You are on page 1of 20

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

TAL 470 – TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE AGROINDÚSTRIAS

DIMENSIONAMENTO DA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ESGOTO DO
ABATEDOURO DE AVES

Carolina Rodrigues - 79196


Carolinne Bernardeli - 75161
Ezequiel Dias - 82758
Mariane Verônica - 78278
Rafael Resende - 91435

Viçosa - MG
JULHO DE 2018
1. PROPOSTA DO PROJETO

Dimensionar uma unidade de tratamento de esgoto para um abatedouro de aves


utilizando lagoas de estabilização. A unidade projetada visou tratar o efluente para a
disposição em corpo d’água de classe 3, obedecendo a legislação mais rigorosa da
localidade.

Os parâmetros, e seus valores, do efluente gerado pelo abatedouro de aves e


utilizados para o dimensionamento são mostrados na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros e valores do efluente gerado pelo abatedouro de aves.


Parâmetro Valor (Unidade)
Vazão - Q 240 (m³/dia)
Demanda bioquímica de oxigênio - DBO 2575 (mg/L)
Demanda química de oxigênio - DQO 4811 (mg/L)
Sólidos suspensos totais - SST 841 (mg/L)
Nitrogênio 217 (mg/L)
Fosforo 10,6 (mg/L)
Sólidos sedimentáveis - Ssed 11,4 (mg/L)
Sólidos suspensos voláteis - SSV 630 (mg/L)
Temperatura máxima 28 (ºC)
Temperatura mínima 12,5 (ºC)
Temperatura média 24 (ºC)
pH 7,5

2. PRODUÇÃO DE RESÍDUOS NO ABATEDOURO DE AVES

Os subprodutos e resíduos gerados em qualquer processo industrial devem ser


gerenciados de forma adequada para que possibilite um menor impacto ambiental e o
aproveitamento dos materiais. No processo de abate de aves há diversas partes
descartadas por não serem de consumo humano ou de baixa lucratividade comercial,
como as carcaças (PINTO, 2015). Estes resíduos são gerados principalmente nas etapas
de sangria, escaldagem, depenagem, evisceração e corte dos pés.
Entretanto são gerados diversos outros resíduos e subprodutos que necessitam
de tratamento prévio, antes da destinação final ou reutilização (Tabela 2)
(FERNANDES, 2004).

Tabela 2. Resíduos e subprodutos resultantes das etapas do processamento avícola.


Etapa Resíduo ou subproduto
1. Recepção Fezes, penas, água de lavagem de pisos e paredes.
2. Sangria Sangue e água de lavagem.
3. Escaldagem Penas, sangue, gordura e água de lavagem.
4. Depenagem Penas e água do transporte das penas.
5. Evisceração Vísceras, sangue, gordura, pedaços de pele e água de lavagem.
6. Resfriamento Sangue e água de drenagem dos tanques e de lavagem.
7. Gotejamento Água removida das carcaças.
8. Classificação Água de limpeza
9. Limpeza da indústria Água de limpeza
Fonte: Adaptado de Fernandes, 2004.

Segundo Pinotti e Paulillo (2006) uma das principais formas de tratamento dos
resíduos de aves é a transformação dos subprodutos em alimentos apropriados para
alimentação de animais. Os principais subprodutos gerados para a produção de rações
animais, são: penas, sangue, vísceras, ossos moídos e cartilagem. Enquanto, outros
subprodutos como pele, gordura e carne mecanicamente separada podem ser utilizadas
na produção de embutidos como mortadela e salsicha. A transformação destes
subprodutos em ração animal é imprescindível, pois além de reduzir o potencial poluidor
do efluente, há maior lucratividade por kg de aves.
Entretanto, as transformações de subprodutos em alimentos não são suficientes
para assegurar a disposição correta dos resíduos gerados no abatedouro de aves em
corpos receptores. Os resíduos não aproveitáveis e compostos por fezes, água de
limpeza, penas, remanescentes de carne e sangue são os principais responsáveis pelos
valores dos parâmetros de qualidade da água após o abate. Portanto, se faz necessário o
dimensionamento da estação de tratamento de esgoto para a adequação na disposição
do efluente gerado pelo abatedouro.

3. ETAPAS DO TRATAMENTO DE ESGOTO

Dentre as etapas no processo de abate de aves, as seções de sangria, de


depenagem, de evisceração e preparação da carcaça, são as principais para a geração
efluentes com altas concentrações de matéria orgânica solúvel ou em suspensão. Nos
processos de lavagem à utilização de detergentes e antissépticos, devido a presença dos
subprodutos e das fezes das aves.

A grade será a primeira barreira a passagem de sólidos, onde penas e outros


resíduos grosseiros são retidos. Para manter a velocidade desejada devido a variação de
vazão do efluente, é utilizada uma calha Parshall antes da caixa de areia. Isto faz com
que a altura da lâmina d’água varie de acordo com a vazão e mantenha constante a
velocidade do fluxo na câmara de sedimentação.

A caixa de areia será utilizada após a calha Parshall para eliminar partículas de
areia contidas no efluente. Segundo Jordão et al. (2007) esta etapa tem a finalidade de
reduzir a abrasão nos equipamentos e tubulações, reduzir possibilidade de danificação
e obstrução nas unidades da ETE, além de exercer a função de pré-condicionar o esgoto
bruto favorecendo os conseguintes tratamentos.

O efluente da caixa de areia será direcionado para um flotodecantador com o


objetivo de realizar a flotação físico-química de óleos e gorduras e a decantação do lodo
primário. Nessa etapa se reduz a carga orgânica do esgoto por meio da remoção de
sólidos sedimentáveis e gordura. Os sólidos que se depositam no fundo do tanque,
denominados lodo primário, serão removidos pelos raspadores mecânicos e são
encaminhados para uma outra unidade de tratamento do lodo. Já o material de menor
densidade, que ascende e fica na superfície, como óleos e graxas, são removidos
manualmente.

As lagoas de estabilização são as unidades mais simples para o tratamento de


esgoto, tendo a remoção de matéria carbonácea como principal objetivo. Entretanto
também é removido fósforo, nitrogênio e sólidos sedimentáveis (VON SPERLING,
2002). Neste projeto foi escolhido o sistema de lagoas aeradas de mistura completa em
série seguidas por lagoas de decantação em virtude do melhor desempenho para
remoção dos resíduos, menores requisitos de área e custo de implantação em relação aos
demais sistemas de lagoas.
Portanto, no tratamento dos efluentes do abatedouro de aves foi sugerido as
etapas de grades, caixa de areia, flotodecantador, lagoa de estabilização e decantação
(Figura 1).

Grades

Calha Parshall

Caixa de areia

Flotodecantador

Lagoa aerada de
mistura completa

Lagoa de
decantação

Figura 1. Unidades propostas para o dimensionamento da estação de tratamento de


esgoto para o abatedouro de aves.

4. DIMENSIONAMENTO

4.1 Vazões máxima e mínima do efluente

Visando o dimensionamento correto dos sistemas de gradeamento, desarenador


e do medidor de vazão, foi calculado as vazões máxima e mínima de efluente que passa
pelo sistema. Uma forma de obter a vazão mínima é por meio da relação entre a vazão
mínima e a vazão média obtendo-se o valor de 0,5 (VON SPERLING, 1996). Dessa
forma, utilizando a equação 1, e considerando a vazão média do afluente do abatedouro
de aves (240 m3/d) obtemos uma vazão mínima de 120 m3/d e a vazão máxima de 360
m³/d.

Qmín
= 0,5 (1)
Qméd

4.2 Grades

Foi adotada a grade média de limpeza manual com inclinação de 70°. As


características da grade são informadas a seguir:

• Seção transversal das barras (t): 9,5x50 mm.


• Espaçamento entre barras (a): 20 mm.

De acordo com a vazão máxima de efluente a ser tratado (0,0042 m3/s) e


adotando-se uma velocidade média de escoamento do esgoto de 0,3 m/s, a área útil (Au)
necessária ao sistema obtida através da equação 2 foi de 0,0181 m2.

𝑄𝑚á𝑥
𝐴𝑢 = (2)
𝑣𝑚á𝑥

A partir das especificações da grade (espessura e espaçamento) e utilizando a


equação 3, foi obtido a eficiência de remoção de sólidos grosseiros (E) igual a 0,68.

𝑎
𝐸= (3)
𝑎+𝑡

Calculada a área útil, a eficiência e substituindo estes valores na equação 4, foi


obtido a área da seção transversal (S) do canal igual a 0,0267 m2.

𝐴𝑢
𝑆= (4)
𝐸

Utilizando a altura máxima encontrada para a calha Parshall igual a h = 0,089 m


e utilizando a equação 5, foi obtido a largura (L) para o sistema de grades igual a 0,267
m.

𝑆
𝐿= (5)

Manipulando as equações 6 e 7, obteve-se um número de barras (Nb) igual a 10
barras e o número de espaçamentos (Ne) igual a 11 para o sistema projetado.

𝑁𝑒 = 𝑁𝑏 + 1 (6)

(𝑁𝑒 ∗ 𝑎) + (𝑁𝑏 ∗ 𝑡) = 𝐿 (7)

4.4 Dimensionamento da calha Parshall

A escolha da largura nominal da calha Parshall foi realizada de acordo com a


vazão do afluente (Tabela 3).

Tabela 3. Dimensões de calha Parshall.


W (pol.) W (cm) Qmin (l/s) Qmax (l/s)
3 7,6 0,85 53,8
6 15,2 1,42 110,4
9 22,9 2,55 251,9
12 30,5 3,11 455,6
18 45,7 4,25 696,2
24 61 11,89 936,7

Para a vazão máxima de 4,17 L/s calculada, a largura nominal da calha Parshall
a ser usada é de 3”, que corresponde a 7,6 cm. O cálculo da altura (H) foi realizado pela
equação 8, em que os coeficientes n e K são 1,447 e 0,176 respectivamente (Tabela 4)
e forneceu a altura de 0,068 m para a calha dimensionada.

Tabela 4. Expoente n e coeficiente K.


Garganta W Garganta W (m) Expoente n Coeficiente K
(pol.)
3 0,076 1,547 0,176
6 0,152 1,58 0,381
9 0,229 1,53 0,535

𝑄𝑚é𝑑 = 𝐾 ∗ 𝐻𝑛 (8)

Da mesma forma, porém utilizando os valores de Qmín e Qmáx, as alturas máximas


(Hmáx) e mínimas (Hmín) do efluente no sistema foram calculados e obtidos os valores
de Hmáx = 0,089 m e Hmín = 0,044 m.
Substituindo os valores das vazões e alturas do efluente máximas e mínimas na
equação 9, foi encontrado o valor de Z para o rebaixo igual a 0,0211 m.

𝑄𝑚á𝑥 𝐻𝑚í𝑛 − 𝑄𝑚í𝑛 𝐻𝑚á𝑥


𝑍= (9)
𝑄𝑚á𝑥 − 𝑄𝑚í𝑛

4.4 Caixa de areia

No dimensionamento da caixa de areia é importante levar em consideração a


velocidade de sedimentação de partículas. Esta foi adotada de acordo com a velocidade
crítica e considerado o tamanho típico da partícula e densidade igual a 0,2 mm e 2,65
mg/mL, respectivamente. Segundo a NBR 12.209/11 (BRASIL, 2011) a velocidade de
sedimentação é aproximada de 0,02 m/s. A velocidade do fluxo é outro parâmetro
utilizado e deve-se encontrar entre 0,20 e 0,40 m/s. Os valores da velocidade do fluxo
abaixo de 0,20 m/s provocam a sedimentação da matéria orgânica e valores acima de
0,40 m/s promovem o carreamento dos sólidos (JORDÃO E PESSOA, 2011).

A velocidade de escoamento adotada foi de 0,30 m/s. Foi calculado o


comprimento da caixa de areia, por meio das equações 10 e 11.

V1=L/t1 (10)

V2=h/t2 (11)

Em que, V1= Velocidade de escoamento (0,30 m/s); V2 = Velocidade de


sedimentação (0,02 m/s); L = Comprimento da caixa de areia; h = Altura d’água na
caixa; t1 e t2 = tempo gasto para partícula percorrer as distâncias h e L.

Como a partícula de areia gasta o mesmo tempo para percorrer o comprimento


e a altura da caixa, foi considerado que t1 = t2. Igualando as equações 10 e 11 e
substituindo os valores (V1 e V2) temos a equação 12.

L = 15*h (12)

Entretanto, para se ter uma maior segurança foi adotado um fator de garantia de
50 % devido ao efeito de turbulência no escoamento (JORDÃO E PESSOA, 2011) e
obtido a equação 13.

L = 22,5*h (13)
A largura (b) da caixa de areia de seção retangular no qual foi mantida a
velocidade de escoamento igual a 0,30 cm/s foi obtida por meio da equação 14.

𝑄𝑚é𝑑𝑖𝑜
𝑏 = (𝐻𝑚é𝑑𝑖𝑜−𝑍)∗𝑉 = 0,20 𝑚 (14)
1

Foi verificado se as velocidades máxima, média e mínima estão dentro do limite


pré-estabelecido utilizando as equações 15, 16 e 17.

𝑄𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜
𝑉𝑚á𝑥 = (𝐻𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜−𝑍)∗𝑏 (15)

𝑄𝑚é𝑑𝑖𝑜
𝑉𝑚á𝑥 = (𝐻𝑚é𝑑𝑖𝑜−𝑍)∗𝑏 (16)

𝑄𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜
𝑉𝑚á𝑥 = (𝐻𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜−𝑍)∗𝑏 (17)

Os valores das velocidades máxima, média e mínima obtidas pelos cálculos


foram respectivamente 0,311 m/s, 0,299 m/s e 0,309 m/s. Portanto, o dimensionamento
realizado foi suficiente para garantir o escoamento do líquido. Segundo os cálculos
realizados para a calha Parshall o hmédio foi de 0,068 m e substituindo na equação 13 foi
possível determinar o comprimento (L) da caixa de areia equivalente a 1,53 m.

4.5 Flotodecantador

O efluente proveniente da caixa de areia seguiu para o tratamento em


flotodecantador e foi adotado a vazão média como a vazão de entrada do efluente líquido
no flotodecantador (240 m³/dia). A Taxa de aplicação superficial (TAS) foi determinada
utilizando a equação 18.

TAS =20 m³/(m².dia)= 0,83 m³/(m².h) (18)

Por meio da vazão e da taxa de aplicação superficial determinados foi possível


estimar a área da unidade do flotodecantador, utilizando a equação 19.

A=Q/(T_AS) =240/20 (19)


A = 12 m²
Assumindo-se que o flotodecantador possui forma retangular, foi adotada a
seguinte razão entre a comprimento (L) e largura (B):

L/B=3,0

L*V=12 m²

3,0B*B= 36

B= 2,25m

L= 4,90 m

Considerando uma altura (A) de 2,0 m, foi calculado o volume do


flotodecantador, utilizando a equação 20.

V=L*B*A= 24 m³ (20)

O tempo de detenção hidráulico (TDH) foi calculado a partir da vazão média e


do volume do tanque (equação 21).

TDH = 18 m³/ (10 m³/h) = 1,8 horas (21)

Os resultados dos parâmetros de dimensionamento do flotodecantador foram


disponibilizados na Tabela 5.

Tabela 5. Resultados do dimensionamento de Flotodecantador.


Parâmetro Valor

Vazão 240 m3/dia

TAS 20 m3/m².dia

Largura 2,45 m

Comprimento 4,90 m

Altura 2,0 m

Área 12 m²

Volume 24 m³

TDH 1,8 h
A porcentagem de remoção dos compostos no processo de flotodecantação
referentes a DBO, DQO, SST, fósforos, óleos e gorduras, foram disponibilizados na
Tabela 6.

Tabela 6. Percentual de remoção de compostos.


Processo DBO % DQO % SST % Fósforo % Óleos e Graxas %

Flotodecantador 35 35 85 60 95

4.5.1 Balanço de massa após o tratamento

Foi disponibilizado na Figura 2 o balanço de massa dos constituintes do efluente


após o tratamento com o flotodecantador.

Figura 2. Balanço de massa do efluente após a etapa com o flotodecantador.

4.6 Lagoa aerada de mistura completa e lagoa de decantação

4.6.1 Lagoas aeradas de mistura completa

Foi realizado o dimensionamento de duas lagoas aeradas de mistura completa


em serie e seguidas da lagoa de decantação devido a necessidade de respeitar a menor
área requerida dentre os demais sistemas de lagoas. Além disto, os requisitos de energia
são similares aos outros sistemas com lagoas aeradas, apresentando uma potencial
economia (VON SPERLING, 1996).

O primeiro critério adotado no projeto é o tempo de detenção hidráulico que


varia de acordo com a idade do lodo, entre 2 a 4 dias, devido a inexistência de
recirculação do lodo ou qualquer forma de retenção dos sólidos. A profundidade deve
satisfazer os requisitos de aeração em termos de mistura e oxigenação, sendo adotado
valores na faixa de 2,5 a 4 metros (VON SPERLING, 1996).

4.6.2 Concentração da biomassa

A concentração da biomassa (Xv) foi calculada por meio da equação 22.

Xv = Y*(S0 -S) ( 22)


1+ Kd*TDH

Em que Y = coeficiente de produção celular (mgXv/mgDBO5), Kd = coeficiente


de decaimento bacteriano (dias-1), S0 = DBOtotal (mg/L), S = DBOsolúvel (mg/L), TDH =
tempo de detenção hidráulico (dias).

4.6.4 Coeficiente de remoção de DBO

Foi realizado a correção do coeficiente de remoção de DBO (KT) em relação a


temperatura média no mês (24 ºC), pois apresenta-se diferente da temperatura usual (20
ºC) e que por sua vez apresenta os valores de K20 igual 0,30 e o ϴ equivalente a 0,60
(Equação 23).

KT = K20 * ϴT-20 (23)

Sendo, KT = coeficiente de remoção da DBO em uma temperatura do líquido T


qualquer (d-1); K20 = coeficiente de remoção da DBO na temperatura do líquido de 20
ºC (d-1); ϴ = coeficiente de temperatura.

4.6.5 DBO solúvel do efluente

Foi determinado a DBO solúvel do efluente por meio da equação 24.

S= S0 (24)
1 + K’*Xv*TDH
Em que, S0 = concentração de DBO total do afluente (mg/L); S = concentração
de DBO solúvel do efluente (mg/L); Xv = concentração de sólidos em suspensão
voláteis (mg/L); K’ = constante de remoção de DBO (mg/L); TDH = tempo de detenção
hidráulica.

Segundo Von Sperling (1996), a DBOpart do efluente pode ser estimada através
da relação com os sólidos em suspensão totais (Equação 25).

DBOpart = 0,4*SST (25)

Em que, SST = sólidos suspensos totais (mg/L).

4.6.6 Eficiência de remoção de DBOtotal

A eficiência de remoção de DBOtotal do afluente para cada lagoa foi calculada


por meio da equação 26.

E= S0 -Sr * 100 (26)


S0

Em que, S0 = concentração de DBO total do afluente (mg/L); Sr = concentração


de DBO do efluente remanescente (mg/L).

4.6.7 Requisitos de oxigênio

Segundo Von Sperling (1996), os requisitos de oxigênio são calculados em torno


de 1,1 a 1,4 da carga de DBO5 removida e foram calculados por meio da equação 27.

Requisitos de Oxigênio (RO) = a*Q*(S0-Sr) (27)

Em que, a = coeficiente de correlação entre oxigênio e a DBOremov (KgO2/Kg


DBOremov); Q = vazão do afluente (L/dia).
4.6.9 Potência requerida para aeração

Por meio da eficiência de oxigenação nas condições padrão foi calculado a


potência requerida para a demanda energética utilizando a equação 28.

Potência total requerida = RO (28)


EO

Em que RO = Requisitos de oxigênio (KgO2/dia); EO = Eficiência de oxigenação


nas condições padrão (60%).

Adotando 5 aeradores de 5 cavalos para a primeira lagoa e 4 aeradores de 0,25


cavalos é possível verificar a de potência em relação a quantidade de sólidos em
suspensão totais, sendo obtida a partir da equação 29.

Ф = Pot/V (29)

Sendo, Ф = densidade de potência (W/m³); Pot= potência instalada (W) e V=


volume do reator (m³).

A densidade de potência obtida após a instalação dos aeradores nas respectivas


lagoas respeitou os valores sugeridos para a manutenção dos sólidos totais em suspensão
(Tabela 7).

Tabela 7. Densidade de potência sugerida em função da concentração de sólidos em


suspensão.
Densidade de potência sugerida (W/m³) Sólidos em suspensão (mg/L)

0,75 50
1,75 175
Fonte: Adaptado de Von Sperling (1996).
4.6.9 Resultados dos coeficientes e do dimensionamento

Os resultados obtidos para o dimensionamento das lagoas aeradas de mistura


completa em série estão representados na Tabela 8.

Tabela 8. Valores dos parâmetros utilizados para o dimensionamento das lagoas aeradas
de mistura completa.
Valor
Parâmetro
1º lagoa 2º lagoa

Vazão (m³/d) 240 240

[DBO final] (mg de DBO/L) 59,20 9,83

[Biomassa - Xv] (mg Xv/mgDBO5) 999,15 6,88

Eficiência de remoção de DBO (%) 96,40 83,38

Profundidade (m) 3 3

Área (m²) 320 320

Volume (m³) 960 960

TDH (dias) 4 4

Requisitos de oxigênio (Kg O2/h) 19,37 0,59

Requisito energético (CV) 4,87 2,98

4.6.10 Lagoa de decantação

A lagoa de decantação apresenta volumes destinados à clarificação (decantação)


e ao armazenamento e digestão do lodo (ALEM SOBRINHO e RODRIGUES, 1991).

4.6.11 Zona de clarificação

Os valores adotados para o dimensionamento da zona de clarificação foram


baseados segundo Von Sperling (1996). Sendo, TDH = 1 dia e profundidade (H) = 1,5
metros. O volume para a zona de clarificação foi calculado utilizado a equação 30.

Vclar = TDH*Q → Vclar = 240 m³ (30)


Após o dimensionamento do volume clarificado é possível dimensionar a área
requerida para esta zona, por meio da equação 31.

A= V*H-1 → A = 160 m² (31)

4.6.13 Zona de lodo

A profundidade adicional para acumulação de lodo foi de 1,5 metros.

4.6.13 Zona total da lagoa de decantação

A profundidade total (PT) para o dimensionamento da lagoa de decantação é


representada pela soma da profundidade da zona de lodo com a zona de clarificação,
totalizando 3 metros. A partir da área total obtida de 160 m², foi possível determinar o
volume total de 160 m² divididos em duas lagoas no formato de 40 m x 40 m x 3 m. O
tempo total de detenção com a lagoa limpa foi determinado pela equação 32.

T = V*Q → T = 2 dias (32)

Sendo, V = Volume total da lagoa de decantação (m³); Q = Vazão média do


afluente para a lagoa de decantação (m³/dia).

4.6.14 Acumulação de lodo

A acumulação de lodo é decorrente da carga de sólidos afluentes à lagoa de


decantação, composta de sólidos em suspensão voláteis SSV e de sólidos em suspensão
fixos SSF. Admitindo-se a remoção de 85% de sólidos na lagoa de decantação foi
possível determinar o período de remoção do lodo na lagoa de decantação por meio da
Tabela 9.

Tabela 9. Período de remoção de lodo em relação ao tempo (anos), volume acumulado


(m³), relação entre volume/altura e altura do lodo (m).
Tempo Volume acumulado Relação Altura do lodo
(anos) (m³) Vlodo/Vlagoa = Hlodo/Hlagoa (m)

0,5 1082 0,18 0,54

1,0 1991 0,33 0,99

1,5 2765 0,46 1,38


Observou-se que o tempo de remoção do lodo para a lagoa de decantação na
altura pré-estabelecida de 1,5 metros foi de no máximo 1,5 anos.

4.6.16 Área requerida das lagoas de estabilização

A área total requerida para todos os componentes da estação de tratamento é


aproximadamente 30% superior ao valor obtido das lagoas de estabilização. Portanto, a
área total é equivalente a 0,145 Hectares. O esquema do sistema de lagoas de
estabilização para o abatedouro de aves é mostrado na Figura 2.

Figura 2. Sistema de lagoas aeradas de mistura completa em série e lagoas de


decantação.

5.5.1 Balanço de massa após o tratamento com as lagoas de estabilização

Foi disponibilizado na Figura 3 o balanço de massa dos constituintes do efluente


após o tratamento com as lagoas de estabilização.

Figura 3. Balanço de massa após o tratamento com as lagoas de estabilização


6. ÁREA TOTAL DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO

A área total da estação de tratamento de esgoto para o abatedouro de aves foi


determinada somando as áreas de cada tratamento com correção de 35 % para circulação
e instalação dos equipamentos.

• Grades: 0,024 m².


• Caixa de areia 0,306 m².
• Flotodecantador: 12 m².
• Área das lagoas de estabilização: 54.400 m².

Portanto, a área total necessária para a instalação de toda a estação de tratamento


de esgoto é de 54.013 m².

7. ENQUADRAMENTO DO EFLUENTE

Por meio da equação 33 foi possível determinar a conformidade para o descarte


de todos os parâmetros avaliados deste efluente no rio de classe 3, considerando a vazão
de aproximadamente 900 m³/d (CAPOZZOLI, 2017) e utilizando os valores obtidos dos
parâmetros após toda as etapas de tratamento (Figura 3).

𝑄𝑅 𝑥 𝑃𝐴𝑅𝑅 + 𝑄𝐸 𝑥 𝑃𝐴𝑅𝐸
𝑃𝑎𝑟â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑀 = (33)
𝑄𝑅 +𝑄𝐸

Em que: ParâmetroM = Parâmetro na mistura, QR = Vazão do rio, PARR =


Parâmetro do rio, QE = Vazão do esgoto, PARE = DBO do esgoto.

Os padrões utilizados para todos os parâmetros físico-químicos avaliados foram


estabelecidos pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) e pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Foi utilizada a deliberação normativa
conjunta COPAM/CERH-MG N.º 1, de 05 de maio de 2008 para o COPAM e foi
utilizado a resolução CONAMA 29 n°357 de 2005 para o CONAMA.

A conformidade, os parâmetros de qualidade da água de classe 3 estabelecidos


pela legislação mais rigorosa e os valores dos parâmetros do efluente tratado foram
disponibilizados na Tabela 10.
Tabela 10. Conformidade e parâmetros de qualidade da água de classe 3.
Parâmetro Legislação Afluente rio* Conformidade
Vazão (m³/dia) - 240 -
DBO5 (mg/L) ≤10 4,38 Conforme
DQO (mg/L) ≤180 155 Conforme
Sólidos suspensos totais (mg/L) ≤100 28 Conforme
Nitrogênio (mg/L) ≤13,3 6,18 Conforme
Fosforo (mg/L) ≤0,050 0,036 Conforme
Sólidos sedimentáveis (mg/L) ≤1 0,63 Conforme
Sólidos suspensos voláteis (mg/L) - - -
Temperatura máxima (ºC) <40 28 Conforme
Temperatura mínima (ºC) >3 12,5 Conforme
Temperatura média (ºC) <40 24,78 Conforme
pH 6,0 a 9,0 8,21 Conforme
*O afluente do rio foi considerado a amostra coletada após a mistura do efluente tratado,
na estação de tratamento de esgoto, com a água do rio de classe 3, levando em
consideração as vazões.

Em decorrência do mercado e concorrência dinâmica foi dimensionado a estação


de tratamento de esgoto com uma margem de segurança e com a possibilidade de
expansão da indústria de abatedouros em até 25 % da capacidade inicial. A expansão de
até 25 % da indústria foi calculada a partir do parâmetro limitante (DQO) em função do
enquadramento da legislação mais rígida.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O dimensionamento da estação de tratamento de esgoto para o abatedouro de


aves adequou a disposição do efluente no corpo receptor de classe 3 em todos os
parâmetros avaliados. A aplicação deste dimensionamento é capaz de assegurar a
expansão e produtividade da indústria em até 25 % da produção atual. A utilização da
lagoa de estabilização, do tipo lagoa aerada de mistura completa em série, apresentou o
menor custo de implantação em relação a todas as outras lagoas de estabilização. Em
virtude do projeto com previsão da expansão dinâmica, é recomendável a sua
implantação.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEM SOBRINHO, P.; RODRIGUES, M.M; MUÑOZ, M. Contribuição ao projeto


de sistemas de lagoas aeradas aeróbias para o tratamento de esgotos domésticos.
Revista DAE, 6º Ed, p. 45-62, 1947.

BRASIL. Norma Brasileira nº 12.209 de 24 de dezembro de 2011. Elaboração de


projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários.
Agência Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro RJ, 2011.

BRASIL. Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH – MG Nº 1/2008.


Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de
efluentes, e dá outras providências.

BRASIL. Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005. Conselho Nacional de


Meio Ambiente. Disponível em: Acesso em: 19 de junho. 2018.

CAPOZZOLI1, C. R.; CARDOSO A. O.; FERRAZ S. E. T. Padrões de Variabilidade


de Vazão de Rios nas Principais Bacias Brasileiras e Associação com Índices
Climáticos. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 32, n. 2, 243-254, 2017.

FERNANDES, M. A. Avaliação de desempenho de um frigorífico avícola quanto


aos princípios da produção sustentável. Tese de doutorado. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2004.

JORDÃO, E. P. e PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. Rio de Janeiro:


ABES, 7 ª ed, p 793- 825, 2007.

PINOTTI, R. N; PAULILLO, L. F. O. A estruturação da rede de empresas processadoras


de aves no estado de Santa Catarina: governança contratual e dependência de recursos.
Gest. Prod. [online]; 13(1):167-77, 2006.

PINTO, L. A. M.; PINTO, M. M.; BOVO, J.; MATEUS, G. A. P.; TAVRES, F. O.;
BAPTISTA, A. T. A.; HIRATA, A. K. Aspectos ambientais do abate de aves: uma
revisão. Revista UNINGÁ Review. Vol.22, n.3, p.44-50, 2015.

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 2ª


ed. DESA-UFMG, 243 p, 1996.

VON SPERLING, M. Lagoas de Estabilização. v.03, 2ª ed - Minas Gerais: ABES,


2002.

You might also like