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Como toda obra pessoal. zin(J é um ...

vimos na experi(mcia da fanzinagem


jogo ds armar. Planejar e exocutar o uma possibilidade excelente para o
plano d9 capturar o leitor. rt9m que seja exetcicio da criação. d8 expros.são da
VAIUMFANZINE Ai?
nos 5 min que dura uma leitura própria forma de ver o mundo o também
enquanto se espera numa parada de para o desenvolvimento da capacidade
Este livro reune sete textos de
ónibus. São fl$/camente tão frág9is. do autoria.
nove autores que, espalhados
rasgam. amarelecem. seus coq,os são em cantos d iversos do pais, Go:,y-•S),dlo*- -
corroidos pelo grampo. Existe um estão refletindo sobre a
caráler de despretensáo reinante Pesquisar. pois. os modos de
produção e c irculação dos subjetivação intimamente conectados a
nessas produções - no máximo uma fanz in es . T ra z em a uma cultura zinica no contexto de uma
pretensão ingênua. que s9mpre me fez contribuição de ãreas diversas cidade 6 atentar âs minücias. ás
rir. Sorrir. aliás. para tratar de questões
fQ1adl,..._. diversa.spnib'casoob'dianas. ou ainda ás
rel acionadas à autoria, â 'maneiras de fazer'...
subjeti vidade e â invenção de TloGoR4Ql,•LuoloooLOIJO
si na fan z inagem. Pa r a
O fanzine e ums produção que ocupa aficionado& ou não, vale a
vma posição singvlsr entre 8S form~s pena desfrutar da experiência A prática zlnesca veicula fo,mas do
ptmis quais o punk se mamfesta (...) o de conhecer quantas apr<Jrtdor, Cór'ISUVitJdO IJ fo<;Ct)Stfuindo
ta11zlno 6. por outro ladO. o ato de dar i nterp r e t ações esses sabores quQ poloncializam o poder do
untido b um sontJinenlo. uma atituda pequenos pedaços de papel intervir como sujeitos pensantes...
podem s uscitar. Porque, como #otflfkitS...d::t1Adll'4'lÍ:)

--
sóbria. racional e reflexiva ds criar
significados a partir de uma diria o poeta, tudo vale a pena
"expl~o"... se a alma não é pequena. E
porque, pensando bem, um Os fanziMs não ocupam um lugar lixo
livro sobre fànzines também de fala. de acumulação de ganhos e
vai bem a qualquer hora, em smanaçãods discurso através ds meios
qualquer lu ar•.. de comunicação convencionais. tais
O fanzine pode ser compreendido. como revistas periódicas e jornais
então. como uma unidade expresSJ'va semanais. Na maioria das vezes os
queestabeJece a intima relação entre o tanzineiros. os si/jeitos que produz&m
que e namtdo e o que ê vivido. uma os fanzinos. consom9m s.ssa impr9nsa
ponte dionisiaca para que. como diria para dela fazer recortes e roah°zar
Nietzsche. o homem ultrapasse a colagens. Um consumo que deforma e
condição de artista, tomando-se a si tessignifica. na condição de produzir
uma diferença.
= =obradearte.
0..1MCrtoeOltvlo
SOBRE OS AUTORES
Fanzines: Autoria, Subjetividade e Inven ção de Si
©20 1O ellin a Rodrigues Muniz (Organizadora).
Im presso no Br, sil / Pri nted in Brazi l Cellina Rodrigues Muniz
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Graduado em História (UFPI). Poeta. Mestre em Histó-
Normalização Bibliográfica
Perpétu a Socorro Tavares Guimarães - CRB 3 - 80 1 ria do Brasil (UFPI) e Doutorando em Hi stória do Brasil
Projeto Gráfico e Montagem da Capa (UFPE). Desenvolve pesqui sas sobre Hi stória, Cidade,
carlosalberto.adantas@gmail.com Fotografia, Subjetiv idade e Cultura A lternativa.
Capa E-mai 1: demetrios.ga lvao@yahoo.com.br
André Dias (a partir de imagens de Demetrios Galvão e Gazy Andraus)
Revisão
M aria Vil aní Mano e Silva Elydio dos Santos Neto
Graduado em Fi losofia e Pedagogia. Doutor em
Educação pe la PUC-SP. Docente-pesqu isador do
M estrado em Educação da Universidade M etodi sta
de São Paulo (UMESP) . Pós-doutorando no Instituto
Editora filiada à de Artes da UNESP com uma pesquisa sobre quadri-
nhos poético-filosóficos. Coorde nador do Grupo de
Estudos e Pesquisa Paulo Freire (GEPF-UMESP). Pes-
Associa(ÕO Brasileiro dos
Editoras Univers it6rias quisador do Observatório de História em Quadrinhos
(ECA-USP) e do INTERESPE.
E-mail: elydio@gmail.com
Cata logação na fonte

Fan zines : Autoria, Subjetividade e Invenção Everton Moraes


de Si./ Cellina Rodrigues Muniz. [organizadora] Mestrando em História Cu ltural na Universidade Fede-
- Fortalez a: Edi ções UFC, 201 O. ral de Santa Catarina (UFSC), atua ndo principalmente
nos seguintes temas: punk, escrita, ética, subjetividade
lsbn: 978-85-7282-366-1 e sensibilidade.
139p. : il. E-mail: evermoraes@hotmail.com

1. Fanzines - Imprensa Alternativa 1. Rodrigues, Fernanda Meireles


Muniz Cellina li. Título Fernanda Meireles nasceu em Marabá, Pará, rnas é
mais cearense que muita gente. Graduou-se em Letras
CDD: 070
A ESCRITA COMO GUERRA: ÉTICA E SUBJETIVAÇÃO NOS FANZINES PUNK

A ESCRITA COMO GUERRA: ÉTICA E sim como sobre aquilo que o provocou. Mas o que é isso
SUBJETIVAÇÃO NOS FANZINES PUNK que provoca essa explosão? São angústias e inquietações,
ódios e revoltas provocados pelo mundo em que se vive,
Everton Moraes
pelas condições em que nele se vive: "Você já parou pra
pensar no mundo em que você vive? A maneira como
você e as pessoas ao seu redor se comportam?"1. Ele se
Sobre a Composição do Fanzine pergunta sobre as próprias formas de vida, sobre o poder
que perpassa as relações consigo mesmo e com os outros.
O fanzine é uma produção que ocupa uma posição
É contra esse poder que deve ser levada a cabo uma guer­
singular entre as formas pelas quais o punk se manifes­
ra movida pela revolta e pela indignação com os modos
ta; não se trata mais apenas da embriaguez e a catarse
de viver que somente depreciam a vida.
das bebedeiras, das aparições públicas e dos shows, do
choque que sua aparência provoca nas pessoas; se essas Seria, desse modo, o fanzine uma expressão de
práticas rompiam com a rotina sufocante e, ao mesmo guerra? Não se pode reduzi-lo a isso, ele é, sobretudo,
tempo, contestavam as formas de excitação passiva das uma das armas com as quais se luta. E isso de várias ma­
sociedades contemporâneas, inventando outras formas neiras. Em primeiro lugar, a reflexão sobre as formas de
de sociabilidade e outras maneiras de viver o tempo vida de nossa atualidade, seja na forma de narração de
através dos excessos e das paixões vividos no próprio experiências pessoais ou não, funciona como um modo
corpo, o fanzine é, por outro lado, o ato de dar sentido a de transformar em acontecimento, em contingência, tudo
um sen­timento, uma atitude sóbria, racional e reflexiva isso que nos acostumamos a viver como necessidade.
de criar significados a partir de uma "explosão"; uma Você já pensou se todas as obrigações que você
explosão que agora aparece como aquilo que deve ser cumpre são mesmo necessárias? Você já parou pra pensar
trabalhado em si e não mais como objetivo da ação: sobre si mesmo, na sua existência? Você já imaginou que
Fazer um zine, pra mim, começa com esse senti­mento de tudo podia ser diferente? Cada vez mais eu vejo as pesso­
explosão. Começa com a necessidade de espa­lhar idéias e do as ignorando as possibilidades e se reduzindo a seres sem
pensamento de que é preciso fazer mais. Um dia abri os olhos e a capacidade de questionamento.
luz me feriu por dentro. Desde então não tem sido fácil dormir,
A necessidade de escrever surge quando já não
todas as noites. Fazer um zine não deixa minhas noites mais
tranqüilas, pelo con­trário, isso aumenta a intensidade da luz que se suporta mais essa situação em que os modos de vida
me atinge e me afasta da paz que eu mesmo proclamo. atuais, nossas práticas cotidianas e os usos da linguagem
Reconhecer que as coisas não estão bem e tomar uma posição são pensados como se fossem os únicos possíveis. Nem
contra a correnteza é tornar sua própria existência uma sempre, no entanto, quem escreve, tem absoluta certeza
guerra. 1 do motivo pelo qual o faz: "Eu não sei bem porque eu
A escrita do fanzine é, portanto, uma tentativa de estou escrevendo esse texto... eu acho que é uma espé­
refletir sobre aquilo que acontece consigo mesmo. A par­ cie de desabafo". 2 Às vezes, a única coisa de que se tem
tir de um "sentimento de explosão" o indivíduo põe-se a absoluta certeza quando se escreve é de que é preciso
escrever para refletir sobre esse mesmo sentimento, as- desabafar, dizer ao máximo de pessoas possível aquilo
que se sente; que é preciso expressar o seu descontenta-
1 STRAIGHT AHEAD. Curi ti ba, 1998. Grifos meus.
2 STRAIGHT AHEAD. Curitiba, 1998.
3 NEW DIRECTION: HARDCORE ZINE n º2. Curitiba: 1998.

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EVERTON MORAES A ESCRITA COMO GUERRA: ÉTICA E SUBJETIVAÇÃO NOS FANZINES PUNK

mento com sociedade, com o punk, consigo mesmo; falar ameaças que lhe cercam, também na situação contem-
de como se lida com ele e o que se sente nessa situação; porânea os punks identificam o imperativo de sobreviver
falar, enfim, sobre o que fazer a partir dele: não importa a qual custo. Todas as perspectivas e possibi-
lidades de existência teriam sido reduzidas a um mínimo,
Temos que considerar todas as coisas que fize-
e nada mais restaria senão aquela vida besta já comentada
mos, que realizamos, como conduzimos nossos
antes. Dessa sociedade não cabe esperar nada, pois "nin-
relacionamentos. Pensar nisso tudo vale a pena.
Ultimamente tenho parado pra pensar em um guém dá a mínima", é preciso criar novas armas contra
monte de coisas. Algo aconteceu que me fez rea- ela. Armas que possam reverter seu funcionamento. O
valiar minhas idéias. O que eu quero dizer é que fanzine é uma delas, uma tentativa de mostrar, tanto em
estava decepcionado (... ), amargo, cansado. (... ) sua simples existência (é possível criar outras formas de
Muitas coisas doem, muitas coisas machucam, e expressão), quanto em seus conteúdos, da narrativa de
cabe a nós mesmos nos curar. Não desistir. Não sua própria experiência, que é possível viver diferente-
desesperar. Ninguém mais fará isso por você. Nin- mente. Assim, trata-se de, com essa narrativa, constituir-se
guém se importa. Ninguém dá a mínima. 4
como exemplo para os outros, não porque suas atitudes
A linguagem intensa, porém sóbria, expressa uma deveriam ser imitadas, mas porque elas deveriam suscitar
diversidade de sentimentos: um sofrimento que decepcio- o desejo de uma experiência radical análoga.
na e que pode deixar marcas (a amargura e o cansaço), Nessa guerra, é preciso lutar contra os hábitos
que faz sentir a vertigem do "desespero", da falta de refe- "consumistas" que a sociedade contemporânea sacraliza.
rências, da perda de um mundo que ainda estava baseado E quando eles falam em consumo, não se trata apenas de
em uma idéia de confiança e na segurança que ela traz. objetos, mas de gestos, práticas e modos de vida. Dizem
A partir da abertura para os afetos do exterior, com a dor que é preciso quebrar "os vícios da sociedade que ainda
causada pelas perdas e feridas provocadas por esse en- nos resta" 5 . É para ajudar nesse trabalho de destruição da-
contro, é preciso parar para pensar e reavaliar o que está quilo que existe de nocivo em si mesmo que o fanzine
se fazendo de si mesmo. O sentimento de desespero deve serve. Ajudar na medida em que incita o leitor a parar e
ser convertido em trabalho sobre si, visando preparar-se pensar, a buscar em si mesmo esses vícios que possui e
para os combates diários em um mundo que já não é mais nem sempre percebe, e o faz, antes de tudo, narrando as
seguro. próprias experiências de subjetivação, ou antes, de des-
É nesse sentido, portanto, que deve se entender subjetivação, de eliminação desse mal que habita dentro
a guerra. É em nome desse descontentamento e contra de si, o próprio combate travado nesse guerra.
todas essas situações que o combate diário deve ser tra- E se essa narrativa de si é necessária, se falar sobre
vado. Pois se trata de uma "sociedade em que (apenas) a situação de combate cotidiano e sobre a forma como se
sobrevivemos". E se a noção de "sobrevivência" é recor- age dentro dela é tão importante, era preciso também fa-
rente nos fanzines e nas letras de músicas, é que ela diz zer da guerra um trapos de linguagem, uma forma de nar-
respeito à essa crítica das necessidades, que é comum rar, para além da simples comunicação de um conteúdo:
à grande maioria das experiências punks. Ela é um dos
elementos que caracteriza a guerra na qual se vive. Pois Eu QUERO que o AW choque as pessoas. As
pessoas não serão acordadas através de palavras
se nela trata-se de preservar apenas a vida biológica das

4 APOCALYPSE WOW nº4. Curitiba: 1998. 5 Info-Punk Nº2 - Coletivo do Squatt Kaazaa. Curitiba, 1995.

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bonitas e rebuscadas. ELAS PRECISAM SER ACOR- quer produzir no leitor, nas formas menos autoritárias de
DADAS COM UM BALDE DE ÁGUA FRIA! É o falar da própria experiência e das próprias idéias.
que eu penso pelo menos. Se o meu zine não
servir para chocar, irritar, levantar discussões e
levar pessoas a repensar opiniões ... então eu acho "Comunicar Algo Incomunicável"
que ele não serve para nada. 6
Diante de uma tão narrada angústia provocada
A estética espetacular que predomina nas experi-
pela situação contemporânea, em que há uma tomada
ências punks até o começo da década de oitenta, que ti-
cada vez mais totalizante da vida pelo poder, surge a ne-
nha o efeito sensorial do choque como objetivo principal,
cessidade de articular alguma forma de resistência que
é transformada ao longo dessa década em algo que, se
procure liberar a vida desse poder, ainda que provisória
ainda deveria chocar, não tinha esse dever como objetivo
e limitadamente. E ela aparece de duas maneiras: através
principal. O choque teria apenas o efeito de "balde de
da expressão - de testemunho 8 - de uma sensibilidade e
água fria" que desperta do sono sensorial que impede de
através de uma criação artística.
ver as misérias do mundo. Depois de chocado, o leitor
deveria ser levado a repensar suas opiniões e colocá-las A escrita funciona como testemunho não somen-
em dúvida. Seria preciso, então, um texto que fosse uma te de uma realidade descrita no texto, nem de uma ex-
arma de guerra, figura de linguagem muito usada nos fan- periência vivida nessa realidade, mas das condições em
zines ("Nossa união deveria ser uma de nossas grandes e que essa experiência foi possível. Experiência de dor, so-
fortes armas, mas nossa arrogância e ignorância (por que frimento, angústia e, ao mesmo tempo, de raiva, ódio e
não?) não nos permite ser fortes ... " 7) . E era a forma literá- luta. Para além da representação de uma subjetividade,
ria, tanto quanto o conteúdo do texto (vale lembrar que a essa escrita expressa uma sensibilidade, narra a angústia
argumentação ganha muita importância nessa nova esté- daqueles que sofrem, em todas as esferas da vida, com
tica da escrita punk), que tinha a função de transformá-lo uma violência que "aparece de forma fugidia, pretenden-
nessa arma. do assim escapar a qualquer nomeação".9 Uma violência
cotidiana, mais afetiva do que física, que se manifesta em
A literatura punk pressupõe sempre uma angústia
um controle e em um condicionamento cada vez mais
e um sofrimento que atinge a existência daquele que es-
totalizante e eficaz em sua pretensão de domesticar as
creve, de sua comunidade, algo contra o qual é preciso
intensidades:
lutar. O que se testemunha é justamente essas relações
nas quais se é atingido por esses afetos tristes, e o embate 8 O testemunho é nde um lado, a necessidade premente de narrar a
contra eles, a luta constante que é necessária contra si experiência vivida; do outro, a percepção tanto da insuficiência da
mesmo, contra sua preguiça, para continuar escrevendo, linguagem diante de fatos (inenarráveis) como também - e com um
para não sucumbir ao desejo desse poder que quer con- sentido muito mais trágico- a percepção do caráter inimaginável dos
trolar todas as esferas da vida. Não basta que simples- mesmos e da sua conseqüente i nverosi mi Ihança"SE LIGMAN N-SI LVA,
Márcio (Org.). História, memória, literatura - O testemunho na era
mente se escreva aquilo que foi previamente pensado, é
das catástrofes. Campinas: Editora Unicamp, 2003. p. 42.
necessário pensar em como escrever, nos efeitos que se 9 GRUNER, Clóvis. O espetáculo do horror: memória da loucura,

testemunhos da clausura em "Diário do hospício" e "Cemitério dos


6Apocalypse Wow nº4. Curitiba: 1998. vivos". ln: GRUNER, Clóvis; DENIPOTI, Cláudio (Orgs.). Nas tramas
7 Xmassive Attackx: Straightedgepessoalpolítico nº1. Curitiba: da ficção : História, literatura e leitura. São Paulo: Ateliê Editorial,
2000. 2008 . p. 122.

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Toda forma de expressão, nessa sociedade man- pode sentir em seus próprios ossos e que só pode ser ex-
tida pela mentira é vista como loucura, algo a ser perimentado nesses ossos, dá sentido a acontecimentos
ridicularizado. Não sou louco, apenas consigo que de outra forma passariam despercebidos. "Dar senti-
ver e sentir as desumanidades dessa vida. Louco
do através dos nomes aos acontecimentos sem memória é
são os mentirosos dessa sociedade, d seus condi-
(.. .) construir linguagens de resistência. Dar nome é trazer
cionamentos, seus vícios burgueses sociais, seus
machismos e moralismos ... dogmatismos. 10
a existência o destino individual das vítimas". 12
E construir linguagens da resistência implica não
Narrar a angústia de não apenas ter sua vida con- apenas descrever aquilo que se sente, mas usar a própria
dicionada, mas também seu discurso desvalorizado, pa- forma (no sentido literário do termo) do texto, dialogando
rece então ser condição sem a qual não seria possível com outros "mundos", para expressá-lo:
contornar essa situação. A violência deve ser nomeada
e denunciada, e esta é uma das diversas séries de temas Talvez o punk esteja limitado demais em sua
presentes nos fanzines. Essas escritas denunciam um po- forma, no modo como contesta, nas possibili-
dades revolucionárias que cria e aceita para si .
der que funciona através de um anestesiamento massivo
A linguagem provavelmente é uma barreira, por
e relatam a experiência de um embate travado contra esse
ficarmos tão preocupados em sermos compreen-
poder, do despertar de uma sensibilidade e da abertura didos deixamos de nos aprofundar. A necessidade
para os afetos vindos de fora que esse despertar propicia. de agradar talvez atrapalhe também . Quem sabe
Essa abertura traria, então, certa angústia e sofrimento, seja necessária uma viagem por mundos (sub-
pois a partir daí se receberia, sem proteções, os golpes mundos) e pensamentos fora do hardcore/punk,
dessa violência. É esse choque que seria preciso narrar. para conhecermos coisas novas, aprimorarmos a
Por isso, as falas sobre a angústia, sobre a necessidade de crítica, confrontarmos as idéias e fazer do punk
atentar para controle exercido pela mídia, sobre o "poder uma ameaça real. 13
dentro da maioria das rádios e programas de televisão" 11 ,
Nesse sentido, não só os conteúdos, mas o próprio
sobre os protestos de rua, as experiências de convivência
ato da escrita e o modo como se escreve são constante-
libertária, a música, etc. Seria preciso não simplesmente
mente problematizados nos textos. A preocupação com o
falar dessa violência, mas de seus efeitos e das lutas que
"ser entendido", com a mera comunicação, pode dificul-
se travam contra ela. Ao nomeá-la, essa escrita daria então
tar, desse modo, a transmissão ao leitor da profundidade
um testemunho de seu absurdo, alargando a espaço do
do que se pretende expressar. Assim, era necessária uma
possível, abrindo a possibilidade para que outras vozes se
reflexão sobre o modo como se está escrevendo e, con-
insurjam, outros corpos se rebelem .
sequentemente, um trabalho sobre essa escrita, visando
Mas esse testemunho é também criação, uma vez torná-la mais eficaz na expressão do modo como se é afe-
que a linguagem não é nunca transparente e a violência, tado pelo mundo.
em todo o seu significado, nas marcas que escreve nos
corpos, nas singularidades que produz, é inenarrável.
Cria-se uma linguagem que, no intuito de, como disse 12 VILELA, Eugenia. Corpos inabitáveis. Errância, filosofia e memória.
Kafka, "comunicar algo incomunicável", algo que só se ln.: LARROSA, Jorge; SKLIAR, Carlos (Org.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença . Belo Horizonte: Autêntica, 2001 .
10 A Discórdia. Curitiba, s/d. p. 248.
11 Choices Of Hearth nº1, Curitiba, s/d . 13 VIDA SIMPLES nº2. Curitiba, 2000.

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Uma Cultura Crítica de Si locam no cotidiano, do que Deleuze chamaria de "devir


revolucionário das pessoas", ou seja, a capacidade que os
Essa guerra deveria ser travada também contra as sujeitos têm de transformarem a si mesmos, suas relações
práticas identitárias e autoritárias que se pretendiam punks. e seu meio mais próximo através do investimento em no-
Nesse sentido, reflexão sobre os modos de ser punk, so- vas formas de sociabilidade e convivência. Essas pessoas
bre quais são as melhores formas de proceder para atingir acabariam, então, reproduzindo as atitudes autoritárias
um determinado fim, sobre as formas não autoritárias de que criticavam e fechando o punk a tudo que viesse de
sociabilidade, é uma constante nos fanzines. E essas re- fora, mas também deixando sua atitude ser capturada pela
flexões funcionam como forma de problematizar constan- rede de um poder que atuava massificando e adestrando
temente o modo de vida no interior do próprio punk, de o que se pretende subversivo.
modo a traçar linhas de fuga nas malhas de um poder mo- Você já pensou se todas as obrigações que você
lecular que funciona capturando tudo aquilo que se torna cumpre são mesmo necessárias? Você já parou pra pensar
estático. Longe de devaneios revolucionários e de utopias sobre si mesmo, na sua existência? Você já imaginou que
fundadas em uma dialética, o que começa a aparecer no tudo podia ser diferente? Cada vez mais eu vejo as pesso-
punk, então, é uma consciência de suas limitações, mas as ignorando as possibilidades e se reduzindo a seres sem
que ao invés de suscitar uma imobilidade, tenta provocar capacidade de questionamento.
abalos locais naqueles dispositivos de poder que perpas- Os modos de pensar que orientam as práticas co-
sam o cotidiano, minar as relações de poder lá onde elas tidianas são incessantemente problematizados na escrita
parecem ser mais insignificantes e onde funcionam como punk. Não é raro encontrar esse modo de escrever em que
sustentação para a dominação política. O modelo clássico se questiona o leitor sobre o que ele está fazendo de si
do militante de esquerda, encarnado dessa vez na figu- mesmo, se as condutas são as únicas possíveis, sobre que
ra do "militante punk!hardcore", orgulhoso por continuar caminho se está seguindo, a que essa ou aquela atitude
"sobrevivendo no inferno", acreditando ser um "super-he- está levando e, principalmente, o que essas práticas e mo-
rói da resistência", passa a ser duramente criticado: dos de pensar implicam, que jogos de poder se escondem
Como eu odeio os tipos "heróicos"! (... ) simples-
por detrás deles sem que se perceba ou se reflita sobre
mente odeio aquelas pessoas que se gabam ou se isso. Essa ausência de reflexão é tomada como a forma
vangloriam ou falam como se tivessem a verdade mais fácil de passar a agir da "maneira errada". 15 Em suma,
absoluta nas mãos. (... ) Pessoas que tentam fazer pensa-se o próprio pensamento para ultrapassá-lo, para
como se o espírito do hardcore fosse algum super- liberá-lo da necessidade, para poder decidir sobre o que
poder que mudará o mundo um dia. 14 fazer de si mesmo, criar possibilidades de existência.16

A crítica se dirige, desse modo, à atualidade do


punk, ao que acontece nessa atualidade. O principal mo- "Ódio e Guerra"
tivo dessa crítica àqueles que acreditam ser "revolucio-
nários", aos "tipos heróicos" que se preocupam com o E eram os sentimentos de indignação e ódio que
futuro da revolução, é que se crê que eles acabam por se constituíam uma das bases da cultura punk. Com efeito,
esquecer do presente e das questões urgentes que se co-
15 CALAMARI. Curitiba, 1999.
14 APOCALYPSE WOW nº4. Curitiba, 1998. 16 STRAIGHT AHEAD. Curitiba, 1998.

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EVERTON MORAES A ESCRITA COMO GUERRA: ÉTICA E SUBJETIVAÇÃO NOS FANZINES PUNK

pode-se dizer que a revolta, motivada pelo sentimento de diz Michel Onfray, a violência aparece no momento em
ódio, foi para a cultura punk, desde o início da década de que a energia transborda e se resolve na destruição e
oitenta, o operador ético da transformação de si e da atua- no negativo, era preciso que a energia desses sentimen-
lidade. "Destruir o sistema, destruir a religião". A transfor- tos fosse, então, domada e contida dentro de uma forma
mação social e subjetiva desejada sempre aparecia sob o para que então se transformasse em algo construtivo, ou
signo da destruição, do desfecho final da ordem vigente, seja, uma subjetividade autônoma e equilibrada, libera-
dos valores estabelecidos. Porém, tudo leva a crer que da das diversas sujeições que a coagiam do exterior e de
essa destruição reivindicada era apenas um recurso retóri- dentro. Do exterior, pela crueldade do "sistema", pela
co, ou antes, uma energia bruta que seria preciso domar. alienação imposta por ele, seus mecanismos de controle
Para que se tornasse produtiva, a energia desse ódio não social, suas estratégias que tentam fazer da vida objeto
deveria ser apenas destrutiva, rancorosa e caótica, ela de- de uma dominação cada vez mais totalizadora, pois atu-
veria ser submetida e contida dentro de uma forma para am em todos os Iugares e a todo momento na vida das
que se pudesse chegar aos resultados desejados. As ener- pessoas. De dentro, porque eram sujeições que exigem
gias brutas deveriam se transformar em ação política: dos indivíduos não apenas a sua dedicação total, mas
também sua alma; 18 isso na medida em que sujeitam sua
Espírito crítico, pensamento criativo, bah! Não são
potência a uma organização padronizada, fazendo com
saídas fáceis. São caminhos que decidimos trilhar.
Caminhos que nos levam a beira do precipício.
que subjetivem formas de vida previamente codificadas.
Como Nietzsche, "você olha para o abismo e Submeter essa força a uma forma, transformando-a em
ele olha de volta para você". (... ) não podemos estilo (de vida) é, portanto, uma maneira de se antecipar
desistir (.. .) Acho que da raiva, da frustração aos assujeitamentos e escapar a essas sujeições que o
e do ódio deve surgir algo de bom. Devemos atingiam, de resistir a elas, de encontrar saídas lá onde
canalizar isso para algo construtivo. Algo que o poder pretendia-se impermeável. E, para tanto, é ne-
mude. Estou cansado de autodestruição, pena cessário realizar esse trabalho de domínio de si mesmo
de si mesmo, desespero. Vai de nós decidirmos através da escrita, isto é, para que se tornasse produti-
se os sentimentos vão apenas virar rancor ou se
va, a energia desse ódio não pode ser apenas destrutiva,
vão virar algo concreto, palpável, construtivo
e bom. (.. .) Nossas energias têm que virar algo
rancorosa e caótica, ela deve ser submetida e contida
além de ódio para nós mesmos e nossas ações. dentro de uma forma para que se pudesse chegar aos
Algo além de alguém sentado na cama chorando resultados desejados.
a noite. Não sou ingênuo, nem tolo . Mas não há Para domar essa energia do ódio, é necessário um
por que ser amargo. Acho que ser hardcore/punk trabalho do sujeito sobre si mesmo, um trabalho de cui-
é andar nessa linha, essa corda bamba" (oh não,
11
dado de si, de governo das potências que se agitam em
mais um chavão ... ). Os dois levam ao fracasso. O
si; é preciso um ascetismo, no sentido conferido por Mi-
importante é o equilíbrio. A revolução tem que
começar dentro de nós. 17
chel Foucault ao termo como "esquemas que o indivíduo
encontra na sua cultura e que lhe são propostos, sugeri-
Se a energia do ódio e da revolta, sozinhos, le- dos e impostos pela sua cultura, sociedade e seu grupo
vam à destruição niilista ou à autopiedade; se, como
18LAPOUJADE, David. O corpo que não agüenta mais. ln UNS,
Daniel; GADELHA, Silvio (Orgs.). ln : Nietzsche e De/euze: O que
17 APOCALYPSE WOW nº4, Curitiba: 1998. pode o corpo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. p. 81-90.

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EVERTON MORAES A ESCRITA COMO GUERRA: ÉTICA E SUBJETIVAÇÃO NOS FANZINES PUNK

social." 19 Trata-se de formas de relação consigo, práticas de vida prescritos pelas sociedades ocidentais capitalistas
e técnicas através das quais o sujeito visa à sua própria contemporâneas. Trata-se da criação de uma cultura da
transformação, seja ela espiritual ou corporal. O asceta crítica constante de si mesmo e dos significados do punk
tanto pode integrar-se e reproduzir uma determinada for- através da escrita, o que mobiliza uma série de processos
mação cultural, aceitando passivamente esses esquemas, autônomos de subjetivação.
quanto transformá-la, ressignificado-os e fazendo de si Pergunto-me, então, qual o efeito provocado pelos
uma obra singular. fanzines nessas guerras e nesses combates na existência.
Esse ascetismo é, portanto, uma contenção das pró- Minha resposta incerta e provisória pode ser sintetizada
prias emoções realizada a partir de uma reflexão sobre na célebre frase de Kafka, várias vezes lembrada por De-
aquilo que acontece consigo mesmo. Como afirma Nildo leuze, que fala da necessidade de "detectar as potências
Avelino: diabólicas do futuro", 21 perceber as forças invisíveis que
atravessam o cotidiano. Mais do que representar o modo
Não basta estar convencido de um ideal, é pre-
de vida punk nessa guerra, ele funciona como arma de
ciso querê-lo e desejá-lo a ponto de transformar
luta, é um gesto em que homens infames põem a si mes-
a própria existência pessoal através de critérios
de estilo. (... ) Essa efetuação do pensamento em mo, seu ser e seu modo de vida, em jogo, realizando uma
vontade possui como operador ético a revolta. demolição e uma reconstrução constante de si através de
É na revolta que se dá um estado de tensão que uma escrita que torna legíveis essas forças. O fanzine é,
exclui o indivíduo de toda autoridade que lhe é desse modo, arma e testemunho dessa luta que tem as
exterior. (... ) A revolta (... ) acontece através dá subjetividades como campo. Golpe desferido nessa luta,
(... ) experiência do insuportável, (... ) pressupõe ele pode fazer sentir a vibração desta; relato preservado
o afastamento dos "objetivos dominantes" e dos dela, ele detecta (para a ação imediata) e salva (mesmo
"padrões vigentes" que passam a ser considerados
sem a intenção de se fazer memória) do esquecimento
arbitrários, fazendo-os perder com isso seu poder
uma infinidade de práticas de liberdade.
de sujeição e legitimidade. 20

E a contenção em que venho insistindo é aquilo Referências Bibliográficas


que torna vivível essa revolta; era necessária uma suavi-
zação das formas de atuação ou, mais precisamente, uma
AVELINO, Nildo. Revolta, ética e subjetividade anarquis-
contenção em formas que pudessem conciliar a vivência
ta. ln: Revista Verve n%: um incomodo. PUC-SP, 2004
cotidiana no espaço social com um estilo de vida que lhe
fazia uma crítica profunda. É a partir dessa tentativa de DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: lógica da sensação. Rio
conciliação que vai surgir uma discussão que transforma de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
o punk de uma série de gestos de transgressão de resis- GRUNER, Clóvis. O espetáculo do horror: memória da
tência para uma estética de existência crítica dos modos loucura, testemunhos da clausura em "Diário do hospí-
cio" e "Cemitério dos vivos". ln: GRUNER, Clóvis; DE-
19 FOUCAULT apud. ORTEGA, Francisco. O corpo incerto: corporei- NIPOTI, Cláudio (Orgs.). Nas tramas da ficção: História,
dade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: literatura e leitura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
Garamond, 2008. p. 19.
20 AVELINO, Nildo. Revolta, ética e subjetividade anarquista. ln:
LAPOUJADE, David. O corpo que não agüenta mais. ln:
Revista Verve n%: um incomodo . PUC-SP, 2004. p. 178-180. Daniel Lins & Silvio Gadelha (Orgs.). Nietzsche e De/eu-

21 DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: lógica da sensação 79


78
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. p. 66.
EVERTON MORAES

ze: O que pode o corpo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, RESSONÂNCIAS NO MEIO DO CAMINHO E/OU
2002. NO CAMINHO DO MEIO: A POÉTICA INFAME DOS
ONFRAY, Michel. A política do rebelde: tratado de resis- FANZINES 1
tência e insubmissão. Rio de Janeiro: Rocco, 2001 .
ORTEGA, Francisco. O corpo incerto: corporeidade, tec- Demetrios Gomes Galvão
nologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janei-
ro: Garamond, 2008. O que conta em um caminho, o que conta em
uma linha é sempre o meio e não o início nem o
SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). História, memória, li- fim . Sempre se está no meio do caminho, no meio
teratura: O testemunho na era das catástrofes. Campinas: de alguma coisa.
Editora Unicamp, 2003. ÜELEUZE E PARNET
VILELA, Eugenia. Corpos inabitáveis: errância, filosofia
e memória. ln.: LARROSA, Jorge; SKLIAR, Carlos (Org.). Palavras ladram.
Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença.
Poetas é que levam uma vida de cão.
Belo Horizonte: Autêntica, 2001 .
MIRÓ

As paisagens contemporâneas têm se constituído


por desenhos opacos e por vezes ilegíveis. Pintadas não
mais por pinceis convencionais, mas compostas por cola-
gens, intervenções e sobreposições. As imagens que têm
estacionado sobre nossas retinas demarcam uma diferen-
ça entre a claridade das luzes e o embaralhamento dos
signos que montam tais paisagens. As dimensões existen-
ciais e as produções de sentido nos têm demonstrado que
nos afastamos das grandes narrativas tranqüilizadoras, es-
táveis e centralizantes, tais como as ideologias políticas.
Por outro lado, as discussões que subjugavam a cultura
como um subproduto de estruturas políticas e econômi-
cas perderam espaço para uma nova sensibilidade que
compreende as produções econômicas e políticas perten-
centes ao campo da cultura.
Nessa perspectiva, a cultura ganha espaço de des-
taque, principalmente porque esse olhar tem se lançado

1 Este artigo é o desdobramento de uma pesquisa de monografia


defendida no curso de História da Universidade Federal do Piauí,
em 2005, cujo título é "Fanzine: a cartografia rebelde de uma má-
quina de guerra".

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