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SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

A relação “nós” e “eles” nas p. 9-10 O que há de marcante nesses discursos são as iguarias retóricas
narrativas que encontramos constantemente em suas descrições do “Oriente
misterioso” os estereótipos sobre “o espírito africano” (ou indiano,
irlandês, jamaicano, chinês) as ideias de levar a civilização a povos
bárbaros ou primitivos, a noção incomodamente familiar de que se fazia
necessário o açoitamento, a morte ou o longo castigo quando se
comportavam mal ou se rebelavam, porque em geral o que “eles” melhor
entendiam era a força ou a violência; “eles” não eram como “nós”, e por
isso deviam ser dominados.
Cultura, relativa independência p. 10 Primeiro, “cultura” designa todas aquelas práticas, como as artes de
e existe sob forma estética descrição, comunicação e representação, que têm relativa autonomia
perante os campos econômico, social e político, e que amiúde existem sob
formas estéticas, sendo o prazer um de seus principais objetivos. Incluem-
se aí, naturalmente, tanto o saber popular sobre partes distantes do mundo
quanto o conhecimento especializado de disciplinas como etnografia, a
historiografia, a filologia, a sociologia e a história literária.

Narrativa e produção de p. 11 Os leitores desse livro logo perceberão a narrativa é crucial para
espaços minha argumentação, sendo minha tese básica a de que as histórias estão
no cerne daquilo que dizem os exploradores e os romancistas acerca das
regiões estranhas do mundo; elas também se tornam o método usado pelos
povos colonizados para afirmar sua identidade e a existência de uma
história própria deles. [...] O poder de narrar, ou de impedir que se formem
e surjam outras narrativas, é muito importante para a cultura e o
imperialismo e constitui uma das principais conexões entre ambos.
Cultura, batalha entre “nós” e p. 12 Com o tempo, a cultura vem a ser associada, muitas vezes de forma
“eles” agressiva, à nação ou ao Estado; isso “nos” diferencia “deles”, quase
sempre com algum grau de xenofobia. A cultura nesse sentido é uma fonte
de identidade, e aliás bastante combativa, como vemos em recentes
“retornos” à cultura e à tradição. Nesse segundo sentido, a cultura é uma
espécie de teatro em que várias causas políticas e ideológicas se
empenham mutuamente. [...] Longe de ser o plácido reino do refinamento
apolíneo, a cultura pode até ser um campo de batalha onde as causas se
expõem à luz do dia e lutam entre si [...]

Mapear através do discurso, p. 15 A exploração feita por Carter daquilo que chamou de história
incorporar ou deslocar o outro espacial da Austrália oferece-nos outra versão da mesma experiência.
Aqui exploradores, degradados, etnógrafos, aventureiros em busca de
lucro, soldados que mapeiam o vasto continente relativamente vazio, cada
qual num discurso que afasta, desloca ou incorpora o outro.
Relação EUA-América Latina, p. 17 Para um americano contemporâneo, o aspecto mais atraente da obra
formas de influenciar é a presciência de Conrad: ele antevê a incontrolável insatisfação e os
“desmandos” das repúblicas latino americanas (governa-las, diz citando
Bolívar, é como arar o oceano), e assinala a maneira própria da América
do Norte de influenciar as circunstâncias de forma decisiva, ainda que
quase imperceptível.
Imperialismo e espaços p. 21 Nessa visão, as regiões distantes do mundo não possuem vida,
história, cultura dignas de menção, nenhuma independência ou identidade
dignas de representação sem o Ocidente. E quando há algo a ser descrito
é, seguindo Conrad, indizivelmente corrupto, degenerado e irremediável
Espaços e poder, territórios p. 39 Estão em jogo territórios e possessões, geografia e poder. Tudo na
história humana tem suas raízes na terra, o que significa que devemos
pensar sobre a habitação, mas significa também que as pessoas pensaram
em ter mais territórios, e, portanto precisam fazer algo em relação aos
habitantes nativos. Num nível muito básico, o imperialismo significa
pensar, colonizar, controlar terras que não são nossas, que estão distantes,
que são possuídas e habitadas por outros.

Exame geográfico da p. 39-40 O que tentei fazer foi uma espécie de exame geográfico da
experiência histórica experiência histórica, tendo em mente a ideia de que a terra é, de fato, um
único e mesmo mundo, onde praticamente não existem espaços vazios e
inabitados. Assim como nenhum de nós está fora ou além da geografia, da
Luta pela geografia que mesma forma nenhum de nós está totalmente ausente da luta pela
abrange ideias, imagens, geografia. Esta luta é complexa e interessante porque não se restringe a
representações soldados e canhões, abrangendo também ideias, formas, imagens e
representações.
Relação cultura e imperialismo p. 50 Como nem a cultura nem o imperialismo são inertes, as conexões
entre eles, enquanto experiências históricas, são dinâmicas e complexas.
Meu objetivo principal não é separar, e sim estabelecer conexões, e estou
interessado nisso pela grande razão filosófica e metodológica de que as
formas culturais são híbridas, ambíguas, impuras, e chegou a hora de a
análise cultural voltar a vincular o estudo a realidade delas.
Exp. históricas e culturais são p. 51 Ao mesmo tempo, paradoxalmente, nunca tivemos tanta consciência
híbridas da singular hibridez das experiências históricas e culturais, de sua
presença em muitas experiências e setores amiúde contraditórios, do fato
de trasporem as fronteiras nacionais, de desafiarem a ação policial dos
dogmas simplistas e do patriotismo ufanista.

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