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81 AIDS no Idoso Alberto de Macedo Soares, Maria Niures Pimentel dos Santos Matioli, Weldon José Rosa Lima e Ana Paula Rocha Veiga > Introducéo © envelhecimento populacional é um fenémeno mundial incontestavel ¢ ocorre tanto em paises desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, nos quais as estimativas de taxas de crescimento sio de até 300%. Dentre os mais populosos, o Brasil apresenta um dos mais agudos processos de envelhecimento populacional. Apesar de se interpretar que os fatores que levam ao envelhecimento atuam de modo multifacetado, existem iniimeras maneiras para se entender e concluir quais so as causas dese fendmeno, desde as teorias que citam fendmenos de maneira isolada até aquelas mais unificadoras, segundo as quais a diminuigao da mortalidade infantil e as menores taxas de fecundidade ocorridas na década de 1950 tiveram significativa participacdo no envelhecimento da populacao. Além desses fatores, as melhorias dos sistemas de satide, acumuladas aos incrementos da infraestrutura de saneamento ¢ habitagao ¢ as mudangas sociais nas areas de educacio, percepcio © comportamento ligados as areas de satide, tém exercido papel fundamental para que chegassemos a uma maior longevidade. A expectativa de vida da populagdo brasileira aumentou em mais de 3 anos entre 1991 2000, segundo 0 SNIG (Sistema Nacional de Informagées de Género), um instrumento de conhecimento da realidade das mulheres no Brasil elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica) a partir de microdados dos Censos de 1991 ¢ 2000. A esperanga de vida das mulheres passou de 70,9 anos para 74,1 anos no perfodo. Jé para os homens a expectativa de vida aumentou de 63,1 para 66,7 anos. O IBGE demonstra que a populagéo idosa brasileira cresce em velocidade 3 vezes maior do que a populagao adulta, Atualmente cerca de 10% da populacdo tem 60 anos ou mais, ou seja, temos hoje quase 20 milhdes de idosos (a populagao brasileira atual é de 193.252.604 pessoas) As estimativas propdem que o Brasil, em 2025, ocupard o 6° lugar no (ranking mundial entre os paises mais populosos em idosos do mundo. Para os préximos 20 anos (até 2030) as expectativas sio de que haja 216.410.030 brasileiros e que 18,7% deles, ou seja, pouco mais de 40,000.00 tenham 60 anos ou mais (40,468,067 individuos, mais precisamente) Em alguns centros de nosso pais, entretanto, esses percentuais estimados jé sdo realidade, como a cidade de Santos-SP, onde, segundo o Sistema Estadual de Anilise de Dados (SEADE), em 2009, 17,31% da populacio jé tinham 60 anos ou mais (74.816 idosos) 1305 Tal mudanga na composicao populacional ja comesa a provocar consequéncias sociais, culturais e epidemiolégicas. Por outro lado, a evolugao cultural 0 maior acesso a informagies ensejam modificages comportamentais, com maior conscientizagio e esclarecimento entre os idosos. Dentre essas modificagées, incluem-se as mudansas pertinentes sexualidade, da desmistificagdo de que sexualidade nio interessa aos idosos, aos conceitos atuais que definem sexualidade nao s6 como o ato sexual em si, mas também contentamento, proximidade, satisfagao ou sensacao de calor humano, Um grande aliado na propagacio desses novos conceitos e na maior divulgacao da sexualidade e da relacéo sexual tem sido a indistria farmacéutica, que hé mais de duas décadas vem interagindo como meio de suporte para manutengio da atividade sexual em grupos populacionais portadores de disfunsées. Inicialmente propagaram-se a utilizagdo de injesdes intracavernosas de medicamentos vasoativos, como papaverina ou prostaglandina em homens, e a recomendacio de supositérios intrauretrais ¢, atualmente, pode-se recorrer 4 administragdo de medicamentos por via oral ou sublingual que auxiliam na eresdo, quer seja por ago local, como sildenafila, taldalafila e vardenafila, quer por ado central, como 0 cloridrato de apomorfina © processo de envelhecimento pode ainda resultar em alteragdes sociocomportamentais, inclusive na moradia, escolaridade, economia e estresse, 0 que tora os idosos mais suscetiveis do ponto de vista social e de satide, processo que culmina com novas doengas e disfungdes ou com interferéncias deletérias nas doengas preexistentes. Sabe-se, porém, que a extensio na qual o avangar da idade afeta a atividade sexual depende de varios fatores: psicoldgicos, farmacolégicos e de doengas preexistentes associadas, entre outros, As informagies mais esclarecedoras, juntamente com as terapias comportamentais, funcionam como coadjuvantes para a manutengio da vida sexual ativa tanto em mulheres como em homens. ‘Tais constatagdes surgem com as pesquisas que abordam a sexualidade em idosos. Barber (et al. (1996) verificaram que, gracas & evolugao da satide, com o incremento de alguns aspectos como os nutricionais, a mulher atual tem mantido o interesse pela vida sexual, independentemente de seu envelhecimento, Outros autores, como Meston (et al (1997), refutam 0 mito de que envelhecimento e disfun¢o sexual estejam inexoravelmente relacionados, apés verificarem que uma alta proporgio de homens e mulheres permanece sexualmente ativa mesmo na terceira idade. Diokno (et al. (1990) € também McCoy (et al. (1998) constataram que 74% dos homens casados com mais de 60 anos permanecem sexualmente ativos e 63% dos homens com 80 a 102 anos permanecem sexualmente ativos. Mais ainda, 56% das mulheres casadas com ‘mais de 60 anos permanecem sexualmente ativas ¢ 30% das mulheres com 80 2 102 anos mantém alguma atividade sexual Informagées como essas nos levam a considerar os idosos cada ver mais capazes de manter sua integridade, seja fisica, psicolégica ou sexual, mas a0 mesmo tempo chamam nossa atensao para o fato de que essas pessoas nao estao livres da possibilidade de adquirir doencas sexo-veiculadas, entre as quais a AIDS. > Epidemiologia Os dados epidemiolégicos oficiais sobre a AIDS no Brasil sio fornecidos pelo Programa DST-AIDS do Ministério da Saiide, divulgados no endereco eletrnico www.aids.gov.br. A notificagdo de casos de AIDS é obrigatéria desde 1986, segundo alei e as recomendacées do Ministério da Satide (Lei 6.259, de 30/10/1975, e Portaria n’ 33, de 14/07/2005), A AIDS (sindrome da imunodeficiéncia adquirida) ¢ a apresentagao clinica da infecgao pelo virus HIV que leva, em média, 8 anos para se manifestar. O primeiro caso de AIDS foi notificado no Brasil em 1980 e, desde essa data até junho de 2008, jé foram notificados, aproximadamente, 506 mil casos da doenga. Cerca de 80% estao concentrados nas regides Sudeste ¢ Sul. Nesses estados, atualmente, observa-se um lento processo de estabilizagéo desde 1998, acompanhado mais recentemente pela regido Centro-este. As regides Norte e Nordeste mantém a tendéncia de crescimento do niimero de casos. Como resultado dessa dindmica regional da epidemia, a taxa de incidéncia de AIDS no pais mantém-se estabilizada, ainda que em patamares elevados A-AIDS no Brasil é hoje considerada uma epidemia concentrada. O pafs acumulou cerca de 205 mil mortes por AIDS até jumho de 2007. Até meados da década de 1990, os coeficientes de mortalidade eram crescentes. Atualmente, o indice se mantém estavel, com aproximadamente 11 mil dbitos anuais desde 1998. Os comportamentos de risco compreendem a transfusio de sangue, 0 homossexualismo, 0 uso de drogas ilicitas injetveis, a relagao heterossexual suspeita ¢ ainda os comportamentos de risco indeterminados. Apés a introducao da politica de acesso universal ao tratamento antirretroviral, a mortalidade caiu e a sobrevida aumentou. primeiro caso de AIDS em individuos acima de 50 anos no Brasil foi notificado em 1982; desde entao até 2008, 47.437 casos (34% em mulheres e 66% em homens) foram contabilizados, correspondendo a 9% do total de casos do pais. No mesmo perfodo, a taxa de incidéncia vem aumentando nesse grupo populacional em todas as regides do Brasil. Em 2006, a incidéncia por 100,000 habitantes foi de 15,7%. Varios paises ao redor do mundo também apresentaram um aumento da incidéncia de AIDS na populagao acima de 50 anos, sendo a relagao sexual a principal via de contagio nessa populagao. 1306 A rario de género nos casos de AIDS entre individuos de 50 anos de idade ou mais mostra tendéncia de decréscimo em nosso pais. Em 1986, a razao era de cerca de 19 casos em homens para cada caso em mulheres ¢, em 2006, passou a 16 casos de AIDS em homens para cada 10 casos em mulheres. Em homens com 50 anos de idade ou mais, no perfodo de 1990 a jumho de 2008, houve um aumento da transmissio heterossexual com estabilizasao no final do periodo. A subcategoria homossexual/bissexual apresentow diminuigio da proporgao de casos, também seguida de estabilizagao 20 final do periodo. Em mulheres, ha o predominio de casos de transmissio heterossexual em todo o periodo, Desde o inicio da epidemia, 23.873 individuos de 50 anos de idade ou mais foram a dbito por AIDS no Brasil. Nessa faixa etiria, 0 coeficiente de mortalidade apresenta tendéncia ao crescimento observado em todas as regides. O Brasil apresentou um aumento de 4,7/100,000 habitantes em 2000 para 7,1/100.000 habitantes em 2006. Os maiores coeficientes de mortalidade sio encontrados nas regides Sul e Sudeste que em 2006 apresentavam taxas de 10 e 8,5/100.000 habitantes, respectivamente. 0 coeficiente nos homens aumentou de 7,2 para 10,3/100.000 habitantes de 2000 a 2006 e, nas mulheres, passou de 2,5 para 4,3/100,000 habitantes. Em 2006, houve 21 ébitos por AIDS em homens para cada 10 mulheres. D> Manifestacoes clinicas A evolugio natural da infecgdo pelo virus da imunodeficiéncia humana (HIV) resulta em um largo espectro de aptesentacoes clinicas, que vai desde o estado de portador assintomatica & AIDS, quando o hospedeito nao tarda em perder o controle sobre eventos que raramente causam doenca em individuos imunocompetentes. As fases do contagio e evolugio da infeccao pelo HIV se dividem em infeccao pelo HIV aguda, infeccio pelo HIV assintomatica e AIDS. Inicialmente 0 contagio pelo HIV traduz-se por uma infeccdo aguda pelo virus. Nessa fase o paciente desenvolverd sintomas relacionados diretamente a infecsio pelo HIV, que variam dos assintomaticos aos semelhantes a uma infecgao viral, raramente se manifestando as infecgdes oportunistas comuns 4 AIDS. © Quadro 81.1 apresenta os principais sinais e sintomas da infeccio aguda pelo HIV. (Quadro 81.1 Principals sinaisesintomas da infeccdo aguda pelo HIV Porcentagem Sinal/Sintoma os) Febre 96 Adenopatia 1” Faringite 70 fxantema 70 Mialgia 54 Diarra 2 Cefaleia 32 Néusease vimitos 7 Hepatoesplenomegalia 4 Perda ponderal 3 Candiciase oral 2 Sintomas neurol6gicos tmeningite asséptica, meningoencefaite, neuropatiaperiférica, paralsia facial, sindrome de Guilain- 2 Bareé, neurite braquial, comprometimento cognitive ou psicose) sopra das Otetzes do Oeparamenso de Sade da Univers dade de ohne Hopi. Apés a infecgao aguda pelo HIV, a maioria dos pacientes passa por um periodo clinicamente assintomético. A auséncia de sintomas, entretanto, nao afasta a possibilidade de transmissio da doenca. 1307

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