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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CÂMPUS DE ARAGUAÍNA
CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS

Módulo 2: A Legislação em Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo.

Aula 1 - A Nova República e os Direitos Humanos no Brasil

1. Contextualização sócio-histórica do surgimento dos Direitos Humanos

1.1. A abertura Política no Brasil e os Direitos Humanos

O Brasil vivenciou aproximadamente 20 anos de ditadura ou regime militar. Há


uma vasta literatura histórica que registra esses longos anos de nosso regime de exceção
(kucinski, 2001, Skidmore, 2010, Zaverucha, 2000). Nessa fase de nossa história, os
direitos humanos foram profundamente desrespeitados e violações de toda ordem foram
cometidas contra a dignidade da pessoa humana. Também, nessa mesma época, se
instaurou uma luta feroz da “sociedade civil organizada” para reestabelecer a normalidade
democrática e a constitucionalidade efetiva de nosso ordenamento jurídico. Essa breve
contextualização histórica auxilia na compreensão da emergência entre nós do conceito de
dignidade da pessoa humana e de valorização dos direitos do homem.

1.2. Desigualdade Social e dignidade da pessoa humana: discutindo conceitos

O Brasil formou-se a partir de processos histórico-sociais desiguais. A ocupação, a


exploração e produção das riquezas no país foram obtidas subjugando africanos e nativos
americanos, tais povos foram tratados desigualmente em relação ao colonizador europeu e
entre si. O processo de colonização brasileiro desigual produziu uma sociedade desigual
repleta de preconceitos, discriminação e racismo. Todo esse processo é por vezes velado,
ocultado e escamoteado através de pseudomecanismos de equalização que confundem os

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sujeitos que, historicamente, ainda no século XXI lutam para obter igualdade real, social e
jurídica. Nas palavras da profa. Simone Savazzoni:

Quando se analisa, por exemplo, o modo como nasceu, cresceu e se desenvolveu


o povo brasileiro, compreende-se que a discriminação esteve presente desde os
primórdios de uma nação formada basicamente a partir da miscigenação de todas
as matrizes étnicas, não havendo nada igual no mundo inteiro. Percebe-se que nas
desigualdades impostas pelos costumes europeus está a origem do desequilíbrio
social, constituído a partir da exploração econômica, que sempre se valeu do
preconceito para difundir a discriminação como cultura. (SAVAZZONI, 2015, p.
43)

A desigualdade é um atributo social. Isto é, se produz a partir das diferenças que


existe em cada indivíduo e entre os indivíduos. Essas diferenças podem ser fenotípicas e/ou
genotípicas, econômicas e/ou políticas, culturais e/ou religiosas, pouco importa os tipos de
diferenças que haja entre os indivíduos. Tais diferenças são utilizadas para promover a
desigualdade. Dito de outro modo, utiliza-se as diferenças entre as pessoas para estimular e
fortalecer a desigualdade, pois algumas características pessoais e/ou coletivas são utilizadas
para menosprezar ou diminuir o valor social dos indivíduos.
Cara(o)s cursistas: a cor da pele, a altura das pessoas e/ou sua densidade corporal
(obesidade ou falta dela), seu sexo, sua religião e/ou qualquer outra característica é
valorizada ou desvalorizada para promover a desigualdade social e individual entre homens
e mulheres no país e, infelizmente, esse processo de construção da desigualdade social
atinge todas as dimensões da sociedade [econômica, política, cultural, sexual, de lazer,
estética, moral, etc.], causando sofrimento e angustia naquele(a)s que enfrentam esse
processo de hierarquização social. Esse processo é mais intenso e crítico no cotidiano
escolar.
As crianças, adolescentes e jovens – e até adultos – enfrentam esse drama
histórico-social da desigualdade. O professor, isto é, todos nós que atuamos na escola,
creches, universidades, enfim, que desenvolvemos nosso trabalho de educar pessoas, isto é,

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de formar ética, estética e moralmente o caráter de pessoas. Nós que temos a delicada
responsabilidade de imprimir certo direcionamento nos rumos das vidas de milhares de
pessoas ao longo de nossa vida profissional, nós temos que agir com intensa
responsabilidade socioeducativa. Essa é uma missão, e já disse alhures, é um sacerdócio.
Atuar na formação do caráter de alguém é uma enorme responsabilidade e, por
isso, precisamos agir de modo seguro e com conhecimento de causa. Dominar os conceitos
de dignidade da pessoa humana, vulnerabilidade, desigualdade social, discriminação,
preconceito, racismo, homofobia, controle social, entre outros, nos ajuda a compreender o
tema dos direitos e, de modo mais amplo, dos direitos humanos e dos direitos fundamentais
no país. A nossa aulas visam proporcionar uma discussão qualificada e, cada vez, mais
especifica sobre os direitos humanos na literatura nacional e internacional.
Por que esses conceitos são importantes? Por que precisamos entender de onde
eles vêm? Será que eles têm algum caráter prático? Creio que sim. Precisamos saber a
origem desses fundamentos teóricos para aplicarmos em nosso dia-a-dia para não sermos
iludidos e realizarmos ou praticarmos atos de preconceito, discriminação e racismo,
sexismo ou qualquer outra forma de desqualificação e desigualdade social. Quando temos
clareza dos conceitos evitamos a propagação de práticas contrarias à dignidade da pessoa
humana, à cidadania e ao Estado de direito. Quando estamos seguros de nossos valores
somos incapazes de discriminar ou de violar os direitos de outras pessoas. Porque quando
não estamos seguros de nossos valores somos levados a discriminar, desvalorizar e agir
com preconceito, como argumenta a profa. Simone Savazzoni:

O preconceito e sua disposição em julgar os homens por causa da diferença; o


racismo, com sua prepotência ideológica, que pretende tornar alguns superiores a
outros; e a discriminação, conduta injusta por excelência, dão vazão a
determinadas atitudes que conduzem ao desequilíbrio das relações humanas.
Assim sendo, preconceito, racismo e discriminação exigem mais do que uma
legislação que coíba sua prática e avanço. É necessário, sobretudo, que haja uma
mudança de comportamento por parte da sociedade. (SAVAZZONI, 2015, p. 40)

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É disso que se trata cara(o) cursista. É preciso mudar comportamentos, atitudes,


caráter. Os valores que os nossos aluno(a)s na sala de aula precisam ser revistos e
rediscutidos, eles precisam de nosso auxilio para leva-los a compreender que todos somos
diferentes e que a diferença é o maior fator de desenvolvimento humano e social que a
nossa sociedade possui, quando valorizamos as diferenças crescemos enquanto seres
humanos e como indivíduos e coletividade.

1.3. Conceito de dignidade da pessoa humana e de direitos humanos.

O debate, sócio-histórico, sobre o tema dos Direitos Humanos no Brasil é


relativamente recente. Pode-se dizer que a preocupação com o tema se intensifica a partir
da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em 05 de outubro de
1988. O país passou nessa época por um processo histórico de abertura política superando o
conhecido período da ditatura militar, época em que os direitos humanos foram totalmente
desrespeitados no Brasil. É a respeito disso que vamos conversar nessa aula de hoje, isto é,
sobre o processo de consolidação de um sistema de proteção da dignidade da pessoa
humana no Brasil ao longo de 1980 e 2018.
É importante frisar que o conceito de dignidade da pessoa humana ocupa a
centralidade do debate sobre os direitos humanos. Porque não é possível refletir sobre a
existência de uma ser humano de modo parcial, mas, ao contrário, de modo integral, total.
Não há seres humanos pela metade. A dignidade da pessoa humana considera o ser
humano na sua indivisibilidade, na sua personalidade, na sua individualidade, na sua
generalidade, na sua integralidade, na sua globalidade, na sua unicidade e multiplicidade,
em suma, sua animalidade e racionalidade, mas, sobretudo, na sua singularidade. Neste
sentido amplo, o conceito de dignidade da pessoa humana abarca as múltiplas facetas que o
ser humano abre como possibilidade no campo da existência social e individual.

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Assim, caro(a) cursista a discussão teórica que faremos aqui restringe-se


inicialmente em evidenciar o surgimento dessa preocupação nos campos político,
econômico, social e cultural do conceito de dignidade da pessoa humana no universo
normativo, isto é, nos preocuparemos nessa aula em fazer emergir o quadro normativo
geral, nacional e internacional, que alçou à centralidade no campo jurídico-institucional o
conceito de dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento pátrio e as relações que
esse quadro normativo possui com o ambiente escolar, faremos todos os conceitos gravitar
em torno do conceito de dignidade da pessoa humana. Vejamos o conceito de
vulnerabilidade social.

1.4. Vulnerabilidade e dignidade da pessoa humana

O tema da vulnerabilidade na sociedade brasileira não é novo. Contudo, esse tema


tem sido enfrentado de maneiras muito diferentes ao longo da Quarta República. As
políticas públicas dos anos 60 aos 90 eram essencialmente assistencialistas e populistas.
Essas políticas públicas não focalizam as necessidades e os interesses de determinados
grupos visando resgatar a dignidade de homens e mulheres que se encontravam – e ainda se
encontram – em condições de desigualdade econômica, política, cultural e social.
Negros, homossexuais, feministas, sem-teto, sem-terra, idosos e crianças e
adolescentes em conflito com a lei, todos esses grupos sociais – muitos outros – se
encontram em situação de vulnerabilidade social. Quando discutimos, no início dessa aula,
o conceito de dignidade da pessoa humana foi justamente para recolocarmos um pouco
melhor duas questões importantes que afligem as nossas escolas públicas brasileiras: a
desigualdade socioeconômica e a vulnerabilidade social. Esses dois conceitos também nos
ajudam a entender o aparecimento no campo jurídico de uma série de normas e leis que
protegem esses grupos sociais.

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A partir do final dos anos 90 começaram a ser aprovadas uma série de leis com o
objetivo claro de proteger e de garantir direitos aos grupos vulneráveis da sociedade
brasileira. Esse conjunto normativo ficou conhecido como políticas públicas afirmativas,
especialmente, porque não se confundiam com as políticas assistencialistas anteriores que
acabavam criando nichos e/ou redutos eleitoreiros duramente criticados pelas novas
políticas públicas afirmativas que se propunham como conquistas decorrentes das lutas e
enfrentamentos desses grupos. Esses grupos começaram a se organizar em associações,
organizações não governamentais – ONG’S – em Organizações Civis de direito privado
sem fins lucrativos – OSCIP’s em grupos comunitários e outras diversas formas
organizativas para propor mecanismos técnicos, práticos e teóricos que garantissem os seus
direitos.
É no bojo dessas lutas e enfrentamentos que devemos compreender o
aparecimento no ordenamento jurídico brasileiro de leis como Maria da Penha, ECA, o
Estatuto do Idoso, Estatuto da Pessoa com Deficiência, as leis contra as práticas de racismo
e discriminação racial, as normas contra o homofobismo e as práticas de discriminação
contra os grupos LGBT e transexuais. Esse conjunto normativo veio também para efetivar e
concretizar os princípios fundamentais expressos na Constituição brasileira de 1988.
Podemos observar dois fenômenos importantes para compreender o protagonismo
desses grupos. Em primeiro lugar, o reconhecimento de sua situação de vulnerabilidade
tanto pelo Estado como pelos próprios sujeitos imersos em situações de vulnerabilidade.
Esse autoreconhecimento foi fundamental para detonar o segundo fenômeno, a intensa
mobilização e organização desses grupos o que, de certo modo, os fortaleceu muito ao
longo dos anos para as lutas que foram travando com os sucessivos governos brasileiros e
com os grupos conservadores da própria sociedade brasileira.
Mas, como definir ou conceituar uma pessoa ou grupo como vulnerável. O que
caracteriza uma situação de vulnerabilidade social? Os estudantes brasileiros em nossas

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escolas públicas vivenciam situações de vulnerabilidade? Ou antes, as condições sociais em


vivem em suas comunidades e bairros periféricos é que resultam em vulnerabilidades
sociais? Dito de outro modo, é preciso conceituar com clareza o que entendemos por
vulnerabilidade social, pois juntamente com o conceito de dignidade da pessoa humana
serão os alicerces para ajudar entender a importância da legislação brasileira de direitos
humanos e sua aplicabilidade no contexto de desigualdade socioeconômica.
Muitos cientistas sociais, especialmente, nas áreas da estudos sociais da saúde,
saúde pública, assistência social, psicologia social e sociólogos e antropólogos da saúde
tem se destacado nos estudos e pesquisas sobre as condições de vida de populações urbanas
e rurais que se encontram em estado de vulnerabilidade social. A falta de condições básicas
de saúde, água, habitação e alimentação tem levado esses cientistas sociais a estabelecer
índices mínimos de desenvolvimento e qualidade de vida, e esses índices tem apontado que
quando os sujeitos estão abaixo de determinados padrões de consumo de saúde, água,
habitação e alimentos estamos diante de situações de vulnerabilidade e de pessoas ou
grupos vulnerabilizados.
Deste modo, serão as condições socioambientais e climáticas bem como de
coexistência e coabitação que irão determinar os índices de vulnerabilidade dos indivíduos.
Mas, há ainda outro tipo/espécie de vulnerabilidade: aquela que coloca em desvantagem as
pessoas ou grupos não em relação aos recursos físicos e ambientais, e sim em relação às
condições socioculturais e simbólicas. Essas condições desfavoráveis também podem
produzir desigualdades sociais, por exemplo, baixos índices de lazer, cultura e educação
podem levar à vulnerabilização de determinadas pessoas, grupos ou comunidades e/ou
grande parcelas de nossa sociedade.

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1.5. Preconceito racial: conceito e história.

O preconceito racial no Brasil invade diversas esferas sociais. Há preconceito no


campo do trabalho, da política, das relações familiares, do lazer, da cultura, da educação,
dentre outros campos de convívio social. É claro que a nossa aula dessa semana está
preocupada em delinear os conceitos fundamentais que levaram à regulamentação dos
comportamentos agressivos e desumanos. Os conceitos de dignidade da pessoa humana,
desigualdade social, discriminação e preconceito racial bem como vulnerabilidade social
auxiliaram o cursista a se situar e atuar melhor no seu dia-a-dia dentro da escola. Conhecer
e dominar esses conceitos tornam sua ação educativa mais proativa e qualificada.
É evidente que todos esses conceitos são negativos e desprestigiam, desqualificam
e desvalorizam os sujeitos que ocupam as posições sociais como mulheres, idosos, negros,
deficientes, homossexuais, entre outras. Os sujeitos que ocupam esses papéis sociais lutam
constantemente para superar as violações de direitos à que são submetidos. O preconceito e
a discriminação são fenômenos que precisam ser compreendidos de modo amplo e
especifico, porque estão em diversos campos da vida social, especialmente, no universo
escolar.
A partir de agora, focalizamos vulnerabilidade, preconceito e discriminação, bem
como desigualdade social no ambiente escolar. Os professore(as) devem estar atentos
porque esses fenômenos atingem crianças, adolescentes, jovens e adultos de todo o brasil e,
no Tocantins, não é diferente. A roupa, o comportamento, os hábitos de higiene, o pentear
do cabelo, as brincadeira, uma piada, tudo deve chamar a atenção do educador, pois um ato
aparentemente inocente pode revelar uma prática preconceituosa. Na escola e,
particularmente, na sala de aula espaço por excelência de ensino o professor pode construir
relações socioeducativas de solidariedade, companheirismo e valorização dos sentimentos
de cooperação entre os escolares. O professor Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, citando
Nogueira Oracy, assim define o preconceito:

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Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável,


culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos
quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou
parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o
preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por
pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia,
os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o
indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as conseqüências do
preconceito, diz-se que é de origem. (Nogueira, 1985, p. 78-9)

O preconceito racial no Brasil é fenômeno que atinge os africanos e


afrodescendentes, desvalorizando as características físicas e psicológicas de negros e negras
no país produzindo hierarquias sociais excludentes. Esse fenômeno se espalha por diversas
dimensões da vida social, afligindo e despertando o interesse dos cientistas sociais. Esse
fenômeno chama atenção dos especialistas, particularmente, no âmbito da escola. As
instituições escolares (tanto de educação básica como superior) deveriam ser espaços, por
excelência, em que quaisquer tipos, formas e/ou práticas ligadas à discriminação ou
preconceito racial não poderiam prosperar ou existir. Mas, a inexistência de preconceito
e/ou discriminação racial nas escolas públicas e privadas negaria a realidade brasileira,
posto que a escola é instituição inserida em uma sociedade racialmente discriminatória e
preconceituosa. Conhecer os conceitos de preconceito e discriminação racial,
particularmente, suas manifestações no cotidiano escolar é fundamental.

1.6. O mito da Democracia Racial: entre o direito e a realidade.

As relações sociais e raciais no Brasil historicamente se mostram profundamente


desiguais. Durante muito tempo um conjunto de cientistas sociais tentou abrandar ou
minimizar essas desigualdades alegando que no Brasil não havia preconceito,
discriminação e discriminação social e racial. Contudo, com o passar dos anos e o avanço
dos estudos sobre as condições de vida da população brasileira o mito da democracia social

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e racial no Brasil foi desmascarado. No final dessa nossa aula, quero sumariar um pouco do
que discutimos, fazer um breve balanço do conceitos apresentados e falar porque eles são
importantes para compreender a emergência dos direitos humanos no Brasil.
Quero ainda destacar que uma sociedade democrática respeita, protege e garante
efetivamente os direitos de todos. Somente, diante de um Estado brasileiro que realmente
promove os direitos humanos e sociais poderemos afirmar que esse é um estado
democrático. E como já destacamos há em nossas escolas algumas práticas que não podem
ser consideradas democráticas. Nem tão pouco social, jurídica e moralmente aceitáveis. Há
crianças, jovens e adolescentes bem como professores e trabalhadores da educação que tem
seus direitos humanos todos os dias ameaçados. É uma realidade dura que precisa ser
mudada, e o professor, por excelência tem o papel fundamental nesse processo de mudança.
O objetivo básico dessa nossa aula foi destacar quatro aspectos básicos do tema A
Legislação sobre Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo: a) o surgimento dos direitos
humanos no país decorre de uma série de violações praticadas durante a ditadura militar
brasileira; b) definição dos conceitos ou noções fundamentais que dão sustentação à defesa
da importância dos direitos humanos (desigualdade social, dignidade da pessoa humana,
vulnerabilidade social, preconceito, racismo e discriminação, cidadania e Estado
Democrático de Direito); c) destacar o caráter protetivo e garantista da legislação brasileira
infraconstitucional que trata de direitos humanos e, por fim, d) apontar que a escola tem o
papel de esclarecer e auxiliar as crianças, jovens e adultos sobre a importância desses
direitos tanto para a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem como para as próprias
vidas cotidianas dos atores envolvidos.
É evidente que o espaço para esse debate nessa Aula 1 é curto. Por isso, nas aulas
seguintes iremos aprofundando os assuntos ligeiramente trabalhados aqui, de sorte que, o
assunto cidadania que não discutimos agora, apareça mais adiante, especialmente, porque
esse também é um conceito fundamental para compreender melhor o que chamamos de

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Estado Democrático de Direito e de direitos fundamentais. Assim, caro cursista espero que
gostem e aprendam alguma coisa nova nesse Módulo II, particularmente porque será a
partir desse módulo que iremos ventilando possibilidades de temas/ideias para os seus
projetos de intervenção. Até a próxima aula.

Referências:
KUCINSKI, Bernardo. O fim da Ditadura Militar. São Paulo: Contexto, 2001.
ZAVERUCHA, Jorge. Frágil Democracia: Collor, Itamar, FHC e os militares (1990-1998).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
SKIDMORE, Thomas Edgar. De Getúlio a Castelo (1930-1964). São Paulo: Cia das Letras,
2010
SAVAZZONI, Simone de Alcântara. Preconceito, racismo e discriminação. In: Revista do
Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 12, n. 12, 2015
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Preconceito racial: modo, temas e tempos. São
Paulo: Cortez, 2008.

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