f = FY -
- VERDADEIRA
HISTORIA DE
_ ISRAEL
AO LONGO DE 2,4 MIL ANOS, A ¥ ‘
HUMANIDADE ACREDITOU QUE A SAGA DO Ke eee?
POVO ESCOLHIDO ACONTECEU TAL COMO. Eee a,
ESTA NA BIBLIA. AGORA, DEPOIS DE ’ 3
DECADAS INVESTIGANDO CADA LINHA Xi
DOS TEXTOS SAGRADOS, A ARQUEOLOGIA
CHEGOU A NOVAS CONCLUSOES SOBRE ‘
OS HEBREUS. MAIS REALISTAS, MAS NAO t
MENOS FASCINANTES e -
TEXTO Tiago Cordeiro ILUSTRAGOES Bruno Algarve
D5 SG jl MES M ye
Sr CA CaO CA ION OC AGIOS,
EAA MDA ADA ADA ra
28 | AVENTURAS WA HISTORIADOQQ OMDMD]DWGF
RF OI OI.
li a iiloeinmalesin
‘oje, para os arquedlo-
£805, as figuras sagra-
das mais importantes,
.da Biblia - Abraio,
Moisés, Davi, Salomio e Je-
sus ~ foram relegadas ao terreno da
ficgdo. Até bem pouco tempo, 0
Tanakb(o Velho Testamento), escri-
to no século 6a.C., pautava as pes-
quisas arqueolégicas no Oriente
Médio. Para usar uma expressioem
voga,os pesquisadores tinham uma
pa em uma das mios e a Biblia na
‘outra ~os textos sagrados pautavam
onde se deveria trabalhar. $6 hi al-
‘gumas décadas uma nova geragio
de pesquisadores inverteu a equa-
(fo, Agora, ofruto das descobertas
6 confrontado com os textosantigos
em busca de confirmagao das evi-
déncias descobertas. Parece pouco,
‘mas é uma revoluglo,
{Os arqueGlogos classicos procu-
ravam evidéncias coneretas dos fatos
narrados nos livros sagrados para
‘que os objetos encontrados compro-
vassem sua veracidade. A religido,
claro, limitava 0 aleance dos traba-
Ihos. Por exemplo: a0 ganhar acesso
Aantiga cidade assiriade Urartu, no
século 19, especialistas ocidentais
cestavam muito mais interessadosem
encontrar a Arca de Noé do que em
entender o pasado. (Datam desse
‘mesmo periodo expedigdes sérias.em
busca do Jardim do Eden, da Arca
da Alianga e da Torre de Babel.)
—_—
2S
SOS
co
Ooo
S305
IOIOOC
Heo e380
wauTesia
SALW
Y »
Somente a partir dos anos 80 a
chamada arqueologia biblica come-
gouacairem deserédito. “O objetivo
nfo écomprovar a forga que a Biblia
est certa, nem acabar coma veraci-
dade dos relatos contidos ali. £ dife-
renciar 0 literdrio do factual”, diz
Israel Finkelstein, da Universidade
de Tel-Aviv, um dos mais influentes
arqueblogos da atualidade,
Antes, os pesquisadores tinham
uum roteiro pré-definido. Javé esco-
Theu um homem da Mesopotdmia
para dar origem a seu povo eleito.
Crientado por Deus, Abraoseguiu
até Canad. Seus descendentes foram
para o Egito, onde viraram escra-
vos. Até que Moisés conduziu os
hebreus através do mar. Os escolhi-
dos vagaram por 40 anos no deser-
to, até entrar em Canaa e protago:
nizar uma série de conquistas mili-
tares. Tempos depois, Davi se tor-
nou tei e foi sucedido por seu filho,
Salomfo, que construiu o Templo
de Jerusalém para abrigar a Arca
da Alianga, que guardavaas tébuas
dos Dez Mandamentos entregues
por Deus a Moisés. Os primeiros
cineolivros da Biblia judaica,oPen-
tateuco, descrevem essa trajetéria,
Orelatonao se furta a citar montes,
cidades, reis, profetas, inimigos,
genealogias. Agora, deste novo mo-
mento das pesquisas, esté surgindo
‘uma nova historia de Israel. Com-
We
LEGON,
Cy
&
(Y. &
NODS DOACG cA
WIELELELERELERE NP}
AveTURAS na nsTORU | 29Por varios séculos, parecia absurdo
questionar a existéncia fisica de
Abraio. Esté na Biblia: 0 pai do povo
hebrew nasceu na cidade de Ur, dos
Caldeus. Com75 anos, recebeu de Javé
a ordem de seguir para Canad - oque
fez, com sua esposa e meia-irma Sara
etodoo seucla, depois de passar uma
temporada nonortedo Egito. Quando
parecia que nao deixaria descenden-
tes, teve um filho, Ismael, coma escra-
va Agar, Bis que Sara, jé em idade
avangada, engravidou e deu a luz
Isaac. Depois de se dispor ao maior
ato de fé imaginavel, sacrificar seu
proprio filho, teve uma vida longa e
préspera-morreria com175anos, Sua
tumba é reconhecida pela tradigao:
fica na Cisjordania eabriga os supos-
tos ttimulos de quatro casais: Adfoe
Eva, Abraao e Sara, Isaac e Rebeca,
Jacé € Lea. E 0 local onde ele teria se
oferecido para matar 0 filho seria 0
‘Monte Mori, em Jerusalém, Nosanos
1930, tabletes localizados nos
arqueolégicos de Mari, na atual Siria,
€ Nuzi, no Iraque, citam nomes que
podem ser entendidos como Abra
Isaac e Jacé. Pareciam comprovar a
existéncia nao s6 de Abraio como dos
outros dois patriareas do povo he-
breu. Arque6logos ¢ historiadores
debatiam se Abrado teria sido con-
temporaneo do rei babilénico Hamu-
rabi (1810-1750 a.C.) e quantos anos
teriam se passadoaté a datado fxodo
do Egito - dependendo da interpre-
taco, podia ser 430 ou 645 anos.
Mas a antiga arqueologia biblica
desconsiderava uma série de incon-
sisténcias hist6ricas do relato sagrado.
A tradigio compara Abrafio aos bedu-
fnos que os arqueélogos ocidentais,
encontraram no Oriente Médio na
década de 10 e considera que ele mi-
grou por volta de2 mil .C. A compa-
ragdo com os beduinos é incorreta: no
havia nada parecido com eles naquele
periodo, Nem mesmo os camelos,
tados no livrodo Génesis,tinham sido
domesticados - eles néo seriam usa-
dos para transporte antes de 1100 a.
Para complicar a situagéo, 08 movi-
‘mentos migrat6rios da épocaseguiam
na diregdo contraria, de Canad para
Mesopotémia. E nao ha sinal de que
os hebreus sejam descendentes de tri-
bbos mesopotamicas. Mais: existem
sérias dividas sobre localizaglo exa-
tadas idades citadas no texto biblico.
“Os tabletes apenas confirmam que
Abraio, Ismael e Jacé eram nomes
comuns na Mesopotimia, Nao pro-
vam a existéncia dos patriarcas”, diz
ohistoriador Ron Hendel, professor
de Estudos Judaicos da Universidade
da California em Berkeley. Escavagées
em Hara, na Turquia, onde Abraio
teria vivido, indicam que o nome de
seu pai, Ter4, éna verdade a nomen-
clatura usada para designar um cla
poderoso na regio naquele periodo.
A falta de dados confidveis é tanta
que, nos tiltimos 20 anos, e com raras
excegdes, a arqueologia desistiu de
encontrar evidéncias da existéncia dos
patriareas. Hoje sao tratados como
figuras mitolégicas. “Esto no terreno
dareligio, endoda Hist6ria’, diz Ron
Hendel. Dos relatos do Genesis, tini-
co que ainda mobiliza pesquisadores
€a busca por Sodoma e Gomorra ~
obsessio de arquedlogos dos anos
1970, retomada em 2006, naJordania.