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LINHA DO TEMPO

Começo, meio – e quando será o fim?


13 de fevereiro de 2004 – As primeiras movimentações da oposição para
afastar José Dirceu do governo Lula ocorrem quando a revista
Época publica uma conversa gravada em vídeo de Waldomiro Di-
niz, então subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de
Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da
República, com um bicheiro e empresário do ramo de bingos. Nessa
conversa, ocorrida em 2002, Waldomiro Diniz pede propina ao bi-
cheiro. Tenta-se envolver José Dirceu porque Waldomiro, como sub-
chefe de Assuntos Parlamentares, tinha sido subordinado à Casa
Civil antes que o ministério fosse desmembrado, com a criação da
Secretaria de Coordenação Política. Mas, quando ocorreram os


fatos denunciados, Waldomiro Diniz era superintendente da Loterj
(Loterias do Rio de Janeiro), órgão do governo do Estado do Rio
de Janeiro. Apenas em 2003 foi para a Presidência da República,
sendo que os fatos ocorridos no Rio de Janeiro eram desconhe-
cidos. Apesar das pressões de oposicionistas e de parcela da im-
prensa, não é encontrado nenhum vínculo, além do funcional, entre
Waldomiro Diniz e José Dirceu. Nem a CPI dos Bingos, no Con-
gresso Nacional, nem a CPI da Loterj, na Assembléia Legislativa
do Rio de Janeiro, encontram evidências contra José Dirceu. Há
investigações na Polícia Federal, na Polícia Civil do Rio de Janeiro,
no Ministério Público da União e no Ministério Público do Rio de
Janeiro. Seis investigações e nenhuma acusação é feita contra José
Dirceu em função do episódio.

18 de maio de 2005 – A revista Veja, na matéria “O homem chave do


PTB” (edição nº 1.905), denuncia um esquema de corrupção prota-
gonizado por Maurício Marinho, do Departamento de Contratação
e Administração de Material, da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT). Na reportagem, a revista detalha uma conversa
gravada entre Marinho e dois empresários, quando o diretor re-
cebe R$ 3 mil de propina e explica o funcionamento do esquema.
Ele afirma defender os interesses do Partido Trabalhista Brasilei-
ro e atender às ordens do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ),
presidente do partido: “Eu não faço nada sem consultar. Tem vez
que ele vem do Rio de Janeiro só para acertar um negócio. Ele é
doidão”. Nos dias seguintes, a matéria tem ampla repercussão e a


TV Globo mostra uma gravação clandestina de Marinho recebendo
a propina.

6 e 12 de junho de 2005 – Sentindo-se acuado diante das crescentes denún-


cias contra ele a partir da gravação com Marinho, Roberto ­Jefferson
procura o jornal Folha de S. Paulo para dar duas entrevistas à jor-
nalista Renata Lo Prete. Na primeira, o petebista afirma que o PT
pagava uma mesada de R$ 30 mil a parlamentares, o “mensalão”,
em troca de votos a favor do governo no Congresso Nacional e diz
que avisou José Dirceu sobre o esquema. Na segunda, diz que havia
uma negociação de cargos na sala “ao lado do gabinete do ministro
José Dirceu”, mas afirma não ter provas.

14 de junho de 2005 – Roberto Jefferson presta depoimento ao Conselho


de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. O pete-

césar ogata
bista diz que o então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência
da República, José Dirceu, seria o mentor do “mensalão” – supos-
to esquema de repasse de recursos a deputados em troca de votos.
­Jefferson, porém, não apresenta nenhuma prova de envolvimento do
ministro e não consegue fundamentar as acusações.

17 de junho de 2005 – Quinze ministros filiados ao PT comparecem à


Casa de Portugal, em São Paulo, para o “Ato em defesa do PT e da
democracia”. O auditório permanece lotado, por mais de três horas,
com cerca de 1.500 pessoas. Dirceu é o homenageado da noite. “O
Ato em defesa do PT e da
que está em jogo não é a minha biografia, o que está em jogo não é a democracia. 17/6/2005


Ato em defesa do PT e da

césar ogata
democracia. 17/6/2005

minha imagem, o que está em jogo é a nossa história, o que está em


José Cruz/ABr

jogo é o futuro do Brasil”, diz à platéia de militantes.

23 de junho de 2005 – O deputado José Dirceu (PT-SP) deixa a chefia da


Casa Civil da Presidência e retorna à Câmara dos Deputados para
fazer a própria defesa diante das acusações feitas por Jefferson.

Agosto de 2005 – Após assumir a presidência do PTB, o deputado Flávio


Cerimônia de posse da nova Martinez apresenta, no dia 2, representação ao Conselho de Éti-
ministra-chefe da Casa Civil, ca com o pedido de instauração de processo disciplinar contra José
Dilma Rousseff, no Palácio do
Planalto. 21/6/2005 Dirceu. No dia 10, o presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar

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(PTB-SP), instaura o processo e indica o deputado Júlio Delgado

Marcello Casal Jr./ABr


(PSB-MG) como relator.

1º de setembro de 2005 – As Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito


(CPMI) dos “Correios” e da “Compra de Votos” aprovam, por unani-
midade, um relatório parcial conjunto com a recomendação da aber-
tura de processos contra 18 parlamentares, entre eles José Dirceu.
O ex-ministro da Casa Civil,
deputado José Dirceu, chega
à Câmara dos Deputados, para
15 de setembro de 2005 – O Supremo Tribunal Federal concede o Manda-
assumir o mandato parlamentar
do de Segurança 25.539, relatado pelo ministro Carlos Velloso, que do qual estava licenciado.
23/6/2005
determina a imediata suspensão da medida disciplinar impetrada
pela Mesa Diretora da Câmara contra 18 deputados federais. O pe-
dido visa inicialmente apenas alguns parlamentares, mas o ministro
estende os efeitos da liminar a José Dirceu. A Mesa Diretora ha-
via aprovado parecer da Corregedoria, que decidia pela instauração
do processo disciplinar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar
sem dar atenção a todos os requisitos necessários.

Laycer Tomáz/ .
Acervo Câmara dos deputados
21 de setembro de 2005 – Martinez pede a retirada do processo contra
Dirceu no Conselho de Ética. Ricardo Izar, entretanto, resolve que o
pedido não deve interromper o processo.

18 de outubro de 2005 – O relator do processo contra José Dirceu, depu-


tado Júlio Delgado, lê seu parecer. Antes, Delgado ouviu cinco teste-
munhas de defesa e duas de acusação. Nenhuma das testemunhas, Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da Câmara dos
entretanto, apresentou qualquer prova do envolvimento de José Dir- Deputados. 2/8/2005

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ceu em irregularidades. Pelo contrário. O ex-tesoureiro do PT, Delú-
Agência Br

bio Soares, e o empresário Marcos Valério negam ter feito qualquer


negociação com o ex-ministro. Mesmo assim, o relator recomenda a
cassação do deputado José Dirceu.

27 de outubro de 2005 – O ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal


­Federal, determina que o relatório com pedido de cassação do depu-
José Dirceu durante entrevista tado José Dirceu seja refeito. No Mandado de Segurança 25.618, o
coletiva onde fala sobre o
processo que responde no
ministro manda retirar uma documentação sigilosa utilizada indevi-
Conselho de Ética e Decoro damente pelo relator, deputado Júlio Delgado. A decisão, entretanto,
Parlamentar da Câmara.
21/10/2005 não é cumprida e o texto é aprovado pelo Conselho de Ética por 13
votos a 1. A defesa de Dirceu protocola Embargos de Declaração,
cuja liminar é deferida com a determinação de que outro parecer
fosse apresentado, anulando, dessa forma, a votação.

4 de novembro de 2005 – Apesar dos recursos apresentados por José Dir-


ceu e seu advogado a fim de garantir o amplo direito de defesa, o
Conselho de Ética volta a repetir a votação favorável ao pedido de
cassação. Durante o processo de apuração das denúncias há falhas
na condução que acabam por violar normas constitucionais e regi-
mentais em relação ao princípio do contraditório.

17 de novembro de 2005 – Intelectuais, artistas, sindicalistas, lideranças


populares e membros do Diretório Nacional do PT realizam, no Rio
de Janeiro, o ato “Em Defesa da Justiça, da Democracia e da Cons-
tituição”. A manifestação, organizada pelo movimento Amigos do

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Sergio Borges / ag. o globo
Ato “Em Defesa da Justiça, da
Democracia e da Constituição”
realizado pelo movimento
Amigos de José Dirceu, no
auditório da Faculdade Cândido
Mendes no Rio de Janeiro.
17/11/2005

Zé Dirceu, atrai diversas personalidades, como o professor Cândido


Mendes, a presidente estadual do PCdoB/RJ, Ana Rocha, Benedita
da Silva, o vereador (atual deputado federal) Edson Santos, o de-
putado federal Luiz Sérgio, o deputado esta­dual Gilberto Palmares,
além de artistas como Luiz Carlos e Lucy Barreto, Sérgio Sanz, Pau-
lo Tiago, Antônio Pitanga, Aroeira, José de Abreu e Antônio Grassi.

18 de novembro de 2005 – Mais de 600 pessoas comparecem à Câmara


Municipal de São Paulo para declarar apoio a José Dirceu. As ga-
lerias ficam tomadas por personalidades como a ex-prefeita Mar-
ta Suplicy, o senador Eduardo Suplicy, o ministro Luiz Marinho, o

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fotos lilian vaz
Ato em defesa
do mandato de ­assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e represen-
José Dirceu e da
Constituição. Câmara tantes de entidades da sociedade civil e movimentos sociais, como
Municipal de São
Paulo. Na foto à
UNE, CUT e MST. Os ministros Antonio Palocci, Dilma Rousseff,
direita com o jurista Márcio Thomaz Bastos e o ex-presidente do PT Tarso Genro tam-
Aldo Lins e Silva.
18/11/2005 bém enviam mensagens de solidariedade ao ex-ministro.

19 de novembro de 2005 – Em Belo Horizonte (MG), mais de 300 pessoas


participam do ato público em apoio ao deputado federal José Dirceu,
no auditório da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A militân-
cia petista marca presença ao entoar palavras de ordem contra o
linchamento político protagonizado pela oposição. O evento conta
com a participação de políticos mineiros como o deputado Roberto
Carvalho, o prefeito de BH, Fernando Pimentel, o presidente do dire-
tório do PT, Nilmário Miranda, além de diversos deputados, prefei-
tos e vereadores de partidos como PTN, PCdoB e PL.

22 de novembro de 2005 – O diretório do PT no Distrito Federal promove


um ato público em solidariedade ao deputado José Dirceu no audi-

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tório da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria. O
vice-presidente da República, José Alencar, comparece ao evento.
“Acompanhei atentamente o processo e nada me convenceu que Dir-
ceu tenha alguma culpa capaz de levá-lo à cassação”, diz Alencar.
Entre os 400 presentes, estão o presidente do PT, Ricardo ­Berzoini,
os ministros Jaques Wagner, Nelson Machado e Patrus Ananias, além
de vários deputados e senadores.

25 de novembro de 2005 – É realizado um ato de desagravo a José Dirceu du-


rante a posse do diretório municipal do PT de Campo Grande (MS). O
governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, recebe pessoal­mente
o deputado. O evento conta com a presença do deputado federal Van-
der Loubet, da vereadora Thaís Helena e de diversos correligionários.

26 de novembro de 2005 – O deputado José Dirceu participa de ato em


desagravo ao presidente Lula e em defesa da Legalidade e da De-
mocracia na Câmara Municipal de Santos (SP). O evento ainda
visa a demonstrar solidariedade ao ex-ministro. “Queremos mostrar
também a nossa indignação contra a violência ao companheiro Zé

vivian farias
Dirceu e a todos os demais companheiros que estão ameaçados de
cassação do mandato, sem uma evidência ou prova de que tenham
cometido atos irregulares e ilegais”, declara a Comissão Executiva
Municipal do PT santista, em nota.

27 de novembro de 2005 – Em Olinda (PE), Dirceu é recebido com muita


festa e discursa ao lado dos prefeitos de Recife, João Paulo; de Olin- Olinda. 27/11/2005

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da, Luciana Santos; do ex-ministro da Saúde Humberto Costa, além
de parlamentares das bancadas estadual e federal do PT local.

28 de novembro de 2005 – José Dirceu participa em João Pessoa (PB) de


ato de apoio no plenário da Assembléia Legislativa, com a presença
de mais de 150 pessoas.

29 de novembro de 2005 – Na véspera da votação em plenário, o deputado


José Dirceu (PT-SP) recebe mais uma manifestação de apoio. Cerca
de 100 juristas e advogados assinam documento em defesa do Es-
tado Social e Democrático de Direito. Segundo os advogados, o pro-
cesso político contra Dirceu “acoberta o flagrante desrespeito aos
princípios da presunção de inocência e da separação de poderes”.
Entre os principais nomes no manifesto estão Aldo Lins e Silva,
Dalmo Dallari e Hélio Bicudo. “Conclamamos, pois, a Câmara dos
Deputados, seus órgãos e os demais Poderes, a defender o mandato
do deputado José Dirceu, a reafirmar a crença na manutenção de
nosso Estado Social e Democrático de Direito, observando suas re-
gras e respeitando seus limites.”

30 de novembro de 2005 – O Pleno do STF, por maioria de votos, concede


liminar que determina a retirada do depoimento de Kátia Rabello
dos autos, bem como do relatório apresentado pelo deputado Júlio
Delgado. De acordo com o Mandado de Segurança 25.647, o Su-
premo acolhe a tese da inversão da prova e da violação do direito
de defesa.

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Laycer Tomáz/Acervo Câmara dos deputados
Sessão Ordinária da Câmara
dos Deputados, na apreciação
do processo de cassação de
José Dirceu. 30/11/2005

1º de dezembro de 2005 – A Câmara dos Deputados decide pela cassação


do deputado José Dirceu, com 293 votos pela perda de mandato e
192 contra. Foi aprovada também a inelegibilidade por oito anos.
Não há prova de nenhum crime praticado pelo ex-ministro.

30 de março de 2006 – O procurador-geral da República, Antonio Fer-


nando Barros e Silva de Souza, encaminha denúncia ao Supremo
Tribunal Federal contra 40 suspeitos de envolvimento no esquema
investigado pelas CPMIs e aponta o ex-ministro José Dirceu como
membro do núcleo principal da “quadrilha”.

9 de maio de 2006 – É deferida a medida cautelar solicitada na Recla-


mação 4.336 a fim de suspender o procedimento instaurado pelo
Ministério Público de São Paulo, que visava a investigar José Dirceu

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pela suposta prática de delitos cometidos durante a gestão do ex-
prefeito de Santo André, Celso Daniel. O ministro Eros Grau segue o
entendimento anterior do ministro Nelson Jobim, que determinava o
arquivamento do pedido de abertura de inquérito.

17 de maio de 2006 – O Banco Central enviou uma carta à revista IstoÉ


Dinheiro rebatendo as afirmações de que José Dirceu teria pressio-
nado o presidente da instituição para que fossem liberados negócios
a favor do publicitário Marcos Valério. A carta:
“O Banco Central do Brasil esclarece que, ao contrário do publicado na
edição 452, de 17 de maio [de 2006], não procede a informação de que
o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi pressionado pelo
ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, para suspender as liquidações ex-
trajudiciais do Banco Econômico e do Banco Mercantil de Pernambuco.
Atenciosamente,
Jocimar Nastari
Assessor de Imprensa do Banco Central do Brasil”

29 de maio de 2006 – O ministro Gilmar Mendes (STF) indefere o Man-


dado de Segurança 25.900. A medida cautelar solicitava a nulidade
da decisão do Plenário da Câmara dos Deputados, que decidiu pela
cassação do mandado do deputado José Dirceu, uma vez que o direi-
to de defesa do parlamentar havia sido violado.

21 de junho de 2006 – O Tribunal de Contas da União, de acordo com a nota


informativa sobre o acórdão nº 926/2006, considerou improcedente

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a representação a respeito de possíveis irregularidades ocorridas nas
operações de aquisição, por parte da Caixa Econômica Federal, de
parte da carteira de crédito consignado do banco BMG. De acordo
com a análise do TCU, não houve indício de nenhuma irregularidade,
fraude ou favorecimento entre as operações das instituições bancá-
rias. Nada contra José Dirceu.

11 de julho de 2006 – José Dirceu entrega sua defesa ao STF e destaca a


falta de provas e as inconsistências das acusações feitas contra ele,
denunciando um processo de cassação em que não foram respeita-
dos os preceitos básicos do contraditório e da ampla defesa.

25 de julho de 2006 – O médico João Francisco Daniel, irmão de Celso


Daniel, assassinado quando era prefeito de Santo André, retratou-se
de acusações feitas contra José Dirceu. Em acordo judicial firmado
para extinguir um processo por calúnia movida pelo ex-ministro, João
Francisco admitiu que “não teve a intenção de ofender a honra ou
imputar crimes” a Dirceu. O médico havia acusado o petista de ter
recebido propina de um suposto esquema de empresas de ônibus. Se-
gundo ele, Celso Daniel teria sido assassinado devido a esse esquema.
Após a retratação, o processo contra João Francisco foi retirado por
José Dirceu. Depois de muitas investigações, não há nenhuma acusa-
ção contra José Dirceu referente à gestão e à morte de Celso Daniel.

Março de 2007 – A Receita Federal investigou a vida financeira e fiscal


de José Dirceu no período de novembro de 2005 a março de 2007.

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O processo é encerrado e arquivado sem nenhuma acusação ou au-
tuação por crimes fiscais e financeiros, muito menos por variação
patrimonial a descoberto.

Julho de 2007 – O STF ainda não havia se pronunciado sobre a denúncia


do procurador-geral.

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