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REVISTA DE CIÊNCIAS GERENCIAIS

IAS 08 - POLÍTICA CONTÁBIL, MUDANÇA DE ESTIMATIVAS E


RETIFICAÇÃO DE ERROS
OS PRINCIPAIS PONTOS DE APLICAÇÃO DA NORMA

Tessa Cristina Pereira Coltro – Faculdade Anhanguera de Sumaré

RESUMO: O objetivo principal deste artigo é apresentar os principais pontos de aplicação PALAVRAS-CHAVE:
da norma internacional, IAS 8, referente a políticas contábeis, mudanças de estimativas IAS 8, CPC 23, Política Contábil,
Estimativas, Erros.
contábeis e retificação de erros, editada pelo IASC (International Accounting Standards
Commit-tee), e revisada pelo IASB (International Accounting Standards Board), atual
órgão internacional, constituído em abril de 2001, com o intuito de harmonizar os KEYWORDS:
demonstrativos contábeis mundiais, transformando-os em um padrão único. Serão IAS 8, CPC 23, Accounting Policy,
tratados neste artigo referente a IAS 8 questões como: objetivos, definição e exemplos Estimates, Errors.
práticos, além de serem apresentadas as principais diferenças existentes entre a norma
internacional e a norma brasileira antes e após a publicação do CPC 23, editado pelo
Comitê de Pronuncia-mentos Contábeis no Brasil, que trata do mesmo assunto e que
foi elaborado com base nas IAS 8.

ABSTRACT: The aim of this paper is to present the main points of international standard,
IAS 8, relating to accounting policies, changes in accounting estimates and correction
of errors, published by the IASC (International Accounting Standards Committee),
and revised by the IASB (International Accounting Standards Board), the current
international body, established in April 2001, aiming to harmonize global accounting
statements, turning them into a single standard. Will be treated in this article refers
to IAS 8 issues such as: objectives, definitions and practical examples, in addition
to presenting the main differences between Brazilian standards and international
standard before and after publication of the CPC 23, edited by the Committee on
Financial Declares ments Brazil, which addresses the same issue and was prepared
based on IAS 8. And in the background-present for information about the history of the
creation of international bodies and regulators of international ac-counting principles,
as well as the creation of the Accounting Pronouncements in Brazil.

Informe Técnico
Recebido em: 09/11/2012
Avaliado em: 11/12/2012
Publicado em: 27/05/2014

Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.

Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com

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IAS 08 - Política contábil, mudança de estimativas e retificação de erros: os principais pontos de aplicação da norma

1. INTRODUÇÃO
O IASB (International Accounting Standards Board), Conselho de Padrões Contábeis
Internacionais foi constituído em abril de 2001 e veio substituir o IASC (International
Accounting Standards Committee), Comitê de Padrões Contábeis Internacionais, criado em
junho de 1973, como resposta dos países da Europa à criação do FASB (Financial Accounting
Standards Board), Conselho de Padrões Contábeis Financeiros criado em 1972 nos Estados
Unidos, os pronunciamentos do FASB são denominados SFAS (Statement of Financial
Accounting Standard), e ainda continuam em vigor e são considerados os princípios
contábeis oficiais nos Estados Unidos. O IASC emitia as IAS (International Accounting
Standards), Padrões Contábeis Internacionais e o IASB adotou e revisou as IAS e passou
a emitir as novas normas, as IFRS (International Financial Reporting Standards), Padrões
de Divulgações Financeiras Internacionais. Após o escândalo norte-americano, com as
empresas: Enron e WorldCom, existe um acordo para convergência das normas norte-
americanas do FASB para o IASB.
O objetivo da criação do IASB foi de melhorar os pronunciamentos anteriores emitidos
pelo IASC, harmonizando assim os demonstrativos contábeis publicados pelos países que
convergirem para as novas normas internacionais. Hoje existem mais de 100 países que já
aderiram às novas normas internacionais emitidas pelo IASB, entre eles: União Européia,
Alemanha, Itália, Reino Unido, Espanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, etc. A lista
completa dos países que firmaram acordo para convergência das normas se encontra no
site: www.iasplus.com.
A IAS 8 é uma norma internacional criada pelo IASC e revisada pelo IASB, que trata
de políticas contábeis, mudança de estimativas e retificação de erros. Neste artigo serão
abordados os procedimentos a serem adotados diante das alterações de políticas contábeis,
das mudanças de estimativas e retificação de erros, tratadas na norma IAS 8, envolvendo:
explanação dos objetivos, definições, exemplos das aplicações, e também as diferenças
existentes entre a norma editadas pelo IASB e a norma brasileira editada pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, o CPC 23.
Este artigo visa esclarecer as principais dúvidas em relação a aplicabilidade da norma
e apontar as diferenças existentes entre a norma internacional editada pelo IASB e a norma
brasileira, editada pelo CPC.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, constituída principalmente por
livros e artigos científicos. Segundo Gil (2006), a vantagem da pesquisa bibliográfica permite
a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente. Essa vantagem é importante quando o problema de pesquisa requer
dados muito dispersos e estudos históricos. Todavia, é necessário analisar em profundidade
as informações para evitar incoerências ou contradições das mesmas. O levantamento da
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literatura que serve de alicerce à investigação, não é uma transcrição de textos, mas uma
discussão sobre as idéias, fundamentos, inferências e conclusões de autores selecionados,
relacionando suas fontes conforme normas e técnicas pertinentes.

2. HISTÓRIA DA NORMA
A IAS 08 está representada no Brasil pelo CPC 23, o qual foi editado pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, atual órgão regulador das normas brasileiras, que foi criado
através da Resolução CFC n° 1.055/05, na união de esforços de várias entidades: ABRASCA,
BOVESPA, FIPECAFI, IBRACON, Conselho Federal de Contabilidade e APIMEC Nacional,
tendo em vista um objetivo comum e em função da necessidade de convergência internacional
das normas contábeis brasileiras.
...o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos
de contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza para permitir a
emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando á centralização e
uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência
da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (Resolução No. 1.055/05)

O CPC é um órgão autônomo das entidades que o representam e é deliberado por 2/3 de
seus membros, membros estes que são compostos pelas 6 (seis) entidades que o representam.
O CPC emite os pronunciamentos técnicos, dá orientações e sugere interpretações. Desde
a sua criação já foram feitos mais de 40 pronunciamentos técnicos (CPC), 15 interpretações
(ICPC) e 03 orientações (OCPC).
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) juntamente com o Conselho Federal
de Contabilidade (CFC) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) com o IASB,
definindo uma data-limite para a convergência das normas internacionais, como sendo o
final do ano de 2010.
O CPC 23 que trata de políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de
erros foi aprovado em junho de 2009 e passou a vigorar a partir do ano de 2010.
O objetivo desta norma é prescrever o critério para escolha da política contábil e as
alterações dessas políticas, indicar tratamento contábil e evidenciação das alterações em
políticas contábeis, estimativas contábeis e correções de erros, realçar a relevância e a
credibilidade das demonstrações financeiras de uma entidade e a comparabilidade destas
ao longo do tempo e também com as demonstrações de outras entidades.
A seguir é apresentada uma tabela com o resumo da história da IAS 8 desde quando
foi editada pela primeira vez pelo IASC.

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Tabela 1 - História da IAS 8.

Outubro de 1976 Exposure Draft E8 O Tratamento na Declaração de rendimentos de itens extraordinários


e Mudanças nas Estimativas Contábeis e Políticas
Fevereiro de 1978 IAS 8 incomuns e Prévias Itens Período e Alterações nas Políticas Contabilísticas
Julho 1992 Exposure Draft E46 itens extraordinários, Erros fundamentais e Alterações nas Políticas
Contabilísticas
Dezembro 1993 IAS 8 (1993) Lucro Líquido ou Prejuízo do Período, Erros Fundamentais e Alterações
nas Políticas Contabilísticas (revista como parte da “Comparabilidade das Demon-
strações Financeiras “ do projeto)
01 de janeiro de 1995 Data da vigência da IAS 8 (1993)
18 de dezembro de 2003 Versão revisada do IAS 8 emitidas pelo IASB
1 de janeiro de 2005 Data de vigência da IAS 8 (2003)
Fonte: IASPLUS1

3. POLÍTICA CONTÁBIL
As Políticas Contábeis são princípios específicos, fundamentos, convenções, regras e práticas
aplicadas por uma entidade ao preparar e apresentar suas demonstrações financeiras. Como
exemplo de política contábil, podemos citar: método de avaliação dos estoques e tipo de
avaliação do ativo imobilizado.
“Devido à complexidade e subjetividade inerentes ao processo contábil, as empresas
adotam políticas contábeis que buscam homogeneizar a linguagem das informações
financeiras.” (FIPECAFI, 2010).
As políticas contábeis de uma entidade precisam e devem ser consistentes, para que
seus demonstrativos contábeis possam ser confiáveis, assim ao aplicar determinada política
dentro da entidade, a mesma só poderá ser modificada se uma nova norma ou uma nova
interpretação assim o permitir ou exigir.

3.1. Mudança da Política Contábil


A mudança na política contábil só é possível se:
A. For exigida por uma nova norma ou por uma nova interpretação; ou
B. Resultar em demonstrações contábeis que forneçam informações mais confiáveis
e relevantes.
A norma IAS 8, trata das alterações destas políticas contábeis adotadas pelas empresas:
Uma entidade deve selecionar e aplicar as suas políticas contabilísticas
consistentemente para transações semelhantes, outros acontecimentos e condições,
a menos que uma Norma ou Interpretação especificamente exija ou permita a
categorização de itens para os quais as diferentes políticas podem ser apropriadas.
Se uma Norma ou Interpretação exigir ou permitir tal categorização, uma política
contabilística apropriada deve ser selecionada e aplicada consistentemente a cada
categoria. (IAS 8,13 – Tradução Google).

1 Disponível em: http://www.iasplus.com/standard/ias08.htm. Acesso em 21 nov.2011

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Assim como o CPC 23, editado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis no Brasil:
O objetivo deste Pronunciamento é definir os critérios para a seleção e a alteração de
políticas contábeis, juntamente com o tratamento contábil e divulgação de alterações
nas políticas contábeis, as alterações nas estimativas contábeis e a retificação de erros.
O Pronunciamento tem como objetivo melhorar a relevância e a confiabilidade das
demonstrações contábeis de uma entidade, bem como permitir sua comparabilidade
ao longo do tempo com as demonstrações contábeis de outras entidades. (CPC 23,
2009)

As alterações nas políticas contábeis não incluem a aplicação de uma determinada


política devido a acontecimentos que não ocorreram anteriormente ou para um tipo
específico de transação ou ainda para acontecimentos que eram imateriais.
“Observe que as alterações nas políticas contábeis não incluem a aplicação de uma
política contabilística para um tipo de transação ou acontecimento que não ocorreram
anteriormente ou eram imateriais.” (IAS 8,16 – Tradução Google)
Após a empresa estudar e tomar a decisão de efetuar a mudança de política contábil,
ela deverá seguir alguns procedimentos, entre eles, se existe a possibilidade de efetuar uma
Aplicação Retrospectiva (AR).

3.2. Aplicação Retrospectiva


Após a identificação da mudança da política contábil, é preciso verificar a possibilidade do
período anterior em que pode ser feito o ajuste e então efetuar a aplicação retrospectiva.
A aplicação retrospectiva significa ajustar o saldo de abertura de cada componente de
capital próprio para o período anterior mais antigo apresentado e as outras quantias
comparativas divulgadas para cada período anterior apresentado como se a nova
política contabilística tivesse sempre sido aplicada. (IAS 8,22 – tradução Google)

Exemplo 1: O investimento era avaliado por custo, agora passa a ser avaliado por
equivalência patrimonial. A mudança afeta o valor da conta de investimentos. Qual seria o
valor do período anterior se a equivalência patrimonial estivesse sendo aplicada? Suponha
que a empresa esteja encerrando o exercício de 2010.
Tabela 2 – Aplicação Retrospectiva

Conta 2009 2010


Investimentos (método de avaliação por custo) R$ 25.000,00 -
Investimentos (método de avaliação por EP) R$ 28.000,00 R$ 39.000,00
Fonte: autor

Os valores comparativos do ano anterior, 2009, devem ser reapresentados com a nova
política e o impacto deve ser ajustado contra a conta de lucros acumulados.
O lançamento a ser efetuado referente ao exercício de 2009 ficaria assim:
D – Investimentos 3.000,00
C – Lucros Acumulados 3.000,00

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A mudança na política contábil deve ser feita de forma retrospectiva. No Brasil não
é apresentado esse valor, porém pelas normas internacionais há o restabelecimento dos
números comparativos, exceto se a mudança for impraticável.
Se a mudança for impraticável, a aplicação retrospectiva (AR) não precisa ser feita. A
mudança é impraticável quando os efeitos dessa aplicação são indetermináveis, quando não
é possível determinar a intenção do gestor naquela época ou quando a AR requer estimativas
relevantes de valores que não podem ser separados de outras informações.
Se a mudança for impraticável, a empresa deve aplicar a nova política no início do
primeiro período para qual a aplicação retrospectiva é possível, o qual pode ser o período
corrente, neste caso, basta fazer o ajustamento dos saldos das contas envolvidas.
Exemplo 2: Foi identificada a mudança da política contábil e a empresa deseja ajustar
os quatro últimos períodos, porém só há a possibilidade de ajuste do período anterior, neste
caso a empresa faz a partir do ano anterior.
Tabela 3 – Aplicação Retrospectiva

Conta/Período 2007 2008 2009 2010


Investimentos (método de avaliação por custo) 15.000 15.000 25.000 -
Investimentos (método de avaliação por EP) - - 32.000 32.000
Fonte: autor

Neste caso, a empresa identificou a mudança da política a partir das demonstrações


contábeis de 2007, porém só há possibilidade de fazer o ajuste a partir das demonstrações de
2009. Desta maneira a empresa procede com o ajuste a partir de 2009.
D – Investimentos 7.000
C – Lucros Acumulados 7.000
Quando ocorrer a mudança de uma política contábil adotada pela empresa, a mesma
deve constar das Notas Explicativas.
Em linhas gerais, quando se tratar de uma mudança de política contábil, seja por força
de uma lei ou por resultar em demonstrações contábeis mais seguras e confiáveis para a
empresa, é preciso avaliar em primeiro lugar a Aplicação Retrospectiva e então efetuar os
devidos ajustes nas demonstrações contábeis do período corrente, restabelecendo assim os
valores corretos.

3.3. Diferença da Norma Internacional e o BR GAAP


No Brasil a mudança de política contábil era tratada diretamente no Patrimônio Líquido,
na conta de ajustes de exercícios anteriores e não havia reapresentação das informações
comparativas dos períodos anteriores, porém a partir de 2010 com a aplicação do
pronunciamento do CPC 23 esta prática sem a devida aplicação retrospectiva deixa de existir.

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4. ESTIMATIVAS CONTÁBEIS
A estimativa contábil é um ajuste feito no valor contábil de um ativo ou passivo que é
resultante da avaliação do status atual de ativos ou passivos, bem como de seus benefícios
futuros esperados e obrigações associadas a ele.
As estimativas são uma característica fundamental das demonstrações financeiras
que refletem as incertezas inerentes às atividades de negócio. A IAS 8 aponta que o
uso de estimativas razoáveis é uma parte essencial de preparação das demonstrações
financeiras e não coloca em dúvida sua confiabilidade. (FIPECAFI, 2010)

A estimativa é resultante de novas informações ou novos desenvolvimentos, por este


motivo não se trata de correções de erros contábeis. As alterações de estimativas contábeis
são mudanças decorrentes de novos fatos. Veja abaixo exemplo de estimativas contábeis:

Figura 1. Exemplo de Estimativas Contábeis

Fonte: autor

Suponha que um ativo imobilizado foi adquirido em 1998 por R$ 100.000,00 e quando
adquirido tinha uma estimativa de vida útil de 20 anos e um valor residual de R$ 5.000,00,
porém no 12º. Ano de utilização desse ativo a sua vida útil passou a ser estimada em 15 anos
e o seu valor residual em R$ 6.250,00.
Nesse caso, tem-se uma alteração da estimativa contábil de vida útil do bem e é preciso
recalcular as despesas de depreciação.

Cálculo da Depreciação Inicial pelo método da linha reta:


Depreciação Anual = Valor do bem – Valor Residual
Vida útil do bem
Depreciação Anual = (R$ 100.000 (-) 5.000) = R$ 4.750 por ano
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Cálculo da Nova depreciação pelo método da linha reta:


Valor Contábil Líquido no 12º. Ano = Valor do Bem (-) Valor da Depreciação Anual x
Número de Anos já depreciados
Valor Contábil Líquido no 12º. Ano = R$ 100.000 (-) R$ 4.750 x 12 = R$ 43.000
Nova depreciação = Valor Contábil Líquido (-) Valor Residual
Restante da Vida útil
Nova Depreciação = ( R$ 43.000 (-) 2.500) = R$ 13.500 por ano
3

A nova depreciação anual é calculada baseada no valor contábil líquido e nos novos
parâmetros de vida útil e do valor residual.
As alterações em estimativas contábeis não alteram as demonstrações contábeis de
períodos anteriores, o efeito vai direto para o resultado.

5. ERROS DE PERÍODOS ANTERIORES


Os erros de períodos anteriores são omissões ou erros nas demonstrações financeiras de um ou
mais períodos anteriores, que surgem de falhas por uso incorreto de informações confiáveis
que estavam disponíveis quando da autorização para publicação das demonstrações
financeiras ou poderiam ser razoavelmente esperadas como sendo obtidas e levadas em
conta na preparação e apresentação daquelas demonstrações.
Esses erros, segundo a IAS 8, incluem:
• erros matemáticos,
• erros ao aplicar políticas contábeis,
• lapsos,
• interpretações incorretas de fatos, ou
• fraudes.
Os erros contábeis muitas vezes não são descobertos a tempo, somente são descobertos
em períodos subseqüentes às demonstrações financeiras já publicadas.
A seguir será apresentado um exemplo de erro contábil e como deve ser feita a devida
retificação segundo as normas: internacional e brasileira.

5.1. Retificação de Erros


Após o reconhecimento do erro, a correção deve ser feita no primeiro conjunto de
demonstrações financeiras autorizadas para publicação e de maneira retrospectiva.
Reelaboram-se os saldos dos ativos, passivos e patrimônios líquidos do período
anterior para efeito de comparação.

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No entanto, se for impraticável determinar os efeitos específicos de um período de um


erro na informação comparativa para um ou mais períodos anteriores apresentados,
a entidade deve reafirmar os saldos de ativos, passivos e patrimônio líquido para o
primeiro período para o qual a retrospectiva for possível (que pode ser o período
corrente). (IAS 8,44 – Tradução Google)

Exemplo: A empresa vai publicar os demonstrativos do ano de 2010 e percebeu um


erro em 2004. Deve-se corrigir o erro de 2004 e verificar o efeito no saldo inicial de 2009, para
que os reflexos tenham efeito na publicação de 2010 com comparativo de 2009.
Veja a seguir um exemplo da aplicação retrospectiva do erro, reelaborando as
demonstrações contábeis:
Tabela 4. Demonstração do Resultado do Exercício em 31/12:

2009
Receita de Vendas 75.000
Custo do produto Vendido (50.000
LAIR 25.000
IRPJ/CSLL (6.000)
Lucro Líquido 19.000
Fonte: autor

Depois da publicação do demonstrativo em 31/12/2009, a empresa percebeu que


alguns produtos incluídos em seu estoque já haviam sido vendidos, no valor de R$ 5.000,00.
Em 2010 a empresa efetuou vendas no valor de R$ 85.000, custo dos produtos vendidos
no valor de R$ 45.000 (estando incluso neste valor os 5.000 por erro no saldo inicial da conta
estoque).
Tabela 5. Demonstração do Resultado do Exercício em 31/12 (reelaborado):

2010 2009
Receita de Vendas 85.000 75.000
Custo do Produto Vendido (40.000) (55.000)
LAIR 45.000 20.000
IRPJ/CSLL (10.800) (4.800)
Lucro Líquido 34.200 15.200
Fonte: autor

Desta forma a empresa corrigiu o erro e restabeleceu os valores corretos a partir de


2009, último conjunto de demonstrações.
A norma observa que correções de erros são diferentes de mudanças em estimativas
contábeis. Estimativas contábeis, por sua própria natureza, são aproximações que
podem demandar revisão na medida em que surgirem informações adicionais. Por
exemplo: o ganho ou perda reconhecido como resultado de uma contingência não se
caracteriza como correção de um erro. (FIPECAFI, 2010)

As mudanças de políticas contábeis, assim como a retificação de erros devem ser feitas
de forma retrospectiva, reajustando os saldos em relação a períodos anteriores. Porém, as
estimativas contábeis, como se tratam de provisões, não necessitam do mesmo tratamento,
os ajustes destas estimativas vão direto para a conta de resultado.

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5.2. Diferença da Norma Internacional e o BRGAAP


Os erros de períodos anteriores eram tratados como ajustes de exercícios anteriores e
não havia reapresentação das informações comparativas. Porém, a partir de 2010 com
o pronunciamento do CPC 23 a prática de ajustes de exercícios anteriores sem a devida
aplicação retrospectiva vai deixar de existir.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A IAS 08 editada pelo IASC e revisada pelo IASB, atual órgão internacional, trata
especificamente da aplicação das políticas contábeis, mudanças de estimativas e
retificação de erros. As alterações em políticas contábeis e retificação de erros exigem a
contabilização retrospectiva, já as mudanças em estimativas exigem apenas a contabilização
propesctivamente, ou seja, no período corrente.
A norma é importante para que os padrões contábeis adotados pelas empresas tenham
um parâmetro, para que seus demonstrativos contábeis possam ser confiáveis, consistentes
e possam ser comparáveis.
O artigo visou demonstrar de forma prática a aplicação dessa norma em seus pontos
principaismais importantes.
O Brasil aos poucos vem se adequando às novas normas internacionais a partir da
criação das leis 11.638/07 e 11.941/09 e dos pronunciamentos contábeis emitidos pelo CPC.
As mudanças aos poucos vão sendo incorporadas pelas empresas e os nossos demonstrativos
contábeis passam a ser comparáveis com os demonstrativos contábeis internacionais.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar pela oportunidade de estudar, de adquirir um pouco
mais de conhecimento, aos colegas de trabalho, sempre dispostos a ajudar. Em especial a
amiga Eliane Cristina Pires Prado pela companhia e apoio, e a orientadora e professora
Márcia dos Santos pelo carinho e auxílio para que esse artigo se tornasse possível.

REFERÊNCIAS
Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/oque.htm.>.
Acesso em 03/12/2010
ERNST & YOUNG, Ernst & Young; FIPECAFI, FIPECAFI. Manual de Normas Internacionais de
Contabilidade : IFRS versus normas brasileiras. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
IASPLUS. Disponível em: <http://www.iasplus.com/standard/ias08.htm.> Acesso em
04/12/2010

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Tessa Cristina Pereira Coltro

IFRS. Disponível em: <http://www.ifrs.org/Use+around+the+world/IFRSs+in+Brazil.htm. >


Acesso em 03/12/2010
INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD. Internacional Financial Reporting
Standards (IFRSs) – including International Accounting Standards (IASs) and Interpretations as
approved at 1 January 2009. London: IASCF, 2009.
Pronuciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativas Contábeis e
retificação de Erros. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/CPC23.pdf.> Acesso em
22/11/2010.
Palestra sobre Normas Brasileiras e Internacionais de Contabilidade. Disponível em: <http://
www.ngea.com.br/anexos/palestras/CRC/NORMAS%20CONT2.pdf. > Acesso em 03/12/2010
PADOVEZE, Clóvis Luis. Manual de Contabilidade Internacional: IFRS – US Gaap – BR Gaap:
teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
SCHMIDT, P.; SANTOS, J.L.dos; FERNANDES, L.A.. Contabilidade Internacional e Avançada. 2ª
ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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