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Prédios vizinhos a terreno no Centro de SP devem

'esconder' outras ossadas da escravidão, dizem


arqueólogos
A área de 400 m² localizada entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, atrás da Capela dos Aflitos, é
uma propriedade particular e até o início deste ano abrigava um prédio.

Por Vivian Reis, G1 SP — São Paulo


07/12/2018 06h00 Atualizado há 37 minutos

Prédios vizinhos a terreno no Centro de SP devem 'esconder' outras


ossadas da escravidão, dizem arqueólogos

TV Globo/Reprodução

Escavação arqueológica traz à tona primeiro cemitério público de SP


Arqueólogos que encontraram ossadas da época da escravidão em um terreno
na Liberdade, no Centro de São Paulo, acreditam que prédios vizinhos ao local
devem ter sido erguidos sobre outros restos mortais. A região abrigava o
Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público de São Paulo, onde escravos,
condenados e outras pessoas marginalizadas eram enterradas.

O G1 revelou com exclusividade nesta quinta-feira (6) a descoberta


arqueológica de sete esqueletos da época da escravidão no Brasil, enterrados
no período de 1775 a 1858, foram localizados no terreno entre outubro e
dezembro de 2018.

"O cemitério era enorme, este aqui é um pedacinho, mas gente descobriu onde
está o nível das covas. Agora o que deve acontecer é que tanto o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), quanto o Departamento do
Patrimônio Histórico (DPH) vão exigir pesquisa arqueológica sempre que uma
obra acontecer aqui nesta região, que é comprovadamente um sítio", afirma
Lúcia Juliani, diretora da empresa A Lasca, contratada pela proprietária do
terreno para a consultoria arqueológica.

A área de 400 m² localizada entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, atrás da
Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, é uma propriedade particular e até o início
deste ano abrigava um prédio. A proprietária do espaço decidiu demolir o edifício
por causa de problemas estruturais e construir um novo empreendimento
comercial no local.
Terreno particular passava por obras, quando foi orientado por órgãos do patrimônio a buscar acompanhamento
arqueológico por ser vizinho a capela tombada — Foto: Marcelo Brandt/G1

Três arqueólogos especialistas em sítios do tipo funerário identificaram sete


esqueletos entre outubro e o início de dezembro deste ano na área de 400 m²,
cerca de um metro abaixo do nível da rua.

“É provável que tenham mais esqueletos sob os imóveis da região. Eles não
estão no meio do sedimento, o que é muito positivo. Há prédios no entorno com
subsolos já escavados, mas alguns não foram afundados ainda", acredita a
arqueóloga Sônia Cunha, que coordena o trabalho em campo.

A última ossada foi encontrada na segunda-feira (3), então, de acordo com os


pesquisadores, ainda não é possível identificar a origem dos indivíduos, a idade,
a causa da morte, nem o sexo, mas significam a prova material do que estava
documentado e com detalhes que não foram registrados.

Sônia Cunha afirma que a identificação do sítio arqueológico na Liberdade ajuda


a remontar a história de São Paulo, acrescentando informações aos documentos
históricos, confirmando ou desmentindo-as.
Um dos restos mortais foi encontrado com contas de vidro de um colar, o que indica o pertencimento a alguma
religião de matriz africana — Foto: Marcelo Brandt/G1

"Esta identificação já ampliou o conhecimento que se tinha, pois acreditava-se


que os restos mortais haviam sido transferidos para o Cemitério da Consolação,
a segunda necrópole pública de São Paulo, e pudemos ver como era o
procedimento – um dos esqueletos foi enterrado em cúbito lateral, como se
dormisse de lado, com as mãos fechadas sob a cabeça. Isso denota um certo
cuidado de quem o posicionou aqui”, diz Sônia.

Dois dos sete esqueletos já foram retirados do local. Os pesquisadores esperam


terminar o trabalho até a semana que vem. Todo o trabalho tem sido realizado
com o aval do Iphan, que exige um projeto e relatórios de acompanhamento
para liberar a obra.

Os ossos serão levados para o laboratório da A Lasca, onde serão limpos,


passarão por uma curadoria e por uma análise, até a entrega dos objetos para
Departamento do Patrimônio Histórico, órgão da Secretaria Municipal de Cultura.
Arqueólogos encontram ossadas durante demolição de prédio na Liberdade

Mapa mostra Cemitério dos Aflitos e outros pontos no bairro da Liberdade, onde os escravos viviam e eram
mortos — Foto: Arte/G1

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