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CADERNOS PE TEATRO Publicacéo de “O TABLADO” sob o patrocinio do Instituto Brasileiro de Edueacao, Ciéncia e Cultura ECC. Av. Lineu de Paula Machado, 795 Jardim Botanico Distrito Federal Diretor responsavel: ‘Maria Clara Machado Redatores: Julia Pena da Rocha Rubens Corréa S6nia Cavalcanti Maria Tereza Vargas Vania Velloso Borges Secretaria: Vera Pedrosa Tesoureira: Eddy Rezende Composicao: ‘Ana Letycia PROBLEMAS ESTIMULO AO TEATRO BRASILEIRO Das diversas formas de expressio artistica por onde melhor se identifica a imagem de um povo, ¢ 0 teatro, cronolégicamente, o iiltimo a aparecer em condigoes de poder definirlhe os contornos e de imporlhe a presenca no cena- rio universal. Até ai, um truismo conhecido. Entre os paises em marcha ascen- dente para a riqueza e a cultura, 0 Brasil 6 dos que vao em ritmo acelerado, apesar de alguns fatores negativos que visam a retardélo. Tanto no plano econdmico como no cultural, 0 progresso de qualquer pais se processa nio s6 pela exploragéo e desenvolvimento das forcas latentes como também pelo confronto e troca de valores com outros povos mais adiantados. Nesse sentido, a lei de protecdo ao autor nacional (uma peca brasileira para cada duas estrangeiras), merecedora de aplausos sob muitos pontos de vista, tornar-se-ia nefasto instrumento de obscurantismo se interpretada como reptdio & penetrago da experiéncia teatral de outras zonas de cultura mais amadurecida. Recusar a ligao do teatro estrangeiro sob pretexto de estimular a criacio de um teatro nosso autéctone, é 0 mesmo que negar a éste as condigdes indis- pensaveis a sua formacao e desenvolvimento — o que constituiria absurdo igual tentativa de fazer ressurgir uma dramaturgia nacional da sujeicdo servil aos moldes alienigenas. O “ruim, mas nosso”, parecendo inculear a vontade de eman- cipacdo artistica, sanciona uma tendéncia chauvinista 4 mediocridade e mal dis- farca um complexo de inferioridade. A arte, na variedade de suas formas, faculta aos homens a linguagem uni- versal capaz de aproximé-los num terreno espiritual comum, acima dos confli- tos sociais e das diferenciagoes étnieas. Dai a necessidade da transfusao cultu- ral entre os diversos povos, como condi¢ao para o seu melhor entendimento re- ciproco. Promover essa transfusio tem sido o principal objetivo de uma organizacao internacional como a UNESCO. Nao ha que temer, nésse intercam- bio, a descaracterizacao das culturas, uma vez que se resguarda a originalidade de cada uma com estimulos e medidas que Ihe evitam a perda da substancia e Ihes garantem a sobrevivéncia. Ao teatro cabe o mais importante papel nessa tarefa de mittua compreen- sao, porque enfeixa, na acao dramatica direta, as multiplas formas de sentir pensar, de ser e parecer dos grunos sociais de que ¢ a expressao mais viva. Mas é preciso que éle tenha transito livre em tédas as fronteiras para que possa afirmar a unidade fundamental do homem na diversidade de suas manei- ras de viver. Facilitarthe a divulgacdo, levando a todos a emoc&o unificadora da cria- ao artistica, nao sé corresponde a uma exigéncia estética do mundo contempo- raneo, como também constitui um dos fatores de sua unidade moral e, portanto, um obstaculo & sua marcha para 0 céos. # inegavel que uma era promissora se esta abrindo para o teatro brasileiro. Surgem autores, diretores e atores novos, e grupos que se multiplicam em gri- tante desproporedo com o pequeno niimero de casas de espetaculos. Comeca o nosso teatro a despontar com earacteristicas prprias, depois de quebrada a tra- digo portuguésa, que o influenciava até na prosédia de além-mar; e se esta sur- gindo com algum atraso, deve-se isso A nossa prépria instabilidade de pais novo que recebeu em seus costumes e instituicdes 0 impacto da revolucao industrial, ‘com os seus inevitAveis reflexos na vida social.

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