos de riscos à saúde 23,34,35.
res tenha apontado haver poucas “evidências clí- No discurso médico sobre EAA, a cisão entre
nicas” sobre a eficácia desses novos usos, vários os usos considerados “médicos” e “não-médicos”
deles o recomendam ainda assim, a fim de que é uma constatação quase intuitiva, quando de
sejam produzidas tais evidências. um primeiro olhar sobre o corpus. Parece tam-
A respeito dos usos emergentes em homens, bém que essa classificação é suficientemente
chama a atenção que os efeitos de aumento de estável, em virtude do silêncio de críticas sobre
massa e de força muscular sejam considerados o “uso médico”, uma vez que não observamos
desejáveis, uma vez que melhorariam (leia-se registros negativos a este respeito (Tabela 1). É
retardariam) as repercussões do envelhecimen- curioso que, apesar do amplo desenvolvimento
to. Para esses autores, isso seria o mesmo que de novos medicamentos nas últimas décadas,
“melhorar a qualidade de vida” das pessoas em não tenha havido expressivas mudanças nos pro-
processo de senescência. O uso de hormônios tocolos terapêuticos quando o assunto é “bom-
é mencionado para mulheres e homens, mas bar”, por meio do uso de anabolizantes, pessoas
a ênfase sobre a vantagem do uso de EAA em que enfrentam problemas graves de saúde, aos
homens se coloca, sobretudo, quando se trata quais estão ligadas a quase totalidade de indica-
de fortalecer sua virilidade. Isso foi observado ções clínicas consagradas.
mesmo em estudos que não se apresentavam Esse achado merece ainda maior aprofunda-
claramente sob o rótulo “anti-aging” ou, ainda, mento analítico. Por um lado, podemos conside-
que não mencionavam literalmente as terapias rar, segundo Fleck 36, a perspectiva não-médica
antienvelhecimento. como uma protoideia. Ele acentua que não have-
ria uma produção espontânea de conceitos. Isso
se dá porque novas pesquisas, em geral (mas não
Discussão sempre), partem de protoideias, que podem ter
origem em noções morais, religiosas, filosóficas,
A análise preliminar das enunciações permitiu antes de assumir um estatuto científico. Claro
identificar alternativas para a construção de um que protoideias são vagas e, portanto, seu enten-
corpus para a pesquisa em questão, orientando dimento científico não pode ser considerado ver-
possíveis focos de direcionamento da análise do dadeiro ou falso. Mas, podem se tornar um ponto
discurso médico sobre os usos de anabolizantes. de partida para a pesquisa.
Seguindo as orientações de Iñiguez 32, podemos Por outro lado, a ausência de críticas sobre
compreender o material examinado como re- os usos terapêuticos remete à discussão que faz
presentativo do discurso médico e de suas for- Bruno Latour 20, quando, também se utilizan-

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O DISCURSO SOBRE ANABOLIZANTES E SAÚDE EM ARTIGOS DA ÁREA BIOMÉDICA 1137

do de exemplos do campo da saúde, comenta óssea pela osteoporose. Na esteira da medicali-


que, em se tratando da construção da retórica de zação do corpo feminino, o uso de EAA no tra-
artigos científicos, uma vez construído um fato tamento adjuvante da osteoporose atua do mes-
(científico) consumado, este se torna uma caixa mo modo que a terapia de reposição hormonal,
preta. Se compararmos os “usos médicos” a um funcionando consoante as mesmas metáforas
fato consumado latouriano, é compreensível que de uma suposta fragilidade feminina natural 37,
não haja críticas a eles. De outro modo, por en- exacerbada pelo processo de senescência. É in-
quanto os usos emergentes operam menos no teressante que, por intermédio dos critérios de
sentido de cura para doenças, e mais no sentido busca utilizados neste trabalho, não tenhamos
de tecnologias de aprimoramento 18, cujo uni- localizado o uso de andrógenos em mulheres,
verso terapêutico não é necessariamente voltado já constante das modalidades de tratamento do
a entes nosológicos formalmente definidos. Isso chamado transtorno de desejo sexual hipoativo
nos faz perguntar: se os usos emergentes pas- – segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de
sarem a configurar novas caixas pretas, haverá Transtornos Mentais (DSM) IV-RT ou, agora no-
críticas a estes empregos emergentes de EAA meadamente designado a mulheres, o transtorno
no futuro? sexual feminino de interesse/excitação, de acordo
É preciso lembrar que as caixas pretas são au- com a quinta edição do DSM 38.
toevidentes; os fatos consumados, naturalmente Suscitamos que, talvez, o uso de testosterona
científicos (ou cientificamente naturais). Toda- em mulheres não apareça comumente relacio-
via, o discurso médico sobre EAA é contraditó- nado à prevenção (termo utilizado na busca),
rio: um dos principais argumentos que sustenta mas possivelmente atrelado ao tratamento me-
o banimento do “uso não-médico” é a ausência dicamentoso de um transtorno já estabelecido.
de evidências clínicas, portanto científicas, que Já o uso de esteroides em homens idosos consis-
garantam o emprego seguro destas substâncias; te em uma tecnologia de aprimoramento que os
porém, no caso dos usos emergentes, a falta de mantém viris, além de não oferecer os mesmos
evidências é justamente o motor que impulsiona perigos do uso em homens jovens que, no dis-
seu apoio, já que, se os EAA nunca forem utili- curso médico, seriam naturalmente violentos,
zados com este fim, jamais haverá a produção sobretudo quando submetidos à influência dos
de evidências clínicas. Porém, são os idosos, e hormônios masculinos. Conforme aponta Celia
não os jovens, que estão autorizados a se valer Roberts 39, esse redescobrimento da testostero-
dessas tecnologias de aprimoramento. Isso, se na (e seus atuais análogos sintéticos) como men-
forem mantidos sob condições controladas, em sageiros do sexo liga-se a uma configuração con-
desenhos de estudos bem concebidos, que for- temporânea de crise das masculinidades e da
neçam os dados necessários à produção de uma ampliação da expectativa de vida, sob a ascen-
equação científica de “riscos versus benefícios” dência de modos biopolíticos de sociabilidade.
moral e clinicamente justificável.
Além disso, expusemos as distinções de gê-
nero que encontramos no discurso médico sobre Considerações finais
os EAA. Em primeiro lugar, o “uso não-médico”
aparece como um perigo para homens jovens, ao No discurso médico sobre os usos de EAA, a retó-
passo em que o consumo entre mulheres é silen- rica dos textos examinados deixa clara as frontei-
ciado. Em segundo lugar, os registros positivos ras demarcadas pelo biopoder e pela biopolítica,
dos usos emergentes miram os homens idosos, que colocam a “vida” no centro de estratégias po-
sendo apresentados como elixires para a aura líticas e que, seguindo a contribuição de Michel
negativa que ronda o processo de envelhecimen- Foucault 40,41,42, imprimem modos de disciplina-
to. Assim, os anabolizantes serviriam como re- mento individual, por um lado, e de controle re-
dentores da virilidade perdida, sustentando uma gulatório da população, por outro. Essas frontei-
masculinidade em que a penetração está ligada ras possuem várias formas de se apresentarem: a
à performance de um corpo forte, musculoso e demarcação abjeta 43 da construção farmacoló-
heterossexual. Não é por acaso que diversas pro- gica de corpos masculinos jovens “bombados”,
pagandas de grupos da medicina antienvelheci- uma vez que ela não foi chancelada pela biome-
mento apresentam imagens de homens grisalhos dicina, ao menos por ora; o espraiamento de sen-
abraçados a mulheres atraentes, muitas vezes tidos do doping para além do circuito desportivo,
mais jovens. que delineia tendências de criminalização.
No entanto, para as mulheres, o corpus anali- De outro modo, os usos emergentes de EAA
sado não apresentou denotações de uso na saúde ampliam os horizontes, para os idosos, dessa
sexual, mas os empregos emergentes apontam mesma construção: seja para evitar que o corpo
os EAA como importantes na reparação da perda feminino frágil se espatife em cacos, seja man-

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tendo um padrão viril de corpos envelhecidos se- dos denotam principalmente a função normati-
xualmente empinados. Os empregos emergentes zadora da medicalização.
também compõem uma eficiente estratégia bio- Nesse sentido, as apropriações do conceito
política, se consideramos que hoje a longevidade de risco, tendo como horizonte a classificação
transformou-se em um bem desejável 44. Aqui, é dos usos de EAA em “médicos” e “não-médicos”,
importante mencionar que, embora as expres- servem de pilar para erigir suas fronteiras biopo-
sões “jovens bombados” e “velhos empinados” líticas, que possuem como revestimento o argu-
não tratem de categorias êmicas, elas intitulam mento moral de evitação dos riscos à saúde. E,
este trabalho por evocarem a perspectiva ideo- apesar de, no campo da saúde, esse argumento
lógica (e culpabilizadora e/ou moralizante) do ser construído cientificamente sob a forma de
discurso sobre os riscos dos EAA, encontrada em evidências clínicas, sua esperada neutralidade
nosso corpus. enfraquece diante das contradições que cercam
Esses achados mostram que a análise de ar- as antigas e as recentes indicações terapêuticas
tigos da área biomédica parece fornecer boas de EAA. Tais contradições desvelam possíveis pa-
pistas para o estudo do discurso médico. Para péis que os jogos de interesse desempenham na
nós, eles podem ser considerados como dife- área acadêmica e ajudam a desconstruir a cren-
rentes aspectos dos processos de medicalização ça em um fazer científico que ainda seguiria a
da sociedade. No entanto, dada a especificidade ideia mertoniana de “desinteresse” como uma
deste trabalho e tendo em vista a variedade de das características das práticas do cientista, cuja
acepções do termo “medicalização”, conforme produção de objetos não se contamina por di-
as contribuições de Zorzanelli et al. 45, cabe-nos mensões políticas e ideológicas.
sinalizar que os elementos discursivos identifica-

Resumen Colaboradores

Nos acercamos al discurso médico sobre el uso de este- D. R. Moraes, L. D. Castiel e A. P. P. G. A. Ribeiro contribu-
roides anabólicos androgénicos (EAA), drogas sintéti- íram igualmente no desenvolvimento do artigo.
cas, cuyo abuso se ha caracterizado como un problema
de salud pública, que ha operado bajo una oposición
entre sus usos “médico” y “no-médico”. Desde un enfo- Agradecimentos
que cualitativo, se realizó un análisis de los enuncia-
dos en 76 artículos biomédicos, entre 2002 y 2012. Por Gostaríamos de agradecer a valiosa contribuição que as
un lado, y entre los jóvenes, prevalece un discurso ba- sugestões dos pareceristas trouxeram ao texto.
sado en la prohibición de usos “no médicos” de EAA; y
por otro lado, dirigiéndose a las personas de edad, las
fronteras de usos clínicos tienden a expandirse, inde-
pendientemente de las contradicciones que desestabi-
lizan argumentos de prevención de riesgos para la sa-
lud. Percibimos marcas moralizantes biopolíticas, ya
sea a través de las distinciones de género, ya sea bajo
el signo de la criminalización del consumo de drogas.

Anabolizantes; Riesgo Sanitario; Revisión

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O DISCURSO SOBRE ANABOLIZANTES E SAÚDE EM ARTIGOS DA ÁREA BIOMÉDICA 1139

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