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6 Mitos sobre o Império Bizantino

1 - Por serem sucessores do Império Romano, o latim era uma língua muito falada lá

Hmmmmmmm,não. Passou perto, mas longe. Os bizantinos foram mais uma vítima da
helenização. Então, a cultura predominante, assim como a língua, era a grega. Mas, não
se preocupem. O latim era usado até o ano de 620, quando o grego foi transformado na
língua oficial do Império. Tudo bem que latim era a língua principal na corte e no
exército, mas a língua do povão mesmo SEMPRE foi o grego, até mesmo na época em
que eles eram Império Romano junto e misturado. A implementação total do grego foi
parte de uma das reformas do imperador Heráclio e, como puderam perceber, nem
sempre foi assim. Mesmo com o Heráclio fazendo isso, algumas regiões do Império
Bizantino acabaram adotando dialetos do grego ao invés do grego puro mesmo. Na real,
o resto do Império Bizantino SÓ adotou o grego puro quanto mais perto eles estavam de
cair e serem conquistados pelos otomanos. Fale sobre um esforço em vão.

2 - Os bizantinos nunca estiveram perto de restituir o Império Romano

Peraí, que? Como assim, cara? Eu não sei se tua piscina tá cheia de ratos, mas suas
ideias não correspondem aos fatos. Lógico que os bizantinos estiveram próximos de
voltar com o Império Romano total. Justiniano demorou um bom tempo, mas quase
conseguiu. Sob o reino de Justiniano, os bizantinos chegaram a reconquistar a
península itálica inteira, incluindo Roma. Eles também meteram a mão nos territórios
vândalos do norte da África e o sul da Península Ibérica. O que faltou pra eles
restaurarem mesmo o Império Romano foram o Reino dos Francos, dos Ostrogodos, os
Bascos e os Suevos. Ou seja, praticamente "só" o resto da Península Ibérica e a França
inteira. Bem, fora os Anglo-Saxões né, mas sei lá, pra mim isso é só se for exigente.
Justiniano conseguiu isso graças ao general Belisário e a um tributo gordo que ele
pagou pros persas (Sassânidas) para o cessar-fogo e que eles não mais o
incomodassem enquanto ele tava tentando pegar a Europa pra si.

3 - Os bizantinos sempre foram estagnados e não desenvolveram nada muito


importante

Pfffffffft, por favor. Não, cara. Não, não e não mesmo. Os caras tiveram praticamente 100
anos de renascença! Bem, não foi lá a renascença "científica", mas a economia
bizantina floresceu do século XII pro XIII. Aliás, por serem uma das portas de entrada do
conhecimento clássico importado pelos muçulmanos, eles tiveram acesso a vários tipos
de conhecimento, principalmente na área da medicina. E, bem, os bizantinos foram os
primeiros caras a usarem prédios para cuidar dos feridos e fazer o pessoal aprender
com eles, sendo basicamente o primeiro Império a formalizar a faculdade de medicina e
foram eles que deram os primeiros passos para transformar a medicina em uma ciência.
E também foram os primeiros a manter registros de doenças e seus diagnósticos
guardados. Não só isso, mas eles também importavam esse conhecimento pra Itália, o
que foi fundamental para a renascença italiana. O Império Bizantino no século XII viu um
reavivamento nas artes e, com isso, também surgiram várias escolas municipais de
arquitetura. Isso, é claro, foi possibilitado devido ao grande influxo de dinheiro que os
bizantinos tinham em seu comércio com Veneza e, a partir do século XII, com os
Estados Cruzados. E não era só isso não, os bizantinos foram praticamente os únicos a
usar o fogo grego e foi basicamente isso o que safou eles de serem conquistados pelos
árabes na primeira vez. Na real, a fórmula para o fogo grego era tão secreta, mas tão
secreta, que ela foi perdida e ninguém sabe exatamente como diabos eles faziam isso.
Esse tipo de ideia leva ao mito número 4, que é...

4 - Os bizantinos nunca tiveram participação importante no cenário medieval

Bitch, please. As cruzadas surgiram do nada com uma ideia de um papa maluco? É
isso? Bem, sinto em lhe informar, mas o imperador bizantino Aleixo Comneno teve um
papel fundamental para a Primeira Cruzada. E esse papel foi...O de simplesmente
chamar a cruzada. Ele pediu ajuda ao papa Urbano II para um problema com os
seljúcidas e a única forma de convencer os nobres europeus a irem pra lá era meter um
migué sobre Terra Santa e Jerusalém. Não é a toa que houve um considerável mal
entendido quando os cruzados chegaram lá em Constantinopla e ficaram meio confusos
com o discurso do imperador Aleixo. Fora isso, em questões religiosas, os ortodoxos
bizantinos sempre foram uma pedra no sapato dos católicos romanos. Na verdade, teve
uma cisma bem grande depois de um tempo de picuinhas e os católicos romanos
resolveram coroar Carlos Magno como Imperador Romano só pra zuar com o fato dos
bizantinos não terem um imperador, mas uma imperatriz, a quem eles não
consideravam digna do trono romano. Falando em imperatriz, a richa entre os
bizantinos e a Europa Ocidental se estendiam bastante, ao ponto da imperatriz Anna
Comnena chamar os francos de "kelts", um termo arcaico que era utilizado por Julio
César pra designar os celtas. Ou seja, bárbaros. Legal o jeito que eles consideravam os
europeus, né? Mas, as disputas mais gritantes entre o ocidente e o oriente eram
realmente mais religiosas que políticas, apesar de isso ter ajudado a moldar a história
de ambas as regiões.

5 - Eles mesmos se chamavam de bizantinos

É, acho que essa até é uma dúvida pertinente. Mas, não, eles não se chamavam de
bizantinos, eles se chamavam de romanos ou gregos mesmo e, quanto ao império, eles
popularmente se autodenominavam de Império Romano ou República Romana. Que
bizarro um bando de romano falando grego, né? Enfim...A terminologia "bizantino"
apareceu pela primeira vez em 1557, quando o historiador alemão Hieronymus Wolf
escreveu o livro "Corpus Historiæ Byzantinæ", um compilado sobre a história do Império
Bizantino, nome que ele mesmo tirou da caixola pra diferenciar dos romanos do
ocidente com base na cidade de Bizâncio, que era o nome da capital do Império antes
de virar "Constantinopla", durante o reinado de Constantino. Bom, esse termo veio a se
popularizar com a tradução do livro Corpus Scriptorum Historiae Byzantinae, concebido
pelo outro historiador alemão Barthold Georg Niebuhr e que foi traduzido para o francês
como Byzantine du Louvre, tradução supervisionada pelo padre jesuíta Philippe Labbe.
E por outro livro escrito pelo historiador e filólogo francês Charles du Fresne, sieur du
Cange, com o nome de Historia Byzantina. A partir daí, era só esperar e deixar o nome
"bizantino" cair na boca dos historiadores. Logo todo o mundo desde Montesquieu na
França tava usando o termo. Mas, a popularidade mundial mesmo veio só na metade do
século XIX.

6 - A estrutura do Império Bizantino era igual a do Império Romano

Igual? Não. Parecida? Sim. Novamente, os bizantinos eram os herdeiros do nosso, que
Deus o tenha, Império Romano. Uma das diferenças mais gritantes foi a transformação
para uma autocracia, e o fato do senado ter perdido completamente seu poder,
permanecendo somente como cargo honorário para algumas pessoas. A nomenclatura
de cargos de origem romana permaneceu até o reino de Heráclio e mudou de novo no
reino de Aleixo Comneno, com alguns futuques aqui e ali feito por outros imperadores
até o Império Bizantino cair. Outra diferença gritante era o cargo de "César", antes um
associado ou herdeiro direto do imperador romano, por mais que continuasse
importante, agora era raramente agraciada a nobres que se distinguiram de certa forma.
Outra diferença na estrutura política com os romanos era o cargo de sakellarios, ou
seja, tesoureiro, ou simplesmente o cara que cuidava das finanças do império e mais um
pouco. Em administração territorial, temos a divisão em "temas" na Anatólia. Mas isso foi
só depois que os muçulmanos meteram a mão em certos territórios bizantinos. Na
verdade, os temas foram criados das áreas em que os exércitos bizantinos
descansavam durante a guerra com os árabes e/ou persas e eles substituíram a
organização por províncias por esse sistema. Essa organização em temas facilitou não
só a administração geral, mas também o levantamento de pessoas para o exército. Mas,
vendo pelo lado ruim, esse sistema TAMBÉM facilitava revoltas já que a autonomia
dada para os generais daqueles territórios era bem grande e, bem, eram eles que
administravam aquilo mesmo, então...

Fontes:
Steven Runciman - Byzantine Civilisation
John B. Bury - Imperial Administrative System of the Ninth Century
John H. Rosser - Historical Dictionary of Byzantium
Edward Peters - The First Crusade
Edward N. Luttwak - The Grand Strategy of the Byzantine Empire
Alan Harvey - Economic Expansion in the Byzantine empire 900–1200
http://www.myriobiblos.gr/texts/english/diel.html
http://www.jstor.org/discover/10.2307/1291159?uid=3737664&uid=2&uid=4&sid=211060
82671331
Sophocles Evangelinos Apostolides - Greek Lexicon of the Roman and Byzantine
Periods
John Julius Norwich - Byzantium: The Early Centuries
Anna Comnena - A Alexíada

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