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Educar em tempos de incertezas

Elma Júlia Gonçalves de Carvalhoi

Resumo: Este texto tem como propósito discutir por que as dúvidas e incertezas
sobre ‘o quê educar’ e ‘para quê educar’ se manifestam na educação atual. Para
isso, procuramos analisar as mudanças vivenciadas na sociedade.
Palavras-chave: incertezas, educação, mudanças sociais.
Abstract: This text aims to discuss why the doubts and uncertainties about what
and why to educate and educate manifest in education today. For this, we
analyzed the changes experienced in society.
Key words: uncertainty, education, social change.

Introdução trabalho, disciplinando-o e


municiando-o de certa maneira com
A educação nos últimos tempos deixou conhecimentos técnicos, para que
de ser objeto de preocupação de possa “vencer na vida”, inserindo-
especialistas e despertou interesse nos se de forma vantajosa no mundo
diferentes segmentos da sociedade. Pais, como existe. Esta inserção
psiquiatras, psicólogos, sexólogos, vantajosa, por sua vez, asseguraria
juristas, dentre outros profissionais reconhecimento e remuneração, ou
liberais vêm a público através dos meios seja, o sucesso. Este paradigma,
de comunicação, interrogam-se sobre a amplamente dominante gerou outra
direção mais correta a ser dada aos visão, contestadora, que tenta
membros da sociedade atual. A assegurar à educação uma
autonomia que lhe permita centrar-
televisão e a imprensa escrita têm
se nos valores humanos, na
dedicado tempo e espaço para assuntos formação do cidadão, na visão
dessa área, o que significa que as crítica e criativa [...]
dúvidas sobre as perspectivas
educacionais futuras estão em pauta. Nesta mesma perspectiva, Redin (1996,
p. 94) pergunta:
Os educadores perguntam: devemos
educar para a competitividade ou para a Para onde vai a escola? Não temos
cidadania? Dowbor (1996, p.17) claro, mas o que sabemos é que
onde ela está e para onde está indo
evidencia-nos bem esta preocupação. não se sustenta mais. A existência
Segundo ele, humana e os processos que
Estamos assistindo a uma profunda garantem sua sobrevivência estão
mutação do próprio papel da radicalmente mudados: vivemos
educação no processo de possivelmente uma nova era - em
reprodução social. Estamos alguns aspectos melhor; em outros,
acostumados a um paradigma, em pior que a anterior que vemos se
que a educação seria um esvair. Novos tempos exigem novos
instrumento destinado a adequar o paradigmas que são construídos na
futuro profissional ao mundo do

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refrega do cotidiano no qual [...] Não é tão simples, se os pais de
lutamos para sobreviver. antigamente diziam aos filhos: ‘Sei
o que é melhor para vocês’, os pais
Esses depoimentos nos permitem de hoje em dia lamentam: ‘Nem
considerar que os caminhos da sei o que é melhor para mim [...]’
educação encontram-se num impasse. (Ibid, p. 63).
Como diz Dowbor (1996, p.18),
“ninguém tem realmente a bússola Não pretendemos aqui entrar no mérito
nesse processo vertiginoso de mudanças de problemas como a falta de limites
que nos atinge” (Ibid, p. 19). dos pais na educação dos filhos e se isto
se deve ou não à incompreensão e
Essa inquietação não é uma distorção dos princípios da pedagogia
particularidade da educação escolar ela nova. Queremos, sim, observar o que
está presente também nas discussões nos salta aos olhos, nos comentários
sobre as relações familiares, onde se desses especialistas, ou seja, o quanto as
busca compreender qual deve ser o instituições escolar e familiar
papel dos pais na educação dos filhos. encontram-se em processo de mudança
Um exemplo pode ser observado em e, nesse processo, exatamente porque os
uma reportagem da Revista Pais & comportamentos tradicionais de pais e
Filhos, “Os Pais Têm que Perder o filhos estão sendo alterados? Onde
Medo de Educar”. Nela, especialistas reside a dificuldade dos pais e
discutem as relações atuais entre pais e professores de se adaptarem às novas
filhos e, abordando as mudanças nas condições?
relações familiares e a origem de novas
referências, destacam a dificuldade dos Gostaríamos, inicialmente, de chamar a
pais em educar os filhos diante dos atenção para quão parciais são estas
novos comportamentos. O depoimento análises, que localizam o problema da
da educadora Tânia Zaguri, ilustra-nos falta de limites comportamentais das
bem essa questão. crianças no núcleo familiar, apontando,
conforme a Revista Pais e Filhos, como
[...] a criança foi sendo colocada no solução a necessidade dos pais
centro das discussões. É ela quem deixarem de se influenciar por um
determina o filme, o programa de
psicologismo excessivo ou de se sentir
TV, ou o restaurante onde a família
vai almoçar [...] Influenciados por inseguros para assumir, seu verdadeiro
um psicologismo excessivo, eles papel na educação dos filhos - o de
[os pais] têm medo de traumatizar impor limites. Neste sentido,
os filhos e se sentem inseguros para levantamos a questão: quais são os
impor-lhes limites. E o que é pior, elementos que não aparecem nestas
se perdem na tarefa de educá-los discussões e seriam fundamentais para o
(REVISTA PAIS E FILHOS, 1994, entendimento das alterações dos
p. 61) comportamentos quer dos pais e
Ainda na mesma matéria podemos educadores, quer dos filhos?
observar a opinião do pediatra e A principal lacuna destas análises é o
psiquiatra Christian Gauderer, sobre a fato de que elas compreendem as
dificuldade dos pais na tarefa de educar relações quer familiares ou educativas
os filhos. independentemente de qualquer força
Na verdade, os limites praticamente social. Para nós os comportamentos
deixam de existir [...] Mas é humanos não explicam por si só, para
fundamental que os pais, compreendê-los é necessário desvelar
especialmente percam esse medo

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processo social no qual estão inseridos. os males da rotina cega. Pede-se aos
Deste modo, consideramos que os trabalhadores que sejam ágeis, estejam
elementos fundamentais para se abertos a mudanças à curto prazo,
entender os problemas decorrentes das assumam riscos continuamente,
mudanças nas relações familiares e na dependam cada vez menos de leis e
forma de educação encontra-se nas procedimentos formais”. São
transformações mais gerais da introduzidas novas formas de
sociedade hoje e, que, por sua vez, organização do processo de trabalho.
comandam, as mudanças nas Por exemplo, ao trabalhador é entregue
instituições familiares e educacionais. O maior responsabilidade pela sua própria
objetivo deste texto é, portanto, eficiência, produtividade ou
demonstrar esta relação. permanência no trabalho - liberdade
para controlar seu próprio trabalho.
Uma sociedade em mudança...
Conforme Kuenzer (2000), a
A crise do taylorismo/fordismo iniciada internalização do controle é combinada
nos anos setenta trouxe a necessidade de com a responsabilização do grupo para
uma reestruturação produtiva. O pós- atingir as metas na célula da produção.
taylorismo/fordismo busca, então, uma Há o desmantelamento das estruturas
nova forma de regulação (novas formas burocráticas através de novos
de gerência e contrato de trabalho) e procedimentos de gerenciamento, como
configuração das relações de trabalho, a descentralização, com o
dando origem à globalização da desaparecimento da figura do
economia e à reengenharia da produção, supervisor, permitindo às pessoas maior
responsáveis pelo novo padrão de controle sobre suas atividades e a
acumulação capitalista – a acumulação adoção do modelo de organização
flexível. Em decorrência, os processos cooperativa e discursiva, envolvendo a
de produção de base rígida, operando participação dos trabalhadores na
em imensas linhas de montagem, com tomada de decisões. O princípio
grandes estoques de produtos duráveis, fundamental é o da “auto-regulação”.
envolvendo uma potenciação imensa do Ou seja, segundo Fleury e Vargas
trabalho manual e desenvolvendo-se (1983, p. 23), “as tarefas de
numa lógica de adestramento, vão planejamento e controle são entregues
dando lugar aos processos de base aos próprios elementos do grupo”.
modular (através do qual a velha linha
A burocracia, que auxiliou o
de montagem vai sendo substituída por
desenvolvimento da produção nos
ilhas de produção isoladas,
moldes do taylorismo/fordismo, tornou-
fragmentando e dispersando todas as
se um empecilho para a viabilização de
etapas e esferas da produção,
respostas às rápidas mudanças
desmantelando as linhas de montagem,
científico-tecnológicas, para atender as
e introduzindo constantes inovações) e
exigências frenéticas do mercado,
processos flexíveis (“flextempo” -
trazendo a necessidade de uma nova
horários flexíveis, trabalho domiciliar,
forma de administração para que o
trabalho por tarefas).
sistema volte a funcionar de maneira
Segundo Sennett (2000, p. 9), nos eficiente. A autoridade burocrática é
setores dinâmicos da economia a ênfase substituída pela autonomia democrática.
na flexibilidade está mudando o próprio Surge um novo perfil de gestor, alguém
significado do trabalho, “atacam-se às que coordena a tomada de decisões
formas rígidas de burocracia e também próprias às equipes de trabalho. É

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aquele que garante a velocidade na produção flexível, fazendo emergir
tomada de decisões. exigências de novas competências,
dentre elas: capacidade de seleção,
Dentre os muitos efeitos provocados por
interpretação e processamento de
essas mudanças os mais evidentes são a
informações; autonomia; atenção e
maior intensificação,
responsabilidade; capacidade de
desregulamentação, precarização do
comunicação; capacidade de identificar
trabalho e fim do pleno emprego.
e resolver problemas com agilidade,
Assim, enquanto, por um lado, o novo
decorrentes da própria variabilidade e
modelo introduz uma nova organização
dos imprevistos produtivos;
produtiva e novas tecnologias, com base
criatividade; capacidade de assumir
microeletrônica, mediante a
múltiplos papéis; flexibilidade para se
informatização e robotização,
adaptar às novas situações; capacidade
contraditoriamente, por outro, dispensa
de gerar resultados; busca de
a força de trabalho humana. Também o
aperfeiçoamento contínuo;
deslocamento de massas crescentes do
autodisciplina e capacidade de
capital do setor produtivo para o setor
liderança. Todas estas habilidades
financeiro leva a uma redução de postos
passam a ganhar maior importância
de trabalho, caracterizando uma
numa sociedade de base cada vez mais
situação comumente denominada como
automatizada e competitiva, em que a
desemprego estrutural, na qual cada vez
mão-de-obra se torna desqualificada e
mais se manifesta a impossibilidade de
obsoleta rapidamente. Nesse sentido,
reprodução da vida na lógica do capital,
comenta Félix (1984, p. 37) “o aumento
para uma grande parte dos homens,
da produtividade não se limita apenas
gerando insegurança, incertezas quanto
ao nível da maior exploração do
as condições de subsistência e
trabalhador manual, mas implica na
marginalização social.
subordinação progressiva do trabalho
Assim, a crise dos anos 1980-90 intelectual, de modo geral, ao
representa não apenas a falência de um movimento de expansão do capital”.
modelo de crescimento industrial
Considerando que, as representações
fundado na produção de massa, mas,
que os homens partilham o que os
sobretudo, o prenúncio de que a sua
orienta e os ensina a atuar no mundo em
superação estaria vinculada à adoção de
que vivem é produto das condições
um novo paradigma tecnológico,
sociais e históricas. Por conta disso,
organizacional e de gestão do trabalho.
podemos dizer que as instituições são
Na trajetória do capitalismo que ao desafiadas a responderem às mudanças
alterar sua produção, altera também as vivenciadas no mundo do trabalho. O
funções dos homens participantes dessa mercado volta sua atenção para a escola,
mesma produção. Face às exigências de pois esta é vista como tendo função de
globalização, inovação e formar a futura mão-de-obra. Por um
competitividade as empresas, ao invés lado, o saber do trabalhador passa a ser
do trabalhador parcial, excessivamente visto como estratégico para o aumento
especializado, com conhecimentos da produtividade. Definindo-se a
fragmentados dirigidos para ocupações necessidade do investimento na
bem definidas, passa-se a exigir um ampliação do conhecimento, retoma-se
novo perfil de trabalhador, com a tese do “capital humano”. Por outro,
habilidades e capacidades intelectuais os homens devem aprender a lidar com
que lhe possibilite adaptar-se à a incerteza do emprego e, ao mesmo

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tempo, com a certeza da sua própria com a vulnerabilidade e a instabilidade,
obsolência no mercado de trabalho. e caso não seja bem sucedido deve ser
capaz de mudar o “jogo” e lidar com o
O movimento mais flexível do capital
fracasso. Consideramos provir daí a
dá origem a novos hábitos, valores,
valorização da “inteligência
crenças, costumes, estilos de vida,
emocional” como habilidade
linguagens que se opõem às formas
fundamental nesta nova etapa do
compartilhadas pelos homens até então.
capitalismo.
Sennett, em seu livro a Corrosão do
Caráter – conseqüências pessoais do Conseqüentemente, os antigos vínculos
trabalho no novo capitalismo, nos dá a que mantinham os homens unidos
dimensão das alterações vivenciadas socialmente são dissolvidos. Os novos
nos comportamentos humanos. Segundo comportamentos criados e assumidos,
ele, apesar de no modelo de acumulação como condição necessária à sua
taylorista/fordista, os trabalhadores sobrevivência, numa sociedade
executarem funções especializadas e o extremamente competitiva, fomentam a
processo produtivo ser centralizado e crescente individualização, a
minuciosamente controlado, indiferença e a desagregação do tecido
padronizado, sincronizado, a social.
organização do trabalho coletivo e a Isto porque, de acordo com Sennett, a
estabilidade no emprego na carreira, nova ordem, ao abolir as regras do
tendiam a unificar os trabalhadores, passado, substitui-as pelas freqüentes
produzindo comportamentos como trocas de emprego, impossibilitando a
lealdade, compromisso mútuo, criação de vínculos duráveis no local de
confiança, solidariedade, busca de trabalho ou com os vizinhos. Não há
metas à longo prazo. A flexibilização mais carreira tradicional, os indivíduos
produtiva dá às pessoas mais liberdade são estimulados a trabalhar mais fora do
para moldar suas vidas, mas também que dentro das organizações e a
flexibiliza as relações e o caráter. Como organizarem seu próprio tempo. “Não
não existem mais regras fixas, encoraja- há mais longo prazo”, o capitalismo
se a espontaneidade e a autonomia. A flexível destrói as virtudes de longo
dependência mútua torna-se um mal, prazo e dos laços que demandam tempo
sendo incentivada a capacidade de para surgirem. O mundo torna-se cada
desprender-se do próprio passado, das vez mais um mundo de incertezas e
coisas ou pessoas, tudo se concentra no indiferença.
momento imediato, favorecendo as
ligações tênues e superficiais. A Também porque, dentro das novas
experiência acumulada tem pouco valor, condições de mercado, os salários e
valoriza-se a mobilidade ocupacional, a contratos não dependem mais tanto de
disposição e a capacidade para correr negociações através de sindicatos
riscos, para provar continuamente e para representando o conjunto de
“sempre começar de novo”, pois “numa trabalhadores. É dado lugar a uma
sociedade dinâmica as pessoas passivas forma de regulação, através de
murcham. Ficar firme é ser deixado de “caminhos mais fluídos e
lado” (SENNETT, 2000, p. 103). A individualizados”, as empresas
capacidade de correr riscos envolve oferecem certas vantagens que
permanecer na ambigüidade e na dependem do desempenho e não dos
incerteza, o indivíduo deve ter objetos de negociação explicita
habilidade de lidar com o desconhecido, (SENNETT, 2000, p. 101). No limite,

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importariam os objetivos individuais, os dizer que diante desse cenário as
ganhos pessoais mais do que os das incertezas manifestam-se também na
organizações coletivas. Em essência, na educação, fazendo com nós nos
selvagem economia de mercado o perguntemos sobre qual deve ser o
melhor vence, não importa de onde ele papel da educação na sociedade atual?
venha ou as armas que tenha que usar.
Considerações finais
Vivemos num tempo onde tudo pode e
tudo vale, ou onde nada mais vale, num Ao percorrermos o caminho das
tempo marcado por valores individuais mudanças que estão sendo vivenciadas
e práticas decorrentes. A desintegração na passagem do modelo de acumulação
dos velhos padrões de relacionamento taylorista/fordista para o de acumulação
social é perturbadora, pois quebra-se o flexível, procuramos demonstrar que a
elo entre as gerações. Divididos entre o explicação para a alteração das relações
passado e o presente, não temos mais familiares não pode ser buscada apenas
regras fixas, os valores mudam nos indivíduos e na educação por si
constantemente, gerando sentimentos de mesma, mas na dinâmica das relações
dúvidas e incertezas. sociais que faz com que os homens
adquiram novas maneiras de pensar e
Em síntese, vivemos num mundo de agir.
alterações sociais significativas, cujos
modos de vida tradicionais desaparecem Procuramos demonstrar o quanto as
sendo substituídos por novos concepções de educação são reguladas
comportamentos, sentimentos e formas pelo movimento da sociedade e
de relacionamento. A emergência do assumem formas diferentes segundo as
novo cria um clima de dúvidas, diferentes necessidades criadas
inquietações e incertezas, não apenas historicamente pelos homens. Podemos,
por não se saber ao certo se os assim, concluir que os indivíduos
comportamentos assumidos são mais deixam de se comportar como seus
apropriados ou não, mas também quanto antepassados quando a sociedade em
à própria subsistência humana. Por isso, que vivem passa a se produzir sob bases
um dos principais papéis reservados a diferentes, exigindo deles um novo
educação atual tem sido o incitamento a comportamento.
iniciativa, ou seja, formar o espírito A sociedade contemporânea vivencia
autônomo e empreendedor para o auto- transformações muito rápidas e
emprego e a cidadania ativa, a partir da profundas. Essas mudanças, se por um
qual o sujeito é capaz de construir novas lado produzem novos conhecimentos,
referências e sobrepô-las a novas riquezas, por outro também
configurações antigas e velhas produzem novas contradições sociais,
instituições sociais e projetar-se como como o desemprego estrutural
agente de seus planos individuais e da crescente, a origem de formas marginais
comunidade da qual faz parte. Enfim, ou informais de sobrevivência, que
tornar-se sujeito do seu próprio destino dispensam contratos e vínculos
e do destino coletivo (DELORS, 2001). empregatícios e desregulamentam as
Considerando que a educação não se relações tradicionais de trabalho, o
define apenas pelas transformações no aumento da situação de miséria, o
mundo do trabalho, também se define agravamento das desigualdades sociais,
pelas formas de sociabilidade que se a marginalização, etc.
formam e se transformam, podemos

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Em meio às alterações sociais não momentos sociais, pois a sociedade vive
presenciamos apenas a modificação na um processo constante de mudanças,
forma de organização familiar e porém, nos momentos mais altos de
educativa. A instabilidade econômica, a crise, com o acirramento das
recessão e o desemprego também contradições e lutas, torna-se mais
geraram no homem moderno intensa, vivencia-se mais incertezas do
sentimentos de angústia, instabilidade e que certezas ou definições.
incerteza tanto quanto ao futuro, como É nesse sentido que sugerimos a
quanto aos comportamentos e valores necessidade de um exercício de
mais adequados à nova realidade. A compreensão dos conflitos educativos e
insegurança e fragilidade dos pais e familiares vividos atualmente sob uma
educadores diante das gerações mais perspectiva diferente da dos autores
jovens traduzem as incertezas de uma contemporâneos. Entendemos ser
sociedade que vive a crise das relações necessário pensar essas relações, esses
tradicionais e que busca o caminho para encaminhamentos educacionais
a construção do novo. indefinidos como próprios das
Assim sendo, as mudanças não se transformações vividas em nosso
processam de forma instantânea, mas se momento, ou seja, mergulhando-os nos
fazem através de um processo lento, conflitos sociais característicos da crise
doloroso, e conflituoso. O novo que se da nossa sociedade.
introduz não representa um Para finalizar, gostaríamos de esclarecer
aperfeiçoamento do velho, que, que os tempos de incertezas são também
incorporando novos elementos, atinge tempos de procuras, por meio das quais
uma forma mais perfeita e se estabelecerá uma nova “certeza”. Ao
desenvolvida. O novo constrói-se como longo do tempo, em consonância com o
um processo de negação, destruição dos amadurecimento das novas condições,
velhos comportamentos e papéis que estão sendo gestadas no interior das
sociais, porque estes vão perdendo sua relações anteriores, mas cujas
razão de existir e deixando de características ou fisionomia os homens
corresponder às necessidades de têm dificuldades de captar, o novo
sobrevivência dos homens. Surgem, em caminho a ser seguido será descoberto,
substituição, novos comportamentos, ou criado, e a educação converte-se
novos homens, novas funções sociais. A novamente numa ação consciente,
substituição dos antigos intencional e planejada (CARVALHO,
comportamentos, entretanto, não 2000).
garante a plena consciência imediata do
que é melhor. Mesmo aqueles que
entendem que precisam mudar e Referências
defendem as mudanças, desconhecem
CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Uma
se a nova forma lhes irá possibilitar relação entre a transição social e a indefinição
êxito. É o próprio processo histórico, educacional. In: Revista Acta Scientiarum,
portanto que gera esses momentos de Maringá, UEM/PPG, p.167-174, Mar/2000.
confusão, que gera sentimentos de DELORS, J. (Org.). Educação: um tesouro a
insegurança, temor, ansiedade, dúvidas descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão
e incertezas. Internacional Sobre a Educação Para o Século
XXI. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
É preciso ainda lembrar que a dúvida
DOWBOR, Ladislaw. Educação, Tecnologia e
pode estar presente em todos os Desenvolvimento. In: BRUNO, Lúcia. (Org.).

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Educação e Trabalho no Capitalismo Educação: atuais tendências, novos desafios. 2.
Contemporâneo. São Paulo: Atlas, 1996. ed. São Paulo: Cortez, p. 33- 57, 2000.
FÉLIX, Maria de Fátima Costa. Administração REDIN, Euclides. Educação Básica e
Escolar: Um problema educativo ou Desenvolvimento Infantil: Aproximações e
empresarial? São Paulo, Cortez: Autores Pistas. In: Educação Básica e o Básico na
Associados, 1984. Educação. Porto Alegre: Sulina/Unisinos,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 1996.
FLEURY, Afonso Carlos C. e VARGAS,
Nilton. Organização do trabalho: uma REVISTA PAIS & FILHOS. Os Pais Têm que
abordagem interdisciplinar: sete casos brasileiro Perder o Medo de Educar. São Paulo:
para estudo. São Paulo: Atlas, 1983. Manchete, 1994.
KUENZER, Acácia Z. As Mudanças no Mundo SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter.
do Trabalho e a Educação. Novos Desafios para Conseqüências pessoais do trabalho no novo
a Gestão. In: Gestão Democrática da capitalismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Record,
2000.

i
ELMA JÚLIA GONÇALVES DE CARVALHO é Doutora em Educação pela Universidade
Metodista de Piracicaba e professora da Universidade Estadual de Maringá.

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