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a Dae CP hy ae Capitulo 3 UMA METODOLOGIA DA COMPREENSAO ie a nogdo de intencionalidade ¢ central para a fenomenolo- in, sla no pode se transformar num simples campo psicofisico wenn comprometer com isso a propria idéia de fenomenologia. I, onirério, restaurar a intencionalidade em seu sentido dbvio, Into 6, como visada da consciéncia e produgo de um sentido, que ) fenomenologia poderd perceber os fendmenos humanos em seu vr vivido, Nao nos admiraremos pois, de que rejeitando as con- jidncias extremas da teoria da Forma, outros pesquisadores te- hin, a0 contrério, tentado restituir pela fenomenologia a di- mensio subjetiva que distingue os fenémenos humanos dos natu- fnis. Essas tentativas, embora diversas quanto ao seu: modo € seu rhjew, tm ao menos em comum 0 fato de terem esbocado 0 que poderia chamar uma metodologia da comprecnsio nas cincias hummanas. INTENCAO E COMPREENSAO > tema do “compreender”, que nfio foi criado pela fenome- nologia, deu ensejo, desde-o, século XIX, a indmeros estudos e iscussées, que Joachim Wach tentou divulgar na obra que leva predsamente por titulo ““O Compreender’’!. A fenomenologia, portanto, néo fez mais do que trazer a sua contribuig8o a um tera 1. Das Verte 3 vol Tabingea, 1926-1933. © QUE £ A FENOMENOLOGIA? do compreender tal como o supdemn ‘mendam da fenomenologia nas ciéne; ias humanas, © humano deve ser compreendido 2, Stephan Stier: Phésomtrty, -Phdnomfrl ges ence de hone, Vern mua en taste tad. Aon Keel Pag 8 Nene “ a as investigacdes que se reco- UMA METODOLOGIA DA COMPREENSAO 31 ortumentos que nos propsem, no mais objetos, mas os préprios ujcitos! Por mais afastados ou diferentes de mim que sejam esses wjeitos, considero, pelo fato de serem humanos, logo racionais, \wue 0 Seu comportamento pode ser compreendide porque exprime (ins inteng&o que me € acessfvel. E, sem diivida, se daria o mes, mo, como o sugeriu Husserl, com todo ser racional néo humano ‘vom © qual eu pudesse entrar em comunicago. Compreender um vomportamento € percebé-lo, por assim dizer, do interior, do pon- o de vista da intenc&o que o anima, logo, naquilo que o toma propriamente humano e o distingue de um movimento fisico. AS palavras de Durkheim segundo as quais € preciso tratar os fatos wciais “como coisas” foram citadas muitas vezes. Se aproximés- vemos essa afirmagto da afirmaciio de Husserl que exige uma vol. la “8s coisas mesmas”, serfamos obrigados a dizer que essas ‘oisas”” que so 0s fatos sociais ¢ os fendmenos humanos em ge- al to so precisamente coisas no sentido de Durkheim, jé que a coisa-objeto s6 pode ser captada do exterior. Assimilar os fatos humanos aos objetos fisicos equivale a deixar de lado a dimens&o subjetiva e intencional que, precisamente, os torna humanos. Ora, ¢ exatamente © humano em sua esséncia que a fenomendlogia procura perceber. risco de equfvoco: um ponto de encontro entre fenomenologia ¢ psicandlise Entretanto, para captar a profunda intengéo de uma atitude ou de um ato ¢, portanto, para compreendé-los, bastard deixar-se im- pressionar por sua aparéncia imediata, limitar-se & inteng&o sim- ples que o sujeito enuncia? Nesse caso serfamos todos fenomené- logos assim como Monsicur Jourdain faz prosa. De fato, sabemos ‘que podemos nos enganar quanto as intenges de outrem e, ainda mais, que ele mesmo pode se enganar quanto as intengées de ou- trem ¢, ainda mais, que ele mesmo pode se enganar quanto as réprias intengées. Pode mesmo acontecer que um comportamen- to no tenha nenhum sentido aparente e que sejamos levados a lraté-lo como desprovido de sentido, o que ocorre com certas ati- tudes neursticas ou psicéticas. Cumpre, pois, admitir que a com- preensio de outrem ¢ a prépria compreensao de si vai de encon-

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