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Ca r t a d e P o si c i o n a m e n t o d o Co n se l h o F e d e r a l

d e P sic ol ogia
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da
descriminalização e legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa
dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das mulheres faz parte da defesa
dos seus Direitos Humanos. A autonomia das mulheres sobre seus
corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir
ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre
as situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e
psicológica, que provocam intensas situações de sofrimento psíquico, como é
o caso da manutenção de uma gravidez que não foi escolhida pela gestante.
Atualmente, o aborto no Brasil é crime previsto no artigo 128, incisos I e II do
Código Penal Brasileiro. A lei data da década de 20 e autoriza a interrupção da
gestação em apenas dois casos: risco de vida para a mãe e/ou estupro (em
2012 foi legalizado o aborto no caso do feto ser anencéfalo).

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Guttmacher,


nos Estados Unidos, chamado Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo
Mundo de 1995 a 2008, revelou que as interrupções de gravidez sem
assistência clínica – ou seja, de risco e clandestinas – aumentaram de 44 para
49 por cento e que 220 em cada cem mil mulheres acabam morrendo,
principalmente no continente africano. O estudo foi publicado no periódico The
Lancet.

Segundo o estudo, em todo o mundo, os abortos inseguros foram a causa de


220 mortes por 100 mil procedimentos em 2008 – 35 vezes mais do que a taxa
de abortos legais nos Estados Unidos – e de quase uma em cada sete do total
de mortes maternas. As regiões que correm mais riscos de aborto inseguro são
a América Central e do Sul, além da África Central e ocidental, onde 100% de
todas as interrupções da gravidez foram inseridas nesta categoria. Anualmente,
cerca de 8,5 milhões de mulheres em países em desenvolvimento sofrem
complicações sérias decorrentes do aborto sem condições de segurança.

O relatório também alertou sobre o uso crescente do medicamento chamado


misoprostol, utilizado no tratamento de úlceras gástricas. Apesar de ser ilegal,
seu uso tem aumentado em países onde há leis restritivas ao aborto.
No Brasil, a OMS estima que 31% dos casos de gravidez terminam em
abortamento (quase três em cada dez mulheres grávidas abortam). Já
conforme estimativas do Ministério da Saúde, todos os anos ocorrem cerca de
1,4 milhão de abortamentos espontâneos e ou inseguros, com uma taxa de 3,7
abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos.

Com base nestes dados, percebemos que a lei atual impede que estas mulheres
tenham direito a sua cidadania e aos seus direitos humanos sexuais e
reprodutivos, direitos estes estabelecidos por importantes Conferências
Internacionais de Direitos Humanos que produziram Documentos dos quais o
Brasil é signatário.

Sabe-se que a lei que criminaliza o aborto não impede, ou sequer reduz a sua
incidência, e não dá conta da complexidade da temática da questão. O debate
sobre a liberdade de optar por não seguir com a gestação é distante da
realidade e necessidades das mulheres.

O CFP se posiciona conforme os Tratados Internacionais assinados


pelo Estado brasileiro, nos quais o governo se compromete a garantir
o acesso das mulheres brasileiras aos direitos reprodutivos e aos
direitos sexuais, referendando a autonomia destas frente aos seus
corpos.

O conselho também segue os encaminhamentos do VII Congresso Nacional de


Psicologia (CNP), entre eles a discussão dos Projetos de Lei que regulamentam
o aborto seguro e a garantia do diálogo com os movimentos que lutam pela
legalização do aborto. Lembramos ainda a moção aprovada no VII CNP, de
apoio à legalização do aborto:
“Reconhecendo tanto a complexidade do tema, quanto os direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres e entendendo a situação de sofrimento decorrente
da criminalização e da falta de acesso aos serviços de saúde, os/as
delegado(as) do VII Congresso Nacional de Psicologia vêm manifestar seu
apoio à legalização da prática do aborto no Brasil, independente de a gravidez
ser decorrente de violência ou haver risco de morte para a mulher”.

O CFP tem ainda como diretriz-base o Código de Ética Profissional do


Psicólogo que determina, segundo os seus Princípios Fundamentais,
que:
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da
liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano,
apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
E ainda, de acordo com o Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de
orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de
suas funções profissionais;

O CFP luta pela promoção da saúde da mulher, tanto física quanto mental, e
pelo reconhecimento e integração dos diversos momentos e vivências na
subjetividade da mulher, entre eles a decisão de ter filhos. Defendemos,
sobretudo, o acolhimento e escuta para as mulheres em situação de aborto!

Dispositivo integra proposta de mudança do Código Penal que agora será


discutida no Congresso Nacional

A comissão de juristas criada pelo Senado para elaborar o novo Código Penal
aprovou ontem um anteprojeto que prevê, entre outros pontos, a ampliação
dos casos em que o aborto é legal.

Pela proposta, não é crime a interrupção da gravidez até a 12ª semana quando,
a partir de um pedido da gestante, o "médico ou psicólogo constatar que a
mulher não apresenta condições de arcar com a maternidade".

Inicialmente, a ideia da comissão era propor que essa autorização fosse apenas
dos médicos, mas acabou estendida aos psicólogos.

Na prática, isso permite a realização do aborto mediante um parecer de um


psicólogo. A alegação é que a medida protege mulheres em situação de muita
fragilidade.

Também não haverá punição em caso de aborto de fetos anencéfalos. A


questão está em discussão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Atualmente, o Código Penal só não considera crimes os abortos feitos para


salvar a vida da gestante e quando a gravidez resulta de estupro.

Isso foi mantido, mas ainda foi incluída a liberação quando houver risco à
saúde -e não só "à vida" da mulher. Hoje, a pena é de um a três anos de
reclusão para a mulher que faz um aborto
Dilema do Aborto
TRABALHO DESENVOLVIDO NA DISCIPLINA ÉTICA PROFISSIONAL EM
PSICOLOGIA - TURMA 2008.1.

, lutar pela vida do embrião seria negar a existência dos direitos humanos adquiridos pela
mulher muito antes da existência do feto. É importante ressaltar que o ato de proibir em lei o
aborto não tem diminuído esta prática, pelo contrário, as mulheres procuram clínicas ilegais,
arriscando suas vidas, por conta de um valor “moral”.

O psicólogo precisa agir eticamente sim, mas não necessariamente acreditando na


universalidade da moral, uma vez que aquela mulher, que está em seu consultório, no
hospital, num ambiente escolar, tem sua subjetividade, suas particularidades. É dentro dessa
dimensão que o profissional deverá se posicionar, levando em consideração que o sujeito que
o procura está, naquele momento, passando por uma parte difícil de sua vida, que só cabe a
ela julgar a si mesma e seus atos. O psicólogo precisa cooperar para que a mulher se
restabeleça psiquicamente, cabendo a ela tomar a decisão que melhor contribuirá para seu
bem-estar.

A mulher que procura um profissional da psicologia nesta situação, provavelmente não está
querendo ouvir um “Sim, faça o aborto” ou um “Não, isso é crime”, isso ela ouviria de
qualquer um a quem pedisse uma opinião. Deste profissional, ela espera uma postura
humana, que a veja como um ser dotado de fraquezas, limitações, sentimentos, expectativas,
enfim, de toda uma vida que já existe, e que neste momento está abalada pelo fato de ter ou
não um filho. Muitos moralistas poderiam retrucar afirmando “mas por que ela não se
preveniu, hoje em dia existem métodos fáceis e baratos!”, é muito fácil falar do outro,
sempre foi, difícil mesmo é ter uma postura empática, sentir o que o outro sente, pois isso
requer além de um preparo profissional, um preparo muito maior do lado pessoal, não está
apenas em teoria, acontece dentro de nós.

O direito de escolher o que é melhor para si provoca menos transtornos futuros tanto para a
mãe, quanto para a criança. Obviamente que existem casos nos quais a mãe pensava em
abortar, decidiu pelo contrário, e viveu de uma forma maravilhosa com seu filho, mas, no
entanto, essa escolha deve partir dela, e não ser imposta por lei, ou muito menos, por um
consenso social que chega a ser hipócrita, uma vez que existem muitas atitudes socialmente
aceitáveis, que poderiam se constituir em crimes, como é o caso dos bebês de proveta, onde
os cientistas reimplantam diversos óvulos fecundados em cada tentativa para tentar
engravidar uma mulher, a fim de aumentar as probabilidades de acerto, isso significa que os
cientistas obtêm “seres vivos” sabendo que uma alta porcentagem deles vai “morrer”. Se o
aborto voluntário é um atentado à vida, o que esses cientistas fazem é o que?

Sendo assim, o psicólogo precisa, antes de tudo, ouvir, mas um ouvir profundo, onde ouve-se
as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal, e até
mesmo o significado por trás do que foi verbalizado. Essas mulheres têm sentimentos, e
geralmente estão sofrendo com suas decisões, seja a de ter ou não esse filho, ela não
necessita de uma pessoa que aumente esse sofrimento ou que lhe cause um transtorno
psíquico ainda maior lendo a lei, enquadrando-a num determinado artigo porque é ético, esse
profissional deve dentro de suas atribuições facilitar a tomada de decisão, seja ela qual for,
buscando sempre contribuir para o bem-estar do sujeito.
William Saad Hossne – Para muitas pessoas, moral e ética são
sinônimos, diferindo apenas na origem de cada palavra. Moral
vem do latim e ética, do grego. Ambas significam costumes e
lidam com os valores humanos. Eu faço, porém, uma distinção
entre moral e ética. Quando me refiro a valores morais, estou
pensando naqueles que determinada sociedade, pelos usos e
costumes, consagrou e aos quais todo cidadão deve obedecer. Não
se trata de valores escolhidos individualmente: precisam ser
introjetados. Em grego, a palavra ética significa não só costumes,
mas também conduta humana e refere-se, em geral, a um juízo
crítico de valores que implica uma opção que vem de dentro da
cada indivíduo.
Para realizar o exercício ético de juízo de valores, a primeira
exigência é não ter preconceitos. Não posso examinar um conflito
se tenho uma posição pré-estabelecida. A vida não é o que eu
acho. Preciso respeitar o ponto de vista do outro e ter a humildade
de rever minhas posições constantemente. Veja este exemplo:
diante dos novos métodos de clonagem, não existe experiência
acumulada pelos usos e costumes. Essa questão ainda está no
campo da discussão ética, isto é, do juízo de valores. Há mais
perguntas do que respostas a respeito desse tema. Quando, porém,
pelos usos e costumes alguns valores forem selecionados, a
questão passará a ser moral e irá configurar em código e em lei.
A interrupção da gravidez já não é mais uma discussão
exclusivamente ética. Na minha avaliação pessoal,
discriminalizar qualquer tipo de abortamento, não apenas os
previstos em lei, vai interferir numa opinião já estabelecida pela
sociedade.
Ninguém tem o direito de impor nada. A sociedade deve definir
em conjunto. A primeira exigência para fazer a análise ética de
qualquer questão é despir-se, tanto quanto for humanamente
possível, de qualquer tipo de preconceito. A segunda é estar
disposto a ouvir a opinião do outro. A terceira é dar liberdade,
porque a ética pressupõe sempre liberdade de opção, por mais
angustiante que ela seja. Essa é a beleza da ética: desencadear
uma angústia diante da necessidade de fazer um juízo de valores e
tomar uma posição. As pessoas têm medo de enfrentar essa
angústia e recorrem ao que a lei e o código dizem. Agindo assim,
fogem da liberdade que as obriga a rever-se constantemente e a
selecionar os valores dos conflitos que estão ocorrendo.
Não sou contra nem a favor do aborto. Não posso impor nenhuma
posição, tenho que ouvir o outro. Num dado momento, nossa
sociedade estabeleceu parâmetros que passaram a configurar na
lei que não criminaliza duas situações de abortamento. Mas o
mundo mudou e as coisas mudaram. O papel da ética não é dar
respostas; é fazer perguntas sem as quais não se chega à melhor
resposta. Para a questão do abortamento, a resposta tem de ser
dada pela sociedade, porque não se trata mais de assunto
exclusivamente pessoal. É coletivo e já extrapolou os limites da
simples discussão ética. Portanto, chegou a hora de reanalisar,
rediscutir e modificar a lei que existe, mas sem imposições.

Livro Aborto CFP


A reflexão que se apresenta abaixo partiu do interesse em investigar os fundamentos da
defesa do direito ao aborto, do ponto de vista do direito constitucional. Há várias décadas se
debate, no Brasil, a necessidade de descriminalizar a prática do aborto, entendendo-se que as
liberdades individuais previstas na Constituição de 1988 asseguram o direito de escolha
reprodutiva da mulher, diante de uma gravidez indesejada. Serão destacadas as teorias da
democracia de Ronald Dworkin e John Rawls, a fim de demonstrar que o tema do aborto pode
ser compreendido como uma questão de natureza ética, situada na esfera da livre decisão, no
caso, das mulheres, no que diz respeito ao significado da vida pré-natal incipiente. Nesse
sentido, o aborto é, genuinamente, um problema moral, inserido no direito à liberdade de
consciência, sendo inadequada sua proibição

Situando o tema do aborto nas esferas da ética, da moral e da política


Adotando-se os argumentos que Ronald Dworkin desenvolve, em sua obra “Justiça par
Ouriços”, fácil se torna perceber porque a admissibilidade moral da prática do aborto deve ser
reconhecida pelos sistemas constitucionais democráticos. O autor procura apresentar um
conteúdo objetivo ao princípio da dignidade humana, distinguindo, para tanto, as esferas do
agir moral e político. Propõe, assim, a existência de três esferas, a da ética, a da moralidade
pessoal e a da moralidade política. Os assuntos éticos são aqueles relacionados ao bem-estar
individual, conferindo-se a cada pessoa o livre exercício ao direito à autodeterminação; os
assuntos de moralidade pessoal envolvem os interesses dos outros, mas, neste caso, o juízo de
valor sobre os deveres morais para com os outros também deve ser definido individualmente;
os assuntos de moralidade política, ao contrário, são aqueles que, por configurarem interesses
públicos legítimos, essenciais à organização político-democrática, pertencem ao campo do
processo deliberativo, ou seja, do exercício da autoridade coativa do Estado (DWORKIN, 2011,
p. 191 e 327-30).

Para se entender bem tal doutrina, esclareça-se que o princípio da dignidade humana,
segundo Dworkin, possui dois requisitos: i. o “respeito próprio” (“self-respect”); e ii. a
“autenticidade” (“authenticity”). O primeiro exige que cada um leve a sério sua
responsabilidade de assegurar para si mesmo uma boa vida, e o segundo acrescenta a tal
exigência o compromisso do indivíduo de preservar a coerência de suas escolhas com o seu
próprio caráter ou modo de vida. Por outro lado, o “respeito próprio” inclui o respeito pela
vida de todos os seres humanos, contendo em si as implicações, no âmbito da independência
ética, das obrigações morais que temos para com a humanidade como um todo.

Na perspectiva de Dworkin, considerando essa estrutura dos deveres morais, em quais


circunstâncias a mulher gestante está autorizada a optar pela realização do aborto? Melhor
dizendo, em quais circunstâncias se pode afirmar a inexistência de uma obrigação moral de
preservar a vida do embrião? Essa análise depende da compreensão que se adote acerca da
extensão do princípio do “respeito próprio” aos interesses do nascituro. Se a ética e a moral se
auto-complementam, a decisão da gestante de interromper a gestação, a fim de tornar
possível sua qualidade de vida, se justifica em argumentos de moralidade pessoal, desde que a
mulher empreenda esse juízo antes que o embrião se desenvolva ao ponto de inviabilizar a
precedência dos seus interesses éticos.

A interrupção voluntária da gestação não é um ato imoral em caráter absoluto, tanto que
existe quase um consenso em torno de sua aceitação, na hipótese do estupro. Se a mulher
engravida, de forma voluntária ou involuntária, deve ser concedido a ela algum tempo do
processo gestacional para que ela tome uma decisão? Ou, ao contrário, sua obrigação moral
de preservar a vida do embrião não permite exceções sustentáveis em parâmetros éticos?
Dificilmente é possível demonstrar que a vida do embrião é digna de respeito, no mesmo grau
de imperatividade, não importando o período do seu desenvolvimento.

O melhor argumento a favor da liberalização do aborto, considerando a relação entre a ética e


a moral, consistiria, portanto, na postulação de que o dever moral da gestante de preservar a
vida do embrião não é impositivo, sobretudo quando isso acarretar uma redução significativa
de suas chances de ter uma boa vida. Em diversas situações, a chegada de um filho atinge
irreversivelmente os projetos pessoais de vida da mulher, ao ponto de transgredir seu dever
ético de ter uma vida boa. O aborto pode ser interpretado, assim, como um requisito dos dois
princípios da dignidade, o “respeito próprio” e a “autenticidade”. Sob o prisma da dignidade,
aliás, ainda que a mulher decida praticar o aborto por motivos frívolos, trata-se de um juízo
ético, razão pela qual a questão deve ser deixada à sua livre escolha.3 Em tal enfoque, o
aborto provocado, por exemplo, para salvar a vida da gestante e o aborto realizado por
escolha da mulher são, igualmente, justificáveis enquanto decisões eticamente válidas.

Nas palavras de DWORKIN (2011. p. 378): “Uma mulher trai sua própria dignidade quando ela
aborta por razões frívolas: para evitar remarcar um feriado, por exemplo. Eu faria um juízo
ético diferente em outros casos: quando as perspectivas de uma adolescente de ter uma vida
decente seriam arruinadas caso ela se tornasse uma mãe solteira, por exemplo. Mas se o juízo
está certo ou errado, em quaisquer dos dois casos particulares, ele permanece sendo um juízo
ético. Deve ser deixado a cada mulher, como sua dignidade exige, assumir a responsabilidade
por suas próprias convicções éticas”.

Sendo assim, o Estado não pode restringir a escolha da mulher pela realização do aborto,
desde o início da gestação, porque isto viola sua liberdade de consciência, atingindo do,
portanto, a autonomia decisória, em matéria de planejamento reprodutivo. Não se
constituindo o aborto um assunto de moralidade política, haja vista a ausência de interesse
público no controle da procriação, a criminalização rígida de sua prática importa em exercício
arbitrário do poder estatal.

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Com o objetivo de facilitar a compreensão e localização das idéias acerca da interrupção da
gravidez, podemos dizer que entre os extremos morais, há uma infinidade de pequenas
variâncias que, aparentemente, são incoerentes aos princípios maiores, sejam eles o da
autonomia ou o da heteronomia.
O argumento principal dos defensores da legislação ou discriminação do aborto é o do respeito
à autonomia reprodutiva da mulher e/ou do casal, baseado no princípio da liberdade individual.
Já os oponentes do aborto defendem a idéia de que a vida humana é sagrada por princípio.
Se por um lado, os proponentes da legislação do aborto encontram abrigo no princípio da
autonomia reprodutiva e, por outro, os oponentes no princípio da heteronomia da vida humana,
as diferenças entre os dois grupos acentuam-se ainda mais nos desdobramentos
argumentativos destes princípios. Os prepotentes unem-se em torno do valor -autonomia,
enquanto os oponentes esforçam-se por desdobrar o princípio da heteronomia.
Perante tais posições, mais do que se questionar quem tem o poder de decidir, parecenos que
o principal direito subjacente é o direito à vida. A idéia de que o feto é uma pessoa humana em
potencial, tem maior número de defensores do que a que concede o status de pessoa ao
embrião/feto desde a fecundação. A teoria da potencialidade sugere que o feto humano
representa a possibilidade de uma pessoa humana e, portanto, não pode ser eliminado. No
entanto para ambos, o aborto possui o significado moral e jurídico de um assassinato.

Fonte: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-da-saude/consideracoes-sobre-o-aborto ©
Psicologado.com.br

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