EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
Processo nº 2018.00001.000-0000
SEU TETO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, pessoa jurídica de
direito privado inscrita sob o CNPJ:, situada à Rua, Curitiba–PR, CEP, por seu advogado legalmente constituído na forma do instrumento de procuração juntada aos autos da Ação de INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAS e MORAIS em trâmite na 11° Vara Cível de Curitiba, processo acima destacado, que figura como réu e lhe é movida pelos autores FABIO GOMES, brasileiro, casado, portador do R.G.: inscrito no CPF/MF:, e MARIA DOS SANTOS, brasileira, casada, portadora do R.G.:, inscrita no CPF/MF:, ambos residentes e domiciliados em Curitiba – PR, à Rua, nº 5, Bacacheri, CEP, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, não se conformando com a r. decisão de fll. e com fundamento no parágrafo único do artigo 1.015 e seguintes do Código de Processo Civil de 2015, interpor o AGRAVO DE INSTRUMENTO, pelas razões anexas.
I – Do Preparo
A Agravante requer a juntada do comprovante de recolhimento do respectivo
preparo.
II – Da Tempestividade
O presente Agravo de Instrumento é tempestivo, visto que a publicação de
intimação ocorreu em 00/00/2018. Assim o prazo de 15 dias úteis para interposição do recurso termina no dia 00/00/2018. III – Do Efeito Suspensivo
Diante dos fatos que ora se apresenta, torna-se iniludível a necessidade de
atribuição de efeito suspensivo ao presente recurso, uma vez que, seguindo o trâmite processual ordinário, o próximo provimento judicial, certamente, será a intimação do Agravante para manifestar quanto as provas a serem produzidas.
O pedido de atribuição de efeito suspensivo ao presente agravo tem por
finalidade impedir que o Agravante seja obrigado a arcar com o ônus da prova, a qual incube aos Agravados, e, desta forma, ter que comprovar os danos alegados, em imóvel de que se encontra na posse dos agravados, o que se mostra árduo e praticamente inviável, sendo certo que, conforme será adiante demonstrado, a correta aplicação da lei não condiz com os termos do r. despacho agravado.
Logo, Exas., permanecendo incólume os efeitos da decisão hostilizada, até o
provimento final do presente recurso, decerto, perecerá o direito do Agravante, o qual será compelido, antes mesmo da decisão final deste recurso, a acatar a r. decisão agravada, mesmo contrária a legislação vigente, sob pena de sofrer as consequências processuais.
IV – Da Juntada das peças obrigatórias e facultativas
Por oportuno, salienta-se que o presente recurso encontra devidamente
instruído com fotocópias das seguintes peças:
I - Inicial da Ação Ordinária;
II - Instrumento de procuração outorgados aos advogados do agravante;
III – Instrumento de procuração outorgados ao advogado do agravado;
V - Decisão agravada e respectiva certidão de publicação.
Por fim, o preparo encontra-se regularmente realizado conforme guia anexa.
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO
Agravante: SEU TETO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA
Agravada: FABIO GOMES & MARIA DOS SANTOS
1 - DO RESUMO DOS FATOS
Os autores, ora agravados, intentaram ação de indenização por danos
materiais e morais buscando provimento jurisdicional em relação a suposto desiquilíbrio contratual, ainda a ser provado, este desequilíbrio teria se originado através de contrato de compra e venda de imóvel com o agravante, onde de fato, foi vendido um imóvel pelo valor de R$ 462.650,00 (quatrocentos e sessenta e dois mil e seiscentos e cinquenta reais).
Logo então o agravante foi notificado sobre problemas de infiltração, e o
mesmo realizou vistoria do imóvel e informou aos autores que haveria necessidade de obras no “muro de divisa com o vizinho” e que o apartamento dos agravados seria necessário para canteiros de obra haja vista ser o “Garden” e por fazer divisa com o muro. Esta obra foi realizada e devidamente entregue.
O agravante foi então surpreendido com a Ação de Indenização por danos
Materiais e Morais que lhe foi movida, onde foi alegado que por ocasião das obras realizadas para o reparo do imóvel, resultou em uma redução da área útil do mesmo, alegando também um atraso na entrega da obra que teria ocasionada prejuízos como “a perca da oportunidade de explorar economicamente o imóvel por falta de propriedade”, alega que durante a obra, houve a destruição de 50 (cinquenta) plantas cultivadas pelos e seu animal de estimação teve que ficar dentro do apartamento durante todo o período de obras. Veio como um surpresa ainda maior, a concessão da inversão do ônus da prova em sede de decisão interlocutória em desfavor do agravante, onde em sua fundamentação, o juízo a quo entendeu que apenas por se tratar de relação de consumo, a inversão do ônus da prova é automaticamente devida, segue em anexo trecho da decisão:
(...) 4. Concomitantemente, à aplicação do CDC, a
autora requereu a inversão do ônus da prova, justamente, baseando seu pedido de inversão por conta de ser caso de aplicação do CDC.
5. Tendo em vista que as partes se encaixam nos
conceitos de consumidor e fornecedor dados pela legislação citada, bem como por se tratar de relação tipicamente de contratação de serviços, consumerista, mas, também, por expressa disposição legal, consoante o art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/90, tem-se que, com efeito, pode-se admitir a inversão ao ônus da prova preconizada no referido codex. (...)
8. No caso em apreço, a postulação jurídica é
amplamente justificada, porque o consumidor, pôr se tratar de pessoa física, não dispõe de todas as informações necessárias à defesa de seus direitos. De fato, há de se reconhecer a hipossuficiência técnica da parte consumidora: (...)
11. Assim, defiro o pedido formulado, invertendo o
ônus da prova para que fique a parte ré ciente que está com essa responsabilidade, bem como, definir que, na presente demanda, as regras consumeristas deverão ser as adotadas (...) Merece reforma tal decisão prolatada, pois a presunção de hipossuficiência não é absoluta, sendo necessário que os autores, ora agravados demonstrem efetivamente não possuir meio de apresentar provas constitutivas de seu direito. Isso porque o deferimento irrestrito da inversão do ônus da prova poderá acarretar em grave violação à defesa do agravante, que terá a árdua ou impossível tarefa de fazer prova negativa do direito do consumidor.
2 - DO DIREITO E RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA DA DECISÃO
A inversão do ônus da prova que se apresenta como um direito básico do
consumidor, não pode ser de forma automática, pois há de preencher, alternativamente, um de dois requisitos, quais sejam: A verossimilhança da alegação e a hipossuficiência. De acordo com o que preceitua o art.6, inciso VIII, da Lei 8.078/90 transcrito abaixo:
“Art. 6°. São direitos básicos do consumidor: (...)
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências (...).”
Mesmo se tratando de uma relação de consumo, a inversão do ônus da prova
é a exceção, e não a regra. Não cumprindo os requisitos legais para sua decretação, a mesma não deverá ser feita.
Conforme a mais lúcida doutrina consumerista, nas palavras de Antônio Gidi,
o mesmo afirma que o juiz não possui
“o poder discricionário de inverter ou não o ônus da
prova em favor do consumidor”, lecionando que, “com efeito, não diz a lei que fica a ‘critério do Juiz’ inverter o ônus da prova. O que fica a critério do Juiz (rectius, a partir do seu livre convencimento motivado) é a tarefa de aferir, no caso concreto levado à sua presença, se o consumidor é hipossuficiente e se a sua versão dos fatos é verossímil”; concluindo que o papel do magistrado é meramente de aferir a presença dos requisitos impostos pelo CDC” GIDI, Antonio. Op. cit., 36.
Quanto aos mencionados requisitos, Paulo de Tarso Vieira Sanseverino traz
o seguinte esclarecimento:
“A hipossuficiência, que é um conceito próprio do CDC,
relaciona-se à vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. Não é uma definição meramente econômica, conforme parte da doutrina tentou inicialmente cunhar, relacionando-a ao conceito de necessidade da assistência judiciária gratuita. Trata-se de um conceito jurídico, derivando do desequilíbrio concreto em determinada relação de consumo. Num caso específico, a desigualdade entre o consumidor e o fornecedor é tão manifesta que, aplicadas as regras processuais normais, teria o autor remotas chances de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. As circunstâncias probatórias indicam que a tarefa probatória do consumidor prejudicado é extremamente difícil.” SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 348.
Referente a verossimilhança das alegações, Antonio Gidi afirma que
verossímil é o que é semelhante a verdade, o que tem aparência de verdade, o que não repugna a verdade, enfim o provável. Sustenta ainda que é possível fazer uma aproximação entre a verossimilhança das alegações do consumidor e o fumus boni juris do processo cautelar, na qual seria, por assim dizer, uma espécie de fumus boni facti. A luz dos conceitos debatidos, os tribunais têm julgado de forma semelhante aos posicionamentos apresentados, reunimos as seguintes decisões que deixam muito claro esta tese:
AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO CARACTERIZADA.
1. A inversão do ônus da prova como forma de facilitação
de defesa tem por finalidade precípua beneficiar o hipossuficiente.
2. Ela não é automática e nem presumida, devendo
somente ser concedida mediante análise criteriosa do juiz, considerando as regras ordinárias da experiência.
3. Quando a matéria estampada nos autos resume-se
em interpretação jurídica de cláusulas contratuais, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, objetivando a inversão do ônus da prova torna-se atividade inócua.
Curitiba - Rel.: Jucimar Novochadlo - Unânime - J. 07.08.2000)
No mesmo sentido e um pouco mais detalhado:
CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. ARTIGO
6º, VIII, DO CDC. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO CARACTERIZADA. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Extrai-se do artigo 6.º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que a inversão do onus probandi não se dá de forma automática - ou, ainda, pelo simples fato de se estar diante de uma relação de consumo -, dependendo do preenchimento de um dos requisitos alternativos insertos no artigo 6.º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, a saber: verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do consumidor.
2. Na hipótese dos autos, apesar de a Agravante argumentar
que seria hipossuficiente do ponto de vista técnico, ela mesma reconhece que a prova pericial, deferida pela juíza singular, é capaz de eliminar a sua vulnerabilidade como consumidora, restando saber apenas se a Recorrente teria condições financeiras para arcar com os exames periciais.
3. Hipossuficiência econômica da consumidora não
caracterizada, sobretudo quando constatado ter ela adquirido um automóvel de luxo.
4. Agravo de instrumento não provido.
(Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF -
Agravo de Instrumento : AG 69969620108070000 DF 0006996- 96.2010.807.0000, Relator FLAVIO ROSTIROLA, Data de Julgamento 07/07/2010, 1° Turma Cìvil)
No presente caso concreto, podemos constatar um desequilíbrio em uma
eventual inversão do ônus da prova, uma vez que a agravada alega danos em imóvel que se encontra em sua posse, lucros cessantes por eventual perda de chance de aproveitamento econômico de sua propriedade, destruição de plantas e transtornos contratuais. Quem melhor do que os próprios agravados para fazer a produção de provas, como poderia o agravante demonstrar que os agravados perderam efetivamente uma chance de realizar proveito econômico de seu imóvel, como poderia o agravante demonstrar danos em um imóvel que não se encontra em sua posse. Interessante trazer à tona a brilhante exposição do doutrinador WATANABE, Kazuo:
“A distribuição dinâmica do ônus da prova, sem embargo, há que
ser cuidadosa, sendo vedada sempre que tornar impossível ou excessivamente difícil a desincumbência do encargo por aquele em desfavor de quem há a inversão. Busca-se, com isso, evitar o paradoxo de se criar, com a inversão do ônus, precisamente a situação que se pretendeu prevenir, impondo-se à parte em desfavor de quem ocorre a inversão a produção de prova diabólica. Ora, se o equilíbrio, a igualdade processual e a paridade de armas fundamentam a dinamização, de igual modo possuem um núcleo essencial intangível que não pode permitir que nenhuma das partes saia prejudicada. Em resumo, seria ilógico, a pretexto de se resguardar o contraditório substancial de uma parte, sacrificar o contraditório da parte contrária.” WATANABE, Kazuo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini et. al. Código de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 196. 3 - DOS PEDIDOS
Isso posto requer:
A. seja conhecido o presente recurso, tendo em vista o
preenchimento dos requisitos de admissibilidade;
B. seja recebido o presente agravo no seu efeito suspensivo;
C. seja juntada as peças em anexo
D. ao final seja dado provimento para o fim de reformar a decisão