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Fundamentos da Economia

2014
© UniSEB © Editora Universidade Estácio de Sá
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dos Direitos Autorais – arts. 122, 123, 124 e 126).
Fundamentos da Economia
Capítulo 1: A Ciência Econômica e seus
Principais Conceitos........................................ 7

ri o Objetivos da sua aprendizagem.................................. 7


Você se lembra?................................................................. 7

1.1  Definições de economia................................................... 8
1.2  Questões econômicas fundamentais...................................... 8
1.3  Recursos ou fatores de produção................................................ 9
Su

1.4  Agentes econômicos........................................................................ 10


1.5  Tipos de bens..................................................................................... 11
1.6  Sistemas econômicos................................................................................... 12
1.7  Curva de possibilidade de produção (FPP) ............................................. 13
1.8  Fluxo real e monetário................................................................................. 16
1.9  A importância da ciência econômica
para as demais ciências e para o direito................................................................... 18
1.10  A evolução do pensamento econômico............................................................. 24
Atividades................................................................................................................... 30
Reflexão........................................................................................................................ 31
Leituras recomendadas................................................................................................... 32
Referências bibliográficas.............................................................................................. 32
No próximo capítulo....................................................................................................... 33
Capítulo 2: Fundamentos Básicos da Microeconomia............................................... 35
Objetivos da sua aprendizagem...................................................................................... 35
Você se lembra?............................................................................................................. 35
2.1  Introdução à microeconomia................................................................................. 36
2.2  Análise de mercado............................................................................................. 37
Atividades................................................................................................................ 49
Reflexão................................................................................................................ 50
Leituras recomendadas..................................................................................... 51
Referências.................................................................................................... 51
No próximo capítulo................................................................................. 52
Capítulo 3: Análise das Estruturas de Mercado............................... 53
Objetivos da sua aprendizagem......................................................... 53
Você se lembra?............................................................................. 53
3.1  Análise da estrutura de mercado........................................ 54
3.2  Elasticidade ................................................................. 62
Atividades........................................................................................................................ 67
Reflexão........................................................................................................................... 68
Leituras recomendadas..................................................................................................... 68
Referências....................................................................................................................... 68
No próximo capítulo........................................................................................................ 69
Capítulo 4: Os Objetivos da Política Macroeconômica e
o Papel do Estado na Economia.................................................................................... 71
Objetivos da sua aprendizagem....................................................................................... 71
Você se lembra................................................................................................................. 71
Introdução........................................................................................................................ 72
4.1  Objetivos de política macroeconômica..................................................................... 72
4.2  Inflação..................................................................................................................... 86
4.3  O setor Público.......................................................................................................... 92
Atividades...................................................................................................................... 101
Reflexão......................................................................................................................... 102
Leituras recomendadas................................................................................................... 103
Referências..................................................................................................................... 103
No próximo capítulo...................................................................................................... 105
Capítulo 5: O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional............. 107
Objetivos da sua aprendizagem..................................................................................... 107
Você se lembra?............................................................................................................. 107
5.1  Comércio e desenvolvimento.................................................................................. 108
5.2  Integração econômica e desenvolvimento.............................................................. 116
Atividades...................................................................................................................... 128
Reflexão......................................................................................................................... 129
Leituras recomendadas................................................................................................... 130
Referências bibliográficas.............................................................................................. 130
ã o Prezados(as) alunos(as)
Quantas vezes você já não se deparou
com questões do tipo:
aç – por que pagamos tantos impostos?
ent
– por que os salários em uma determinada região
são menores que em outras?
– por que os juros pagos nos financiamentos são tão ele-
res

vados?
– por que viajar para o exterior pode ficar mais barato do que
Ap

viajar para o meu próprio país?


Essas e outras questões terão suas respostas reveladas à
medida que o aluno for sendo introduzido no mundo da ciência
econômica, mundo este tão envolvente quanto complexo; primei-
ro, porque está assentado no comportamento humano, segundo, tem
interface com várias outras áreas do conhecimento como a história, a
geografia, a matemática, a estatística, a sociologia, a filosofia, dentre
outras.
Neste sentido, a disciplina “Fundamentos de Economia” busca,
por meio da apresentação e aplicação de conceitos econômicos relevan-
tes, introduzir o aluno na compreensão deste “mundo novo” chamado
economia, priorizando aspectos agregados e sociais desta esfera do co-
nhecimento. A ideia é que a abordagem da economia sob um enfoque
mais geral permita que o aluno interaja com o mercado munido de um
instrumental básico de análise dos fenômenos socioeconômicos, utili-
zando-o na tomada de decisões na esfera empresarial.
Bom estudo!
A Ciência Econômica e
seus Principais Conceitos
C O capítulo 1 aborda os conceitos fundamen-
tais da ciência econômica. Apresenta os agentes
CCC
econômicos, os fatores de produção e a forma como
eles se organizam e interagem na economia, a fim de
CC C

satisfazer as necessidades humanas. A unidade centra-se


também no estudo da fronteira de possibilidades de produ-
CCC

ção, do custo de oportunidade e relaciona a economia com as


demais áreas do conhecimento. Finalizando o capítulo, temos
os precursores do pensamento econômico e suas contribuições
para a evolução da disciplina.

Objetivos da sua aprendizagem


Que você seja capaz de entender os conceitos fundamentais da eco-
nomia e como ela se organiza a fim de satisfazer as necessidades dos
homens.

Você se lembra?
Você se lembra da última escolha que fez? Lembra-se da renúncia que
essa escolha implicou? Ao tomar uma decisão, você sempre renuncia algo
e assim também acontece na economia. Ao optar por comprar determina-
do produto, você deixa de poupar e de consumir outros tipos de produ-
tos. Isso acontece todos os dias em nossas vidas.
Fundamentos da Economia

1.1  Definições de economia


A palavra economia origina-se do grego oikos (casa) e nomos (norma,
lei) e significa administração do lar. Da mesma forma que os indivíduos, as
famílias e as empresas administram os recursos que são escassos, as socie-
dades também devem administrá-los. Podemos dizer, então, que a econo-
mia tem por finalidade estudar como os indivíduos e as sociedades decidem
utilizar os recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de
forma a distribuir esses recursos entre os vários indivíduos e grupos para
satisfazer às necessidades humanas. Como essas necessidades são ilimita-
das, a economia se depara com algumas restrições físicas provocadas pela
escassez dos recursos produtivos ou fatores de produção. Dizemos, então,
que esse é o problema econômico central que a economia procura resolver.
Para determinados bens, como o ar (sem poluição), que estão em
abundância na natureza, não há a necessidade de se formar uma organiza-
ção econômica para seu uso. Contudo, no mundo real, a maior parte dos
recursos é escassa e tal fato fará com que a sociedade se organize econo-
micamente para lidar com essa situação.
A seguir estão alguns exemplos de escassez que enfrentamos no
nosso dia a dia:
• Você possui um tempo limitado. Caso decida dormir mais, terá me-
nos tempo para se dedicar a outras atividades, por exemplo, estudar.
• Você dispõe de uma quantidade limitada de dinheiro para fazer
compras no supermercado. Lá você deverá escolher entre com-
prar algumas unidades a mais de um produto e menos de outro.
• Um empresário que possui uma máquina importada capaz de
produzir diferentes produtos terá de decidir qual deles irá pro-
duzir mais e qual deles irá produzir menos.
Percebemos, a partir dos exemplos dados, que as escolhas feitas
pelos indivíduos, pelas famílias, pelas empresas ou pelo governo determi-
nam as escolhas da sociedade e essa sociedade deve responder às seguin-
tes questões: o que e quanto, como e para quem produzir?

1.2  Questões econômicas fundamentais


As necessidades e os desejos humanos são satisfeitos utilizando-se
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os escassos recursos produtivos disponíveis e isso, inevitavelmente, im-


plica escolhas. A necessidade de escolha fica evidente ao considerarmos
as três perguntas fundamentais que devem ser respondidas por todas as
sociedades: o que produzir? Como produzir? Para quem produzir?
8
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

• O que produzir: o que deve ser produzido e em que quantidade?


Serão produzidos muitos bens de consumo ou deve-se focar nos
bens de produção, como maquinário, os quais permitirão incre-
mentar a produção? Os produtos devem ser, em sua maioria, de
baixa qualidade ou de alta qualidade? A produção enfatizada deve
ser a de serviços ou a de produtos?
• Como produzir: como serão produzidos os bens e serviços? Quais
recursos serão utilizados? Qual deve ser a tecnologia empregada?
Como serão distribuídas as atividades para os funcionários? A em-
presa será propriedade do estado ou da iniciativa privada?
• Para quem produzir: a quem se destinará a produção? Quem con-
sumirá os bens e serviços? Como será distribuída essa produção
entre os indivíduos da sociedade? A renda será distribuída de for-
ma igualitária entre os cidadãos ou, ao contrário, serão permitidas
grandes diferenças de rendas?

1.3  Recursos ou fatores de produção


Para respondermos às questões fundamentais, devemos entender pri-
meiramente o que são os fatores de produção. Entendemos por fatores de
produção os recursos básicos empregados na produção de bens e serviços,
recursos que podem ser divididos em insumos, terra, trabalho e capital.
Observando o esquema a seguir, verificamos que os fatores de pro-
dução (recursos) são empregados no processo produtivo que os transfor-
ma em bens ou serviços finais.
Fatores de Produção ⇒ Processo de Produção ⇒ Bem ou serviço
A terra enquanto fator de produção representa os recursos naturais
como um todo. A mão de obra se refere ao tempo de trabalho empregado na
produção de bens e serviços, que podem ser físico ou intelectual. O capital
consiste no conjunto dos bens produzidos com a finalidade de produzir novos
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bens ou serviços, como máquinas, computadores, entre outros. Os insumos


consistem na matéria-prima utilizada no processo produtivo, como madeira,
aço, couro, entre outros exemplos.
Como dito anteriormente, dadas as necessidades humanas ilimitadas e
a escassez de recursos produtivos, as sociedades são obrigadas a fazer deter-
minadas escolhas sobre o que e quanto, como e para quem produzir. Em uma
economia liberal, em que não há intervenção do governo, esses problemas
tendem a ser resolvidos pela concorrência dos mercados e pelo mecanis-
mo de preços.
9
Fundamentos da Economia

As respostas dadas a seguir em relação ao que e quanto, como e para


quem produzir serão respondidas no decorrer das aulas de Microeconomia.

Quando perguntamos o que produzir, estamos nos referindo a


quais produtos deverão ser produzidos (carros, cigarros, café, vestuá-
rio, entre outros). Será a demanda dos consumidores no mercado que
decidirá o que a economia deverá produzir. As quantidades que serão
colocadas à disposição do mercado serão determinadas pela atuação dos
consumidores e dos produtores no mercado com os ajustamentos dados
pelo sistema de preço.
Quando pensamos em como produzir determinados bens e ser-
viços, queremos saber quais serão os recursos e ou processos técnicos
que irão interferir nesta produção e de que maneira. Nesse caso, será
a concorrência entre os produtores que definirá
como serão produzidos determinados
bens e serviços. O processo de fa-
bricação mais eficiente ou mais
barato ganhará mercado e o
ineficiente e mais caro ficará Para não confundir: em economia, o termo
de fora. capital significa capital físico, isto é, as máqui-
nas e os imóveis, e não o capital financeiro
A questão de quem irá
produzir será determinada
pela oferta e pela demanda no
mercado de fatores de produ-
ção, sejam eles os salários, juros,
aluguéis e lucros que, em conjunto,
formam a renda individual relativa a
cada serviço e ao conjunto de serviços. A pro-
dução destina-se a quem tem renda para pagar, se o preço é o instrumento
de exclusão.

1.4  Agentes econômicos


Os agentes econômicos são as empresas, as famílias e o setor públi-
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co. Eles são os responsáveis pela atividade econômica e supõe-se que são
coerentes quando tomam decisões. A empresa é a unidade de produção
básica. Contrata trabalho e compra fatores de produção com a finalidade
de produzir e vender bens e serviços. Nas sociedades modernas, somen-
10
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

te as empresas têm capacidade de organizar os complexos processos de


produção e distribuição para consumo da população. Elas decidem quais
produtos e serviços irão produzir e como produzi-los.
A função das famílias consistem em, por um lado, consumir bens e
serviços; por outro, oferecer seus recursos, isto é, trabalho e capital às em-
presas. As famílias decidem que produtos e serviços irão consumir, a que
profissão irão se dedicar e quanto dinheiro irão guardar. O setor público
atua regulamentando a atividade econômica por meio das políticas fiscal,
monetária e cambial. Atua ainda em atividades produtivas, por meio de
empresas estatais.

1.5  Tipos de bens


Os desejos dos indivíduos são mutáveis e ilimitados. Inicialmen-
te, as pessoas buscam satisfazer suas necessidades básicas ou primárias,
como alimentação, vestuário e saúde. O passo seguinte é satisfazer neces-
sidades e desejos mais refinados, como lazer, bens com maior qualidade
para satisfazer as necessidades primárias, como melhor habitação e vestu-
ário etc.
O fato real que enfrenta toda economia é que, em todas as socieda-
des, os desejos dos indivíduos não podem ser completamente satisfeitos.
Sempre existirão necessidades ou desejos que os indivíduos não poderão
satisfazer, ainda que seja somente pelo fato de os desejos tornarem-se re-
finados.
Um bem é tudo aquilo que se destina a sa-
Conexão:
tisfazer as necessidades dos indivíduos, direta Consulte o site do Ministério
ou indiretamente. Eles podem ser classifica- da Fazenda! O endereço contém
diversos dados econômicos para
dos em alguns tipos. O primeiro tipo de bem você se familiarizar com os temas da
classifica-se segundo o caráter e divide-se em disciplina. Além disso, contém links para
sites de universidades (USP, Unicamp,
dois tipos. Os bens livres, que são inapropri- Unesp, UFMG, UnB etc.) e para sites
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áveis e cuja quantidade é ilimitada, e os bens de jornais e revistas nacionais e


estrangeiras: www.fazenda.
econômicos, caracterizados pela utilidade, pela gov.br.
escassez e por serem apropriáveis. Os bens econô-
micos são o objeto de estudo da economia.
Os bens também são classificados segundo sua natureza em dois
tipos. Os bens de capital são aqueles que não se destinam a satisfazer di-
retamente as necessidades humanas e são representados pelos equipamen-
tos destinados à produção. Os bens de consumo são os que se destinam a

11
Fundamentos da Economia

satisfazer diretamente as necessidades humanas e podem ser duráveis, de


uso prolongado, e não duráveis, que acabam, com o passar do tempo.
Existe ainda a classificação segundo a função. Esses podem ser
bens intermediários, pois sofrem transformação antes de se converterem
em bens de consumo, e bens finais, caracterizados por já terem passado
por um processo de transformação e estarem prontos para o consumo.

1.6  Sistemas econômicos


Até este momento, nós descrevemos o fun-
cionamento de uma economia de mercado
(tipo capitalista) em que não há a in-
tervenção do Estado. Nesse tipo de
Apesar das vantagens do livre co-
sistema, predomina o laissez-faire, mércio entre países, existe ainda uma sé-
ou seja, os milhares de produtores rie de medidas protecionistas que as nações
e consumidores têm condições de usam para limitar a entrada de determinados
produtos no país. Essas medidas são adotadas
resolver os problemas fundamen- inclusive por países mais desenvolvidos, como
tais da economia (o que e quanto, Estados Unidos, Japão e países europeus,
como e para quem produzir) e as com a finalidade de proteger os produtores
nacionais.
empresas estão preocupadas essen-
cialmente em maximizar o seu lucro.
Apesar de adotado como mo-
delo pelas economias de diversos países,
inúmeras são as críticas a esse sistema. Para al-
guns economistas, trata-se de um modelo que simplifica muito a realidade
econômica e apresenta alguns problemas:
a) Os preços nem sempre flutuam livremente, controlados so-
mente pelo mercado.
b) O mercado sozinho não consegue promover a alocação perfei-
ta dos recursos.
c) O mercado não consegue distribuir perfeitamente a renda.
Consideramos que algumas dessas críticas são bastantes pertinentes
dado que muitas vezes observamos a presença do Estado regulando o pre-
ço dos produtos, provendo bens à sociedade que o mercado não consegue
ofertar (bens públicos) e distribuindo renda através da tributação maior
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sobre quem tem renda maior.


A Grande Depressão de 1930, nos Estados Unidos, revelou que um
sistema com a regulação do mercado não consegue sozinho garantir que
a economia opere sempre no pleno emprego de seus recursos. Sendo as-
12
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

sim, verificou-se a necessidade de intervenção do Estado com o objetivo


de controlar as distorções alocativas do mercado, melhorando o padrão
de qualidade de vida da sociedade. Nesse caso, temos a presença de uma
economia que entende que o mercado resolve parte dos problemas econô-
micos e que a presença reguladora do Estado deve corrigir essas distor-
ções. Surgem, então, as economias mistas, que contemplam os dois tipos
de sistema.
Nessa situação, o Estado pode intervir de diversas maneiras na
economia, como atuando sobre a formação de preços, via impostos, subsí-
dios, taxa de câmbio, pode complementar a iniciativa privada através dos
investimentos em infraestrutura básica (energia, estradas), pode fornecer
bens públicos como iluminação, saneamento básico, saúde e pode com-
prar bens e serviços do setor privado, aumentando a quantidade demanda-
da de produtos da economia.
Por fim, apresentamos a economia central ou planificada, em que os
problemas centrais (o que e quanto, como e para quem produzir) são defi-
nidos por uma agência ou órgão central de planejamento, e não pelo mer-
cado. O Estado é o detentor dos recursos, dos meios de produção e define
o que é necessário ser produzido para a sociedade e não há a preocupação
com a geração de lucro. Nessa situação, não há a propriedade privada,
todos os bens pertencem ao governo, contudo há uma preocupação maior
com o bem-estar da população.

1.7  Curva de possibilidade de produção (FPP)


A fronteira ou curva de possibilidades de produção ilustra um fato
importante: em uma economia que conta com milhares de produtos, as al-
ternativas de escolhas são inúmeras. Para simplificar o problema, considera-
remos uma economia que dispõe de uma dotação fixa de fatores produtivos
e trabalharemos com a seguinte suposição: mesmo sabendo que no mundo
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real a economia produz milhares de bens e serviços, vamos imaginar uma


economia que produz somente dois bens: manteiga (em mil toneladas) e
canhões (mil unidades). A fronteira ou curva de possibilidade de produção,
também chamada curva de transformação, é a fronteira máxima que a eco-
nomia pode produzir, dados os fatores de produção e tecnologia disponíveis
para as empresas que transformam esses insumos em bens.
A figura 1 exemplifica uma fronteira de possibilidade de produção.
Se todos os recursos forem utilizados para produzir canhões, nenhuma
manteiga será produzida. Se todos os recursos forem utilizados para
13
Fundamentos da Economia

produzir manteiga, nenhum canhão será produzido. Esses são os dois


pontos extremos da curva de possibilidade de produção. Caso a economia
desejar dividir seus recursos entre ambos os produtos, poderá produzir,
por exemplo, 8 mil toneladas de manteiga e 10 mil unidades de canhões.
Observemos que esse ponto está sobre a curva de possibilidade de produ-
ção. Pontos fora da curva de possibilidade de produção são inviáveis, pois
a economia não tem recursos para sustentar esse nível de atividade. Por
outro lado, pontos dentro da curva são possíveis em virtude da quantidade
de recursos disponíveis, ou seja, o suficiente.
Diz-se haver eficiência econômica quando a economia está obten-
do tudo o que é possível a partir dos recursos escassos da economia. Os
pontos situados sobre a curva de possibilidade de produção garantem essa
eficiência, enquanto que os pontos situados dentro da curva (pontos pos-
síveis) não garantem essa eficiência porque a produção neste ponto está
abaixo daquilo que pode ser produzido.

A B C D E F

Manteiga 0 3 6 8 9 10

Canhões 15 14 12 10 7 0
Tabela 1.1 – Alternativas de produção

Manteiga
(mil ton)

10 Z
E
8 D

6 C

4
W
2 B

Canhões (mil unidades)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 A
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Figura 1 – Curva de possibilidade de produção

14
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

1.7.1  Conceito de custo de oportunidade


Custo de oportunidade é o grau de sacrifício que se faz ao optar pela
produção de um bem em lugar da produção alternativa de outro. Se uma
economia se encontra sobre a fronteira de possibilidades de produção e
todos os recursos estão sendo plenamente utilizados, ela está diante de um
dilema, pois produzir uma quantidade maior de um bem exigirá neces-
sariamente produzir menos de outro. Em economia, a opção que se deve
abandonar para poder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito
de custo de oportunidade.
Se a economia produz uma determinada combinação de bens, uti-
lizando toda a capacidade de produção disponível e, ainda assim, deseja
produzir algumas unidades a mais de um dos bens, isso só será possível
mediante redução na produção do outro bem. Essa escolha entre os dois
bens indica que o custo para a obtenção de mais unidades de um deles é
justamente deixar de produzir algumas unidades do outro.
No caso do nosso exemplo, podemos ter as seguintes situações.

A B C D E F

Manteiga 0 3 6 8 9 10

Canhões 15 14 12 10 7 0

Tabela 1.2 – Alternativas de produção

Custo de oportunidade para passarmos da alternativa B para C, para


serem produzidas mais 3.000 toneladas de manteiga = 2.000 canhões.
Custo de oportunidade para passarmos da alternativa C para B, para
serem produzidos mais 2.000 canhões = 3.000 toneladas de manteiga.
Perceba que só é possível produzirmos mais manteiga se deixar-
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mos de produzir unidades de canhão, assim como só é possível obtermos


maior quantidade de canhões se deixarmos de produzir algumas unidades
de manteiga.
A fronteira de possibilidade de produção nos mostra o trade off
(escolha) entre a produção de diferentes bens em um dado período, po-
rém é possível que esse trade off mude ao longo do tempo. A tomada
de decisões exige a comparação dos custos e benefícios dos cursos de
ações. Por exemplo: em tempos de guerra, há uma maior necessidade de
se produzirem canhões do que manteiga. Em decorrência desse processo,
15
Fundamentos da Economia

a curva se deslocará mais para fora, como na figura 4. Em momentos de


paz, a economia pode necessitar mais da produção de manteiga. Tal fato
deslocará mais a curva de possibilidade de produção para fora, deixando-a
mais inclinada (figura 2).
Manteiga
(mil ton)

10

Canhões (mil unidades)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Figura 2 – Deslocamento da curva de possibilidade de produção

1.8  Fluxo real e monetário


Como a economia é constituída de milhões de pessoas envolvidas
em inúmeras atividades, tais como compra, venda, trabalho, locação e
produção, precisamos de uma simplificação do quadro de atividades, ou
melhor, necessitamos de um modelo que explique como se organiza a
economia e como seus participantes interagem uns com os outros.
O diagrama do fluxo circular da renda nos mostra dois tipos de to-
madores de decisões: de um lado, as empresas e, do outro, as famílias. As
empresas são responsáveis pela produção dos bens e serviços através da
utilização dos fatores de produção (trabalho, terra e capital) e as famílias
são as proprietárias dos bens e serviços produzidos pelas empresas.
Os dois primeiros agentes e suas funções podem ser resumidos na
seguinte frase: as famílias oferecem recursos (fatores de produção) para as
empresas, que produzem e vendem os bens e serviços para as famílias. O
inverso também é válido, ou seja, as empresas contratam recursos (fatores
de produção) das famílias, que consomem os bens e serviços produzidos
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pelas empresas.
Observamos que os agentes econômicos interagem em dois mo-
mentos: no mercado de bens e serviços, em que as empresas vendem e as
famílias compram bens e serviços, e no mercado de fatores de produção,
16
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

em que as famílias são vendedoras e as empresas compradoras. Nesse


mercado, as famílias oferecem às empresas os insumos necessários à pro-
dução de bens e serviços.
A parte interna do diagrama nos mostra o fluxo de bens e serviços
entre as famílias e as empresas. As famílias vendem para as empresas, no
mercado de fatores de produção, o uso do seu trabalho, terra e capital. As
empresas usam os fatores de produção para produzir os bens e serviços
que são vendidos às famílias no mercado de bens e serviços. Verificamos
que os fatores de produção fluem das famílias para as empresas e os bens
e serviços fluem das empresas para as famílias.
A parte externa do diagrama mostra o fluxo de moeda. As famílias
gastam reais para comprar bens e serviços oferecidos pelas empresas. Por
sua vez, as empresas usam parte de sua receita para pagar alguns fatores
de produção, por exemplo o salário dos trabalhadores. O que sobra após
esse pagamento é o lucro do empresário, que por sua vez é membro das
famílias. Sendo assim, a despesa com bens e serviços flui das famílias
para as empresas e a renda em forma de salários, de aluguéis e lucro flui
das empresas para as famílias.
Acompanhemos o seguinte exemplo para entendermos melhor o
diagrama do fluxo circular da renda. Imagine que temos uma nota de um
real em nossa carteira e que desejamos tomar uma xícara de café. Vamos
até ao Fran’s Café mais próximo de nossa casa e pagamos pela bebida.
Quando o real passa pela caixa registradora, ele se torna parte da recei-
ta da empresa. Contudo, esse real não fica muito tempo no Fran’s Café,
pois a empresa usará para comprar insumos no mercado de fatores de
produção. A empresa também poderá usar esse real para pagar os salários
dos trabalhadores ou o aluguel da loja. De qualquer forma, esse real irá
retornar para a renda de alguma família e, novamente, irá para a carteira
de alguém.
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

É importante salientarmos que o diagrama do fluxo circular da ren-


da é uma simplificação da economia. Um modelo mais completo deve
levar em conta a participação do governo e o comércio internacional.

17
Fundamentos da Economia

Diagrama do fluxo circular da renda


Receita Despesas
Mercado de Bens e Serviços
As empresa vendem
As famílias compram

Bens e serviços vendidos Bens e serviços comprados

Empresas Famílias
Produzem e vendem Compram e consomem
bens, serviços bens e serviços
Contratam e São proprietárias
utilizam fatores de fatores de
de produção produção e os vendem

Insumos produção Terra, Trabalho, Capital

Mercado de Fatores de Produção


As famílias vendem
As empresas compram
Salários, Aluguéis e Renda
Lucro

Fluxo de bens e serviços


Fluxo de moeda

Figura 3 – o diagrama do fluxo circular é uma representação esquemática da organização


da economia. As decisões são tomadas por famílias e empresas. Essas interagem
no mercado, em torno de bens e serviços (quando as famílias são os compradores
e as empresas, os vendedores) e em torno de insumos (quando as empresas são os
compradores e as famílias, os vendedores). As setas externas representam o fluxo de
dólares e as setas internas correspondem ao fluxo de bens e serviços.

1.9  A importância da ciência econômica para as


demais ciências e para o direito
Os acontecimentos econômicos afetam diretamente a vida de todas
as pessoas, principalmente daquelas que precisam tomar decisões impor-
tantes neles baseadas, como é o caso dos administradores de empresas,
contadores, advogados etc. Por isso, é importante que tenham um conhe-
cimento no mínimo razoável a respeito dos fenômenos econômicos, para
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serem bons profissionais.

18
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

1.9.1  As inter-relações com as demais ciências


Apesar de especificado seu objeto, a economia relaciona-se com as
demais áreas do conhecimento humano. Ela tem intercorrências com ou-
tras ciências, pois todas estudam a mesma realidade, de modo que se torna
difícil separar fatores essencialmente econômicos dos extraeconômicos.
– Economia e política: são áreas bastante interligadas, pois em um
regime democrático, as ações do governo estão intimamente associadas às
instituições, à estrutura partidária e ao regime político do país. Os objeti-
vos da política econômica (inflação, crescimento, distribuição de renda)
são determinados pelo poder político. Os políticos são responsáveis pelas
decisões relacionadas à distribuição de verba do orçamento governamen-
tal e à elaboração e aprovação de leis que influenciam o nível de bem-
estar da população. Outro exemplo são as crises econômicas, derivadas,
por exemplo, da queda de bolsas de valores no exterior, cujos efeitos
influenciam tanto as ações dos políticos e dos formuladores da política
econômica como o povo em geral.
• Economia e História: a história nos ensina que fatos do pas-
sado podem se repetir no futuro; assim, a pesquisa histórica
torna-se útil e necessária para a economia, pois facilita a com-
preensão do presente e auxilia nas previsões para o futuro. As
guerras e revoluções já foram responsáveis por alterações no
comportamento e na evolução da economia, assim como fa-
tos econômicos influenciam o desenrolar da história. Alguns
importantes períodos da história são associados a fatores eco-
nômicos, como os ciclos da cana-de-açúcar e do ouro, a Re-
volução Industrial, a quebra da Bolsa de Nova York (1929), a
crise do petróleo, fatos determinantes para alteração da história
mundial. Não podemos deixar de mencionar que as próprias
guerras e revoluções são permeadas por motivações econômi-
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cas (VASCONCELOS e GARCIA, 2008).


• Economia e Geografia: é simples compreender a interferên-
cia dos acidentes geográficos no desempenho das atividades
econômicas, mas a geografia nos permite avaliar fatores muito
úteis à análise econômica, como, por exemplo, questões ligadas
aos diferencias de distribuição de renda, de recursos produti-
vos, de localização de empresas, dos efeitos da poluição sobre
o meio ambiente, as condições geoeconômicas dos mercados,
custos de transporte etc.
19
Fundamentos da Economia

• Economia e Sociologia: a relação existe porque a análise econô-


mica contempla a participação das classes sociais no produto glo-
bal. O ambiente social influencia os mercados, a estrutura de de-
manda e de oferta, as finanças e, portanto, o modo de crescimento
econômico. Por exemplo: a vontade popular, quando expressa de
forma organizada, influencia o comportamento das empresas e
a forma como a economia vai se organizar e crescer. Diante do
consenso da necessidade de preservação do meio ambiente, surgiu
o conceito de desenvolvimento sustentável, implicando a neces-
sidade de licença ambiental para a abertura de certas rodovias e a
implantação de fábricas em determinadas localidades.
• Economia, Matemática e Estatística: a economia utiliza
matemática e probabilidades estatísticas como ferramenta
para estabelecer relações entre variáveis. Muitas relações de
comportamento econômico podem ser expressas por funções
matemáticas, como, por exemplo, a função de produção Qmos-
tra a quantidade produzida em função da quantidade de capital
empregada K e da quantidade de mão de obra L, isto é:

Q = F (K, L)

Por meio dos modelos matemáticos, é possível formular o funciona-


mento de um sistema econômico, medir o relacionamento entre diferentes
setores, determinar os impactos do aumento de uma variável sobre a outra;
por exemplo, é possível estimar os efeitos do aumento dos investimentos
estrangeiros ou dos gastos públicos sobre o crescimento do emprego ou da
renda de uma economia.
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20
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

Entretanto, a economia não é uma ciência exata em que os resulta-


dos são programados e não há erros. Por exemplo, se houvesse um aumen-
to na renda de todos os indivíduos, é fácil imaginar que nem todos iriam
gastar esse aumento em consumo ou que nem todos iriam poupar. É pra-
ticamente impossível prever o comportamento de um indivíduo em par-
ticular; todavia, poderíamos responder a essa questão com base no valor
médio do gasto da coletividade. Para isso, baseamo-nos no valor em que a
probabilidade de ocorrência é maior, isto é, em que a margem de erro for
mínima. Essa estratégia é denominada econometria, uma mistura da eco-
nomia, matemática e estatística. A estatística estuda os acontecimentos a
fim de avaliar regularidades e fazer previsões. Avaliando o comportamen-
to de um conjunto de observações, calculam-se probabilidades, médias,
variâncias e verificam-se tendências. As técnicas estatísticas auxiliam na
realização de testes de hipóteses que contribuem na tomada de decisões.
• Economia, Biologia e Física: a fase inicial do estudo da eco-
nomia coincide com a fase de grande desenvolvimento das
ciências físicas e biológicas, nos séculos XVIII e XIX. O nú-
cleo científico inicial da economia foi construído a partir das
chamadas concepções organicistas
(biológicas) e mecanicistas
(físicas). De acordo com
o grupo organicista, a
economia se compor- Comportamento racional é aque-
taria como um órgão le em que o indivíduo, sistemática
vivo. Originam-se aí e objetivamente, faz o máximo para
termos como órgãos, alcançar seus objetivos.
funções, circulação e
fluxos na teoria econô-
mica. Por outro lado, para
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o grupo mecanicista, as leis


da economia se comportariam
como algumas leis da física. A partir
daí, observamos termos como equilíbrio, velocidade, estática,
dinâmica, aceleração e outros. A concepção humanística passa
a predominar com o passar do tempo, priorizando as noções de
comportamento racional dos agentes econômicos. Assim, per-
cebemos que o lado psicológico dos investidores pode ser mais
importante para tomar decisões do que variáveis econômicas.
21
Fundamentos da Economia

Observamos ainda os motivos pelos quais os consumidores


maximizam a satisfação na aquisição de bem e serviços ou
por que os produtores reduzem custos para maximizar o lu-
cro. O lado emocional das pessoas influencia sua conduta, o
que afeta variáveis econômicas como produtividade, produ-
ção e emprego.

1.9.2  A economia e o direito


A interação entre a economia e o direito é uma preocupação antiga
dos consumidores. A teoria econômica auxilia na resposta de perguntas
como: Como as diferentes leis afetam o comportamento dos agentes eco-
nômicos? Que tipo de objetivos econômicos existem ao se legislar? Por
que certas proibições econômicas são tão pouco respeitadas? Quais são as
regras que proporcionam maior eficiência?
As relações econômicas que se estabelecem entre os indivíduos,
empresas, instituições e órgãos governamentais estão subordinadas a um
conjunto de normas jurídicas, estabelecidas em um contexto social. Em
uma economia de mercado, os consumidores adquirem produtos e servi-
ços e efetuam os pagamentos correspondentes. Os ofertantes e produto-
res vendem os produtos e serviços de acordo com as especificações dos
manuais e dos contratos de venda. A existência de propriedade e regras
de transações são essenciais para o bom funcionamento dos mercados, e
isso é possível graças a um quadro legal já fixado, ou seja, boas leis e um
governo forte.
As últimas décadas foram marcadas pela expansão do liberalismo
de mercado, tanto do comércio como das finanças internacionais, reduzin-
do o papel do Estado na atividade econômica. Consequentemente, cres-
ceu em importância seu papel como agente regulador, visando garantir a
defesa da concorrência e os direitos do consumidor. Para tanto, torna-se
necessário adaptar a legislação comercial, trabalhista e tributária ao novo
quadro econômico.
Uma preocupação importante é a da justiça social, no sentido de
proteger o consumidor de abusos econômicos. Conforme o Código de
Defesa do Consumidor, os direitos do consumidor colocam-se perante os
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deveres do fornecedor de produtos e serviços.


O art. 4 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n 8.078, de
11/09/1990) argumenta que a política nacional das relações de consumo
tem como finalidade atender às necessidades do consumidor, com respeito
22
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

à sua dignidade, saúde e segurança, proteger seus interesses econômicos e


melhorar sua qualidade de vida. No mercado do consumo, o consumidor
é o lado mais vulnerável, pois ele nem sem-
pre tem informações suficientes sobre
o produto, como sua qualidade, Conexão:
segurança, desempenho e dura- O Código de Defesa do
bilidade. Assim, cabe ao Estado Consumidor é uma lei abran-
proteger o consumidor da pro- gente que trata das relações de
paganda enganosa, dos abusos consumo em todas as esferas: civil,
de preços e da fraude, por meio administrativa e penal. Para conhecê-lo
de legislação adequada. na íntegra, acesse o site: <www.idec.
Existem empresas que org.br> , do Instituto Brasileiro de
têm poder de mercado, o que lhes Defesa do Consumidor.
dá condição de determinar os pre-
ços praticados e abusar de seu poder
econômico. É o caso dos monopólios,
caracterizado quando um produtor aumenta uni-
lateralmente os preços (ou reduz a quantidade), ou diminui a qualidade ou
a variedade de bens e serviços, com o objetivo de aumentar seus lucros.
Essa imperfeição ou falha de mercado pode ser corrigida pelo governo
por meio de normas jurídicas. As chamadas leis de defesa da concorrência
regulam as estruturas de mercado e a conduta das empresas, de forma a
aumentar a eficiência econômica.
Veremos mais sobre os mecanismos de defesa da livre concorrência
quando estudarmos as estruturas de mercado.
A regulação e o controle do Estado atingem também o mercado
de trabalho e o mercado de capitais. O Estado mantém sob vigilância o
mercado de trabalho para garantir uma renda mínima aos trabalhadores
e outras vantagens, por serem considerados a parte fraca nas relações de
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trabalho. Os trabalhadores recebem proteção: contra demissão sem justa


causa, décimo terceiro salário, seguro desemprego, fundo de garantia, sa-
lário mínimo, aposentadoria por tempo de serviço e por idade etc.
No caso do mercado de capitais, temos a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, que visa
assegurar o funcionamento eficiente do mercado de títulos, proteger acio-
nistas e investidores contra atos ilegais, fiscalizar e disciplinar o mercado
de valores mobiliários, contribuindo para o crescimento econômico.

23
Fundamentos da Economia

1.10  A evolução do pensamento econômico


Durante muito tempo, a economia constitui um conjunto de precei-
tos e de soluções adaptadas a problemas particulares. Somente no século
XVI observamos o nascimento da primeira escola econômica, o Mercan-
tilismo, e a formação de uma economia nacional relativamente integrada,
em que o Estado dirigia as ações sociais. A escola mercantilista imprimiu
ao pensamento econômico um cunho de arte empírica, de preceitos de ad-
ministração pública que deveriam ser usados pelo governo para aumentar
a riqueza da nação (PINHO E VASCONCELOS, 2004). Além disso, con-
templava princípios de como estimular o comércio exterior e entesourar
riquezas. A força e o poder de um país estavam relacionados ao seu esto-
que de metais preciosos, o que gerou guerras, exacerbou o nacionalismo e
manteve a presença do Estado em assuntos econômicos.
No século XVIII, o surgimento e a consolidação do capitalismo
necessitavam de uma doutrina que o legitimasse. A Fisiocracia (liderada
pelo médico francês François Quesnay) favorecia o livre-comércio, sus-
tentava que a terra era a única fonte de riqueza e que o universo é regido
por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais, desejadas pela Provi-
dência Divina para a felicidade dos homens.
A livre circulação de bens e a liberdade para empreender apareciam
como a única maneira de desenvolver a economia. Se havia uma lei na-
tural regendo a ordem econômica, os homens deveriam apenas agir livre-
mente, pois qualquer intervenção do Estado inibiria essa ordem natural,
criando barreiras ao comércio interno e às exportações.
A agricultura era estimulada e exigia-se que as pessoas empenhadas
no comércio e nas finanças fossem reduzidas ao menor número possí-
vel. Em relação aos demais setores da economia, para a manutenção dos
preços baixos e benefício dos consumidores, os fisiocratas propunham o
combate aos oligopólios e os fim das restrições às importações.

1.10.1  Teoria clássica


A economia surgiu como ciência através de Adam Smith, considera-
do o pai da economia política. Sua obra, A Riqueza das Nações, constituiu
um marco na história do pensamento econômico.
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24
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

1.10.1.1  Adam Smith (1723-1790)

A publicação da obra A riqueza das nações, em 1776, de Adam


Smith, marca o início da escola clássica. Smith era um renomado profes-
sor e sua obra é um tratado abrangente sobre questões econômicas, que
passam por leis de mercado e aspectos monetários e vão até a distribuição
do rendimento da terra, finalizando com um conjunto de recomendações
políticas.
Smith é chamado de pai do liberalismo, pois acreditava que a
harmonia e o bem-estar da sociedade resultam do individualismo e do
egoísmo inato dos homens. Segundo o autor, os agentes, em busca da
maximização de lucro e da satisfação pessoal, tomam decisões que contri-
buem para o máximo bem-estar social. Essa harmonização seria feita por
uma espécie de “mão invisível”: o livre funcionamento do mercado, com
o sistema de preços determinando as quantidades a serem produzidas e
vendidas, seria responsável pelo equilíbrio econômico. No preço corres-
pondente ao equilíbrio, as quantidades demandadas pelos consumidores
correspondem às quantidades ofertadas pelas
empresas. Não existe escassez nem ex-
cesso de oferta de produtos. Laissez-faire é parte da
Os argumentos de Smith ba- expressão em língua francesa “lais-
seavam-se na livre iniciativa, no sezfaire, laissezaller, laissezpasser”, que
significa literalmente “deixai fazer, deixai
laissez-faire. Estabelecia-se que ir, deixai passar”. Significa que o mercado
a causa da riqueza das nações é a deve funcionar livremente, sem interferência.
força de trabalho humana (teoria Esta filosofia econômica tornou-se dominante
nos Estados Unidos e nos países ricos da
do valor-trabalho) e a divisão do
Europa, durante o final do século XIX até
trabalho aparece como fator deci- o início do século XX.
sivo para aumentar a produção. O
princípio promoveu a especialização
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em tarefas e destreza pessoal, economia


de tempo e condições favoráveis para o aperfei-
çoamento e o invento de novos equipamentos e técnicas. Maiores escalas
de produção geram custos menores, maior produtividade dos fatores e
maiores lucros, que estimulam novos investimentos, crescimento econô-
mico e empregos.
Para o autor, o Estado não deve intervir nas leis de mercado e na prática
econômica, seu papel deve centrar-se na proteção da sociedade, contra even-
tuais ataques, e na criação e manutenção das instituições necessárias.
25
Fundamentos da Economia

1.10.1.2  David Ricardo (1772-1823)

Outro representante da escola clássica é David Ricardo. O autor


enfatizava que o crescimento populacional exerce efeito depressivo na
economia, pois provoca aumento na demanda por alimentos. Isso aconte-
ce em função da pressão do consumo sobre a oferta existente, que eleva os
preços dos alimentos e os salários, reduzindo a taxa de lucro da economia.
Com isso, os investimentos se reduzem, prejudicando o nível de emprego
e o produto total. Com essa argumentação, Ricardo mostrou que a expan-
são econômica poderia minar suas próprias bases, pois, ao reduzir a taxa
de lucro, surgiria o estado estacionário, no qual não haveria acumulação
líquida nem crescimento.
Ricardo também desenvolveu a teoria dos custos comparativos,
aplicada no comércio internacional. Sua teoria defende que cada país
deve especializar-se nos produtos que têm custo comparativo mais
baixo de produção, e importar os produtos para os quais possui custos
comparativos mais altos. Dessa forma, o trabalho é distribuído com
maior eficiência, aumentando a quantidade total de bens e contribuin-
do para o bem-estar geral.

1.10.1.3  Thomas Malthus (1766-1834)

Para Malthus, o excesso populacional era a causa de todos os


males da sociedade: enquanto a população crescia em progressão ge-
ométrica, a produção crescia em progressão aritmética, ou seja, o po-
tencial da terra na produção de alimentos não acompanha o potencial
de crescimento da população. Em função disso, o autor era favorável à
limitação voluntária de nascimentos nas famílias pobres e aceitava que
as guerras e epidemias serviriam como uma solução para interromper
o crescimento da população (VASCONCELOS E GARCIA, 2008).

1.10.1.4  John Stuart Mill (1806-1873)

John Stuart Mill revisou algumas das premissas da tradição clás-


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sica, agindo como um sintetizador de todo o pensamento. Mill preo-


cupa-se com o estado estacionário e com os lucros decrescentes, pois
leva os empresários a buscarem alternativas de negócios mais arrisca-
dos, na esperança de alcançar lucros superiores. A solução apresentada
26
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

pelo autor seria a participação do Estado. Mill pode ser considerado um


dos precursores das políticas de estabilização keynesianas.

1.10.2  Teoria Keynesiana


A principal obra de John Maynard Keynes (1883-1946), A teoria
geral do emprego, dos juros e da moeda, de 1936, mudou a maneira de
olhar a economia e o papel do governo na sociedade e permanece até hoje
como uma das principais referências na formação de economistas.
A obra de Keynes surgiu num conturbado período de crise econômi-
ca mundial, conhecido como a Grande Depressão. A quebra da Bolsa de
Valores de Nova York, em 1929, aumentou o número de desempregados
nos Estados Unidos em proporções elevadíssimas. A Inglaterra e outros
países europeus também enfrentavam o problema do desemprego. Dife-
rentemente da teoria econômica vigente, Keynes consegue mostrar que a
combinação das políticas econômicas adotadas até então não funcionava
adequadamente naquele contexto e sugere alternativas que poderiam tirar
o mundo da recessão.
Para Keynes, o nível de produção nacional de uma economia e o
volume de emprego são determinados pela demanda efetiva (consumo e
investimento). O consumo é a soma dos gastos das pessoas com bens e
serviços. E o investimento é a soma dos gastos das empresas para criar ou
ampliar a capacidade produtiva, como a compra de máquinas, construção
de novas instalações etc. “A demanda efetiva” é, portanto, a soma de to-
dos os gastos de consumo e de investimento de uma economia.
O autor argumenta que, em um contexto de recessão, as incertezas
e expectativas ruins desestimulam os empresários a investir, e as livres
forças do mercado (“mão invisível”) não conseguiriam, por si só, dar
fim à crise. Então, ele propôs que o Estado deveria deixar de ter uma
participação passiva na economia, que tinha até então, e passasse a atuar
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ativamente na vida econômica do país, realizando gastos, a fim de estimu-


lar o consumo e o investimento, reativando assim a economia. O Estado
deveria investir em infraestrutura e estimular as exportações e induzir os
bancos a aumentarem o crédito ao setor privado, e as empresas deveriam
investir mais. Tal posicionamento significa que o sistema de mercado livre
ou laissez-faire estaria antiquado e que o Estado deveria atuar ativamente
para estabilizar a economia e o nível de emprego.
Os argumentos de Keynes tiveram grande influência na política
econômica dos países capitalistas, e a adoção de suas políticas colaborou
27
Fundamentos da Economia

para os resultados positivos que se seguiram. Suas ideias foram postas em


prática nos EUA, por meio do New Deal (1933), que obteve êxito em tirar
a economia da recessão, com um gigantesco programa de obras públicas e
gastos sociais. Observamos também forte atuação governamental durante
a grave crise econômica que atingiu os Estados Unidos e muitos outros
países em 2008. A atuação de seus continuadores causou tanto impacto
que passou a ser chamada de “Revolução Keynesiana”.

Obama sanciona pacote de estímulo econômico


de US$ 787 bi
Presidente dos EUA agradeceu esforço para aprovação do
projeto que prevê a criação de milhões de empregos
17 de fevereiro de 2009 | 16h 48
Suzi Katzumata - da Agência Estado

O presidente dos EUA, Barack Obama, sancionou o pacote de


estímulo econômico de US$ 787 bilhões, ratificando um conjunto de
medidas que tem como objetivo criar 3,5 milhões de empregos e ener-
gizar a abatida economia americana. A aprovação no Congresso do
plano econômico representou a primeira grande vitória de Obama no
Congresso menos de um mês depois de assumir o cargo. O estímulo
vai colocar a economia sobre uma “base mais firme”, disse Obama
antes de assinar a lei em Denver (Colorado). O presidente afirmou que
o pacote de estímulo é a “primeira parte” de uma ampla estratégia de
recuperação. O pacote foi aprovado pelas duas casas do Congresso na
sexta-feira, com quase nenhum apoio da bancada republicana.
Disponível em: <www.estadao.com.br>.

1.10.3  Outras teorias


A teoria neoclássica teve destaque no início da década de 1870 e
evoluiu até as primeiras décadas do século XX, em que observamos a pre-
sença dos neoclássicos liberais e conservadores.
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Em decorrência da Grande Depressão dos anos 30, os neoclássicos


liberais passaram a aceitar a participação do governo na economia, por
entenderem que a concorrência não existe em sua forma pura e que o mer-

28
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

cado totalmente livre gera instabilidade. O governo é chamado a agir por


meio de políticas monetárias e fiscais adequadas.
Os neoclássicos liberais acreditam na necessidade da intervenção
governamental quando os mercados falham na alocação de recursos,
como no caso de poluição ambiental ou da presença de oligopólios, em
que os empresários reduzem as quantidades oferecidas e elevam os pre-
ços de seus produtos. A “mão invisível” não é suficiente para promover o
equilíbrio da economia e o bem-estar da população.
Os neoclássicos conservadores ou monetaristas acreditam na efici-
ência do mercado para alocar recursos e distribuir renda e que as falhas de
mercado decorrem de lapsos do governo, originadas a partir da aplicação
de políticas fiscais e monetárias equivocadas. O governo deve preocupar-
-se com suas funções nas áreas sócias e na produção de bens públicos e
deixar o mercado tomar as decisões econômicas. Para os conservadores,
os gastos do governo causam inflação, sem que haja elevação do produto
total.
Outro autor de grande destaque, cujas contribuições foram absorvi-
das e incorporadas à teoria econômica, é Karl Marx (1818-1883). Em sua
obra, O Capital, Marx retoma e reforça a ideia de que o sistema produtivo
envolve relações sociais, em que os trabalhadores assalariados são explo-
rados pelos empresários capitalistas. Essas relações envolvem a burgue-
sia, proprietária dos meios de produção, e o proletariado, classe obrigada
a vender sua força de trabalho em virtude da impossibilidade de produzir
o necessário para sobreviver.
Em sua crítica ao sistema capitalista, Marx utiliza o conceito de
mais-valia, referente à diferença entre o valor das mercadorias que os
trabalhadores produzem e o valor da força de trabalho paga a eles pelos
empresários. Essa é a chave da exploração, pois há uma diferença entre
o salário que o trabalhador recebe e o valor do bem que produz. O valor
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extra criado, que vai para as mãos do capitalista, é a mais-valia.


Os salários se mantêm em níveis de subsistência, pois a população
cresce e a incorporação de máquinas na produção causa desemprego,
fazendo com que a concorrência entre os que conseguem uma colocação
reduza as taxas salarias até os níveis de subsistência.
O autor era hostil ao capitalismo competitivo e à livre concorrência
e afirmava que a luta de classes é a mola propulsora da transformação do
capitalismo em socialismo, quando os empresários passariam a ser os pró-

29
Fundamentos da Economia

prios trabalhadores. Marx enfatizou o aspecto político de seu trabalho e teve


impacto ímpar na ciência econômica e em outras áreas de conhecimento.

Atividades

01. Fale sobre o problema central que a economia procura resolver.

02. O conceito de custo de oportunidade implica a necessidade de esco-


lha. Explique essa afirmação.

03. A tabela a seguir apresenta a produção de algodão e trigo:

OPÇÃO ALGODÃO (kg) TRIGO (kg)


A 0 7
B 1 6
C 2 5
D 3 4

Suponha que todos os recursos de produção estejam sendo plena-


mente utilizados e faça o que se pede.
a) Construa a curva de possibilidades de produção.

b) Qual o custo de oportunidade para se produzir 5 kg de trigo?


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30
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

04. O que pode causar deslocamentos na curva de possibilidades de pro-


dução?

05. Em quais situações você acredita que a intervenção do Estado na eco-


nomia seja necessária?

06. Explique como as diferenças em custos de oportunidades e as vanta-


gens comparativas explicam os ganhos de comércio entre os países.

07. Por que o Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e tam-


bém de calçados?

08. Quem foi o mais destacado dos economistas clássicos? Quais suas
principais ideias?

Reflexão
Este capítulo introdutório nos mostrou alguns conceitos econômicos
importantes tais como a escassez que a economia enfrenta e que as socie-
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dades devem administrar, tendo que decidir o que e quanto, como e para
quem produzir. A necessidade de escolha e as respectivas renúncias que
fazemos foram ilustradas a partir da Curva ou Fronteira de possibilidades
de produção (CPP).
Os fatores de produção tais como o capital, a terra, o trabalho e a
matéria prima são os recursos disponíveis que podem ser transformados
em bens e serviços finais de acordo com a necessidade da economia.
O diagrama do fluxo circular da renda mostrou que existem dois
agentes econômicos interagindo na economia. De um lado temos as fa-
31
Fundamentos da Economia

mílias, detentoras dos fatores de produção e do outro, temos as empresas


que utilizam esses recursos para produzirem bens e serviços finais. Para
a aquisição dos recursos, as empresas pagam uma remuneração em di-
nheiro para as famílias. O papel das empresas é o de fornecer aquilo que
as famílias necessitam, ou seja, bens e serviços. Sendo assim, as famílias
compram esses produtos e em contrapartida pagam uma remuneração em
dinheiro para as empresas.
O capítulo mostra que os sistemas econômicos estão divididos em
economia capitalista (mercado), economia central (socialista) e interme-
diária a essas duas formas, a economia mista. Essencialmente, a diferença
entre a economia de mercado e a economia socialista está pautada na não
intervenção do Estado e a propriedade privada na economia capitalista e
na presença do Estado e na propriedade pública na economia socialista.
Apresentamos ainda as inter-relações da economia com outras ciências e
a evolução do pensamento econômico, enumerando alguns de seus princi-
pais autores.

Leituras recomendadas
Os alunos que desejarem ler textos complementares a esse assunto inicial
devem recorrer ao capítulo 1 do livro Introdução à economia, de Gremaud
et al (2007), da editora Atlas. Lá o aluno encontrará nas páginas 7 e 8 o
box “Deu na imprensa 1.1” e, na página 9, o box “Deu na imprensa 1.2”.
Quem deseja aprofundar seus conhecimentos em custo de oportunidade
e vantagens comparativas deve procurar o capítulo 3 (parte 1) do livro
Introdução à economia, de Mankiw, N. G. (2001), que trata da interdepen-
dência e dos ganhos de comércio.

Referências bibliográficas
FEIJÓ, R. História do pensamento econômico. São Paulo: Atlas,
2001.

GREMAUD, A. M. et al. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2007.


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MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e ma-


croeconomia. Tradução da 2ª edição. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

32
A Ciência Econômica e seus Principais Conceitos – Unidade 1

MENDES, J. T. G. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo:


Prentice Hall, 2004.

PINDYCK, R. S e RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo:


Pearson Prentice Hall, 2006.

PINHO, D. B. e Vasconcelos, M. A. S. Manual de economia, equipe


de professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

TROSTER, R. L. e MOCHÓN, F. Introdução à economia. São Paulo:


Pearson Education. 2002.

VASCONCELOS, M. A. S. Economia: micro e macro: 3. ed. São Pau-


lo: Atlas, 2002.

VASCONCELOS, M. A. S., GARCIA, M.E. Fundamentos de econo-


mia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

WESSELS, W. J. Microeconomia: teorias e aplicações. São Paulo:


Saraiva, 2002.

No próximo capítulo
Países como o Brasil e os EUA têm o consumo como o elemento
de maior participação na formação do PIB, ou seja, é o elemento que
atualmente mais contribui para o crescimento econômico. Dessa forma,
é imprescindível entender como os indivíduos tomam suas decisões de
compra, utilizando a renda disponível e como acontecem as interações
entre demandantes e ofertantes no mercado.
O consumidor procura distribuir seu orçamento entre os diversos
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bens e serviços de forma a alcançar a melhor combinação possível, ou


seja, aquela que lhe trará maior nível de satisfação. Essas escolhas são
influenciadas por algumas variáveis que, em geral, serão as mesmas que
influenciarão sua escolha em outras ocasiões.
No entanto, nas economias de mercado, não é suficiente estudar
somente o lado do consumidor, é preciso conhecer também o lado do
produtor. Esse lado é denominado oferta. A demanda e a oferta são as for-
ças que movem as economias de mercado; é preciso compreender como
essas duas forças interagem de forma a alocar adequadamente os recursos
33
Fundamentos da Economia

escassos da economia. A oferta é a quantidade de bens ou serviços que os


produtores estão dispostos a produzir e colocar à venda. As decisões dos
produtores acerca dessa quantidade dependem de vários determinantes,
assim como a demanda.
O próximo capítulo apresenta uma visão sobre a demanda e a oferta,
procura analisar quais são seus principais determinantes e como se dá o
equilíbrio de mercado.
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34
Fundamentos Básicos
da Microeconomia
Neste capítulo, serão apresentados im-

2 portantes instrumentos auxiliares na tomada


de decisão, como a análise da demanda, da
lo
oferta e a determinação de preços via equilíbrio de
mercado.
ít u

Objetivos da sua aprendizagem


Cap

Aplicar a economia às questões relacionadas ao cotidiano,


a fim de que possa fazer uso dos instrumentos da análise eco-
nômica de oferta, demanda e preço de equilíbrio na tomada de
decisões no âmbito empresarial.

Você se lembra?
Quando ocorreu o último aumento no preço do álcool combustível?
Por que ocorrem oscilações de preço?
Fundamentos da Economia

2.1  Introdução à microeconomia


Para a maioria das pessoas, a economia não costuma ser a priori um
campo de estudo atraente, convidativo. Alunos dos mais variados cursos
reclamam do excesso de tecnicismo1 presente nas discussões econômicas.
A árdua tarefa de entender este universo pode se tornar ainda mais difícil
diante do volume de informações econômicas que a mídia, diariamente,
insiste em trazer à tona, ocupando horas dos mais diversos canais de TV,
isso sem mencionar os cadernos inteiros da imprensa escrita dedicados ao
assunto.
São vários os instrumentos gerados pela ciência econômica e que
podem ser utilizados na tomada de decisões. No entanto, a relevância
do tema nos impele á busca pelo seu conhecimento. Porém, antes de ini-
ciarmos uma exploração mais detalhada de alguns destes instrumentos,
vamos dividir a economia em duas vertentes principais, a microeconomia
e a macroeconomia, nas quais podemos encontrar esse vasto conjunto de
ferramentas auxiliares do processo decisório.

2.1.1  Pressupostos básicos


O estudo da economia geralmente é feito sob dois enfoques: o enfo-
que da microeconomia e o enfoque da macroeconomia. Qual a diferença
entre um e outro?
Imagine que você está dentro de um avião, em terra. Quando o voo
se inicia, é possível, por alguns segundos, fazer-se a distinção entre casas,
ruas, rios etc. Porém, à medida que o avião vai se distanciando do solo,
você não mais consegue distinguir entre uma casa e outra, entre uma rua
e um lago, entre árvores e prédios. Não que esses objetos não estejam ali,
porém, de certa forma, fundiram-se, formando uma mistura, uma união de
coisas, um agregado.
Podemos pensar a divisão da economia em micro e macro desta
forma: a microeconomia nos permite visualizar, distinguir, estudar “partes
pequenas” da economia; a macroeconomia, por sua vez, é o estudo deste
agregado. Exemplificando: quando analisamos o mercado de calçados
da região de Franca (SP), estamos nos preocupando com a análise de
uma parte, portanto trata-se de uma análise microeconômica; já quando
Proibida a reprodução – © UniSEB

realizamos um estudo sobre o nível de produto de um país, a análise é


macroeconômica. Apesar da divisão para efeitos de análise, percebemos

1 Tecnicismo: abuso, excesso de tecnicidade ou do uso de termos específicos

36
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

que esses objetos de estudo são integrantes de um mesmo conjunto: o de-


sempenho do setor calçadista de Franca vai influenciar o nível de produto
do país como um todo.
Podemos, então, caracterizar os fenômenos microeconômicos como
aqueles que abordam aspectos de unidades individuais da economia,
como o comportamento de consumidores, famílias, empresas, bem como
o ambiente no qual esses agentes interagem. Quanto aos fenômenos ma-
croeconômicos, estes estão relacionados à explicação dos agregados ou
globais, como produção do país, contas do governo, contas externas etc.

2.2  Análise de mercado


Iniciaremos nossa compreensão dos instrumentos analíticos da
economia pelo estudo da oferta, da demanda e do mercado. Esses ins-
trumentos são extremamente importantes quando desejamos entender a
teoria da formação de preços. Por exemplo, por que é que, durante o início
das aulas, os materiais escolares ficam mais caros? Por que é que, quando
ocorrem chuvas em excesso, o preço das hortaliças tende a subir? Por que
as viagens ficam mais caras no período de férias escolares?
A maioria das pessoas, quando indagadas sobre como ocorre a for-
mação de preços, geralmente, responde que os preços se formam “no mer-
cado”. Mas o que é o “mercado”? Quais são os agentes que o compõem?
Qual o seu papel na formação dos preços?
Por mercado entendemos todos os agentes que compram ou ven-
dem um determinado bem. Analisando o mercado de batatas, por exem-
plo, deveríamos considerar todos os produtores de batatas, conhecidos
também como ofertantes, além de todos os consumidores de batatas,
conhecidos como demandantes, sejam estes a dona de casa que se utiliza
deste bem para servir às refeições, sejam o dono de uma grande rede
de hotéis, ou, ainda, o ambulante que oferece batatas fritas na saída da
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

escola. Da interação destes agentes obtemos a formação de preços ou o


preço de mercado.
Passemos, então, à análise dos integrantes do mercado, iniciando
pela demanda.

2.2.1  Demanda indivídual de mercado


Quando utilizamos o termo demanda, devemos associá-lo à procura,
pois, assim, estaremos analisando o comportamento dos consumidores.
A demanda por um bem corresponde à quantidade que um indivíduo está
37
Fundamentos da Economia

disposto a comprar deste bem dado um determinado preço. Fazendo uso


da tabela 2.1, que relaciona preço e quantidade demandada, podemos en-
tender melhor este conceito.
P (R$) QD
1,00 5
1,20 4
1,40 3
1,60 2
1,80 1

Tabela 2.1 – Preço e quantidade demandada de cafezinhos

A tabela anterior nos mostra a quantidade que um determinado con-


sumidor, João, está disposto a adquirir de cafezinhos a cada preço dado.
Por exemplo: quando este bem custa R$ 1,00, João deseja consumir 5 ca-
fés durante a semana; quando o preço do cafezinho é igual a R$ 1,20, João
deseja consumir apenas 4 cafés; já quando o preço é de R$ 1,40, João de-
seja consumir apenas 3 unidades deste bem, e assim por diante.
É bastante intuitivo que, do ponto de vista do consumidor, à medida
que o preço do bem aumenta, ele deseja consumir um número menor de
unidades deste bem. Dizemos que existe uma relação inversa entre preço
e quantidade demandada de um bem; é a chamada “lei da demanda”.
As variáveis que aparecem na tabela anterior podem ser expressas
em um gráfico, originando a curva de demanda (figura 4).
2
P (R$)

1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Q
Proibida a reprodução – © UniSEB

Figura 4 – Curva de demanda

A curva de demanda corresponde, então, à representação gráfica da


tabela já analisada. Há que se fazer, agora, a distinção entre quantidade
demandada e demanda: enquanto a quantidade demandada se refere a cada
38
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

combinação específica de preço e quantidade consumida de um bem, a


curva de demanda corresponde à união destas combinações. Podemos dizer
que a quantidade demandada corresponde a cada ponto da curva de deman-
da, enquanto que a demanda é própria curva (ou conjunto de pontos).
Outra observação relevante refere-se à distinção dos movimentos ao
longo da curva de demanda, quando dizemos que há variação na quanti-
dade demandada, e aos deslocamentos da própria curva, quando dizemos
que há variação na demanda. Para melhor entendermos essa diferencia-
ção, vamos, inicialmente, compreender a chamada função de demanda,
que nada mais é que o mapeamento ou a identificação de todas as variá-
veis que afetam o consumo de um bem. Por exemplo, o cafezinho pode ter
seu consumo afetado por diversos fatores:
––o preço do cafezinho, já mencionado;
––a renda dos consumidores: quando a renda aumenta, é possí-
vel que as pessoas desejem tomar mais café;
––o preço dos bens substitutos: supondo que o refrigerante seja
o substituto do cafezinho, quando há queda no preço daquele
bem (refrigerante), é provável que as pessoas passem a tomar
menos café e mais refrigerante;
––o preço dos bens complementares: supondo que café e pão
de queijo sejam consumidos conjuntamente, uma queda no
preço do pão de queijo tende a elevar o consumo deste bem
e, consequentemente, do bem complementar;
––estação do ano: é provável que as pessoas tomem mais café
quando o clima está frio, por exemplo.
–– preferências: estas podem ser modificadas de acordo com di-
versos fatores, como as propagandas, por exemplo.
Outras variáveis poderiam afetar o consu-
mo de um bem e, portanto, compor a função de
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

demanda: a faixa etária da população, o marke-


ting, a cultura de uma determinada região etc.
A função demanda pode ser sistematizada
da seguinte forma:

Qdx = f (Px, R, Ps, Pc etc.)

As preferências dos
indivíduos influenciam a
demanda por um bem
39
Fundamentos da Economia

Sendo:
Qdx = quantidade demandada do bem x
f = função ou depende
Px = preço do bem x
R = renda
Ps = preço dos bens substitutos
Pc = preço dos bens complementares

Apresentada a função de demanda, agora fica fácil fazer a distinção


entre variação na quantidade demandada e variação na demanda. Quando
ocorre alguma alteração no preço do próprio bem, deslocamo-nos sobre a
curva de demanda; então, dizemos que há variação na quantidade deman-
dada2 . É como se estivéssemos “saltando” de um ponto para outro sobre a
própria curva, como se estivéssemos “nos locomovendo” sobre a própria
curva (figura 5).

2
P (R$)

1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Q

Figura 5 – Variação na quantidade demandada

De outro modo, se o preço do próprio bem não sofreu alteração, mas


a renda, por exemplo, aumentou, então não estaremos nos deslocando so-
bre a curva, e sim estaremos deslocando a curva para a direita, pois esta-
remos consumindo mais cafezinhos (figura 6) em relação ao preço inicial
vigente. A esse movimento, damos o nome de variação na demanda. De-
vemos lembrar que a mudança em qualquer outra variável que compõe a
Proibida a reprodução – © UniSEB

2 Neste caso, estamos assumindo uma hipótese bastante comum em economia, a hipótese de coeteris paribus
que significa “tudo o mais constante”, ou seja, estamos alterando apenas uma variável, no caso, o preço do
próprio bem, para verificar o impacto desta mudança sobre o consumo. As demais variáveis: renda, preço dos
bens substitutos, complementares etc, não se alteram. Isso é feito porque caso alterássemos todas as variáveis
ao mesmo tempo, seria difícil identificar qual delas está impactando sobre o consumo.

40
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

função de demanda, exceto o preço do próprio bem, causa o deslocamento


da curva de demanda.
2
P (R$)

1,8
1,6
1,4
1,2
1
D inicial D final
0,8
0,6
0,4
0,2
0
Q
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 6 – Variação na demanda

Os deslocamentos da curva de demanda podem ser para a direita


ou para a esquerda. Quando a curva de demanda se desloca para a direita,
como ocorreu na figura anterior, significa que houve um aumento na dis-
posição dos consumidores em adquirir um
determinado bem. Caso o deslocamen-
to da curva de demanda seja para A variação na
quantidade demandada é
a esquerda, significa que houve diferente de variação na demanda:
redução na disposição do consu- a variação na quantidade demandada
midor em adquirir um determi- corresponde aos deslocamentos sobre a
curva de demanda e é causada por mudan-
nado bem. ças no preço do próprio bem. A variação na
Para finalizarmos a dis- demanda corresponde aos deslocamentos
cussão sobre demanda, deve- da curva de demanda e é causada por mu-
danças em outras variáveis (renda, preço
mos ainda entender o que é a
dos bens substitutos, preço dos bens
demanda de mercado. Os dados complementares etc.) que não
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

mencionados anteriormente se re- o preço do próprio bem.


feriam ao desejo de consumo de um
único indivíduo, João. Porém, sabemos que
existem vários outros consumidores que compõem o mercado de cafezi-
nho. A tabela seguinte mostra estes consumidores.

41
Fundamentos da Economia

Quantidade demandada de cafezinhos


Preço (R$) João Ana José Mercado
1,00 5 7 9 21
1,20 4 6 8 18
1,40 3 5 7 15
1,60 2 4 6 12
1,80 1 3 5 9

Tabela 2.2 – Demanda de mercado

Para se chegar à demanda de mercado, devemos apenas somar as


demandas individuais, já que o mercado é composto por todos os compra-
dores de cafezinhos. Assim, ao preço de R$ 1,00, a quantidade demandada
pelo mercado é igual a 21 unidades.

2.2.2  Oferta indivídual de mercado


Entendida a demanda, a compreensão da oferta fica muito mais
fácil. Devemos, inicialmente, alertar que, enquanto o termo demanda
se refere ao consumidor, o termo oferta deve ser associado ao produtor;
dessa forma, estaremos completando os integrantes do mercado. Vamos
iniciar tentando responder à seguinte questão: se você fosse o produtor de
um determinado bem, em qual dos casos ficaria mais motivado a produzir:
quando o preço do bem que você produz estiver mais barato ou quando
estiver mais caro?
A resposta para essa pergunta é bastante intuitiva, e a maioria das
pessoas vai desejar produzir mais bens quando o preço deste bem estiver
mais caro, afinal isso sinaliza lucros maiores. Da mesma forma que, quan-
do o preço de um bem cai, é comum encontrarmos produtores desistindo
de produzi-lo, migrando para outras atividades.
Esta é, basicamente, a ideia por trás da oferta, a relação entre preço
e quantidade produzida de um bem ou serviço do ponto de vista de quem
disponibiliza (ou oferta) este bem: quando o preço cai, menor é a quan-
tidade que os produtores desejam ofertar; quando o preço deste bem au-
menta, maior é a quantidade que os produtores desejam ofertar deste bem.
Proibida a reprodução – © UniSEB

Neste caso, dizemos que existe uma relação direta entre preço e quantida-
de ofertada, conforme podemos verificar analisando a tabela.

42
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

Preço cafezinho (R$) QO (Quantidade ofertada)


1,00 1
1,20 2
1,40 3
1,60 4
1,80 5

Tabela 2.3 – Preço e quantidade ofertada de cafezinho

A oferta, assim como a demanda, também pode ser graficamente


representada (figura 6).

2
P (R$)

1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4

0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Q

Figura 6 – Curva de oferta

Verificamos que sempre que o preço do bem se altera, há um des-


locamento sobre a curva de oferta: por exemplo, se o cafezinho custa R$
1,00, o produtor está disposto a ofertar 1 unidade; caso o preço aumente
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

para R$ R$ 1,20, o produtor vai ficar disposto a produzir 2 unidades, e


assim por diante. Neste caso, quando o preço do bem muda, ocorrem des-
locamentos sobre a curva, então dizemos que há uma variação na quanti-
dade ofertada (figura 7).

43
Fundamentos da Economia

P (R$)
1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4

0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Q

Figura 7 – Variação na quantidade ofertada

Mas quais são os fatores que fazem deslocar a curva de oferta?


Para melhor respondermos a essa questão, devemos, também, fazer
a identificação de todas as variáveis que afetam a produção de café, ou
seja, vamos montar a função de oferta. Dentre essas variáveis, podemos
citar:
––preço do café, já mencionado;
––preços dos bens substitutos na produção: na mesma terra,
podemos plantar café ou soja; estes são, portanto, bens subs-
titutos na produção. Caso este último tenha um preço mais
vantajoso, eu posso optar por plantar soja ao invés de café,
diminuindo a oferta de café;
––preço dos insumos: caso o preço dos defensivos aumente,
isso encarece a produção de café; portanto, haverá uma me-
nor oferta deste bem;
––tecnologia: sempre que há inovação tecnológica em um
determinado segmento, ocorre aumento na produção deste
bem;
––condições de crédito para a produção: a disponibilidade de
crédito afeta a disposição do produtor em ofertar mais ou
Proibida a reprodução – © UniSEB

menos deste bem; quando as condições estão melhores, há


maior oferta do bem;
––condições climáticas: podemos ter uma produção menor des-
te bem em função de condições climáticas adversas.
44
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

A função de oferta poderia ser sistematizada da seguinte forma:


Qox = f (Px, Ps, Pi, T, Cr, Cl etc.)

Sendo:
Qox = quantidade ofertada do bem x
Px = preço do bem x
Ps = preço dos bens substitutos na produção
Pi = preço dos insumos
T = tecnologia
Cr = condições de crédito
Cl = condições climáticas

Após identificadas as variáveis que podem afetar a produção deste


bem, devemos tentar responder à seguinte pergunta: é possível que a ofer-
ta de café aumente mesmo que o seu preço se mantenha constante? Sim,
isto é possível. Por exemplo, se ocorre um aumento no crédito agrícola
destinado à produção deste bem, sua oferta sofrerá aumento. Neste caso,
ocorre o deslocamento da curva de oferta para a direita; haverá, portanto,
uma variação na oferta (figura 8).
2
1,8
P (R$)

1,6
1,4
1,2
1
O inicial O final
0,8
0,6
0,4
0,2
0
Q
0 1 2 3 4 5 6 7 8
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

Figura 8 – Variação na oferta

A variação na oferta ocorre sempre que uma das variáveis da função


de oferta se modificar, exceto o preço do próprio bem. E, assim como a
demanda, a curva de oferta pode se deslocar para a direita e para a esquer-
da. Quando ocorre o deslocamento para a direita, significa que há um au-
mento na disposição do produtor em ofertar o bem; quando ela se desloca
para a esquerda, significa que há uma redução no desejo do produtor em
ofertar este bem.
45
Fundamentos da Economia

2.2.3  Equilíbrio de mercado


Após o conhecimento das curvas de oferta e demanda, é possível,
agora, entender como se dá a formação de preços para a grande maioria
dos bens. Vamos imaginar algumas situações prováveis, expressas na ta-
bela seguinte:
QO (Quantidade
Preço cafezinho (R$) QD (demandada)
ofertada)
1,00 5 1
1,20 4 2
1,40 3 3
1,60 2 4
1,80 1 5

Tabela 2.4 – Preço, quantidade demandada e ofertada de cafezinho

Se o preço do cafezinho é R$ 1,40,


verifica-se que os consumidores estão
A variação na
dispostos a consumir 3 unidades, quantidade ofertada é
enquanto que os produtores estão diferente da variação na oferta: a
dispostos a produzir 3 unidades. variação na quantidade ofertada corres-
ponde a deslocamentos sobre a curva de
Neste caso, não há excesso nem oferta e é causada por mudanças no preço
falta do bem; dizemos que preço do próprio bem. A variação na oferta corres-
está em equilíbrio, não havendo, ponde a deslocamentos da curva de oferta e é
portanto, pressão para que ele se causada por mudanças em outras variáveis
(tecnologia, preço dos bens substitutos
altere, pois a oferta se iguala à de- na produção, preço dos insumos etc.)
manda. Graficamente, o equilíbrio que não o preço do próprio
de mercado ocorre onde a curva de bem.
demanda intercepta (“corta”) a curva de
oferta (figura 9).
Proibida a reprodução – © UniSEB

46
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

Equilíbrio: oferta e demanda


2
O
1,8
P (R$)

1,6
1,4
1,2
1
D
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Q

Figura 9 – Equilíbrio de mercado

É possível verificar que, para qualquer outro preço que não R$ 1,40,
ocorrerão desequilíbrios. Por exemplo, se o cafezinho estiver custando R$
1,00, os consumidores estarão dispostos a consumir 5 unidades; porém,
os produtores estarão dispostos a produzir apenas 1 unidade, ocorrendo,
então, escassez de café. Por outro lado, se o café estiver custando R$ 1,60,
os consumidores estarão dispostos a consumir 2 unidades, enquanto que
os produtores estarão dispostos a oferecer 4 unidades. Tem-se, neste caso,
um excesso de oferta do produto.
Então, no caso em que há excesso de demanda ou excesso de oferta,
o fato é que os preços tendem a se ajustar para manter o equilíbrio. No pri-
meiro caso (excesso de demanda), tende a haver um aumento no preço do
bem, assim, as pessoas passam a consumir menos enquanto que os produ-
tores passam a produzir mais, eliminando a escassez do produto. No caso
onde há excesso de oferta, há uma tendência à queda no preço do bem, o
que faz com que os consumidores passem a consumir
mais e os produtores, a produzir menos.
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Agora que já sabemos como se alcança Conexão:


o preço de equilíbrio, podemos imaginar O site http://www.cepea.
várias situações da vida real quando ocor- esalq.usp.br possui uma análise
de preços constantemente atuali-
rem alterações no preço de equilíbrio. No zada de vários produtos agrícolas.
1º semestre do ano de 2008, a população Consiste em um ótimo instru-
mento aplicado das teorias de
brasileira viu o poder de compra da sua oferta e demanda.
renda sofrer grande redução em decor-
rência de uma alta expressiva no preço dos
alimentos. O feijão, por exemplo, cujo preço do
47
Fundamentos da Economia

quilo era inferior a R$ 5,00, passou a custar cerca de R$ 8,00. Como é que
ocorrem esses aumentos ou reduções de preços? Ou perguntando de outra
forma, quais são os fatores que causam alterações no preço de equilíbrio
como ocorreu no exemplo do feijão?
Vamos voltar ao mercado de cafezinho para responder a essa ques-
tão. Imagine que o preço inicial de equilíbrio era de R$ 1,40. Suponha que
as condições climáticas em um determinado período tenham favorecido as
plantações de café; ocorreu, então, um aumento na oferta deste bem, o que
pode ser graficamente representado por um deslocamento desta curva para
a direita. Verifica-se que com uma oferta maior, mantendo-se o mesmo
nível de demanda, tem-se uma redução no preço de equilíbrio, que passa a
ser R$ 1,20 (figura 10).
2
P (R$)

O inicial
1,8
O final
1,6
1,4
1,2
1 D
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Q

Figura 10 – Alteração no preço de equilíbrio

Outra situação de variação no preço de equilíbrio do cafezinho po-


deria ocorrer em virtude de um aumento na demanda, como, por exemplo,
devido a propagandas divulgando os benefícios do consumo do café.
Neste caso, a curva de demanda se deslocaria para a direita, o que elevaria
o preço de equilíbrio. Podemos, então, perceber que as alterações no pre-
ço de equilíbrio de um bem podem ocorrer tanto por variações na oferta
quanto por variações na demanda.
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48
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

O preço de mercado é formado da interação entre vendedores e compradores.

Atividades
01. No que consiste a ciência econômica? Comente sobre a divisão da
economia em microeconomia e macroeconomia.

02. Qual a diferença entre variação na quantidade demandada e variação


EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

na demanda?

49
Fundamentos da Economia

03. Qual a diferença entre variação na quantidade ofertada e variação na


oferta?

04. Suponha o mercado de viagens aéreas. Como este mercado é afetado


pelo aumento no preço do querosene de aviação, principal insumo deste
segmento?

05. Suponha o mercado de carne vermelha. Como o equilíbrio deste mer-


cado é afetado por propagandas a favor de uma alimentação mais saudável,
que inclua mais peixes e carnes brancas no seu cardápio? Nesse contexto,
como a mídia pode contribuir para essas mudanças econômicas?

Reflexão
O surgimento e a evolução da ciência econômica estão associados à
necessidade que as sociedades têm de realizar escolhas. Estas , por sua vez,
estão relacionadas à escassez de recursos com a qual os agentes se deparam,
podendo ser eles consumidores individuais, famílias, empresas ou países.
Um empresário, por exemplo, tem sempre que optar pela produção
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de um ou alguns bens dentro de inúmeras possibilidades, visando alcançar


o maior lucro para a sua empresa. Geralmente, os preços de mercado são
bons sinalizadores de lucratividade, de forma que, quanto maior o preço,
maior tende a ser o lucro na produção de um determinado bem ou serviço.
50
Fundamentos Básicos da Microeconomia – Capítulo 2

Os preços também são bons sinalizadores para os consumidores de uma


determinada mercadoria ou serviço: é natural que, quando um bem está
mais caro, façamos a sua substituição por outro que esteja mais barato ou,
simplesmente, deixamos de comprá-lo, caso este não seja tão essencial.
Desta forma, o consumidor consegue garantir um maior pode poder de
compra, maximizando a sua satisfação.
Desta forma, percebemos que o mecanismo de formação de preços
é instrumento essencial para o bom funcionamento de uma economia de
mercado, servindo como sinalizador para produtores e consumidores nas
suas decisões de produção e consumo, garantindo a maximização das ne-
cessidades de cada agente.

Leituras recomendadas
PYNDICK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5.
ed. Tradução Eleutério Prado. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

CABRAL, Arnoldo Souza, YONEYAMA, Takashi. Microeconmia:


uma visão para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.

Referências
GREMAUD, Amaury Patrick et al. Organizadores Diva Benevides Pi-
nho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de economia.
5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-


gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
EAD-14-Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações.


2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de Economia. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2003.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, GAR-


CIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005.
51
Fundamentos da Economia

No próximo capítulo
Neste capítulo, procuramos apresentar o funcionamento básico
do mercado para que o aluno possa entender o mecanismo de formação
de preços. Neste contexto, a análise da demanda e da oferta, que repre-
sentam, respectivamente, consumidores e produtores, é de fundamental
importância. No entanto, a teoria de formação de preços somente ficará
completa quando os alunos entenderam a organização do mercado: quan-
tos são os consumidores de um bem ou serviço, quantos são os ofertantes,
como esses agentes interagem e se eles têm capacidade para determinar
preço. Essas e outras questões serão abordadas na próxima unidade, quan-
do falaremos de estruturas de mercado.
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52
Análise das Estruturas de
Mercado
3 Neste capítulo, serão apresentadas as di-
ferentes formas de organização do mercado e
lo
como essas diferentes estruturas interferem na de-
terminação do preço de um bem. Também será abor-
ít u

dado o conceito de elasticidade-preço da demanda, com


ênfase na análise da variação de preços, impacto sobre o
Cap

consumo deste bem e sobre a receita do empresário.

Objetivos da sua aprendizagem


• Caracterizar as diferentes estruturas de mercado e analisar a
determinação de preço e a produção em diferentes condições de
mercado.
• Apresentar o conceito de elasticidade-preço da demanda

Você se lembra?
Você já ouviu falar em cartel? Qual é a relação que existe entre cartel e
primeiro e segundo choques do petróleo? Como eles afetaram a econo-
mia mundial?
Fundamentos da Economia

3.1  Análise da estrutura de mercado


Abaixo, estão listadas as principais estruturas de mercado, que po-
dem ser classificadas por ordem decrescente de competição. Nossa análise
terá início pela concorrência perfeita.

Concorrência perfeita Concorrência monopolística Oligopólio Monopólio

Mais competitiva Mais concentrada

3.1.1  Concorrência perfeita


Por concorrência perfeita, devemos entender um ambiente no qual
são observadas as seguintes características:
––mercado atomizado: neste tipo de estrutura de mercado,
cada participante representa uma parcela muito pequena do
mercado, um “átomo”. Isso ocorre porque existe um número
muito grande de participantes, tanto de consumidores quanto
de produtores, de forma que, individualmente, cada agente
não tem poder de determinar preços. Cada participante é
um “tomador de preço”, ou seja, aceita o preço formado no
mercado como dado (figura 11) e, com base neste, toma sua
decisão de produção e consumo.

P O

Preço de mercado

Figura 11 – Determinação de preço em concorrência perfeita

• produtos idênticos ou homogêneos: na concorrência perfeita,


Proibida a reprodução – © UniSEB

o produto oferecido por uma empresa A é o mesmo produto


oferecido pela empresa B; são considerados bens substitutos
perfeitos. Na prática, esta condição é bastante difícil de ser sa-
tisfeita, sendo este um dos fatores que nos fazem acreditar que
54
Análise das Estruturas de Mercado
mercado – Capítulo
Unidade 32

a concorrência perfeita é um caso mais teórico que prático. No


entanto, ainda que seja difícil encontrarmos produtos idênticos,
é possível pensarmos em alguns bens que possuem bastante
similaridade entre si, como é o caso de produtos agrícolas, hor-
tifrutícolas, alguns minérios etc.;
• inexistência de barreiras: neste tipo de estrutura de mercado,
as empresas possuem total liberdade para entrar ou sair de um
determinado segmento. Essa característica permite que as em-
presas migrem para os setores que oferecem maiores lucros.
• transparência de mercado: neste caso, o pressuposto1 funda-
mental é o de que os participantes do mercado possuem todas
as informações de que necessitam referentes a preços, lucro,
processo de produção etc.
A existência das duas últimas condições citadas (inexistência de
barreiras e transparência de mercado) nos permite afirmar que, no lon-
go prazo, as empresas que operam neste tipo de estrutura de mercado
auferem um lucro econômico igual a zero.
Isso não quer dizer que os produtores
Lucro zero na
deste mercado não recebem lucro concorrência perfeita: no lon-
em suas atividades, mas, sim, que go prazo, as empresas que atuam
possuem lucros normais, ou seja, em concorrência perfeita alcançam lucro
zero, o que significa dizer que elas obtêm
a remuneração do capital inves- um “lucro normal”, igual àquele apresentado
tido no segmento é igual ao que por outras empresas que também operam
receberia se investisse em outro em concorrência perfeita. No caso dos lucros
extraordinários, dizemos que são os lucros
segmento que também opera em
acima do normal.
concorrência perfeita. Dizer que o
“lucro é normal” é dizer que não se
trata de um lucro extraordinário. Mas
por que isso ocorre?
Vamos imaginar que um segmento que
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

opera em concorrência perfeita consiga obter lucros extras por algum pe-
ríodo. Como o mercado é transparente, empresas de outros segmentos têm
condições de detectar o setor que está oferecendo lucros maiores e, então,
migram para este setor, visto que não há barreiras à entrada de novas fir-
mas. Com a migração destas empresas, o setor que, inicialmente, oferecia
lucros maiores passa a ter uma oferta maior do seu produto, o que faz com

1 Pressuposto: algo que se supõe antecipadamente.

55
Fundamentos da Economia

que preço do bem ou serviço ofertado sofra redução, assim como o lucro
do segmento como um todo. Neste momento, cessa a migração de empre-
sas para este setor.

3.1.2  Monopólio
Quando falamos de concorrência perfeita, estamos abordando um
tipo de estrutura de mercado situada no extremo da concorrência. Passan-
do para o outro extremo, encontraremos o chamado monopólio, um tipo
de estrutura de mercado onde não existe concorrência. Ainda que pareça
um caso pouco provável, os monopólios não são tão incomuns na práti-
ca: na cidade onde vivemos, por exemplo, não é possível escolher quem
será o fornecedor de água ou energia elétrica para a nossa residência; isso
ocorre porque há apenas um único produtor de cada um destes bens ou
serviços. É um exemplo típico de monopólio. Outro exemplo de monopó-
lio é o caso da Petrobras, que possui exclusividade na exploração e extra-
ção de petróleo no Brasil.

A Petrobras é um exemplo de monopólio na exploração e extração de petróleo na


economia brasileira.

As características básicas do monopólio são:


––existência de um único ofertante;
––não há produtos substitutos;
––existência de barreiras à entrada de outras empresas no seg-
mento.
Como o monopolista é o único produtor de um determinado bem
ou serviço, este possui grande poder de determinação de preço, o que não
significa, porém, que possa, sempre, cobrar um preço muito elevado. Isso
ocorre por dois motivos:
––o primeiro está relacionado à sensibilidade (elasticidade) do
consumo às mudanças no preço do bem. Por exemplo, quan-
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do o preço do álcool combustível aumenta, o seu consumo


deve sofrer redução (as pessoas procuram usar menos o carro
para lazer, abastecem com gasolina, no caso de carros flex
etc). Para o mesmo aumento de 10%, para o filé mignon, po-
56
Análise das Estruturas de Mercado
mercado – Capítulo
Unidade 32

rém, é provável que a redução no consumo seja maior, pois


é um bem menos essencial que o álcool combustível. Então,
dizemos que a demanda do álcool combustível é menos sen-
sível (mais inelástica) que a do filé mignon (mais elástica). A
margem de determinação de preços para o monopolista está
diretamente relacionada à elasticidade-preço da demanda
dos produtos: quanto mais elástica for a demanda, menor
será margem de manobra para controlar os preços.
––os monopólios podem estar sob controle de preços do gover-
no: isso ocorre para evitar práticas de preço abusivas.

Elasticidade-preço da demanda: corresponde à variação percen-


tual na quantidade demandada de um bem em função de uma variação
percentual no preço deste bem. Um bem terá demanda elástica quando
a redução no consumo for maior que o aumento no seu preço, em per-
centual (por exemplo, uma queda de 8% no consumo para um aumento
de 5% no preço); a demanda por um bem será inelástica quando a redu-
ção no consumo for menor que a variação no preço deste bem, em per-
centual (por exemplo, uma queda de 3% no consumo para um aumento
de 5% no preço); e, finalmente, um bem terá demanda com elasticidade
unitária quando a queda no seu consumo for igual ao aumento no pre-
ço, em percentual (por exemplo, uma queda de 5% no consumo para
um aumento de 5% no preço).

Quanto às barreiras existentes à entrada de outras empresas, estas


podem ser:
––naturais: ocorrem quando o investimento necessário é ele-
vado; sendo assim, o próprio custo do investimento já serve
como um obstáculo à entrada de novas firmas no mercado.
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

Imagine, por exemplo, a elevada necessidade de capital para


a construção de uma hidrelétrica. Nos monopólios naturais, a
existência de duas ou mais empresas fabricantes de um bem
poderiam tornar inviável a sua produção;
––patentes: quando um produto ou processo é patenteado; en-
quanto vigorar a patente, somente a empresa que a registrou
pode produzir aquele bem. É muito comum na indústria far-
macêutica;
57
Fundamentos da Economia

––controle de matérias-primas: quando uma empresa possui o


controle de uma determinada matéria-prima, sendo, então, a
fornecedora exclusiva deste material.
––regulação estatal: o estado pode decidir ser o único ofertante
em setores considerados estratégicos como energia, petróleo
etc. Isso, de certa forma, garante certa independência ao país,
tanto economicamente quanto em casos de guerra, o que jus-
tificaria a existência do monopólio.

3.1.3  Concorrência monopolística


Se a concorrência perfeita é um tipo de estrutura de mercado pouco
encontrada na prática, a concorrência monopolística, por sua vez, possui
características que a tornam bastante comum. Entre essas características,
as principais são:
––produto diferenciado: neste tipo de estrutura de mercado, en-
contramos produtos que são altamente substituíveis, não sen-
do, portanto, bens idênticos ou substitutos perfeitos, como é
o caso da concorrência perfeita. É importante ressaltar que,
quando falamos em diferenciação, podemos falar tanto de
diferenciação do produto (diferentes ingredientes, potência
etc.) como também de diferentes serviços prestados ao ofere-
cer o produto (entrega em domicílio, fornecimento de crédito
para a aquisição do produto etc.);
––mercado com grande número de participantes: aqui também
existe um número grande de compradores e vendedores de
um determinado bem. Neste caso, apesar da existência da
grande concorrência entre vendedores, existe algum grau
de determinação de preços por se tratar de produtos diferen-
tes. É importante ressaltar que a capacidade da empresa em
diferenciar o seu produto fará com que ela tenha um maior
controle de preço. Caso um produtor deseje elevar o preço do
bem que vende, ele pode perder uma parte das suas vendas,
porém não todas.
––grande concorrência extrapreço: como os produtos ofertados
Proibida a reprodução – © UniSEB

são semelhantes, a busca pelo consumidor pode se dar via


fatores, que não o preço como marketing, prestação de servi-
ços de assistência técnica etc.;

58
Análise das Estruturas de Mercado
mercado – Capítulo
Unidade 32

––inexistência de barreiras à entrada de novas firmas partici-


pantes: é possível que firmas entrem e saiam de um determi-
nado setor de acordo com o lucro auferido por este. É bom
lembrar que a existência desta hipótese garante, no longo
prazo, um lucro econômico igual a zero.
Podemos dizer que na concorrência monopolística, é como se cada
produtor fosse o monopolista de sua marca, porém concorrendo com pro-
dutos de outras marcas, daí o nome concorrência monopolística.

3.1.4  Oligopólios
Os oligopólios, assim como os casos de concorrência monopolís-
tica, constituem exemplos comuns de estruturas de mercado e, também,
situam-se entre os extremos de total e nenhuma concorrência. Podem ser
caracterizados da seguinte forma:
––pequeno número de empresa em um determinado setor ou
um grande número de empresas; porém, poucas dominam o
mercado;
––produtos idênticos ou diferenciados: existem casos de oli-
gopólios em que os bens são idênticos, assim como algumas
empresas fornecedoras de matérias-primas minerais; porém,
existem também casos de oligopólios em que os produtos
são diferenciados, como é o caso do setor automobilístico no
Brasil;
––existência de barreiras à entrada de novas firmas: esta hipó-
tese permite que as empresas oligopolistas alcancem, assim
como no oligopólio, lucros extraordinários.
No Brasil, existe uma predominância deste tipo de estrutura de
mercado: bebidas, indústria automobilística, química, farmacêutica, trans-
porte aéreo, entre outros, são bons exemplos de oligopólios. No caso de
transporte aéreo, as rotas nacionais são, em sua grande maioria, realizadas
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

por duas empresas do segmento, cuja participação conjunta no mercado


chega a superar 80%.

59
Fundamentos da Economia

O mercado de automóveis novos no Brasil é oligopolizado.

É importante ressaltar que nos oligopólios existe uma grande in-


terdependência entre as empresas que constituem um determinado setor
no que diz respeito à política de preços. Isso ocorre porque, se todos os
vendedores são “importantes” ou tem uma participação expressiva no
mercado, a decisão de um vendedor vai influenciar a decisão do outro.
Neste caso, as empresas podem declarar uma “guerra de preços”, compe-
tindo ente si, ou, ainda, promover uma união no sentido de combinação de
preços, os chamados cartéis2.
A tabela seguinte resume as principais características das estruturas
de mercado citadas.
Concorrência Concorrência
Oligopólio Monopólio
perfeita monopolística
Número de
muitos muitos poucos um
ofertantes
Tipo de idêntico/ não existe/
idêntico diferenciado
produto diferenciado substituto
Existência de
não não sim sim
barreiras
Lucro normal normal extraordinário extraordinário

Tabela 3.1 – Características das estruturas de mercado


Proibida a reprodução – © UniSEB

2 União de firmas oligopolistas com o objetivo de firmar um acordo comercial para fixação de
preços ou divisão de mercado.

60
Análise das Estruturas de Mercado
mercado – Capítulo
Unidade 32

3.1.5  Outras estruturas de mercado


As estruturas de mercado detalhadas anteriormente têm o seu en-
foque na análise das firmas que representam os ofertantes. No entanto,
podemos também pensar a análise das estruturas de mercado pela ótica de
quem compra um bem ou serviço. Neste caso, as principais estruturas são:
––monopsônio: ocorre quando existe um único comprador de
um determinado bem. É um tipo de estrutura de mercado
mais observada no segmento de alimentos. Existem casos em
que uma indústria processadora (de leite, tomate etc.) se fixa
em uma determinada região e acaba
se tornando a única demandan-
Conexão:
te da matéria-ofertada. O portal do Ministério da Jus-
––oligopsônio: ocorre quan- tiça (http://portal.mj.gov.br/data/Pa-
do existem poucos com- ges/MJA21B014BPTBRIE.htm) traz um
conjunto de informações sobre defesa da
pradores para um deter- concorrência. Seu acesso permite entender
minado bem. É também o que são condutas anticompetivivas, além
de permitir o acesso a artigos que trazem
uma estrutura de mercado informações sobre a formação e a
mais comumente observa- análise de diversos cartéis recen-
tes na economia brasileira.
da no agronegócio brasilei-
ro: por exemplo, as usinas de
açúcar e álcool, que processam a
cana-de-açúcar de uma determinada região, ou, ainda, a in-
dústria de chocolate e cigarros.
Existe ainda o chamado monopólio bilateral, que ocorre quando se
dá o encontro de um único vendedor (monopólio) e um único comprador
(monopsônio).

3.1.6  O Cade
No Brasil, O Cade (Conselho Adminis-
Conexão:
trativo de Defesa Econômica), criado nos No Brasil, O Cade é um dos
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

anos 1960, tem como função prevenir, re- órgãos responsáveis pela defesa
preender e educar, buscando evitar abusos da concorrência. No seu site (cade.
gov.br), existe um local para a realização
econômicos decorrentes da concentração de denúncias de comportamento que vão
de mercado. Sua atuação se inicia após contra a concorrência.

o recebimento de processos da Secretaria


de Acompanhamento Econômico ou Se-
cretaria de Direito Econômico, e, então, o
Cade deve julgar as matérias.
61
Fundamentos da Economia

No seu papel de prevenção à concentração de mercado, o Cade


analisa as operações de fusão, a incorporação e as associações entre os
agentes econômicos, devendo analisar o impacto desses negócios sobre a
livre-concorrência. Um exemplo recente da atuação do Cade é a análise
da união entre as Casas Bahia e o Ponto Frio que, até o momento, ainda
não está concluída. Outro exemplo da atuação do Cade foi a anulação da
compra da fábrica de chocolates Garoto pela Nestlé.
Além de analisar processos de fusão e aquisição, o Cade deve, tam-
bém, repreender comportamentos que sejam contra a concorrência, como
formação de cartéis, vendas casadas, preços predatórios, acordos de ex-
clusividade, dentre outros.

3.2  Elasticidade
3.2.1  Elasticidade-preço da demanda
O conceito de elasticidade é bastante utilizado na ciência econômica
e, definido de uma maneira geral, mensura a sensibilidade de uma variável
perante a mudança em outra variável, sempre em termos percentuais. Por
exemplo, suponha que você seja um administrador e, muito atento aos
noticiários de economia, consegue prever que, no próximo ano, a renda
na região onde sua empresa vende os seus produtos sofrerá um aumento
de 10%. Como este aumento na renda vai influenciar no consumo do bem
vendido por este empresário? Haverá um aumento? Se sim, de quanto
será este aumento? É possível, ainda, que um aumento na renda reduza o
consumo de algum bem? Um outro exemplo pode ajudá-lo a compreender
a importância do conceito de elasticidade: suponha que você produza um
biscoito da marca “X” e tem um concorrente, o biscoito da marca “Y”.
Caso a empresa concorrente reduza o preço do biscoito “Y” em 15%, qual
será o impacto no consumo do biscoito “X”? Essas e outras questões po-
dem ser abordadas a partir do conceito de elasticidade.
Embora existam vários conceitos de elasticidade3 , nesta unidade
será abordado o conceito de elasticidade-preço da demanda (Epd), defi-
nido como sendo a variação percentual na quantidade demandada de um
bem em função da variação, também em percentual, no seu preço.
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3 O 1º exemplo citado acima é conhecido como elasticidade-renda da demanda, que mede a variação percentual
com consumo de um bem em função da variação, também percentual, na renda do consumidor. O 2º exemplo
é conhecido como elasticidade-preço cruzada da demanda, a qual mede a variação (%) na quantidade
demandada de um bem em função de uma variação (%) no preço de outro bem, que pode ser substituto ou
complementar.

62
Análise das Estruturas de Mercado
mercado – Capítulo
Unidade 32

Variação na quantidade demandada (%)


Epd =
Variação no preço do bem (%)

A equação de elasticidade-preço da demanda (Epd) pode ser expres-


sa da seguinte forma:

epd 
 q1 − q0  / q0
 p1 − p0  / p0

Sendo q1 = quantidade final


q0 = quantidade inicial
p1 = preço final
p0 = preço inicial

Rearranjando:

∆q
q0
epd =
∆p
p0

E, finalmente4 :

p0 ∆ q
epd = ×
q0 ∆ p

Um exemplo torna mais fácil a compreensão do cálculo da elas-


ticidade-preço da demanda: suponha que um bem custe, inicialmente,
$ 10,00 e a quantidade demandada deste bem seja de 100 unidades. Ao
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

preço de $ 12,00, a quantidade demandada será de 90 unidades. Calcule a


elasticidade-preço da demanda por este bem.

10 90 − 100
Epd  ·
100 12 − 10
Epd = − 0, 5

4 Existem outros métodos para se calcular a elasticidade-preço da demanda, como o método do ponto médio e
o método da derivada. Porém, para uma apresentação inicial deste conceito, esta forma de cálculo é suficiente.

63
Fundamentos da Economia

Por que o resultado deu um número negativo? Como interpretar este


dado?
O cálculo da elasticidade-preço da demanda será, via de regra, um
número negativo, isso porque esta variável relaciona preço e consumo de
bem e, pela lei geral de demanda, o aumento no preço de um bem causa
uma redução na quantidade demandada deste bem, de forma que se o pre-
ço aumenta, cai o consumo, as variáveis estão inversamente relacionadas.
Com relação à interpretação do resultado obtido, tem-se a
Epd = –0,5 e, partindo da definição desta variável, pode-se concluir que,
neste caso, para uma variação de 1% no preço, haverá uma redução no
consumo de 0,5%5 . Ou, alternativamente: para uma variação de 10% no
preço, haverá uma redução no consumo de 5%. Ainda: para uma redução
no preço de 20%, por exemplo, haverá um aumento no consumo de 10%.
Por se tratar de um número negativo, é comum fazer que se faça
uso do módulo da Epd, de forma que se tem |Epd| = 0,5. Mas uma outra
pergunta que segue: o bem em questão tem uma demanda muito ou pouco
sensível à variação no se preço, afinal, para uma dada variação no preço a
variação no consumo é proporcionalmente menor. A resposta a essa per-
gunta depende da classificação da demanda de acordo coma sua elastici-
dade, conforme tabela que segue:
Exemplo ∆P ∆Qd |Epd| Demanda
1 +10% -10% 1 Elasticidade unitária (|Epd| = 1)
2 +10% -20% 2 Elástica (|Epd| > 1)
3 +10% -5% 0,5 Inelástica (|Epd| < 1)

Tabela 3.2 – tipos de demanda de acordo com a Epd


Elaboração da autora

O exemplo calculado anteriormente é compatível com o exemplo


3 da tabela e representa um caso de demanda inelástica, cuja variação no
consumo é menor que a variação no preço do bem, o que resulta em |Epd|
<1. Neste caso, verifica-se que a demanda é pouco sensível à variação no
preço relativamente aos outros dois casos da tabela. No exemplo 2 da ta-
bela, tem-se uma demanda elástica, ou seja, muito sensível à variação no
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preço (|Epd| > 1) e, no caso 1, há um caso em que, para qualquer variação

5 Epd = ∆Qd/∆P = -0,5/1 = -0,5.

64
Análise das Estruturas de Mercado – Capítulo 3

no preço, a variação no consumo ocorrerá na mesma proporção, de forma


que |Epd| = 1.
São vários os fatores que determinam a Epd de um bem, sendo os
principais:
• essencialidade do bem: quanto mais essencial for um bem,
mais inelástica será a sua demanda, como é o caso de remédios.
No entanto, alguns bens como o cigarro, em função da depen-
dência que criam, também possuem baixa elasticidade da de-
manda, verificada em alguns países que não obtiveram sucesso
em reduzir o consumo de cigarros via aumento de preços deste
item;
• existência ou não de bens substitutos: quanto mais bens subs-
titutos existirem, mas elástica tende a ser a demanda pelo bem;
• peso do bem no orçamento do consumidor: quanto maior
a importância do bem nos gastos do consumidor, maior tende
a ser a sensibilidade, ou elasticidade, do consumo deste bem
diante das variações no seu preço. Por exemplo, o aluguel é um
item com alto peso no orçamento das famílias que não têm casa
própria, de forma que uma pequena variação no seu preço tem
um impacto grande no seu consumo;
• tempo: à medida que o tempo passa, mais substitutos tendem a
aparecer, de forma que, de maneira geral, as demandas se tor-
nam mais elásticas.
© MAXWELL DE ARAUJO RODRIGUES
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

O cigarro é um bem com demanda inelástica.

65
Fundamentos da Economia

3.2.2  Elasticidade, receita e estruturas de mercado.


A análise da Epd é de fundamental importância para se compre-
ender como a variação no preço de um bem vai impactar na receita do
empresário, em particular àqueles que operam nas estruturas de mercado
nas quais são capazes de determinar preço, como é o caso de oligopólios e
monopólios. Vamos tomar como exemplo um monopolista que, conforme
caracterizado anteriormente, não se depara com nenhum bem concorrente.
Nesse caso, seria possível a este ofertante cobrar o preço que desejar pelo
produto que disponibiliza? O que vai acontecer com a sua receita? A res-
posta a esta questão, novamente, vai depender da análise da elasticidade-
-preço da demanda.
Sabe-se que a receita total (RT) é calculada multiplicando-se o pre-
ço do bem (P) pela quantidade vendida (Q), de forma que se tem:

RT = P X Q

Caso o monopolista eleve o preço do bem que oferta em 10%, qual


será o impacto na quantidade vendida e, consequentemente, na sua recei-
ta? Vamos trabalhar com 3 possibilidades: demanda de elasticidade unitá-
ria, demanda elástica e demanda inelástica.
Exemplo Demanda ∆P ∆Qd ∆RT
1 Elasticidade unitária (|Epd| = 1) +10% -10% 0
2 Elástica (|Epd| > 1) +10% -20% <0
3 Inelástica (|Epd| < 1) +10% -5% >0

Tabela 3.3

Verifica-se que, diante de uma demanda elástica, caso o empresá-


rio eleve o preço do bem em 10%, por exemplo, vai se deparar com uma
redução no consumo superior a 10%, o que causa uma redução na receita
total. Caso a demanda pelo bem em questão seja de elasticidade unitária,
uma elevação de 10% no preço do bem causa uma redução no consumo
na mesma proporção, o que faz com que receita total não sofra alterações.
E, finalmente, diante de uma demanda inelástica, um aumento de preço de
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10% causa, sim, uma redução no consumo, porém, inferior a 10%, elevan-
do a receita total.
Conclui-se, então, que, para um monopolista, o seu poder de de-
terminar preço está inversamente relacionado à elasticidade-preço da
66
Análise das Estruturas de Mercado – Capítulo 3

demanda do bem que vende, de forma que, quanto mais elástica for a de-
manda, menor será a margem que terá para determinar preço.

Atividades
01. O que são estruturas de mercado?

02. Qual a principal diferença entre a concorrência perfeita e concorrên-


cia monopolística?

03. Qual a principal diferença entre o oligopólio e a concorrência perfei-


ta?

04. No que consiste o “lucro zero” da concorrência perfeita? Como ele é


obtido no longo prazo?
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05. Cite e explique as principais barreiras à entrada de empresas existen-


tes no monopólio.

67
Fundamentos da Economia

Reflexão
O estudo das estruturas de mercado nos permite identificar uma
série de características presentes nos mais diversos setores da economia:
o número de participantes, o tipo de produto que está sendo oferecido, a
existência ou não de barreiras à entrada de empresas em um determinado
segmento, a transparência nas informações etc. De posse destas informa-
ções, aumentam a compreensão sobre a quantidade produzida de um bem
em um determinado setor e, consequentemente, o preço a ser cobrado.
Sobre a capacidade de precificação, verificamos que, com exceção da con-
corrência perfeita, as demais estruturas de mercado permitem, em maior
ou menor grau, que o ofertante determine preço. No entanto, essa capa-
cidade de determinação de preço está diretamente relacionada ao campo
extrapreço, que inclui propagandas, serviços de entrega especiais, facili-
dade nas condições de pagamento, manutenção etc. Além disso, a elasti-
cidade-preço da demandaé de fundamental importância na determinação
da margem de formação de preços, pois, mesmo para o monopolista, este
pode ter sua receita reduzida caso eleve o preço do bem cuja demanda é
elástica. Mais uma vez, surge a necessidade de diferenciação do produto a
fim de se reduzir a elasticidade-preço da demanda.

Leituras recomendadas
PYNDICK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5.
ed. Tradução Eleutério Prado. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

CABRAL, Arnoldo Souza, YONEYAMA, Takashi. Microeconmia:


uma visão para empreendedores. São Paulo: Saraiva, 2008.

Referências
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA
(Cade). Disponível em http://www.cade.gov.br/.

GREMAUD, Amaury Patrick et al; organizadores Diva Benevides


Proibida a reprodução – © UniSEB

Pinho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de Econo-


mia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

68
Análise das Estruturas de Mercado – Capítulo 3

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-


gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações.


2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de economia. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2003.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, GAR-


CIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005.

No próximo capítulo
Até agora, os assuntos abordados se concentraram no universo
microeconômico: o surgimento e evolução da economia, sua divisão nas
esferas micro e macroeconômicas, oferta, demanda, formação de preços
e estruturas de mercado. A partir da próxima unidade, o aluno passará a
analisar o universo econômico sob a ótica do agregado, iniciando o seu
estudo pela compreensão dos objetivos e instrumentos macroeconômicos.
Fundamentos da Economia – Proibida a reprodução – © UniSEB

69
Fundamentos da Economia

Minhas anotações:
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70
Os Objetivos da
Política Macroeconômica
e o Papel do Estado na
Economia.
4 Neste capítulo, o aluno vai conhecer o desem-
lo
penho uma série de variáveis macroeconômicas
representativas da economia brasileira, como taxa de
ít u

desemprego, investimento, poupança, inflação, dentre


outras, e terá a oportunidade de entender como essas variá-
Cap

veis são afetadas pelas medidas tomadas pelo governo.

Objetivos da sua aprendizagem


Apresentar ao aluno os principais instrumentos de política econô-
mica, bem como as variáveis que são afetadas via utilização desses
instrumentos.

Você se lembra
Do anúncio de confisco de ativos dos depósitos à vista ou em caderneta
de poupança durante o Plano Collor, em 1990? Essa foi uma medida de
política econômica cujo objetivo era o de reduzir a inflação no período.
Fundamentos da Economia

Introdução
A todo momento, depararmo-nos com questões econômicas e, por
elas serem tão comuns, acabamos deixando de pensar na sua complexida-
de. Por exemplo, se vamos ao supermercado e constatamos que um produ-
to teve seu preço aumentado, sabemos intuitivamente que o nosso poder
de compra foi reduzido. Se vamos comprar uma geladeira nova e a taxa de
juros que o vendedor informa está alta, não a compramos; esperamos que
essa taxa seja reduzida. Se vamos procurar por um emprego e notamos
que está difícil ingressar no mercado de trabalho, logo percebemos que
a economia do país (ou da região) está em crise. Como esses exemplos,
podemos encontrar muitos outros que na verdade fazem parte de uma área
específica da economia que se chama macroeconomia.

4.1  Objetivos de política macroeconômica


4.1.1  Pleno emprego
A preocupação com o nível de emprego é algo relativamente
recente na teoria econômica. Isso porque, antes da crise de 29, sob o
receituário liberal, acreditava-se que a economia alcançaria o pleno em-
prego via funcionamento do mercado. Uma ressalva merece ser feita:
quando falamos em pleno emprego, devemos entender uma situação na
qual todos os indivíduos que desejam trabalhar encontram trabalho que
oferece o salário que o mercado paga. Vamos imaginar o seguinte caso:
o mercado está remunerando 8 horas de trabalho diárias a R$ 100,00
em uma determinada atividade. João desempenha esta atividade, porém
não deseja sair para trabalhar por menos de R$ 150,00. Caso fosse esta
a situação, não poderíamos, segundo os autores liberais, considerar João
como sendo um desempregado. Desta forma, não é muito difícil imagi-
nar que a economia operaria no pleno emprego!
Além disso, devemos lembrar que no período que antecede a crise
de 29, o ambiente econômico-institucional era bastante diferente daque-
le que começou a se desenvolver no século XX. Os trabalhadores não
possuíam grupos representativos que se dedicassem à defesa dos seus
salários, de forma que, em épocas de crise, era fácil transferir para estes
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o ônus da perda via redução de salário, o que, de certa forma, impedia a


demissão. Da mesma forma, a inexistência de leis trabalhistas contribuía
para a mesma situação.

72
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

Pelo lado das empresas, predominava a competição devido à


quase inexistência de estruturas de mercado que não a de concorrência
perfeita. Então, de fato, a interação entre consumidores e produtores e
o mecanismo de preços pareciam garantir um bom funcionamento da
economia.
Após a ocorrência do primeiro e segundo choques do petróleo1,
nos anos 70, os números relativos ao desemprego passaram a constituir
preocupação ainda maior para as autoridades de cada país, mesmo para
as economias mais desenvolvidas (tabela 4.1).

1960-8 1979 1989 2003


Alemanha 0,7 3,2 5,6 9,1
EUA 4,7 5,8 5,2 6,0
França 1,7 5,9 9,4 9,7
Itália 3,8 7,6 10,9 8,8
Inglaterra 2,6 5,0 7,1 5,0
Japão 1,4 2,1 2,3 5,3
Suécia 1,3 2,1 1,4 4,9

Tabela 4.1 – Taxas de desemprego em países da OCDE por períodos selecionados Dixon
(1998), Mattoso (1995), UNDP, HDR (2005) apud Feijó 2008
Pelos dados da tabela, podemos perceber que os números represen-
tativos do desemprego aumentaram em todos os países selecionados à me-
dida que avançamos no tempo. No Brasil, a despeito dos números mais re-
centes se mostrarem menores (figura 12), ainda assim, podemos verificar
que a taxa de desemprego é elevada. Em algumas regiões, e, dependendo
do período considerado, chega a superar a marca dos 20%, como ocorreu
na região metropolitana de São Paulo, em abril de 2004, quando a taxa
alcançou 20,70% (SEADE/PED apud IPEA).
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1 O 1º e 2º choques do petróleo ocorreram nos anos 70 em virtude de aumento no preço mundial do petróleo,
aumento este decorrente de combinação de preços entre os países produtores da OPEP, que formam um cartel.

73
Fundamentos da Economia

Taxa de desemprego: Brasil, 2003 a 2007


10,48
10,50 10,20

10,00 9,72

9,50 9,22
8,92
9,00

8,50

8,00
2003 2004 2005 2006 2007

Figura 12 – Taxa de desemprego no Brasil (%)2


Fonte: IPEA

O pleno emprego é um dos objetivos de política econômica

Crescimento econômico
Quando falamos de crescimento econômico, estamos nos referindo
ao crescimento do PIB, ou seja, ao crescimento da produção física de bens
e serviços. E, conforme já mencionado na unidade anterior, a despeito da
sua ineficiência em fornecer uma análise qualitativa da economia, esta
variável permite uma aferição da capacidade de geração de renda. Desta
forma, durante todo o desenvolvimento da ciência econômica, os teóricos
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2 Taxa de desemprego (%) – Percentual das pessoas que procuraram, mas não encontraram ocupação
profissional remunerada entre todas aquelas consideradas “ativas” no mercado de trabalho, grupo que inclui
todas as pessoas com 10 anos ou mais de idade que estavam procurando ocupação ou trabalhando na semana
de referência da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Elaboração: Disoc/Ipea.

74
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

buscaram identificar os fatores que fazem com que uma sociedade apre-
sente expansão da sua produção.
A acumulação de capital, o progresso tecnológico e o próprio cres-
cimento da população foram identificados, ao longo dos séculos, como
determinantes desta expansão. A expansão de capital corresponde ao au-
mento de máquinas, equipamentos, investimento em recursos humanos,
construção de infraestutura etc. que permitem que o aumento do produto.
A inovação tecnológica, por sua vez, permite que se extraia uma quantida-
de maior de produto de uma mesma dotação de recursos, ou seja, permite
que se obtenha o aumento do produto sem a necessidade de se ter maior
disponibilidade de fatores de produção. Já o crescimento da população
está relacionado ao crescimento econômico visto que implica aumento da
oferta de mão de obra e, também, de mercado consumidor.
Os números abaixo mostram dados sobre a economia brasileira
(figura 13). Nota-se que mesmo em anos em que o PIB apresenta taxas
positivas de crescimento, em termos per capita, ocorreram quedas, como
pode ser verificado nos anos de 2001 e 2003. Isso significa que, nestes
períodos, o aumento da população foi superior ao aumento da produção,
o que mostra que o conceito de PIB per capita parece ser, também, mais
apropriado quando se fala de crescimento; não basta apenas haver cresci-
mento da produção, mas esta deve superar o aumento populacional para
fazer frente às necessidades da sociedade.

Taxa de crescimento do PIB e PIB per capita (%)

5,7 5,7
6,0
5,1
5,0 4,3 4,3 4,5
4,0 4,0
4,0
3,2
2,8 2,7 2,7
3,0
1,9
2,0 1,3 1,2 1,1
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1,0

0,0
–0,2 –0,2
–1,0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

PIB PIB per capita

Figura 13 – Taxa de crescimento real do PIB e PIB per capita no Brasil (%)
Fonte: IBGE

75
Fundamentos da Economia

Quando se fala em crescimento econômico pelas duas primeiras


vias citadas, seja através da acumulação de capital, seja via progresso
técnico, o maior problema para a obtenção de níveis maiores de produto
está relacionado às necessidades de capital que se fazem necessárias para
a alavancagem do processo de crescimento. Neste sentido, a formação de
poupança e sua consequente transformação em investimento são variáveis
cruciais para o desencadeamento deste processo. Isso porque a poupança,
como já mencionado na unidade 3, corresponde à renda que não foi uti-
lizada para bens de consumo e, portanto, através do sistema financeiro,
constituirá a fonte de financiamento para o investimento. Porém, em pa-
íses pobres, a taxa de poupança (poupança/PIB) e a taxa de investimento
(I/PIB) tendem a ser baixas (tabela 4.2). Neste caso, uma alternativa é
recorrer à poupança externa por meio de investimento estrangeiro no país,
de empréstimos internacionais e/ou da ajuda estrangeira de países indus-
trializados.
País Taxa de investimento (%)
China 43
India 39
Rússia 25
Argentina 24
Japão 24
Canadá 23
França 22
Chile 21
Itália 21
EUA 19
Reino Unido 19
Alemanha 18
Brasil 18

Tabela 4.2 – Investimento/PIB (%) – 2007


Fonte: Banco Mundial e FMI
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Podemos verificar que dentro da lista de países selecionados, que in-


clui economias desenvolvidas e países em desenvolvimento, o Brasil ocu-
pa a última classificação em termos de taxa de investimento, com apenas
18% do PIB, perdendo para países como Argentina (24%) e Chile (21%).
76
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

O destaque vai para China e Índia com taxas de investimento próximas de


40% do PIB.

Estabilidade de preços
Países com históricos de episódios inflacionários mais graves são,
geralmente, os que mais atribuem valor a este objetivo de política eco-
nômica. Os alemães, por exemplo, que durante a década de 20 passa-
ram por um aumento de preços sem precedentes na história econômica,
mostram-se extremamente conservadores quando o assunto é estabilidade
de preços3. Neste sentido, o Brasil também não deixa a desejar: chegou a
ter uma taxa anual de inflação de 2.490%, em 1993 e, desde 1994, quan-
do conseguiu romper com a hiperinflação após a adoção do Plano Real,
tornou-se bastante persistente na busca pela disciplina dos preços.
Você deve estar se perguntando quais são os problemas que a infla-
ção elevada pode causar; apesar de este assunto ser abordado na próxima
unidade, podemos adiantar que a inflação acarreta uma série de distorções
que, geralmente, comprometem o bom desempenho da economia de um
país. Devemos destacar que não defendemos aqui a existência de uma “in-
flação zero”, até porque uma certa taxa de inflação pode estar associada a
um desempenho econômico saudável.
Atualmente, podemos observar que o país possui um nível inflacio-
nário bastante aceitável e comparável ao de economias bastante estáveis e
desenvolvidas (figura 14). No ano de 2008, por exemplo, o país teve uma
taxa anual de inflação igual a 5,9%.
Inflação em países selecionados (%) - 2008
19,5
20
15
15

10 7,3 7,2
5,9
4,2 3
5 2,5 2,4 2,2 1,6
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0,2 –1
0

–5
a

o
le
a

em A
ha
do
no nça
a

na

á
lia
il
in


di

Al EU
si

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ad

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Itá
hi
nt

In
ús

C
Ja
R Fra
Br

an

U
C
ge

C
Ar

ei

Figura 14: Inflação em países selecionados


Fonte: Banco Mundial
3 Somente para se ter uma ideia da magnitude de aumento de preços na Alemanha, entre agosto de 1922 a
novembro de 1923, portanto, pouco mais de um ano, os preços aumentaram 1 trilhão por cento (SANDRONI,
1999, p. 282).

77
Fundamentos da Economia

Distribuição mais igualitária de renda


Por repetidas vezes mencionamos que o crescimento econômico
não gera, necessariamente, desenvolvimento eco-
nômico. Um dos fatores que podem estar
por trás desta indesejável falta de relação
entre aumento da produção e melhora
Hiperinflação: geralmente, é
na qualidade de vida é a má distribui- considerada hiperinflação quando o
ção de renda. aumento no nível de preços ultrapas-
No Brasil, durante o período sa 50% ao mês.
que ficou conhecido como “milagre
econômico”, pôde ser facilmente veri-
ficado que esses dois objetivos de polí-
tica econômica, o crescimento econômico
e a distribuição equitativa de renda, podem,
de fato, não apresentar relação. Foi um período no qual alcançamos taxas
de crescimento do PIB igual a 14% ao ano, em 19734; no entanto, muito
pouco se observou em termos de melhoras dos indicadores sociais.
A desigualdade na distribuição de renda pode ser medida pelo índi-
ce de Gini, cujo valor varia de 0 a 15, sendo que quanto mais próximo de
1, maior a desigualdade social.
Coeficiente de Gini
0,572371528
0,575 0,569437927
0,57 0,562936305
0,565
0,556042939
0,56
0,555
0,547562999
0,55
0,545
0,54
0,535
2004 2005 2006 2007 2008

Figura 15 – Coeficiente de Gini para o Brasil (2004 a 2008)


IPEA
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4 A taxa média de crescimento do PIB no período 1968-73 foi de 11,2% (IPEA).

5 O índice ou coeficiente de Gini mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a
renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos
tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da
sociedade, e a renda de todos os outros indivíduos é nula) (IPEA).

78
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

Podemos verificar que, nos últimos anos, o índice de Gini para a eco-
nomia brasileira vem sofrendo redução a cada período, o que mostra uma
melhora no quadro de distribuição de renda (figura 15). No entanto, uma
comparação internacional vai colocar o Brasil em um triste quadro: em 2007,
o Brasil era o 11o colocado em termos de pior distribuição de renda, perdendo
apenas para Namíbia, Lesoto, Serra Leoa, República Centro-africana, Botsua-
na, Bolívia, Haiti, Colômbia, Paraguai e África do Sul (tabela 4.3).

Menor concentração de renda Maior concentração de renda


País Gini País Gini
Dinamarca 24,7 Namíbia 74,3
Japão 24,9 Lesoto 63,2
Suécia 25 Serra Leoa 62,9
República Centro-
República Tcheca 25,4 61,3
africana
Eslováquia 25,8 Botsuana 60,5
Tabela 4.3 – Índice de Gini para países selecionados
Fonte: ONU apud Wikipedia

Em se tratando de estados, para o ano de 2008, a maior concentração


de renda foi registrada para o Distrito Federal e a Paraíba, enquanto que
o Amapá e Santa Catarina foram os estados que apresentaram menores
coeficientes de Gini e, portanto, melhor distribuição de renda (tabela 4.4).
Estado Índice de Gini
Maiores
Distrito Federal 0,621706
Paraíba 0,586593
Menores
Amapá 0,450562
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Santa Catarina 0,464916

Tabela 4.4 – Maiores e menores índices de Gini dos estados brasileiros


IPEA

4.1.2  Instrumentos Macroecnômicos


No item anterior, nos foram apresentados alguns dos principais
objetivos de política econômica. Resta-nos, agora, conhecer alguns dos

79
Fundamentos da Economia

instrumentos de que as autoridades dispõem para a realização desses ob-


jetivos, sendo que os principais são a política fiscal e a política monetária.

Política fiscal
A atuação do governo via política fiscal costuma ser uma das formas
mais facilmente percebidas de política econômica: quando pagamos impostos
ou, ainda, quando falamos sobre os gastos do governo com a construção de
uma praça, quando discutimos a magnitude da folha de pagamento ou fala-
mos sobre a lei de responsabilidade fiscal, estamos nos referindo a esse tipo
de política. Podemos, então, definir a política fiscal como o conjunto de me-
didas que envolvem a arrecadação de impostos e os gastos públicos. Seu uso
deve objetivar a promoção do bem-estar da população através de gastos em
áreas de interesse social e do financiamento desses gastos assentado em um
sistema de arrecadação tributária eficiente.
A política fiscal pode ser expansionista ou restritiva. A política fiscal é
expansionista quando visa expandir o nível de atividade econômica e, conse-
quentemente, o nível de emprego. Exemplos recentes podem ser utilizados
para ilustrar esse caso: o governo brasileiro, após o surgimento da crise eco-
nômica mundial em 2008, elaborou um pacote de benefícios fiscais visando
estimular a atividade econômica. Um dos exemplos mais marcantes foi a
redução da cobrança de IPI (imposto sobre produtos industrializados) sobre
alguns tipos de automóveis novos e, também, sobre a chamada “linha branca”
de eletrodomésticos, que inclui, dentre outros, a produção de geladeiras.

Graças à diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)


para os veículos com até 2 mil cilindradas de potência e à oferta de
crédito a juros inferiores à média de mercado, as vendas no mercado
interno atingiram o recorde de 3,14 milhões de unidades. O anterior, de
2008, era de 2,82 milhões de veículos, nacionais e importados. Apenas
em dezembro, foram licenciadas 236,2 mil unidades, 44,5% acima de
dezembro de 2008 e 13,9% mais do que as do mesmo mês de 2007
O Estado de São Paulo, 13/01/2010.

A política fiscal restritiva, por outro lado, corresponde a um conjun-


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to de medidas que envolvem impostos e gastos do governo visando à con-


tenção da atividade econômica e ao desaquecimento da economia. Costu-
ma ser utilizada, geralmente, em situações em que se deseja, por exemplo,
reduzir pressões de demanda a fim de conter pressões inflacionárias. Um
80
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

corte nos gastos do governo ou um aumento da tributação são exemplos


de política fiscal restritiva.
Quanto aos gastos do governo, estes podem ser divididos em gastos
com consumo do governo, pagamento de juros das dívidas interna e externa,
gastos com investimentos e transferências, sendo que nesta última categoria
são incluídos valores referentes às despesas como pensões, subsídios etc., nos
quais não há contrapartida. Quanto à fonte de arrecadação, o governo pode
cobrar impostos diretos e impostos indiretos, sendo que os primeiros referem-
se aqueles que incidem diretamente sobre a renda e a propriedade (IR, IPVA,
IPTU etc.); já os indiretos são aqueles que incidem sobre o consumo e a ven-
da de mercadorias e serviços (IPI, ICMS etc.).
No caso brasileiro, a política fiscal, principalmente no tocante à
arrecadação do governo, tem-se mostrado bastante contraproducente no
sentido de promoção do bem-estar da sociedade: primeiro porque grande
parte dos impostos arrecadados é indireto e, portanto, incide igualmente
sobre todos os agentes que adquirem um determinado bem. Por exemplo,
qualquer cidadão que adquira um pacote de biscoito irá arcar com um va-
lor X de imposto, seja a renda deste cidadão igual a R$ 1.000,00 seja igual
a R$ 10.000,00. Segundo, porque a carga tributária relativamente ao PIB
tem-se elevado expressivamente nas últimas décadas e, atualmente, chega
a 35,21%. Comparativamente a outros países, o país possui uma carga tri-
butária superior à da Espanha e à da Alemanha, países cujo fornecimento
de serviços pelo governo é bastante superior ao brasileiro. Além disso, a
cobrança de impostos no Brasil relativamente ao PIB supera a de grandes
economias como os Estados Unidos (figura 16).
Carga tributária (Impostos/PIB) – (%)
60
50,7
50 44,9 43,7
42,2
40 35,8 35,2 34,8

30 25,4 25,3 24,6


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18,5
20

10

0
a
ia

ça
a

Es ia

l
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o
il

o
Su
nh
g

as


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pa

Br
Su

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Fr
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em

M
N

ia
Al

é
or
C

Figura 16 – Carga tributária – Comparação entre países


Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário apud Veja

81
Fundamentos da Economia

Keynes foi um grande defensor da política fiscal como instrumento


de estímulo à economia ressaltando o seu efeito: suponha, por exemplo,
que o governo realize uma injeção inicial de renda via realização de in-
vestimento no valor de R$ 100.000,00 para a construção de uma estrada.
Parte desta renda vai para o salário dos trabalhadores que vão utilizá-la
para adquirir bens de consumo, como, por exemplo, roupas. Trata-se uma
nova adição de renda derivada da primeira. O vendedor de roupa, por sua
vez, irá utilizar, também, parte desta renda para adquirir bens de consumo.
Desta forma, um aumento inicial na demanda agregada provocará um
aumento mais do que proporcional na renda desta economia e maior será
este aumento quanto maior for a propensão das pessoas a gastar esta renda
(propensão marginal a consumir6). Trata-se do efeito multiplicador.

Política monetária
A política monetária refere-se ao conjunto de ações do governo que
visa controlar a quantidade de moeda e de títulos7 em circulação e a taxa
de juros. Em outras palavras, diz-se que política monetária corresponde à
atuação das autoridades monetárias para regular a liquidez8 do sistema. A
primeira questão a ser esclarecida diz respeito ao porquê da necessidade
da autoridade monetária de atuar sobre variáveis, como quantidade de
moeda e taxa de juros: imagine que você está disposto a trocar a sua ge-
ladeira. A taxa de juros cobrada no financiamento será decisiva para que
você opte por fazer a aquisição do bem ou não. Supondo que você faça
a aquisição, estará contribuindo para uma redução dos estoques das em-
presas, o que sinaliza uma necessidade de aumento da produção, e você
poderá estar, inclusive, contribuindo para o aumento do nível de emprego
da economia. Por outro lado, caso os juros estivessem elevados, você po-
deria optar por não trocar o seu eletrodoméstico, e o nível de atividade e
de emprego desta economia poderia ser menor.
Esse é apenas um dos exemplos de como uma variável controlada
via política monetária, a taxa de juros, pode influenciar no nível de ativi-
dade, de emprego e, também, no nível de inflação de uma economia, já

6 Propensão marginal a consumir: parcela da renda que as pessoas estão dispostas a gastar com
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bens de consumo.
7 Um título corresponde a um documento que garante a propriedade de um bem ou valor. Pode ser uma
duplicata, uma nota promissória, títulos de dívida pública etc. Em se tratando de política monetária, estamos
nos referindo aos títulos públicos, que são papéis colocados no mercado pelo governo quando da necessidade
de financiamento.
8 Liquidez: disponibilidade de moeda corrente ou meios de pagamento facilmente conversíveis
em moeda

82
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

que, a partir do momento em que as pessoas demandam mais, pode ocor-


rer um aumento de preços.
São várias as formas que as autoridades monetárias têm de atuar
sobre as variáveis citadas e, a essas formas, dá-se o nome de instrumentos
de política monetária, sendo os principais:
––Operações de open market: são as operações realizadas pelo
Banco Central e que consistem em vender ou comprar títulos
públicos para alterar a quantidade de moeda em circulação.
Por exemplo, se o Banco Central oferta (coloca à venda)
um título público, ele está retirando moeda de circulação à
medida que os agentes fazem uso desta moeda para a aqui-
sição do título; tem-se um enxugamento da liquidez. Caso o
Banco Central compre um título, está, ao contrário, injetando
moeda na economia. Devemos ressaltar que as operações de
mercado aberto afetam a taxa de juros: compras de títulos
reduzem a taxa de juros, enquanto que vendas de títulos au-
mentam a taxa de juros.
––Operações de redesconto: o Banco Central é conhecido como
o “banco dos bancos”, o que faz com que, comumente, os
bancos fazem empréstimos no Banco Central. Desta forma,
a taxa cobrada por estes empréstimos é uma das maneiras
que esta instituição tem de regular a liquidez: quando deseja
diminuir a quantidade de moeda em circulação, basta aumen-
tar a taxa cobrada; quando deseja aumentar a quantidade de
moeda em circulação, basta reduzir a taxa cobrada. Além da
taxa cobrada pelos empréstimos, o Banco Central pode, tam-
bém, regular a própria quantidade de empréstimos que deixa
à disposição dos bancos.
––Reservas ou depósitos compulsórios: as reservas compulsó-
rias correspondem a uma parcela dos depósitos à vista e de
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outros títulos contábeis (cheques administrativos, depósitos


em juízo etc.) que os bancos são obrigados a reter juntamente
ao Bacen. Sempre que o Banco Central aumentar a taxa de
depósitos compulsórios, estará reduzindo a liquidez da eco-
nomia e, ao contrário, se reduzir a taxa de depósitos compul-
sórios, estará aumentando a liquidez da economia. Além de
regular a quantidade de moeda que circula na economia, os
depósitos compulsórios servem como uma garantia de que,
83
Fundamentos da Economia

caso os clientes decidam sacar seus depósitos, os bancos te-


rão reservas suficientes para fazer frente a esses saques.
––Regulamentação sobre o crédito e a taxa de juros: em invés
de fazer uso dos instrumentos mencionados acima (open ma-
rket, redesconto e compulsórios), o Bacen também controla
diretamente a taxa de juros, o volume de crédito e o prazo
dos empréstimos bancários.

Um dos objetivos da política monetária é administrar a taxa de juros de um país.

O Brasil é um país que, desde 1999, adotou o regime de meta in-


flacionária. Neste regime, o Bacen estabelece uma meta para a inflação,
geralmente, no início do ano, e, então, a taxa de juros deve servir como
instrumento para que se alcance a meta predeterminada (tabela 4.5). Por
exemplo, se a economia estiver com tendência a ficar com inflação aci-
ma da meta, o Bacen irá elevar a taxa de juros para conter a demanda e,
consequentemente, a inflação. Ao contrário, se a inflação estiver com a
tendência a ficar abaixo da meta, então, o Bacen tenderá a reduzir a taxa
de juros.
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84
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

Limite inferior Inflação efetiva


Ano Meta
e superior IPCA (% a.a.)

1999 8 6 – 10 8,94
2000 6 4–8 5,97
2001 4 2–6 7,67
2002 3,5 1,5 – 5,5 12,53
3,25 1,25 – 5,25 9,30
2003
4 1,5 – 6,5
3,75 1,25 – 6,5 7,60
2004
5,5 3–8
2005 4,5 2–7 5,69
2006 4,5 2,5 – 6,5 3,14
2007 4,5 2,5 – 6,5 4,46
2008 4,5 2,5 – 6,5 5,90
2009 4,5 2,5 – 6,5 4,31
2010 4,5 2,5 – 6,5
2011 4,5 2,5 – 6,5

Tabela 4.5–Histórico das metas de inflação no Brasil


Fonte: Banco Central do Brasil

Como pode ser verificado, no ano de 2009, a inflação oficial medida


pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou abaixo da meta
(tabela 14). Neste ano, o Bacen permitiu sucessivas reduções na taxa bási-
ca de juros (SELIC) (tabela 4.6).
Período Taxa (%a.a.)
set/08 13,75
jan/09 12,75
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mar/09 11,25
abr/09 10,25
jun/09 9,25
jul/09 8,75

Tabela 4.6 – Taxa de juros SELIC (%a.a.)


Fonte: Banco Central do Brasil

85
Fundamentos da Economia

O principal responsável pela execução


Conexão:
dos instrumentos de política monetária é o No site bacen.gov.br você
Banco Central (Bacen), o que faz com que poderá conhecer um pouco so-
haja um movimento crescente na literatura bre a condução da política monetá-
ria no nosso país e também sobre o
econômica que advoga pela defesa de um regime de metas de inflação.
Banco Central independente. Esta inde-
pendência diz respeito à possibilidade de
ingerência do poder executivo na gestão da
política monetária de um país, principalmente
em períodos pré-eleitorais, o que poderia comprome-
ter a consecução de metas como a estabilidade de preços.

4.2  Inflação
Quando falamos em inflação, nós, brasileiros, de alguma forma,
sentimo-nos familiarizados com este fenômeno. Apesar de convivermos
com a estabilidade de preços desde 1994, a partir da implementação do
Plano Real, a hiperinflação verificada no Brasil nas décadas de 1980 e
1990 deixou-nos uma memória inflacionária bastante presente. No entan-
to, ainda que este fenômeno nos seja familiar, a interpretação dos números
referentes à inflação costuma ocorrer de forma equivocada, seja por estu-
dantes das mais diversas áreas, seja por profissionais da imprensa e, prin-
cipalmente, por donas de casa que costumam pensar que tais números não
passam de manipulações de profissionais da mídia e economistas.
Não é de se estranhar que as pessoas vejam com ressalva esses
números, e a explicação para essa desconfiança é bastante simples: um
índice de inflação mede a variação média do preço de uma “cesta”, defini-
da como um conjunto de bens e serviços. Nessa cesta, estão incluídos os
mais diversos itens pertencentes a grupos como alimentação, vestuário,
educação, habitação, saúde, dentre outros. Alguns índices chegam a in-
cluir em seu cálculo itens de construção civil e preços no atacado. Vamos
imaginar que um índice de inflação qualquer registrou uma deflação de
1%. Isso significa que, em média, o preço dos itens que compõem a cesta
caiu 1% no período considerado. Como se trata de uma média, é muito
provável que vários itens tenham tido redução nos seus preços, enquanto
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outros tenham registrado aumento. Se o consumo de uma família se con-


centra naqueles bens cujos preços sofreram elevação naquele período, é
razoável supor que o custo de vida desta família tenha se elevado, o que a
faz desconfiar dos índices divulgados. No entanto, seria impossível medir
86
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

o custo de vida de cada família individualmente; é por isso que os índices


acompanham o preço de uma cesta, que procura ser o mais abrangente
possível e representar os hábitos de consumo da população de maneira
geral.
Para se conhecer esses hábitos, são realizadas as chamadas pesqui-
sas de orçamento familiar (POF), que correspondem ao acompanhamento
dos gastos de várias famílias, cujo objetivo é mapear os itens consumidos
por uma determinada parte da população. Se o objetivo é construir um ín-
dice de inflação para famílias cuja renda é de 2 salários mínimos, então a
POF será feita junto às pessoas pertencentes a esta faixa de renda.
Na POF, além dos itens consumidos, são determinados, também, os
chamados pesos (ou ponderação9) de cada um desses itens, que corres-
pondem à parcela da renda que é gasta com cada bem. Por exemplo, se o
gasto com leite é de 2% da renda e o gasto com arroz é de 1%, dizemos
que o leite tem um peso de 2% e o arroz de 1%. A tabela seguinte mostra
um exemplo desta ponderação, por grupos, para a cidade de São Paulo.
Grupo Ponderação (%)
Habitação 32,8
Alimentação 22,7
Transporte 16,0
Despesas pessoais 12,3
Saúde 7,1
Vestuário 5,3
Educação 3,8

Tabela 4.7 – Ponderação de acordo com IPC FIPE


Fonte: FIPE

Outro problema diz respeito à interpretação dos dados sobre in-


flação, sendo que um erro muito comum é o de confundir deflação com
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redução da inflação. Vejamos alguns dados divulgados sobe inflação para


entendermos melhor este problema.

9 Peso ou ponderação: corresponde ao gasto com cada item relativamente à renda da família. Por
exemplo, caso uma família ganhe R$ 1.000,00 e tenha uma conta de energia elétrica igual a R$
100,00, então o peso da energia elétrica para esta família é 10%.

87
Fundamentos da Economia

Ano de 2009
Janeiro –0,44
Fevereiro 0,26
Março –0,74
Abril –0,15
Maio –0,07
Junho –0,1
Julho –0,43
Ano de 2009
Agosto –0,36
Setembro 0,42
Outubro 0,05
Novembro 0,1
Dezembro –0,26

Tabela 4.8 – IGPM (% a.m.)


Fonte: Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea)

A tabela anterior traz os dados sobre a inflação de acordo com o


IGPM, índice elaborado pela Fundação Getulio Vargas. Podemos verificar
que, em vários meses do ano de 2009, o índice se apresentou negativo, ou
seja, houve deflação. É o caso de janeiro, março, abril, maio, junho, julho,
agosto e dezembro. Quando da ocorrência de um índice negativo, dize-
mos que os preços, naquele mês, ficaram, em média, mais baratos que no
mês anterior. Por exemplo, no mês de dezembro, cujo índice fechou em
–0,26%, dizemos que, em média, os preços estão 0,26% mais baratos que
no mês de novembro. Agora, quando comparamos a inflação de setembro
com a de outubro, verificamos que, em ambos os meses, houve inflação,
pois os índices são positivos. O que ocorre é que a inflação de outubro
(0,05%) foi menor que a de setembro (0,42%), o que significa que os pre-
ços aumentaram menos em outubro que em setembro.
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88
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

A inflação foi um dos grandes problemas da economia brasileira durante décadas.

Esclarecidas algumas dúvidas relacionadas à interpretação desses


números, vamos apontar algumas causas reconhecidas como determinan-
tes dos fenômenos inflacionários:
––Inflação de demanda: a inflação de demanda é aquela em que
a causa do aumento de preços está relacionada ao aumento
do consumo de alguns bens. Neste caso, o aumento de preços
está relacionado a uma demanda superior à oferta de bens e
serviços. Se a economia opera no pleno emprego, maior é a
probabilidade de ocorrer este tipo de inflação, visto que mais
difícil seria aumentar a oferta para fazer frente ao excesso de
demanda.
––Inflação de oferta: este tipo de inflação está relacionado à
elevação nos custos de produção, seja devido a aumentos
salariais, seja à escassez de mão de obra, pressão sindical,
adversidades climáticas que reduzem a produção, desvalori-
zações cambiais etc.
––Inflação inercial: neste caso, a inflação passada contamina a
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inflação futura por meio dos mecanismos de indexação (con-


tratos de aluguéis, de salários, reajuste de tarifas públicas
etc.).
––Inflação estrutural: esta classificação, de acordo com alguns
autores, pode também ser tratada como inflação de oferta.
Neste caso, o aumento de preços está relacionado à estrutura
dos países subdesenvolvidos: a oferta de produtos é incapaz
de satisfazer a aumentos na demanda (oferta de alimentos
89
Fundamentos da Economia

inelástica), a estrutura de mercado tem predominância de


oligopólios etc.

Custos da inflação
Apesar de relativamente complexo, o assunto inflação acaba sendo
de interesse geral por afetar a todos, da dona de casa ao diretor executivo
de uma grande empresa multinacional. Mas como é que este fenômeno
nos afeta? Veremos, a seguir, alguns custos relacionados à ocorrência do
processo inflacionário:
––Redistribuição de riqueza e renda: a inflação opera como
um mecanismo de transferência de ri-
queza daquele agente que não
possui formas de proteção
para seus rendimentos,
ou seja, daquele que Oferta inelástica de alimentos: significa
não tem acesso ao que a produção de alimentos de uma eco-
sistema financeiro. nomia não é capaz de responder a estímulos
como um aumento de preços. Isso pode ocorrer
Normalmente, a
por vários motivos, como a falta de infraestrutura
transferência é da necessária ao aumento da produção, entre
classe de mais baixa outros.
renda para a classe de
mais alta renda, já que
os primeiros são os que
tendem a ficar marginaliza-
dos da esfera bancária e de seus re-
cursos de proteção. Além disso, a inflação também transfere
renda daqueles que aplicaram em renda fixa para aqueles que
aplicaram em renda variável.
––Distorção dos preços relativos (destruição da informação):
em cenários com inflação muito elevada, o mecanismo de
preços perde sua função como bom sinalizador das decisões
de consumo e produção, tamanha é a velocidade com a qual
os preços se alteram.
––Desestímulo ao investimento produtivo: a inflação insere in-
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certezas na economia, o que dificulta a realização de investi-


mento produtivo. Além disso, a inflação acaba tornando mais
atraente a aquisição de títulos que remuneram de acordo com

90
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

a inflação e cujo retorno tende a ser maior que qualquer in-


vestimento em produção.
––– Dificulta contratos de longo prazo: a incerteza gerada
pelo processo inflacionário dificulta o planejamento a lon-
go prazo.
–– Elevação de custos: quando da existência de inflação, as
pessoas tendem a gastar mais tempo e recursos a fim de
tentar contornar os efeitos nocivos de uma alta de preços.
Por exemplo, gastam mais tempo pesquisando em diferentes
estabelecimentos comerciais buscando encontrar o menor
preço ou, ainda, há o famoso “custo do cardápio’, que cor-
responde aos gastos que o dono de um estabelecimento tem
diante de constantes alterações de preços;
––Efeito sobre a balança comercial: a inflação faz com que o
produto nacional fique mais caro lá fora, diminuindo a nossa
competitividade e fazendo com que haja piora no saldo co-
mercial do país, já que passamos a exportar menos.
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A inflação corrói o poder de compra da moeda.

91
Fundamentos da Economia

4.3  O setor Público


O discurso sobre a importância e a participação do setor público na
economia não é recente. As economias de orientação socialista mostra-
ram que o fornecimento de bens públicos melhora a qualidade de vida da
população. Esse aspecto é questionado pelas economias capitalistas, pois
estas entendem que somente o mercado é capaz de prover eficientemente
aquilo de que a sociedade necessita.
Vimos na introdução deste capítulo que a situação não é bem essa,
ou seja, a economia em alguns momentos mostrou fortes indícios da ne-
cessidade da intervenção estatal.
A teoria do bem-estar social (welfare economics) diz que, sob certas
condições, os mercados competitivos geram uma alocação de recursos
ineficiente, de forma que um indivíduo não consegue melhorar sua situ-
ação sem prejudicar a situação de outra pessoa. Na economia, dizemos
que esta é a definição de ótimo de Pareto. Além disso, a teoria neoclássica
enfatiza que, para que se atinja uma situação Pareto eficiente, não é neces-
sário que haja a figura do planejador central, ou seja, o Estado, dado que
a livre concorrência fará com que a economia atinja um ponto eficiente.
Contudo, para que isso ocorra, não deve haver a existência de pro-
gresso técnico e deve predominar o funcionamento do modelo de concor-
rência perfeita em que há interação entre compradores e vendedores, de
forma que nenhum agente econômico individualmente estabeleça o preço
do produto. Soma-se a isso o fato da necessidade da existência de um
mercado com perfeita informação.
Vimos na disciplina de microeconomia que a maior parte dos mer-
cados não opera em um sistema de livre concorrência, predominando a
imperfeição dos mercados. Exatamente por eles serem imperfeitos é que
existem as falhas de mercado impedindo que ocorra uma situação de óti-
mo de Pareto. Sendo assim, o governo deve prover os bens chamados de
públicos, deve permitir a formação dos monopólios naturais, deve ajudar
a evitar as externalidades, os mercados incompletos, as falhas de informa-
ção e a ocorrência de desemprego e inflação.

4.3.1  A participação do Estado na Economia


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Bens públicos
Bens públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível, ou seja,
os bens são não rivais. Podemos dizer que o consumo por parte de um
indivíduo ou de um grupo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos
92
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

outros indivíduos. Em síntese, essa é a função dos bens públicos, atender


à maior parcela da população mesmo que uma parte se beneficie mais do
que outra. A justiça, a segurança e o fornecimento de energia elétri-
ca são considerados bens públicos.
A intenção de um bem público é que ele procure evitar ao máximo
a exclusão de alguns indivíduos da sociedade. Contudo, existem situações
em que isso é inevitável. Caso a administração pública de uma cidade
resolva asfaltar uma determinada rua, todos os moradores serão beneficia-
dos, inclusive aquele que se recusar a pagar. São os chamados caronistas
ou free riders. Concluímos então que os bens públicos não são rivais e são
abrangentes, abarcando toda a população que recebe o benefício.

Monopólios naturais
Estudamos em microeconomia que a formação dos monopólios e
oligopólios são situações que prejudicam os consumidores, pois as empre-
sas conseguem estabelecer o preço do mercado. Vimos também que o go-
verno intercede nesses casos com a finalidade de proteger o consumidor.
Contudo, existem algumas situações de monopólio que são permitidas
pela sua funcionalidade e redução do custo de produção para a empresa.
Essas empresas são chamadas de monopólios naturais e têm por finalidade
oferecer ao consumidor final um produto com o preço menor do que seria
praticado caso existisse outra empresa concorrente.
Vamos imaginar o caso de uma empresa que fornece energia elétri-
ca. Como já existe todo o cabeamento pronto para a distribuição de ener-
gia, uma empresa concorrente deveria fazer outro sistema de distribuição
de energia. Os custos de produção aumentariam e teriam de ser repassa-
dos para o consumidor final. Neste caso, é melhor e mais barato para o
consumidor que uma empresa sozinha no mercado forneça o bem.
Externalidades
O Estado é chamado a intervir nos casos de externalidades que po-
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dem ser positivas ou negativas. Entende-se por externalidade a situação


em que as ações dos indivíduos interferem direta ou indiretamente em
outros agentes do sistema econômico.
A externalidade é dita positiva quando ela traz benefício para a so-
ciedade. Por exemplo, se o governo decide investir em uma empresa de
infraestrutura no ramo de energia elétrica, haverá aumento na oferta de
insumos importantes, assim como benefício para outros setores da econo-
mia.
93
Fundamentos da Economia

Por externalidade negativa en-


tendemos ser a situação em que a As externalidades gera-
das por novas tecnologias Segundo
ação de um indivíduo prejudica alguns autores, o forte crescimento experi-
a sociedade. O exemplo mais mentado pela maioria das economias ocidentais e
comumente utilizado em eco- especialmente pela economia norte-americana durante
a década de 1990 explica-se por um choque tecnológico.
nomia é o lixo químico das A ação conjunta das novas tecnologias, o desenvolvimento
indústrias que são despeja- das telecomunicações, a eclosão da Internet e o fenômeno da
globalização criaram condições particularmente propícias para
dos em rios e mares, assim o aparecimento de certas externalidades positivas: a difusão
como a poluição do ar. das novas tecnologias. Um efeito desse tipo aparece
quando uma inovação tecnológica beneficia não apenas
O progresso tecnológi- a empresa que a realiza, mas todo o conjunto da
co é a chave que explica por- sociedade; em outras palavras, quando tem
efeitos globais (Mochón, 2007)
que o nível de vida aumenta com
o passar do tempo, e, nos últimos
anos, temos assistido a uma série de
fenômenos que propiciaram a geração e a difu-
são das inovações tecnológicas. O avanço das tecnologias da informação
e das telecomunicações, assim como sua generalização, tem facilitado o
surgimento de externalidades positivas associadas
As
Mercados incompletos
Entende-se por mercado incompleto a situação em que um bem ou
serviço não é ofertado mesmo que o seu custo de produção esteja abaixo
do preço que os potenciais consumidores estariam dispostos a pagar. Isso
geralmente acontece em países em desenvolvimento em que os investido-
res não querem correr risco com seus investimentos.
Como o sistema financeiro e/ou de mercado de capitais não fornece
financiamento de longo prazo, o governo intervém na economia no senti-
do de conceder crédito a empresas que desejarem iniciar ou ampliar um
negócio. No Brasil, a instituição responsável por fornecer financiamento
às empresas é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).

Falhas de informação
O governo é chamado a intervir na economia quando o consumidor
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não tem informação suficiente para tomar suas decisões de consumo. O


Estado geralmente age mediante a introdução de uma lei que induza uma
maior informação e transparência ao consumidor. Além disso, o governo

94
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

participa a fim de favorecer todos os agentes da economia, contribuindo


para que o fluxo de informações seja o mais eficiente possível.

Ocorrência de distorções
Como dito na introdução deste capítulo, a economia muitas vezes
não se comporta de uma maneira eficiente e essa situação pode trazer
diversas distorções para a sociedade. Dessa forma, ao longo da história
recente, a participação do Estado na economia vem crescendo pelas se-
guintes razões (Pinho e Vasconcelos, 2004):
Desemprego: os elevados níveis de desemprego, no início dos anos
1930, conduziram o governo à realização de obras de
infraestrutura que absorvessem contingentes elevados de mão
de obra;
–– Crescimento da renda per capita: o aumento da renda per capita
gera aumento da demanda por bens e serviços públicos (lazer, edu-
cação superior, medicina, entre outros);
–– Mudanças tecnológicas: a invenção do motor de combustão
significou maior demanda por rodovias e infraestrutura, que passou
a ser ofertada pelo Estado, de um lado, porque a iniciativa privada
não dispunha de capitais suficientes e, de outro, como forma de
proteger e encorajar o crescimento de diversos setores econômicos;
–– Mudanças populacionais: alterações na taxa de crescimento po-
pulacional conduzem a aumentos nos gastos do Estado, em virtude
do crescimento de suas despesas com educação, saúde e outros;
–– Efeitos da guerra: durante períodos de guerra, a participação do
Estado na economia aumenta (portanto, aumenta o gasto público).
Mas o interessante é que, quando o conflito bélico termina, o gasto
público se reduz, mas não a ponto de alcançar o nível existente an-
tes da guerra.
–– Fatores políticos e sociais: novos grupos sociais passaram a
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ter maior presença política, demandando, assim, novos empreendi-


mentos públicos (escolas, creches etc.)
–– Mudanças na Previdência Social: inicialmente, a Previdência
Social foi desenvolvida como um meio de o indivíduo financiar sua
aposentadoria. Posteriormente, essa instituição constituiu-se em um
instrumento de distribuição de renda. Isso levou a uma participação
maior do Estado (aumentando o gasto público) do mecanismo pre-
videnciário
95
Fundamentos da Economia

Além disso, a própria evolução da


economia mundial acarretou o desen-
volvimento dos mercados financeiros Especulação á a tomada de deci-
e do comércio internacional, que sões baseada em perspectivas sobre
a evolução futura do mercado. Por exem-
tornou mais complexas as relações
plo, se o indivíduo acredita que amanhã a
econômicas, adicionando elemen- taxa de câmbio vai ser maior do que é hoje,
tos de incerteza e especulação, que é conveniente e racional comprar dólares
inexistiam anteriormente, provocan- hoje para vender amanhã.
do o aumento das funções econômi-
cas do Estado.
Sendo assim, o governo deve inter-
vir através de planos que melhorem a eficiên-
cia econômica.

4.3.2  Déficit e Dívida


Para financiar suas contas, o governo tributa a sociedade, e, para que
haja fechamento da conta, os gastos devem ser iguais à receita. Quando
a receita supera o gasto, dizemos que há superávit público, e, quando o
gasto supera a receita, dizemos que há um déficit público. As receitas e
os gastos do governo são os componentes do orçamento fiscal. De forma
esquemática, temos:

Orçamento do setor público = Receitas públicas – Gastos públicos



As medidas expansionistas (aumento dos gastos públicos ou redu-
ção de impostos) tenderão a criar déficit no orçamento, enquanto as políti-
cas restritivas atuarão no sentido contrário. Ao se defrontar com uma situ-
ação de déficit, além das medidas tradicionais de política fiscal (aumento
de impostos ou corte de gastos), o governo deve pensar também como ele
irá financiar o seu déficit.
Sabemos do estudo do capítulo sobre moeda que o governo financia
suas contas através da emissão de moeda, pedindo emprestado ao Banco
Central, e vende títulos da dívida pública ao setor privado (interno e externo).
Ao pedir para que o Banco Central emita mais moeda, o governo
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aumenta o poder de compra da população e o nível geral de preços da eco-


nomia aumenta. Essa situação é chamada de monetização da dívida, dado
que o Banco Central cria moeda para financiar a dívida do governo.

96
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

Quando o governo troca títulos por moeda que já está em circulação,


não há geração inflação, mas há elevação da dívida pública, e o governo,
a fim de conseguir colocar esses títulos para o público, elevará a taxa de
juros, aumentando consequentemente seu endividamento.

4.3.3  Estrutura Tributária


A fim de que o Estado arque com as funções anteriormente descri-
tas, o governo precisa gerar recursos. A principal fonte de receita do setor
público é a arrecadação tributária. Para que isso aconteça, é importante
que alguns aspectos principais sejam levados em consideração.
O conceito da equidade nos dá a ideia de que a distribuição do
ônus tributário deve ser igual entre os diversos indivíduos de uma socie-
dade. Por esse princípio, um imposto além de ser neutro deve ser equâni-
me no sentido de distribuir seu ônus de maneira justa entre os indivíduos.
O conceito da progressividade mostra que se deve tributar mais
quem tem uma renda mais alta.
Existem duas abordagens principais na teoria do setor público
que envolvem o conceito da equidade e da progressividade. São eles:
o princípio do benefício e o princípio da capacidade de pagamento.
Segundo o princípio do benefício do pagamento, cada indivíduo de-
veria contribuir com uma quantia proporcional aos benefícios gerados
pelo consumo do bem público. Já o princípio da capacidade de paga-
mento mostra que os agentes (famílias e firmas) deveriam contribuir
com impostos de acordo com sua capacidade de pagamento. O imposto
de renda é um bom exemplo para utilizarmos. As medidas utilizadas
para medir a capacidade de pagamento são a renda, o consumo e o pa-
trimônio.
O conceito da neutralidade diz que os impostos devem ser tais de
forma que minimizem os possíveis impactos negativos da tributação sobre
a eficiência econômica. Por esse princípio, entende-se que as decisões so-
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bre a alocação de recursos se baseiam nos preços relativos determinados


pelo mercado. Considera-se a neutralidade do tributo quando eles não
alteram os preços relativos, minimizando sua interferência nas decisões
econômicas dos agentes de mercado.
Por fim, o conceito da simplicidade implica que o sistema tribu-
tário deve ser de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil arreca-
dação para o governo. Por um lado, é importante que o imposto seja de
fácil entendimento para quem tiver de pagá-lo. Por outro, a cobrança e
97
Fundamentos da Economia

arrecadação do imposto, bem como o processo de fiscalização, não devem


representar custos administrativos elevados.
Podemos dizer que existem alguns requisitos essenciais para que o
sistema tributário seja definido como ideal.
Primeiramente, a distribuição do ônus tributário deve ser equitativa,
isto é, cada um deve pagar uma contribuição considerada justa. Em segun-
do lugar, a cobrança de impostos deve ser conduzida no sentido de onerar
mais as pessoas com maior capacidade de pagamento. Em terceiro lugar,
o sistema tributário deve ser estruturado de forma a interferir o mínimo
possível na alocação de recursos da economia, a fim de que não cause ine-
ficiência no sistema econômico. Por fim, a administração do sistema tri-
butário deve ser eficiente a fim de garantir um fácil entendimento da parte
de todos os agentes da economia e minimizar os custos de fiscalização e
arrecadação.

Os tipos de impostos
Existem dois tipos de tributação, a direta e a indireta. Os impostos
indiretos incidem sobre os indivíduos e, em função disso, estão associados
à capacidade de pagamento do contribuinte. Os impostos indiretos inci-
dem sobre as atividades ou objetos, sejam eles o consumo, a venda ou a
propriedade. Pode-se dizer que os tributos incidem sobre a renda, sobre o
patrimônio e sobre o consumo.

Imposto de renda
Este é um imposto direto que incide sobre todas as remunerações
geradas no sistema econômico, sejam eles os salários, sejam eles os lu-
cros, os juros, os dividendos e os aluguéis. Pode incidir sobre a pessoa
física ou sobre a pessoa jurídica.
O imposto de renda tem uma característica progressiva, ou seja, o
indivíduo ou a empresa pagam uma alíquota proporcional ao seu ganho e,
à medida que aumentam o salário ou o lucro, paga-se mais.
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Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

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Pode-se dizer que esse imposto apresenta como vantagem basear-se


em uma medida abrangente da capacidade de pagamento e permitir uma
adaptação às características pessoais do contribuinte.

Imposto sobre o patrimônio


A característica desse imposto é tributar o patrimônio do contribuin-
te pelo simples fato da posse do ativo, como é o caso do Imposto Territo-
rial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA). Em
termos gerais, dizemos que a ideia desse imposto é a de que quem possui
mais, paga mais, ou seja, os mais ricos pagam um IPTU maior.

Imposto sobre as vendas


Esse tipo de imposto é considerado como indireto, pois incide sobre
as vendas de mercadorias e serviços. Pode ser classificado quanto à ampli-
tude de sua base de incidência, sobre o estágio do processo de produção
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e comercialização sobre o qual incide, e quanto à forma de apuração da


base para cálculo do imposto.

99
Fundamentos da Economia

4.3.4  Funções Econômicas


Podemos dizer que a ação do governo através da política fiscal
abrange três funções básicas: a função alocativa – que diz respeito ao for-
necimento de bens públicos –, a função distributiva – associada a ajustes
na distribuição de renda que permitam que a distribuição prevalecente
seja aquela considerada justa pela sociedade – e a função estabilizadora
– que tem como objetivo o uso da política econômica visando a um alto
nível de emprego, à estabilidade dos preços e à obtenção de uma taxa que
permita o crescimento econômico.

A função alocativa
Sabemos que o mercado por si só não é capaz de prover determi-
nados bens e serviços de modo que se torna importante a participação
do Estado. O fato de os benefícios gerados pelos bens públicos estarem
disponíveis para todos os consumidores faz com que não haja pagamentos
voluntários aos fornecedores desses bens. Assim sendo, perde-se o víncu-
lo entre produtores e consumidores, levando à necessidade de intervenção
do governo para garantir o fornecimento dos bens públicos.
Portanto, o governo deve determinar o tipo e a quantidade de bens
públicos a serem ofertados e calcular o nível se contribuição de cada con-
sumidor. Por não haver uma disponibilidade voluntária das pessoas em
pagar um valor justo pela quantidade do bem público e por haver outras
que se beneficiariam da situação sem pagar nada, há a necessidade de
tributar compulsoriamente a sociedade a fim de levantar recursos para o
provimento dos bens e serviços.

A função estabilizadora
No início deste capítulo, falamos da participação mais atuante do
governo na economia no sentido de interferir nas situações de monopólio
e oligopólio. É claro que a participação deste agente é muito mais ampla
do que essa.
Podemos dizer que a função estabilizadora está relacionada à inter-
venção do Estado na economia para alterar o comportamento dos níveis
de preços e emprego, dado que o pleno emprego e a estabilidade dos pre-
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ços não ocorrem de maneira automática. Tais intervenções são feitas por
meio de políticas fiscais, monetárias, cambiais, comerciais e de renda.

100
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

4.3.5  A função distributiva


Estudamos na microeconomia que a renda de um indivíduo ou de
uma família é proveniente do trabalho e da propriedade, sendo que a parte
mais importante é a proveniente do trabalho. Sabemos que a distribuição
da renda do trabalho depende da produtividade da mão de obra e da utili-
zação dos demais fatores de produção. Se deixarmos o mercado operar li-
vremente, teremos uma situação na qual a distribuição da renda dependerá
da produtividade de cada indivíduo.
A função do governo é atuar no sentido de um agente redistribuidor
da renda através do processo de tributação. Neste caso, ele tributa com
uma alíquota maior as maiores rendas e transfere os benefícios para os
indivíduos que têm menor renda. Um exemplo desse tipo de política é o
imposto de renda negativo utilizado em alguns países desenvolvidos que
implica uma transferência de renda para as pessoas que ganhem menos do
que um determinado nível mínimo de rendimentos.
Outra situação promovida pelo governo é que os recursos captados
pela tributação dos indivíduos de renda mais alta podem ser utilizados
para o financiamento de programas voltados para uma parcela da popula-
ção de baixa renda como o de construção de moradias populares.
Também existe a possibilidade de o governo taxar com alíquotas
mais altas os bens considerados de luxo ou supérfluos demandados por
indivíduos com rendas mais elevadas e cobrar alíquotas mais baixas de
produtos de primeira necessidade.

Atividades
01. Elabore um pequeno texto no qual seja possível identificar a maior ou
menor participação do Estado na economia ao longo dos séculos.
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02. Conceitue inflação de demanda.

101
Fundamentos da Economia

03. Discuta a seguinte afirmação: “a cobrança de impostos indiretos pe-


naliza as pessoas mais pobres”.

04. Explique as funções alocativa, distributiva e estabilizadora do Estado.

05. Explique os instrumentos de política econômica.

Reflexão
Os instrumentos de política econômica correspondem a ferramen-
tas que as autoridades de um país dispõem para a obtenção de objetivos
como o controle da inflação, o crescimento do PIB,a elevação do nível de
emprego, a melhor distribuição de renda, entre outros. Dentre estes instru-
mentos, a política fiscal e a política monetária se destacam pela frequência
em que são utilizadas, além da abrangência de seus resultados. Ainda que
as autoridades, ao fazerem usos dessas ferramentas, estejam objetivando
alterar variáveis macroeconômicas, inevitavelmente afetarão consumi-
dores individuais, famílias e empresas em suas decisões de consumo e
produção. Por exemplo, supondo que o governo deseje reduzir a taxa de
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inflação verificada para um determinado período, ele pode optar por ele-
var a taxa básica de juros da economia. No entanto, a partir do momento
em que eleva a taxa de juros, ele faz com que consumidores reduzam ou
deixem de realizar suas compras; quanto aos produtores, estes tendem
102
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

a reduzir o investimento, o que tende a elevar a taxa de desemprego da


economia. Pode-se perceber, por esse exemplo, que as autoridades mone-
tárias, constantemente, enfrentam um dilema, pois os objetivos de política
econômica são, em grande parte, conflitantes.

Leituras recomendadas
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução Allan Vidi-
gal Hastings. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

SOUZA, Nali Jesus de. Curso de economia. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2003.

Referências
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econômica.Barueri: Minha Editora: Manole, 2008.

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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL. World Economic Ou-


tlook: Sustaining the Recovery, Outubro 2009. Disponível em: <http://
www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2009/02>. Acesso em 9/1/2010.
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GREMAUD, Amaury Patrick et al; organizadores Diva Benevides Pi-


nho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de economia.
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Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/

103
Fundamentos da Economia

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INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Ipea-


data. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeada-
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MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações.


2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

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com.br/estadaodehoje/20100113/not_imp494692,0.php>. Acesso em
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PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVI-


MENTO. Disponível em: <http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2009_
PT_Complete.pdf>. Acesso em 10/1/2010.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo:


Best Seller, 1999.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, GAR-


CIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005.

VEJA. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/


impostos-carga-tributaria/contexto2_g2.html>. Acesso em 15/1/2010.

WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/


Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_igualdade_de_riqueza#cite_
note-3>. Acesso em 16/1/2010.
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104
Os Objetivos da Política Macroeconômica e o Papel do Estado na Economia. – Capítulo 4

No próximo capítulo
Os ofertantes e demandantes interagem no mercado, comercializan-
do bens e serviços, a fim de satisfazer suas necessidades. Essas interações
evoluíram e ultrapassaram fronteiras, tornando-se o comércio internacio-
nal. Todos os dias, em nossas vidas, consumimos produtos importados,
ou que possuem algum e seus componentes importado. Isso reflete a
interdependência que marca as relações comerciais entre os países atual-
mente. No próximo capítulo, veremos os motivos que levam os países a
comercializarem uns com os outros e a ideia que envolve a formação dos
blocos econômicos.
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105
Fundamentos da Economia

Minhas anotações:
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106
O Desenvolvimento
Econômico e a Integração
Internacional
5 Serão apresentadas algumas das principais teo-
lo
rias de comércio internacional e como estas teorias
influenciaram a política comercial ao longo dos sécu-
ít u

los e, consequentemente, o desenvolvimento dos países.

Objetivos da sua aprendizagem


Cap

Permitir que o aluno compreenda a importância do comércio


internacional e da formação de blocos econômicos como elemen-
to promotor do desenvolvimento.

Você se lembra?
Por que, atualmente, é praticamente impossível para um país viver em
autarquia, ou seja, fechado ao comércio internacional? Você sabe qual
a importância das exportações e importações para uma economia? Por
que os países se unem para formar blocos comerciais?
5.1  Comércio e desenvolvimento
5.1.1  Protecionismo e liberalismo comercial
Embora grande parte dos autores aponte o século XVIII como sendo
o mais provável para o surgimento da Economia moderna, com a publica-
ção de a Riqueza das Nações1, de Adam Smith, é durante o período mer-
cantilista que foram levantadas muitas questões relevantes no âmbito da
teoria e política econômica, como, por exemplo, a compreensão sobre a
origem da riqueza e, principalmente, sobre as formas de incrementá-la. É
importante, então, que se compreenda o conceito de riqueza vigente neste
período para, posteriormente, passar à compreensão das maneiras preco-
nizadas pelos teóricos para obtê-la, relacionando-as ao comércio entre os
países.
No que diz respeito ao conceito de riqueza, os mercantilistas estabe-
leciam uma associação direta entre a posse de metais preciosos e o enri-
quecimento de um país, já que viam na moeda um fator de produção que
deveria circular na economia2 . Além disso, a inexistência de teorias soli-
damente fundamentadas faz com que durante este período, o conceito de
riqueza esteja atrelado, principalmente, à capacidade de poder do Estado:
“O poder só podia ser exercido com o apoio de exércitos bem armados,
sustentados à custa de abundantes recursos” (CARVALHO e SILVA, p. 4,
2004). Segundo esses autores, um país que não possuísse metais preciosos
em quantidade significativa, estaria condenado a vender seus produtos
baratos outros pagando mais caro. Partindo dessa visão, procuram definir
estratégias para a obtenção de metais preciosos caso o país não os tivesse
em seu próprio território. Segundo Locke apud GONÇALVES (1998),
importante autor do período, para se obter dinheiro do estrangeiro há ape-
nas três caminhos: a força, o empréstimo ou o comércio, já que o dinheiro
não era algo que pudesse ser produzido pelo Estado, mas, sim, uma dádi-
va da natureza.
É neste ponto que devemos destacar a importância do comércio
internacional como uma ferramenta para a obtenção de riqueza: dado
que o enriquecimento de um país está, na visão mercantilista, relacio-

1 “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações” foi publicado em 1776 e é considerado
pela maioria dos autores como o marco da ciência econômica moderna.
2 Ao contrário da visão medieval, segundo a qual os metais preciosos deveriam ser entesourados (acumulados
e guardados) para serem utilizados em momentos de especial necessidade, como uma guerra, por exemplo,
para os mercantilistas, a importância da moeda estava na sua capacidade em atender à crescente necessidade
de moeda que se configurava em decorrência do aumento da atividade comercial.
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

nado à acumulação de metais precisos, um superávit comercial3 fará


com que um país receba mais metais preciosos do que envia ao exte-
rior, acumulando moeda e, portanto, se tornando mais rico. Partindo
desta concepção, é fácil compreender a postura protecionista do Esta-
do mercantilista, de forma que as políticas comerciais eram focadas no
aumento das exportações e redução das importações, a fim de proteger
a circulação monetária doméstica.
Esta visão foi contestada por inúmeros autores, sendo que David
Hume, em seu mecanismo do preço-fluxo em espécie de metais preciosos,
considera “impossível e indesejável” o superávit comercial persistente
defendido pelos mercantilistas: segundo este autor, um país com superávit
comercial vai acumular metais preciosos (moeda) e, consequentemente,
terá uma elevação no seu nível geral de preços (inflação), o que torna esse
país menos competitivo, causando uma redução nas suas exportações e
elevação das suas importações. Por outro lado, o país deficitário perderia
moeda, teria uma deflação, o que tornaria os seus produtos mais competi-
tivos, gerando o equilíbrio comercial.Tem-se, assim o início de uma nova
fase no que diz respeito ao tratamento que deveria ser dado ao comércio
internacional, passando-se a se advogar em defesa da liberdade comercial
entre os países, com destaque para autores como Adam Smith e David
Ricardo.

5.1.2  Teorias de comércio internacional: vantagem


absoluta e vantagem comparativa
Como visto, um dos primeiros autores a criticar severamente a polí-
tica protecionista mercantilista foi David Hume, no entanto, Adam Smith
é considerado o teórico mais importante no que diz respeito à defesa do
liberalismo econômico no funcionamento da economia como um todo
e, em particular, nas questões relacionadas ao comércio internacional.
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Segundo este autor, que também busca identificar os determinantes do


enriquecimento de uma nação, a riqueza está no lado real da economia, no
aumento da produtividade: se um país consegue produzir uma mercadoria
utilizando menos horas de trabalho que o seu concorrente, então será mais
competitivo e, portanto, terá vantagens na hora de vender o seu produto.
Porém, uma maior produtividade depende da chamada divisão do trabalho
3 A balança comercial corresponde à diferença entre as exportações e importações de um país. Para que o saldo
da balança comercial seja superavitário, o valor das exportações deve superar o valor das importações.

109
Fundamentos da Economia

ou especialização, segundo a qual, um trabalhador deverá se tornar mais


“hábil” na sua atividade e, portanto, mais produtivo, se for repetidamente
submetido à mesma tarefa. Desta forma, a divisão do trabalho gera um au-
mento da produtividade que, por sua vez, gera um excedente de produção
que deve ser trocado no mercado por aquele item não produzido por esta
economia, já que se parte do pressuposto de que cada país também deverá
se especializar para ser mais competitivo.
A partir deste argumento, pode-se perceber que para este autor, a
riqueza estará condicionada ao tamanho do mercado, visto que a especia-
lização e geração de excedente pressupõe um amplo mercado consumidor,
e, por outro lado, um mercado fornecedor daqueles bens não produzidos
internamente. Neste cenário, torna-se vital o livre comércio e, portanto, a
divisão internacional da produção a fim de se viabilizar o crescimento e
desenvolvimento econômico dos países. Em última instância, para Adam
Smith, a amplitude do mercado determinava o grau de especialização que
uma economia poderia alcançar, e, consequentemente, a sua produtivida-
de e riqueza.
A partir da defesa do livre comércio entre os países, os autores se
veem diante de uma nova questão: se há comércio e, portanto, especiali-
zação, em qual (ou quais) bem (bens) cada país deveria se especializar?
Surge, então, uma das primeiras teorias de comércio internacional, a te-
oria das vantagens absolutas de Adam Smith, segundo a qual, cada país
deveria se especializar na produção daquele bem que produz utilizando
um número menor de horas de trabalho relativamente aos outros países4.
Para a melhor compreensão desta teoria, vamos supor dois países: A
e B, e duas mercadorias X eY. Suponha ainda que a mão de obra (L) seja o
único fator de produção necessário à produção desses dois bens. A tabela
seguinte se refere ao número de horas necessárias à produção de cada bem
em cada país:
País
Bem A B
X 1 2
Y 4 3
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Tabela 5.1 – Número de horas necessárias à produção de cada bem em cada país

4 Segundo Adam Smith, um dos teóricos do valor trabalho, o valor de um bem está baseado no valor do trabalho
incorporado à sua produção, de forma que menos horas de trabalho resultam em um bem mais competitivo.

110
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

Verifica-se que o país A consegue produzir 1 unidade do bem X fa-


zendo uso de 1 hora de trabalho, enquanto o país B consegue produzir o
mesmo bem utilizando o dobro do número de horas de trabalho. No caso
do bem Y, o país A utiliza 4 horas para produzir 1 unidade deste bem, en-
quanto o país B faz uso de apenas 3 horas de mão de obra. Desta forma,
segundo Smith, o país A tem vantagem absoluta na produção do bem X
enquanto o país B possui vantagem absoluta na produção do bem Y, de-
vendo, cada um, se especializar na produção do respectivo bem e, então,
trocar o excedente no mercado internacional.
É importante destacar que para este autor, o comércio internacional
vai beneficiar as duas partes envolvidas no negócio, contrariando a visão
mercantilista segundo a qual o benefício de um país, via aumento de suas
exportações, se daria à custa da piora da situação do seu parceiro comer-
cial, que deveria estar importando. Ainda: se todos os governos de todos
os países buscassem maximizar suas exportações e minimizar suas impor-
tações, os países se fechariam de forma que inviabilizariam o comércio
internacional. Adam Smith, então, além de propor uma nova forma de
tratamento ao comércio internacional, estabelece uma relação entre esta
atividade e o aumento do bem-estar mundial: à medida que os bens fos-
sem produzidos em países que fazem uso de uma menor quantidade de
trabalho, na totalidade, mais bens poderiam ser produzidos e distribuídos
entre os países, o que geraria maior desenvolvimento global.
WIKIPEDIA
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David Ricardo: importante pensador inglês autor da Teoria das Vantagens Comparativas

Apesar da teoria das vantagens absolutas abrir um novo cenário em


termos de abordagem das questões relacionadas ao comércio internacio-
111
Fundamentos da Economia

nal, é possível perceber que alguns países poderiam ficar excluídos do


comércio internacional por não possuírem vantagem absoluta em nenhum
produto. Por exemplo, suponha os mesmos países e os mesmos bens ci-
tados anteriormente, mas com novas configurações em termos de número
de horas necessárias à produção desses bens, conforme tabela:
País
Bem A B
X 1 2
Y 3 4

Tabela 5.2 – Número de horas necessárias à produção de cada bem em cada país

Supondo um mundo simplificado no qual existam somente estas duas


economias, percebe-se que o país A possui vantagem absoluta na produção
dos dois bens, X e Y, comparativamente ao país B. Desta forma, não have-
ria interesse do país A em importar nada do país B, e, portanto, não existiria
comércio entre eles. Para preencher esta lacuna, e promovendo o desenvol-
vimento das teorias que defendem o livre comércio, David Ricardo enuncia
a teoria das vantagens comparativas, segundo a qual um país tem vantagem
comparativa na produção de um bem se possuir menor custo de oportunidade
na produção deste bem relativamente a outros países.

O custo de oportunidade de um bem A em termos de um bem B se refere ao


número de unidades deste último bem que se deixa de produzir quando se opta
pela produção adicional de uma unidade do bem A. Por exemplo, suponha que
um confeiteiro tenha de escolher entre a produção de bolos e tortas, sendo que a
produção de 1 torta leva 2 horas e a produção de 1 bolo leva 1 hora. Caso este tra-
balhador opte pela produção de 1 torta, estará deixando de produzir 2 unidades de
bolo, ou seja, o custo de oportunidade da torta corresponde às 2 unidades de bolo
não produzidas*. Este conceito é de fundamental importância para a economia, pois
esta ciência tem como seu principal objeto de estudo a escassez de recursos frente
a necessidades humanas potencialmente ilimitadas, de forma que uma boa aloca-
ção desses recursos deve se pautar em menores perdas, ou, usando a terminologia
ricardiana, em menores custos de oportunidade.
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* O custo de oportunidade do bem A em termos do bem B é calculado da seguinte forma: tempo necessário à produção de
1 unidade do bem A / tempo necessário à produção de 1 unidade do bem B. No exemplo, o custo de oportunidade da torta em
termos de bolo = 2/1 = 2.

112
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

Utilizando o exemplo anterior, verifica-se que caso o país A resolva


produzir 1 unidade adicional do bem X, terá de deixar de produzir 0,33
unidades de Y; no país B, a produção de 1 unidade do bem X exigiria um
sacrifício de 0,5 unidades de Y. Desta forma, verifica-se que o país A tem
vantagem comparativa na produção de X, pois possui um menor custo
de oportunidade na produção deste bem relativamente ao país B. Por ou-
tro lado, na produção adicional de 1 unidade do bem Y, o país A perde 3
unidades de X enquanto o país B perde 2 unidades, o que confere a este
último país a vantagem comparativa na produção do bem Y.
Nota-se uma diferença fundamental entre o modelo das vantagens
absolutas de Smith e o das vantagens comparativas de Ricardo: neste últi-
mo, mesmo países que não sejam eficientes na produção de nenhum bem,
ou seja, que não possuam vantagem absoluta, ainda assim estarão incluí-
dos no comércio internacional por possuírem menores custos relativos de
produção das mercadorias, de forma que qualquer país seria beneficiado
com o comércio bilateral, o que justifica a postura de que mais comércio é
sempre melhor que menos comércio.

O legado de Adam Smith e de David Ricardo


Há tempos os economistas entendiam o princípio da vantagem
comparativa. Eis o argumento do grande economista Adam Smith:
A máxima que todo chefe de família prudente deve seguir é
nunca tentar fazer em casa o que lhe custará mais caro fazer do que
comprar. O alfaiate não tenta fabricar seus sapatos, mas os compra do
sapateiro. O sapateiro não tenta confeccionar suas próprias roupas,
mas as compra do alfaiate. O fazendeiro não tenta fazer nem um nem
outro, mas se vale de artesãos. Todos constatam que é mais interes-
sante usar suas próprias capacidades naquilo que tem vantagem sobre
seus vizinhos e comprar, com parte do resultado de suas atividades,
ou, o que vema dar no mesmo, com o preço de parte delas aquilo de
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que venham precisar.


Essa citação é do livro de Adam Smith A Riqueza das Nações,
publicado em 1776 e considerado um marco na análise do comércio e
interdependência econômica.
O livro de Smith inspirou David Ricardo, um corretor de valores
milionário, a tornar-se economista. Em seu livro de 1817, Princípios
de Economia Política e Tributação, Ricardo desenvolveu o princípio

113
Fundamentos da Economia

da vantagem comparativa tal como hoje o conhecemos. Sua defesa


de livre comércio não foi um mero exercício acadêmico. Ele utilizou
suas teorias na qualidade de membro do Parlamento Britânico, em que
fez oposição às leis dos Cereais, que restringiam a importação destes.
As conclusões de Adam Smith e Ricardo sobre os ganhos de co-
mércio se sustentaram ao longo do tempo.
Embora os economistas muitas vezes divirjam em questões de
política econômica, estão unidos no apoio ao livre comércio. Ademais,
o argumento central em favor do livre comércio não mudou muito nos
dois últimos séculos. Embora o campo da economia tenha ampliado
seu alcance e as teorias tenham sido refinadas desde os tempos de
Smith e Ricardo, a oposição dos economistas às restrições ao comércio
ainda são baseadas, em grande parte, no princípio da vantagem com-
parativa.
MANKIW, 2007, p. 53

5.1.3  Teoria da deterioração dos termos de troca


Apesar da associação entre comércio internacional e desenvolvimento-
econômico exposta nas teorias clássicas de comércio internacional, a partir de
meados do século XX, começam a surgir fortes críticas a este modelo liberal
de comércio, sendo uma das principais a teoria da deterioração dos termos de
troca, também conhecida como crítica estruturalista ou cepalina.

“O estruturalismo é uma corrente teórica latino-americana que teve por origem os


trabalhos de Raul Prebisch, realizados na CEPAL. Esta procurava identificar as raízes
do subdesenvolvimento dos países latino-americanos e a forma de superação. Segundo
essa concepção, o subdesenvolvimento é decorrente da forma como se estruturam
essas economias. Atenta-se principalmente para o tipo de inserção internacional destas,
baseada no princípio das vantagens comparativas, que as levou à especialização na
produção e exportação de alguns poucos produtos primários. A superação desse pro-
blema se daria por meio da industrialização, a qual se daria de forma espontânea, mas
mediante forte participação do Estado” (GREMAUD, 2011).
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O entendimento desta teoria pressupõe, inicialmente, que se com-


preenda a expressão “termos de troca”, que corresponde à razão entre o
preço do bem que o país exporta (Px) e o preço do bem que o país importa
114
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

(Pm). Exemplificando: imagine que o país A ex-


porte soja a $ 5,00 a unidade e importe chip de Conexão:
celular a $ 10,00 a unidade. Neste caso, sim- Conheça um pouco mais
plificado, tem-se 5/10 = 0,5, o que significa sobre a CEPAL visitando sua
página: http://www.eclac.org/
que ao exportar 1 unidade de soja o país con- brasil/
segue importar 0,5 unidade de chip.
De acordo com a teoria, os países menos
desenvolvidos, exportadores de bens primários,
estariam em permanente desvantagem em participar
do comércio internacional com o grupo de países desenvolvidos, expor-
tadores de bens manufaturados, o que decorre da evolução desigual no
preço desses dois itens: com o passar do tempo, segundo os autores, há
uma redução no preço dos bens primários relativamente ao preço dos bens
manufaturados, o que reduz, ou deteriora, os termos de troca dos países
menos desenvolvidos, obrigando-os a exportar cada vez mais em troca da
mesma unidade do bem importado. Essa evolução desigual no preço dos
bens exportados e importados é explicada pelos cepalinos como sendo
uma consequência das diferentes elasticidades-renda5 da demanda desses
dois tipos de bens: à medida que a renda dos países aumenta, ocorre um
aumento na demanda por bens manufaturados maiores que na demanda
por bens primários, de forma que os bens manufaturados terão seus preços
elevados relativamente aos bens primários. Ou seja, o fato de os bens pri-
mários possuírem demanda menos sensível à variação na renda frente aos
bens manufaturados faz com que estes últimos fiquem relativamente mais
caros como o passar do tempo.
Apesar da crítica cepalina, teóricos, de maneira geral, contra-argu-
mentam que os ganhos do comércio internacional superam as possíveis
perdas. Dentre os benefícios deste comércio pode-se citar:
• diversidade de produtos: a população seria beneficiada com
uma maior variedade de produtos à sua disposição;
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• ganhos de eficiência: a concorrência estabelecida com o co-


mércio força as empresas a se tornarem mais eficientes em seus
custos e a aumentar a qualidade de seus produtos;
• ganhos de escala: o comércio internacional amplia os merca-
dos consumidores, de forma que as empresas podem produzir
em maiores escalas, o que reduz o custo médio do produto;
5 A elasticidade-renda da demanda corresponde à variação (%) na quantidade demandada de um bem para uma
dada variação (%) na renda do consumidor.

115
Fundamentos da Economia

• vantagens em processo de estabilização: em países com


problemas de inflação elevada, o comércio livre pode ser um
aliado na busca pela redução de preços à medida que aumenta a
competição entre as empresas.

5.2  Integração econômica e desenvolvimento


5.2.1  Fases da integração
Segundo GONÇALES (1998, p. 76):

a integração econômica pode ser definida como o processo de criação


de um mercado integrado, a partir da progressiva eliminação de barrei-
ras ao comércio, ao movimento de fatores de produção e da criação de
instituições que permitam a coordenação, ou unificação, de políticas
econômicas em uma região geográfica contígua ou não”. A partir desta
definição, pode-se perceber que o processo de integração visa, dentre
outros, o incremento do comércio entre os países ou entre um grupo
de países, de forma que esta possa contribuir para elevar a produção, o
consumo e, consequentemente, o bem-estar da sociedade.

Embora o termo integração econômica possa parecer algo novo, na


verdade, já era objetivado, no passado, ainda que via invasões ou conquistas.
Mais recentemente, ou a partir do século XX, a busca pela integração ganhou
configuração mais harmoniosa, sendo alcançada via acordos entre países com
interesses comuns, como é ocaso da União Europeia ou mesmo de projetos
menos consolidados, como o Mercosul. Antes de exemplificar esses casos de
integração econômica na sua forma mais moderna, cabe apresentaros diferen-
tes tipos de integração econômica, cuja classificação vai depender do maior
ou menor grau de interdependência entre os países envolvidos, conformedeta-
lha CARVALHO e SILVA (2004, p. 228):
• zona de livre comércio: neste tipo de integração, os países
eliminam as barreiras ao comércio, porém, mantém políticas
comerciais distintas;
• união aduaneira: além da eliminação das barreiras comerciais
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entre os países membros, ocorre também a unificação das polí-


ticas relativas ao comércio;
• mercado comum: a liberdade vai além do comércio de mer-
cadorias, alcançando, também, a movimentação dos fatores de
116
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

produção, como mão de obra, por exemplo; além de permane-


cer a homogeneidade das políticas comercias;
• união econômica: além das flexibilidades anteriores referentes
à livre movimentação de mercadorias e fatores de produção e
políticas comerciais uniformes, nesta fase da integração, tor-
nam-se uniformes, também, outras políticas econômicas;
• integração econômica total: neste último grau de integração,
além das características contempladas na união econômica,
estabelece-se a completa igualdade de condições entre todos os
agentes econômicos dos países membros.
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Fases da integração econômica


CARVALHO e SILVA (2004, p. 229)

117
Fundamentos da Economia

É importante lembrar que apesar da exposição didática sistematiza-


da das etapas de integração feita anteriormente, na prática, os países que
desejam firmar maior interdependência de suas economias não precisam,
necessariamente, seguir rigorosamente a ordem anteriormente apresenta-
da. Se um grupo de países se enquadra em um ou outro tipo vai depender
das características predominantes ou, ainda, este mesmo bloco pode estar
em uma fase, como a união aduaneira, por exemplo, mas objetiva alcançar
o mercado comum.

China, Japão e Coreia do Sul preparam área de livre comércio.

Os líderes de China, Japão e Coreia do Sul concordaram neste


domingo em iniciar este ano conversações para estabelecer uma área
de livre comércio para estimular a economia da região.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, disse que uma integra-
ção econômica regional mais estreita como resposta a uma lenta recu-
peração global e a um crescimento do protecionismo do comércio pode
liberar um novo potencial de crescimento.
“O nordeste asiático é a região mais dinâmica do mundo. Há ali
um grande potencial para que nossos três países tenham uma estreita
cooperação comercial e de investimentos”, afirmou. “A criação de uma
área de livre comércio liberará a vitalidade econômica de nossa região
e dará um impulso maior à integração econômica no Leste asiático”,
completou Wen.
As declarações de Wen foram feitas na capital chinesa depois de
ele reunir-se com o presidente sul-coreano Lee Myung-Bak e com o
primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda.
O poder aquisitivo conjunto de China, Japão e Coreia do Sul
representa a maior zona econômica do mundo, à frente da União Euro-
peia. Pelo volume de seu PIB, a China é a segunda economia do plane-
ta e o Japão a terceira.
Para o Japão, estas negociações sobre uma zona de livre comér-
cio se somam aos trâmites para que o país possa aderir à chamada As-
sociação Transpacífico (TPP), promovida pelo presidente americano,
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Barack Obama, e que pretende converter-se na maior zona de livre


comércio do mundo.

118
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

“Vamos promover em paralelo o TPP e este acordo de livre


comércio bilateral. Estes esforços serão mutuamente benéficos”, disse
o primeiro-ministro japonês.
O presidente sul-coreano, por sua vez, afirmou que quando a
economia está em crise, é preciso criar zonas de livre comércio com
urgência.
“Em tempos de crises, os países que tentam se proteger adotan-
do ideias protecionistas tornam mais lenta a recuperação econômica”,
afirmou.
Pequim, Tóquio e Seul – cujas economias dependem em grande
medida de suas exportações – querem reforçar o comércio da região,
para resistir à diminuição da demanda de seus principais clientes na
Europa e América do Norte.
No encontro deste domingo, os dirigentes dos três países também
firmaram um acordo de investimentos concluído após 13 sessões de
negociações que se prolongaram durante cinco anos.
<http://veja.abril.com.br/noticia/economia/china-japao-e-
coreia-do-sul-preparam-area-de-livre-comercio>

Quando se fala em integração econômica, é importante destacar que


este movimento pode objetivar:
• a exploração das vantagens comparativas de cada país via
maior liberalização comercial e, consequentemente, a busca da
especialização;
• o estabelecimento de políticas protecionistas.
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Integração econômica no mundo

119
Fundamentos da Economia

No primeiro caso, a integração ou maior interdependência entre os


países está totalmente fundamentada na teoria clássica de comércio inter-
nacional, de forma que tal processo deve visar ao incremento do comércio
entre os países, elevando a produção, o consumo e, consequentemente,
o bem-estar da sociedade. Posteriormente, vários teóricos passaram a
defender a liberalização comercial mesmo que para um grupo de países,
em detrimento de outros, argumentando a favor da formação dos blocos
econômicos. No entanto, apesar desta defesa teórica pelo aumento do
comércio internacional ainda que discriminatória e restrita a um conjunto
de países, o comércio intra-bloco, é importante destacar que o processo
de integração sob esta configuração tem sido entendido mais como uma
forma de protecionismo desenvolvimentista. OZollverein, por exemplo,
acordo datado de 1834, foi assinado entre vários estados da Alemanha com o
objetivo de promover maior liberdade comercial entre os estados-membros e,
consequentemente, maior desenvolvimento. Neste sentido, podemos tam-
bém destacar a experiência de integração latino-americana que, influen-
ciada pela CEPAL (Comissão econômica para América Latina e Caribe),
estimulou a maior liberdade de comércio entre os países membros em
detrimento do comércio multilateral, a exemplo da ALALC (Associação
Latino-Americana de Livre Comércio), acordo firmado em 1960, e ALA-
DI (Associação Latino-Americana de Integração), de 1980, movimentos
precursores da integração regional na América Latina.

5.2.2  Blocos econômicos


5.2.2.1  O início da integração latino-americana: ALALC e
ALADI
Influenciados pelos pensadores cepalinos, a partir da segunda me-
tade do século XX, os países da América Latina passaram a buscar a
integração econômica visando ao desenvolvimento desta região. Assim,
vários países da América latina6 assinaram, nos anos de 1960, o Tratado
de Montevidéu, originado a ALALC (Associação Latino-americana de
Livre Comércio).
De acordo com CARVALHO E SILVA (2004, p. 234), as vantagens
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desta estratégia de integração eram:

6 Além do Brasil, assinaram o tratado de Montevidéu: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México,
Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

120
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

• maior aproveitamento das vantagens comparativas


regionais:cada país deveria se especializa naquele bem em que
possui menor custo unitário dado que entre o grupo de países
vigora o livre comércio, ao mesmo tempo em que a indústria
latino-americana estaria protegida da concorrência de outros
países;
• criação de economias de escala: a união aduaneira permite que,
através da ampliação do mercado, as empresas possam produ-
zir em maiores escalas, o que pode significar maior eficiência;
• maior variedade de produtos: se o mercado é pequeno, dificil-
mente as empresas conseguem fornecer uma grande diversi-
dade de produtos, porém, à medida que se estabelece a união
aduaneira, tem-se uma maior variedade de produtos e menores
preços;
• maior concorrência intra-regional: quanto maior o mercado,
maior é a concorrência estabelecida entre os ofertantes, o que
melhora a alocação de recursos, aumenta a competitividade e
reduz o preço.

Economia de escala: produção de bens em larga escala, com vistas a uma consi-
derável redução nos custos. Também chamadas de economias internas, as economias
de escala resultam da racionalização intensiva da atividade produtiva [...]. Representada
fisicamente por gigantescas unidades de produção, as empresas de economia de escala
possibilitam o emprego de amplo contingente de mão de obra altamente qualificada,
grande capacidade de estocagem de produção e de matérias-primas. Seu elevado grau
de especialização garante melhores processos e métodos de controle de qualidade da
produção e maior uniformidade na padronização dos produtos. Além disso, os recursos
colocados à sua disposição possibilitam maiores investimentos na pesquisa e na criação
de novos produtos, além da elaboração de eficientes campanhas publicitárias e sólidas
estratégias de marketing (SANDRONI, 1999, p. 190).
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Segundo MAIA (2004, p. 195) e CARVALHO e SILVA (2004, p.


235), a ALALC não obteve sucesso devido a fatores como:
• instabilidades políticas dos países componentes;
• instabilidade monetária;
• rejeição política à integração, que era vista por alguns países
como perda de soberania;
121
Fundamentos da Economia

• falta de autoridade supranacional que pudesse fazer cumprir as


regras preestabelecidas;
• heterogeneidade dos países-membros;
• troca de produtos quase que exclusivamente primários;
• longas distâncias;
• atraso tecnológico;
• falta de transporte e dificuldade de comunicação.

Em substituição à ALALC7 , nos anos de 1980, foi instituída a ALA-


DI (Associação Latino-Americana de Integração), cujo objetivo era, no
longo prazo, estabelecer um mercado comum latino-americano, através da
chamada política de preferência tarifária regional, segundo a qual todas as
barreiras alfandegárias, e não apenas as tarifas, devem ser menores entre
os países da região relativamente aos países não membros.
Os países foram divididos em grupos e classificados como:
• menos desenvolvidos: Bolívia, Equador e Paraguai;
• intermediários: Chile, Colômbia, Cuba, Peru, Uruguai e Vene-
zuela;
• mais desenvolvidos: Argentina, Brasil e México.

Esta divisão foi estabelecida uma vez que se entende que o referido
grupo de países possui significativas diferenças
entre seus membros, de forma que os mais avan- Conexão:
çados devem conceder maior redução tarifária Quem quiser conhecer
mais sobre a ALADI, bem
relativamente aos menos avançados. Além
como comércio entre países-
disso, A ALADI, ao contrário da ALALC, -membros, história, políticas
também permite a realização de acordos de de comércio etc. visite<http://
www.aladi.org/>.
alcance regional. A exemplo do que ocorre
com o estabelecimento do Mercosul (Mercado
Comum do Sul).
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7 Além dos já citados países que compunham a ALALC, a ALADI incluiu também Cuba. Posteriormente, Panamá
(2012) passou a fazer parte da ALADI e, atualmente, a Nicaraguá procura cumprir as condições para se tornar
um país-mebro.

122
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

5.2.2.2  O Mercosul

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi instituído pelo trata-


do de Assunção, assinado em 1991 entre Argentina, Brasil, Paraguai e
Uruguai8 , como o objetivo de, inicialmente, compor uma zona de livre
comércio, para, posteriormente, formar um mercado comum, objetivando
a substituição de quatro mercados independentes por um mercado único,
integrado, permitindo aos países-membros usufruírem de economias de
escala e dos ganhos do livre comércio. Conforme citado anteriormente, o
Mercosul é previsto dentro da ALADI no âmbito dos acordos de alcance
regionais.
Dentre os principais objetivos do Mercosul, destacam-se:
• livre circulação de mercadorias e serviços: através da elimi-
nação de barreiras alfandegárias para as mercadorias fabricadas
dentro do Mercosul;
• estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC): cabe
aos países-membros o estabelecimento de uma tarifa alfande-
gária única para os países que não compõem o bloco;
• coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais: mo-
netária, cambial, agrícola, de comércio exterior etc.;
• compromisso dos estados-partes em harmonizar as legisla-
ções dos países: a fim de facilitar a consolidação do processo
de integração;
• livre circulação de fatores de produção: a mão de obra, por
exemplo, deve poder circular livremente dentro dos países-
-membros, além de desfrutar de direitos civis e trabalhistas
iguais aos dos trabalhadores domésticos.

O Mercosul responde por 71,8% (12.789.558 km²) do território


da América do Sul, possui cerca de 3 vezes a área da União Europeia
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e, quanto à população, corresponde a 69,78% da população da América


do Sul. O PIB conjunto dos países do Mercosul, em termos nominais,
alcançou, em 2011, US$ 3,32 trilhões, colocando este bloco como quinta

8 Posteriormente, outros países aderiram ao Mercosul, não como países-membros mas como países associados,
o que os permite integrar a área de livre comércio, porém, não são obrigados a adotarem a tarifa externa comum
(TEC) ao mesmo tempo em que não tem direito a voto. São eles: Chile, Bolívia, Peru, Venezuela e CAN
(Comunidade das Nações Andinas), que, além de Chile, Bolívia, Peru e Venezuela, já associados ao Mercosul,
é formada também por Equador e Colômbia.

123
Fundamentos da Economia

posição na economia mundial se fosse considerado como um único país,


conforme tabela que segue:
País PIB (US$ milhões)
1. Estados Unidos 15.094.025
2. China 7.298.147
3. Japão 5.869.471
4. Alemanha 3.577.031
Mercosul 3.324.501
5. França 2.776.324
6. Brasil 2.492.908
7. Reino Unido 2.417.570
8. Itália 2.198.730
9. Canadá 1.736.869
10. Índia 1.676.143

Tabela 5.3 – PIB por países/bloco


WEO /FMI apudhttp://www.mercosul.gov.br/dados-gerais apud

De 1990 a 1998, o comércio intra-zona do Mercosul apresentou


desempenhou favorável, saltando de US$ 4126 milhões para US$ 20359
milhões . Em 2011, os dados do comércio intra-zona apontam para US$
62.694 milhões, conforme tabela. Apesar do crescimento deste comércio
e da importância da economia do Mercosul, considerada no seu conjunto,
a consolidação deste bloco como mercado comum está longe de ser al-
cançada. Dentre os principais fatores que dificultam a consecução deste
mercado comum, destacam-se as grandes diferenças existentes entre os
países-membros e, principalmente, as instabilidades econômicas. A partir
de 1999, por exemplo, os principais países-membros deste bloco, Brasil
e Argentina, entraram em crise econômica. Naquele 1º país, o abandono
de uma taxa de câmbio fixa causou uma grande desvalorização da moeda
doméstica, o real (R$), fato que tornou os produtos brasileiros mais com-
petitivos, evidenciando vários problemas nos parceiros comerciais, em
particular a Argentina, país, aliás, que já sinalizava a iminência de uma
forte crise em virtude de uma moeda artificialmente valorizada, há uma
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década, e um sistema industrial pouco competitivo, não modernizado.


O efeito surgiu em cadeia, sendo que Uruguai e Paraguai também foram
afetados, sendo que, nesta última economia, o alcance da crise foi em vir-
tude dos sucessivos problemas no seu sistema financeiro. Neste cenário,
124
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

aplicam-se as chamadas salvaguardas, elevando-se as restrições às impor-


tações, mesmo de bens e serviços comercializados intra-bloco. O Brasil,
por exemplo, foi muito prejudicado em suas exportações de automóveis,
aço, calçados e têxteis. Além disso, as discussões em prol da construção
de uma área de livre comércio das Américas (ALCA), muitas vezes, con-
tribui para enfraquecer o comércio dentro do Mercosul. Segundo GON-
ÇALVES (1998, p. 107): “o desenvolvimento futuro do Mercosul foi mar-
cado por essa contradição: avançado em alguns aspectos, pretensioso em
seus objetivos, mas com problemas de coordenação de política econômica
e com indefinição em áreas importantes, como é o caso da lista de exceção
da tarifa externa comum” 9.
País 2007 2008 2009 2010 2011
Argentina 13629 17543 14876 18559 22577
Brasil 22078 26887 19439 26455 32444
Paraguai 1386 2392 1650 2303 2908
Uruguai 1353 1840 1723 2415 2726
Venezuela 1123 1548 1443 1703 2039
Mercosul 39569 50210 39131 51435 62694

Tabela 5.4 – Exportações intra-bloco (2007-2011 – US$ milhões)


<http://alicewebmercosul.desenvolvimento.gov.brapudhttp://
www.mercosul.gov.br/dados-gerais>

Conexão:
Leia a entrevista de Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, e entenda que estra-
tégias faltam para o Brasil aumentar seus parceiros comerciais.
<http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/03/broberto-azevedob-o-brasil-nao-
pode-se-confinar-america-do-sul.html>
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9 Nas discussões a respeito da TEC, o problema central residia no diferente nível de industrialização de cada
país-membro: por exemplo, para o Brasil, que tem um parque industrial mais consolidado, essa tarifa deveria
ser mais elevada frente à importação de uma máquina, a fim de proteger a indústria local; porém, países
com parques menos desenvolvidos, deveriam ter alíquotas menores. Diante das inúmeras objeções ao
estabelecimento da TEC, criou-se uma “lista de exceções”.

125
Fundamentos da Economia

5.2.2.3  A União Europeia

De todos os blocos existentes, o mais abrangente e consolidado é


a União Europeia, cuja origem remonta, em 1948, à união aduaneira co-
nhecida como Benelux10 que, em 1951, pelo tratado de Paris, dá lugar à
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Inicialmente, o obje-
tivo era uma fusão de interesses comerciais com a eliminação de barreiras
alfandegárias entre os países-membros e o estabelecimento de uma tarifa
aduaneira comum aos países não participantes. Posteriormente, a CECA
foi substituída pelo Mercado Comum Europeu, pela Comunidade Eco-
nômica Europeia e, atualmente, constitui a União Europeia, instituída em
1993, através da assinatura do Tratado de Maastricht. Atualmente, é com-
posta pela união de 28 países11 que possuem instituições supranacionais
independentes, a saber: o Parlamento Europeu, O Conselho da União Eu-
ropeia, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas
e o Banco Central Europeu.
Existe um mercado comum que possui um sistema padronizado de
leis que se aplicam a todos os Estados-membros. As políticas da União
Europeia visam assegurar a livre circulação de pessoas, mercadorias, ser-
viços e capitais, além de estabelecer políticas comuns de comércio, agri-
cultura, desenvolvimento regional, dentre outras. Para alguns países, foi
instituída a Zona Euro, a união monetária, criada em 1999, e é atualmente
composta por 18 Estados-membros. Com uma população total de mais
de 500 milhões de pessoas, o que representa 7,3% da população mundial,
a UE gerou um produto interno bruto (PIB) de 12,2 mil milhões de eu-
ros, em 2010, o que representa cerca de 20% do PIB global (Disponível
em::<http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia>).

UE e Mercosul correm com acordo para liberar 90% do


comércio
(...)
Receio europeu
Do lado europeu, a grande resistência ao avanço das negociações
provém principalmente do agronegócio francês e irlandês. Bernard
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Lannes, presidente da Coordenação Rural (CR) (segundo maior


10 Composta por Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
11 Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia,
FinLândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos,
Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia.

126
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

sindicato agrícola da França), reclama do silêncio da Comissão


Europeia em torno à retomada de negociações com os Estados Unidos
e com o Mercosul. “O Brasil, gigante agroalimentar, e a Argentina,
terão tudo a ganhar com tal acordo”, exalta em artigo publicado nesta
quinta-feira. “Esses países não tem sequer as mesmas normas que a UE
em matéria de utilização de pesticidas e de organismos geneticamente
modificados (OGM)”, protesta.
Já os irlandeses manifestaram preocupação com o possível au-
mento da importação de carnes do Mercosul. Para a Associação de
Fazendeiros Irlandeses (Ifa), o acordo de livre comércio fechado entre
UE e Canadá em outubro do ano passado já prejudicou muito o setor
agrícola europeu e não deveria se repetir com EUA e a América do Sul.
Sobre o Brasil, o secretário geral da Ifa, Pat Smith, ressalta que o preço
da carne brasileira é 50% menor do que na Europa.
Por outro lado, as associações baseadas em Bruxelas para coope-
ração internacional apresentam a mesma face da moeda com mais oti-
mismo. “O setor agroalimentar brasileiro é muito competitivo e poderá
permitir um comércio mais equilibrado entre os blocos. As exportações
da UE estão concentradas em produtos de maior valor como azeite,
vinhos, malte e outras bebidas. Com o possível acordo, os produtos
agroalimentares da UE também terão mais cota de mercado brasileiro e
por consequência do Mercosul”, afirma o presidente da EUBrasil.
Arnaldo Abruzzini, secretário-geral da Eurochambres, associa-
ção de comércio que reúne cerca de 20 milhões de empresas na UE,
também pondera que existe complementaridade e que ambos os blo-
cos devem buscar uma situação em que todos ganham. “Ao considerar
que a UE recentemente conseguiu reformar internamente sua Política
Agrícola Comum (Pac), fico confiante de que a Europa também pode
avançar deste lado das negociações (com o Mercosul)”, conclui.
Prestes a terminar o mandato de comissário europeu de Comér-
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cio, De Gucht também defende a continuidade da abertura do comércio


internacional sobretudo em tempos de crise. “Nenhum país nunca se
desenvolveu com fronteiras fechadas: economias abertas crescem mais
rapidamente e tornam-se mais competitivas. Especialmente em tempos
de crescimento lento em casa e as políticas orçamentais rigorosas, o
comércio é uma maneira muito eficiente em termos de custo para im-
pulsionar o crescimento”, argumenta.

127
Fundamentos da Economia

Fim do Mercosul?
Dentro do Brasil, uma das maiores críticas ao avanço das nego-
ciações com a UE veio do ex-alto representante-geral do Mercosul, o
embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que vaticinou em artigo pu-
blicado em abril que um acordo entre a UE e o Mercosul seria o “início
do fim” do bloco do cone sul. Entre vários pontos, ele indica que como
a tarifa média de 4% para produtos industriais na UE é muito mais
baixa do que a tarifa média aplicada no Mercosul, de cerca de 12%, a
União Europeia teria, no caso de uma eliminação recíproca de 90% das
tarifas, uma vantagem muito maior do que o Brasil. “E o atual déficit
brasileiro no comércio de produtos industriais com a Europa, que já é
significativo e crônico, se agravaria ainda mais, mesmo com o período
de desgravação de quinze anos”, opinou.
Disponível em: <http://www.jb.com.br/economia/noticias/2014/05/17/
ue-e-mercosul-correm-com-acordo-para-liberar-90-do-comercio/>

Atividades
01. Explique porque os mercantilistas defendiam o protecionismo comercial.

02. A tabela abaixo se refere ao número de horas necessárias à produção


de bananas e maças nos países X e Y:
País
Bem Brasil Argentina
Banana 2 3
Maça 4 5

03. No que consiste a teoria da deterioração dos termos de troca?


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O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

04. Quais são as fases de integração econômica entre os países? Explique


cada uma delas.

05. Pesquise: quais as principais dificuldades para a consolidação do Mer-


cosul?

Reflexão
O comércio internacional sempre foi objeto de discussão entre os
teóricos sendo, quase sempre, apontado como um determinante direto ou
indireto da riqueza dos países. Por essa razão, à medida que a teoria eco-
nômica evoluía, muitos foram os autores que passaram a defender o livre
comércio, como é o caso de Adam Smith e David Ricardo. Desta forma,
a redução de barreiras aduaneiras, tarifárias ou não, passaram a ser per-
cebidas como a melhor opção por boa parte das economias, balizando a
política econômica ao longo de quase dois séculos.
Diante da impossibilidade da redução multilateral das barreiras
mencionadas, muitos autores passaram a defender o livre comércio entre
um grupo de países, via formação de blocos, de forma que este instrumen-
to passava a servir como uma segunda melhor opção. No entanto, outro
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grupo de autores via neste incremento de comércio via da integração re-


gional um importante mecanismo de desenvolvimento destas economias à
medida que o comércio intra-bloco permitia, ao mesmo tempo: a explora-
ção das vantagens comparativas dos países-membros; os ganhos de escala
decorrentes da ampliação dos mercados e, ainda, a defesa das indústrias
nascentes destes países, que ficariam em desvantagem ao concorrerem
com as indústrias já estabelecidas dos países mais desenvolvidos.

129
Fundamentos da Economia

Desta forma, a integração dos países via formação de bloco passa


a ser vista, por muitos autores, não como um fracasso do liberalismo co-
mercial multilateral, mas, sim, como uma continuidade deste processo,
uma nova etapa da reforma política comercial atual. Neste contexto, se
enquadra a integração da América Latina, em particular, a constituição e
consolidação do Mercosul.

Leituras recomendadas
Acordos do Mercosul com terceiros países. Disponível em:<http://
www.eclac.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/publicaciones/sinsigla/
xml/3/42513/P42513.xml&xsl=/brasil/tpl/p10f.xsl&base=/brasil/tpl/top-
bottom.xsl>

Referências bibliográficas
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Economia internacional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

CHEREM, Monica Teresa Costa Sousa; Di SENA JR., Roberto. Co-


mércio internacional e desenvolvimento: uma perspectiva brasileira.
São Paulo: Saraiva: 2004.

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perspectiva brasileira. Reinaldo Gonçalves et al. Rio de Janeiro: Cam-
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GREMAUD, A. P. Economia brasileira contemporânea. Amaury Pa-


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MAIA, Jayme de Mariz. Economia internacional e comércio exte-


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MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Thomson


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mai. 2014.

130
O Desenvolvimento Econômico e a Integração Internacional – Capítulo 5

REVISTA VEJA. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/eco-


nomia/china-japao-e-coreia-do-sul-preparam-area-de-livre-comercio>.
Acesso em: 16 mai. 2014.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo:


Best Seller, 1999.
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