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PAISAGEM DO MEDO: UMA ANÁLISE DO ARROIO CASCATINHA, A PARTIR

DA PERCEPÇÃO DOS MORADORES DO DISTRITO DA CASCATA, PELOTAS/RS


APÓS A ENCHENTE DO ANO DE 2009

Autora: Gabriela Castro Barcellos, acadêmica do 8° semestre em Licenciatura em Geografia


da Universidade Federal de Pelotas, gabrielabarcellos-@hotmail.com;
Co-autora: Ariana dos Santos Evangelista, acadêmica do 8° semestre em Licenciatura em
Geografia da Universidade Federal de Pelotas, ari_evangelista@hotmail.com;
Orientador: Sepé Tiaraju, doutor e professor da Universidade Federal de Pelotas,
tiaraju.ufg@gmail.com

1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é fruto de uma pesquisa oriunda de uma atividade realizada na
disciplina de epistemologia da Geografia II, do curso de Geografia da Universidade Federal de
Pelotas.
A problemática evidenciada encontra-se interligada com o conceito de paisagem e suas
possíveis variáveis, principalmente relacionadas as transformações simbólicas que podem
ocasionar uma mudança na percepção dos atores sócias sobre este conceito.
Nosso recorte centra-se temporalmente nas drásticas alterações no ambiente natural e
antrópico ocasionadas pelo fenômeno denominado de enchente, ocorrido em Janeiro do ano de
2009 no município de Pelotas/RS, mais especificamente no 5º distrito denominado de Cascata.
O fenômeno descrito ocasionou impacto ambiental natural a partir do aumento no volume de
águas no arroio Cascatinha.
O Arroio Cascatinha encontra-se localizado na região denominada de escudo cristalino,
na área rural no município Pelotense, com uma grande extensão onde em seu percurso
encontram-se grandes rochas e árvores e vegetação rasteira.
Mapa. Localidade da Cascata, PELOTAS/RS
Fonte: GoogleMaps
Ressaltamos que a paisagem no local sofreu alterações substanciais após este
acontecimento. Além do impacto naturais, evidenciamos significativo transtorno não só para
os moradores, mas também para diversos turistas que frequentavam pontos do leito do arroio
Cascatinha para banhos e momentos de lazer e diversão. Com isso, a partir deste impacto, o
presente artigo tem como objetivo analisar as mudanças na paisagem do arroio Cascatinha e
especificamente da cachoeira denominada de Cascatinha, analisando ao longo de seu percurso
quais foram os impactos na percepção dos moradores sobre a transformação do mesmo após o
acontecimento.
Destacamos que o conceito de paisagem do medo caminha no sentido de compreender
como determinado sentimento subjetivo construído por um ambiente ameaçador pode
ressignificar os sentidos dos lugares. Como destaca TUAN (2005, p. 7)
Paisagens do medo? Se pararmos para refletir quais são elas, certamente inúmeras imagens acudirão ê
nossa mente: medo do escuro e a sensação de abandono quando criança; ansiedade em lugares
desconhecidos ou em reuniões sociais; pavor dos mortos e do sobrenatural; medo das doenças, guerras e
catástrofes naturais [...].
Assim, um determinado contexto hostil pode gerar um fenômeno que nos fuja ao
controle, produzindo inúmeras situações que transformam nossa percepção sobre a paisagem e
assim constituem uma nova simbologia espacial para o indivíduo. Ao longo deste artigo nos
concentraremos nesta paisagem, do cotidiano local e das pessoas que residem e que visitam
com regularidade, e ainda veremos a sequência após o desastre ambiental e o que deixou
marcado pela brusca modificação da paisagem.
2. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do presente trabalho, no primeiro momento nos detemos a uma


revisão bibliográfica acerca do conceito de paisagem em diversos autores, buscando a
construção de um arcabouço teórico/metodológico acerca desta temática. Após realizado este
levantamento, desenvolvemos uma pesquisa de campo, com o intuito de visitar os locais com
o impacto ambiental visando realizar um levantamento fotográfico do acontecimento.
Posteriormente, realizamos uma série de diálogos com moradores locais com o objetivo
de compreender suas memórias e percepções sobre a paisagem, antes e depois do acontecido.
Como metodologia de análise, utilizamos a história oral, tendo em vista que não buscamos
quantificar nossa pesquisa, mas sim compreender as percepções dos atores que residem neste
recorte espacial e que construíram ao longo de sua história uma relação simbólica com a
paisagem.
Sendo assim, procedemos com uma metodologia para registrar essas histórias por meio
de gravações com entrevistas semiestruturadas, com o objetivo de obter informações de suas
percepções atuais e do momento do acontecimento.
Por fim, após os relatos dos mesmos foram ouvidos, transcritos e analisados, buscando
compreender se esta paisagem, antes bucólica e aparentemente inofensiva, havia se
metamorfoseado em uma paisagem do medo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A paisagem que está descrita na reflexão de estudo de autores como Milton Santos, onde o
mesmo nos compartilha que a Paisagem, se definiu por tudo aquilo que é palpável aos nossos
olhos, complementada de cores, odores, movimentos, sons, etc. (Santos, 1988). A paisagem é
considerada a percepção de nossos sentidos, uma vez alterada influenciará nossa reflexão sobre
o lugar. Antes foram fundamentadas algumas ideias com relação ao tema, pois verificamos
alguns conceitos durante este período semestral, na qual trocamos informações com nosso
professor Tiaraju, na disciplina de Epistemologia.
A saída de campo ocorreu no ano de 2015, partimos do encontro na faculdade e
fomos até a localidade do 5º distrito de Pelotas, a Cascata, que fica a mais ou menos 35km do
centro de Pelotas. Na chegada fomos recebidas pelo casal João e Eulália os quais residem a uns
20 anos. Primeiro caminhamos para visualizar melhor o local e poder fazer registros
fotográficos, entrevista com um vizinho próximo o Sr. Miguel, e depois fazer comparações.
Nas fotos anexadas será possível perceber algumas modificações, por exemplo, a vegetação
composta por numerosas árvores de copas altas e pequenas, que ficavam a margem da água
hoje um bom número já não está mais lá, pois a força das águas devastou o que tinha pela frente
ao seu alcance.

Figura 1. Fotografia de como era a paisagem anteriormente ao desastre.

Fonte: Arquivo Pessoal/1997


Figura 2. Fotografia após o desastre da enchente/2009

Fonte: Arquivo Pessoal/2015


O casal já mencionado no texto que nos recebeu nos mostrou fotos antigas, contou da
intensidade das chuvas e da força da água: a quantidade de árvores que foram arrancadas e
pedras que chegaram a ser removidas assim como uma ponte de concreto:
Figura 3. Fotografia da Ponte destruída após o desastre, 2009.

Fonte: Arquivo Pessoal/2009

A ponte levou alguns anos para ser reconstruído novamente, primeiro foi feita uma de
madeira pra dar suporte a rotina ou pelo menos tentar, efetivamente foi realizada a entrega da
ponte de concreto em outubro de 2013.

Já o vizinho que se localiza próximo que nos recebeu também, nos chamou a atenção
com relação a situação de hoje sócio ambiental, ele relata de uma necessidade em se fazer um
reflorestamento, um melhor cuidado por parte das pessoas em geral em depositar resíduos de
oferendas espirituais, onde usam velas, papel, garrafas de vidros, animais mortos e também a
degradação feita pelo próprio homem em queimar árvores de idades centenárias.

Algumas ações de pesquisadores ligados a EMBRAPA, já tem disponibilizado mudas


de árvores adequadas à região, seria necessária uma manutenção maior do local e a colaboração
de todos, pois alguns mesmo percebendo a beleza do local não preservar para conservar o que
restou das árvores centenárias e cuidar das recentes plantadas; é de interesse de acordo com a
teoria de Vidal La Blache:

“A teoria concebia o homem como hospede antigo de vários pontos da superfície


terrestre, que em cada lugar se adaptou ao meio que o envolvia, criando, no
relacionamento constante e cumulativo com a natureza, um acervo de técnica,
hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar dos recursos naturais
disponíveis. A este conjunto de técnicas e costumes, construído e passado
socialmente, Vidal denominou ‘gênero de vida’, o qual exprimia uma relação entre a
população e os recursos, uma situação de equilíbrio, construída historicamente pelas
sociedades. A diversidade dos meios explicaria a diversidade dos gêneros de vida”.
(Moraes, 1986, p.68-69)

Ou seja, La Blache, teoriza simplesmente o gênero de vida como sendo hospedeiros de


nosso habitat terreno.

4. CONCLUSÃO
Este trabalho foi extremamente importante para construirmos um aprendizado mais
aprofundado no conceito de Paisagem e a percepção após um desastre da mudança em analisar
a partir de uma concepção de medo.
Então desde a observação do local, as entrevistas e as pesquisas, foram de grande
relevância para o resultado final. Com os resultados obtidos pelos moradores podemos concluir
que apesar de todo o ocorrido do dia do desastre no ano de 2009, a paisagem da Cascata foi
drasticamente modificada, pois muitas árvores centenárias foram arrastadas, nas quais alguns
moradores tentam recuperar a arborização, plantando mudas das espécies da região, porque
eles observam que muitas espécies de pássaros que migravam para se reproduzirem, atualmente
vem diminuindo.
Outra questão que preocupam os moradores, é a falta de preservar e cuidar para não
poluir o local, na qual os turistas mesmo que com aviso nas pedras para não colocar lixo, eles
acabam deixando resíduos de alimentos e embalagens, observados por nós quando visitamos.
E também os de religião espiritual, acabam queimando as poucas árvores centenárias que ainda
restam, e também deixam vidros quebrados e resíduos de seus rituais religiosos. Além da nova
percepção dos mesmo em relação a localidade após então o desastre ocorrido, devido tanto as
mudanças físicas e emocionais, em busca de conscientizar os turistas e moradores adiante dessa
atual situação, ressignificar o local e preservar, afim de manter o equilíbrio da natureza.
Figura 5. Fotografia de uma Lata de Lixo lotada.
Fonte: Arquivo Pessoal/2015
Figura 6. Fotografia da Mudança na Paisagem.

Fonte: Arquivo Pessoal/2015

5. REFERÊNCIAS

DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral e narrativa: tempo, memória e


identidades. História Oral, v. 6, p. 9-25, 2003.

MACamp. Campismo
Disponível em: https://macamp.com.br/guia/guia/campings/brasil/rio-grande-do-
sul/pelotas/camping-cachoeira-paraiso/. Acessado em: 09 de Setembro de 2018.

SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado, fundamentos Teórico e metodológicos


da geografia. Hucitec. São Paulo 1988.

TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. Unesp, 2005.


Obs: Os nomes citados dos moradores, são fictícios para preservar a identidade dos mesmos.

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