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No Hemisfério Norte o deslocamento do nascer do Sol rumo ao norte leva ao solstício que se
costumava denominar solstício de verão, no sentido oposto leva ao solstício antes
denominado solstício de inverno. Como no Hemisfério Sul ocorre o oposto (ao sul do
Equador o solstício de junho marca o início do inverno, o solstício de dezembro marca o
início do verão) está se tornando mais disseminado o costume de fazer referência aos meses
de ocorrência dos solstícios – solstício de junho, solstício de dezembro – e com isso a
tendência é abandonar a referência às estações do ano.
auroras, a frase informa que em cada aurora o nascer do Sol é precedido por uma
estrela. Essa estrela é denominada estrela heliacal; é uma estrela que se torna visível no
horizonte leste pouco antes do nascer do Sol e na posição em que ele vai se elevar no
horizonte, mas suficientemente distante dele para não ser ofuscada pelo brilho da aurora.
Nem todas as estrelas heliacais são facilmente visíveis, pois variam em brilho e o
intervalo de tempo entre sua ascensão no horizonte leste e o aparecimento do Sol não é o
mesmo em todos os dias em que dada estrela é estrela heliacal.
Algumas estrelas heliacais mereceram mais atenção que outras porque foi possível
ligar sua ascensão heliacal a outros eventos.2
A segunda frase do último parágrafo determina que o tempo dedicado à leitura dos
apotegmas e à reflexão sobre a lição que transmitem deve ser regulado pelas estrelas
heliacais:
Aprende com as auroras a dividir teu tempo de ler e de refletir de tal modo que
sempre a mesma estrela te encontre em novo início de reflexão sobre o que já
leste no passado e tornas a ler agora.
A estrela heliacal de determinado dia retorna á mesma posição de estrela heliacal em
intervalos de aproximadamente trezentos e sessenta a cinco dias (um ano). Se o tempo de
ler e de refletir deve ser dividido de tal modo que a mesma estrela marque um novo início
de leitura e reflexão, então dado apotegma deve ser motivo de leitura e reflexão uma vez
por ano. Vai daí que, sendo cinquenta e dois os apotegmas, deve-se entender que a leitura
dos apotegmas deve se fazer em intervalos de sete dias, ou seja, uma semana.
Os apotegmas 8, 23 e 28 levam a supor que a interpretação do que se pode denominar
“apotegma da semana” deva ser conduzida por um mestre.
Mas, quem deve ser esse mestre?
De acordo com o 28º. apotegma, deve ser alguém que estimule as pessoas a aprender,
aguçar a inteligência e afiar a perspicácia para que possam agir com prudência. Os
mestres não devem ser eruditos que nada mais fazem do que asfixiar as mentes das
pessoas sob uma montanha de conhecimentos que não servem para nada mais do que ser
exibidos em conversas vazias.
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No antigo Egito, por exemplo, o nascimento heliacal da estrela Sírius estava associado ao
início das cheias do rio Nilo. Foi a partir dessa observação e sua associação a outros eventos
astronômicos que os antigos egípcios conseguiram desenvolver um calendário com um ano de
365 dias, que serviu de referência para a criação do calendário juliano. Muitas etnias
indígenas no Brasil utilizavam a ascensão heliacal das Plêiades para definir o início do
inverno (aproximadamente 5 de junho) e também o início de um novo ano (essas etnias
tinham, portanto, um calendário sideral).
Vale registrar que existe uma coletânea de apotegmas denominada Apophthegmata
Patrum, que alguns estudiosos brasileiros divulgam sob o título de Lições dos Padres do
Deserto (a denominação mais adequada deveria ser Lições dos Pais do Deserto, mas aqui
não é foro adequado para polêmicas semânticas). Essa coletânea é constituída por
histórias e ditos atribuídos a monges e monjas que viveram como eremitas no deserto do
Egito a partir do quinto século da Era Cristã. A coletânea que se apresenta a seguir nada
tem em comum com a Apophthegmata Patrum, ainda que se possa atribuir a ambas
idêntico propósito, ajudar as pessoas no esforço de viver uma vida de virtudes.
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APOTEGMATA
Aqui te deixo as lições que te ajudarão a viver tranquilamente tua vida
junto a teus semelhantes e que, aprendidas por teus semelhantes, farão com
que eles também vivam tranquilamente uns com os outros e contigo.
Não deves te apressar no ler as lições, pois importa refletir sobre o pouco
lido mais do que muito ler sem refletir sobre o que se leu.
Há um tempo para ler, e não deve ser demasiado. Tempo maior deves
dedicar a refletir, a ouvir o que te dizem teus semelhantes e a aprender o que
puderes de bom, de útil, agradável e inteligente.
Lê com os olhos de tua alma e reflete com teu coração sobre o que leres.
2. Se alguém te pedisse teu corpo para dispor dele como lhe aprouvesse,
tu certamente te negarias a atender tal pedido. Por que, então, alguns
semelhantes teus não sentem vergonha ao entregar suas mentes a
charlatães e demagogos para que as manipulem em proveito somente
deles próprios?
10. Mesmo que o artesão faça sandálias de juta sem saber o tamanho dos
pés dos compradores, ainda assim sabemos que ele não as fará em
forma de cestos.
11. De que te vale querer saber se tens uma alma imortal que viverá
eternamente depois que o vento da morte dispersar as cinzas do teu
corpo na amplidão do deserto? Quem se lembra dos rios quando
navega pelos mares? Deverias te ocupar com tua contribuição para os
que viverem após ti, mais do que com questões sobre uma duvidosa
vida eterna.
12. A linha da vida tem seus limites. A natureza admite que ela seja
percorrida somente uma vez e num único sentido. Para cada etapa de
tua vida há algo que lhe é especialmente adequado.
16. Muitos tapam o nariz com lenços perfumados para não sentir o
miasma do lixo, raros se dispõem a removê-lo.
17. Dizem que caridade é dar de comer a quem tem fome. Mas a
verdadeira caridade é antecipar-se à fome, é fazer com que ninguém
passe fome.
18. Tua conduta e tuas palavras são a comida e a bebida que serves à
convivência com teus semelhantes. Podes escolher servir-lhes fino
manjar acompanhado de excelente vinho ou pão mofado embebido
em vinagre.
20. Lembra-te de que, embora um dia devas morrer, não nasceste para
morrer, mas para contribuir para a vida, mesmo que essa contribuição
nada mais seja do que constituíres uma família e sustentá-la
decentemente.
29. Todos nós um dia vamos morrer deixando no mundo um oculto resto
de algo inacabado. Nós mortais não podemos realizar tudo;
podemos, contudo, dar parcela de contribuição à vida do mundo que
continuará existindo mesmo depois que morrermos.
30. Os sentidos de teu corpo são os meios por que tua mente apreende o
mundo e aprende com o mundo. Por isso deves tratar teu corpo com
o mesmo zelo e cuidado com que o guerreiro mantém prontas sua
armadura e suas armas.
33. Faze o bem sem esperar retribuição, pois assim nunca serás
decepcionado.
35. Teu filho será o que a mãe dele determinar pela educação que ela lhe
der. Por isso faze com que desde meninas as mulheres tenham as
mesmas oportunidades de educação dadas aos meninos e aos
adultos, homens e mulheres.
37. Deves ter o espírito pronto para aceitar o que não podes controlar e
para suportar as frustrações e as dores que a vida te impuser.
39. Cuida o que dizes para as pessoas, mas dedica mais cuidado à
maneira como o dizes. Pois as pessoas podem esquecer o que
disseste, mas nunca se esquecem de como se sentiram quando
disseste o que lhes disseste.
40. Executa muito bem a tarefa que te cabe executar, pois o que dela
resultar pode ser a fonte da última recompensa que terás por toda
uma vida de trabalho árduo.
41. Pais têm dos filhos o respeito e admiração e afeição que fizeram por
merecer.
42. A nós nos agrada a nossa maneira de ver, sentir, pensar e julgar, por
isso de bom grado nos inclinamos para quem pensa e julga como nós.
43. Teus conhecimentos têm valor somente quando deles fazes uso em
benefício de tua comunidade, pois foi ela que te deu oportunidade de
adquiri-los.
44. Deves saber dar atenção àqueles que pensam e julgam diferentemente
de ti, pois isso te ajuda a refinar tua maneira de pensar, sentir e
julgar.
45. Quando fores dizer algo sobre o caráter e a conduta das mulheres,
reflete se o que vais dizer vale para tua mãe e demais mulheres de tua
família, inclusive esposas e filhas de teus irmãos.
47. Se tens dúvidas sobre como tratar com alguém que te causou
desgosto, pede conselho a tua mãe.
50. Que a tua conduta seja determinada por ti mesmo, nunca pelo modo
como os outros te tratam. Afirmarás tua nobreza moral ao aceitares
com moderação os elogios e revidares os insultos com firmeza e
serenidade.
52. Lembra-te de que és livre para fazer escolhas, mas escravo das
consequências das escolhas que fizeres.