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O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL

DA AGRICULTURA: a dinâmica do
agronegócio e da agricultura familiar
Benjamin Alvino de Mesquita

O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
DA AGRICULTURA: a dinâmica do
agronegócio e da agricultura familiar

São Luís
2011
Benjamin Alvino de Mesquita

Copyright © 2011 – Benjamin Alvino de Mesquita

Capa e Editoração Eletrônica:


Amaury D’Ávilla
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Efetuado o depósito legal na Biblioteca Nacional,
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tro • Profª Drª Maria Mary Ferreira
Prof. Dr. Francisco Gonçalves da Conceição
Profª Drª Mariza Borges Wall Barbosa de Carvalho
FICHA CATALOGRÁFICA

Mesquita, Benjamin Alvino de

O desenvolvimento desigual da agricultura: a dinâmica do


agronegócio e da agricultura familiar / Benjamin Alvino de
Mesquita.___São Luís, EDUFMA, 2011.
110 p.

ISBN 978-85-7862-202-2

1.Jornalismo - Brasil 2. Política - Brasil I. Título

CDD 070.981
CDU 070 (81)

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COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

LISTA DE SIGLAS

AF Agricultura Familiar
BACEN Banco Central do Brasil
BASA Banco da Amazônia S.A.
BB Banco do Brasil
BIRD Banco Mundial
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNB Banco do Nordeste do Brasil
CAI Complexo Agroindustrial
CMN Conselho Monetário Nacional
COLONE Companhia de Colonização do Nordeste
COMARCO Companhia Maranhense de Colonização
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Ali-
mentação
FAPEMA Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão
FIBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FINOR Fundo de Desenvolvimento do Nordeste
GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
IAI Inter American Institute For Global Change Research
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Natu-
rais Renováveis.
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

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COLEÇÃO
CCSO
MRS Microrregiões Homogêneas
ONU Organização das Nações Unidas
POLONORDESTE Programa de Desenvolvimento do Nordeste
POLOAMAZÔNIA Polo de Desenvolvimento da Amazônia
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-
miliar
SNCR Sistema Nacional de Crédito Rural
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
O desenvolvimento desigual da agricultura

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
1. INTRODUÇÃO
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO DESENVOLVI-
MENTO DO MARANHÃO
3. POLITICA NEOLIBERAL: AVANÇOS E RECUOS
4. INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL E TRANSFOR-
MAÇÃO DO SETOR AGRÍCOLA
4.1. Especificidades da agricultura e a intervenção governamen-
tal
4.2. O papel da agricultura e os complexos agroindustriais na
década de 70
4.3. Crise econômica e mudança de paradigma na década de
80
5. DINÂMICA E ESTAGNAÇÃO DO SETOR AGRÍCOLA
5.1. O desenvolvimento desigual das “agriculturas“ familiar e
empresarial
5.1.1. Padrão de crescimento da agricultura temporária: mu-
danças e tendências
5.1.2. Mudança e dinâmica da agricultura familiar: o caso do
arroz
5.1.3. Mudança e vulnerabilidade da agricultura empresarial: o
caso da soja
6. A PRIORIDADE À PECUÁRIA E OS REBATES NA
AGRICULTURA DE ALIMENTOS
6.1. Estratégia de modernização do “tradicional” ao “moderno”
6.2. Fatores de expansão e transformação da agricultura

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COLEÇÃO
CCSO
6.3. Impactos do crescimento da pecuária sobre agricultura
temporária
6.3.1. A simplificação do declínio da agricultura temporária
6.3.2. As questões omitidas do declínio
7. DESEMPENHO RECENTE E ENTRAVES ESTRU-
TURAIS
7.1. Distribuição espacial e concentração da produção
7.2. Mudanças na estrutura fundiária
7.3. Uso da terra
7.4. Condição do produtor
7.5. Ocupação da força de trabalho
8. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANEXOS
APRESENTAÇÃO

Nas duas últimas décadas, como resultado de estudos


acadêmicos, veio a lume um significativo número de trabalhos
sobre o espaço geoeconômico do Maranhão. Não obstante esses
esforços, uma notável lacuna ainda se faz notar quanto à produ-
ção de textos que dizem respeito ao espaço rural, ao desenvol-
vimento da economia agrícola, tendo como cenário as políticas
governamentais voltadas ao setor.

No contexto das grandes transformações que ocorreram


nos últimos cinqüenta anos na economia do país, é na agricul-
tura onde, com grande nitidez, se observa aqueles aspectos pró-
prios do desenvolvimento: os de natureza humana, qualidade
de vida, educação, e relações de produção; e os de natureza ma-
terial, meios de produção, novas tecnologias, etc.

Quando a observação se volta para o Maranhão toman-


do-se um período mais restrito, dos anos 80 do século passado
aos dias atuais, tem-se a visão de uma política governamental
de duas cabeças. Uma, que pensa o agronegócio como porta de
entrada do crescimento e outra que pensa a agricultura familiar
como via do desenvolvimento, produtora de alimentos básicos,
absorvedora de mão de obra. Esta, diz respeito ao trabalho do
pequeno produtor rural e aquela se volta ao crescimento funda-
do no capital do agronegócio de base tecnológica.

Haverá ações harmoniosas em um corpo com duas cabe-


ças? O que esperar como resultado da intervenção governamen-
tal que tem em seu bojo tal política para agricultura? Não se
engane, pois as respostas não são simples, nem óbvias. Aqui se
tem as origens da dinâmica do desenvolvimento desigual estu-
dado por Mesquita.

Juntando-se a essas questões aquelas inicialmente pro-


postas pelo autor, delineia-se a temática do presente trabalho.
É grande a motivação e a inquietação na busca de respostas a
partir das evidências de descompasso entre o comportamento
da agricultura do Maranhão e a de outros estados (ou regiões)
como mostram as estatísticas elaboradas pelo autor.

O texto de Benjamin A. de Mesquita, aqui exposto, é


uma investigação criteriosa na tentativa de qualificar e quan-
tificar o desenvolvimento recente da agricultura do Estado do
Maranhão. Porém, não é apenas mais uma tentativa, pois este
trabalho reduz acentuadamente a lacuna existente na literatura
sobre o tema.

Professor Dr. Lauro Oliveira UFMA/PPGDSE


Fortaleza(CE), janeiro de 2011
PREFÁCIO

O título do livro “O desenvolvimento desigual da agricul-


tura: a dinâmica do agronegócio e da agricultura familiar”, do
Professor-Pesquisador Doutor em Geographie,Amenegenment
et Urbanisme pela Universidade de Paris 39 (IHEAL), Benja-
min Alvino Mesquita, atualmente professor do Departamento
de Economia e dos Programa de Pós-Graduação de Políticas
Públicas e Desenvolvimento Socioeconômico, chama atenção
pela forma da abordagem estruturalista da economia agrária
maranhense. O autor analisa o desempenho do setor agropecu-
ário dos últimos quinze anos, a partir dos fatores determinantes
da estrutura e dinâmica da agropecuária maranhense, ressaltan-
do o papel do mercado e do Estado. Ao longo de sua análise
procura chamar atenção para a política neoliberal que dominou
nos anos 90 e os efeitos dessa política quanto ao desenvolvimen-
to diferenciado entre o agronegócio e a agricultura de base fa-
miliar. Essa diferenciação é apresentada com uma riqueza de
dados que comprova a sua principal tese: de que os incentivos
dados à expansão da produção do agronegócio e o abandono da
agricultura familiar resultaram no agravamento da crise agrária
com os rebatimentos econômicos, sociais e ambientais.

A economia maranhense continua sendo uma agroex-


trativa, isto é, uma economia de base agrária que se sustenta
atualmente numa agricultura moderna em torno da produção
da soja, de uma pecuária de corte em regime extensivo e do ex-
trativismo do babaçu. Nos últimos anos, entre 1985-2004, o se-
tor agropecuário apresentou uma taxa anual de crescimento da
produção de 3,2%, mas a sua participação relativa no PIB do
Estado manteve-se em torno de 20%.

Além do mais, apesar desse razoável crescimento, o setor


agropecuário maranhense perdeu posição relativa em relação ao
Brasil e ao Nordeste se comparado com o período anterior. A
perda maior, entretanto, foi quanto à produção de grãos e de ali-
Benjamin Alvino de Mesquita

mentos básicos (arroz, mandioca e feijão) se comparado com os


outros estados tradicionalmente grandes produtores desses pro-
dutos, a exemplo de Paraná, Goiás, Mato Grosso e Rondônia.

O Maranhão é um estado da federação que hoje ocupa


uma das últimas posições em termos de crescimento da renda
per capita. Na verdade, o atraso da economia maranhense está
associado à sua estrutura agrária e às formas de relações sociais
predominantes desde os seus primórdios. De fato, a economia
maranhense até hoje concentra a maior parcela da sua popula-
ção no meio rural. A pobreza é a principal marca do Maranhão,
um estado dominado por uma oligarquia agrária que tem no Es-
tado o seu principal instrumento de manipulação da política de
favores em todos os seus municípios. Sendo uma economia de
base agrária secular, e com uma estrutura de dominação cen-
trada no capital mercantil, a mudança de uma economia com
essa estrutura para uma economia moderna requer uma ação
integrada do Estado federativo que envolva a participação da so-
ciedade civil.

A estrutura social da economia maranhense é formada


por camponeses (caboclos, quilombos e quilombolas, descen-
dentes indígenas e migrantes nordestinos) que explora a terra
para a produção de alimentos para o seu sustento; e dos em-
presários agrícolas do agronegócio (migrantes sulistas, prin-
cipalmente gaúchos) que exploram a cultura da soja para fins
de exportação. Os camponeses formam a base da mão de obra
agrícola familiar (agricultura de subsistência) que produzem
alimentos para o seu sustento e venda do excedente nas feiras
ou para intermediários. Enquanto o agronegócio utiliza técni-
cas modernas com meios de produção (tratores, arados, grades
e colheitadeiras) e insumos modernos (fertilizantes, corretivos,
defensivos e sementes transgênicas); a produção da agricultura
de subsistência não tem esse suporte e ainda continua adotando
o método da rotação de terras.

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COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

A política neoliberal dos anos 90 deu mais suporte ao


agronegócio (devido à sua função de grande exportador de soja,
açúcar e carne bovina geradora de divisas) do que à agricultura
familiar, responsável pela função de fornecedora de alimentos
básicos à população mais carente. O avanço da fronteira da soja
no Sul do Maranhão (Balsas, Chapadas de Mangabeiras, e Ama-
rante) vem avançando sobre as terras destinadas à agricultura de
subsistência. Como conseqüência disso, a tendência é aumen-
tar o êxodo rural para as cidades maranhenses ou paraenses. O
aproveitamento dos filhos das famílias dos camponeses que per-
deram suas terras na atividade do cultivo da soja é residual, e
apenas serve de propaganda para fins de exposição do moderno
– um tratorista.

Enquanto isso, à medida que aumenta o efeito imitação


do padrão do agricultor moderno, aprofunda-se o processo de
diferenciação social que está redefinindo a nova estrutura so-
cial do agro maranhense. Não obstante, persiste o risco da re-
constituição de uma estrutura agrária que amplie e aprofunde
mais o binômio minifúndio-latifúndio em terras maranhenses.
Mais grave ainda é o risco do avanço dessa fronteira da soja para
outras regiões maranhenses tradicionalmente produtoras de ali-
mentos, o que significa a possibilidade do recomeço da luta pela
terra com perdas de vida.

O livro do professor Benjamin demonstra empiricamen-


te essa possibilidade. Além do mais, há o risco da preferência
e gosto dos consumidores pelos produtos e subprodutos do tri-
go (pizza, bolachas, macarrões e outros), o que poderá contri-
buir ainda mais para o abandono da produção da mandioca, a
matéria-prima da produção da farinha d’água, da farinha seca,
do beiju, da tiquira e outros produtos da cultura alimentar do
maranhense.

Fico aqui com esses breves comentários deste importante


livro sobre a estrutura e evolução da agropecuária da economia
maranhense. A tese desenvolvida pelo professor-doutor Benjamin

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COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Mesquita neste seu livro seguiu a metodologia da escola estrutu-


ralista que busca através da história as origens da situação atual
de dada realidade, como é o caso da agricultura do Maranhão. Por
tudo isso, espero que os leitores apreciem e aproveitem os ensina-
mentos deste importante livro cuja tese eu considero inédita.

Professor Dr. David Ferreira Carvalho (NAEA/UFPA)


Belém (PA), novembro 2010

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COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

1. INTRODUÇÃO

A agricultura, ou, de uma forma mais abrangente, o setor


agropecuário do Maranhão (agricultura, pecuária e extrativis-
mo), apesar de crescer nos últimos 15 anos a uma taxa razoável
(3,2% ao ano.), não manteve em termos relativos a representa-
tividade que tinha no passado frente ao Brasil e ao Nordeste.
Ao contrário, perdeu posição relativa como grande produtor de
grãos, e particularmente de alimentos básicos (arroz e mandio-
ca), enquanto estados como Mato Grosso, Paraná, Rondônia e
Goiás deram, em igual período, saltos tanto quantitativo quan-
to qualitativo na sua agricultura e na economia em geral.

Que fatores relevantes poderiam ser catalogados para se


apreender o porquê deste perfil tão ruim, pelo menos para a par-
te mais significativa da agricultura, isto é, a familiar (AF)? Esse
desempenho estaria associado apenas à desestruturação e des-
monte do Estado provocado pela política neoliberal, ou haveria
outras variáveis, anteriores ao processo de saída do Estado do
planejamento e da indução de uma política ativa como antes se
fazia? Quais então? A questão agrária nunca resolvida; a pesqui-
sa, a extensão e a assistência técnica inexistente ou precária; o
acesso à tecnologia barata; ou a insuficiência de financiamento
à produção familiar poderiam ser incluídos também como cau-
sadoras deste processo? Afinal, que papel o Estado e o mercado
exercem no estabelecimento deste estágio de involução que pre-
valece nas atividades ligadas à produção familiar?

Durante as diferentes fases de desenvolvimento capita-


lista, a agricultura sempre foi chamada a cumprir papéis im-
portantes em qualquer tipo de formação social no processo
de desenvolvimento econômico, cabendo ao Estado oferecer
instrumentos que viabilizem essas estratégias. A questão final,
então, que se coloca é se no cenário neoliberal focado nesta
análise (1990/2005), o Estado teve forças para adotar o antigo

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COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

formato de intervenção dentro do setor, ou se deixou essa tarefa


sua ao mercado.

Um olhar mesmo que superficial sobre o recente estágio


da economia em geral mostra que muitas dificuldades prejudi-
caram o avanço mais rápido do setor agrícola do Maranhão. Um
olhar mais acurado revela as variáveis determinantes do cresci-
mento e da involução na produção de grãos. Elas se relacionam
a questões tanto de cunho estrutural-histórico quanto conjuntu-
ral, além de se articularem com a ausência de políticas públicas
direcionadas à agricultura familiar, ainda a maior responsável
pela ocupação de mão de obra não qualificada, geração de ren-
da e oferta de alimentos. Outra razão não menos importante é o
modelo neoliberal vigente desde 90, que excluiu ou pelo menos
limitou a intervenção do Estado na agricultura, deixando que
as forças de mercado promovessem a expansão e modernização
da agricultura. Ora, isso o capital só fez/faz em área/atividade
de seu interesse, rentável e articulada com o mercado externo
(commodities), e, naturalmente, a pequena produção não esteve,
nesta etapa, em sua mira; daí esse quadro de atraso, declínio e
decadência que se constata nas culturas da agricultura familiar.

A Revolução Verde dos anos 60 (mecanização e quimifica-


ção) nunca atingiu o Nordeste pobre, o sertão de agricultura de
sequeiro, i.e, não se estendeu aos rincões atrasados da agricultu-
ra familiar; nesta, o modus operandi da produção ainda é medie-
val, não existem sementes melhoradas; arado, esterco, energia
elétrica, infraestrutura, pesquisa, extensão, financiamento etc.
Os mais importantes instrumentos de produção desta agricultura
no Estado do Maranhão1 continuam sendo a enxada e o palito de
fósforo, além das cinzas (único adubo usado e abusado por grandes
e pequenos), produto das queimadas.

1
É claro que isso não computa a parte do agronegócio da soja, em que o processo de
produção obedece aos padrões vigentes na agricultura moderna de outras regiões do país
fundada numa forte mecanização e quimificação da produção, exatamente nos moldes da
Revolução Verde da década de sessenta.

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COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Com base nestes aspectos apontados e em outros não ex-


plicitados, examinam-se algumas questões2 que, a meu critério,
constituem variáveis fundantes e explicam o perfil recente e o
anêmico desempenho econômico do Estado das últimas déca-
das. Assim, num primeiro momento situa-se o setor na paisa-
gem mais geral da geração de riqueza (PIB) em termos de taxa
de crescimento e de participação relativa, explicitando o grau de
importância que teve ou tem na economia local. Em seguida,
destacam-se as transformações que ocorreram com a política de
modernização, o que levou o governo a intervir ativamente na
agricultura antes de 90 e o papel que o setor, historicamente,
desempenha ou desempenhou na geração de excedente, mer-
cado interno e de trabalho, papéis esses essenciais para o desen-
volvimento econômico. Na sequência, mostra-se o caráter desi-
gual e combinado que esse desenvolvimento setorial assume e
o que daí resulta para as diferentes frações do segmento (pecuá-
ria, agronegócio, extrativismo e agricultura familiar).

A questão seguinte é examinar as consequências para a


agricultura, em particular a AF, da intervenção governamental,
que priorizou a pecuária em detrimento de outras atividades e
culturas agrícolas, e descobrir se somente isso explica esse perfil
de atraso e crise da agricultura de alimentos. Por último, indi-
ca-se pontualmente o que se passou com as variáveis estrutu-
rais, sem as quais não se consegue enxergar quase nada do que
acontece ou aconteceu com a agricultura, qualquer que seja
o ângulo examinado (estrutura e posse da terra, o mercado de
trabalho, etc). O descaso com a questão estrutural está na raiz
dos problemas atuais relacionados não apenas com a produção/
oferta propriamente dita, mas também a aspectos como acesso
à distribuição da terra, à geração, à distribuição e apropriação da
renda e à criação de empregos, essenciais para alterar o quadro
de exclusão social agravado com as desigualdades regionais (in-

Entretanto, deixam-se de lado outras tão ou mais importantes quanto estas agora analisadas,
2

como a frágil/quase inexistente e inoperante organização política e econômica desses


pequenos produtores. Essa questão essencial será objeto de um novo trabalho.

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COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

tra e inter), que se aprofundaram com a política neoliberal das


últimas décadas, nas últimas décadas. (MESQUITA, 2008).

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO
DESENVOLVIMENTO DO MARANHÃO

Ainda que necessariamente imprecisa a periodização


é útil para destacar as características principais da autação do
Estado e das forças do mercado em diferentes etapas do pro-
cesso de formação social, assim como para captar as mudanças
decorrentes daquela atuação ou de sua ausência. Assim, a prin-
cípio, optou-se em evidenciar quais marcos temporais e ativi-
dades econômicas a eles associadas prevaleceram ao longo da
formação econômica do Maranhão, destacando-se aspectos dos
últimos 50 anos. Conquanto 50 anos pouco representem num
processo de formação social, é possível perceber no período al-
terações significativas em termos de crescimento da população
e da economia, da divisão do trabalho e das especificidades es-
paciais registradas. No Brasil e no Maranhão, a velocidade com
que as alterações se efetivam é surpreendente em todos os sen-
tidos, seja pela transformação radical e/ou pela manutenção de
estruturas coloniais, “arcaicas” e não capitalistas. Tal fenômeno
pode ser constatado, conforme se verá a seguir, nas mais dife-
rentes áreas – econômica, demográfica ou social.

Esquematicamente, a literatura histórico-econômica


costuma traçar etapas por meio das quais se tenta explicar a
evolução socioeconômica da formação social do Maranhão. A
historiografia tradicional dá ênfase a um passado glorioso de de-
senvolvimento econômico (fundado na agricultura de exporta-
ção e na indústria têxtil), que se contrapõe a um período de de-
cadência advinda da substituição do trabalho escravo pelo livre.
Tudo isso tendo como centro dinâmico a capital da província
(São Luís) e os produtos de exportação – arroz, algodão, açúcar
e, na segunda metade do século XIX, as indústrias açucareira e

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COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

têxtil; as demais atividades do mercado interno – a agricultura


de alimentos e a pecuária ultraextensiva –, embora importan-
tes pelo espaço e papel no abastecimento interno, são invisí-
veis. Outra corrente de historiadores, com destaque para Cabral
(1989), acha que essa interpretação “litorânea” da formação eco-
nômica do Maranhão não refelete o real processo de ocupação
do Estado desde seus primórdios, pois deixa de lado o movimen-
to de ocupação produtiva do sertão, baseado na pecuária itine-
rante procedente da Bahia nos séculos XVII e XVIII, portanto,
anterior à inserção da província no fluxo colonial de comércio
exterior com a Inglaterra.

Arcangeli (1989), baseado nos autores tradicionais, mas


com instrumental analítico do materialismo histórico, estabe-
lece grandes marcos, onde é possível, grosso modo, se ter uma
ideia das transformações que vão-se processando ao longo dos
séculos na formação social do Maranhão. Ele relaciona cinco
fases: a) conquista e povoamento inicial; b) inserção na divisão
internacional do trabalho; c) involução econômica; d) inserção
na divisão nacional do trabalho; e) e, o período da década de 80
A fase inicial abrangeria desde a ocupação precária da província
até a segunda metade do século XVIII; a fase seguinte, deste
período até a libertação dos escravos; a terceira, desta fase até a
II Guerra Mundial; a quarta, dos anos 50 até 1985; finalmente
a última, para captar a fase de implantação do Projeto Grande
Carajás (1985/1989).

Trinta anos depois, já é possível delinear duas novas:


uma que marca o início da exploração de soja nos anos 90; e a
segunda relacionada com a consolidação de outros produtos do
agronegócio (cana, eucalipto, produção de carvão) e a ampliação
da soja e da pecuária empresarial (MESQUITA, 2009).

Por outro lado, cada período está associado a atividades e


formas de intervenção do Estado. Na primeira fase, o Maranhão
se encontra indiretamente articulado ao processo global de acu-
mulação primitiva em andamento na Europa. Gesta-se uma for-

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COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

ma precária de povoamento e de atividades econômicas tendo


à frente as missões jesuíticas e alguns colonos, cujos focos são a
agricultura de subsistência, o extrativismo de ervas e a caça ao
indígena, mercadoria de alto valor no mercado do Nordeste açu-
careiro. Neste período, os vales do Itapecuru e do Mearim são
explorados e ocupados a partir das incursões contra as tribos,
resultando daí um território livre para atividades permanen-
tes como a pecuária e a lavoura temporária, principal forma de
ocupação econômica da fase seguinte (PORRO).

A etapa de inserção na divisão internacional do trabalho


tem como fator marcante a intervenção da metrópole no pro-
cesso produtivo local, via Companhia de Comércio do Grão-
Pará e Maranhão. Esta companhia mercantil organiza a pro-
dução do algodão em moldes semelhantes à da cana-de-açúcar
nordestina – no binômio grande propriedade e trabalho escra-
vo. As principais atividades econômicas deste período são os
cultivos de arroz, algodão e a venda do couro, mas sobretudo
o algodão. É o período áureo da Província, durante o qual o
Maranhão se consolida como grande fornecedor desta principal
matéria-prima da Revolução Industrial Inglesa. Mas, de acordo
com Furtado (1976), esta fase de euforia foi passageira e decor-
reu de condições externas geopolíticas e econômicas favoráveis
ao Maranhão, a exemplo do conflito entre a Inglaterra e a Fran-
ça, da Independência Americana e da crise interna da produção
do açúcar, dentre outros. Ele classifica o período de falsa euforia
porque, tão logo se normalizem as condições externas que de-
ram origem à inserção do Maranhão no mercado de algodão,
como o fim do bloqueio continental de Napoleão e a derrota da
França em 1815 para a Inglaterra, o Maranhão torna-se um for-
necedor marginal desta matéria-prima. Tal condição perpassará
todo o século XIX, voltando o Estado em momentos pontuais
a exportar o algodão em grande quantidade, como aconteceu
durante a Guerra Civil Americana na segunda metade do sécu-
lo XIX. É também nesta fase que o Maranhão se torna grande
produtor de açúcar.

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COLEÇÃO
CCSO
O chamado período de involução econômica se inicia
com a libertação dos escravos e avança até os anos cinquenta.
Esta fase se caracteriza pela desarticulação da grande proprie-
dade fornecedora de algodão e cana-de-açúcar e pela ascensão
da agricultura de subsistência e do extrativismo. Ou seja, tro-
ca-se o trabalho escravo pelo “trabalho livre” dos moradores de
condição (caboclos) das grandes propriedades então dedicados a
monoculturas e, secundariamente, à pecuária ultraextensiva. A
economia de subsistência voltada para o autoabastecimento e a
venda de excedente ganha uma dimensão que não tinha antes,
ou, se tinha, era ofuscada pela atividade exportadora.

Quanto às atividades do algodão e da cana-de-açúcar, elas


não desaparecem do cenário econômico; ao contrário, até ga-
nham fôlego novo, na medida em que são instaladas dezenas de
indústrias, principalmente em São Luís e Caxias, que benefi-
ciam o algodão. O que se altera é o formato de sua organização.
De plantation escravocrata, passa a ser conduzida em base não-
capitalista em área pequena que tem nos moradores, parceiros,
arrendatários, posseiros e pequenos proprietários que vivem em
torno da grande propriedade o cerne de sua sustentação.

É também neste período, na segunda década do século


XX, que ganha expressão outra atividade (o extrativismo do
coco babaçu). Na grande propriedade desarticulada pelo tra-
balho livre/assalariado, o extrativismo representará, junto com
o arroz de sequeiro, durante mais de meio século, a principal
atividade geradora de renda e absorvedora de mão de obra não-
qualificada (IMESC, 2008).

O extrativismo do babaçu3, no seu processo de expansão,


cujo ponto de inflexão se dá nos anos 80, passou por várias fases
que lhe deram também faces diversas. O extrativismo do baba-
çu, tal como o algodão no final do século XIX, engendra interna-

Amaral Filho (1987) em sua dissertação de mestrado (PIMES) traça um panorama da


3

economia do babaçu até 80. Para a década seguinte os interessados no assunto podem ver
Mesquita (1998, 2001, 2006) e Almeida (2001 e 2005).

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COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

mente um “parque industrial” de pequenos empreendimentos


pré-revolução industrial, processadores desta matéria-prima. Na
década de oitenta, a atividade praticamente se extingue em fun-
ção da concorrência externa do óleo de palmiste (seu substituto
perfeito), oriundo da Malásia, que derruba os preços do óleo de
babaçu no mercado interno. Como esse segmento “mercantil
industrial” estava defasado tecnologicamente e descapitalizado
há muito tempo, o resultado foi sua paralisia generalizada com a
abertura comercial dos anos noventa (MESQUITA, 2006). Hoje,
restam menos de dez unidades industriais funcionando, que
além do babaçu, usam uma variedade de matérias-primas corre-
lacionadas.

A cultura algodoeira maranhense não resistiu às trans-


formações dos anos trinta, período de turbulência política e
sócioeconômica com repercussão em todos os aspectos da vida
nacional.

O modelo econômico até então vigente, primário-expor-


tador, com núcleo dinâmico na cafeicultura, cede lugar a um
padrão urbano-industrial que privilegia, sobretudo, a industriali-
zação e os núcleos econômicos mais dinâmicos, leia-se São Pau-
lo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As transformações industriais
ocorridas nestes locais, como o aumento da capacidade produti-
va e a modernização de plantas industriais, repercutem na com-
petitividade de áreas mais antigas como o Maranhão, onde a in-
dústria têxtil se encontrava defasada tecnologicamente e ainda
trabalhava com custos crescentes em função da oferta (interna)
de matéria-prima e da retração da demanda para seus produtos.
Enquanto em São Paulo o algodão se renovava com pesquisa,
no Maranhão a produção exibia os mesmos processos da época
colonial, o que acelerou a extinção do setor textil até os anos
sessenta.

Paralelamente aos problemas da indústria têxtil, uma


outra “indústria” ascende, aquela relacionada com o processa-
mento do coco babaçu. Dominada pelo capital mercantil pre-

22
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

dominantemente local e dispersa na maioria das microrregiões


produtoras, essa atividade também sucumbirá em razão do hi-
perdimensionamento da capacidade instalada, desarticulada
com a oferta interna, bem como da ausência de política para o
extrativismo e da concorrência com substitutos externos.

Por outro lado, o avanço da industrialização via substi-


tuição de importações, intenso até o governo militar, e o apa-
recimento e crescimento dos centros urbanos que acompanha
esse processo, pressupõem aumento crescente de matéria-pri-
ma para o setor industrial e de alimentos básicos para atender
ao incremento da população. A derrocada do café de imediato
favoreceu a substituição de área por outras culturas mais rentá-
veis e a diversificação da produção de alimentos em todo o país,
elevando consideravelmente a oferta de produtos agrícolas não
só em São Paulo, mas também em regiões periféricas do núcleo
capitalista, como Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e
Maranhão, que passam a ser área de fronteira agrícola e as maio-
res responsáveis pelo abastecimento de matéria-prima e alimen-
tos do eixo Rio - São Paulo.

Esses produtos elaborados em moldes não-capitalistas


por pequenos produtores, em particular por posseiros, desem-
penham um papel dos mais importantes ao rebaixarem os cus-
tos de produção da força de trabalho na parte capitalista da eco-
nomia e, ao fazê-lo, asseguram que o processo de acumulação se
faça de forma ampliada. Neste cenário o Maranhão se tornou
um importante produtor de arroz e desempenhou até os anos
setenta uma função chave no processo de acumulação do nú-
cleo mais dinâmico. A partir daí, com a prioridade dada pelo
Governo (Sudene, Sudam, BNDES, BB, CVRD, Estado, etc)
à atividades capitalistas como a pecuária4 de corte e os empre-
endimentos incluídos no Projeto Grande Carajás, a agricultura
itinerante, “atrasada”, não capitalista, que tinha no arroz a sua

Os interessados em entender a dinâmica da pecuária empresarial frente à intervenção


4

governamental (1970/85) e o período neoliberal podem ver Mesquita (2006).

23
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

principal fonte de expansão, declina sistematicamente e perde im-


portância neste contexto nacional.

A dinâmica antes dada pela agricultura familiar se des-


locará para o agronegócio (soja, eucalipto e pecuária), as fontes
governamentais de financiamento estendem sua prioridade aos
cerrados do Maranhão, Tocantins, Bahia e Piauí. O resultado
é uma avalanche de produtores “modernos” em segmentos do
campo maranhense, com destaque para o plantio em grande es-
cala de soja e eucalipto, ambos voltados para atender a uma de-
manda externa por commodities (grãos e minérios) induzida, so-
bretudo, pelo forte crescimento da China nos últimos 20 anos.

24
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

3. POLITICA NEOLIBERAL: AVANÇOS E RECUOS

Os anos noventa representaram um período de intensas


mudanças para as economias subdesenvolvidas que se inseriram
e/ou aderiram às políticas neoliberais impostas pelos países cen-
trais às periferias, então mergulhadas na crise da dívida externa
e do balanço de pagamentos dos anos oitenta. Como se sabe,
a década de oitenta foi de ajuste e de substituição de um pa-
drão de acumulação (keynesianismo) por outro (neoliberal), de
desmonte da máquina governamental voltada a setores estraté-
gicos, inclusive a agricultura, e de uma abertura à concorrência
externa generalizada.

Antes deste “novo” padrão, o Estado detinha um papel


fundamental na indução de políticas desenvolvimentistas; na
fase posterior essa tarefa é assumida pelo mercado (suposta-
mente). A partir desta troca de funções e de atores, a dinâmica
econômica assume em diferentes locais e atividades caminhos
distintos.

Um dos engodos mais apregoados na ocasião era o de que


as reformas neoliberais no plano econômico, prescritas e estabe-
lecidas pelo Consenso de Washington, proporcionariam empre-
go, renda, estabilidade econômica e riqueza, que se traduziriam
em maior crescimento econômico; e mais, que se recuperaria
a década perdida e, finalmente, todos poderiam acessar o ca-
minho da prosperidade. O preço do sucesso econômico, assim,
seria conquistado com a adoção da cartilha do FMI e do Ban-
co Mundial, que tem entre seus fundamentos principais o livre
comércio de bens e serviços, e a plena liberdade da idas e vindas
dos capitais especulativos.

Os dados relativos ao desempenho das economias, espe-


cialmente da América Latina (Brasil) e África, não comprovam
essa assertiva. Ao contrário, o Brasil cresce menos neste período
neoliberal do que na “década perdida”, respectivamente 2,5% e

25
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

3,8% (MESQUITA, 2008). Em escala regional percebe-se que


há também diferenciações importantes. Estas, por sua vez, se
articulam com o grau de integração das regiões e o fluxo de co-
mércio em que se encontram inseridas, resultando daí taxas de
crescimento do PIB também diferentes.

No caso do Maranhão, a política neoliberal também não


cumpriu seu objetivo maior de melhoria das condições de vida,
ou de um bom desenvolvimento econômico; ao contrário, apro-
fundou as desigualdades e liquidou segmentos produtivos social-
mente importantes dentro e fora da agricultura, que empregam
milhares de pessoas. Mesmo do ângulo puramente econômico,
em quase duas décadas, os frutos desta ação do mercado foram
precários, comparados com outras economias da Federação,
como Goiás, Mato Grosso e Paraná.

Nos últimos três anos, a economia do Maranhão cres-


ceu acima de 5% ao ano, devido ao excepcional incremento da
produção de soja e carvão vegetal derivado da alta demanda de
países asiáticos, sobretudo China e Índia. Tal vigor permitiu ao
Estado alcançar dois feitos respeitáveis. Pela primeira vez, rom-
peu-se a casa do 1% de participação no PIB nacional, há mui-
to perseguida sem sucesso. O outro feito diz respeito à renda
per capita, que alcançou 80% da renda do Nordeste, quando há
mais de trinta anos não ultrapassava o limite dos 55%. Sem dú-
vida, um desempenho que enche de esperança a todos, particu-
larmente o “establishment” local. A questão é saber se é possível
manter esse ritmo a médio e longo prazo, considerando a crise
que explodiu recentemente, com repercussões e desdobramen-
tos em todo o mundo.

Para alterar o quadro estrutural de atraso em que se en-


contra secularmente a economia do Estado, onde a desigualda-
de e a pobreza avultam, um bom desempenho econômico de
curto prazo(baseado em commodities) não é suficiente, além de
ocasionar revés e vulnerabilidade, fenômenos esses que já se

26
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

revelam neste final de bimestre de 2008, em consequência da


crise financeira americana.

Entre 1985 e 2004, o PIB estadual sofreu alteração em


termos estruturais, com a aindústria avançando sete pontos per-
centuais, enquanto a a agricultura perdeu sete pontos e o setor
de serviços se manteve no mesmo patamar (Tabela 2).

Mas em termos de taxa de crescimento (real), a agricul-


tura triplicou a taxa de expansão entre os períodos 1990/1995
e 2000/2004), passando de 2,8% para 10% ao ano. No interva-
lo, a atividade teve função marcante no desempenho geral do
PIB, pois avançou bem mais do que a indústria e os serviços
(Tabela 1).

Tabela 1 - A taxa anual de crescimento (%)


do PIB geral e setorial do Maranhão, Brasil
e do Nordeste entre 1990 e 2004
 PIB 1990/1995 1990/2000 2000/04 1985/2004
Maranhão 0,8 2,3 4,9 3,1
Agricultura 2,8 0,65 10,0 1,5
Serviços -0,2 4,2 2,6 2,3
Indústria 1,8 7,2 7,0 5,2
Brasil 1,2 2,4 2.0 1,9
Nordeste 1,1 2,9 3,8 1,9
Fonte: IBGE( Contas nacionais e regionais)

Considerando o período 1990/2004, a participação per-


centual da agricultura no PIB maranhense se manteve estável
(20%). A causa de tal performance positiva se relaciona com
dois produtos: o carvão vegetal, usado na fabricação de ferro-
gusa, e soja em grão, os maiores beneficiados desta etapa no co-
mércio externo local.

27
COLEÇÃO
CCSO
Tabela 2 - Composição setorial do PIB do
Maranhão no intervalo de 1990 a 2004
Composição setorial e período 1990 1995 2000 2004
Maranhão (100) 100 100 100 100
Agricultura 20 22 17 20
Indústria 19 20 24 25
Serviços 61 56 59 55
Fonte: IBGE( Contas nacionais e regionais).

Entretanto, no horizonte temporal mais elástico


(1985/2004), é o setor industrial (mais precisamente, a indústria
de transformação) que conferiu a dinâmica da economia estadu-
al, com a expansão de 5,2% ao ano (Tabela 1). As exportações de
commodities minerais responderam por esse desempenho, com
destaque para as vendas da Vale, Alumar e guserias. Ou seja, a
inserção no mercado globalizado beneficia grupos e segmentos,
mas de forma pontual e se restringe, em particular, aos inten-
sivos em capital; os demais (de caráter familiar), ao contrário,
são prejudicados ou paralisados por essa lógica neoliberal que
iguala segmentos diferentes, como a agricultura familiar (AF) e
o agronegócio da soja e/ou pecuária empresarial. Em outras pa-
lavras, esse período acarretou transformações importantes em
atividades ligadas a exportações, ficando as demais marginaliza-
das duplamente. De um lado, porque se voltam para o mercado
interno (estagnado) dependente do crescimento da renda per
capita (que foi muito baixa no período). De outro lado, porque
são expostas à concorrência desleal internacional sem, no en-
tanto, disporem de financiamento adequado.

Tal comportamento parece contraditório, pois há um re-


cuo/estagnação de área com lavoura entre 1990/2005 e mesmo
num cenário mais longo (1970/2007). A explicação está na hete-
rogeneidade, desconcentração e atomização do setor, no qual há
movimentos diferenciados. O agronegócio tem um, a agricultu-
ra familiar, juntamente com o extrativismo, outro. A análise es-
tatística dos principais produtos em termos de produção per ca-

28
COLEÇÃO
CCSO
pita e produtividade indica essa distinção internamente e quem
empurra para cima ou puxa para baixo o desempenho final do
setor. Em culturas como a mandioca, o feijão e a cana a produ-
ção per capita declinou de forma acentuada, respectivamente
30%, 25% e 21% no período 1990/05. Outros produtos como
soja, milho e carvão, aumentam significativamente (Tabela 3).

Quanto à produtividade, o arroz (-3%) e a mandioca


(+1%) apresentam avanço insignificante nesses 15 anos. Soja,
milho e feijão, ao contrário, cresceram respectivamente, 46%,
90% e 21% no mesmo intervalo de 15 anos. Além disso, a parti-
cipação de produtos básicos na área e produção total tem decli-
nado constantemente. Muito diferente do ocorrido com a soja e
o milho, que aumentaram consideravelmente essa participação.

Tabela 3 - Variação da produção per capita


(A=kg/hab) e da produtividade (B=kg/ha) dos
produtos da agricultura familiar e do agronegócio
no intervalo de 1990 a 2005 (Maranhão)
Produtos 1990 1995 2000 2005 Taxa geral (1990/95)

(Maranhão) A B A B A B A B A B
Arroz 94 280 179 884 123 841 112 860 19% -3%
Mandioca 36 7,9 460 8,5 159 7,0 254 80 -30% 1%
Feijão 8,0 380 8,0 370 3,4 450 6,0 460 -25% 21%
Soja x 274 30,5 1851 77 2544 166 2700 444% 46%
Milho 27 281 68 562 55 1007 67 1070 148% 90%
Bovino
0,8 x 0,8 x 0,7 x 1,1 x 37% -2%
(cabeça)
Cana-de-acuçar 412 49 257 32 88 50 327 48 -21% x
Carvão vegetal 37,5 x 36 x 25 x 84 x 124% x

Fonte: Estatísticas municipais da produção agrícola/pecuária e da silvicultura e censo demo-


gráfico do IBGE (vários números)

Esses fatos em si são suficientes para compreender o que


vem ocorrendo nos dois segmentos da agricultura do Maranhão

29
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

e quais suas perspectivas, uma vez mantida a política atual de


favorecimento ao grande estabelecimento e a monoculturas.

É, portanto, neste cenário neoliberal que devem ser pen-


sados os problemas de estagnação enfrentados pela agricultura
do Maranhão. Claro que eles não se restringem a esse período
específico (1990/2005), existindo outros, anteriores. Mas, sem
dúvida, a política neoliberal sustentada na heterodoxia das po-
líticas fiscal, monetária e cambial; a ausência do Estado na ges-
tão ativa de uma política regional e os gargalos histórico-estrutu-
rais não resolvidos secularmente (questão agrária e do mercado
de trabalho) também constituem fatores relevantes para com-
preender esse perfil de estagnação que prevalece na agricultura
familiar desde os anos oitenta.

30
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

4. INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL E
TRANSFORMAÇÃO DO SETOR AGRÍCOLA

Uma questão se põe de imediato: é saber o que levou o


governo a intervir tão fortemente na agricultura (até os anos
80), o papel que ele assumiu, e com que mudanças nos depara-
mos nesta forma de agir com a crise econômica dos anos oiten-
ta. Isso parece ser um caminho interessante para se começar.
Em outras palavras, saber como se efetivou a ação do Estado na
transformação do padrão agrícola extensivo “atrasado” para ou-
tro, “intensivo e moderno”, e que papel a política agrícola desem-
penhou neste contexto mais geral da política macroeconômica
vigente na época.

A política macroeconômica no pós-64 que emerge do


modelo econômico delineou as políticas setoriais, dentre elas
a de incentivos fiscais e a “política agrícola de modernização”
(de crédito rural subsidiado). A prioridade era resolver a questão
agrícola, isto é, aumentar a oferta e a produtividade, a partir da
transformação urgente de seu perfil técnico e favorecimento
de uma maior integração entre agricultura e indústria, ou seja,
a formação e consolidação de complexos agroindustriais (CAIs)
competitivos.

Percebe-se, de um lado, a mudança de um padrão exten-


sivo de agricultura para um moderno, intensivo em capital, que
passa a prevalecer na segunda metade dos anos 70. De outra
parte, também é visível o confronto de duas estratégias de de-
senvolvimento no setor. Uma reformista, tendo a reforma agrá-
ria como foco central, e outra conservadora, preferida pelos go-
vernos militares, voltada para a solução imediata de problemas
relativos ao aumento da produção e da produtividade e da reor-
ganização da atividade.

31
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

A ação do Estado nesse contexto orienta-se fundamental-


mente para a integração vertical e para o incremento imediato
de produção através do aumento de produtividade sem, entre-
tanto, substituir totalmente o antigo padrão de expansão agrí-
cola, extensivo e articulado à agricultura familiar o segmento
dinâmico nas áreas de fronteira.

Fica claro que há diversos objetivos a serem cumpridos,


e, portanto, a prioridade dada à agricultura no contexto do mo-
delo econômico implementado após 1964, a direção e o ritmo
das transformações ocorridas na atividade entre o final dos anos
sessenta e noventa não podem ser explicados única e exclusiva-
mente dentro da própria agricultura, mas como parte de um
processo mais complexo e abrangente dada a subordinação da
agricultura à indústria.

Por meio desta articulação que se estabelece entre os di-


versos segmentos, é possível entender o ritmo lento de penetra-
ção do capitalismo no campo e a forma desigual como essa ação
se desenvolve nas diferentes atividades agrícolas, ao longo das
décadas de setenta, oitenta e noventa.

De fato, a trilha de “modernização” da agricultura em ge-


ral foi construída de maneira seletiva, pontual, diferenciada e de-
sigual, assumindo dinâmica própria em cada espaço econômico
onde ela é operacionalizada.

No Sul/Sudeste, tem-se como carro-chefe a soja, a cana,


a laranja e outros produtos de exportação, enquanto no Norte e
Nordeste, por razões diversas, o processo foi muito mais restri-
to e voltou-se praticamente para uma única atividade: a pecuá-
ria. Quer dizer, o crescimento e a modernização da agricultura
no Sudeste se fizeram articulados à dinâmica mais geral da ex-
pansão capitalista que se reportava naquele momento ao setor
industrial e exportador. É essa dinâmica que induzirá, ou não,
atividades, segmentos, elos e atores mais específicos a participa-

32
COLEÇÃO
CCSO
rem do desenvolvimento específico de áreas, de forma a viabili-
zar o processo de acumulação nos seus núcleos de atuação.

Neste sentido, Kageyama (1985, p.21) destaca que: “A ca-


racterística talvez mais marcante do processo de modernização
da agricultura brasileira nas últimas décadas diz respeito à par-
ticipação fundamental do Estado na geração, difusão e finan-
ciamento do progresso técnico para a agricultura”. Ou seja, foi
a mesma que deu amparo efetivo ao ritmo de modernização e à
forma por ela adotada, tendo o crédito rural constituído o ponto
central da política de modernização.

4.1. Especificidades da agricultura e a intervenção


governamental

A razão de uma maior ou menor intervenção se dá por


conta da característica do setor e suas peculiaridades quanto à
formação de preço e mercado frente às demais atividades eco-
nômicas. Isso o torna mais sujeito a riscos e incertezas, relativa-
mente aos demais setores. A razão estaria na ação oligopolista
das empresas, assim, excetuando a agricultura cujos produtos
são pouco diferenciados e onde, em curto prazo, a oferta é rí-
gida (portanto, os preços são determinados pela demanda). Nos
demais setores, há reserva de capacidade produtiva e as empre-
sas, seja pela concentração industrial, seja pela propaganda, di-
ferenciação real ou fictícia de suas mercadorias etc. – possuem
poder sobre seus mercados, “grau de monopólio”, para fixar o
preço de seus produtos e obter “lucro monopolístico” (KALE-
CKI, 1983).

Por causa dos riscos e incertezas, e de ser um setor em


que ainda predomina a concorrência, a agricultura constante-
mente é objeto de intervenção estatal, objetivando minimizar
riscos de crises, seja de superprodução e/ou de insuficiência de
oferta. Essa prática intervencionista é corriqueira tanto nos paí-
ses desenvolvidos quanto nos subdesenvolvidos. Ela visa tanto à
questão de segurança alimentar quanto proporcionar e garantir

33
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

estabilização de preços e aumento de renda deste segmento, es-


tando articulada com a política comercial.

Para Mesquita (2006), o caráter desta intervenção está,


portanto, associado à política econômica vigente, à importância
do setor em termos de geração de renda, de emprego e divisas.
A história da cafeicultura no século XIX e, mais recentemente,
a modernização da agricultura a partir da década de setenta, são
exemplos notáveis de intervenção do Estado no setor agrícola5 e
de como se manipula a política macroeconômica, em particular
a de câmbio e a monetária, para atingir os objetivos mais gerais
do desenvolvimento econômico, beneficiando especialmente a
industrialização e determinado segmento social6.

Segundo Carvalho, Johnson (1947) foi quem consolidou


a abordagem teórica que justifica a ação pública sobre a agri-
cultura; isso por conta da constatação de falhas que a economia
de mercado apresenta na distribuição eficiente dos recursos e
também pelos riscos7 aos quais se submetem os agricultores, no
geral. Normalmente são identificadas as seguintes falhas:

1) Existência de bens públicos, cujo consumo por um


usuário não reduz o estoque disponível para outro;

5
Com a crise do capitalismo nos anos trinta, países como Estados Unidos e França cuidaram
de subsidiar sua agricultura como forma de minimizar os problemas. No Brasil, não foi
diferente e o governo socorreu o café. Nos Estados Unidos, essa prática se consolidou
desde o New Deal, no início da década de trinta, e tem sido apontada como a causa central
desta pujança de sua agricultura e do avanço tecnológico no meio rural. Na Europa, que
tradicionalmente sempre viveu situações dramáticas de desabastecimento, com aumento
sistemático da intervenção consubstanciado na criação da Política Agrícola Comum – PAC
(1957), o quadro tem mudado favoravelmente. Tanto que em menos de vinte anos passou
de importadora para exportadora líquida de produtos agrícolas (CARVALHO, 1994).
6
Há uma longa lista de estudos excelentes nesta linha, mas gostaria de lembrar apenas
Furtado (1997), Silva (1976), Cano (1983) e Cardoso de Mello (1975).
7
Sonka e Patrick (1984) apontam os seguintes riscos: riscos de produção ou técnicos
associados a problemas climáticos, pragas e doenças; risco de preço; risco tecnológico
existente quando da realização de investimentos; risco legal ou social, como mudanças nas
regras estabelecidas pelo governo para estabilizar preços, compras, ou nas condições de
crédito etc. e fontes humanas de risco, como greves de trabalhadores no período da colheita.

34
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

2) Mercados imperfeitos que podem levar à formação de


monopólios ou atividades que exijam grande escala na produ-
ção;

3) Externalidades, que podem ser positivas ou negativas; e

4) Informação imperfeita (CARVALHO, 1998, 1514).

Apesar dos inúmeros fatores, o centro da discussão para


Johnson era a elevada instabilidade dos preços agrícolas, que de-
correria da ineficácia de informações que orientassem os agri-
cultores nas decisões quanto a investimentos e na minimização
de riscos. Baseados em tais premissas e com certa defasagem de
tempo, os governos de praticamente todos os países capitalistas,
especialmente aqueles do Terceiro Mundo sob a órbita dos Es-
tados Unidos, direcionaram sua intervenção na agricultura com
objetivos diversos. Dentre eles o de se tornarem competitivos
em termos internacionais para conquistar mercados e gerar divi-
sas para o processo de desenvolvimento interno e também para
o pagamento do serviço da dívida.

Contudo, o descompasso entre países pobres e ricos nos


gastos alocados à atividade, a política altamente protecionista
adotada por países ricos e a política neoliberal de abertura de
mercado, acarretaram muitos problemas. Internamente, con-
centração da terra e da renda; desarticulação da produção fa-
miliar, crescimento do desemprego; problemas ambientais;
substituição da lavoura pela pecuária, etc. Externamente, per-
da de mercado para países ricos; subsídio aos produtos da CEE,
Estados Unidos e Japão; sobretaxas e cotas para produtos com-
petitivos, etc. Tais problemas são mais acentuados nos paises
subdesenvolvidos, mesmo que, às vezes, disponham de uma
agricultura moderna e competitiva como a brasileira. Mas, de
qualquer forma, a ação governamental atingiu, pelo menos sob
o ponto de vista econômico ou meramente produtivista, seus
objetivos de aumentar e transformar a agricultura de área mais

35
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

atrasada. Só que com custos sociais e ambientais ainda por esti-


mar.

4.2. O papel da agricultura e os complexos agroindustriais na


década de 70

Historicamente, a agricultura sempre cumpriu papel es-


tratégico no processo de desenvolvimento capitalista, desde
o período de formação e consolidação do capitalismo concor-
rencial inglês analisado por Marx. Tal fato demonstra sua rele-
vância na formação do mercado interno e na liberação da força
de trabalho para o nascente capital industrial britânico e até o
presente século, em que não há mais resquícios dessa forma de
organização de mercado (a livre concorrência). Hoje suas fun-
ções estão muito mais articuladas com problemas conjunturais
de política macroeconômica direcionada por organismos inter-
nacionais do que propriamente com o desenvolvimento da ati-
vidade em si. Isso não quer dizer que a agricultura sob a égide
do grande capital, dos oligopólios, tenha perdido relevância ou
não cumpra papéis importantes. Simplesmente a lógica passa a
ser outra, dada às condições peculiares de cada país no cenário
econômico no qual se encontra inserido (GRAZIANO DA SIL-
VA, 1982).

É dentro dessa perspectiva desenhada pela política eco-


nômica implementada e ajustada ao nível de uma dinâmica
mais geral que ocorrerá a “modernização” do setor e a expansão
das diversas atividades que o integram. Ao eleger a agricultu-
ra como um dos setores estratégicos de sustentação do modelo
econômico, a antiga base de operacionalização da atividade, ex-
tensiva e pouco moderna, teve de ser substituída por um novo
padrão sustentado na mecanização e quimificação intensivas. A
mesma far-se-á através da adoção de modernas tecnologias pro-
venientes de países ricos, com o que a agricultura terá condição
de cumprir satisfatoriamente suas funções básicas, já que sua
efetivação possibilitaria, em curto prazo, o aumento da produ-

36
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

ção, da produtividade e do lucro (ou seja, os pressupostos da Re-


volução Verde).

Esse pressuposto produtivista da política de moderniza-


ção implantada representa o núcleo da Revolução Verde, explo-
rada e exportada por teóricos e governo americano nos anos ses-
senta, como tábua de salvação para a saída do atraso e das crises
das economias subdesenvolvidas. Ao se basear no uso intenso
de insumos modernos, na verdade sua meta principal era mui-
to mais criar demanda para produtos em geral importados e/ou
produzidos por multinacionais do que propriamente solucionar
os sérios problemas agrários dos países do Terceiro Mundo. A
preocupação (produtivista) maior não era com a questão agrária,
posta de lado, mas fundamentalmente com o problema agrícola,
isto é, o aumento da produção e da produtividade e a geração
de excedente exportável. As outras questões de caráter político-
estrutural relativas ao uso e posse da terra, relações de trabalho,
impacto ambiental ou mesmo à concentração da renda ficaram
de fora das preocupações iniciais desta política de moderniza-
ção. Aliás, essas questões agravaram-se, o que demonstra o nível
de (des)compromisso do governo brasileiro com elas.

De qualquer forma, a prática da Revolução Verde (produ-


tivista a qualquer custo) foi assumida pelo governo brasileiro e
num curto espaço de tempo conseguiu criar, ampliar e conso-
lidar mercados tanto para a indústria a montante, fornecedora
de bens de produção, quanto para a indústria à jusante, respon-
sável pelo processamento de matéria-prima e mudança nos há-
bitos de consumo. Em outras palavras, o processo de integração
agricultura/indústria, que se fazia lento nas décadas anteriores,
se amplia e se consolida, formando “complexos”, isto é, indus-
trializando-se, e torna-se também mais dependente do setor in-
dustrial (KAGEYAMA, 1989; GRAZIANO DA SILVA, 1981).

Ou seja, tem-se um sistema maior que não se restringe


mais a um setor isoladamente, mas a um todo mais complexo.

37
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Conforme a perspectiva teórica8 do autor, esse sistema


maior que sofre e recebe influência é denominado por uma
qualificação diferente, como de complexo agroindustrial (seus
derivativos e /ou diferenciações – sistema agroindustrial9, com-
plexo rural; complexos agroindustriais – CAIS), de cadeia pro-
dutiva10 (ou filiére agroalimentar ou ainda setor agroalimentar)
ou de sistema de produção, cada um com a sua filigrana. “Tais
termos, complexos agroindustriais (CAIS), agrobusiness e com-
plexo agroindustrial (CAIS) vêm-se generalizando de tal forma
e são tantos os autores a utilizá-los que parecem não pertencer
mais a ninguém, tornaram-se ambíguos” (GRAZIANO DA SIL-
VA, 1996, p. 64).

De fato, a agricultura (o setor), além de depender das po-


líticas macroeconômicas na definição de prioridades e recursos,
torna-se mais dependente de outros setores/segmentos a ela di-
reta ou indiretamente articulados, a exemplo do sistema finan-
ceiro, o de pesquisa e extensão, o do comércio e distribuição,
infraestrutura produtiva ofertada dentre outros. Esse todo (sis-
tema) formado de diversas partes (segmentos) e elementos que
8
O conceito de complexo agroindustrial ganha muitas faces interpretativas, variando
segundo a escola a que seus autores se filiam. Uma mais restrita associada à matriz de
insumo-produto de Leontief, de caráter e de enfoque sistêmico cuja matriz interpretativa se
origina de Davis e Goldberg (1957). Outra noção de complexo esteve associada às teorias
do desenvolvimento econômico nos anos 50. Proposta por Hirschman e Perroux, está mais
voltada respectivamente ao desenvolvimento de países retardatários e às circunstâncias
regionais (polos de desenvolvimento) (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 63-64).
9
Segundo Graziano da Silva (1996), um dos primeiros a utilizar esse conceito de sistema
agroindustrial no Brasil foi Alberto Passos Guimarães, em 1968. Entretanto, no Brasil “é
preciso distinguir dois usos distintos do termo complexo agroindustrial”. Um inspirado
nos conceitos de agrobusiness e de sistema agroalimentar - o CAI ou complexão. A outra
abordagem baseia-se no conceito do complexo rural presente na economia desde a época
colonial, que “refere-se aos vários complexos agroindustriais, os CAIs”. Ambos “procuram
enfatizar as mudanças nas inter-relações entre o setor agrícola e o restante da economia
com o processo de modernização conservadora de nossa agropecuária” (GRAZIANO DA
SILVA, 1996, p. 76).
10
Na França, o pioneiro no uso do conceito (CAI) no sentido de Davis e Goldberg foi
Malassis. Segundo Graziano da Silva (1996), ele não se limitou a traduzir o termo. “Ele
enfatizou a sua dimensão histórica como característica da etapa de desenvolvimento
capitalista em que a agricultura se industrializa”. Para isso, utiliza a noção de cadeia ou
filière agroalimentar que se reporta aos itinerários de um determinado produto dentro do
sistema de produção (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 67- 68).

38
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

interagem sobre si deve ser a resultante sobre a qual devemos


verificar os efeitos advindos da ação do capital e/ou do Estado
nas diferentes atividades.

Em outras palavras, a dinâmica setorial, compreendida


como o movimento que decorre da ação de força advinda do
mercado e/ou do Estado, não pode ser vista de forma isolada
porque perde sentido já que ela se insere no todo. Foi, portanto,
em cima da concepção de atividade dependente e subsidiária,
mas com importante função na operacionalização do modelo
econômico, que se promoveu a modernização da agricultura
em meados da década de sessenta. Vale lembrar que o grau de
autonomia da política de modernização e da própria atividade
agrícola como um todo é fundamentado na política monetária
de caráter expansivo e numa política fiscal generosa em termos
de subsídios. Isso demonstra sua vinculação à política macroe-
conômica que, por sua vez, estava atrelada ao desempenho fa-
vorável da economia como um todo. Portanto, tão logo mude o
cenário internacional no processo de acumulação, como ocorre
entre 1970 e 80, a política econômica se altera e, consequen-
temente, as demais políticas setoriais, todas caudatárias da po-
lítica macroeconômica, que passa a se preocupar apenas com
a conjuntura econômica, em particular o controle da inflação
(MESQUITA, 2008).

4.3. Crise econômica e mudança de paradigma na década de 80

Com a década de 80, o país passa a sofrer as consequên-


cias da crise econômica internacional, decorrente do esgota-
mento do antigo padrão de acumulação vigente desde o pós-2ª
Grande Guerra e do efeito avassalador da crise do petróleo e de-
pois da escorchante taxa de juro. O modelo econômico brasilei-
ro também entra em crise. Tal fato implica a reestruturação da
política macroeconômica a fim de ajustá-la ao padrão interna-
cional da livre circulação de mercadorias e de fluxos financeiros.
Isso significa que a “política de modernização agrícola” também

39
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

sofre as consequências, atingindo todas as atividades, setores e


atores a ela direta ou indiretamente vinculados.

Assim, enquanto as taxas de crescimento continuam po-


sitivas e a inflação sob controle11, na década de 70 inúmeras po-
líticas setoriais continuam sendo implementadas com o objeti-
vo de induzir e sustentar a modernização agrícola. A principal,
sem dúvida, foi a de crédito rural, que funcionou como motor
dessa transformação até o início da década de 80. Com as crises
da dívida externa, cambial e fiscal dos anos oitenta, o crédito
rural cede lugar à política de preços mínimos12, cujo papel foi
fundamental na expansão da fronteira agrícola do Centro-Oeste
centrada na produção de grãos e pecuária.

O Plano Cruzado (1986) fez desindexação e tabelamento


de preços, que favoreceram o aumento na demanda sem cor-
respondente expansão de oferta, provocando descontrole na
inflação que passou de 228%, em 1987, para 1.037% no ano se-
guinte. Ao mesmo tempo, o Plano Cruzado disponibilizou mais
recursos para o crédito rural e favoreceu a expansão dos investi-
mentos na atividade (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 115).

No entanto, à medida que o governo perde o controle da


inflação (final dos anos 80 e início de noventa) e a política eco-
nômica assentada no câmbio valorizado e no controle monetá-
rio estrito não consegue reverter nem o quadro hiperinflacio-
nário nem o balanço de pagamentos, a intervenção estatal na
agricultura cede espaço às forças de mercado. Com a abertura
comercial na década de noventa e o aprofundamento do modelo
neoliberal desregulamentando e privatizando tudo e expondo o
setor agrícola à concorrência às vezes predatória, os tradicionais
11
Segundo o Banco Mundial, a taxa de inflação do Brasil entre setenta e o final de 80
foi sempre ascendente. No período inicial (1971/80) ela alcança 38%, depois dispara
para 249% em 1985, decresce um pouco com o Plano Cruzado (64%) e volta a subir
vertiginosamente (321%), em 1987.
12
“Antes da Política de Preços Mínimos, o Estado era visto como planejador de alocação
de capitais privados, como a personificação da racionalidade do capital em geral. Com a
política de preços, o Estado recupera sua importância como árbitro, quase sempre parcial,
dos conflitos internalizados nos CAIs” (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p. 57).

40
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

instrumentos de intervenção – crédito rural, incentivos fiscais,


preços mínimos, extensão e pesquisa – foram, paulatinamente,
reestruturados, desativados e/ou só alocados a produtores e ati-
vidades específicas.

No lugar do Estado, elementos do mercado representados


por grandes empresas nacionais e multinacionais controladoras
do comércio de commodities, grupos financeiros e da indústria a
montante e à jusante do setor assumem o posto de financiado-
res e compradores da produção, antes a cargo de órgãos e insti-
tuições estatais.

Dada a vinculação e dependência entre a política de mo-


dernização agrícola (crédito rural) e a política macroeconômica,
esperava-se que o fraquejamento da primeira, decorrente da in-
coerência da segunda (comum durante toda a década de oiten-
ta), tivesse efeitos arrasadores na agricultura ou ocasionasse um
processo de desinvestimento e de atraso tecnológico. Achava-se
que haveria crise de liquidez ou colapso na produção. No en-
tanto, isso não aconteceu (Ver GOLDIN e REZENDE, 1993;
GASQUES E VERDE, 1990).

Ao contrário, o efeito maior da crise macroeconômica


atingiu a indústria, cujo crescimento foi inferior ao da agricul-
tura. A expansão da atividade esteve respaldada em ganhos de
produtividade obtidos, segundo especialistas, com a introdu-
ção de tecnologias nos diferentes segmentos da cadeia produ-
tiva. De fato, apesar de a agropecuária ser objeto de constantes
e infindáveis experiências no sentido de adequá-la ao “modus
operandi” macro do sistema, relativamente ao arrefecimento es-
tatal, o setor conseguiu se adaptar ao novo status quo. Com isso,
tornou-se elemento importante no enfrentamento da crise eco-
nômica via expansão da oferta interna de alimentos, indispensá-
vel e fundamental na contenção dos preços, e criação de postos
de trabalho durante essa década.

41
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

O comportamento anticíclico da agricultura durante a dé-


cada de oitenta não livrou o setor de experiências desastradas
na década seguinte. Em tese, a nova política agrícola do Gover-
no Collor se fundamentava em quatro grandes aspectos: uma
nova política de investimento; uma nova política de preços; um
programa de competitividade agrícola e um programa de regio-
nalização da produção, sendo que o plano se restringiu a novas
regras para o crédito rural e para os preços mínimos (GRAZIA-
NO DA SILVA, 1996).

Embora a retórica do governo fosse de ordem liberal, de


reduzir a participação do Estado no setor, deixando as forças de
mercado livres para reorganizar a distribuição espacial da produ-
ção, no fundo, a questão se resumia à insuficiência de recursos
oficiais para o financiamento e as compras do setor. O quadro
caótico das finanças públicas também serviu de justificativa
para consubstanciar o desmonte e o enxugamento da máquina
governamental direcionada para o setor (GRAZIANO DA SIL-
VA, 1996).

A ação governamental para o setor agrícola, durante a cri-


se econômica da década de oitenta e início de noventa, difere
muito daquela da era autoritária, no sentido de impor a direção
e o ritmo dos investimentos a realizar. Nesse período, em tese,
essa tarefa cabe ao investidor. O Estado volta-se mais para ações
de coordenação e governança junto às cadeias produtivas im-
portantes do agronegócio internacional, a fim de torná-las mais
competitivas.

Todavia, com a criação do PRONAF em 1995, depois de


longo afastamento e da escassez de recursos de financiamento
de médio e longo prazo, o governo volta a atuar, agora mais na
agricultura familiar e articulado com os projetos de assentamen-
to do INCRA.

Ou seja, a política agrícola mais efetiva, sob o ponto de


vista do financiamento propriamente dito, beneficia, agora,

42
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

somente os pequenos produtores familiares, os grupos excluí-


dos anteriormente, na primeira fase da chamada modernização
compulsória dos anos setenta. Os demais, médios e grandes,
captam seus financiamentos através de mecanismos criados no
âmbito do poderoso complexo agroindustrial, criado e consoli-
dado na etapa anterior da política de modernização do Estado
brasileiro.

A política macroeconômica respondeu pelo desenho das


políticas setoriais, dentre elas, a política agrícola, que tinha por
meta cumprir objetivos específicos no quadro geral da econo-
mia como um todo. Dadas as particularidades do setor agrícola
frente aos demais, a atuação do Estado nessa área foi marcante,
pelo menos até o início de oitenta. A forma de intervenção ado-
tada ou o modelo de desenvolvimento agrícola foi semelhante
àquele prevalecente na chamada Revolução Verde e comum a
uma parcela de países que nesse período, década de sessenta,
optaram por executar uma reforma agrícola.

O sentido da mesma passava pelo aumento de produção


e de sua modernização que desembocaria numa maior integra-
ção entre os setores participantes desse processo. Esse quadro
de indução à “modernização”, em que se inseriu a agricultura,
esteve associado, sem dúvida, ao financiamento público. Com
a crise econômica dos anos oitenta, o Estado não exerce mais
esse papel ou o exerce de forma adequada ao capital industrial;
coube assim à economia ao mercado exercê-lo.

43
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

44
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

5. DINÂMICA E ESTAGNAÇÃO
DO SETOR AGRÍCOLA

O declínio de uma considerável parte da agropecuária


local está associado a mudanças que vêm se processando nas
diversas variáveis da atividade desde a década de 70, como aque-
las relacionadas ao acesso à terra, à tecnologia e ao trabalho. A
chamada modernização agrícola privilegiou pouquíssimos pro-
dutores e uma atividade, a pecuária de corte, em detrimento da
agricultura familiar e do extrativismo. O resultado disso no pe-
ríodo é uma mudança significativa neste período no papel de
atores “tradicionais” como os posseiros, arrendatários, parceiros
e pequenos proprietários13, que ainda hoje (2008) são peças im-
portantes na produção de alimentos básicos (arroz, milho, feijão
e mandioca) e também no extrativismo.

A produção de grãos (exclusive soja) caiu sistematicamen-


te desde os anos setenta, assim como a de babaçu (ALMEIDA
2001, MESQUITA, 1998); os níveis atuais são inferiores ao de
duas décadas passadas. Já a soja se expande exponencialmente,
assim como a pastagem e o rebanho bovino. A dinâmica do se-
tor agropecuário, grosso modo, até a década de 70 girava em tor-
no de duas atividades, o arroz e o babaçu; na época de transição
(setenta/oitenta) foi a vez da pecuária, e, nos anos noventa, se
direcionou à soja e à pecuária empresarial (MESQUITA, 2006).

Por outro lado, não devemos esquecer que a brusca que-


da, na primeira metade dos anos oitenta, na agropecuária do
Estado está relacionada, em primeiro lugar, com a aguda crise
agrária, e também a problemas conjunturais (secas e enchentes)
e à crise externa/contas públicas, forçando uma reestruturação
profunda na política agrícola então vigente, principalmente em
Os não-proprietários (parceiros, arrendatários e ocupantes) e também os minifundistas,
13

entre 70 e 95, perderam área para os proprietários e também diminuíram de número


substancialmente. Em 1970 os primeiros representavam 83% dos estabelecimentos e 8,5
% da área; 25 anos depois, restringem-se a 68% e 6,7%, respectivamente. De qualquer
forma, ainda em 1995 (IBGE) continuavam sendo majoritários; perfaziam 251 mil contra
117 mil proprietários (ALMEIDA et al., 2001, p. 77 e 83).

45
COLEÇÃO
CCSO
termos de corte de subsídios e aumento da taxa de juros para o
financiamento rural e que desconsidera a questão agrária não
resolvida. Em anos recentes (década de 1990), o Estado refor-
mula o financiamento agrícola, cria linhas de crédito especiais
como o PRONAF para atender à agricultura familiar e adota
uma política de assentamento como forma paliativa de demo-
cratizar o acesso à terra, problema estrutural jamais enfrentado
e sempre postergado. O resultado desta política não tem sido
dos melhores, conforme mostram os censos agrícolas do IBGE,
especialmente qunato à produção arroz e mandioca e o extrati-
vismo.

A crise agrícola manifestada na queda de participação


de grãos (arroz/milho/feijão) desde os anos sessenta é produto
desta crise agrária não revolvida e sempre postergada.A figura 1
expressa bem esse fato. Por exemplo, em 1960 a produção do
Maranhão correspondia a 3,5% da do Brasil e a 13,5% da do
Nordeste; em 2006 caiu para 1,96% e 8%, respectivamente. O
declínio se mostra brusco nos anos setenta, continuando até
metade da primeira década do século atual. O que explica essa
crise agrícola e agrária que permanece há gerações é a calcifica-
ção da concentração fundiária e o abandono de microproduto-
res/minifúndios e não-proprietários pela política dos diferentes
governos deste período (ver capitulo 7).

46
COLEÇÃO
CCSO
Por outro lado, o cálculo de taxas de crescimento do se-
tor agropecuário mostra quais produtos evoluíram em termos de
área e produção, nas três últimas décadas, assim como os veto-
res desta dinâmica (taxa de incremento anual). A lavoura tem-
porária cresceu (t) apenas 1,6% a.a. e o extrativismo do babaçu
caiu (t) 1,1% a.a., refletindo a estagnação dessas atividades no
período 1990/2005. Tomando isoladamente os principais produ-
tos (arroz/mandioca/soja/rebanho bovino) é possível perceber
diferenciação significativa entre eles. A produção de arroz, por
exemplo, cresceu 2,48% a.a. enquanto a de mandioca teve que-
da de 1% a.a. No caso da soja, o crescimento alcançou 44% a.a.,
mas o rebanho bovino, apesar da orgia de recursos públicos di-
recionados à atividade por órgãos governamentais, avançou ape-
nas 3.4% ao ano (ver Tabela 3).

5.1. O desenvolvimento desigual das “agriculturas” familiar


e empresarial

Neste contexto neoliberal, qual foi a dinâmica de cresci-


mento da agricultura maranhense? Para responder, é preciso ver
as transformações ao longo dessas décadas e o caminho trilhado
pelo setor de forma a identificar a direção, a prioridade e o rit-
mo de de mudança da atividade como um todo, especialmente
a agricultura temporária, distinguindo aqui o agronegócio (AG)
ou agricultura empresarial (soja/cana) e a agricultura familiar
(arroz/mandioca)14. Em dois momentos (1990 e 2005), os dados
relevantes da evolução da lavoura temporária, com destaque
para soja e arroz (alimentos básicos), mostram a mudança radi-
cal numa parte especifica da agricultura do Maranhão. Natural-
mente essa transformação se articula ao movimento mais geral
da economia capitalista com as taxas de crescimento, e a opção
de desenvolvimento escolhida, baseada na produção de grãos.

Mas não se fará análise detalhada de cada produto, restringindo-se mais apenas aos dois
14

relevantes, arroz e soja.

47
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Figura 2- A evolução da área plantada da lavoura temporária


no Maranhão (1990-2005)

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal

Assim, num primeiro momento é mostrado o padrão de


expansão adotado na agricultura (isto é, familiar, de subsistência
e empresarial) de forma a apreender o resultado decorrente da
ação dos diversos atores desse processo e como se relacionam.
A dinâmica da agricultura maranhense deste período pode ser
entendida mais adequadamente se atentarmos sobre a ação do
Estado e do mercado, e os seus desdobramentos para o movi-
mento geral do capital que se realiza dentro e fora da atividade
no período atual e em época anterior.

Além disso, convém ressaltar ainda que a expansão da


agricultura não é determinada internamente pelo setor em si,
fazendo parte de uma dinâmica maior do capital, ligada ao de-
sempenho do núcleo mais dinâmico de acumulação do capital,
a indústria. É, portanto, nessa perspectiva que se observa o de-
sempenho da agricultura no Estado, sendo seu rumo, ritmo e
diferenciação reflexos da dinâmica inerente à reprodução do
capital nas instâncias a ela vinculadas (comercial/mercantil/
usurária/financeira).

48
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Por outro lado, esse processo de acumulação e reprodu-


ção do capital (no campo ) assumiu padrões diversos nos dife-
rentes tipos de atividade. Numa prevaleceram formas capitalis-
tas de produção pela potencialidade do mercado e a expectativa
que a mesma representava ao capital; noutras prevaleceram as
formas pré-capitalistas/atrasadas, até apresentarem condições
de atração à entrada do capital15 produtivo. Em outras palavras,
a ação do capital no campo se fez de forma diferenciada e em rit-
mos distintos; isso porque a agricultura, dadas as especificidades e
peculiaridades de seu processo de produção frente a alternativas de
inversão (mercado financeiro, indústria), constitui uma atividade
de alto risco e de incerteza (MESQUITA, 2006).

Se adicionados a essa condição do setor outros aspectos


inerentes ao capital em geral, que é a busca infatigável de cam-
pos de valorização (variedade de opções de investimento, taxa
de retorno, lucros diferenciados e os mecanismos de atração de
capitais, conduzidos pelo Estado local e federal), a opção pela
agricultura se torna muito mais complexa comparativamente a
outras atividades. (MESQUITA, 2006)

No entanto, esse quadro (de incerteza, instabilidade e de


pouca liquidez) peculiar à agricultura não impediu que outras
formas de capital, dentre elas o comercial ou o usurário, assu-
missem um papel relevante no processo de acumulação do capi-
tal dentro da atividade enquanto não houvesse interesse da par-
te do capital produtivo ou industrial em explorá-la diretamente.

Tal fato se refletiu na ação ágil e eficiente do capital mer-


cantil em diversas frentes da agropecuária, desempenhando um
papel marcante no sentido de monetarizar as relações sociais de
produção e integrar a parte atrasada do setor agrícola ao circui-
to nacional do mercado consumidor. Essa iniciativa representou
um passo importante para que, posteriormente, quando as re-

Um exemplo desse fato foi a produção do arroz não mecanizado na região de Balsas. Antes
15

da chegada dos “gaúchos” ao município e do sucesso da soja, prevaleciam formas não


capitalistas.

49
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

lações de produção ensejaram maior avanço das forças produti-


vas, o capital produtivo assumisse a hegemonia na apropriação e
geração de excedente, antes a cargo do capital comercial.

Para detectar o(s) caminho(s) da agropecuária maranhen-


se no período em foco (1990/2005) é preciso, de um lado, acom-
panhar o desempenho da lavoura temporária na sua especifici-
dade e nos diferentes momentos de crescimento, destacando os
principais produtos que respondem pela performance de expan-
são ou de crise; e de outro, identificar os fatores responsáveis
por tal performance. Na agricultura do Maranhão, um núme-
ro reduzido de lavouras/produtos dita o rumo do setor, tanto
no presente como no passado. Na área de alimentos básicos, o
arroz16 continua sendo o mais representativo; no setor de ma-
téria-prima industrial a cana-de-açúcar predominou até os anos
oitenta, cedendo lugar, hoje, à soja. Outros produtos comerciais
também importantes, a exemplo do eucalipto, milho e pecuária
empresarial, não serão objeto desse trabalho.

Para operacionalizar esse acompanhamento, a partida


centra-se em dois períodos, embora só se analise a etapa mais
recente pós-90. Um período inicial (1970-85) que reflete a fase
áurea de intervenção no setor agropecuário, quando a atuação do
Estado se fazia via crédito rural e incentivo fiscal. E um outro,
posterior, em que a presença estatal agora é atrelada às forças
de mercado. Nessa fase, a ação do capital produtivo (i.e, sem
auxílio dos instrumentos tradicionais) na atividade foi cada vez
mais presente e coincide com a operacionalização comercial do
Programa Grande Carajás (1985-2000). Coincide também com a
incorporação, no Sul do Estado, de novas áreas do cerrado à pro-
dução de grãos (primeiro, o arroz mecanizado, depois a soja) e
com a paulatina perda de importância da pecuária e agricultura
de alimentos nas mesorregiões ocupadas por grãos.
16
Embora se saiba que a mandioca, o milho e o feijão tenham importância social muito
grande sob o ponto de vista da ocupação da mão de obra familiar, considerou-se apenas
o arroz, fundamentalmente pela tradição de ser o produto comercial por excelência desse
segmento de produtos não capitalistas.

50
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

5.1.1. Padrão de crescimento da agricultura temporária:


mudanças e tendências

Em primeiro lugar, é preciso alertar que a abordagem


quanto ao crescimento, mudanças e tendências da agricultura
maranhense, se limit a alguns produtos da lavoura temporária. E
como já se sabe, há uma especificidade inerente a cada tipo de
cultura e a dinâmica do setor resulta do desempenho conjunto
dos principais componentes. Estes, por sua vez, refletem o pro-
cesso de organização social daquela atividade e de sua inserção
no processo de acumulação e integração do capital, via a moder-
nização da sua estrutura produtiva e das relações de produção.

Nesta perspectiva, haveria várias “agriculturas”, já que


se pode delimitar perfeitamente, tanto no plano organizacio-
nal do desenvolvimento das forças produtivas quanto no plano
temporal e espacial de sua transformação, diferenciação ou es-
pecialização, as características de cada uma. Esquematicamente
teríamos uma agricultura tradicional (não capitalista) que alguns
também classificam de itinerante, atrasada, subsistência, não ca-
pitalista ou simplesmente de agricultura familiar17, conduzida por
produtor não capitalista e direcionada à produção de alimentos
básicos. E uma outra, comercial,patronal, empresarial, moderna
(capitalista), sob forma de monocultura especializada/mecaniza-
da e voltada para mercados específicos.

À frente da agricultura familiar “tradicional” se encontra


o minifúndio18, constituído por posseiros e arrendatários e peque-
nos proprietários muito dispersos (desorganizados política e eco-
nomicamente) e em contínuo processo de mutação, em toda a
extensão do Estado e com expressão declinante em termos de
participação de área, e quantidade colhida e valor da produção.
Embora a produção de arroz, mandioca e feijão seja realizada

Para uma discussão dos conceitos ver Mesquita (2006).


17

Minifúndio aqui entendido como miniestabelecimentos com área inferior a 5 ha, embora se
18

saiba que o conceito do Incra seja baseado em outros critérios –modulo rural e fiscal;renda
auferida,trabalho familiar e não apenas no tamanho físico.

51
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

em todo o Estado, poucos municípios atualmente (2005) sobres-


saem e concentram parte substancial destas mercadorias.

Além destes pequenos produtores (minifundistas), que


representam a maioria em número de estabelecimentos, 389
mil, há outros pouco numerosos, porém com participação as-
cendente na área colhida e na produção de alimentos (arroz).
Eles diferem dos anteriores por serem organizados política e
tecnicamente, e pelo caráter eminentemente capitalista da ati-
vidade, voltada ao atendimento de nichos de mercado e com
diferentes aportes de capitais.

Do lado da agricultura capitalista (ou simplesmente do


chamado agronegócio) estão as monoculturas de matérias-primas
industriais representadas pelas culturas de cana-de-açúcar, algo-
dão, eucalipto e soja, conduzidos por médios (especialmente) e
grandes produtores capitalistas, localizadas em áreas específicas
do Estado. Das quatro, a soja e o eucalipto continuam crescen-
do (em área e produtividade) sistematicamente desde sua insta-
lação (final da década de oitenta); as outras estão estagnadas e/
ou em declínio.

A cultura da soja a cada dia amplia a área de plantio e


assume um papel importantíssimo na dinâmica da agricultura
maranhense, em particular nos últimos cinco anos (2002/2007).
Isto por causa da articulação externa, que possibilitou uma
enorme expansão em termos de área ocupada; dos efeitos da
modernização de processos produtivos daí decorrentes e da in-
teração entre segmentos dos capitais industriais e comerciais
que se processou nessas áreas de soja no sul e nordeste do Es-
tado. Além disso, por beneficiar-se de uma infraestrutura de
transporte intermodal que lhe possibilita custos relativos meno-
res do que seus concorrentes, a sojicultura se apresenta como
o principal e mais ativo elemento do agrobusiness maranhense.

52
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Fonte: IBGE.

5.1.2. Mudança e dinâmica da agricultura familiar: o caso do


Fonte: IBGE.
arroz
5.1.2 Mudança e dinâmica da agricultura familiar: o caso do arroz
Até a década de 70, o processo de expansão de fronteira
Até a década de 70, o processo de expansão de fronteira agrícola ainda era
agrícola ainda
uma realidade era uma
no Estado, realidade
manifestada no Estado,
em termos manifestada
de altas taxas emtanto
de crescimento ter-no
mos de altas
front externo destataxas de crescimento
apropriação tanto no front
(área total dos estabelecimentos) externo
quanto na áreadesta
interna
apropriação (área
voltada à produção total dos
propriamente (lavoura e pastagens) quanto na área in-
ditaestabelecimentos)
Se a década de 70 é marcada
terna voltada à produção propriamente pelos juros dita
negativos e subsídios
(lavoura fiscais de toda
e pastagens)
ordem para o setor agrícola que favoreceu a atração de capital de todo tipo e com
intenções variadas para campo maranhense, a década de 80 se caracteriza pela crise
Se adedécada
deste modelo de 70 é agrícola
desenvolvimento marcada pelos no
sustentado juros negativos
credito e subsí-
rural subsidiado e nos
dios fiscais
incentivos de toda
fiscais. ordem
É o período nopara
qual oo Estado
setor irá
agrícola, o que
refazer sua favoreceu
estratégia de açãoano
setor agrícola,
atração sem, no de
de capital entanto,
todocorrigir
tipo edistorções há muito
repercutiu identificadas
de forma na política
variada no
agrícola. Assim, os pequenos produtores familiares, não proprietários (os parceiros,
campo, a década de 80 se caracteriza pela crise deste modelo de
arrendatários e ocupantes), continuaram sem ter acesso ao crédito rural, assistência
desenvolvimento
técnica e extensão rural,agrícola sustentado
entre outros (MESQUITA, no 2006).
creditoIssorural subsidiado
só se altera na década
edenos
90 comincentivos
a criação dofiscais.
PRONAF É oemperíodo
1996, masno comqual o Estado
resultados irá refazer
insignificantes para o
conjunto
sua de centenas
estratégia de milhares
de ação no setor de agrícola,
pequenos produtores inseridos nacorrigir
sem, no entanto, produção
familiar.
distorções Alémhádisso,
muito identificadas.
determinados Assim,
privilégios os pequenos
direcionados produto-
ao capital produtivo e/ou
res familiares, não proprietários (os parceiros, arrendatários
especulativo permaneceram (como os incentivos fiscais) para a agropecuária. e ocu-
Assim
como a exposição da agricultura, em particular a familiar, à concorrência interna e
externa (como a baixa de alíquotas de importação e os acordos comerciais, Mercosul, a
política de valorização do câmbio), antes pouco
53 relevante.
Por fim, outros fatores de ordem estrutural/conjuntural, a exemplo da
COLEÇÃO
concentração e do aumento e/ou queda CCSO do preço da terra, pressão demográfica sobre a
Benjamin Alvino de Mesquita

pantes), continuaram sem ter acesso ao crédito rural, assistência


técnica e extensão rural, entre outros benefícios (MESQUITA,
2006). Isso só se altera com o advento do PRONAF em 1996, mas
com resultados insignificantes para o conjunto de centenas de
milhares de pequenos produtores inseridos na produção familiar.

Além disso, determinados privilégios, direcionados ao


capital produtivo e/ou especulativo permaneceram a exemplo
dos incentivos fiscais, para a agropecuária. Ao mesmo tempoi,
a agricultura, em particular a familiar, ficou mais exposta à con-
corrência interna e externa (com a baixa de alíquotas de impor-
tação e os acordos comerciais, Mercosul, a política de valoriza-
ção do câmbio), antes pouco relevante.

Por fim, outros fatores de ordem estrutural/conjuntu-


ral, a exemplo da concentração e do aumento e/ou queda do
preço da terra, pressão demográfica sobre a área, ocorrência
de enchente e seca, crescimento da inflação, declínio da ren-
da per capita, se somam a esse quadro de desfavorecimento da
agricultura. O resultado é um recuo ou um crescimento medí-
ocre da área, volume e produtividade da lavoura . Dois aspec-
tos chamam a atenção. Um relativo à expansão recente de uma
parte da lavoura temporária que é a incorporação de áreas sem
que haja mudanças no processo produtivo. Um outro aspecto é
o avanço da concentração dos meios de produção, sobretudo a
lavoura temporária em segmentos capitalistas de grande porte
antes dominados por pequenos produtores.

Apesar destes problemas estruturais que estiveram/estão


atrelados aos pequenos produtores (os não proprietários em par-
ticular), houve alteração importante na estrutura produtiva da
agricultura, porém conduzida por outro grupo de produtores,
mais capitalizado, que é a parte moderno-capitalista da agricul-
tura maranhense. Esse grupo atua preferencialmente na produ-
ção mecanizada de arroz irrigado, milho19, soja e cana-de-açúcar.
19
Eventualmente, em outros produtos alimentares: milho, feijão,mandioca.

54
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Tabela 4 - Evolução da produção das principais ativida-


des e sua variação no Brasil e no Maranhão, entre 1990 e 2005
Brasil e Unidade  Atividade/
1990 1995 2000 2005
da Federação Ano

Brasil Bovinos1 147.102.314 161.227.938 169.875.524 207.156.696

Maranhão Bovinos 3.900.158 4.162.059 4.093.563 6.448.948

Brasil Arroz2 3.946.691 4.373.538 3.664.804 3.915.855

Maranhão Arroz 679.087 777.960 478.839 527.013

Brasil Mandioca 1.937.567 1.946.163 1.708.875 1.901.535

Maranhão Mandioca 226.953 289.156 134.688 191.852

Brasil Soja 11.487.303 11.675.005 13.656.771 22.948.874

Maranhão Soja 15.230 87.690 178.716 372.074

Carvão
Brasil 2.792.941 1.805.151 1.429.180 2.972.405
vegetal

Carvão
Maranhão 185.613 189.348 148.721 502.527
vegetal

Brasil Babaçu 188.718 99.263 116.889 119.031

Maranhão Babaçu 132.577 87.956 108.043 111.730

Fonte: IBGE Estatísticas municipais da produção agrícola/pecuária e da nota da tabela Sil-


vicultura (vários números). Obs.: 1 - Cabeça de bovino. 2 - Em tonelada
.

Se o declínio nas culturas dos alimentos já vem de longa


data (seu ponto de inflexão é 1982), o mesmo não ocorre com
a chamada matéria-prima industrial ou agricultura patronal/
comercial, que registrou taxas de crescimento explosivas para
a soja e estagnação no caso da cana, cujo cultivo se concentra

55
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

numa pequena área do Estado (Coelho Neto, nos anos 90 e Cha-


pada das Mangabeiras/Presidente Franco, mais recentemente.
No Sul do Estado, a soja experimentou desempenho fenomenal
(27,9% a.a., entre 1990/2000) com tendência a se expandir nas
microrregiões e Chapada das Mangabeiras e Chapadinha.

A análise relativa às transformações recentes ocasionadas


pelo movimento de expansão e contração das culturas alimen-
tares, destacando-se o arroz, mostra que os alimentos, ao longo
das décadas de 80 e 90, cederam espaço para a pecuária e lavou-
ras comerciais e permanentes . As perdas ocorreram em diversas
microrregiões e municípios do Estado, especialmente naqueles
onde essas atividades se concentravam e/ou se concentram.
Conforme os dados da figura, a substituição se fez mais acentu-
ada na pecuária, embora também tenha sido intensa nos muni-
cípios que sediam grandes empreendimentos capitalistas, caso
de Imperatriz (pecuária, eucalipto), Balsas (soja), Açailândia (pe-
cuária), Coelho Neto (cana-de-açúcar) e Urbano Santos (eucalip-
to) (MESQUITA, 1999).

As maiores quedas da produção de alimentos ocorreram


nas regiões de Imperatriz e Gerais de Balsas, territórios domina-
dos pelo grande capital (eucalipto, boi gordo, soja e carvão). Por
outro lado, embora essa substituição, em termos temporais, se
concentre na primeira metade dos anos 80 e esteja voltada para
as microrregiões citadas, os dados dos últimos censos indicam
que ela continua em curso, só que agora mais generalizadamen-
te e descentralizada em termos espaciais.

O fenômeno está relacionado à desconcentração espacial


da produção que houve no arroz nos últimos 40 anos dentro do
Estado. Grosso modo, através do corte espacial/temporal, é pos-
sível traçar o desenvolvimento das relações sociais de produção
dessa cultura temporária nos seus diferentes momentos históri-
cos, dando-lhe características específicas; e, ainda, comparar o
movimento do arroz com outras atividades do agronegócio. De
forma muito simplificada, conforme mostra a figura 1, o movi-

56
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

mento se inicia no Leste, migra para o Centro e o Oeste, assim


permanecendo até 1996 e posteriormente direciona-se para o
Sul e o Norte.

A mesorregião Leste, por exemplo, é hegemônica até


1950, embora o Centro também ganhe destaque crescente. Tal
fenômeno está associado aos grandes fluxos migratórios de nor-
destinos – cearenses e piauienses –, que penetram no Maranhão
via Leste e Nordeste do Estado, especialmente por Caxias e
pelo Baixo Parnaíba (São Bernardo, Araioses, Brejo). Nesse pe-
ríodo houve um salto quantitativo na lavoura temporária mara-
nhense; a área ocupada sai de 328 mil hectares para 895 mil hec-
tares, um crescimento de 10,54% a.a. entre 1950/60. O arroz,
isoladamente, nessa década, cresce 91%, ou 6,7% a.a.

Entre 1960 e 1980, caberá à mesorregião do Centro (e


ainda à Leste, mas já de forma decrescente) a responsabilidade
por essa expansão (a variação no período foi de 83,5%), sendo
que algumas mesorregiões já se sobressaem em relação às de-
mais. Tais mesorregiões são aquelas que constituem o centro de
atração do fluxo migratório nordestino, que avançou em direção
à fronteira Oeste à procura da terra livre.

Além dos municípios antigos, receptores desse fluxo via


ferroviária Teresina - São Luís (Caxias, Coroatá e Codó), outros
também passaram a fazer parte do circuito migratório: Pedrei-
ras, Bacabal, Ipixuna, Monção, Lago da Pedra, Santa Inês, San-
ta Luzia, Imperatriz e Barra do Corda. São esses imigrantes,
transformados em posseiros e depois em arrendatários, os res-
ponsáveis pela expansão do arroz entre 1960 e 1980. A área com
o cereal cresceu a taxas razoáveis nas duas décadas, com média
de 3,08% a.a. No período 1970/80, essa taxa subiu 4,34%, ex-
pressando a dinâmica positiva da pequena produção mercantil e
refutando a assertiva muito difundida no período; que segundo
a qual a apropriação de imensas áreas por projetos incentivados
(Sudam, Sudene e Comarco) frearia a expansão de alimentos
(arroz).

57
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Ora, isso só ocorreria na segunda metade dos anos oiten-


ta e início dos noventa. Há inúmeras razões a justificar tal even-
to, desde a ausência de políticas voltadas à pequena produção
familiar e a abertura comercial, até a retirada de apoio a esse
segmento de produtores pelo Governo do Estado do Maranhão.

Uma outra razão, relacionada especificamente à expan-


são da pecuária, talvez esteja na opção de determinados grupos
de criadores (os mais numerosos) aqueles que não se inseriram
ou aderiram à política governamental voltada à pecuária em não
mais utilizar na formação de pastos (como era a norma) arren-
datários, posseiros e meeiros, um sistema demão dupla que be-
neficiava o criador (rebaixamento de custos da implantação do
pasto) e o agricultor (acesso à terra para o roçado). Essa troca
era viabilizada em decorrência da grande oferta de força de tra-
balho livre e do alto preço e/ou renda fundiária proibitiva aos
pequenos produtores.

Não se sabe exatamente o peso de cada variável, mas sem


dúvida a tática de atração dos não proprietários para o plantio
de arroz em troca de capim teve relevância enorme no processo
de ampliação da área com pastos e na produção de arroz19; à
medida que tal sistemática se altera por inúmeros problemas já
analisados, a lavoura declina, mas a pecuária continua a crescer,
dado que a conjuntura lhe é favorável.

A partir de 80, a mesorregião Oeste, que também é a dos


postos, seguida ainda pelo Centro, conforme pode ser visto na
figura 4. Entre 1980 e 1995, houve um declínio de 28% na pro-
dução do arroz e de 44% em área. Ao longo de toda a década, o
desempenho foi negativo, com queda de 1,47% a.a na primeira
metade da década. Na segunda metade da década houve uma
ligeira recuperação de 1,3% a.a. A hegemonia da produção de
pequena escala (< 10 ha de lavoura) frente às demais pode ser
20
A mesma consistia em oferecer terra à roça naquele ano específico em troca do semeio do
capim após a colheita do arroz, apropriando-se assim desse trabalho morto (OLIVEIRA,
1987).

58
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

mais um elemento, no conjunto já apontado anteriormente, a


favorecer o declínio relativo da produção e da baixa produtivida-
de vigente na atividade.

Apesar de uma tendência decrescente (próxima de 10%)


ao longo da primeira etapa (1970/1985), nos aspectos relativos à
quantidade, área colhida e valor da produção, ainda assim, a pe-
quena escala continuou desempenhando papel importante na
cultura do arroz, haja vista o crescimento absoluto do número
de produtores em 26%, mesmo com a produção em declínio no
período.

Entretanto, no intervalo de 1990/2000, a queda foi mais


acentuada, (3,45 ao ano). E o período em que a crise da pequena
produção mercantil mais se aprofunda, por causa de fatores de
ordem estrutural e conjuntural, destacando-se a política neoli-
beral e o desmonte da máquina pública voltada ao setor agrope-
cuário.

Paralelamente, a queda na produção nos últimos 40 anos


permitiu a desconcentração e a descentralização da produção
de arroz. Comparando as áreas de produção, entre as décadas
de 50 e 90, percebe-se não só uma mudança de locais de produ-
ção, mas também uma queda, per capita e relativa, dos princi-
pais municípios produtores.

Nos anos noventa, os 10 maiores municípios produtores


totalizavam ¼ da área total colhida, e os 20 seguintes chegavam
a um pouco mais de 1/3. No início da década de 80, a situação
era mais concentrada. Os 10 municípios colhiam 1/3 da produ-
ção; já em 1985, abrangiam 29% da área colhida. Caso se amplie
o número para 20 municípios, chegar-se-á à metade da área co-
lhida, o que sem dúvida demonstra a centralização do capital.

Um indicador importante da presença do capital na agri-


cultura (arroz) é o tamanho da área com lavoura e não o tama-
nho do estabelecimento/propriedade em si. O estrato médio de

59
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

lavoura com arroz com menos de 100 a 500 ha e o grande com


mais de 500 ha, por sua vez, tem-se mostrado pouco dinâmico
em seu conjunto, apesar de se reconhecer que é uma novidade
o aparecimento e ascensão de centenas de unidades capitalistas
de porte médio de capitais na produção do arroz, cultura tradi-
cionalmente executada no Estado por unidade camponesa de
pouca expressão monetária em termos de mercado. As estatís-
ticas são ilustrativas quanto a este aspecto. Em 1970, os médios
detinham só 0,4% da área de lavoura e 0,2% da produção de
arroz. De forma modesta, atingiram já em 1985, cerca de 5%
dos dois indicadores.

Um aspecto a chamar a atenção é, de um lado, o declínio


da produção de pequena escala e a concentração de um número
reduzido de produtores de médio e grande porte na área com
lavoura, evidenciando certa concentração de capitais na ativi-
dade. De outro lado, a existência de média (e grande) empresa
interessada numa atividade antes excluída como alternativa de
inversão destes capitalistas (MESQUITA 2006).

Na década de 70, tem-se um padrão de distribuição mui-


to parecido com aquele dos anos 80 (com poucas modificações).
Mas é sobretudo nos anos 50 e 60 que se nota uma concentra-
ção significativa da produção; os dez maiores municípios são
responsáveis por 50% da produção. Ampliando para 20 o núme-
ro de municípios mais importantes na oferta de arroz, ter-se-á
2/3 do total da produção concentrada nos mesmos.

Sem dúvida, entre 1950 e 1990, nota-se uma significati-


va desconcentração espacial da oferta. Em 1950, os dez maio-
res municípios produtores de arroz detinham metade da oferta,
contra um quarto em 1990. Tendência essa que se mantém em
90, ou seja, transformações significativas da ação do capital se
processaram internamente (inclusive no tamanho da escala de
produção) na lavoura do arroz, sem que a aparência dos dados
gerais, que mostram apenas o volume e a área do produto, con-
seguisse detectar21.

60
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Fonte: IBGE - Censo agropecuário, 1960/1975/1985, 1996,2006

5.1.3. Mudança e vulnerabilidade da agricultura empresarial:


o caso da soja

Se no caso do arroz há uma presença débil (7%) de mé-


dios capitais na sua exploração (a predominância é do pequeno
estabelecimento, conforme a figura), com a soja, o padrão de ex-
pansão já nasce sob a égide de médios e grandes capitais, acima de
1000 ha ( figura 6 ), comparativamente ao arroz ou qualquer ou-
tra cultura, conforme pode ser visto nas figuras 5 e 6. A concen-
tração de capitais na soja é bem diferente daquela vigente nas
culturas alimentares; praticamente não há, ou é pouco significa-
tivo, o segmento de produtores com área inferior a 500 hectares.

61
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Figura 5- Percentagem da área colhida com arroz por estrato de


area em 2005.
500-5000 5000>
6% 3%

50-500
20%

50<0
71%

Fonte: IBGE

Figura 6- Porcentagem da área colhida com soja por estrado de area


em 2005.
0-500
4%
500-1000
22%

5000>
51%

1000-5000
23%

Fonte: IBGE

Essa diferença decorre do pacote tecnológico, associado à cultura da soja,


Essa diferença decorre do pacote tecnológico, associado à
que exige uma determinada escala da produção a fim de que a mesma dê resposta em
culturatermos
da soja, que exige uma determinada
de produtividade e rentabilidade. A presença deescala da eprodução
pequenos médios produtores
a fim de que a mesma dê resposta em termos de produtividade
na soja abaixo de 500 ha não constitui a regra como alguns poderiam imaginar, mas
exceção, e parece que não há nenhuma tendência no sentido de modificar esse quadro
e rentabilidade.
atual, mas deA qualquer
presença deé pequenos
forma um produto e médios
onde produtores
as relações capitalistas são
na sojahegemônicas
abaixo de em 500
todas ha nãodoconstitui
as fases a regra,
processo produtivo. mas exceção,
O controle que o capital tem
sobre o circuito
não havendo nenhumada produção facilita sua no
tendência ação sentido
na área da circulação e da distribuição.
de modificar o
Onde, apesar de existirem grandes conglomerados comerciais e industriais, a relação
quadroentre
atual, masé muito
as partes de qualquer forma
diferente daquela é um produto
prevalecente ondeprodutor
entre o pequeno as re-da soja
lações capitalistas são hegemônicas em todas as fases do proces-
e o do arroz sequeiro e o preposto do capital comercial e/ou usurário. Isso porque este
so produtivo. O controle que o capital tem sobre o circuíto comercial,
produtor da soja dispõe de uma série de instrumentos de ordem creditícia, da
organizacional e político e, sobretudo, informações que lhe permitem fugir do circuito

62
COLEÇÃO 38
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

produção facilita sua ação na área da circulação e da distribui-


ção. E, apesar de existirem grandes conglomerados comerciais e
industriais, a relação entre as partes é muito diferente da preva-
lecente entre o pequeno produtor da soja e o do arroz sequeiro
e o preposto do capital comercial e/ou usurário. O produtor da
soja dispõe de uma série de instrumentos de ordem creditícia,
comercial, organizacional e política e, sobretudo, informações
que lhe permitem fugir do circuito da intermediação domina-
do pelo capital comercial, muito comum na produção mercantil
simples, que se apropria do excedente gerado no circuito de pro-
dução.

A direção e o ritmo de expansão da produção de soja,


também diferem muito do arroz. Há uma concentração e espe-
cialização maior de microrregiões e tipos de capitais e produto-
res bem diferenciados daqueles vigentes no arroz. Ao se concen-
trar num território relativamente delimitado (Sul e Nordeste do
Estado), isso favorece uma economia de escala que minimiza
custos de implantação e de comercialização da soja. Do início
ao final de 90 ela se concentrava nas microrregiões de Gerais de
Balsas e Chapada das Mangabeiras, municípios de Balsas, Tasso
Fragoso, Riachão, Sambaíba e São Raimundo das Mangabeiras
Mais recentemente (2000), a lavoura toma novas direções: Baixo
Parnaíba e Chapadinha (Nordeste do Estado).

Essa expansão se faz em cima das culturas alimentares,


arroz e mandioca, e principalmente, da pecuária extensiva, sen-
do favorecida pelas condições de mercado. A atratividade do
preço do grão nas últimas décadas tem favorecido a captação
de recursos públicos e privados para sua expansão da soja em
detrimento de outras atividades que não têm taxa de retorno
atraente, garantia de empréstimo, e nem a expectativa de que
isso se altere.

Essa vinculação externa da soja, por sua vez, lhe garan-


te financiamento estatal e/ou de grandes empresas dominantes
do complexo agroindustrial, facilitando a expansão a taxas cada

63
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

vez maiores nos últimos anos. Do final de 80 até 2007, a soja


cresceu exponencialmente em volume de produção e área ocu-
pada. Entre 1995 e 2007, aumentou quase sete vezes e no in-
tervalo 1990/2005, 238 vezes! No entanto, a produtividade não
tem acompanhado o mesmo ritmo, embora cresça muito mais
do que a média da agricultura familiar.

Em 2005, a soja já representava 25% da área e 18% da


produção da lavoura temporária maranhense (arroz, milho, fei-
jão, mandioca, soja e algodão). Quer dizer, a soja sozinha torna-
se cada vez mais importante sob o ponto de vista econômico. As
exportações são crescentes, assim como o volume produzido e a
área ocupada frente às outras que se encontram estagnadas.

Além disso, a pecuária, atividade secular e tradicional do


sul do Estado, cede espaço também à soja. Mesmo naqueles
municípios tradicionais e reduto pastoril de longas datas (séc.
XIX) tem-se assistido ao encolhimento do rebanho e das pas-
tagens para dar lugar à soja e ao eucalipto, indicando, que está
em curso caso mantenha-se o ritmo de expansão vigente, uma
despecuarização e descamponezação do Sul do Estado, tal é a mu-
dança que a soja impôs a outras atividades econômicas no espa-
ço de 15 anos (1985-2000)20.

A soja só assume importância econômica em meados de


1990, quando passa a constituir um dos principais elementos
das transformações recentes da agricultura maranhense, mar-
cando ritmo e rumo da expansão da lavoura temporária no Esta-
do. Quer dizer, a soja (na década de 1990) acaba tendo um papel
análogo ao do arroz antes dos anos oitenta, mantendo as devi-
das proporções e diferenciações que o caso requer. Já o arroz e
a mandioca se expandiram durante séculos fundamentalmente
pela incorporação de novas áreas e força de trabalho familiar, ou
20
Despecuarização aqui entendida como um fenômeno de decréscimo de área com pastos e/
ou estagnação de rebanho de uma região a partir dos anos oitenta com entrada da lavoura
mecanizada dos gaúchos da soja e do arroz. Descamponezação como perda de importância
de área apropriada, de número de unidades e de oferta da produção dos não proprietários
frente aos proprietários.

64
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

seja, de forma horizontal, com pouco ou quase nenhum ganho


de produtividade. Conforme as figuras 7 e 8 há diferenças signi-
ficavas entre o Maranhão, Rio Grande do Sul, o Paraná e o Pará.
Esse diferencial marcante mostra o estágio neopolítico em que
se encontra determinadas culturas agrícolas no Maranhão.

lavoura temporária no Estado. Quer dizer a soja (na década de 1990) acaba tendo um
papel análogo ao do arroz antes dos anos oitenta, mantendo as devidas proporções e
diferenciações que o caso requer. Enquanto o arroz (e a mandioca) se expandiu durante
séculos fundamentalmente pela incorporação de novas áreas e força de trabalho
familiar, ou seja, de forma horizontal, com pouco ou quase nenhum ganho de
produtividade, conforme atestam as figuras abaixo relacionadas. Nas duas percebem-se
diferenças significavas entre o Maranhão , Rio Grande do Sul , Paraná e o Pará.Esses
diferencial marcante mostra o estagio neolítico em que se encontra determinadas
culturas agrícola no Maranhão.

Figura 7- Rendimento Médio do Arroz no Brasil, Rio Grande do Sul, Maranhão


e Pará entre os anos de 1990 e 2005.

7,00

6,00

5,00

4,00 Brasil
R. G. do Sul
Maranhão
3,00 Sul
Pará

2,00

1,00

Ano

Fonte: IBGE (2008)

65
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita
FF

Figura 8 Rendimento da Mandioca no Brasil, Paraná, Maranhão e Pará entre os anos de 1990
e 2005.
30.000

25.000

20.000

Brasil
15.000
Paraná
Maranhão
Pará
10.000

5.000

Ano

Fonte: IBGE (2008)

A razão desta dinâmica extensiva foi a ampliação dos meios de transporte e a


A razão desta dinâmica extensiva foi a ampliação dos
proximidade dos centros consumidores e ainda a existência de imensas áreas ociosas
meios de transporte e a proximidade
(matas) nos grandes estabelecimentos dos centros
com cessão a terceiros (moradores,consumido-
arrendatários
res, bem assim a existência de imensas áreas ociosas Só
e parceiros), mas que nada alterou o padrão produtivo artesanal vigente. (matas)
com a
exaustão de tais formas de incorporação de área é que a expansão horizontal entra em
nos grandes estabelecimentos com cessão a terceiros (morado-
declínio. Com o esgotamento das matas virgens (1980), isto é, de áreas que
res, arrendatários
proporcionavam e parceiros),
uma renda sem,(pela
extra ao produtor nofertilidade
entanto, alterar
dada o padrão
pela queima), é que
se tornou “viável”
produtivo artesanal o uso vigente.
de insumos Só modernos
comnaa produção
exaustão do arroz
de (final dos anos
tais formas
1980 e início de 1990). Ou seja, o interesse pelo uso intensivo de capitais se intensifica
denesta
incorporação
cultura ou naquela deatividade.
área éDe que a expansão
qualquer forma, essa horizontal entra em
modalidade “tradicional” da
declínio. Com o esgotamento
expansão (horizontal/extensiva sem insumos dasmodernos)
matas da virgens (1980),
terra garantiu istoum
ao arroz é,
lugar de destaque na agricultura durante mais de meio
de áreas que proporcionavam uma renda extra ao produtor (pela século.
Ora, no caso da soja esse processo moderno em áreas específicas voltadas à
fertilidade
irrigação e/ou proporcionada
mecanização de culturaspela queima),
específicas é éa que
normasedatornou
atividade prática
porque a
o mesma
uso de aplicação
pressupõe de insumos
uma inversão contínua demodernos
capital sob ana produção
forma do arroz
constante (máquinas e
insumos)
(final doscomo
anosforma1980 de eviabilizar
início ede tornar mais caracterizando
1990), produtiva e lucrativa maior
a atividade da
inte-
cultura. Tal forma de organizar a produção sobre base tecnológica intensiva em capital
resse
sob opelo uso de
comando decapitais
capitais interativos
de médio e grandeentre os produtores.
porte tem levado e/ou ocasionado
transformações muito rápidas nos locais onde a mesma vem-se expandindo, inclusive
De daqualquer
no aspecto absorção da forma, essa modalidade
força de trabalho e da destruição da“tradicional” da ex-
biodiversidade local.
Dessa maneira, questões relacionadas ao acesso e uso da terra, relações de
pansão (horizontal/extensiva sem insumos modernos)
trabalho e inovações tecnológicas se fizeram a uma velocidade muito mais acentuada do
da terra
garantiu ao de
que nas áreas arroz um de
influência lugar
arroz de destaque
ou mesmo na agricultura
de pecuária durante
incentivada, a exemplo do
mais
Oestededo meio
Estado. século.
O resultado é que em diferentes exemplos se faz perceber essa ação do
capital no mercado, sendo que uns são bem marcantes pela velocidade do evento, outros
não tão perceptíveis, mas igualmente importantes de serem analisados.

66 41
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Ora, no caso da soja esse processo moderno em áreas


específicas voltadas à irrigação e/ou mecanização de culturas
específicas é a norma da atividade porque a mesma pressupõe
uma inversão contínua de capital em máquinas e insumos como
forma de viabilizar e tornar mais produtiva e lucrativa a ativida-
de. A organização da produção sobre base tecnológica intensiva
em capital, sob o comando de capitais de médio e grande porte,
tem ocasionado transformações muito rápidas nas áreas de ex-
pansão, inclusive quanto à absorção da força de trabalho e des-
truição da biodiversidade local.

Dessa maneira, questões relacionadas com o acesso e uso


da terra, relações de trabalho e inovações tecnológicas se fize-
ram a uma velocidade muito mais acentuada do que nas áre-
as de influência de arroz ou mesmo de pecuária incentivada, a
exemplo do Oeste do Estado. O resultado é que em diferentes
exemplos se percebe essa ação do capital no mercado, sendo
uns bem marcantes pela velocidade do evento, outros, não tão
perceptíveis, mas igualmente importantes e dignos de análise.

Num primeiro plano temos o aspecto agrícola propria-


mente dito, relativo ao sucesso em tão curto prazo do volume
e área ocupada pela soja. Paralelamente, se tem duas questões
daí decorrentes. Uma que diz respeito ao aprofundamento da
questão agrária e outra do meio ambiente (MESQUITA, 2008).

Se existe o sucesso de expansão vertiginosa da soja em


área/volume com a eficácia (produtividade crescente), é pro-
vável que o mesmo não se estenda ao meio ambiente e/ou à
questão agrária, a exemplo do acesso a terra, tecnologia ou me-
lhorias de condições de trabalho dos segmentos de produtores
excluídos da soja.
Do lado dos impactos ambientais sobressaem duas ques-
tões. Uma referente ao comprometimento do bioma cerrado
acarretando toda sorte de problema, inclusive a destruição de
ecossistemas inteiros, cujo efeito sobre a fauna e flora já se fez

67
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

presente, apesar do curto espaço de tempo (20 anos) da cultura.


Paralelamente, há o impacto mecânico ocasionado pela destrui-
ção intensa e contínua que não atenta para as especificidades;
há também aquele decorrente do intenso uso de instrumentos
modernos inerentes à exploração de soja, que requer mais de
duas aplicações de toda sorte de agrotóxicos (fungicidas e pesti-
cidas), cujo efeito sobre o meio ambiente se faz de forma cumu-
lativa e permanente, agindo tanto no curto quanto no longo
prazo.
Se o médio e o grande produtor de soja se orgulham das
transformações ocorridas nos diferentes planos23 da atividade,
em particular, da rápida introdução de relações capitalistas no
campo, e do “progresso” que proporcionam à economia local,
o mesmo não existe entre produtores familiares: pequenos pro-
prietários e não proprietários (arrendatários e ocupantes). A
razão dessa diferença de atitude frente à mais nova expansão
de fronteira agrícola do Estado estaria na exclusão deste último
segmento, cujo resultado se manifesta na sua diminuição/desa-
parecimento ou na transformação dos produtores de subsistên-
cia em assalariados precários.
Os dados mais recentes parecem corroborar essa tendên-
cia. Por exemplo, entre meados dos anos 80 e a década atual
observa-se o avanço de determinados segmentos de produtores
sobre os outros e da substituição de determinadas relações de
produção por outra (ocupantes por parceria/arrendamento).
Além disso, o perfil produtivo muda consideravelmente. Em vez
de produção de alimentos e pecuária extensiva, tem-se a pro-
dução de soja, arroz e milho, realizada em moldes empresariais
muito diferentes do que prevalecia anteriormente. Tal fenôme-
no pode ser visto na estruturação por grupo de lavoura, que ofe-
rece a real dimensão na região e na cultura da soja e, consequen-
temente, do porte de capitais que estão por trás da atividade.
Enfim, percebemos que a expansão da soja, apesar de ser
um fenômeno local muito recente e concentrado em microrre-

68
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

giões específicas do Sul e do Nordeste do Maranhão, tem mos-


trado um poder crescente sobre a dinâmica geral da agricultura
maranhense. Isso parece decorrer da robusta taxa de expansão
que acarreta transformações em outros segmentos direta ou
indiretamente a ela relacionados com o grão. O peso da soja é
crescente no setor agrícola, tanto pelo tamanho médio da área
ocupada, mas, sobretudo, pela estagnação de outras atividades
(mandioca e arroz) e pelo lento crescimento da pecuária, que
antes respondia pela dinâmica da economia do Estado e em par-
ticular, das microrregiões onde a sojicultura se concentra.
Dessa forma, diferente do que aconteceu anteriormente
à sua ascensão, em que a dinâmica do crescimento dependia
do arroz e do mercado interno, agora a soja tem no mercado
externo o seu vínculo maior. Isso significa que o crescimento da
atividade e, portanto, a expansão da produção e das exportações
não dependem do mercado interno de grãos, mas da demanda
externa por commodities. A globalização do mercado local cons-
titui assim a novidade da nova agricultura maranhense. Portan-
to, o tamanho e a qualidade das transformações/mudanças que
já ocorrem e deverão acontecer proximamente são uma variável
externa ao produtor e ao governo local/nacional. Significa dizer
que as mesmas se processarão ou não independente da vontade
individual ou governamental, ou seja, é o mercado internacional
de grãos que norteia ou norteou o rumo e o ritmo da expansão
anterior e do futuro. Isso implica extrema vulnerabilidade do se-
tor e dependência dos principais compradores (EUA, China e
países europeus).
Como a comoditie está intimamente integrada ao merca-
do internacional, crises como a de 2007/2008 tendem a afetar o
setor, para o bem e para o mal.

69
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

70
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

6. A PRIORIDADE À PECUÁRIA E OS REBATES


NA AGRICULTURA DE ALIMENTOS
6.1. Estratégia de modernização - do “tradicional” ao
“moderno”

Historicamente, um conjunto de fatores contribuiu para


o direcionamento do capital à pecuária e para a sua moderniza-
ção no Maranhão. De um lado, a abertura de estradas pionei-
ras, interligando o estado ao Norte (Belém) e ao Nordeste, pe-
ças fundamentais na ampliação da “migração espontânea”21 do
pequeno produtor e da ação controladora do capital comercial.
De outro lado, uma ação incisiva dos governos federal e estadual
propondo novos investimentos e instrumentos que atraíram um
outro tipo de agente para o Maranhão: as grandes empresas ca-
pitalistas.

Num primeiro momento, o deslocamento e o cresci-


mento do rebanho estiveram associados ao avanço da frontei-
ra agrícola22 por parte da agricultura familiar, tendo à frente os
posseiros, e à produção de arroz, no sentido de incorporar e/
ou ocupar (de forma produtiva ou não) novos territórios, em
geral públicos, à economia. Essa ocupação poderia se efetivar
via pequenos produtores e/ou grandes empresas. A sequência
de ocupação antes da entrada do grande capital era, primeiro,
a agricultura itinerante/excedente e, posteriormente, a pecuá-
ria. Com os subsídios, as grandes empresas capitalistas se apro-
priaram de milhões de hectares através do acesso à terra pública
subsidiada. Essa ação ocorreu, inicialmente, rumo à região cen-
tral do Estado (Mearim) e, num segundo momento, no sentido
Centro-Oeste para as microrregiões do Pindaré e de Imperatriz.

21
Aquela decorrente de processo de migração sem a participação direta do Estado na sua
movimentação. Contrapõe-se à migração com apoio estatal, a exemplo do Estado é a
característica básica, a exemplo dos projetos de colonização da Amazônia Legal (Rondônia,
áreas da Rodovia Transamazônica, Acre etc.) prevalecente na década de setenta, quando o
Estado chama para si essa função (MESQUITA, 2006).
22
Ver Velho (1972) e Martins (1975).

71
COLEÇÃO
CCSO
Acompanhando a frente de expansão23 camponesa, aparece,
sem ajuda governamental, a frente pioneira24 da pecuária de pe-
quena e média escala pouca tecnificada, além de madeireiras e
serrarias25 responsáveis pelo aproveitamento de madeira nobre.

Entre meados de setenta e oitenta, foi a vez da frente


pioneira formada por grandes empresas do Centro-Sul do país
que usufruíram da ajuda governamental via incentivos fiscais,
programas especiais, baixo preço da terra e créditos subsidiados.
A ação governamental aqui se fez em dois movimentos visando
modernizar e incorporar novas áreas ao processo produtivo. O
primeiro foi o de abrir e asfaltar estradas para integrar o Ma-
ranhão aos centros de consumo do Nordeste e do Centro-Sul.
Essa iniciativa complementava e amplificava uma anterior do
governo federal que tinha iniciado a rodovia Belém-Brasília.
O segundo movimento, a cargo das empresas financiadas por
entidades governamentais, tinha por objetivo modernizar e or-
ganizar as estruturas consideradas “arcaicas da produção agro-
pecuária maranhense até então sustentada no trabalho familiar
e no posseiro e focada na “produção de bens de subsistência”.
“Arcaica” ou “tradicional” no sentido de basear-se no trabalho
familiar e voltar-se em particular para suprir suas necessidades
de reprodução. Alguns também denominam essa relação de
produção de “produção de subsistência” por dedicar-se basica-
mente a produtos da cesta básica local, no caso do Maranhão,
23
Para Martins (1975), a faixa compreendida entre a fronteira econômica e a demográfica
(via de regra aquela está aquém desta) não poderia ser compreendida como frente pioneira
porque “não está estruturada primordialmente a partir de relações com o mercado” e nem
poderia ser classificada como “economia natural, pois dela saem produtos que assumem
valor de troca na economia de mercado” e a mesma se caracterizaria por uma “economia
de excedente, cujos participantes dedicam-se principalmente à própria subsistência e
secundariamente a troca do produto que pode ser obtido com os fatores que excedem as
suas necessidades” “È essa faixa [...] que se pode conceituar como frente de expansão.” (
p.45/46).
24
Para Martins (1975), a mesma se apresenta como uma fronteira econômica, onde a
apropriação da terra só pode ser realizada via sua compra. A frente pioneira exprimiria
um movimento social cujo resultado imediato é a incorporação de novas regiões pela
economia de mercado. Na mesma prevalece a produção de mercadorias; “o funcionamento
do mercado é que passa a ser o regulador da riqueza e da pobreza” (p.47).
25
Ver Mesquita (1998).

72
COLEÇÃO
CCSO
arroz, feijão, milho e mandioca. Essas e outras denominações
adjetivadas relativas à organização do processo de produção da
pequena produção ou da agricultura familiar se referem à eco-
nomia de excedente, cuja característica fundamental é o tra-
balho familiar, o seu vinculo com o mercado e o “ uso privado
da terra devoluta, em que estas não assumem a equivalência de
mercadoria” (Martins 1975, p.46). Diferente, portanto, da pro-
dução capitalista onde a terra é privada e as relações de trabalho
são assalariadas. A figura central nessa forma de organização da
produção camponesa é o ocupante ou o posseiro, embora outras
relações sejam compatíveis com a mesma. Ou seja, são formas
de relação de produção não especificamente capitalistas.

Há uma infinidade de conceitos de agricultura familiar


em função das suas especificidades. Mas esse de “economia de
excedentes” e aquele derivado da FAO/INCRA que toma por
base o trabalho familiar, o controle dos meios de produção e a
área média de exploração inferior a 50 hectares, parecem ser, na
minha perspectiva, o mais adequado. Assim, outros conceitos
próximos, foram usados nesse texto como sinônimos: pequena
produção, produção familiar, agricultura de subsistência, agri-
cultura itinerante, produção mercantil simples e a não especifi-
camente capitalista.

O segundo movimento parte de uma estratégia maior da


política de modernização de âmbito nacional, se concretizava
via concessão de incentivos fiscais e financeiros aos interessados
em modernizar o campo maranhense.

A passagem de uma agricultura “tradicional” para outra


“moderna”, nos moldes em que foi e é implementada no cam-
po brasileiro (isto é, altamente poupadora de força de trabalho),
veio e vem sempre acompanhada pela redução do emprego e
destruição ambiental. A presença do capital no campo também
não preenchem as expectativas em termos de renda e/ou de
produção de alimentos básicos, e muito menos trouxeuma mo-
dernização generalizada da agricultura.

73
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

A implantação de projetos pecuários nas principais regi-


ões do Maranhão, embora não possa ser acusada (isoladamente)
de desestruturação da produção de alimentos, deteriora o meio
ambiente, ocupa poucas pessoas e aumenta a concentração da
renda e da propriedade da terra. O avanço de relações capita-
listas restringiu-se a culturas e atividades como cana-de-açúcar,
soja, eucalipto, arroz irrigado ou a pecuária especializada em ni-
chos de mercados, e a áreas restritas de poucos municípios das
regiões do Pindaré, Imperatriz, Alto Mearim/Grajaú.

Essa dinâmica da pecuária, nos anos 1970 e 1980, não se


limitou ao Maranhão26 e esteve associada a um movimento mais
geral da economia regional (Amazônia Legal) idealizada pela
política desenvolvimentista do governo federal (MESQUITA,
1998, 2003).

A opção pela pecuária, tanto no Maranhão como no Nor-


te e Nordeste, sempre esteve nos planos governamentais27. De
fato, essa preocupação em ocupar o “espaço vazio” e ampliar a
“fronteira agrícola” antecedeu a 1970. Estava presente desde a
época da criação do GTDN (1959) e posteriormente foi refor-
çada nos planos diretores da Sudene. Nesses documentos, Ma-
ranhão e Bahia apareciam como fronteira agrícola a ser ocupa-
da pelo excedente de mão-de-obra já existente no Nordeste por
causa da contínua pressão demográfica sobre a terra e do que
apareceria com a reforma capitalista da lavoura canavieira como
o GTDN planejava. A ocupação também passava pela instala-
ção de projetos de colonização (Alto Turi) de pequenos produto-
res e incentivos a empresas capitalistas.

26
Diversas pesquisas realizadas na Amazônia Oriental na década de 90, como a da Embrapa/
Ufpa/Cirad, mostram a importância da pecuária na dinâmica regional em termos de
ocupação de espaço e fortalecimento da economia regional (PORRO, 2004).
27
No Maranhão são criadas inúmeras empresas de economia mista pelo Governo do Estado
com o objetivo de apoiar a modernização da atividade agropecuária. Entretanto, é com
o II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND (1976-79) [1975-79] e o Plano de
Desenvolvimento da Amazônia (PDA), que essa estratégia de modernização da atividade
aparece explicitada (MESQUITA, 2006).

74
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

A prioridade dada à pecuária por diferentes políticas e


programas governamentais, aliada à dinâmica demográfica do
período 1950/1960, e a ação governamental em infraestrutura
de acesso, parecem ser os fatores responsáveis pela incorpora-
ção de significativas áreas de terras em prejuízo daquelas com
lavoura branca. Pelo menos nessa fase inicial, que se esgota no
início dos anos oitenta, caracterizada por mudanças radicais em
termos espaciais e alteração do perfil produtivo da agropecuária
maranhense.

6.2. Fatores de expansão e transformação da agricultura

A partir do final da década de oitenta, outros fatores rela-


cionados com o mercado e atores globais entraram em cena, en-
tre eles a maior integração dos mercados e a chegada de capitais
não subsidiados. Investimentos provenientes de outras ativida-
des e origens (locais e de outras regiões e países) passam a fluir
para a atividade pecuária e do agronegócio à procura de melhor
aplicação do capital excedente (MESQUITA, 2003).

Por outro lado, na década de noventa, quando está supe-


rado o modelo intervencionista, baseado, sobretudo no crédito
subsidiado, as transformações prosseguem, só que em ritmo
mais modesto, pontual e seletivo, mostrando que outros fatores
se articulam a esse processo de mudança na atividade pecuária.
Também nos anos noventa, outro conjunto de fatores: urbaniza-
ção crescente, redução dos ganhos financeiros derivado do período
inflacinario, mercado consumidor mais amplo e exigente e renda
per capita maior, entre outros, se somou aos já existentes para
imprimir outra dinâmica à pecuária. O epicentro dessa mudan-
ça, relativamente à ocupação/privatização de áreas (e os efeitos
daí decorrentes), é a mesorregião Oeste e as microrregiões do
Pindaré, Imperatriz e Alto Mearim/Grajaú, com destaque para
os municípios de Açailândia, Amarante, Santa Luzia, Bom Jar-
dim e Itinga.

75
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Há duas explicações para a pecuária ser o fator prepode-


rante na transformação do agrário maranhense: a primeira se
relaciona com a prioridade que lhe atribuíram os governos fe-
deral e estadual e a iniciativa privada; a segunda é a ausência de
políticas para a agricultura propriamente dita, sobretudo para a
produção familiar e a garantia que a mesma oferece em termos
de liquidez, segurança e retorno frente às demais atividades do
setor.

6.3. Rebates da expansão da pecuária sobre a agricultura


sobretudo para28a produção familiar, e à garantia que a mesma oferece em termos de
temporária
liquidez, segurança e retorno frente às demais atividades do setor.

A figura
6.3 Rebates 9, mostra
da expansão qual foi
da pecuária a tendência
sobre a agricultura da lavoura31 temporá-
temporária
ria no longo prazo (1970/95), frente a outras atividades e variáveis,
Pela figura 9, mostra-se qual foi a tendência manifestada na lavoura
especialmente
temporária no longoa pecuária, o desmatamento
prazo (1970/95), e o crédito
frente a outras atividadesrural. Nota-
e variáveis,
seespecialmente
que, ao contrário de todas
com a pecuária, as demais,e ao lavoura
o desmatamento temporária
crédito rural. teve
Nota-se que, ao
umcontrário de todas as demais
comportamento variáveis, a lavoura
decrescente, sendotemporária teve umrural
que o crédito comportamento
só tem
decrescente, sendo que o crédito rural só tem importância até 1980, mas a pastagem
importância até assalariado
plantada, o trabalho 1980, mas e a apecuária
pastagem plantada,
empresarial o trabalho
se expandem assala-
velozmente.
riado e a pecuária empresarial se expandem velozmente.

Fonte: (MESQUITA, 2006).


28
Lavoura temporária
De acordocompreende as áreas10plantadas
com as figuras e 11 a ou em preparo
seguir para o éplantio
apresentadas, de
possível
culturas de curta
visualizar-se duração fácil
de maneira (em geral, menor
a relação quedohouve
que um ano)
(em nívele que necessitam
de micro, mesodee um
do
novo plantio
Estado) entreapós sua colheita,
a expansão tais como
da pecuária arroz, mandioca,
(pastagem milho,
e rebanho) e a trigo, soja,em
lavoura, entre outras
diferentes
(IBGE,históricas,
etapas 1996, p.22).
tanto na fase de maior dinamismo quanto a longo prazo (1970/1995).

76
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

De acordo com as figuras 10 e 11, é possível visualizar de


maneira fácil a relação (ao nível de micro, mesorregiões e Esta-
do) entre a expansão da pecuária (pastagem e rebanho) e a la-
voura, em diferentes etapas históricas, tanto na fase de maior
dinamismo quanto a longo prazo (1970/1995).

Nas últimas décadas, a lavoura temporária e o babaçu es-


tagnaram e/ou declinaram enquanto o agronegócio (pecuária)
ascendeu consideravelmente, conforme ratifica tabela 9. Diante
desse panorama, um ponto inicial que se coloca é saber até que
ponto a expansão da pecuária nos moldes vigentes ao longo do
período 1970/2000 é responsável pela queda na produção de ali-
mentos. Além da pecuária, que outros fatores estariam na raiz
desta crise? A política econômica voltada para a conjuntura e
o combate à inflação? Os problemas estruturais não resolvidos,
como a reforma agrária e a questão do mercado de trabalho ?
Quer dizer, há inúmeras questões a serem consideradas.

As duas atividades são inconciliáveis? Será mesmo que a


prioridade dada à pecuária até os anos oitenta foi a maior res-
ponsável pelo quadro de declínio que atinge uma parcela da la-
voura temporária (especialmente o arroz e a mandioca)? E, nos
anos noventa, quando a expansão da pecuária já se encontrava
descolada do financiamento público e vinculada a fatores do
mercado, a queda na oferta de produtos básicos se deve tam-
bém à pecuária?

6.3.1. A simplificação do declínio da agricultura temporária

Cotejando as duas atividades neste intervalo de tempo,


nota-se a ausência de uma ligação direta entre a expansão de
pastagem e o declínio da lavoura temporária. O movimento
de expansão de ambas, por exemplo, se fez em regiões opostas
ou conjuntamente, só que a taxas diferenciadas. Mas há casos,

77
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

como o de Coelho Neto, onde a queda da pecuária (67%) foi


acompanhada pela ascensão da lavoura (69%). Fenômeno inver-
so ocorreu no Médio Mearim, onde houve redução de 19% na
lavoura e crescimento de 152% das pastagens32.

No interstício de 1985/1995, houve surpreendentes alte-


rações no cenário. No âmbito da lavoura temporária, com exce-
ção da Chapada das Mangabeiras, onde cresceu 91%, as demais
microrregiões acusaram recuo generalizado da área. A redução
está colada à crise da rizicultura no Estado, conforme eviden-
ciado quando se tratou da dinâmica do arroz. Entretanto, a pe-
cuária se manteve quase intacta em termos de opção de inves-
timento apesar dosincentivos fiscais e do desaparecimento do
crédito rural. Contrapondo-se dados da pecuária e da lavoura,
no mesmo período, verifica-se que o rebanho expande-se tanto
em microrregiões onde a lavoura desenvolveu-se bastante, quan-
to naquelas onde isso não ocorreu como Gerais de Balsas, Guru-
pi, Porto Franco e Médio Mearim.

Por outro lado, o confronto de três variáveis importantes:


rebanho, pastagem e lavoura assinala taxas de crescimento da
pecuária quase sempre superiores às da lavoura, mas também
mostra que a área com alimentos pode se expandir na mesma
região de crescimento da pecuária, inclusive no seu período áu-
reo, 1970/1980. A comparação pastagem e lavoura nos diferen-
tes períodos investigados (figuras 10 e 11), assim como no inter-
valo de 25 anos, corroboram essa assertiva.

Mas isso não autoriza afirmar que não haja interferên-


cia da pecuária sobre o espaço agrícola e nem que o colapso da
produção de alimentos básicos (arroz, mandioca e feijão) no pós-
1985 esteja necessariamente associado somente à ascensão da
pecuária e muito menos, a expansão das duas atividades - seja
incompatível.

78
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário, 1985 a 1995.

Fonte: MESQUITA, 2006.


Mas isso não autoriza a afirmar que não haja interferência da pecuária sobre
o espaço agrícola e nem que o colapso da produção de alimentos básicos (arroz,
mandioca e feijão) no pós-1985 esteja necessariamente associado somente a esse
comportamento ascendente da pecuária e/ou muito menos que seja incompatível a
expansão das duas atividades.
O crédito
O crédito rural farto
rural farto e barato
e barato e os fiscais
e os incentivos incentivos fiscais
propulsores pro-
da pecuária
podem estar associados à queda na produção de alimentos?
pulsores da pecuária podem estar associados à queda na pro- Parece que não; na fase, por
exemplo, de crédito abundante não implicou em acréscimos proporcionais à lavoura. Já
dução
na fase de alimentos?
de escassez, Parece inversa
há uma correlação que não; pois a fase
entre financiamento decom
e área recursos
lavoura.
abundantes
Considerando que nãoumaimplicou
significativaacréscimos
parcela do créditoà (58%)
lavoura. Já na
foi alocada comfase de
esse fim
(agrícola), era de se esperar que houvesse uma maior correspondência entre ambos.
escassez, há uma correlação inversa entre financiamento e área
Como não há, o financiamento pode ter sido desviado ou para a pecuária, que tem
melhor desempenho, ou para outros fins especulativos ou produtivos nas áreas urbanas.
A literatura relacionada ao crédito rural atesta com abundância essa hipótese (SAYAD,
79
COLEÇÃO
CCSO 49
Benjamin Alvino de Mesquita

com lavoura. Considerando que uma significativa parcela do


crédito (58%) foi alocada à agricultura, maior correspondência
entre ambos. Como não há, o financiamento pode ter sido des-
viado para a pecuária, que tem melhor desempenho, ou para
outros fins especulativos ou produtivos nas áreas urbanas. A li-
teratura sobre o crédito rural atesta essa hipótese (GRAZIANO
DA SILVA, 1982; KAGEYAMA, 1985). Quanto à repercussão
dos incentivos fiscais sobre a agricultura temporária, foi bem
mais restrita do que a do crédito rural e limitou-se à fase inicial
e a três microrregiões, uma do Sul e duas do Oeste. Isto porque
no início da implantação das pastagens era comum as operações
casadas para arroz e pasto, como forma de reduzir os custos de
implantação do projeto agropecuário.

Concluindo, os elementos crédito rural, incentivo fiscal,


aumento de rebanho e de pastagem, ao privilegiar e concentrar-
se em apenas três microrregiões, não se constituíram no princi-
pal fator de entrave, na medida em que há 21 microrregiões dis-
poníveis para expandir a lavoura, pelo menos na primeira etapa
de implantação, isto é, até 1985! Na fase neoliberal, o crédito
rural e o incentivo fiscal não são mais importantes para a pecuá-
ria, mas também não contribuíram para alterar o quadro crítico
da agricultura familiar.

80
COLEÇÃO
CCSO
pecuária, mas também não contribuem para alterar o quadro crítico da agri
familiar.
O desenvolvimento desigual da agricultura

Figura 12- Evolução (índice) do Rebanho, Pastagem e


Lavoura no Maranhão no período de 1970 a 1995
(1970=100).
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
INDICE
1970 1980/70 1985/70 1995/70

REBANHO PASTAGEM LAVOURA

Fonte: IBGE

6.3.2 As questões omitidas do declínio

Assim, outros
6.3.2. As questões fatores
omitidas devem estar por trás dessa dinâmica relacion
do declínio
retração de área da lavoura temporária. Na verdade, as mudanças radicais da p
econômica e da política
A dinâmica agrícola,
relacionada que perpassam
à retração de áreatoda
da alavoura
fase detem-
crise (80), não
ser excluídas
porária escondedeste cenário
outros de transformação
fatores. As mudanças queradicais
ocorre entre 1985/200033. Atra
da política
mesma é epossível
econômica entender
da política o porquê
agrícola que do colapso que
perpassam todaseaabateu
fase desobre a agric
crise (80), não podem ser excluídas do cenário de transformação soja, do eu
familiar e o extrativismo do Estado e da promoção do agronegócio da
quee da continuação
ocorre da pecuária de
entre 1985/2000 29 corte como atividade empresarial.
. A partir delas, é possível enten-
der o porquê do colapso da agricultura familiar e do extrativis-
mo do Estado e da promoção do agronegócio da soja, do eu-
calipto
33 e da continuação
Refere-se da pecuária dedocorte
aqui ao ajuste macroeconômico início como atividade
dos anos oitenta e à política a
empresarial.
adotada a partir de então, bem como à abertura comercial que foi obrigado a fazer n
cenário neoliberal imposto às economias dependentes do FMI , durante toda a déc
noventa, conforme já colocado anteriormente.

Refere-se aqui ao ajuste macroeconômico do início dos anos oitenta e à política agrícola
29

adotada a partir de então, bem como à abertura comercial feita no novo cenário neoliberal
imposto às economias dependentes do FMI , durante toda a década de noventa, conforme
já colocado anteriormente.

81
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Na verdade, a ausência de uma política agrícola que con-


temple as especificidades da agricultura familiar e a manipula-
ção da política comercial ao sabor das pressões externas foram
fatores muito mais relevantes para a queda na produção dos dois
principais alimentos (arroz e mandioca) no Estado do que a pre-
sença do arame farpado, isto é, o crescimento do rebanho e/ou
das pastagens, como corriqueiramente se argumenta. Claro que
a pecuária, sendo alternativa de menor risco e de maior renta-
bilidade, e ainda contar com financiamento oficial, constitui-se
numa importante concorrente pelo recurso financeiro já escas-
so e por área há muito insuficiente à reprodução familiar dos
segmentos excluídos dessa política. Mas, isso não é suficiente
para explicar o perfil da agricultura familiar.

Como o crédito via PRONAF só aparece na segunda


metade dos anos noventa (1996), a agricultura familiar é dupla-
mente penalizada. Isso se manifesta na retração da oferta de
produtos básicos e no encolhimento e perda de importância
econômica parceiros, arrendatários e ocupantes na estrutura
da produção maranhense. Por outro lado, como os não proprie-
tários eram e continuam sendo, peças chaves na produção dos
produtos de subsistência, qualquer mudança nos mesmos, em
termos de área disponível, mata virgem para a roça, assistência
técnica, crédito rural e pessoal disponibilizado, repercute direta-
mente na oferta geral de alimentos.

De acordo com o IBGE, de 1970 a 1996, registrou-se que-


da muito acentuada na lavoura (área) e pessoal ocupado entre
estabelecimentos com menos de 10ha. No caso da área, a redu-
ção foi de 30 pontos (de 70% p/40%) enquanto para o pessoal
ocupado caiu 68%.

Como a área média neste segmento também retrocedeu,


isso pressionou ainda mais o acesso à terra, tornando mais escas-
sa a produção (a queda de 60% entre 1970/1996, quando a área
saiu de 0,6 ha para 0,36 hectare).

82
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Ao trazer novos elementos ao cenário local como a con-


corrência interna e externa, a política econômica neoliberal vol-
ta-se para a agricultura de exportação (soja e eucalipto). Somado
a isso, há problemas estruturais antigos, como a concentração
fundiária, que dificulta o acesso à terra e se configura como fa-
tor determinante na estruturação das relações de trabalho. Esse
cenário contribui ainda mais para a desarticulação da agricultu-
ra familiar camponesa, tradicionalmente responsável maior pela
produção e ocupação da força de trabalho local.

Em síntese, pode-se afirmar que o setor de alimentos bá-


sicos, pelo menos inicialmente, não foi impedido de expandir-se
em função da prioridade à pecuária, já que até nas áreas de pos-
tos a produção de alimentos continuou a crescer, evidenciando
que não havia incompatibilidade entre ambas.

Posteriormente, o cenário declinante da produção de ali-


mentos básicos se vincula à política econômica e seus rebates
na política agrícola e agrária. O seu formato nos anos noventa,
desfavorável à agricultura familiar, explica a desarticulação da
pequena produção familiar, ainda hoje a grande responsável
pela oferta de alimentos básicos e pela ocupação de mão de
obra no Maranhão.

A pecuária e seus sustentáculos (crédito subsidiado e in-


centivo fiscal) não podem ser apontados como os únicos respon-
sáveis pelo festival de equívocos e de exclusão a que a agricul-
tura familiar tem sido submetida pelos governos; outros fatores
como os citados, devem ser adicionados.

83
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

84
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

7. DESEMPENHO RECENTE E
ENTRAVES ESTRUTURAIS

A conjuntura instável que acompanha uma parte da agri-


cultura temporária no Maranhão é fruto de um conjunto de va-
riáveis, umas atuais, outras dos anos 90, e outras até seculares,
como o acesso à terra e a organização da produção. Mas, sem
sombra de dúvida, a aquiescência inconteste a ditames da polí-
tica neoliberal em anos recentes se equipara à estrutura fundiá-
ria como justificativa para o panorama atual da produção, baixa
produtividade e o declínio per capita e relativo da agricultura
do maranhense no contexto nacional.

Embora até 2005 ainda não estivessem indisponíveis da-


dos atualizados sobre a estrutura fundiária; o uso e posse da ter-
ra, por cultura e atividade econômica e tipo de produtor; acesso
a tecnologia e financiamento, dentre outros, informações do pe-
núltimo censo (1996) e outras divulgadas antecipada pelo cen-
so 2006 indicam como o setor se comportou na década liberal
e permitem ainda identificar as dificuldades que uma parte da
lavoura temporária enfrentou ao longo de 1990/2005.

Questões como a estrutura fundiária, o uso da terra, a


condição do produtor, o financiamento público, o mercado de
trabalho e os vínculos ao mercado externo constituem variáveis
importantes e estão no núcleo central do quadro atual e no des-
travamento do setor. Sem a resolução das mesmas, as saídas são
apenas conjunturais e podem agravar ainda mais a situação do
segmento de excluídos (não-proprietarios e minifundistas ) no
processo atual de desenvolvimento do Maranhão, onde predo-
mina a ênfase aos grandes projetos.

A comparação de dados intercensitários entre 1985,


quando o processo desenvolvimentista é capturado (1985 e
1996), quando a política neoliberal é plena, permite captar a di-
nâmica das variáveis citadas e relacioná-las à conjuntura de crise

85
COLEÇÃO
CCSO
de produção de alimentos e à “ótima fase” do agronegócio (soja
e eucalipto).

7.1. Distribuição espacial30 e concentração da produção

O confronto dos dados relativos à agricultura (familiar


e a patronal ), extrativismo, pecuária e carvão vegetal entre
1990/05, expõe as mudanças espaciais ocorridas nas atividades,
os diferentes “territórios da produção” isoladamente e/ou em
conjunto, bem como as interseções que ocorreram.

Em 1990, por exemplo, o arroz se mostra relevante no


Centro e nas microrregiões de Pindaré, Alto Mearim e Grajaú,
com 26% da produção. Os municípios de Santa Luzia, Barra do
Corda, Imperatriz, Graça Aranha e Codó concentram 19% da
produção. Fenômeno parecido ocorre com a mandioca, porém
alterando a concentração da oferta em termos de mesorregião
(40% no Norte), com destaque para os municípios de Cururu-
pu, Santa Luzia do Paruá, Grajaú e Turiaçu. (Tabela 5.)

No caso do agronegócio (soja e cana) o nível de concen-


tração em 1990,em todos os aspectos é ainda mais violento; o
Sul sozinho responde por 100% da soja, e o Leste por 65% da
cana. As microrregiões que se destacam na soja são Gerais de
Balsas e Chapada das Mangabeiras com 99% da área. Os muni-
cípios de Balsas, Tasso Fragoso, Riachão, Sambaíba e São Rai-
mundo das Mangabeiras, por sua vez, detêm 82% desta ofer-
ta em 1990. Nota-se ainda que o nível na cana é inferior ao da
soja, mas superior ao da agricultura familiar. As microrregiões
de Coelho Neto, Alto do Mearim e Grajaú respondem por 2/3
da oferta da cultura e cinco municípios (Coelho Neto, Aldeias
Altas, Tuntun, Porto Franco e Caxias) por ¾ desse total.

A mesorregião da pecuária, o Oeste detêm 1/3 da produ-


ção, enquanto as microrregiões de Pindaré e Imperatriz concen-
O Maranhão tem uma área de aproximadamente 32 milhões de hectares. O IBGE divide o
30

Estado, para efeito de pesquisa, em cinco mesorregiões: Norte/Sul/Leste/Oeste e Centro);


21 microrregiões e 217 municípios.

86
COLEÇÃO
CCSO
tram 30% do rebanho. Juntos, os municípios de Açailândia,
Santa Luzia, Imperatriz, Bacabal e Riachão, detinham 20% do
rebanho do Estado, em 1990. O nível de concentração é inferior
ao da soja e da cana, mas superior ao da agricultura familiar.

Para o carvão vegetal, a mesorregião representativa é a


Leste, com cerca de 35%, mesma participação das microrregi-
ões de Imperatriz e Médio Mearim (35%). Juntos, os municípios
de Açailândia, Codó, Santa Quitéria, Chapadinha e Bacabal
produziam sozinhos 32% da oferta total.

Tais dados, grosso modo, mostram que a agricultura fami-


lar se encontra no Centro e no Norte; o agronegócio moderno
(soja) no Sul, o agronegocio tradicional cana e carvão no Leste
e a pecuária no Oeste. Chama atenção o caráter concentrador
em algumas mesorregiões, microrregiões e municípios frente ao
universo de área disponibilizada para o desenvolvimento das ati-
vidades e o território de cada um.

E, duas décadas depois, (2006), quais as mudanças visua-


lizadas em termos espaciais e de concentração da produção, ou
seja, qual a direção tomada pelas diversas atividades no cenário
neolibera?

A lavoura temporária de alimentos básicos é impactada


negativamente pelas políticas neoliberais; embora continue ain-
da importante no Norte, com a cultura da mandioca. O Oeste
substitui o Centro como local de expansão do arroz. As micror-
regiões do Pindaré, Alto Mearim e Baixada continuam muito
importantes.

A alteração maior decorreu da substituição do arroz por


atividades como a pecuária e o eucalipto. Em âmbito municipal
a alteração mais significativa: dos maiores produtores de arroz
de 90, só dois permaneceram como grandes produtores - Codó e
Santa Luzia, os demais foram substituídos (Tabela 5.)

87
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Para o agronegócio moderno (soja), pouco mudou; o Sul


continua sendo representativo (91%); embora a maior taxa de
crescimento ocorra na região Nordeste do Estado (microrregião
de Chapadinha). Já a cana e o carvão mudam substancialmente;
o território da primeira migra do Leste para o Sul. A micror-
região de Coelho Neto cede lugar à do Pindaré e que junto
com Alto Mearim, representam 71% da produção do Estado!
Alteram-se, também, os municípios; antigos produtores como
Caxias, Aldeias Altas e Tuntun cedem posição para São Rai-
mundo das Mangabeiras, Campestre e Ribamar Fiquene; estes
passam a deter 85% da oferta total.

No caso do carvão, em razão da demanda acelerada por


ferro gusa dos últimos 10 anos, a taxa de crescimento do volume
produzido foi excepcional (436%) e o local de produção muda
radicalmente; agora se concentra no Oeste (50%) com destaque
para as microrregiões do Pindaré e Alto do Mearim (52%). Os
municípios diferentes e espacialmente bem distantes daqueles
de 1990. Cinco municípios (Bom Jardim, Barra do Corda, Gra-
jaú, Centro Novo e Tuntun) respondem por 42% da oferta geral
de carvão em 2005, denotando o nível de concentração extre-
mamente alto da atividade .

88
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

Tabela 5 - Território da produção e o nível de concentração da


agricultura familiar e do agronegócio no Maranhão em 1990
e 2005

Fonte: IBGE

Por fim, a pecuária continua hegemônica e ainda mais


concentrada no antigo local, o Oeste e, as microrregiões são as
mesmas, Pindaré e Imperatriz; a diferença é que a concentração
aumentou para 44% (antes 29%). Mas é no cenário municipal

89
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

que as transformações espaciais são mais visíveis; dois impor-


tantes núcleos “tradicionais” da pecuária, Imperatriz e Bacabal,
cedem terreno para os município de Amarante, Bom Jardim e
Itinga.

Espacialmente, a dinâmica agrícola no seu sentido mais


amplo (todas as atividades do setor primário) se localiza no Oes-
te, em apenas sete microrregiões: Baixada Maranhense, Porto
Franco, Gerais de Balsas, Alto Mearim, Chapada das Manga-
beiras, Pindaré e Imperatriz. É neste território que se encon-
tra o mais importante núcleo de expansão e concentração da
produção: o do agronegócio (ele é também o segundo em ter-
mos de demanda; o primeiro é o Norte por conta da capital), em
particular aquela do agronegócio – soja, eucalipto e pecuária,
além do carvão vegetal, que se direcionam cada vez mais para
lá.Também é o segundo mercado em termos de demanda.

7.2. Mudanças na estrutura fundiária


A questão fundiária maranhense não é muito diferente
da de outros Estados do Nordeste nem do Brasil. Ela nunca foi
resolvida e sempre foi postergada. O acesso à terra é precário,
e sua posse extremamente concentrada; o índice de Gini para
1996 é de 0,901, onde o máximo é um (PORRO, 2004). Essa
concentração, sozinha, é parte respeitável dos problemas, den-
tre eles o “atraso” da agricultura familiar e o estágio crônico de
pobreza em que se condenam milhões de quase cidadãos há
muitas gerações no Maranhão. O acesso formal à propriedade,
limita-se a quase um terço de produtores; a outra parte (68% do
total) não tem acesso à terra e/ou é precário, já que paga renda
na realização do processo de reprodução. Aí reside o principal
obstáculo à alteração do quadro de estagnação e de exclusão so-
cial/econômica/política que perdura há gerações neste segmen-
to da produção agrícola. Em outras palavras, a distribuição e o
acesso à terra ao longo dos últimos 50 anos não se alteraram sig-
nificativamente a favor dos excluídos; se caracterizando rigidez

90
COLEÇÃO
CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

estrutural. Um dos principais aspectos deste perfil do uso, aces-


so e concentração da terra é sua associação com a pecuária e o
agronegócio, como se pode aferir dos dados do IBGE (1996)31
deste perfil. No Estado, em 1995, havia um total de 368 mil es-
tabelecimentos ocupando uma área de 12,5 milhões dehectares,
dos quais 6% em mãos dos pequenos estabelecimentos (-10 ha)
e 43% daqueles com mais de 1000 hectares.

Figura 13- Estrutura agrária do Maranhão por grupo de área,em termos de número e
área de esta belecimento (1980 - 1995 - 2005).

100 95 94
89,5
90
80

70
60 -100
100-1000
50 44 42
41 >1000
38 36 36
40
30 23 22
18
20
9,8
10 4,5 6
0,5 0,5 0,7
0
Número Area Número Area Número Area

1980 1995 2005

Fonte: IBGE

No intervalo
A figura de dez anosque
13 mostra 1985/1995,
em 25a área
anosmédia geral subiu defundiária
a estrutura 29 para 34
hectares (17%). Mas os estabelecimentos menores com área inferior a 10 ha, onde se
dolocaliza
do Maranhão continua
a quase totalidade concentrada
dos pequenos e desigual.
produtores de O número
alimentos básicos, diminuíramde
sem terra
sua área e de
média, quepequenos
sai de 1,5 ha estabelecimentos é enorme,
para 1,4 ha. Os estabelecimentos emacima
com área tornode
1000 ha têm sua área reduzida em 2%; passa de 2779 ha para 2716 ha. Nota-se que
deentre90% (2006), e a área se situa na faixa de 22%. Efetivamente
esses dois extremos a área média dos grandes estabelecimentos (latifúndios) é
o quase
segmento
duas milde
vezesprodutores
maior daqueleque cresceu
minifúndio! Alémfoidisso,
o daesse
faixa intermedia-
primeiro estrato (-10
ha) vem perdendo espaço (em número e área) desde
ria de 100 a 100 hectares. Quer dizer a ação governamental os anos 70 para os estratos maiores,
atra-
inclusive para os pequenos, aqueles entre 100 e 1000 hectares. Apesar de este
vés de diferentes
movimento intervenções
ser direcionado a pequenos, teve efeito secundário
a concentração fundiária atual, no acesso
medida pelo
aoíndice
principal
de Ginimeio
(0,849)de reprodução
continua no cenário
alta e generalizada agrária
em nível – a terra.e de
de microrregião
municípios, com tendência atual a aumentar nas áreas onde o uso da terra se faz
31
extensivamente
Os dados daqui para frente são todos
(monocultura) dos censos2006).
(MESQUITA, agropecuários. Para efeito de simplificação,
deixam de ser
Os citados a cada
dados do aparição.
ultimo censo revelam que o Gap entre os mini e enormes
estabelecimentos pouco alterou,apesar da Política de Assentamento do INCRA e
ITERMA em vigor.
91
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

No intervalo de 1985/1995, a área média geral subiu de


29 para 34 hectares (17%). Mas os estabelecimentos com área
inferior a 10 ha, onde se localiza a quase totalidade dos peque-
nos produtores de alimentos básicos, diminuíram sua área mé-
dia, que sai de 1,5 ha para 1,4 ha. Nos estabelecimentos com
área acima de 1000 ha a área caiu 2%; passando de 2.779 para
2.716 ha. Nota-se que entre esses dois extremos a área média
dos grandes estabelecimentos (latifúndios) é quase duas mil ve-
zes maior do que a dos minifúndios. Além disso, esse estrato
(-10 ha) vem perdendo espaço (em número e área) desde os anos
70 para os estratos maiores, inclusive para aqueles entre 100 e
1000 hectares. Apesar de este movimento ser direcionado a pe
quenos, a concentração fundiária atual, medida pelo índice de
Gini (0,849) continua alta e generalizada em termos de micror-
região e de municípios, com tendência atual a aumentar nas
áreas onde o uso da terra se faz extensivamente (monocultura)
(MESQUITA, 2006).

Os dados do último censo revelam que o gap entre os


mini e os enormes estabelecimentos pouco alterou,apesar da
política de assentamento do INCRA e ITERMA em vigor.

Figura 14 . Indice de Gini para a concentração fundiaria em mesorregiões do


Maranhão: 1985-1996-2006.

0,950

0,900

0,850 1985
1996
0,800 2006

0,750

0,700

0,650
Norte Oeste Centro Leste Sul Estado

Fonte: IBGE
Os dados do ultimo censo revelam que o Gap entre os mini e enormes
estabelecimentos pouco alterou, apesar da Política de Assentamento do INCRA e
ITERMA em vigor. Mostra também que92 o índice de GIni por meso região continua
muito alto.Estimativa efetivada com dados com dados de 2006 (IBGE) figura 14,
COLEÇÃO
CCSO de assentados de reforma agrária é
mostra que mesmo em áreas onde o número
O desenvolvimento desigual da agricultura

Os dados do ultimo censo revelam que o gap entre os


mini e enormes estabelecimentos pouco alterou, apesar da polí-
tica de assentamento do INCRA e ITERMA em vigor. Mostra
também que o índice de Gini por mesorregião continua muito
alto.Estimativa com base no censo de 2006 (figura 14), indica-
que, mesmo em áreas onde o número de assentados de reforma
agrária é significativo, como a microregião de Pindaré (Oeste) o
índice Gini continua alto. O menor índice se encontra no Cen-
tro e no Sul, espaço privilegiado da sojicultura, mas é no Leste
área de ocupação antiga e atual fronteira do agronegocio da soja
e eucalipto, onde a concentração bate recorde.

7.3. Uso da terra

Se a década de 1970 serve de baliza no esboço do uso da


terra rumo à pecuária empresarial, a de 1990 é dominada pela
soja e eucalipto. Desde a década de 70, a pecuária é a atividade
econômica que mais cresceu no campo maranhense, em termos
de área apropriada (de 3% para 42% da área total), a expansão
da soja e do eucalipto deva alcançá-la rapidamente em função
das taxas exponenciais de crescimento registradas desde sua ins-
talação, 44% ao ano (MESQUITA 2006).

Em 2006, a pecuária representou 41% da área total ocu-


pada. Em 1985 já se apropriava de 25%. Entre 1990 e 2007 há
um crescimento significativo das pastagens (58%) e uma estag-
nação (-21%) das culturas de arroz, feijão e mandioca. Estas úl-
timas passam de 1,012 milhão/ha para 797 mil hectares; o equi-
valente a apenas 13% da área de pastagens no Estado em 2006.
Enquanto isso, as culturas empresariais (cana-de-açúcar e soja)
já perfazem 407 mil ha. Em 1995, o uso da terra pelos os prin-
cipais produtos da agricultura familiar, tinha caído 18% em rea-
lação a 1960. São 18% inferiores aos de 35 anos atrás. Esta ten-
dência se inverte um pouco nos anos mais recentes (2000/2005).
Entretanto, os produtos ligados à agricultura familiar há muito
tempo perderam a corrida para a pecuária, a soja e, eucalipto,
que se expande vigorosamente.

93
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

Figura 15 . Evolução do uso da terra no Maranhão no período de 1985-1996-2006.


Estimativa.
4.500.000
4.000.000
3.500.000 1985
3.000.000
1996
2.500.000
2.000.000 2006
1.500.000
1.000.000
500.000
0

is
is

as
is
es

ria

so

ra
ia
ra

ad
nt

an
ra

ic

tu
tu
e

po

st
tif
sc

na
na
an

re
ar
m

de
m

as

fl o
ns
Te

s
r

en

at
pe

re
ge
re
as

M
ag
a

as
as

ur

st
po

st

at
ur

Pa
vo

Pa
em

M
vo

La

T
La

v.
La

Fonte: IBGE
Os dados do gráfico acima dão-nos uma imagem do uso da terra na
agropecuária local ao longo deste período. Percebe-se que há uma contínua apropriação
da área total por pastagens em detrimento de área com lavoura. Dados mais recentes do
IBGE vão Osnagráficos retratam
mesma direção. Um dosbem, o uso
fatores da terra
a contribuir parana agropecuária
que a expansão se
maranhense ao longo do período. Mostra que há uma econtínua
direcione a atividades empresariais (pecuária, soja, eucalipto, cana) a poucas
microrregiões (Pindaré, Imperatriz, Alto Mearim e Grajaú, Gerais de Balsas, Chapada
apropriação
das Mangabeiras,da área
Porto total
Franco) foipor pastagens
o apoio emgovernos
ostensivo dos detrimento
estadual ede área
federal,
com lavoura.
via políticas Dados
regionais mais(incentivos
e setoriais recentesfiscais,
do IBGEcréditosvão na mesma
subsidiados dire-
e leilões de
terras)Um
ção. e construção de infraestrutura
dos fatores a contribuir de acesso
para(rodovias, eletrificação se
que a expansão e ferrovia,
direcio- a
Norte/Sul), entre outros aspectos.Em anos recentes a explosão dos preços das
ne a atividades
commodities. empresariais
Entretanto, a presença do (pecuária, soja,
grande capital no eucalipto, cana) easa
campo não ocasionou
poucas microrregiões (Pindaré, Imperatriz, Alto
transformações que se esperavam em termos de modernização, renda, emprego Mearim e Gra- e
produção de alimentos. E muito menos conseguiu interferir
jaú, Gerais de Balsas, Chapada das Mangabeiras, Porto Franco) na questão essencial do
acesso à terra, da expansão da lavoura “tradicional” e do baixo nível tecnológico em que
foi o apoio
vegeta a mesma.ostensivo dos
Ao contrário, governos
aprofundou estadual eemfederal,
as desigualdades todos os via políti-
planos, pois
cas regionais
concentrou os meiose setoriais
de produção(incentivos fiscais,a riqueza
e, conseqüentemente, créditos subsidiados
nas mãos de poucos ee
leilões
deterioroude terras)
ainda mais eo construção
meio ambiente;de infraestrutura
o passivo de acesso
ambiental produto (rodo-
deste modelo
equivocado de desenvolvimento tem deixado às gerações futuras um passivo de perdas
vias, eletrificação e ferrovia Norte/Sul), entre outros aspectos.
incomensuráveis que ainda está para ser avaliado.
Outro fator, em anos mais recentes, foi a explosão dos preços
das commodities.
7.4 Condição do produtor

O maior uso da terra em atividades capitalistas, como a pecuária


Entretanto, a presença do grande capital no campo não
empresarial,a soja, o eucalipto e a produção de carvão vegetal, se intensificou
ocasionou as transformações
consideravelmente no recente períodoque se esperavam
neoliberal em termos
e paralelamente também dese
modernização, renda, emprego
intensificaram os impactos e produção
socioambientais, em termos dedealimentos. E mui-
relações precárias,
compulsórias de trabalho (“escravo”) e do aumento do desmatamento necessário a
introdução de novas áreas com soja e demanda por carvão. Entre 1995/2007, as
atividades de produção de carvão e de plantio
94 de florestas homogêneas (eucalipto)
COLEÇÃO
CCSO
59
O desenvolvimento desigual da agricultura

to menos conseguiu interferir na questão essencial do acesso à


terra, da expansão da lavoura “tradicional” e do baixo nível tec-
nológico em que vegeta a mesma. Ao contrário, aprofundou as
desigualdades em todos os planos, pois concentrou os meios de
produção e, consequentemente, a riqueza nas mãos de poucos,
e deteriorou ainda mais o meio ambiente. O passivo ambiental
produto deste modelo equivocado de desenvolvimento, deixado
às gerações futuras abrange perdas incomensuráveis ainda por
avaliado.

7.4. Condição do produtor

O maior uso da terra em atividades capitalistas, como a


pecuária empresarial,a soja, o eucalipto e a produção de carvão
vegetal, se ampliouou consideravelmente no período neoliberal.
Paralelamente também se intensificaram os impactos socioam-
bientais, as relações precárias e compulsórias de trabalho (“es-
cravo”) e o aumento do desmatamento necessário à introdução
de novas áreas com soja e ao atendimento da maior demanda
por carvão. Entre 1995/2007, as atividades de produção de car-
vão e de plantio de florestas homogêneas (eucalipto) cresceram
muito. No mesmo período, ocorre a expansão de relações de
produção capitalistas consubstanciadas em aumento expressivo
dos proprietários e queda dos não proprietários (arrendatários/
parceiros e posseiros).

Entretanto, a forma de produção não-capitalista conti-


nua sendo numericamente predominante na agricultura do Ma-
ranhão, apesar do declínio relativo. Os não proprietários, são
cerca de 251 mil, em 1995, ante 428 mil. Não há nada, parecido
em qualquer parte do país. O declínio relativo continua, mas
o numero absoluto desta categoria ainda é significativo, como
demonstra o censo de 2006.

O gráfico 15 permite visualizar a situação da agricultura


familiar no intervalo 1985/95. Em 1985, havia um número sig-
nificativo de arrendatários e posseiros, cerca de 405 mil, e 103

95
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

mil proprietários (19%). Dez anos depois os proprietários pas-


saram a muito.
cresceram ser 32%, com crescimento
Em contrapartida a este avanço, de 13 apontos
ocorre expansão percentuais,
de relações de
produção capitalistas consubstanciadas num aumento expressivo dos proprietários e na
enquanto os não proprietários caíram de 81% para 68%. Vale
queda dos não proprietários (arrendatários/parceiros e posseiros). Entretanto, a forma
salientar
de produçãoque entre os
não-capitalista não sendo
continua proprietários,
numericamenteopredominante
acesso à na terra se faz
agricultura
via pagamento de uma renda agrária escorchante que não
do Estado do Maranhão, apesar do declínio relativo. Eles (não proprietários) são res-
cerca
de 251 mil (1995); antes (1985) eram 428 mil; não há nada parecido em qualquer parte
peita o Estatuto da Terra.
do país!O declínio relativo continua, mas o numero absoluto desta categoria ainda é
significativo é o que demonstra o censo de 2006, respectivamente x e m
Dentre
Dados doosIBGE
fatores
entre que
1985 explicam essa
e 1995 expostos no mudança
gráfico abaixoextraordi-
permitem
visualizar
nária o que aconteceu neste intervalo de tempo com os principais
(aumento de pequenos proprietários) se encontra a política atores da AF. Em
1985 havia um número significativo de arrendatários e posseiros, cerca de 405 mil, e
de
103assentamento
mil proprietários oude reforma
19%, agrária
mas dez anos depois executada
os proprietárioscom intensidade
já representam 32%,
neste período.
um crescimento Enquanto
de 13 os não
pontos percentuais! Nestaproprietários decresceram
categoria, que chamo também de sem13
terra (não proprietários), o acesso à terra se faz via pagamento de uma renda agrária
pontos percentuais, no âmbito da área apropriada tem-se uma
escorchante que não respeita o Estatuto da Terra. Dentre os fatores que explicam essa
tendência parecida:
mudança extraordinária os não
(aumento proprietários
de pequenos proprietários)em 1995 a detinham
se encontra política de
apenas 7%dedareforma
assentamento área total
agráriacontra
executada93% dos proprietários.
com intensidade neste período. Enquanto
os não proprietários decresceram 13 pontos percentuais, saindo de 81% para 68%! No
âmbito da área apropriada, tem-se uma tendência parecida. Os não proprietários em
1995 detinham apenas 7% da área total contra 93% dos proprietários.
Figura 16 . Condição do produtor em nº de estabelecimentos e area em termos
percentuais em 1980-1996-2005.
ri o
ri o

ta
ta

rie

100%
rie

op
op

pr
pr

90%

80%
70% proprietario
60% arrendentario
ri o
ta

s*
*

rie
s

50% parceiros
te
te

op
up o

an
an
oc ta ri

pr

up

40% ocupantes*
rie

oc
op
ri o

pr

30%
ta
rie
op

20%
pr

s*

s*

10%
s*
te

te
an

te

an
an
up

up
up

0%
oc

oc
oc

Número Area Número Area Número Area

1980 1996 2005

Fonte: IBGE

PorO acesso
proporcionar
à propriedade,uma segurança
por proporcionar maior ao
uma segurança maiorprodutor,
ao produtor, é
é um fator que “estimula” o mesmo a investir na propriedade, fato que não se constata
um
juntofator que o que
aos produtores estimula o omesmo
têm apenas acesso viaaposse.
investir na propriedade,
Além disso, a propriedade da o
não
terra se
é oconstata junto aosdeposseiros.
principal instrumento Aléme financiamentos
acesso a créditos disso, a propriedade
bancários,
instrumento
da terra é este fundamentalinstrumento
o principal para a ampliaçãode da acesso
capacidade de oferta, isto
a créditos é, o
e finan-
desenvolvimento da atividade e o elemento fundamental e essencial na diminuição das
desigualdades interpessoais, desde que o investimento seja acessível a todos.

96
COLEÇÃO
CCSO
60
O desenvolvimento desigual da agricultura

ciamentos bancários, fatores fundamentais para a ampliação da


capacidade de oferta, e diminuição das desigualdades interpes-
soais, desde que o investimento seja acessível a todos.

7.5. Ocupação da força de trabalho

Paralelamente à intensificação das relações capitalistas


na agricultura do Maranhão, observa-se um avanço das relações
de trabalho capitalistas no formato permanente e, sobretudo,
no temporário. No entanto, as relações com laços de parentes-
co, i.e, trabalho familiar (membro não remunerado da família,
parceiros e arrendatários), continuam extremamente importan-
tes na agricultura. Quer dizer, a intensificação das relações ca-
pitalistas ao longo das últimas décadas, sob a forma de trabalho
temporário e/ou permanente, ocorrida na agricultura e em par-
ticular na pecuária, soja, eucalipto e carvão, não foi suficiente-
mente forte para superar a importância do trabalho familiar na
agricultura maranhense.

De fato, o Maranhão é a unidade da Federação (IBGE,


1995) em que as formas não capitalistas ainda predominam
80% da ocupação na agricultura (1.333.864 pessoas) referem-se
ao trabalho familiar executado sob formas de parceria, arrenda-
mento, meação ou autônomo. O trabalho assalariado (perma-
nente e temporário), principal indicador de relações capitalistas,
vem crescendo, já representando 20% da força de trabalho da
atividade (dos quais 17% são de trabalhadores temporários).

Três atividades sobressaem na ocupação da força de tra-


balho: a lavoura temporária com 54%, a pecuária com 14% e a
silvicultura e a exploração vegetal com 10%32, do total geral de
A atividade pecuária na forma como vem sendo desenvolvida no Maranhão (extensiva
32

e predominantemente voltada ao corte) caracteriza-se pela baixa demanda de mão de


obra permanente e pela sazonalidade do trabalho temporário. Em 1996, 187 mil pessoas
estão ocupadas na pecuária (ou 14% do pessoal da agricultura em geral). A maior parte
desta demanda se faz de forma sazonal para o atendimento de tarefas específicas, sendo a
principal delas a roçagem de juquira ou a implantação de novas pastagens. Estas tarefas
são executadas por trabalhadores temporários ou de áreas mais distantes. O trabalho
permanente na atividade se restringe a um número muito pequeno de trabalhadores

97
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

1.331 mil pessoas. Por outro lado, com o recente crescimento ob-
servado em duas atividades ligadas à exportação, plantio de floresta
e produção de carvão, é de se esperar que o censo de 2006 mostre
mudanças importantes nos setores absorvedores de mão de obra.

Os dados preliminares demonstram duas coisas: de um lado,


a diminuição da força de trabalho em geral (25%), e de outro, a
confirmação da tendência anterior de predominância do trabalho
com laço de família (81%) frente ao sem laços de parentesco (20%).
O declínio superior a 250 mil trabalhadores da mão de obra decorre
de uma tendência histórica que acompanha o desenvolvimento da
atividade agrícola. Ao modernizar-se, ela substitui o capital variável
(força de trabalho) por capital fixo (máquinas e insumos modernos),
sendo mais ou menos acentuado de acordo com a importância que
a agricultura dita moderna assume dentro do setor e com o mode-
lo em que está baseada a expansão desta parte da agricultura (ex-
tensivo/moderno). Por outro lado, a representatividade do trabalho
familiar diz respeito ao grau de informalidade que prevalece no se-
tor, ao nível (baixo) de produtividade prevalecente e à importância
absoluta que ainda detém essa parte da agricultura na oferta de
alimentos básicos e na garantia de uma segurança alimentar.

Figura 17 . Distribuição da força de trabalho segundo a condinção do produtor; com laços de


familia/sem laços de familia 1996-2006.

90%
80%
70%
60%
50% Com laços de Familia
Sem laços de Familia
40%
30%
20%
10%
0%
Número

1996 2006

Fonte: IBGE
qualificados: vaqueiros, motoristas, tratoristas, técnicos agrícolas e veterinários.

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CCSO
O desenvolvimento desigual da agricultura

8. CONCLUSÃO

Com embasamento no exposto, pode-se afirmar que o


declínio de uma parte apreciável da agropecuária, em particular
daquela de produtos básicos, está ligado à mutação que se vem
processando há tempo nas diversas variáveis da equação que
constitui o setor antes mesmo da década de 70. O caso daque-
las relacionadas ao financiamento; às relações de produção e às
forças produtivas em andamento e se aprofundando, e, no pós-
90, à política neoliberal e seus desdobramentos, dentre eles o
que conduz ao desmonte da máquina governamental e ao corte
do subsídio que apoiava o setor familiar, e à prioridade recente
ao agronegócio da soja e eucalipto.

A chamada modernização agrícola no Maranhão, no en-


tanto, privilegiou pouquíssimos produtores e atividades, em
detrimento da agricultura familiar e do extrativismo. Ou seja,
ela foi residual, seletiva e pontual. O resultado final desta inter-
venção é uma mudança significativa durante todo esse período
no papel de atores “tradicionais” como posseiros, arrendatários,
parceiros e pequenos proprietários33, que ainda hoje (2008) são
peças importantes na produção de arroz, milho, feijão e man-
dioca e também no extrativismo. Isso esclarece porque a produ-
ção de grãos (exclusive soja) tem decaído sistematicamente des-
de os anos setenta, assim como o babaçu (MESQUITA, 1998)
sendo os níveis atuais são inferiores ou um pouco acima dos de
duas décadas passadas.

Já a soja, eucalipto e carvão se expandem exponencial-


mente, assim como a pastagem e o rebanho bovino. Quer di-
zer, de forma sintética, a dinâmica do setor agropecuário, grosso
modo, até a década de 70 girava em torno do arroz e do babaçu;
na época de transição (setenta/oitenta), foi a vez da pecuária,
Entre 1970 e 1995, os não proprietários, têm cedido área aos proprietários e o seu número
33

diminuído. Em 1970 os primeiros representavam 83% dos estabelecimentos e 8,5 % da


área; 25 anos depois, restringem-se a 68% e 6,7%, respectivamente. De qualquer forma,
ainda em 1995 (IBGE) continuavam sendo majoritários (MESQUITA, 2001, p. 77 e 83).

99
COLEÇÃO
CCSO
Benjamin Alvino de Mesquita

e, nos anos noventa, se direcionou à soja, carvão e eucalipto


(MESQUITA, 2006).

A precipitada queda da agricultura familiar, a “banda po-


bre” é esquecida, na primeira metade dos anos oitententa, da
agropecuária do Estado está relacionada, em primeiro lugar,
com a aguda crise agrária, e secundariamente, com os proble-
mas conjunturais (secas e enchentes) e a crise externa/contas
públicas. Essa ultima força uma reestruturação profunda na
política agrícola até então vigente, principalmente em termos
de corte de subsídios e aumento da taxa de juros para o finan-
ciamento rural, e desconsidera a questão agrária não resolvida.
Em anos recentes (1990), o Estado reestrutura o financiamen-
to agrícola, cria linhas de crédito especiais como o PRONAF
(1996) para atender à agricultura familiar e adota uma política
de assentamento como forma paliativa de democratizar o aces-
so à terra, um problema estrutural jamais enfrentado e sempre
postergado34.

A articulação e a desarticulação destas inúmeras variáveis


não têm sido das melhores, conforme visto ao longo deste texto.

Apesar de os dados oficiais demonstrarem soberbamente


que a economia do Maranhão mudou qualitativa e quantitativa-
mente, expressa por taxas de crescimento do PIB e da renda per
capita acima das do Nordeste e do Brasil, este bom desempenho
não se estende aos segmentos mais necessitados ou àquela par-
te da agricultura em que estão inseridos. Contudo, esse desem-
penho econômico não tem sido suficiente para mudar o mapa
de pobreza e exclusão social em que o Maranhão permanece há
gerações. A razão se encontra na apatia dos diferentes governos,
na falta de compromisso em alterar o ‘status quo’, que passa por
uma proposta de intervenção em variáveis fundantes que a cur-

34
A queda na produção de grãos (soja/arroz/milho/feijão) do Estado desde os anos sessenta
é produto desta crise agrária não revolvida e sempre postergada. Por exemplo, em 1960
a produção do Maranhão correspondia a 3,5% da do Brasil e 13,5% da do Nordeste; hoje
(2006), corresponde a 1,96% da do Brasil e 8% da do Nordeste (IMESC, 2008).

100
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to prazo, poderiam alterar o quadro de exclusão social e política
que predomina na sociedade.

Setores como o da agricultura familiar no qual sobrevive


a maior parte da população rural e uma outra parcela (“urbana”)
considerável, que ocupa a periferia das cidades35 do interior do
Estado, onde a pobreza alastra-se, têm um potencial extraor-
dinário que poderia ser utilizado na alteração desse quadro de
exclusão. A agricultura do Maranhão (excluindo a do agrone-
gócio), nos moldes em que se encontra no séc. XXI, não tem
muita diferença daquela praticada por nossos ancestrais, há 500
anos (aliás, aquela era sustentável e tinha uma produtividade su-
perior à atual, conseguindo produzir excedentes.

A privatização absoluta do acesso à terra; a política de


desenvolvimento descompassada da realidade do lumpem ru-
ral, que depende unicamente da terra (alheia) e do acesso livre
aos recursos naturais também privatizados (exemplo: os campos
naturais antes livres da Baixada Maranhense), a liquidação da
máquina governamental de apoio ao setor agrícola nos anos 80
(governo Cafeteira); a desorganização política e social dos pe-
quenos agricultores e o descompromisso sistemático frente à
atividade tradicional explicam o porquê do declínio e/ou es-
tagnação de uma parte do setor, o da agricultura familiar. O
que é um equívoco; todos os estados da Federação importantes
economicamente(São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Mi-
nas) hoje e ontem tinham/têm uma agricultura familiar forte
e dinâmica. Foi ela que gerou parcela respeitável do excedente
indispensável e fundamental à acumulação de capital, em parti-
cular na implantação e materialização do setor industrial.

Neste contexto, a ingerência governamental através de


política de modernização inclusiva e propositiva que eleve a
produtividade da agricultura familiar e inclua os excluídos (par-

Dezenas de famílias que moram na cercania das cidades continuam sobrevivendo de roças
35

que se destinam à produção do arroz e da mandioca (farinha). Tais roças ficam num raio de
até 20 quilômetros da residência urbana.

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COLEÇÃO
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ceiros, arrendatários e ocupantes e minifundistas) é o caminho


mais simples, barato e eficiente para uma política de segurança
alimentar, distribuição de renda, geração de emprego e aumen-
to da produção e, ainda para diminuir o alto grau de dependên-
cia e de vulnerabilidade que hoje prevalece com a ênfase no
agronegócio.36

A saída da paralisia que tomou conta da produção de ali-


mentos, expressa na queda de volume, produtividade, produção
per capita e participação em âmbiro nacional, passa por uma
reorientação profunda da ação do Estado frente ao setor. Hoje,
generoso frente ao agronegócio e inepto para com a agricultura
familiar, a maior responsável pelo emprego, distribuição da ren-
da e preservação ambiental.

No Maranhão, o produtor familiar é desorganizado so-


cial, política e economicamente, além de disperso espacialmen-
te, ele não tendo força alguma para exigir mudanças estrutu-
rais na forma de atuação do Estado. Assim, pouco se espera no
curto prazo em termos de transformação desse perfil estacioná-
rio vigente, entre os agricultores familiares do Maranhão. Isso
não significa defender uma volta à agricultura rudimentar ou a
exclusão de formas capitalistas eficientes que têm um papel a
cumprir. O que se quer é atenção maior para que o segmento
da agricultura familiar possa também cumprir adequadamen-
te suas funções basilares de geradora de emprego, produção de
alimentos e distribuição de renda. É desta forma que se pode
enfrentar a pobreza generalizada no meio rural (sobretudo na
agricultura familiar atual) com consequências calamitosas para
o desenvolvimento econômico democrático, ou seja, aquele que
permite a todos uma melhoria de condições de vida.
O pressuposto é que haja pelo menos a vontade política de ter um projeto alternativo de
36

produção agrícola que inclua a maioria da população, hoje excluída; isso é possível, a um
custo simbólico, caso esse segmento seja convidado a participar deste projeto, e muito mais
barato e sustentável do que esse atual modelo baseado fundamentalmente no agronegócio
de base instável, concentrador de renda e supressor de emprego e de custos ambientais não
calculáveis. Esse é o verdadeiro caminho de acesso à riqueza, e do bloqueio e diminuição
das desigualdades regionais.

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O desenvolvimento desigual da agricultura

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