You are on page 1of 10

INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM ÀS CRIANÇAS COM ANEMIA

FALCIFORME NO AMBIENTE HOSPITALAR

Anderson Vinícius Bastos MOTA1


Lílian Cristine Moreira NEVES2
Sara Cleane Anjos BENTO3
Ana Augusta Maciel de SOUZA4
Patrick Leonardo Nogueira da SILVA5
Helder Leone Alves de CARVALHO6
1
Enfermeiro pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros/FIPMoc. Montes Claros (MG), Brasil. E-mail:
nogueira_patrick@yahoo.com.br
2
Enfermeira pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros/FIPMoc. Montes Claros (MG), Brasil. E-mail:
liliancmn@hotmail.com
3
Enfermeira pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros/FIPMoc. Montes Claros (MG), Brasil. E-mail:
saracleanebento@yahoo.com.br
4
Enfermeira, mestre em Ciências, Docente do departamento de Enfermagem das Faculdades Integradas Pitágoras de
Montes Claros/FIPMoc, Faculdades Santo Agostinho/FASA e Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES.
Montes Claros (MG), Brasil. E-mail: anamaciel@uol.com.br
5
Enfermeiro, especialista em Saúde da Família e Didática e Metodologia do Ensino Superior, Pós-Graduando em
Enfermagem do Trabalho pela Faculdade de Guanambi/FG. Guanambi (BA), Brasil. E-mail:
patrick_mocesp70@hotmail.com
6
Médico, especialista em Pediatria, Docente do departamento de Medicina da Universidade Estadual de Montes
Claros/UNIMONTES. Montes Claros (MG), Brasil. E-mail: helderleone@hotmail.com

Recebido em: 10/06/2015 - Aprovado em: 04/11/2015 - Disponibilizado em: 01/12//2015

RESUMO:
Objetivo: identificar as intervenções de enfermagem prestadas a crianças com anemia falciforme no ambiente
hospitalar. Método: trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa realizada com oito
enfermeiros atuantes na pediatria e/ou pronto atendimento de um hospital de Minas Gerais, Brasil. Este estudo foi
realizado durante o período de maio a junho de 2011. Utilizou-se um formulário de entrevista semiestruturado para a
coleta de dados. Os dados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo nº 2447/2011. Resultados: emergiram quatro categorias de análise, sendo elas:
reconhecendo a criança com anemia falciforme; revelando os fatores desencadeantes das crises dolorosas; acolhendo e
cuidando das crianças com anemia falciforme; Orientando a família e a criança. Conclusão: cabe ao enfermeiro,
portanto, além de intervir durante as crises dolorosas, educar a criança e sua família no sentido de prevenir as crises,
perceber seus sinais a fim de evitar a sua ocorrência.
Descritores: Anemia falciforme; Criança; Dor; Enfermagem.

NURSING INTERVENTIONS FOR CHILDREN WITH SICKLE CELL


DISEASE IN HOSPITAL ENVIRONMENT
ABSTRACT
Objective: to identify the nursing interventions provided to children with sickle cell anemia in hospital environment.
Method: this is a descriptive and exploratory qualitative study conducted with eight nurses working in pediatrics and/or
emergency room of a hospital in Minas Gerais, Brazil. This study was conducted during the period May-June 2011. We
used a semi-structured interview form for collecting data. Data were analyzed using content analysis. The research
project was approved by the Research Ethics Committee, Protocol No. 2447/2011. Results: four analysis categories
emerged, namely: recognizing the child with sickle cell anemia; revealing the triggering factors of painful crises;
welcoming and caring for children with sickle cell anemia; Guiding the family and the child. Conclusion: it is up to the
nurse, so in addition to intervene during the painful crises, educate the children and their families in order to prevent
crises, realize their signs in order to prevent its occurrence.
Descriptors: Anemia Sickle Cell; Child; Pain; Nursing.

581
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
INTRODUÇÃO tornando o controle da dor cada vez mais
difícil (NAOUM; NAOUM, 2004).
A anemia falciforme (AF) é a doença Torna-se necessário conhecer os
genética de maior prevalência no Brasil, processos fisiopatológicos da doença e fatores
sendo considerada como um problema de desencadeantes das crises, assim como as
saúde pública (CANÇADO; JESUS, 2013). intervenções a serem realizadas pela equipe a
Segundo estimativas da Organização Mundial fim de evitar a ocorrência das crises.
de Saúde (OMS), a cada ano nascem no Brasil Portanto, este estudo objetivou
cerca de 3.500 crianças portadoras de doença identificar as intervenções de enfermagem
falciforme, devido complicações diretamente prestadas a crianças com AF, tanto na
relacionadas à AF, 20% delas não atingirão emergência quanto na admissão hospitalar.
cinco anos de idade. O diagnóstico precoce e
o tratamento adequado representam papel MÉTODO
fundamental na redução da morbidade e
mortalidade destas crianças (BRASIL, 2006; Trata-se de um estudo descritivo,
ROCHA, 2004). exploratório, com abordagem qualitativa
A qualidade de vida é determinada realizada nos setores de pronto atendimento e
conforme a herança genética e também de pediatria do Hospital Universitário Clemente
fatores sociais, alimentação, prevenção de de Faria/HUCF localizado na cidade de
infecções e assistência de saúde. Montes Claros/MG. A amostra do estudo foi
Determinados pacientes apresentam evolução composta por oito enfermeiros que trabalham
tranquila, ou até assintomática da doença, na pediatria e/ou atuam no pronto
outros são internados, por conta das atendimento. Os critérios de inclusão
complicações (BATISTA, 2008). estabelecidos para participar da pesquisa
Frequentemente, o portador de doença foram: ser enfermeiro; trabalhar no pronto
falciforme cursando com dor são atendidos atendimento/pediatria; aceitar participar da
nos serviços de emergência, por uma equipe pesquisa através da assinatura do Termo de
médica e de enfermagem que não estão Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
familiarizados com o tratamento adequado da A amostra foi intencional e
dor e não priorizam a queixa do paciente, determinada por saturação, ou seja, as
relevando a dimensão real do quadro álgico. informações foram coletadas até que houvesse
Esse comportamento, por muitas vezes, repetições em seu conteúdo e informações
aumenta a angústia do paciente e reduz a novas não fossem significativas. A coleta dos
expectativa em relação ao tratamento, dados foi realizada no período de maio a
junho de 2011 por meio de uma entrevista
582
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
semiestruturada. Após a coleta dos dados, a alguns tenham demonstrado conhecimento
análise do conteúdo foi feita de forma limitado sobre o assunto, uma vez que,
sistemática, buscando obter respostas às quando indagados a respeito das principais
indagações do estudo, observando o que é características da AF, os mesmos referiam,
repetitivo, bem como procedendo à somente, às manifestações clínicas mais
interpretação contextualizada, confrontando comuns apresentadas pelas crianças
os dados obtidos com referencial teórico. portadoras de AF atendidas no serviço, não
A análise do conteúdo permitiu a explicando os motivos pelos quais estas
construção das seguintes categorias temáticas: surgem.
“Reconhecendo a criança com anemia Anemia falciforme é uma doença
falciforme”; “Revelando os fatores genética, hereditária, né?
desencadeantes das crises dolorosas”; Caracterizada por uma
“Acolhendo e cuidando das crianças com anormalidade da hemoglobina, a
anemia falciforme”; “Orientando a família e hemácia fica em forma de foice, e
as crianças”. As categorias foram causa é oclusão dos vasos na
apresentadas, discutidas e ilustradas com falas circulação e causando uma
extraídas dos discursos dos/as enfermeiros/as hipóxia desses locais, né? (E2)
participantes. A hemácia passa por um período
Obedecendo aos critérios definidos na de hipóxia e tem uma deformação
Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de inicial que dificulta ela captar o
Saúde (CNS), sobre pesquisa envolvendo oxigênio. Então ela perde a forma
seres humanos, o projeto deste estudo foi normal dela e fica uma forma que
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa dificulta mais ela circular nos
da Universidade Estadual de Montes Claros vasos, né? (E6)
(CEP UNIMONTES) sob o parecer As crianças que chegam aqui, é,
consubstanciado nº 2447/2011. na internação e tratamento vem
com sintomas de anemia, né?
RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma baixa na hemoglobina é
crises álgicas e já ocorreu um
Reconhecendo a criança com anemia caso de retirada do baço devido
falciforme sequestro esplênico né? (E1)
A AF é uma hemoglobinopatia, onde
Verificou-se que, os profissionais uma cadeia anormal de hemoglobina (Hb S) é
entrevistados detêm conhecimento acerca dos produzida. É uma anemia hereditária
processos fisiopatológicos da doença, embora caracterizada pela presença de eritrócitos em
583
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
forma de foice e pela hemólise acelerada vezes impactando diretamente a qualidade de
devida à substituição de um único aminoácido vida do paciente (LOBO; MARRA; SILVA,
da cadeia beta da hemoglobina. Os indivíduos 2007).
homozigotos afetados apresentam anemia Com relação à crise do sequestro
grave (BRANDEN, 2000). O portador de AF esplênico, os principais sinais clínicos
mantém-se sempre anêmico com valores de constituem-se no aumento súbito do baço e na
Hemoglobina entre 7,5 e 10,6 g/100ml (IVO; redução intensa da hemoglobina, podendo
CARVALHO, 2003). evoluir para choque hipovolêmico. Cabe
Com relação às manifestações clínicas ressaltar que o sequestro esplênico agudo é a
frequentemente apresentadas pelas crianças segunda causa mais comum de morte em
portadoras de AF, sob a ótica dos crianças com AF menores de cinco anos de
profissionais entrevistados destacam-se: idade. Esta crise pode ocorrer nos primeiros
anemia, entupimento dos vasos, padrão meses de idade, sendo menos frequente após
respiratório alterado, desnutrição, os seis anos. A etiologia ainda é
desidratação e a dor. desconhecida, contudo, infecções virais
Chegam pra gente pacientes na parecem preceder à maioria dos episódios
fase aguda, queixando de dores (BRASIL, 2009).
fortes, né? Chegam fracos, A crise do sequestro esplênico é um
também, padrão respiratório quadro agudo extremamente grave, a criança
prejudicado (E4). deve ser levada imediatamente para a
Dor, palidez, desnutrição, emergência. Trata-se da retenção de grande
desidratação são os que mais volume de sangue dentro do baço, de forma
chegam aqui pra gente. (E7) repentina e abrupta. Verifica-se palidez
Tem crises álgicas, né? Por causa intensa com anemia aguda, prostração e
do formato da hemácia, aumento do abdômen. É importante que a
entupimentos dos vasos. (E5) enfermagem ensine os pais de crianças
O portador de AF apresenta dor menores de cinco anos a medir o tamanho do
geralmente devido a episódios de vaso- baço de seus filhos com doença falciforme e,
oclusão, que ocorrem devido à obstrução dos em caso de suspeita de sequestro esplênico,
vasos sanguíneos pelas células falciformes, levar para hospital com maior nível de
ocluindo os capilares, causando infartos e complexidade (KIKUCHI, 2007).
disfunção dos órgãos acometidos
(BRANDEN, 2000). As crises álgicas
ocorrem inesperadamente, representam o
quadro mais dramático da doença, muitas
584
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
Revelando os fatores desencadeantes das normalmente desencadeiam a
crises dolorosas crise de falcização da hemácia,
né? (E6)
A crise dolorosa pode expressar-se Geralmente a incidência das
após episódio infeccioso, exposição ao frio, a crises álgicas elas aumentam com
stress físico ou emocional. Ademais, febre, a baixa de temperatura, durante o
desidratação, acidose, altitude, sono e apneia, frio a gente vê mais internações.
alterações climáticas e fatores psicológicos, (E1)
podem desencadear episódios de vaso-oclusão A desidratação e a hemoconcentração
e consequentemente a dor. Na maioria dos precipitam as crises vaso-oclusivas. Devido à
casos, entretanto, não é possível a incapacidade de concentrar a urina e
identificação dos fatores etiológicos consequentemente perda excessiva de água,
(BRASIL, 2009). os indivíduos com doença falciforme são
Observa-se que as falas dos particularmente suscetíveis à desidratação.
enfermeiros condizem com a afirmação Sendo Assim, a manutenção de boa
acima, uma vez que foram mencionados hidratação é importante, especialmente
vários desses fatores, como o estresse, os durante episódios febris, calor excessivo, ou
exercícios físicos intensos, as infecções, a situações que apresentem diminuição do
desnutrição, a desidratação e as variações apetite (BRASIL, 2009).
climáticas (frio). Dentre os fatores mais É importante o conhecimento da
citados por esses profissionais encontram-se à doença e dos fatores desencadeantes das
exposição a temperaturas frias e a crises, os mesmos devem ser compreendidos
desidratação. pelo enfermeiro e sua equipe de forma que
Fatores climáticos, né? Pode produza efeitos positivos e garanta uma
desencadear também uma época assistência de qualidade ao paciente (SILVA;
de frio. Aspecto psicológico, MARQUES, 2007).
algumas situações de estresse
podem também ta desencadeando Acolhendo e cuidando das crianças com
alguma crise dolorosa, né? anemia falciforme
Exercícios físicos intensos.
Desidratação é também. (E2) As intervenções de enfermagem
Os principais fatores é a questão frequentemente citadas pelos enfermeiros do
da desidratação, né? (E4) pronto atendimento foram à hidratação e a
Quadro de desidratação, período analgesia. Entretanto, duas profissionais se
de frio, infecções, são fatores que destacaram ao salientar a preocupação com o
585
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
acolhimento e conforto da criança com AF. O O papel do enfermeiro na doença
mesmo não foi observado nos demais relatos. falciforme consiste em ajudar aliviar a dor do
Aqui no pronto socorro vamos doente, administrando as intervenções
fazer o primeiro atendimento, necessárias para aliviá-la, sejam intervenções
administração de, conforme farmacológicas ou não farmacológicas, bem
prescrição médica, de como, avaliando a eficácia dessas
medicamentos analgésicos, né? intervenções, monitorando os efeitos adversos
Procurar um ambiente e servindo como interlocutor quando as
confortável, na medida do prescrições não são eficazes no alívio da dor.
possível, cuidar do conforto dele. Cabe ressaltar, também, que o enfermeiro
(E4) serve como educador para o paciente e a
A gente acolhe o paciente e família, a fim de torná-los capazes de manejar
procura um local mais as intervenções prescritas quando apropriadas
confortável para o paciente ficar, (SILVA; MARQUES, 2007).
tenta, na maioria das vezes, ser o Quando comparadas às intervenções
mais rápido possível, né? O de enfermagem realizadas na pediatria e no
médico prescreve a analgesia, né? pronto atendimento, percebe-se que, os
Hidratando o paciente e cuidados dispensados, na maioria das vezes,
orientando a mãe sobre esse às crianças em crises álgicas, no pronto
cuidado. Procura tratar as crises atendimento, se limitam à hidratação e
álgicas que ele tem no hospital, o analgesia, enquanto que na pediatria utilizam-
tratamento mais rápido. (E5) se outros recursos além desses já descritos,
A atitude acolhedora do profissional é como a aplicação de calor, estimulação da
a chave para identificação dos motivos de deambulação, na medida do possível, bem
busca por atenção e, consequentemente, para como a inserção de atividades recreativas
intervenções mais resolutivas. O objetivo é durante a internação hospitalar.
que profissional consiga escutar o usuário, As intervenções são auxilio no
perceber as diversas dimensões relacionadas tratamento da algia, é uma
ao motivo da procura por atendimento e aplicação de calor, elevação dos
identificar risco e vulnerabilidade, de maneira membros, administração de
a orientar, priorizar e decidir sobre os medicamento, né? De analgésicos
encaminhamentos necessários para a e a manutenção da soroterapia.
resolução do problema do paciente (BRASIL, (E1)
2009). Geralmente nossas crianças
internam com as crises dolorosas,
586
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
então a princípio um cuidado de de outras categorias, que consideram somente
enfermagem é tá identificando os a questão custo, ignorando a real necessidade
locais que estão manifestando quanti-qualitativa de recursos humanos para o
estas dores, é administrando os desenvolvimento dessa assistência
analgésicos, né? De acordo com (CAMPEDELI et al., 1987). É por esse
as prescrições médicas, tentando motivo que a lotação de pessoal de
aliviar as dores, também, com enfermagem é hoje uma preocupação
compressas mornas nos locais de constante dos enfermeiros administradores e
manifestação da dor e a gente dos pesquisadores dessa área (ANTUNES;
também tenta, na medida, que a COSTA, 2003).
criança possa tá movimentado, é, Outra questão abordada foi a possível
que ela participe das atividades simulação de uma crise álgica por parte do
da pedagogia hospitalar. (E2) paciente falcêmico para receber determinado
Cabe ressaltar que, o quadro restrito de medicamento, ou, a subestimação da dor do
funcionários é uma das dificuldades outro pela equipe de enfermagem.
encontradas pelos profissionais do pronto O paciente, às vezes, simula uma
atendimento para garantir uma assistência crise ou a pessoa da enfermagem
integral a essas crianças, segundo uns dos pensa que ta simulando e, às
entrevistados. vezes, tem uma resistência a dar
Como o pronto socorro a gente esse analgésico. (E6)
tem um quadro de funcionários A dor não pode ser subestimada, deve-
restritos, né? Não tem como você se lembrar de que cada pessoa tem um limiar
dá uma assistência integral a de dor, alguns podem ficar agitados, chorando
pessoa, né? Ficar um profissional alto e mesmo gritando. Deve-se considerar
por conta, né? Pra às vezes fazer também que, além da dor, haverá ainda o
uma massagem periférica, né? estresse causado pelo ambiente hospitalar e a
(E8) lembrança da dor mais forte (KIKUCHI,
A Resolução COFEN nº 168/1993 2007).
determina que cabe ao Enfermeiro
Responsável Técnico da instituição garantir Orientando à família e a criança
os recursos humanos necessários à assistência
de enfermagem e à segurança do paciente Apesar dos profissionais do pronto
(COREN, 1997). Contudo, a execução e atendimento relatarem que não fornecem
decisão sobre o recrutamento desse pessoal orientações à criança e/ou a seus familiares
são realizadas, muitas vezes, por profissionais durante a permanência destes no setor, nem
587
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
mediante a liberação do paciente para casa, sequestro esplênico; sobre a importância de
percebeu-se que, a maior parte dos ingerir líquido, e por fim, orientar quanto aos
profissionais reconhece a importância das cuidados de enfermagem com manuseio,
orientações de enfermagem à criança e a sua diluição, conservação de medicamentos para
família, tanto em nível ambulatorial quanto evitar contaminação (KIKUCHI, 2007).
após admissão hospitalar. É importante orientar paciente e mães
Dificilmente damos orientações da necessidade de procurar atendimento
aqui, eles entram para a clínica e médico sempre que houver febre persistente;
lá recebem as orientações pra dor torácica e dispneia; dor abdominal,
casa. (E4) náuseas e vômito; cefaleia; letargia ou
Aqui no pronto socorro a gente alterações de comportamento; aumento do
não da nenhuma orientação. A baço. Além disso, para auxiliar na obtenção
criança consulta e se precisar do bem estar social e mental, o profissional
internar ela interna; se não deve educá-los acerca da doença e instruí-
precisar ela não fica aqui no losacerca do acompanhamento ambulatorial,
pronto socorro. Quando ela é sendo assim, visitas a múltiplos centros
internada na pediatria, de lá ela devem ser desencorajadas (BRASIL, 2009).
recebe a alta e recebe as
orientações, quando ela não é CONSIDERAÇÕES FINAIS
internada ela não recebe
nenhuma orientação e ela vai Compreender a doença, bem como dos
embora. (E5) fatores desencadeantes das crises dolorosas
É mais voltado pra esses fatores são de extrema relevância para subsidiar as
desencadeantes, né? Ter mais ações de enfermagem, garantindo assim, a
cuidado com períodos de inverno, sobrevida da criança. O conhecimento
com infecções, né? Deixar a limitado dos enfermeiros entrevistados acerca
criança sempre bem aquecida é da AF, bem como o déficit nas orientações de
fazer uma ingesta hídrica enfermagem à criança com essa doença e sua
adequada, né? (E6) família, deixa explicito a necessidade de se
Deve-se orientar a família que, em capacitar e formar profissionais capazes tanto
razão de mecanismos compensatórios de atuar durante as crises dolorosas quanto de
internos, as pessoas com doença falciforme educar a família e/ou a criança de modo a
devem ser adaptadas a conviver com níveis evitar a ocorrência dessas crises, orientando-
mais baixos de hemoglobina; elaborar uma os como evitá-las e perceber seus sinais.
alimentação equilibrada; orientar a respeito do
588
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
O enfermeiro possui um papel eventos agudos em doença falciforme.
fundamental no tratamento à criança com AF, Brasília: ANVISA; 2009.
pois está em contato direto com o paciente e
sua família, logo, poderá conhecer e CAMPEDELI, M. C. et al. Cálculo de pessoal
compreender melhor suas necessidades e de enfermagem: competência da enfermeira.
anseios, essenciais para garantir uma Revista da Escola de Enfermagem da USP.
assistência de enfermagem de qualidade a São Paulo, v. 21, n. 1, p. 3-15, 1987.
esses pacientes e suas peculiaridades.
CANÇADO, R. D.; JESUS, J. A. A doença
REFERÊNCIAS falciforme no Brasil. Revista Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia. São Paulo, v.
ANTUNES, A. V.; COSTA, M. N. 29, n. 3, p. 204-206, 2013.
Dimensionamento de pessoal de enfermagem
em um hospital universitário. Revista Latino- COREN. CONSELHO REGIONAL DE
Americana de Enfermagem. São Paulo, v. ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS.
11, n. 6, p. 832-839, 2003. Resolução COFEN nº 168/1993 de 06 de
outubro de 1993. Legislação e Normas.
BATISTA, T. F. Con(Vivendo) com a Belo Horizonte (MG); 1997.
anemia falciforme: o olhar da enfermagem
para o cotidiano de adolescentes IVO, M. L.; CARVALHO, E. C. Assistência
[Dissertação]. Salvador (BA): Escola de de enfermagem a portadores de anemia
Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, falciforme, à luz do referencial de Roy.
2008. Revista Latino-Americana de
Enfermagem. Ribeirão Preto (SP), v. 11, n.
BRANDEN, P. S. Enfermagem materno- 2, p. 192-198, 2003.
infantil: enfermagem prática. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Reichman e Affonso; 2000. KIKUCHI, B. A. Assistência de enfermagem
na doença falciforme nos serviços de atenção
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de básica. Revista Brasileira de Hematologia e
Anemia Falciforme para Agentes Hemoterapia. São Paulo, v. 29, n. 3, p. 331-
Comunitários de Saúde. Brasília; 2006. 338, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agencia LOBO, C.; MARRA, V. N.; SILVA, R. M. G.


Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Crises dolorosas na doença falciforme.
Revista Brasileira de Hematologia e
589
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015
Hemoterapia. São Paulo, 29, n. 3, p. 247-
258, 2007.

NAOUM, P. C.; NAOUM, F. A. Doenças das


células falciformes. São Paulo: Sarvier;
2004.

ROCHA, H. H. G. Anemia falciforme. Rio


de Janeiro: Rubio; 2004.

SILVA, D. G.; MARQUES, I. R.


Intervenções de enfermagem durante crises
álgicas em portadores de anemia falciforme.
Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília,
v. 60, n. 3, p. 327-330, 2007.

590
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 581-590, 2015

You might also like