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RESUMO: O objetivo principal deste artigo é apresentar os principais pontos de aplicação PALAVRAS-CHAVE:
da norma internacional, IAS 8, referente a políticas contábeis, mudanças de estimativas IAS 8, CPC 23, Política Contábil,
Estimativas, Erros.
contábeis e retificação de erros, editada pelo IASC (International Accounting Standards
Commit-tee), e revisada pelo IASB (International Accounting Standards Board), atual
órgão internacional, constituído em abril de 2001, com o intuito de harmonizar os KEYWORDS:
demonstrativos contábeis mundiais, transformando-os em um padrão único. Serão IAS 8, CPC 23, Accounting Policy,
tratados neste artigo referente a IAS 8 questões como: objetivos, definição e exemplos Estimates, Errors.
práticos, além de serem apresentadas as principais diferenças existentes entre a norma
internacional e a norma brasileira antes e após a publicação do CPC 23, editado pelo
Comitê de Pronuncia-mentos Contábeis no Brasil, que trata do mesmo assunto e que
foi elaborado com base nas IAS 8.
ABSTRACT: The aim of this paper is to present the main points of international standard,
IAS 8, relating to accounting policies, changes in accounting estimates and correction
of errors, published by the IASC (International Accounting Standards Committee),
and revised by the IASB (International Accounting Standards Board), the current
international body, established in April 2001, aiming to harmonize global accounting
statements, turning them into a single standard. Will be treated in this article refers
to IAS 8 issues such as: objectives, definitions and practical examples, in addition
to presenting the main differences between Brazilian standards and international
standard before and after publication of the CPC 23, edited by the Committee on
Financial Declares ments Brazil, which addresses the same issue and was prepared
based on IAS 8. And in the background-present for information about the history of the
creation of international bodies and regulators of international ac-counting principles,
as well as the creation of the Accounting Pronouncements in Brazil.
Informe Técnico
Recebido em: 09/11/2012
Avaliado em: 11/12/2012
Publicado em: 27/05/2014
Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com
1. INTRODUÇÃO
O IASB (International Accounting Standards Board), Conselho de Padrões Contábeis
Internacionais foi constituído em abril de 2001 e veio substituir o IASC (International
Accounting Standards Committee), Comitê de Padrões Contábeis Internacionais, criado em
junho de 1973, como resposta dos países da Europa à criação do FASB (Financial Accounting
Standards Board), Conselho de Padrões Contábeis Financeiros criado em 1972 nos Estados
Unidos, os pronunciamentos do FASB são denominados SFAS (Statement of Financial
Accounting Standard), e ainda continuam em vigor e são considerados os princípios
contábeis oficiais nos Estados Unidos. O IASC emitia as IAS (International Accounting
Standards), Padrões Contábeis Internacionais e o IASB adotou e revisou as IAS e passou
a emitir as novas normas, as IFRS (International Financial Reporting Standards), Padrões
de Divulgações Financeiras Internacionais. Após o escândalo norte-americano, com as
empresas: Enron e WorldCom, existe um acordo para convergência das normas norte-
americanas do FASB para o IASB.
O objetivo da criação do IASB foi de melhorar os pronunciamentos anteriores emitidos
pelo IASC, harmonizando assim os demonstrativos contábeis publicados pelos países que
convergirem para as novas normas internacionais. Hoje existem mais de 100 países que já
aderiram às novas normas internacionais emitidas pelo IASB, entre eles: União Européia,
Alemanha, Itália, Reino Unido, Espanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, etc. A lista
completa dos países que firmaram acordo para convergência das normas se encontra no
site: www.iasplus.com.
A IAS 8 é uma norma internacional criada pelo IASC e revisada pelo IASB, que trata
de políticas contábeis, mudança de estimativas e retificação de erros. Neste artigo serão
abordados os procedimentos a serem adotados diante das alterações de políticas contábeis,
das mudanças de estimativas e retificação de erros, tratadas na norma IAS 8, envolvendo:
explanação dos objetivos, definições, exemplos das aplicações, e também as diferenças
existentes entre a norma editadas pelo IASB e a norma brasileira editada pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, o CPC 23.
Este artigo visa esclarecer as principais dúvidas em relação a aplicabilidade da norma
e apontar as diferenças existentes entre a norma internacional editada pelo IASB e a norma
brasileira, editada pelo CPC.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, constituída principalmente por
livros e artigos científicos. Segundo Gil (2006), a vantagem da pesquisa bibliográfica permite
a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente. Essa vantagem é importante quando o problema de pesquisa requer
dados muito dispersos e estudos históricos. Todavia, é necessário analisar em profundidade
as informações para evitar incoerências ou contradições das mesmas. O levantamento da
Revista de Ciências Gerenciais
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Tessa Cristina Pereira Coltro
literatura que serve de alicerce à investigação, não é uma transcrição de textos, mas uma
discussão sobre as idéias, fundamentos, inferências e conclusões de autores selecionados,
relacionando suas fontes conforme normas e técnicas pertinentes.
2. HISTÓRIA DA NORMA
A IAS 08 está representada no Brasil pelo CPC 23, o qual foi editado pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, atual órgão regulador das normas brasileiras, que foi criado
através da Resolução CFC n° 1.055/05, na união de esforços de várias entidades: ABRASCA,
BOVESPA, FIPECAFI, IBRACON, Conselho Federal de Contabilidade e APIMEC Nacional,
tendo em vista um objetivo comum e em função da necessidade de convergência internacional
das normas contábeis brasileiras.
...o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos
de contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza para permitir a
emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando á centralização e
uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência
da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (Resolução No. 1.055/05)
O CPC é um órgão autônomo das entidades que o representam e é deliberado por 2/3 de
seus membros, membros estes que são compostos pelas 6 (seis) entidades que o representam.
O CPC emite os pronunciamentos técnicos, dá orientações e sugere interpretações. Desde
a sua criação já foram feitos mais de 40 pronunciamentos técnicos (CPC), 15 interpretações
(ICPC) e 03 orientações (OCPC).
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) juntamente com o Conselho Federal
de Contabilidade (CFC) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) com o IASB,
definindo uma data-limite para a convergência das normas internacionais, como sendo o
final do ano de 2010.
O CPC 23 que trata de políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de
erros foi aprovado em junho de 2009 e passou a vigorar a partir do ano de 2010.
O objetivo desta norma é prescrever o critério para escolha da política contábil e as
alterações dessas políticas, indicar tratamento contábil e evidenciação das alterações em
políticas contábeis, estimativas contábeis e correções de erros, realçar a relevância e a
credibilidade das demonstrações financeiras de uma entidade e a comparabilidade destas
ao longo do tempo e também com as demonstrações de outras entidades.
A seguir é apresentada uma tabela com o resumo da história da IAS 8 desde quando
foi editada pela primeira vez pelo IASC.
3. POLÍTICA CONTÁBIL
As Políticas Contábeis são princípios específicos, fundamentos, convenções, regras e práticas
aplicadas por uma entidade ao preparar e apresentar suas demonstrações financeiras. Como
exemplo de política contábil, podemos citar: método de avaliação dos estoques e tipo de
avaliação do ativo imobilizado.
“Devido à complexidade e subjetividade inerentes ao processo contábil, as empresas
adotam políticas contábeis que buscam homogeneizar a linguagem das informações
financeiras.” (FIPECAFI, 2010).
As políticas contábeis de uma entidade precisam e devem ser consistentes, para que
seus demonstrativos contábeis possam ser confiáveis, assim ao aplicar determinada política
dentro da entidade, a mesma só poderá ser modificada se uma nova norma ou uma nova
interpretação assim o permitir ou exigir.
Assim como o CPC 23, editado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis no Brasil:
O objetivo deste Pronunciamento é definir os critérios para a seleção e a alteração de
políticas contábeis, juntamente com o tratamento contábil e divulgação de alterações
nas políticas contábeis, as alterações nas estimativas contábeis e a retificação de erros.
O Pronunciamento tem como objetivo melhorar a relevância e a confiabilidade das
demonstrações contábeis de uma entidade, bem como permitir sua comparabilidade
ao longo do tempo com as demonstrações contábeis de outras entidades. (CPC 23,
2009)
Exemplo 1: O investimento era avaliado por custo, agora passa a ser avaliado por
equivalência patrimonial. A mudança afeta o valor da conta de investimentos. Qual seria o
valor do período anterior se a equivalência patrimonial estivesse sendo aplicada? Suponha
que a empresa esteja encerrando o exercício de 2010.
Tabela 2 – Aplicação Retrospectiva
Os valores comparativos do ano anterior, 2009, devem ser reapresentados com a nova
política e o impacto deve ser ajustado contra a conta de lucros acumulados.
O lançamento a ser efetuado referente ao exercício de 2009 ficaria assim:
D – Investimentos 3.000,00
C – Lucros Acumulados 3.000,00
A mudança na política contábil deve ser feita de forma retrospectiva. No Brasil não
é apresentado esse valor, porém pelas normas internacionais há o restabelecimento dos
números comparativos, exceto se a mudança for impraticável.
Se a mudança for impraticável, a aplicação retrospectiva (AR) não precisa ser feita. A
mudança é impraticável quando os efeitos dessa aplicação são indetermináveis, quando não
é possível determinar a intenção do gestor naquela época ou quando a AR requer estimativas
relevantes de valores que não podem ser separados de outras informações.
Se a mudança for impraticável, a empresa deve aplicar a nova política no início do
primeiro período para qual a aplicação retrospectiva é possível, o qual pode ser o período
corrente, neste caso, basta fazer o ajustamento dos saldos das contas envolvidas.
Exemplo 2: Foi identificada a mudança da política contábil e a empresa deseja ajustar
os quatro últimos períodos, porém só há a possibilidade de ajuste do período anterior, neste
caso a empresa faz a partir do ano anterior.
Tabela 3 – Aplicação Retrospectiva
4. ESTIMATIVAS CONTÁBEIS
A estimativa contábil é um ajuste feito no valor contábil de um ativo ou passivo que é
resultante da avaliação do status atual de ativos ou passivos, bem como de seus benefícios
futuros esperados e obrigações associadas a ele.
As estimativas são uma característica fundamental das demonstrações financeiras
que refletem as incertezas inerentes às atividades de negócio. A IAS 8 aponta que o
uso de estimativas razoáveis é uma parte essencial de preparação das demonstrações
financeiras e não coloca em dúvida sua confiabilidade. (FIPECAFI, 2010)
Fonte: autor
Suponha que um ativo imobilizado foi adquirido em 1998 por R$ 100.000,00 e quando
adquirido tinha uma estimativa de vida útil de 20 anos e um valor residual de R$ 5.000,00,
porém no 12º. Ano de utilização desse ativo a sua vida útil passou a ser estimada em 15 anos
e o seu valor residual em R$ 6.250,00.
Nesse caso, tem-se uma alteração da estimativa contábil de vida útil do bem e é preciso
recalcular as despesas de depreciação.
A nova depreciação anual é calculada baseada no valor contábil líquido e nos novos
parâmetros de vida útil e do valor residual.
As alterações em estimativas contábeis não alteram as demonstrações contábeis de
períodos anteriores, o efeito vai direto para o resultado.
2009
Receita de Vendas 75.000
Custo do produto Vendido (50.000
LAIR 25.000
IRPJ/CSLL (6.000)
Lucro Líquido 19.000
Fonte: autor
2010 2009
Receita de Vendas 85.000 75.000
Custo do Produto Vendido (40.000) (55.000)
LAIR 45.000 20.000
IRPJ/CSLL (10.800) (4.800)
Lucro Líquido 34.200 15.200
Fonte: autor
As mudanças de políticas contábeis, assim como a retificação de erros devem ser feitas
de forma retrospectiva, reajustando os saldos em relação a períodos anteriores. Porém, as
estimativas contábeis, como se tratam de provisões, não necessitam do mesmo tratamento,
os ajustes destas estimativas vão direto para a conta de resultado.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A IAS 08 editada pelo IASC e revisada pelo IASB, atual órgão internacional, trata
especificamente da aplicação das políticas contábeis, mudanças de estimativas e
retificação de erros. As alterações em políticas contábeis e retificação de erros exigem a
contabilização retrospectiva, já as mudanças em estimativas exigem apenas a contabilização
propesctivamente, ou seja, no período corrente.
A norma é importante para que os padrões contábeis adotados pelas empresas tenham
um parâmetro, para que seus demonstrativos contábeis possam ser confiáveis, consistentes
e possam ser comparáveis.
O artigo visou demonstrar de forma prática a aplicação dessa norma em seus pontos
principaismais importantes.
O Brasil aos poucos vem se adequando às novas normas internacionais a partir da
criação das leis 11.638/07 e 11.941/09 e dos pronunciamentos contábeis emitidos pelo CPC.
As mudanças aos poucos vão sendo incorporadas pelas empresas e os nossos demonstrativos
contábeis passam a ser comparáveis com os demonstrativos contábeis internacionais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar pela oportunidade de estudar, de adquirir um pouco
mais de conhecimento, aos colegas de trabalho, sempre dispostos a ajudar. Em especial a
amiga Eliane Cristina Pires Prado pela companhia e apoio, e a orientadora e professora
Márcia dos Santos pelo carinho e auxílio para que esse artigo se tornasse possível.
REFERÊNCIAS
Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/oque.htm.>.
Acesso em 03/12/2010
ERNST & YOUNG, Ernst & Young; FIPECAFI, FIPECAFI. Manual de Normas Internacionais de
Contabilidade : IFRS versus normas brasileiras. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
IASPLUS. Disponível em: <http://www.iasplus.com/standard/ias08.htm.> Acesso em
04/12/2010