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Introdução
A sociedade na qual vivemos, tem sido marcada por um processo de
desumanização em que as estruturas são mais importantes que as pessoas, o poder
aquisitivo maior que o diálogo que negocia, e pela corrupção que está estabelecida
como a superação da honestidade. Neste contexto, entendendo que “[...] educar é o
processo de constituição e de reconstituição criativa de si e do mundo social com quem
convive o ser humano” (THERRIEN,2010,p.6); em contraponto, a educação
formalizada se tornou um mecanismo de cerceamento social fazendo como que na
sociedade capitalista subsista em tom de retroalimentação de classes estratificadas: a
miséria e alienação dos dominados e o poder e a iluminação dos dominadores. Por
assim dizer, concluímos que é através da prática didático-pedagógica materializada nas
instituições formativas que percebemos se a educação proposta é para consolidar a
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Ideias e autores
Inicialmente, faz-se necessário pontuar o aporte teórico que nos permitirá olhar a
realidade empírica, objeto de nossa análise neste artigo. Sendo assim, fazendo jus ao
nosso tema, discutiremos as ideias e autores a fim de delinear o arcabouço teórico da
pesquisa, na busca de “cercar” nosso objeto de investigação e fundamentar a análise
empírica.
Em primeiro lugar, compreendemos que historicamente a Didática nasce com
Comenius (1593-1670), que segundo Suchodolski (1984, p. 31), foi o “criador de um
sistema pedagógico dependente da natureza”, trazendo transformações relevantes para
os “programas e métodos de ensino”. Assim, entendemos que “enquanto área da
pedagogia a didática tem no ensino seu objeto de investigação. [...] As novas
possibilidades da didática estão emergindo das investigações sobre o ensino enquanto
prática social viva” (PIMENTA,2008,p.53 – grifos do autor).
Neste sentido, temos ciência de que toda prática didática não pode ser neutra
(FREIRE,1996), mas está carregada de uma postura epistemológica e de uma
racionalidade que a configura. Logo, “o foco epistemológico possibilita à didática novos
vôos, se interrogando sobre a ordem e as maneiras de ensinar” (PIMENTA,2008,p.57).
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Tal racionalidade científica que define uma postura epistemológica, ou seja, a visão de
ciência que um professor constitui; na perspectiva de Therrien (2012), uma
“racionalidade pedagógica”, de forma que:
A racionalidade que fundamenta o campo pedagógico requer a
intersubjetividade de um movimento de coletividade em que a
comunicação busca a construção do entendimento intersubjetivo pela
dialogicidade, pela argumentação na busca de consensos, na
convergência de sentidos e significados, enfim, da sociabilidade. A
racionalidade pedagógica integra uma gama de fatores diversos que
incluem desde hábitos e elementos afetivos até elementos da razão
instrumental/normativa, tendo como matriz fundante a razão
comunicativa, interativa e argumentativa (p. 121).
Sendo assim, de um lado, podemos inferir que um professor que sustenta sua
prática numa racionalidade instrumental/normativa, pautará seu trabalho na visão linear
e fragmentada da Ciência, e por consequência, estabelecerá uma relação pedagógica
vertical fundada no monólogo com os alunos. Por outro lado, uma prática docente
ancorada na racionalidade comunicativa, interativa e comunicativa, será construída na
relação de totalidade integrativa do conhecimento, e, por conseguinte, sua atuação junto
aos alunos será mediada pelo diálogo intersubjetivo e multirreferencial. Dessa forma,
em síntese,
A racionalidade instrumental deve ficar restrita ao âmbito da
integração sistêmica. Já a racionalidade comunicativa, que se
encontra encarnada nos processos de reprodução simbólica do mundo
da vida, deve prevalecer no âmbito da integração social
(BOUFLEUER,2001,p.16 – grifos nossos).
Podemos dizer, portanto, que “a natureza de uma determinada área do saber, por
sua vez, determina o método de ensinar” (PIMENTA,2008,p.54). Dessa forma, é a
natureza do objeto cognoscível quem determina a mediação didática do educador junto
aos sujeitos cognoscentes. Sendo a Didática a teorização dos fenômenos da prática
docente, “[...] ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua produção ou a sua construção” (p.22) – (Grifo do autor) e “aprender para nós é
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem nenhuma abertura
ao risco e à aventura do espírito (p.69)” – (Grifos do autor).
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Por fim, defendemos neste trabalho que a Didática, como objeto da Pedagogia e
das Ciências da Educação, é constitutiva da relação teoria e prática que visa dar conta
dos fenômenos do ensinar e do aprender. Assim, tal postura didática é oriunda de uma
cosmovisão epistemológica que está embasada numa racionalidade que a estrutura e
define uma proposta educacional nos cursos de Licenciatura. Dessa forma, acreditamos
numa Docência no Ensino Superior que se desenha no horizonte da pluralidade e
multirreferencialidade dos saberes, na perspectiva contínua da (re)construção do eu
(existenciais) mediado pelo outro (sociais) no e pelo trabalho profissional docente
(prática).
A caracterização da pesquisa
Compreendendo que toda metodologia é resultante de uma concepção
epistemológica, podemos caracterizar essa pesquisa apresentando inicialmente o lócus
de acesso aos dados, os caminhos utilizados para apreendê-los e as etapas do seu
desenvolvimento.
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Achados da Pergunta 1
Em relação à Pergunta 1, „o lugar e a importância da Didática no Ensino
Superior nas licenciaturas’, nossos achados apontaram que a Didática tem um lugar de
importância na Educação Superior, pois é a expressão prática do posicionamento teórico
do professor, possibilitando a criticidade, fomentando “modelos” e “influências” para a
docência, vislumbrando caminhos para que o educando na Universidade tenha uma
aprendizagem significativa.
Sendo assim, em primeiro lugar, o resultado da análise dos dados nos mostrou
que a Prática Didático-Pedagógica de um professor carrega dentro de si, consciente ou
inconscientemente, uma teoria que a sustenta. Nesse aspecto, um aluno nos deixa claro
que ela “tem lugar de grande importância, pois a didática utilizada determina o
posicionamento defendido pelo professor e sua práxis educativa” (Licenciando 1). O
posicionamento do educador não é meramente uma teoria vazia em sua prática
pedagógica, mas configura uma maneira de ser e fazer o trabalho docente: “a didática é
muito relevante, pois demonstra a metodologia adotada pelo professor e sua linha
teórica [...]” (Licenciando 3). A didática de um docente, portanto, é a materialização de
sua racionalidade teórica, constituindo assim um modus operandi, pois quem ensina,
ensina algo a alguém com um objetivo. Dessa forma, um dos participantes explicita:
“acredito que a didática é um dos principais pilares do aprendizado, pois se não houver
nenhum método, ou estratégia, será difícil atingir algum objetivo” (Licenciando 12).
Posto isso, não é possível pensar numa docência na academia ainda assentada
numa racionalidade técnica (BOUFLEUER,2001) que ainda defenda que quem sabe,
sabe ensinar. Ademais, a Didática não é mera disciplina instrumental, mas um ramo da
Pedagogia, Ciência da Educação (PIMENTA,2008; FRANCO,2003), que teoriza sobre
o ensino, tendo em vista a não dicotomização das dimensões técnica e política do fazer
docente. Em síntese, mediante a necessidade dessa postura, verificamos na fala um dos
alunos que “[...] a didática precisa ser a base da docência. O professor precisa saber
planejar e dar uma boa aula e isso para mim é didática e falta muito essa concepção
didática na Universidade” (Licenciando 4).
Em segundo lugar, a didática permite ao professor mediar processos que
aproximam a relação professor-aluno-conhecimento na direção da educação
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Achados da Pergunta 2
Os achados a partir da Pergunta 2, „os saberes necessários para a Docência no
Ensino Superior tendo em vista a (re)significação do fazer docente nos cursos de
licenciatura’, demonstraram que a docência superior precisa transitar pelos saberes de
mediação pedagógica baseada na dialogicidade, no reconhecimento do erro, na
identificação com a docência, no saber experiencial, na pesquisa, no conhecimento
profundo das disciplinas e nas práticas professorais centradas na ética profissional.
Dessa forma, nosso estudo reconhece o que encontramos na literatura, pois “o saber dos
professores é plural e também temporal, uma vez que, [...] é adquirido no contexto de
uma história de vida e de uma carreira profissional” (TARDIF,2002 ,p.19-20).
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educacionais, bem como uma postura ética e profissional diante da opinião dos alunos,
mantendo o respeito mútuo” (Licenciando 7). Assim, a docência superior deveria se
fundar nos saberes disciplinares, profissionais, curriculares e de experiência
(TARDIF,2002), de tal forma que todos eles sejam permeados pela ética profissional.
Portanto, “o preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua
retidão ética” (FREIRE,1996,p.16). Tal postura docente na academia permite ao
educador a ética que é exatamente a medida de coerência entre o seu falar e fazer ao
ensinar uma Ciência na Universidade. Em suma, o educador ao mediar o processo de
aprendizagem, para além de ensinar o que sabe, ensina se si mesmo quando é ético
consigo, com seus educandos e com a seriedade da sua profissão.
Conclusões preliminares
Diante do que o estudo permitiu destacar, é possível fazer algumas inferências
sobre os achados deste trabalho quanto aos limites e as possibilidades da Didática do
Ensino Superior na voz de licenciandos do curso de Pedagogia da UECE, tendo em
vista a (re)significação do fazer docente na Universidade. Entendemos que a análise não
esgota o assunto e não pode ser generalizada para a realidade de todos os cursos de
Licenciatura no Brasil, mas nossa reflexão aponta caminhos que dialeticamente se
encontram no vértice de suas possibilidades e seus limites.
Em primeiro lugar, o Curso de Pedagogia da UECE, campus Itaperi, apresenta
um corpo docente com larga envergadura de formação e produção científica. Contudo,
segundo os relatos dos alunos, é preciso que se construam debates em torno da reflexão
sobre a prática pedagógica dos professores do curso, na busca de um projeto de
formação continuada sobre os saberes da Docência no Ensino Superior. Esta
investigação faz-nos voltar para a necessidade de reflexão epistemológica sobre a
racionalidade pedagógica que orienta o fazer docente dos professores do Curso de
Pedagogia, à luz da prática que vêem desenvolvendo em suas aulas, grupos de pesquisa
e produções científicas. Isso porque a Didática de um professor é a expressão prática de
seu posicionamento teórico, possibilitando à criticidade, fomentando “modelos” e
“influências” para a docência, vislumbrando caminhos para que o educando na
Universidade tenha uma aprendizagem significativa.
Em segundo lugar, é preciso que os debates sobre a Pedagogia sejam acalorados
na academia, tendo em vista o estabelecimento de diálogos interdisciplinares nos cursos
de Licenciatura. Se a Pedagogia é a Ciência da Educação, ela precisa estar presente nos
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Referências
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Fizemos o Estágio de Docência no semestre 2013.2, carga horária de 68 horas-aula, todas as quintas-
feiras no período noturno, no Curso de Pedagogia da UECE, Campus Itaperi, tendo como responsável a
Professora Dra. Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga.
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