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humana, seja possível. Neste itinerário deve valer ao homem a certeza de que ao
final da vida vigorará o amor com que assumiu o compromisso com as condições
de vida dos irmãos. Tal motivo de esperança escatológica se agrega a outro: a
vivência do Reino continua acontecendo, seus sinais despontam mesmo que
muitos não o percebam.
A espiritualidade que não se situa fora dos problemas sociais abraça
também a causa dos migrantes da história e transita com eles. As razões para a
migração, em geral, são bastante dolorosas e adjunto a isso, as condições que os
migrantes enfrentam em seus novos destinos são de exploração e de alienação
aos direitos que intrinsicamente são merecedores. A experiência do povo hebreu,
no seu peregrinar em busca da terra prometida, onde descobrem Deus como
condutor e acompanhante na caminhada, precisa ser amplamente apresentado e
testemunhado para os deserdados da história.
Em meio a tal dinâmica social o que distinguirá a presença dos cristãos
será a maneira com que assumem a práxis de Jesus quanto ao cuidado, defesa e
favorecimento da vida em todos os seus estágios de desenvolvimento. Abre-se
hoje uma ampla gama de realidades que fazem a vida muito vulnerável e que a
põe em risco eminente. Em contraposição a essa verificação é necessário o
comprometimento de todos com a defesa dos direitos humanos, são muitos os
que ainda não os têm garantido. A experiência religiosa da irmandade de todos os
homens poderia produzir um efeito eficaz contra a exclusão, discriminação e
segregação. O grito profético dos cristãos contra essas realidades é irrenunciável
e intransferível.
A paz obviamente se constitui como clima propício para o germinar de
todas essas realidades. Mas existe quem busca conquistá-la e garantí-la a força,
tal intento é um equívoco. O mundo se sente globalmente vulnerável, é
necessário que se trate as feridas que ele já apresenta, não que se abram novas.
O remédio mais eficaz seria o perdão e a reconciliação, onde existe o
reconhecimento da própria culpa e a decisão de emenda dos erros.
Constitui-se também como desafio para a espiritualidade a sua abertura a
novos horizontes de sentido e pluralismo religioso. A esse respeito existem duas
posturas que se contrapõe: a maior parte da sociedade é mais secular do que
confessional e o prorrompimento de diferentes matizes do cristianismo, onde
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deixa claro a impossibilidade da hegemonia de uma única religião. Princípios
como o da aceitação, tolerância, respeito mútuo e colaboração desinteressada
assumidos pelas diferentes religiões em diálogo, constituem um caminho aberto
para a visualização de um mundo habitável e sadio para todos.
O mesmo efeito referente à consciência da pluralidade religiosa deve ser
convertido para a diversidade cultural, que também se constitui como desafio para
a vivência da fé cristã. O cristianismo se viu por muito tempo marcado
exclusivamente pela cultura grega/medieval, fechado a linguagens, costumes e
cosmovisões diversas. O desafio da espiritualidade neste campo não se atém
somente na acolhida, mas no diálogo que resultará no enriquecimento e na mútua
purificação.
Por fim, é preciso acentuar o desafio da espiritualidade no que concerne à
comunhão do homem com a natureza e a defesa do meio ambiente. A vida,
ameaçada de tantas formas, também corre risco na sua biodiversidade devido as
frequentes alterações da natureza, causadas pela falta de compromisso e
responsabilidade do homem.
Mediante a apresentação dos desafios que despontam no cenário mundial,
não fica difícil concluir que somente uma espiritualidade que se mostre simples,
direta, frontal, decisiva na exigência de que o ser humano elenque prioridades
para si, deixando de lado valores ou hábitos ditos como provindos de sociedades
mais evoluídas, concebidas por um capitalismo amiúde pouco solidário e que
deixam no coração humano resquícios de estranheza e frustração, poderá se
manifestar como sinal profético e consolidar práticas libertadoras de desagravo
para tais problemáticas.
Em um mundo que se mostra sedento pelo transcendente, a espiritualidade
necessita conduzir o indivíduo à unidade com Deus, consigo próprio, com os
outros e com o universo. Tal proposta pode ser refletida com a mente, mas
somente será assumida com o coração.
Referência:
RÚBIO, Alfonso Garcia. Espiritualidade cristã em tempos de mudança. Petrópolis
– RJ: Editora Vozes, 2008.
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