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1. O rei da Belindia (uma fabula para tecnocratas) Era uma vez um reino sitvado num longinguo rinc’o a meio ea- sinho entre o Ocidente e o Oriente, denominando Belindia. Segundo re vvelacdes dos antigos. esse nome, estranha unidade dialética de contraios, tinha a ver com a natureza da colonizacio original do reino, onde povos ttazidos das indias produziam admiradas esséncias aromaticas que eram vvendidas em mercados extermos por comerciantes de orizem belea. Por aquele reino passou de certa feita um economista que, em visita a0 rei, explicou de sets afazeres, introduzindo-o aos mistérios dos juros compostos ¢ das taxas de crescimento de produtos ¢ pregos. Téo impressionado ficou o monarca com 0 visitante que de imediato © con- ‘ratou para estimar a taxa de crescimento de Belinda Para felicidade do visitante, Belindia dispunha de um bom Instituto de Estatistica, que também sc dedicava ao tracado de mapas cartogramas. Atendendo a um pedido do economista, 5 estatisticos produziram uma imensa listagem na qual arrolaram, na primeira coluna, ‘95 nomes dos belindios economicamente ativos; na segunda colina, 03 rendimentos em rupias-reais (a moeda que circulava no reino) percebidos no ano de MCMLX: e, na terceira coluna, a taxa de variagao desses rendi- ‘mentos (em rupias-reais de poder aquisitivo constante) entre MCMLX e MCMLXX para cada tum dos nomes na lista 57 A lista eta enorme incluindo uma parcela substancial da populagdo adulta de Belindia. Por um passe de magica, entretanto, uma amostra zepresentativa de apenas seis elementos pode ser extraida da populacao, com 0s seguintes resultados: Nome Renda Mensal em Rupias Taxa de crescimento da Reais em MCMLX rend, em precos ‘constants, entre MCMLX@ MICMEXK (6) Antonio, 100 18 COO essen 40 2 Concaigo 40 2 Fomando 10 3 anise 10 PAUIO vr nnevenr 10 2 Com esses dados, 0 economista pos-se a trabalhar. Seu problema consistia em agregar de alguma maneira essa multiplicidade de taxas individuais de erescimento, de modo a chegar a uma taxa tinica que re- presentasse o crescimento de Belindia na decada 0 economista mediton. Ele nio conhecia as inclinagdes politicas do rei da Belindia. Entretanto, ele considerou a possibilidade de estar lidando com tum liberal-cemocrata. Se assim fosse, o rei deveria aderir a0 principio basico de a cada pessoa um voto, independente de cor, sexo. Classe social ou crenca religiosa. Se uma pessoa vale tanto quanto outra no plano politico, é plausivel admitir que também a taxa de erescimento de sua renda deva valer tanto quanto a taxa de erescimento da renda de coutra pessoa, independentemente da condicao social em que se encontre © agregado democritico das taxas de crescimento seria nesse cas0 obtido ponderando-se igualmente as taxas individuais de crescimento. Na mostra considerada, cada elemento receberia uma ponderacio igual a 0,166, um mimero que somado a si mesmo seis vezes iguala a unidade, como deve acontecer com a soma de pondetagdes que se prezam. Ento, obtém-se: 15% x 0,166 + 2% x 0,166 + 2% x 0.166 + 2% x 0,166 + 246 x 0,166 = 15% x 0,166 + $x 26x 0,166 = 4.15 Com ponderacdes democriticas, a taxa de crescimento de Belindia seria assim de 4, 15% na década, ou seja, um meio-termo entre a taxa de crescimento de Antonio (15%) e a taxa de crescimento dos outros cinco nomes na amostra (26), aproximando-se mais do segundo mimero devido 40 maior nfimeto de pessoas que experimentaram esta taxa de crescimento. x 0,166 + 38 Pensando melhor, o economista - ele préprio um liberal - constatou nos dados a extrema desigualdade da distribuigto da renda em Belindia em MCMLX. Antecipou, entéo, que uma das metas do rei seria a alteragio dessa distribuicao na diresao de maior igualdade de niveis de renda. Uma expresso quantitativa desse sentimento seria a avaliagao das taxas de crescimento na razto inversa da renda das pessoas. Ou seja, a taxa de crescimento de uma pessoa rica receberia unta ponderagao baixa © a de uma pessoa pobre, uma ponderacao alia, No caso em tela, como Antonio tem uma renda dez vezes maior do que a dos outros cinco. a taxa de crescimento de sua renda teria uma ponderacdo dez vezes menor que a dos demais A nova taxa obtida com tais ponderagdes 0 economista denominow de “agregado da pobreza". por razes que Ihe pareceram ébvias. Seguindo as regras acima, ele deu a taxa de crescimento da renda de Antonio um peso de 0,020 e as taxas de crescimento da renda dos demais tum peso de 0,196, que foram os valores mais aproximados as ponderaedes ideais que pode obter. O resultado para 0 agregado foi 0 seguinte 15% x 0,020 + 5 x 2% x 0,196 = 2.26% Com ponderagdes da pobreza, o economista conciuin que a taxa de crescimento na década fora de 2.26%. Portanto, significativamente menor que a taxa democritica, como seria de esperar, jé que a taxa da pobreza enfatiza mais do que a primeira a experiéncia dos mais pobres, uj renda teve um crescimento bem menor que a dos mais ricos. Com .essas duas taxas, 0 economista ia considerar encerrada sua tarefa e inclusive tragou um gréfico para melhor explicar sua metodo logia, No eixo vertical colocou o valor das ponderagdes relativas ¢ no eixo horizontal o valor das rendas individuais relativas. As duas regras de ‘ponderagao foram entdo representadas pelas linhas abaixo: ponderagses rela- fivas das taxas RIQUEZA ‘30 exescimento cen ‘ J a TEMS RATICA —___posreza Tendas individuals relativa’s A terceira linha, saindo da origem e com uma inclinacdo positiva, 0 economista havia tragado apenas para referéncia. Entretanto, verificou queela 39

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