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OS CRISTAOS E A MISSAO DA IGREJA NEO-FUNDAMENTALISHO, TEOLOGIA DA LIBERTAGAO, EVANGEL ICAL ISHO INTEGRAL Robinson Cavalcanti INTRODUGAO Un conhecido tedlogo afirnou que ¢s cristdos iniedarem século Xx lutando por suas diferengas doutrinérias ou denomi- nacionais, chegarem aos meados do século lutando por suas di- ferengas quanto as correntes teolégicas, mas que terminariam © século divididos quanto as ideologias (modelos politicos, econdmicos, sociais, filosofie da Histéria, ete.) Tras gran- des posturas parecem dividir e tengo dos cristéos quento & resposte @ ume questao central: qual 6 missdo da Igreja ho- Je? Para 2 metoria dos fiéis no esté muito clara a diferen- Ga ontre elas, inclusive 0 grau de consciéneia, sobre sua pro- pria posigaéo, elaboreda ou implicita. = (0 NEO-FUNDAMENTAL SHO Um aspecto central na tradigaéo protestante latino-ameri- cana tem sido a sua congesséona£idade, sue preocupagéo com ©s aspectos proposicionais do conhecimento da Fé. Por um la~ do, @ expansio missionéria neste continente tem coineidido com as grandes controvérsias teoldgicas de hemisfério norte, rotadamente no terreno da critica biblica, 0 ataque cerrado do racionalismo colocaria os conservadores ne defensive, dis- 5 postos 9 evitar no Novo Mundo a repetigéo do mesmo fenémeno, Gonsiderado danoso. 0 ultramontanismo catélico-romano, esti~ mulado pela condenagdo papal ao modernismo, partiria de simi- lar apologética. Por outro lado, a existéncia aqui de uma exprasséo tridentina e contra-reformada do catolicisma ibéri- co permitiria a reprodugao das condigées para os embates con- fassionais havidos na Europa nos séculos XVI @ XVII. Uma preocupaggo central, portanto, do protestantismo da América Latina, tem sido com a ottedoxia: a crenga correte, a cranga corretamente formulada, entendide e crida. Dos cre- dos histéricos (0 epostdlico, o niceno @ 0 de Calcedénia) as confissées reformadas (como e de Augsburgo @ de Westminster) 2 convicgéo geral é a de que um niicleo de verdade, necessa- Tio @ suficiente, pode ser corretamente formledo, deve ser mantido, e deve ser defendido por todos os meios contra as investides dos inimigos de verdade em tados os tempos: os he- rejes. Essa confessionalidade e essa ortodoxie se baseiem no principio reformado da Sola Scriptura: a Biblia Sagrada com. Unica fonte de revelagao, autoritativa e inerrante. A essa confessionalidade acrestente-se duas outras tra~ digées, segundo nos chama a atengdo o tedlogo perueno Sa- fiuel Escobar: o pletism eo puritanismo. A tradigéo pietis~ ta pde sua énfase na experiéncia pessoal do cristae com seu Deus,.a conversdo, o novo nascimento, 2 contemplagdo, 3 ora- 980, 0 cultivo de una vide devacional, @ dimensdo mistica da vida religiosa, enfin. A tradigdo puritena tem como foco um certo ethos: o andar en novidade de vide, a santificagéo, a mudenga de cardter e de valores. Ser cristéo 6 ser diferente. Na Teologia Sistendtica, o protestantisno letino-ameri- caho tem eido forte na dogmitica e fraco na ética, especial- mente na Stica social, 0 pietism e o puritanisro histori- cos tiveram um forte compromisso como social. 0 evangelice- Liemo de nosso continente, por seu turn, sucumbiu a um indi- vidualismo, @ um intimismo, @ uma ética pessoal reduzida a4 um mero legeliemo: fazer ou deixar de fazer umas poucas cot- destacando-se os seus aspectos exteriores ou a sexuali- dade. A controvérsia do evangelho sociel versus evangslho in- dividual, do século passado na Europa @ América do Norte, de- Tominada per um socidlogo de "A Grande Reverséo", provocou 6 Tupturas profundas ma compreenséo da misséo da Igraje. A ma- joria dos missiongrios que aqui aportaram era adepto do evan- gelho individual. Isso ndo quer dizer que nao permanecessi por vérias décadas, uma preocupaggo como social, coma f. lantropia, com a criagdo de escolas @ hospitais. Esea preo- cupagéo vai sendo paulatinamente reduzide como avango dae missoes de #8, com a disseminagdo de uma escatologie pesei- mista pré-mileneriste © pré-tribulacionista, com certes mant- festagdes do pentecostalisno e. principalmente, com a mobili- dade social ascendente dos fiéis, seu processo de aburguesa- mento, sue instalaggo na ordem social. Como as pessoas tendem a confundir o antigo com o eter- "0, 0 ensino historico de uma dimensdo do evangelto. a indi- vidual, foi identificado com 0 todo do evengelho. A recupa- ragéo da owtra dimensdo, a social, au outras dimensées, pas- sou a ser vista néo como uma volta as origens, mas com> peri~ G0sa inovagao. 0 anti-intelectualisno e 0 anti-cientifieleno que foram se desenvolvendo concorreram para inibir a reflexdo ‘eoldgica, resultando em una esterilidade, um mero repetir descontextualizante de coisas importadas de outras terres 9 cutres épocas, © em uma pratica de "caga Ss bruxas", de des confiange ¢ represséo, em particular nas instituigdes de en- sino teolégico, No campo politico, longe véo os dias em que o avango do protestantismo era visto como avango do progresso e da demo— cracia. Os ensinos recentes sdo os de que "politica ndo & lugar para crente", ou de que "o crente deve apoiar o gover- no" (de direita), fundamentado om Rm 13, mesmo que seja dite- torial. Um anti-comunismo irracional e primério priva a I- greje do exercicio profético em relagdo & sociedade @ ao Es- tado. Deve-se ressaltar. por fim, que a preocupagéo teoldgica tem sido volteda para a arte de bem morrer: o além, o céu, @ certeza de salvagso, © quase nunca coma arte de bem viver: um projeto existencial cristéo historicamente relevante. 0 que importa parece ser o futuro, e ndo o presente; @ outra vida, ndo este. Poderfamos denominar de neo-fundamentalismo esse evange- licalisno conservador ¢ tradicionelista, cuja expresséo ex- trema é 0 Concflic Internacional de Igrajes Cristas (ICCC), ?

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