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RAIMUNDO PEREIRA BARBOSA

AVALIAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA REGIÃO DE SOBRADINHO,


DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Stricto Sensu em Planejamento e
Gestão Ambiental da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Planejamento e Gestão
Ambiental.

Área de Concentração: Planejamento e Gestão


Ambiental

Orientador: Prof. Dr. Gustavo Macedo de Mello


Baptista

Brasília
2010
B238a Barbosa, Raimundo Pereira
Avaliação de riscos ambientais na região de Sobradinho, Distrito Federal. /
Raimundo Pereira Barbosa. – 2010.
160f.; il. 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2010.


Orientação: Gustavo Macedo de Mello Baptista

1. Planejamento ambiental. 2. Meio ambiente. 3. Solo uso. I. Baptista,


Gustavo Macedo de Mello, orient. II. Título.

CDU 502(817.4)

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

25/08/2010
Aos meus pais, Hilário e Eurides pelo amor, carinho
e esmero dedicados a mim e aos meus irmãos em
nossa criação e educação.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter me concedido a vida e por


conceder-me a graça da realização desse trabalho, e a todas as pessoas que direta
ou indiretamente contribuíram de alguma forma para sua realização.
À minha esposa, Gleice, companheira de todos os momentos; e às minhas
filhas Ludmyla e Lyvia, por entenderem a minha ausência em muitos momentos de
nesse período.
Agradeço de forma especial ao meu orientador Professor Dr. Gustavo Macedo
de Mello Baptista por ter acreditado na possibilidade da realização desse trabalho e
pela alegria contagiante dos nossos encontros de trabalho.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Planejamento e Gestão Ambiental, da Universidade Católica de Brasília, em
especial, aos Professores Genebaldo Freire Dias e Ricardo Seixas Brites pelas
preciosas contribuições.
Aos Professores Doutores Luis Fernando Macedo Bessa, Perseu Fernando
dos Santos e Douglas José da Silva por aceitarem participar da banca examinadora.
Aos meus sobrinhos Laércio e Glauber pelas fotos que ilustram esse trabalho
e pelo auxílio na parte de informática e na formatação do texto.
Ao funcionário do Laboratório de Apoio à Pesquisa do Campus II, Bruno
Araújo Maciel (in memoriam) pela elaboração dos mapas que fazem parte desse
trabalho.
Aos funcionários do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
(IHGDF) e do Arquivo Público do Distrito Federal por disponibilizarem documentos,
fotografias e outras informações para a realização desse estudo.
Aos colegas das turmas de 2006 e 2007 com os quais cursei algumas
matérias, e, especialmente aos da turma de 2008 por compartilharmos as nossas
vivências, experiências e aprendizados.
O saber ambiental estabelece uma particular
relação entre realidade e conhecimento: não só
busca completar o conhecimento da realidade
existente, mas orientar a construção de outra
organização social que não seria a projeção das
tendências atuais para o futuro. É neste sentido que
a utopia ambiental abre novas possibilidades, a
partir do reconhecimento de potenciais ecológicos e
tecnológicos, onde amalgamam os valores morais,
os saberes culturais e o conhecimento científico da
natureza na construção de uma nova racionalidade
social (Enrique Leff).
RESUMO

Essa dissertação buscou fazer uma interação entre informações sobre avaliação dos
riscos ambientais, história ambiental, geografia e outras áreas do conhecimento para
fazer a avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da ocupação humana na
região de Sobradinho, Distrito Federal, a partir de considerações sobre aspectos
ambientais dessa região contidas no Relatório da Comissão Exploradora do Planalto
Central do Brasil (Relatório Cruls), que se constitui numa importante fonte de dados
sobre a história ambiental dessa região. O estudo considerou para análise o período
que vai de 1894, ano da publicação do Relatório, até os dias atuais. Para avaliar os
riscos ambientais dessa ocupação urbana utilizou-se o método da Avaliação de
Risco Ambiental – ARA com o objetivo de identificar como se estabelece a
construção social dos riscos ambientais em Sobradinho, Distrito Federal. O método
utilizado permite avaliar e potencializar os riscos ambientais derivados de usos
antrópicos determinados por fatores naturais que decorrem desse uso. Escolheu-se
esse método de avaliação porque ele possibilita uma quantificação e espacialização
dos riscos ambientais desse tipo de ocupação e dos efeitos que ela causa ao meio
natural. O conhecimento científico dos riscos ambientais da ocupação humana dessa
região pode orientar o uso e a ocupação do solo visando à conservação do meio
natural. Os dados históricos levantados permitiram a formação de uma imagem
sobre o meio ambiente que a região tinha antes da construção de Brasília. A
pesquisa de campo permitiu constatar a degradação do meio ambiente promovido
pela implantação das áreas urbanas. Na década de 1990 foi criada pelo governo
local a área de expansão urbana de Sobradinho II e foi iniciada a implantação dos
condomínios irregulares que promoveram o uso e a ocupação desordenada do solo
que avançou para as áreas de uso controlado e de fragilidade ambiental como Áreas
de Preservação Ambiental, parques ecológicos e a reserva biológica causando
graves impactos ambientais e a criação de áreas de risco ambiental para a
população.

PALAVRAS CHAVE: Avaliação de risco ambiental. História ambiental. Relatório


Cruls. Planejamento ambiental. Meio ambiente. Sobradinho (Distrito Federal).
ABSTRACT

This thesis sought to make information about an interaction between environmental


risk assessment, environmental history, geography and other fields of knowledge to
make the environmental risk assessment and analysis of history of human occupation
in the region of Sobradinho, Distrito Federal, from reporting on issues environment of
the region contained in the Report of the Exploratory Commission of the Central
Plateau of Brazil (Report Cruls) which is an important source of information on the
environmental history of this region. The study considered for analysis the period of
1894, the date of publication of the Report until the present day. To assess the
environmental risks of urban occupation used the method of environmental risk
assessment ERA - with the aim of identifying how to set up social construction of
environmental risks in Sobradinho, Distrito Federal. The method allows us to evaluate
and enhance the environmental risks derived from anthropogenic uses determined by
natural factors stemming from this use. Chose this method of assessment because it
enables the quantification and spatial distribution of environmental risks of this type of
occupation and the effects it causes to the natural environment. The scientific
knowledge of the risks of human occupation of this region may influence the use and
occupation of land for conservation of the natural environment. Historical data
collected allowed the formation of an image on the environment that the region had
before the construction of Brasilia. The field survey revealed the degradation of the
environment fostered by the implementation of urban areas. In the 1990s, local
government was created by the urban expansion area of Sobradinho II and began
the deployment of condominiums that have promoted the use of irregular and
disorderly occupation of the land which moved into the areas of controlled use and
environmental fragility as Areas of Environmental Preservation, ecological parks and
biological reserves causing serious environmental impacts and the creation of
environmental risk areas to the population.

KEY WORDS: Environmental risk assessment. Environmental history. Report Cruls.


Environmental planning. Environment. Sobradinho (Distrito Federal).
SIGLAS E ABREVIATURAS

APA – Área de Preservação Ambiental


APM – área de Preservação de Manancial
APP – Área de Preservação Ambiental
ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico
ARA – Análise ou Avaliação de Risco Ambiental
Aw – Clima tropical com estação seca de inverno
BR – Designação para Estradas Federais, administradas por órgãos federais
CAESB – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
CEB – Companhia Energética do Distrito Federal
CEPAL – Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe
CIPLAN – Cimento Planalto
CL – Comércio Local
CODEPLAN – Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONDEC – Conselho Nacional de Defesa Civil
Cwa – Clima temperado úmido com inverno seco e verão quente. Clima
subtropical/tropical de altitude.
Cwb – Clima megatérmico das regiões tropicais e subtropicais. Clima temperado
marítimo/clima tropical de altitude
DF – Distrito Federal
EIA/Rima – Estudo e Relatório de Impacto Ambiental
EW – Leste – Oeste
FAO – Food and Agriculture Organization (Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura)
FEEMA – Federação de Sobradinho Onde se Localizam as Fábricas de Cimento
Tocantins e CIPLAN
IEMA – Instituto de Ecologia e Meio do Ambiente do DF
IHGBDF – Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
IPDF – Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal
IPT – Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo
Km² – Kilômetro Quadrado
NOVACAP – Companhia Urbanizadora da Nova Capital
NW – North-West (Noroeste)
ONG – Organização Não Goveramental
ONU – Organização das Nações Unidas
OMM – Organização Mundial de Meteorologia
PDAD – Pesquisa por Amostra de Domicílio
PDL – Plano Diretor Local
PEOT – Planos Estrutural de Organização Territorial do DF
PNUD – Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento
PNUMA – Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente
POT – Plano de Ordenamento Territorial do DF
POUSO – Plano de Ocupação e Uso do Solo do DF
RA-V – Região Administrativa Cinco – Sobradinho-DF
RA-XXIV – Região Administrativa Vinte e Quatro – Sobradinho II
REBIO – Reserva Biológica
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa
SEDUMA – Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do DF
SEMARH – Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF
SEMATEC – Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do DF
SEPLAN – Secretaria de Estado de Planejamento do Distrito Federal
SESI – Serviço Social da Indústria
SNUC –Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SZC – Subzona Central
SZEP – Subzona Especial de Preservação
SZH – Subzona Habitacional
SZI – Subzona Industrial
SZR – Subzona Remanescente
TERRACAP – Companhia Imobiliária de Brasília
TMGCA – Taxa Média Geométrica de Crescimento Anual Entre Períodos
UNB – Universidade de Brasília
UICN – União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
WWF – World Wildlife Fund For Nature
Wgr – West of Greenwich (Oeste de Greenwich)
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL POR REGIÃO ADMINISTRATIVA – 1979 .............. 38


FIGURA 2 – POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL POR REGIÃO ADMINISTRATIVA – 1989 .............. 39
FIGURA 3 – POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL POR REGIÃO ADMINISTRATIVA – 2000 .............. 40
FIGURA 4 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO DO DF .................................................................... 42
FIGURA 5 – MAPA DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS DO DF, EM DESTAQUE AS REGIÕES
HIDROGRÁFICAS DO RIO SÃO BARTOLOMEU E A DO RIO MARANHÃO NA ÁREA DE ESTUDO. .. 64
FIGURA 7 – NATURALIDADE DA POPULAÇÃO URBANA RESIDENTE SOBRADINHO – SOBRADINHO –
2004 ............................................................................................................................... 72
FIGURA 8 – NATURALIDADE DA POPULAÇÃO URBANA RESIDENTE – SOBRADINHO II – 2004........ 73
FIGURA 9 – POPULAÇÃO URBANA RESIDENTE, COM 10 ANOS E MAIS DE IDADE POR ATIVIDADE
PRINCIPAL REMUNERADA, SEGUNDO OS SETORES – SOBRADINHO – 2004......................... 74
FIGURA 10 – POPULAÇÃO URBANA RESIDENTE, COM 10 ANOS OU MAIS DE IDADE POR ATIVIDADE
PRINCIPAL, SEGUNDO OS SETORES – SOBRADINHO II – 2004 ............................................ 75
FIGURA 11 – DISTRIBUIÇÃO DOS DOMICÍLIOS POR CLASSE DE RENDA BRUTA MENSAL –
SOBRADINHO-2004 .......................................................................................................... 76
FIGURA 12 - DOS DOMICÍLIOS POR CLASSE DE RENDA – SOBRADINHO II – 2004 ........................ 77
ÁREAS COM AS CARACTERÍSTICAS APONTADAS ACIMA FORAM OCUPADAS EM TODA REGIÃO DE
EXPANSÃO URBANA DE SOBRADINHO APESAR DO IMPEDIMENTO LEGAL. COMO DEMONSTRA A
FIGURA ABAIXO, AS CASAS ESTÃO LOCALIZADAS EM TERRENO COM DECLIVIDADE ACENTUADA,
ONDE SE PODE OBSERVAR QUE PARTE DOS QUINTAIS DAS CASAS ESTÃO VOLTADAS PARA A
ENCOSTA, QUE A VEGETAÇÃO FOI DEGRADADA, O QUE ACENTUA O RISCO DE EROSÃO E DE
DESLIZAMENTOS. NESSA ÁREA SE OBSERVA A CONSTRUÇÃO DE MUROS DE ARRIMOS PARA
SUSTENTAÇÃO DO TERRENO, FIGURA 13. .......................................................................... 87
FIGURA 13 – CASAS CONSTRUÍDAS NO TOPO DE MORRO EM DECLIVIDADES ACENTUADAS, NAS
QUEBRAS DE RELEVO, AVANÇANDO PARA A ENCOSTA NO CONDOMÍNIO RK ........................ 88
FIGURA 14 - DINÂMICA DA OCUPAÇÃO URBANA DE TERRENOS COM DECLIVIDADE ACENTUADA,
VALES E ENCOSTAS, ÁREAS DE NASCENTES EM CONDOMÍNIOS DA DF 425 E REGIÃO DO
GRANDE COLORADO AO FUNDO ........................................................................................ 88
FIGURA 15 – OCUPAÇÃO URBANA EM ÁREA DE BARRANCO E DE ENCOSTA EM CONDOMÍNIO DE
BAIXA RENDA NA VILA RABELO II E II ................................................................................. 89
FIGURA 16 – VISTA AÉREA DE SOBRADINHO MOSTRA QUE A CIDADE FOI PLANEJADA E URBANIZADA
A EXEMPLO DE BRASÍLIA ................................................................................................... 91
FIGURA 18 – DINÂMICA DA OCUPAÇÃO E USOS DO SOLO NA REGIÃO DE SOBRADINHO ................ 94
FIGURA 19 – ÁREA DEGRADADA PELA EXTRAÇÃO DE CASCALHO E EROSÃO DO SOLO ENTRE OS
CONDOMÍNIOS MORADA DOS NOBRES E VIVENDAS SERRANA ............................................ 97
FIGURA 20 – OCUPAÇÃO DE ÁREA COM ALTO ÍNDICE DE DECLIVIDADE, AVANÇANDO PARA A
ENCOSTA NA VILA RABELO I E II ........................................................................................ 98
FIGURA 21 – RETIRADA DA MATA CILIAR DO CÓRREGO PARANOAZINHO ENTRE A DF 425 E
SOBRADINHO II ................................................................................................................ 99
FIGURA 22 - SOLO DEGRADADO PELA EXTRAÇÃO DE AREIA DENTRO DA RESERVA BIOLÓGICA DA
CONTAGEM .................................................................................................................... 100
FIGURA 23 – DEPOSIÇÃO DE LIXO E DE ENTULHO PRÓXIMO AO RIBEIRÃO SOBRADINHO ............ 102
FIGURA 24 – ÁGUA POLUÍDA DEVIDO AO DESPEJO DE ESGOTO NO RIBEIRÃO SOBRADINHO ....... 103
FIGURA 25 – LIXO EM CLAREIRA ABERTA ÀS MARGENS DO RIBIERÃO SOBRADINHO ................... 104
FIGURA 26 – PRESENÇA DE LIXO DENTRO DO RIBEIRÃO SOBRADINHO ..................................... 104
FIGURA 27 – RETIRADA DE MATA CILIAR E ESTREITAMENTO DO LEITO DO RIBEIRÃO SOBRADINHO
..................................................................................................................................... 105
FIGURA 28 – PONTO ONDE OCORRE O DESPEJO DE ESGOTO NO RIBEIRÃO SOBRADINHO PELA
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA CAESB ............................................................................ 107
FIGURA 29 – EXPLORAÇÃO DE CALCÁRIO NA REGIÃO DA FERCAL........................................... 109
FIGURA 30 – EMISSÃO DE PARTÍCULAS POR FÁBRICA DE CIMENTO NA FERCAL ...................... 110
FIGURA 31 – SOLO DESCOBERTO, DESMATAMENTO E PRESENÇA DE EUCALIPTOS SUBSTITUINDO A
MATA CILIAR DO RIBEIRÃO SOBRADINHO ......................................................................... 116
FIGURA 32 – SANTUÁRIO CONSTRUÍDO AO LADO DE UMA DAS NASCENTES QUE ALIMENTAM O
RIBEIRÃO ....................................................................................................................... 117
FIGURA 33– NASCENTE CANALIZADA PARA ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO SANTUÁRIO E DE
CHÁCARAS DENTRO DO PARQUE ..................................................................................... 117
FIGURA 34 – VESTÍGIOS DE POLUIÇÃO E CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA NASCENTE PRINCIPAL DO
RIBEIRÃO SOBRADINHO .................................................................................................. 118
FIGURA 35 – DEGRADAÇÃO DA MATA CILIAR E PRESENÇA DE CONDOMÍNIO NO ENTORNO DAS
NASCENTES DO RIBEIRÃO SOBRADINHO .......................................................................... 119
FIGURA 36 – SEDE DO HORTO FLORESTAL DESATIVADO E ESTRADA DE ACESSO ÀS CHÁCARAS 120
FIGURA 37 – CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO RIBEIRÃO SOBRADINHO ABAIXO DE SUAS NASCENTES
PRINCIPAIS – TANQUE PARA CRIAÇÃO DE PEIXES E IRRIGAÇÃO DE HORTALIÇAS ................. 121
FIGURA 38 – DESCARTE DE LIXO E ENTULHO ÀS MARGENS DO RIBEIRÃO SOBRADINHO............. 122
FIGURA 39 – VESTÍGIOS DE ASSOREAMENTO, POLUIÇÃO DAS ÁGUAS E DESMATAMENTO DAS
MARGENS DO RIBEIRÃO NA ÁREA DO PARQUE DOS JEQUITIBÁS ........................................ 123
FIGURA 40 – SEDE DA ADMINISTRAÇÃO DO PARQUE DOS JEQUITIBÁS ...................................... 124
FIGURA 41 – TRILHAS PAVIMENTADAS PARA CAMINHADA NO PARQUE DOS JEQUITIBÁS ............. 124
FIGURA 42 – EQUIPAMENTOS DE LAZER NO PARQUE DOS JEQUITIBÁS ..................................... 125
FIGURA 43 – PRESENÇA DE LIXO E ENTULHO NA ÁREA DO PARQUE .......................................... 126
FIGURA 44 – OCUPAÇÃO ANTRÓPICA, DEPÓSITO E QUEIMA DE LIXO ÀS MARGENS DO RIBEIRÃO
SOBRADINHO, NA ÁREA DO PARQUE ................................................................................ 127
FIGURA 45 – VISTA PARCIAL DA OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO DA LAGOA BURITI DENTRO DO PARQUE
CANELA DE EMA ............................................................................................................ 128
FIGURA 46 – PRESENÇA DE LIXO E DA ESTRADA QUE SECCIONA A LAGOA BURITI NO PARQUE
CANELA-DE-EMA ............................................................................................................ 129
FIGURA 47 – OCUPAÇÃO DE ENCOSTA NA RESERVA BIOLÓGICA DA CONTAGEM PRÓXIMO AO
CÓRREGO PARANOAZINHO E À DF 150 ........................................................................... 130
FIGURA 48 – ESTRADA DE ACESSO AOS CONDOMÍNIOS DO GRANDE COLORADO NA ÁREA DA
RESERVA BIOLÓGICA DA CONTAGEM .............................................................................. 131
FIGURA 49 – SOLO DEGRADADO PELA EXTRAÇÃO DE AREIA DENTRO DA RESERVA BIOLÓGICA DA
CONTAGEM .................................................................................................................... 131
FIGURA 52 – OCUPAÇÃO DE ENCOSTAS NA VILA RABELO DESTACANDO, EM PRIMEIRO PLANO, A
PRESENÇA DE LIXO. ........................................................................................................ 138
FIGURA 50 – SOLO SUSCETÍVEL A FRAGMENTAÇÃO E A AUSÊNCIA DE MUROS DE ARRIMO PARA
SUSTENTAÇÃO DO TERRENO AO FUNDO NA VILA RABELO ................................................. 139
FIGURA 51 – CASAS CONSTRUÍDAS COM MUROS DE ARRIMO PARA SUSTENTAÇÃO DO TERRENO E A
ENCOSTA DESMATADA EM CONDOMÍNIO DE CLASSE MÉDIA ............................................... 140
LISTA DE QUADROS E TABELAS

QUADRO 1 – AÇÃO HUMANA CAUSADORA DE IMPACTO AMBIENTAL .................................................................... 43 


QUADRO 2 - MATRIZ DE COMPOSIÇÃO DE RISCO AMBIENTAL................................................................................ 49 
QUADRO 3 - ESCALAS DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE: DO GLOBAL AO LOCAL ................................................... 50 
QUADRO 4 – BACIAS HIDROGRÁFICAS DO DF ........................................................................................................ 62 
QUADRO 5 – SETORES HABITACIONAIS .................................................................................................................. 92 
QUADRO 6 – IMPACTOS AMBIENTAIS E RISCOS ASSOCIADOS AO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM SOBRADINHO ..... 95 
QUADRO 7 - IMPACTOS AMBIENTAIS IDENTIFICADOS NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS E EM SOBRADINHO............ 102 
QUADRO 9 – ÁREAS DE RISCO AMBIENTAL EM SOBRADINHO .............................................................................. 113 
QUADRO 10 – IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS ........................................................................................................ 115 
QUADRO 11 – QUALIFICAÇÃO MULTITEMPORAL DAS ÁREAS DE COBERTURA VEGETAL E USO DO SOLO EM HECTARE
(HA) ............................................................................................................................................................ 143 

TABELA 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL, TMGCA E DENSIDADE


DEMOGRÁFICA 1957 – 2005 .................................................................................. 34
TABELA 2 – DISTRITO FEDERAL – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO (ENTRE 1959 E 1980) ......... 38
PLANO PILOTO CIDADES-SATÉLITES/ÁREAS RURAIS ........................................................ 38
TABELA 3 – LIMITES DE SOBRADINHO ............................................................................ 66
TABELA 4 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE SOBRADINHO – 1960-2000 ........................... 67
TABELA 5 – POPULAÇÃO URBANA RESIDENTE POR SEXO – SOBRADINHO E SOBRADINHO II –
2004 .................................................................................................................... 71
TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DOS DOMICÍLIOS SEGUNDO ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE
INFRAESTRUTURA URBANA – SOBRADINHO – 2004................................................... 78
TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO DOS DOMICÍLIOS SEGUNDO ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE
INFRAESTRUTURA URBANA – SOBRADINHO II 2004................................................... 78
TABELA 8 – ÁREA DE PRODUÇÃO DE GRANDES CULTURAS – SOBRADINHO – 2005 ........... 79
TABELA 9 – ÁREA DE PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS – SOBRADINHO - 2005 ........................ 79
TABELA 10 – ÁREA DE PRODUÇÃO DE FRUTÍFERAS – SOBRADINHO – 2005 ...................... 80
TABELA 11 – EFETIVO REBANHO BOVINO, PRODUÇÃO DE CARNE E LEITE – SOBRADINHO
2005 .................................................................................................................... 80
TABELA 13 – EFETIVO DAS AVES E PRODUÇÃO DE CARNE E OVOS – SOBRADINHO 2005 ... 81
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 16
1.1 Delimitação do Problema .................................................................................. 17
1.2.1 Geral ................................................................................................................. 19
1.2.2 Específicos ....................................................................................................... 19
1.2.3 Hipótese ........................................................................................................... 19
1.3 Justificativa .......................................................................................................... 19
2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 21
2.1. História Nova/História Ambiental ........................................................................ 21
2.2 Eco-desenvolvimento/Desenvolvimento Sustentável .......................................... 23
2.3 Planejamento/Meio Ambiente .............................................................................. 24
2.4 Aspectos Ambientais da Área de Estudo Contidas no Relatório Cruls de 1894 .. 26
2.5 Origens do Processo de Ocupação do Solo na Região Centro-Oeste e no
Distrito Federal .......................................................................................................... 29
2.6 Ocupação do Solo e Evolução da População no DF da Construção de Brasília
aos Dias Atuais .......................................................................................................... 33
2.7 A Construção Social dos Riscos Ambientais ....................................................... 44
2.8 Risco Ambiental ................................................................................................... 46
2.8.1 Risco e Vulnerabilidade Ambiental ................................................................... 56
3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................... 59
3.1 Caracterização do Território do Distrito Federal .................................................. 59
3.2 Caracterização da Área de Estudo – Região de Sobradinho .............................. 59
3.2.1 Meio Físico ....................................................................................................... 59
3.2.2 Meio Biótico ...................................................................................................... 64
3.2.3 Meio Antrópico .................................................................................................. 65
4. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 82
4.1 Área do Estudo .................................................................................................... 82
4.2 Áreas Investigadas .............................................................................................. 83
4.3 Instrumentos Usados na Coleta de Dados .......................................................... 83
4.4 Coleta de Dados .................................................................................................. 83
4.5 Tratamento dos Dados ........................................................................................ 84
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 85
5.1 Risco e Vulnerabilidade Ambiental na Região de Sobradinho ............................. 85
5.2 Discussão dos Resultados .................................................................................. 90
5.2.1 Áreas de Risco Ambiental em Sobradinho ..................................................... 113
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 147
ANEXOS .................................................................................................................. 155
ANEXO A – ARTIGOS 2° E 3° DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO – LEI 4.771
DE 15 DE SETEMBRO DE 1965 ............................................................................. 155
ANEXO B – INTEGRA DO ARTIGO 3° DA CONSTITUIÇÃO DE 1891, ARTIGO 4°
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1934 E DO ARTIGO
4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1946 ............... 157
ANEXO C - CARTA DE GLAZIOU TRANSCRITA NO RELATÓRIO DA COMISSÃO
QUE DEMARCOU A ÁREA DO DISTRITO FEDERAL ........................................... 158
1 INTRODUÇÃO
A idéia de dominação da natureza pelo ser humano e de que ela é uma fonte
inesgotável de recursos levou o homem a adotar processos que vêm
desestabilizando os seus recursos naturais. Dessa forma, o homem adotou um
processo de destruição desses recursos que está desequilibrando os seus sistemas
vitais. Esse modelo gerou alterações nos ecossistemas naturais, a degradação
ambiental e a consequente perda da qualidade de vida nos centros urbanos.
Os centros urbanos como Brasília e as suas cidades satélites estão inseridas
nesse contexto e vêm sofrendo profundas modificações em suas paisagens naturais,
decorrentes do avanço das atividades econômicas e do crescimento populacional.
Fruto do uso e ocupação desordenada do solo.
Essa ocupação atinge áreas impróprias para a expansão urbana, promove
ações antrópicas, e, transforma o ambiente natural dessas áreas de ocupação
gerando impactos e riscos ambientais consideráveis como se verifica na região de
Sobradinho que é objeto desse estudo.
A região de Sobradinho e todo o Distrito Federal, está situada nas áreas de
altitudes mais elevadas do Planalto Central, é uma região divisora de bacias
hidrográficas (Tocantins/Araguaia, Paraná e São Francisco), com rios de pequeno
porte que possuem pequenas vazões, a exemplo do ribeirão Sobradinho e
Contagem, afluentes do São Bartolomeu e Maranhão respectivamente.
Em todo Distrito Federal esses cursos d’água sofrem com a pressão da
expansão urbana desordenada e acelerada que vem ocupando as suas margens e
entorno comprometendo a quantidade e a qualidade das águas que são importantes
para o abastecimento da população.
Em Sobradinho, como nas grandes cidades brasileiras, essa ocupação
avança, também, para áreas com declividade acentuada e encosta, consideradas
inadequadas para a construção de moradias porque cria áreas de vulnerabilidade a
riscos ambientais como deslizamentos e desabamentos provocando a aceleração da
degradação ambiental.
Essa expansão traz como consequência a remoção da cobertura vegetal que
vem dizimando as áreas de Cerrado, impermeabilizando o solo, provocando a
poluição e a contaminação dos cursos d’água, trazendo riscos à saúde pública,
especialmente em áreas para população de baixa renda.

16
Em Sobradinho a ocupação urbana teve início em 1960 à época da
construção de Brasília. Os moradores foram instalados às margens do ribeirão do
mesmo nome. A partir de 1990 foi criada a área de expansão urbana de Sobradinho
II e a implantação de condomínios irregulares.
Para que esse contexto se modifique, esse estudo pretende produzir
informação e conhecimento sobre o meio ambiente dessa região que poderá ser
usado como ferramenta pelos gestores ambientais no planejamento, formulação e
aplicação de políticas públicas que possa viabilizar a criação de critérios para
disciplinar o processo de uso e ocupação do solo nessa região.
A informação sobre o meio ambiente construído pelo homem em razão do uso
e ocupação do solo para expansão urbana, em Sobradinho, deve ser analisada na
perspectiva socioambiental e encarada como uma ferramenta importante para a
construção de conhecimento e de informação que sirva para facilitar o planejamento
de políticas públicas com vistas à gestão sustentável dos recursos naturais.
A criação de legislação ambiental nacional e local, os tratados e as
convenções internacionais sobre meio ambiente, elaborados a partir de reflexões
sobre o modelo de crescimento econômico mundial, feitas pelo Clube de Roma em
1968, pela Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano realizada
em Estocolmo em 1972, pela Conferência do Rio de Janeiro em 1992, a criação de
organismos internacionais como o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e a União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais (UICN), a criação da Agenda 21, dentre outros, estabeleceram conceitos
importantes que servem como ferramentas para se trabalhar a questão ambiental.
Dessa forma a informação tem papel relevante no contexto socioambiental.
Esse contexto revela a preocupação com a intensificação dos problemas
ambientais e sociais provocados pelo crescimento demográfico mundial, pelo modelo
de desenvolvimento econômico predatório que adotou um modelo de consumo
desenfreado a partir da segunda metade do século XX.

1.1 Delimitação do Problema

Segundo dados da Administração Regional (2008), a cidade de Sobradinho foi


fundada em 1960 para alojar famílias vindas da Vila Amauri e de outros
17
acampamentos de operários de firmas construtoras localizadas próximas à Vila
Planalto e ao Plano Piloto.
A cidade foi idealizada para ser uma cidade rural. Mas, a partir de 1964, com
os governos militares passou a fazer parte de um projeto experimental do qual se
beneficiou com asfalto, iluminação pública, escolas, saúde, água e esgotos,
arborização, etc. (VASCONCELOS, 1988).
O plano original da cidade foi modificado com o acréscimo da Quadra 18 em
1980, com a expansão urbana de Sobradinho II em 1989 e a implantação de
condomínios irregulares em áreas originalmente destinadas às atividades agrícolas
ou de preservação ambiental, desrespeitando à legislação ambiental, ao Plano
Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) e ao planejamento inicial da construção
de Brasília e das primeiras cidades satélites.
Esse estudo avalia que ocorreu abandono das ações iniciais de planejamento
que nortearam a construção de Brasília, a partir da demarcação do seu sítio em 1892
pela Comissão Cruls.
Destaca o descumprimento da legislação ambiental que descaracterizou os
projetos iniciais de uso e ocupação do solo que promoveu o crescimento
populacional desordenado e a degradação ambiental, ora verificados em todo o
Distrito Federal e na região de Sobradinho. Para tanto, se utilizou informações do
Relatório Cruls de 1894 que é uma fonte histórica importante sobre o meio ambiente
da região.

18
1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

O objetivo geral dessa dissertação é, a partir de considerações sobre aspectos


ambientais contidos no Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do
Brasil (Relatório Cruls) 1 de 1894, fazer uma avaliação dos riscos ambientais e uma
análise histórica da ocupação humana na região de Sobradinho, Distrito Federal, de
1894 até os dias atuais.

1.2.2 Específicos

Verificar as considerações sobre os aspectos ambientais na área de estudo


contidas no relatório Cruls; e,
Identificar como se estabelece a construção social dos riscos ambientais na
região.

1.2.3 Hipótese

A trajetória histórica da ocupação urbana da região de Sobradinho ocorreu de


forma desordenada, associada a um rápido crescimento populacional e ao avanço
das atividades econômicas, contribuindo para a degradação do seu meio natural e
para o desenvolvimento de graves problemas sócioambientais por falta de
fiscalização do cumprimento da legislação e de governança.

1.3 Justificativa

Trata-se de um tema atual, relevante do ponto de vista local, que situa o meio
ambiente da região de Sobradinho DF na sistemática política e cultural do país, uma
vez que a ocupação urbana verificada nessa região também ocorre em outras áreas
urbanas em todo país. Não obstante, se observa que não existe fiscalização do
poder público para fazer cumprir a legislação ambiental e criar políticas públicas
para mitigar os riscos de impactos ambientais gerados por essa ocupação.

1 Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil que demarcou o Sítio para a Construção de
Brasília
19
A idéia de realizar avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da
ocupação humana da região de Sobradinho é pertinente porque demonstra que a
presença do homem nessa região é anterior à demarcação do sítio para a
construção de Brasília em 1892. A primeira ocupação da região se deu de forma
dispersa à época da exploração aurífera no século XVIII.
A avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da ocupação humana
de Sobradinho é uma abordagem que depende da contribuição de outras áreas do
conhecimento. Por isso o estudo destaca a preocupação com a interdisciplinaridade,
considera a importância da contribuição de outras áreas do conhecimento.
Dessa forma, o estudo reforça a importância desse tipo de abordagem para a
questão ambiental por possibilitar interligação dos fatos da história local com o
contexto da história regional, nacional e internacional.
A região de Sobradinho está inserida nas Áreas de Proteção Ambiental do
São Bartolomeu e de Cafuringa, de quatro parques ecológicos e de uma reserva
biológica.
A escolha dessa área de estudo se justifica em face do avanço da expansão
urbana ocorrida a partir do final da década de 1980 e início da de 1990, e pela
degradação do meio natural provocada após a implantação de condomínios
“irregulares” que avançaram para áreas de fragilidade ambiental como leito de rios,
córregos e ribeirões, nascentes e área com declividade acentuada em toda região.
Esse estudo trará como resultado a produção de informação e de
conhecimento que possam ser utilizadas para auxiliar no planejamento, formulação
e aplicação de políticas públicas que venham facilitar a criação de critérios para
disciplinar o processo de uso e ocupação do solo, bem como, diminuir e/ou mitigar
os riscos socioambientais da expansão urbana, oferecer alternativas para melhor
aplicação da legislação ambiental na região. E, como consequência subsidiar a
implantação de um processo de uso e de gestão sustentável dos recursos naturais
nessa região do Distrito Federal.

20
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. História Nova/História Ambiental

Nesta etapa do desenvolvimento da pesquisa procurou-se definir e delimitar o


campo de estudo e inseri-lo na linha de pesquisa de Planejamento e Gestão
Ambiental. Buscou-se na literatura a evolução de alguns conceitos pertinentes ao
tema.
Nos dias atuais observa-se que a pesquisa histórica tem passado por uma
revolução, abrange o estudo do movimento e das mudanças nas sociedades
humanas, das mentalidades, dos discursos, das representações, pela combinação
de história de eventos com a de estruturas, isto é, uma história de longa duração,
das práticas cotidianas, do imaginário social, segundo a tradição iniciada pela Escola
de Annales. Com o advento dessa Escola construíram-se novos horizontes para a
pesquisa historiográfica que ficou conhecida como história nova (FRAGOMENI,
2005).
Com a história nova a pesquisa histórica volta seu olhar para os lugares, para
as comunidades e os sujeitos até então ocultos nas grandes análises, trazendo-os
para o centro da historiografia (LE GOFF,1992). A história nova instituiu uma
colaboração interdisciplinar compreendendo o homem na plenitude do seu ser.
Portanto, a história nova abre a perspectiva para a análise da história
nacional, regional e local, e sua relação espaço temporal.
O debate entre história nacional e regional vem sendo objeto de análise desde
o século XVIII, onde a vida era mais marcada pela região do que pela nação.
Estudou-se a evolução das comunidades e das características de ocupação do
território. Os processos temporais, a concentração demográfica, a economia, a vida
social, cultural, religiosa, étnica e o meio onde está representada, a relação de poder
com as elites dominantes é um fator que interage nessa análise.
A pesquisa da história regional enfrenta muitas dificuldades, que passam pela
carência de documentos, de bibliografia básica que se encontram concentrados nas
mãos de particulares, dificultando o acesso, fazendo do trabalho do pesquisador uma
verdadeira tarefa de garimpagem (FRAGOMENI, 2005).
Para Revel (1998) a palavra região não existia antes de 1820. Até o advento
da Revolução Francesa a visão do espaço regional variava, significativamente, sem
idéias de contornos regionais. A Revolução trouxe à tona estas discussões e ao
21
tentar romper com as iniciativas regionalistas em prol da centralização do Estado,
acabou por definir, por si própria os contornos dos espaços regionais.
O espaço dentro de um determinado tempo histórico é atributo dos seres. A
disposição e a participação do homem na natureza, a ação humana na sua
transformação, como animal social, que altera o meio e que se utiliza da natureza
produz modificações e sofre consequências.
A história regional e local, portanto, permite analisar as formas de ocupação
do solo que pressupõe processos temporais distintos nas microregiões, com os
grupos humanos e as influências externas de cada um deles, fazendo surgir
sistemas econômicos e sociais que tem consequências para a história, para a
geografia e outras ciências.
Dessa forma, a idéia de uma abordagem histórica da questão ambiental surgiu
na década de 1970, quando a temática ambiental ganhou repercussão mundial com
a realização da Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo em 1972. Surgem nessa época os estudos sobre História
Ambiental.
De acordo com a Rede Brasileira de História Ambiental (RBHA), em linhas
gerais, podemos sintetizar o conceito de história ambiental como, o da história das
relações do homem com a natureza. Ela se baseia em três linhas de estudos
principais:
• Reconstrução de ambientes naturais do passado;
• Estudo da exploração econômica e seu impacto sobre o ambiente;
• A análise da história das idéias, das percepções e dos valores sobre o mundo
natural.
A História Ambiental nos capacita, portanto, a descobrir a natureza enquanto
agente da História, considerando que outras forças significativas atuam sobre o
tempo. A História Ambiental configura uma nova forma de estudo das relações entre
homem/natureza, considerando o meio ambiente enquanto agente e presente na
História da humanidade (WORSTER, 1991).
O objetivo principal desse tipo abordagem de acordo com WORSTER (1991) é
aprofundar o entendimento de como os seres humanos foram, através dos tempos,
afetados pelo seu ambiente natural e, inversamente, como eles afetaram esse
ambiente e com que resultados.

22
A definição a seguir dá uma contribuição definitiva para embasar o escopo
desse estudo.
A história ambiental vem sendo definida como um campo de estudo
dos impactos de diferentes modos de produção e formações sociais
sobre as transformações de sua base natural, incluindo
superexploração dos recursos naturais e a degradação ambiental.
Esses estudos abordam a análise de padrões de uso dos recursos e
de formas de apropriação da natureza, avançando em categorias que
permitem um estudo mais integrado das interrelações entre as
estruturas econômicas, políticas e culturais que induzem certos
padrões de uso dos recursos e as condições ecossistêmicas que
estabelecem as condições de sustentabilidade ou de
insustentabilidade de um determinado território (LEFF, 2001, p. 386).

2.2 Ecodesenvolvimento/Desenvolvimento Sustentável

O discurso da sustentabilidade domina os debates sobre a questão ambiental


e o desenvolvimento social.
Para Dias, (1992) o desenvolvimento econômico e o bem-estar do homem
dependem dos recursos da Terra. O desenvolvimento sustentável é simplesmente
impossível se for permitido que a degradação ambiental continue. Foi nos debates da
Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano de Estocolmo em
1972 que surgiu o conceito de ecodesenvolvimento com o propósito de dar conta da
problemática ambiental.
Sachs (1986) ao formular a noção de Ecodesenvolvimento, propunha uma
estratégia multidimensional e alternativa de desenvolvimento que articulava
promoção econômica, preservação ambiental e participação social. Perseguia com
especial atenção, meios de superar a marginalização e a dependência política,
cultural e tecnológica das populações envolvidas nos processos de mudança social.
É, portanto, marcante em seus trabalhos o compromisso com os direitos e
desigualdades sociais e com a autonomia dos povos e países menos favorecidos na
ordem internacional (LIMA, 2003).
O ecodesenvolvimento é um caminho promissor tanto para países ricos como
para países pobres. Para estes, mais do que nunca, a alternativa se coloca em
termos de projetos de civilização originais ou de não desenvolvimento, não mais
parecendo possível nem, sobretudo, desejável, a repartição do caminho percorrido
pelos países industrializados (SACHS,1986).
A partir da década de 1980 o conceito de desenvolvimento sustentável
suplantou o conceito de ecodesenvolvimento. Desde então, a expressão
23
“desenvolvimento sustentável” passou a ser adotada como expressão oficial nos
documentos emanados de entidades como a Organização das Unidas (ONU), União
Mundial para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN) e o World
Wildlife Fund For Nature (WWF) (CABRAL DE CASTRO, 2005).
A respeito do discurso de desenvolvimento sustentável a Comissão
Brundtland, embora apoiada em muitas idéias apontadas por Sachs, chegou a um
resultado qualitativamente diferente, ao esvaziar o conteúdo emancipador do
Ecodesenvolvimento, que representava, talvez, sua marca mais inovadora. Assim,
embora alguns elementos da síntese de Sachs permanecessem constantes, como a
idéia de articular crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social,
as prioridades e arranjos resultaram bem diversos. Ao contrário do
Ecodesenvolvimento, a Comissão ressaltava uma ênfase econômica e tecnológica e,
uma tônica conciliadora que tendia a despolitizar a proposta de Sachs (LIMA, 2003).
Percebe-se então, que a noção de desenvolvimento sustentável, vista a partir
das idéias de Sachs e organizadas pela Comissão Brundtland, se apresentam como
uma nova estratégia de desenvolvimento: “É aquela que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as
suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND 1991).

2.3 Planejamento/Meio Ambiente

O planejamento é uma ferramenta de trabalho utilizada para tomar decisões e


organizar as ações de forma lógica e racional, de modo a garantir os melhores
resultados e a realização dos objetivos de uma sociedade, com os menores custos e
o menor prazo possíveis (BUARQUE, 2002).
Ainda para Buarque (2002), o planejamento é também um processo ordenado
e sistemático de decisão, o que lhe confere uma conotação técnica e racional de
formulação e suporte para as escolhas da sociedade. Combina e incorpora uma
dimensão política e uma dimensão técnica, constituindo-se numa síntese técnico-
política.
Para o mesmo autor planejamento municipal e local é o processo de decisão
tecnicamente fundamentada e politicamente sustentada sobre as ações necessárias

24
e adequadas à promoção do desenvolvimento sustentável em pequenas unidades
político-administrativas.
De acordo com Floriano (2004)
O Planejamento é, portanto, uma ferramenta de gestão. É um
processo de organização de tarefas para se chegar a um fim, com
fases características e sequenciais que, em geral, estão na seguinte
ordem: identificar o objeto do planejamento, criar uma visão sobre o
assunto, definir o objetivo do planejamento, determinar uma missão
ou compromisso para se atingir o objetivo do planejamento, definir
políticas e critérios de trabalho, estabelecer metas, desenvolver um
plano de ações necessárias para se atingir as metas e cumprir a
missão e objetivos, estabelecer um sistema de monitoramento,
controle e análise das ações planejadas, definir um sistema de
avaliação sobre os dados controlados e, finalmente, prever a tomada
de medidas para prevenção e correção quanto aos desvios que
poderão ocorrer em relação ao plano (FLORIANO, 2004).

Planejamento ambiental, portanto, é, a organização do trabalho de uma


equipe para consecução de objetivos comuns, de forma que os impactos resultantes,
que afetam negativamente o ambiente em que vivemos, sejam minimizados e que,
os impactos positivos, sejam maximizados (BUARQUE 2002).
Para analisar o caráter participativo no planejamento de políticas públicas que
criem critérios para implementação do desenvolvimento sustentável, se utiliza o
estudo da dinâmica chamada por alguns autores de “governança democrática” ela
enfatiza que (...) os padrões de interação entre as instituições governamentais,
agentes de mercado e atores sociais que realizem a coordenação e simultaneamente
promovam ações de inclusão social que nos assegurem e ampliem a mais ampla
participação social nos processos decisórios em matéria de políticas públicas
(SANTOS JR. et al., 2004).
Faz-se necessário salientar que as questões ambientais estão relacionadas
com as propostas de preservação e conservação dos recursos naturais, com as
questões sociais que buscam diminuir a pobreza, as desigualdades e o alcance de
infraestrutura de serviços públicos.
O meio ambiente é (...) o conjunto de sistemas naturais e sociais em
que vivem os homens e os demais organismos de onde obtêm sua
subsistência. Esse conceito abarca os recursos, os produtos naturais
e artificiais com os quais se satisfazem as necessidades humanas. O
meio natural se compõe de atmosfera, hidrosfera e litosfera. O meio
social compreende os grupos humanos, as infra-estruturas materiais
construídas pelo homem, as relações de produção e os sistemas
institucionais por ele elaborados (TBILISE 1977).

25
Conclui-se então, que o conceito de meio ambiente engloba aspectos
relacionados à natureza e os aspectos decorrentes das ações do homem sobre ela.
Essas ações podem ser avaliadas por meio da avaliação dos riscos ambientais e da
história ambiental. No caso do Distrito Federal o Relatório da Comissão Cruls de
1894 é uma fonte de informação importante que propicia uma análise propositiva da
questão ambiental local, como se verifica a seguir.

2.4 Aspectos Ambientais da Área de Estudo Contidas no Relatório


Cruls de 1894

A Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil (Comissão Cruls) foi


instituída em 1892, pelo então presidente Floriano Peixoto. A comissão percorreu
mais de 4.000 km, estudou, fotografou e demarcou um quadrilátero de 14.400 km²
reservado para o futuro Distrito Federal. Os estudos sobre os recursos hídricos e a
salubridade do clima da região levaram a comissão a indicar a área como a mais
indicada para ser a futura sede do DF.
Essa comissão era composta por oito especialistas, além do astrônomo Luiz
Cruls, chefe da Comissão, por médicos, geólogos, farmacêutico, botânico, militares,
ajudantes etc. totalizando 22 pessoas.
Realizou um estudo minucioso sobre a botânica, clima, fauna, flora, geologia,
recursos minerais, doenças mais frequentes, materiais de construção existentes e
outros aspectos da região (GDF, 1992).
A comissão fez também estudos sobre os recursos hídricos da área
demarcada, indicou os rios e os ribeirões mais importantes, bem como o sistema
hidrográfico com a localização das principais bacias, dentre elas, a dos rios São
Bartolomeu e Maranhão que se localizam na área desse estudo. E também, a bacia
do rio Paranoá denominada no relatório de “Parnauá” ou “Paranauá”. (GDF, 1992).
Portanto, o que diferencia o DF da maioria das cidades do país é o fato de que
são anteriores os estudos de cunho ambiental para a escolha da sede da capital. Ou
seja, desde a sua concepção já havia um conhecimento sistematizado acerca do
meio ambiente de seu território, como se pode observar nos fragmentos do Relatório
da Comissão Cruls, abaixo.

26
Sobre a missão da comissão
No desempenho de tão importante missão deveis proceder aos
estudos indispensáveis ao conhecimento exacto da posição
astronomica da área a demarcar, da orographia, hydrographya,
condições climatológicas e hygienicas, natureza do terreno,
quantidade e qualidade das águas, que devem ser utilisadas para o
abastecimento, materiaes de construcção, riqueza florestal, etc. da
região explorada e tudo mais que directamente se ligue ao assumpto
que constitue o objecto da vossa missão (GDF 1992, p. 29).

Sobre a escolha do local para a futura Capital:


Entendemos, porém, que para esta escolha definitiva, tornar-se-ha
indispensavel um exame comparado entre as condições apresentadas
por dois ou tres pontos que parecem reunir a maior somma de
vantagens requerida para edificação de um grande centro populoso.
(Clima, Água e Topografia) (grifo nosso).
Sob o ponto de vista do clima podemos dizer que são optimas as
condições de salubridade que apresenta toda a parte da zona que se
estende a leste da cidade de Pyrenopolis. E si se tivesse de attender
tão sómente a esta condição, muitos seriam os pontos que se
prestariam para o fim que motivou a exploração daquella região (GDF
1992, p. 109).

Para salubridade de uma cidade populosa concorre, porém,


poderosamente a abundancia de água, para os diversos misteres da
vida domestica, e industrial, e pode-se dizer que ellas são factores
preponderantes na saúde publica. Com effeito a agua é o meio de
propagação de muitas molestias de natureza microbiana. [...]
Felizmente, a nova capital do Brazil poderá ser abastecida com um
volume d’água potável muito superior àquella (de Paris) (grifo nosso)
e sem que se tornem necessárias obras de arte de grande custeio. O
sistema hydrografico da zona demarcada é com effeito de uma
riqueza tal que qualquer que seja o logar escolhido para edificação da
futura Capital, encontrar-se-há, sem grandes dificuldades, agua
sufficiente para abastece-la a razão de 1.000 litros diários por
habitante (GDF 1992, p. 109).

A topografia da maior parte da zona demarcada, onde se encontram


planícies, entrecortadas de depressões pouco consideráveis com
declividades suaves, se presta admiravelmente para a edificação de
uma grande cidade, attendendo às condições estheticas que se
devem ter em vista, como tambem às de salubridade, no que diz
respeito ao estabelecimento dos encanamentos dos esgotos e das
águas” (GDF 1992, ).

O Relatório Cruls menciona especificamente a área de estudo em questão:


Fomos acampar no Sobradinho, ajuntamento de moradores, 16 km
distante do referido arraial (Mestre D’armas). Sobradinho fica acerca
de 1.067 metros acima do nível do mar e está numa funda depressão,
onde a grande divisora das águas goianas tem feições particulares.
De Sobradinho ás cabeceiras do rio Torto - o terreno sobe a princípio
muito rapidamente e continua depois sem excessivas variações de
altitude (GDF, 1992, p. 165).

27
Sobre os rios e riachos,
O volume das águas dos rios e riachos de alguma importância , entre
elles, o rio do Ouro, Areias, Montes Claros, Saia Velha, Torto,
Sobradinho, Parnauá, que a turma tiver de atravessar, será
determinado (GDF 1992, p. 63).

Na descrição topográfica da área demarcada o Relatório menciona Chapada


da Contagem e o Sobradinho:
- Esta serra representa o flanco de um chapadão de mais de 1.100
metros de altura, com pequenas ondulações até a íngreme descida da
Contagem, fronteira e distante do Sobradinho 6 kilômetros. O
chapadão se levanta como verdadeiro taboleiro, sobre uma base de
altitude variável, no sentido E-W, entre 1.120 metros, no Chico Costa,
1.240 metros nas Tres Barras e cerca de 1.100 metros na
Contagem(GDF 1992, p. 260)

- No sentido N-S continua, ao oriente, com o alto chapadão do Gama


de 1.130 metros mais ou menos, composto de schistos argilosos
paleozóicos, margeando o Rio Parnauá e mais abaixo o navegável
Rio São Bartolomeu, embora com a altitude já reduzida a pouco
menos de 1.000 metros; e, ao occidente, inclina-se ligeiramente
descendo a 940 e 980 metros, pelo facto da existência dos rios Santa
Maria, Alagado, Descoberto e seus numerosos affluentes, alguns dos
quais bastante caudalosos. (GDF 1992 p. 260).

- Na parte S-W do chapadão só se encontra capoeira, vastas


campinas e em grande extensão a canella de ema, (Vellosia
Maritima): (grifo do autor) apenas nas cachoeiras, o que se nota, há
capões mais ou menos extensos na razão directa da quantidade água
que nasce (GDF 1992, p. 260).

- Mais ou menos no meio da chapada que da Serra dos Macacos vae


ao Sobradinho (grifo nosso), se acha o pouso das Três Barras
(altitude 1.240 metros), e cujo nome provém de nascerem a pequena
distância um do outro, os rios Torto, Gama e Riacho Fundo, os quais
por sua vez, têm as nascentes perto das dos rio Alagado e
Descoberto ou Montes Claros (GDF 1992, p. 261).

- Cerca de 1.200 metros de altitude tem o logar d’estas fontes, e a não


ser já proximo da serra fronteira ao Sobradinho, onde as oscilações
do terreno se vão tornando cada vez mais fortes, à proporção que vae
baixando um pouco, se notaria o brando declive das terras que
acompanham o leito do rio Paranauá, resultante da fusão dos rios
Torto e Gama, do Alagado, Descoberto e Areias e seus affluentes.
(GDF 1992, p. 261).

- Continuando o caminho da antiga Villa dos Couros, hoje cidade de


Formosa, logo ao sahir do Sobradinho, a estrada sobe uma encosta
bastante íngreme para seguir, na extensão de muitos kilometros, um
chapadão revestido de alta vegetação pelo lado norte.
No rumo S-W do ribeirão, (Mestre D’armas) vae margeando uma
grande chapada, que se póde considerar prolongamento d’aquella a
que me referi antes de chegar à villa, tendo começado no Sobradinho.
(GDF 1992, p. 262).

- Do Pichoá em diante nada de notável se encontra n’estas


observações, a não ser que a temperatura mínima foi baixando cada
28
vez mais, até que, na villa do Mestre D’Armas foi de 10°.5 e no
Sobradinho 12°.2. (GDF,1992, p. 263).

Sobre a zona demarcada:


Nutrimos, pois a convicção de que a zona demarcada apresenta a
maior somma de condicções favoráveis possíveis de se realisar e
próprias para n’ella edificar-se uma grande Capital, que gozará de um
clima temperado e sadio, abastecida com águas potáveis abundantes,
situada em região cujos terrenos, convenientemente tratados prestar-
se-hão às mais importantes culturas, e que, por systema de vias-
ferrreas e mixtas convenientemente estudado, poderá facilmente ser
ligado com o littoral e os diversos pontos do território da República
(GDF, 1992, p. 19).

2.5 Origens do Processo de Ocupação do Solo na Região Centro


Oeste e no Distrito Federal

A idéia da mudança da capital do Brasil do Rio de Janeiro para o interior da


colônia faz parte de um processo de discussão iniciado no século XVIII motivado
principalmente pela vulnerabilidade da capital a invasões estrangeiras por ser um
porto, e, também, pela necessidade de se promover a ocupação efetiva segundo
GDF, (1992), de setenta por cento do território nacional então deserto, e o
desenvolvimento do interior.
À idéia mais antiga de mudança atribuída ao Marquês de Pombal em 1761,
seguiram-se outras propostas:
• A dos inconfidentes mineiros em 1789, que sugeriram a cidade de São
João Del Rei em Minas Gerais como sede;
• A da corte portuguesa que em 1808 reconheceu a necessidade da
mudança;
• A publicação a partir de 1813, de vários artigos por Hipólito José da
Costa no Correio Braziliense indicando a área no interior, entre as
cabeceiras dos grandes rios, onde de acordo com Bertran (1994),
corresponde a região de Belo Horizonte;
• A de José Bonifácio de Andrada e Silva que em 1823 apresentou à
Assembléia Nacional Constituinte a “Memória Sobre a Necessidade de
Edificar uma Nova Capital”, indicou a região de Paracatu em Minas
Gerais como a área para a construção, e sugeriu também, os nomes de
Petrópole ou Brasília;

29
• A dos manifestos do Visconde de Porto Seguro que sugeriu o Planalto
Central do Brasil, após visita à região em 1877;
• O projeto de Holanda Cavalcante apresentado ao senado, em 1852,
dispondo sobre a construção da nova capital, mantendo o nome
Brasília sugerido por José Bonifácio; e,
• Finalmente, a destinação de uma área de 14.400 km² no Planalto
Central da República prevista no Artigo 3º da Constituição de 1891,
para ser demarcada com a finalidade de se construir a nova Capital; e a
criação em 1892, da Comissão Exploradora do Planalto Central do
Brasil, pelo então Presidente Floriano Peixoto, para promover a
demarcação da área, sob a chefia do Astrônomo Luiz Cruls (GDF,
1992).
A determinação da transferência da Capital do Rio de Janeiro para o interior
foi mantida nas constituições de 1934, 1937 e na de 1946.
Dando prosseguimento ao projeto de mudança da Capital, foi lançada em
1922, a pedra fundamental na cidade de Planaltina, no Morro do Centenário, como
ato para comemorar o centenário da Independência.
A tese da mudança foi esquecida entre as duas guerras e relembrada na
Segunda Guerra Mundial, com novos argumentos em favor da interiorização do país.
Getúlio Vargas criou em 1943 a Fundação Brasil Central e organizou a Expedição
Roncador-Xingu, batizada de Marcha Para Oeste. Depois de percorrer 2.500 km por
terra e rios, a expedição fundou Vilas, campos militares e contatou 5.000 índios.
Teve como principal resultado a criação do Parque Nacional do Xingu que abrangia
18 aldeias e 5.000 índios (VILAS e VILAS BOAS, apud GANEM, 2008).
O projeto de transferência da Capital foi retomado em 1946, com a nomeação
da “Comissão de Estudos para Localização da Nova Capital do Brasil” chefiada pelo
General Djalma Poli Coelho (PELUSO e CANDIDO, 2006).
Segundo Ganem (2008), em 1953, no Governo Vargas, contratou-se
levantamento aerofotogramétrico de toda a área, cuja interpretação, feita em 1954,
ficou a cargo da empresa norte-americana Donald J. Belcher.
Cinco sítios foram sugeridos por Belcher, nomeados, sítio Castanho, Verde,
Vermelho, Amarelo e Azul. O sítio castanho foi escolhido pela referida Comissão,
segundo as condições de clima e salubridade, facilidade de fornecimento de água e
energia elétrica, acesso às vias de transporte aéreo e terrestre, topografia adequada,
30
solo favorável às edificações, facilidade de desapropriação etc. (PELUSO e
CANDIDO, 2006).
O projeto de transferência da Capital foi assumido por Juscelino Kubstcheck,
como objetivo principal do seu governo, realizou o Concurso Nacional do Plano Piloto
da Nova Capital Federal, vencido pelo urbanista Lúcio Costa. A cidade foi inaugurada
em 21 de abril de 1960 (GANEM, 2008).
Bertran (1994) avalia que a ocupação humana do interior do Brasil ocorreu a
partir de 1700 com as bandeiras paulistas que apesar de terem feito várias incursões
desde o século XVI, inicia de fato a colonização no ano de 1700 em Minas Gerais, em
Mato Grosso em 1718 e por último em Goiás, em 1726. A exploração aurífera
promoveu a imigração em massa para essa região de portugueses vindos do norte de
Portugal e de escravos negros africanos.
Segundo essa mesma fonte a exploração de ouro e diamante em Mato Grosso
e principalmente em Goiás, durou pouco tempo, mas deixou aqui as bases para a
construção de uma nova sociedade a partir do que restou das cidades coloniais e da
estrutura econômica como as roças e as fazendas de gado.
Para Bertran (1994), as bandeiras constituem então o primeiro marco histórico
da ocupação e exploração econômica do interior do Brasil, do Centro-Oeste e do
Planalto Central. Além da mineração a criação de gado também promoveu a
ocupação do Planalto Central especialmente nas regiões dos rios Tocantins, São
Francisco, Paranan, etc.
Para Dean (1996, apud Ganem, 2008), a mineração nesta região promoveu
uma ocupação humana dispersa em razão da dispersão dos depósitos aluvionares.
Sobreviveram as vilas e os arraiais em que a mineração durou mais tempo e a
agricultura se desenvolveu.
Segundo Rocha Jr. et al., (2006, apud Ganem, 2008), até a descoberta do
ouro na Serra Dourada, Goiás era uma zona de fronteira. Mineradores, comerciantes
e muleiros, de Minas Gerais e do Nordeste, cruzavam as terras goianas por estradas
que posteriormente tornaram-se intensamente trafegadas. A formação de vilas se
deu após a descoberta do ouro em Goiás (Vila Boa) em 1726, em Pirenópolis em
1732.
Em seguida descobriu-se ouro no rio Maranhão, o que marcou a colonização
das terras do atual Distrito Federal. Na década de 1730 sucederam-se várias
descobertas de ouro em Niquelândia, Paracatu, e no norte (Cavalcante, Arraias,
31
Natividade etc.). Em Luziânia em 1747, e, em 1757, no rio Descoberto (BERTRAN,
1994).
De acordo com Rocha Jr. et al., (2006 apud Ganem 2008), o isolamento dos
arraiais de Goiás, espalhados por longas distâncias dificultou a sustentabilidade
econômica dos mesmos. Por causa desse isolamento, quando as minas se
esgotaram, muitos povoados desapareceram ou ficaram em estado de penúria.
Para Bertran (1994) no começo a estrada de São Paulo monopolizava o
tráfego mercantil, onde se cobrava o quinto. Mas, várias estradas de contrabando
abertas no Planalto Central foram legalizadas em 1735.
Fundaram-se postos fiscais, ou Registros e Contagens. Um deles, data de
1736, ano em que o governo português instalou a “Contagem de São João das Três
i2
Barras” – Posto Fiscal na região do atual Posto Colorado - a 10 km do Plano Piloto
de Brasília na estrada para Sobradinho. A Contagem é o mais importante
estabelecimento público do Distrito Federal e ponto importante para a história de sua
colonização. É a instituição fundadora do Distrito Federal. Ela foi desativada em
1823, após o processo de independência (BERTRAN, 1994). Existiam duas grandes
estradas que atravessavam essa região e pelas quais circulavam as caravanas em
direção ao Rio de Janeiro e, principalmente em direção à Bahia, para onde ia a maior
parte do ouro goiano (BERTRAN 1994).
As estradas estruturaram a ocupação em Goiás. As grandes distâncias eram
compensadas pela presença de fazendas e povoados que surgiram onde a estrada
estava estabelecida (ROCHA JR. et al.,2006, apud Ganem, 2008).
Para Bertran (1994), em Goiás a exaustão das minas levou à regressão da
economia, permaneceu uma população reduzida e dispersa. Sobreveio o “império da
subsistência”. A atividade pecuária tornou-se a ocupação econômica predominante,
assim permanecendo até a década de 1950. Das velhas fazendas do século XVIII
sobrou “a posse primitiva da terra”.
De acordo com SEMARH (2004), aqui, o impacto da ocupação humana
acabou se limitando praticamente às fazendas de gado, à agricultura de subsistência
e ao extrativismo vegetal. Mas essa realidade mudaria radicalmente a partir da
construção de Brasília.

2
Posto Fiscal instalado pelo Governo Português na região de estudo em 1736.
32
Chaul (1997, apud Ganem 2008), afirma que no início do século XX, o sul do
Estado de Goiás experimentou um crescimento econômico, devido à expansão da
cultura cafeeira e, posteriormente, à industrialização em São Paulo e Minas Gerais.
Essas atividades aumentaram a demanda por produtos agropecuários e Goiás
fortaleceu seu papel de produtor de bens primários. Contudo, de acordo com Bertran
(1994) as demais regiões de Goiás não experimentaram esse desenvolvimento.
Tornando-se autárquicas por não terem como vender ou comprar.
Esse isolamento só foi interrompido segundo a mesma fonte a partir da
década de 1940 com as políticas de integração do litoral com o sertão brasileiro, e na
de 1950 com a construção de Brasília.

2.6 Ocupação do Solo e Evolução da População no DF da Construção


de Brasília aos Dias Atuais

A construção de Brasília marcou de forma irreversível a trajetória histórica da


ocupação humana da região Centro-Oeste e do Planalto Central. É resultado de um
processo de planejamento longo, iniciado no período imperial, é uma cidade com
peculiaridades que a fazem única: Foi idealizada com antecedência de dois séculos
e meio; teve seu sítio demarcado quase cem anos antes de ser construída; e, é a
mais recente grande cidade construída com a finalidade de ser capital de país (GDF
1992).
Segundo Soares e Alves (2004), Planejada para ser a Capital Administrativa
do Brasil, Brasília tinha a previsão de abrigar uma população máxima de 500 a 600
mil habitantes, previa-se a construção de cidades satélites somente depois que
atingisse sua quantidade máxima de habitantes, porém, as cidades satélites
passaram a abrigar os excedentes populacionais do Plano Piloto mesmo antes de
sua inauguração.
Um dos principais impactos da transferência da Capital para o interior foi a
migração de grandes contingentes populacionais para o DF. Desde a construção de
Brasília, formaram-se diversos acampamentos, posteriormente organizados pelo
Poder Público, que deram origem às cidades satélites, assim chamadas por não
terem autonomia administrativa e serem economicamente dependentes do Plano
Piloto.

33
Em 1957, 12.283 pessoas moravam em Planaltina, Brazlândia e fazendas
próximas. Esses foram os primeiros habitantes do DF. Com o início da construção de
Brasília iniciou-se o processo migratório caracterizado por contingentes
populacionais que se diferenciam quanto à função (CODEPLAN, 2006).
Até a década de 1970, o governo incentivou a migração de mão-de-obra para
a construção de Brasília. No período mais intenso da construção de Brasília, nas
décadas de 1960/70 e 70/80, essas correntes migratórias foram o principal fator
formador da população do Distrito Federal, com um número de 358.014 e 488.546
migrantes respectivamente.
Esse número de migrantes diminuiu de forma considerável no período
1980/1991, apresentando uma média anual de 8.966, e uma média de crescimento
anual de 2,84 que permaneceu estável até 2005.
Números da “Contagem da População” realizada pelo IBGE em 1996 registrou
uma população de 1.821.946 habitantes nas 19 Regiões Administrativas existentes à
época. Já no ano 2000 a população era 2.051,146, e em 2005 a estimativa era de
uma população de 2.333.108 habitantes, nas 28 Regiões Administrativas. Pela
“Contagem da População” do órgão em 2007, a população total do DF registra
2.455.903 habitantes em 30 Regiões Administrativas. Confira evolução e densidade
demográfica da população na tabela abaixo.
Tabela 1 – Evolução da População do Distrito Federal, TMGCA e Densidade
Demográfica 1957 – 2005
Ano População TMGCA(¹) Hab/km²
1957 12.283 2,12
1959 64.314 128,82 11,11
1960 140.164 117,94 24,21
1970 537.492 14,39 92,84
1980 1.176.935 8,15 203,30
1991 1.601.094 2,84 276,57
1996 1.821.946 2,62 314,62
2000 2.051.146 3,01 354,31
2005 2.333.108 2,61 403,01

Fontes: Projeções Populacionais – Brasil e Grandes Regiões – IBGE e Censo Demográfico – IBGE
Dados elaborados pela SEPLAN
TMGCA –Taxa Média Geométrica de Crescimento Anual Entre Períodos

Observe abaixo o relato dos três períodos da história do aglomerado urbano


de Brasília segundo STEINBERGER, (2003).

34
• 1956 a 1973 – marcado pela conquista do território. As decisões, ao
invés de serem planejadas, eram pragmáticas, autoritárias e
voluntaristas. Marcadas pelo imediatismo, com soluções rápidas e
segregadoras, criando, de forma irresponsável, cidades, com o objetivo
de tornar a Implantação da nova capital no Planalto Central um fato
irreversível. Dessa forma mesmo antes da instalação de Brasília, em
1960, já se desenhara um embrião do aglomerado urbano atual,
formado pelo Plano Piloto, Planaltina e Brazlândia, Cidade Livre,
Candangolândia, Taguatinga, Cruzeiro, Gama, e Sobradinho; o Guará
e a foram criadas em 1966 e 1970 respectivamente. Essas cidades
deram origem ao modelo polinucleado sobre o qual está estruturado o
aglomerado urbano de Brasília hoje.
• 1974-1987 – marcou a preocupação com o ordenamento da conquista.
Foram elaborados vários planos voltados para o território do DF. Nesse
período verifica-se o crescimento populacional no entorno de Brasília
em precários loteamentos nos municípios limítrofes como Luziânia,
Santo Antônio do Descoberto e Planaltina de Goiás. O processo de
ocupação dessas áreas atendeu à demanda de habitação resultante
do intenso processo migratório para essas áreas. No DF ocorreram
poucos assentamentos de cidades nesse período (Samambaia e
Águas Claras 1981). Adensaram-se as cidades já existentes,
acomodando as famílias que se encontravam em favelas, invasões, e
fundos de quintal e representavam uma forte pressão sobre a restrita
oferta habitacional. Esse período foi marcado pela explosão do
crescimento demográfico das áreas periféricas e do DF. Ele é o
resultado da falta de uma política de ordenamento territorial local, de
um planejamento tardio e da pressa em consolidar a Brasília capital.
Mais do que isso, resulta também de uma visão que desconheceu o
papel que ela teria no contexto regional e nacional.
• 1988 – marcado pela consolidação do aglomerado urbano de Brasília, a
despeito de uma tentativa desesperada, da parte do governo local de
reverter o crescimento populacional para dentro dos limites do DF, com
ações voltadas para a oferta de lotes que, novamente, geraram a
criação de cidades: Santa Maria, Riacho Fundo, Recanto das Emas e
35
São Sebastião. Estas representaram o mais expressivo acréscimo
demográfico do DF, entre 1991 e 1996, e estão localizadas nas bordas
do quadrilátero limítrofes aos municípios goianos que as cercam. Tais
ações estavam vinculadas a grupos de interesses que vislumbravam o
recém-adquirido status de autonomia política do DF, por força da nova
Constituição. Essas cidades foram responsáveis por um aumento de
cerca de 23 mil para 40 mil hectares ocupados, entre 1977 e 1991, ou
seja, um acréscimo de mais de 70% (Anjos, 1991). Mas a Carta Magna
reviveu um antigo instrumento de planejamento, o Plano Diretor. Com
isso, deu-se continuidade ao planejamento iniciado na década de
1970.
Steinberger (2003), também identifica os períodos ambientais na história do
DF, que são os seguintes:
• 1960-1973 – período em que se deu a implantação da cidade e a
criação das primeiras unidades de conservação como: Parque Horto-
Guará (1960); Parque Recreativo do Gama e Parque Nacional de
Brasília (1961); Reserva Biológica de Águas Emendadas (1968).
Código Sanitário que define diretrizes para o meio ambiente e
saneamento, regras para construção de áreas urbanas, propõe a
divisão do DF em três áreas: metropolitana,núcleos satélites e rural,
(1966). Plano Diretor de Água e Esgoto e Controle da Poluição do DF
fazem recomendações quanto à ocupação urbana e recursos hídricos
(1970)
• 1974-1985 – O Decreto nº 2.739/74 propõe a formulação de um Plano
Diretor para o DF, atendendo às três propostas do Código Sanitário de
1966. Em 1975 acontece o primeiro zoneamento sanitário. Faz-se o
zoneamento e delimitação das áreas de preservação, em 1977 por
meio do Plano de Expansão e Organização Territorial (PEOT). São
elaborados o Plano de Ordenamento Territorial (POT) em 1985 e o
Plano de Ocupação e Uso do Solo (POUSO) 1986-1990, com a
criação do Jardim Botânico.
• 1986-1989 – Foram criadas, a Estação Ecológica da Universidade de
Brasília – UNB, e a APA do Gama Cabeça de Veado em 1986; A APA
de Cafuringa, as ARIE Santuário da Vida Silvestre do Riacho Fundo e
36
do Lago Paranoá, as Reservas Ecológicas do Gama e do Guará em
1988; a ARIE dos Córregos Taguatinga e Cortado e a APA do Lago
Paranoá em 1989. São criadas em 1986, a Coordenação de Assuntos
de Meio Ambiente (COAMA) e a Secretaria Extraordinária de Meio
Ambiente Ciência e Tecnologia (SEMATEC).
• 1990-2003 – Instituição de dezenove novas Unidades de Conservação,
elaboração do mapa ambiental do DF (2000) pela Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), legalização da área da
Reserva da Biosfera do Cerrado, criação do Pólo Ecológico de Brasília
e aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial, (PDOT).
Ainda de acordo com a mesma fonte, apesar do esforço no sentido de tentar
disciplinar a ocupação urbana no DF, assistiu-se à proliferação de loteamentos
clandestinos e o aparecimento da cidade ilegal com o parcelamento privado de terra
a partir da década de 1990.
A cidade de Brasília transformou-se no único pólo de atração de migrantes da
região levando à formação de favelas, que obrigou os governos locais a criarem as
cidades satélites e os primeiros distritos industriais para absorção de parte dessa
mão-de-obra.
A falta de planejamento regional, aliada à política de “fechamento” do Plano
Piloto, pelos governos militares levou à criação de grandes cidades dormitórios para
essa enorme massa despossuída. Essas satélites foram dotadas de serviços de
infra-estrutura, acima da média nacional para esses tipos de assentamentos
populares, de modo a evitar que quaisquer movimentos reivindicatórios pudessem
abalar a estabilidade dos governos militares (STUMPF e SANTOS, 1996).
Na década de 1980, o Distrito Federal consolidou-se como pólo de
desenvolvimento regional e transformou-se em um novo pólo de atração de
migrantes de todas as regiões do país por causa do avanço da fronteira agrícola que
introduziu a cultura da soja, a cultura irrigada e outras culturas no cerrado. O DF
experimentou nesse período uma explosão demográfica com índices acima da média
do país (SEBRAE/DF, 2004).
Segundo o IBGE em 2000 a densidade demográfica do Distrito Federal era a
mais alta do país com 348 habitantes por km² e em 2005 de 403,1hab./km².
Segundo Peluso e Cândido (2006), ao se observar a distribuição da população
do Distrito Federal no período de 1959 a 1980, verifica-se que as periferias
37
aumentaram muito mais rapidamente do que a área central (Plano Piloto), conforme
demonstra a tabela 2.

Tabela 2 – Distrito Federal – Evolução da população (entre 1959 e 1980)


Plano Piloto Cidades-satélites/áreas rurais
1959 23.841 41.480
1960 68.665 73.077
1970 159.951 374.195
1980 252.542 924.366
Fonte: Peluso e Candido – adaptação do autor

As figuras a seguir apresentam o crescimento Multitemporal da população das


cidades-satélites em relação à área central (Plano Piloto) em termos percentuais e o
crescimento do número de cidades-satélites ou Regiões Administrativas neste
período de 10 para 19, bem como o incremento populacional dessa expansão
urbana. O primeiro gráfico (Figura 1) mostra 10 Regiões Administrativas. Além das
Regiões Administrativas criadas inicialmente em 1964, aparecem as cidades de
Ceilândia, Cruzeiro e Guará. O Plano Piloto apresenta 21,16% e Sobradinho 5,58%
da população, enquanto Ceilândia e Taguatinga apresentam 19,08 e 18,18% da
população do DF respectivamente.

.
Figura 1 – População do Distrito Federal por Região Administrativa – 1979
38
Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 1980

A figura 2 apresenta 12 cidades-satélites, acrescenta Samambaia e Paranoá,


e mostra que a população do Plano Piloto representa 17,88% e Sobradinho 4,46%
da população e Ceilândia 24,87%.

Figura 2 – População do Distrito Federal por Região Administrativa – 1989


Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 1992

A figura 3 traz o acréscimo das cidades de Candangolândia, Lago Norte, Lago


Sul, Recanto das Emas, Riacho Fundo, São Sebastião e Santa Maria. Nesse
intervalo de 30 anos apresentados aqui, o número de cidades-satélites cresceu de 10
para 19 e a população apresentou um crescimento de 1.510,222 para 2.051,146
habitantes e a população do Plano Piloto representa 10% e Sobradinho 6,27% da
população total do DF (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO DF – 2001).

39
Figura 3 – População do Distrito Federal por Região Administrativa – 2000
Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 2001

Outro fato relevante que fomentou a migração para o Distrito Federal foi o
processo de redemocratização do país, iniciado a partir da promulgação da
Constituição 1988, que implantou aqui um esquema clientelista, importado das
regiões mais atrasadas de Goiás que passou a dominar o cenário político local,
patrocinando, com fins eleitorais, a distribuição de lotes em novos assentamentos,
agravando o problema (STUMPF e SANTOS, 1996).
Em 1989, o GDF iniciou uma nova política de ocupação do território, com base
na Lei Orgânica local, promulgada em 1992 e no (PDOT) Plano Diretor de
Ordenamento Territorial, Lei 353/92, que consolidou os planos anteriores: (PEOT)
Plano Estrutural de Organização Territorial de 1977, (POT) Plano de Ordenação
Territorial de 1985, (POUSO) Plano de Ocupação e Uso do Solo do DF de 1985/86 e
Brasília Revisitada.
Com o intuito de eliminar as invasões e a sublocação foi instituído o Programa
de Assentamento para População de Baixa Renda que consistiu em distribuir lotes
semi-urbanizados à população de baixa renda. Para atender a essa política, novas
cidades foram criadas, reforçando o modelo de polinucleamento, periferização,

40
horizontalização e expansão urbana na maioria das cidades-satélites existentes, com
a fixação de algumas invasões (SILVEIRA, 1999).
Em 1989 iniciaram-se a implantação de condomínios irregulares em todo o
Distrito Federal. Segundo Steinberger, (1999), esse período foi marcado ainda pela
proliferação de loteamentos clandestinos e pelo aparecimento da cidade ilegal a
partir do parcelamento privado da terra.
Esse processo teve como causa, a falta de uma política habitacional do
governo local, a especulação imobiliária e principalmente a omissão das autoridades
que não reprimiram esse processo.
Para Malagutti (1999) numa análise detalhada sobre a aparição dessas áreas,
identificaram-se alguns fenômenos que têm implicações com os processos de
produção do espaço urbano, chegando-se à seguinte classificação, genérica a todos
os parcelamentos, de acordo com as diversas “ilegalidades”, segundo suas questões
predominantes:
• Parcelamentos com problemas fundiários: implantados em áreas já
desapropriadas – da TERRACAP, da União – ou em áreas em comum;
implantados com deslocamento de títulos de propriedade, isto é, quando
uma área é utilizada em local diferente dos limites definidos em seus títulos
(situação, de fato, não corresponde à de direito); implantados em áreas
particulares, mas ainda em litígio entre proprietários, ou ainda, implantados
com superposição de áreas entre loteamentos contíguos.
• Parcelamentos com problemas quanto à legislação ambiental: implantados
sem atender à legislação sobre Unidades de Proteção Ambiental;
implantados sem o respectivo Estudo de Impacto Ambiental – EIA/Rima -;
implantados em desacordo com o Código Florestal, sobre Áreas de Proteção
Ambiental (áreas inundáveis, de risco geológico, com declividade excessiva,
com problemas de erosão, etc.).
• Parcelamentos com problemas urbanísticos: implantados sem atender às
disposições da Lei Federal nº 6.766/79: implantados sem atender ao
macrozoneamento definido pelo PDOT; ou implantados sem atender às
Normas Técnicas estabelecidas pelo (IPDF) – Instituto de Planejamento
Territorial Urbano do DF.
Esses parcelamentos estão localizados no caso dessa região em áreas de
preservação ambiental e de uso controlado como a APA do São Bartolomeu e em
41
parte da APA de Cafuringa, atingindo 46% dos 317 parcelamentos urbanos do DF de
acordo com números da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
(CODEPLAN, 2004).
De acordo com dados do Diagnóstico Preliminar dos Parcelamentos Urbanos
Informais no Distrito Federal, existiam até 2006, 513 parcelamentos informais (Figura
4), sendo 74% urbanos e 26% rurais. Segundo as informações disponíveis em 1995
existiam 144 parcelamentos urbanos nestas condições significando um aumento de
mais de 50% em apenas 11 anos (SEDUH, 2006).

Figura 4 – Distribuição da População do DF


Fonte: SEDUH, 2006

O uso e a ocupação desordenada do solo, o crescimento populacional, o


avanço rápido das atividades econômicas no Distrito Federal frustraram o
planejamento inicial de construção da cidade e promoveram ações antrópicas que
transformaram o meio ambiente do DF e da região de Sobradinho gerando impactos
ambientais no meio urbano e rural, conforme define o Conselho Nacional de Meio
Ambiente – CONAMA – por meio da resolução 001/86.
Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que,
direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986).

42
De acordo com a Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente do Rio
Janeiro – FEEMA (1990), impacto ambiental é qualquer alteração significativa no
meio – em um ou mais de seus componentes – provocada por uma ação humana.
Mota (2003) entende impacto ambiental como a cadeia de efeitos que se
produzem no meio natural e social (antrópico) como consequência de uma
determinada ação.
Segundo Sanchez (2008, p. 31, 32), pode-se então postular que impacto
ambiental pode ser causado por uma ação humana que implique:
Quadro 1 – Ação Humana Causadora de Impacto Ambiental
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo:
• Supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação;
• Destruição completa de habitats (por exemplo, aterramento de mangue);
• Destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo,
escavações);
• Supressão de elementos significativos do ambiente construído;
• Supressão de referências física à memória (por exemplo, locais sagrados,
como cemitérios, pontos de encontros de membros da comunidade;
2. Inserção de certos elementos no ambiente, a exemplo de:
• Introdução de uma espécie exótica;
• Introdução de componentes construídos (por exemplo, barragens,
rodovias, edifícios, áreas urbanizadas). (grifo do autor)
3. Sobrecarga (introdução de fatores de estresse além da capacidade de suporte
do meio, gerando desequilíbrio) a exemplo de:
• Qualquer poluente;
• Introdução de uma espécie exótica (por exemplo, coelho na Austrália);
• Redução do habitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada
espécie;
• Aumento pela demanda por bens e serviços públicos como por exemplo:
(Educação e saúde).
Fonte: Sanchez

Em face das considerações acima, (SANCHEZ, 1998a) adota como conceito


de impacto ambiental – alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação
de processos naturais ou sociais provocados por ação humana.
Sanchez considera que:
Impacto ambiental é claramente, o resultado de uma ação humana,
que é a sua causa. Não se deve, portanto, confundir a causa com a
consequência. Uma rodovia não é um impacto ambiental; uma rodovia
causa impactos ambientais. Da mesma forma, um reflorestamento
com espécies nativas não é um impacto ambiental benéfico, mas uma
ação (humana) que tem o propósito de atingir certos objetivos
ambientais, como a proteção do solo e dos recursos hídricos ou a
recriação do habitat da vida selvagem (SANCHEZ, 2008, p. 32).

43
Os impactos ambientais que essa expansão acelerada provocou ao meio
natural, têm feito o Distrito Federal enfrentar problemas ambientais diversos,
principalmente quanto à fauna, a flora, disponibilidade e qualidade da água.
Consequentemente enfrenta também, os riscos ambientais associados a esses
problemas ambientais (SEBRAE 2004).

2.7 A Construção Social dos Riscos Ambientais

Apresentam-se a seguir considerações sobre a construção social dos riscos


ambientais em Sobradinho.
A despeito das áreas de risco nas grandes cidades (SANTOS, 1994), faz
referência à criação de um meio geográfico artificial com mudanças quantitativas,
mas também qualitativas. E afirma que é da natureza humana habitar e explorar os
mais recônditos lugares do planeta. E segue descrevendo que a questão do espaço
habitado:
Pode ser abordada segundo um ponto de vista biológico, pelo
reconhecimento da adaptabilidade do homem, como indivíduo, às
mais diversas altitudes e latitudes, aos climas mais diversos, às
condições naturais mais extremas. Outra abordagem é a que vê o ser
humano não mais como indivíduo isolado, mas como um ser social
por excelência. Podemos assim acompanhar a maneira como a raça
humana se expande e se distribui, acarretando sucessivas mudanças
demográficas e sociais em cada continente (mas também em países,
em cada região e em cada lugar). O fenômeno humano é dinâmico e
uma das formas de revelação desse dinamismo está, exatamente, na
transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado (SANTOS
1994 p. 37).

Dessa forma, as moradias nas cidades podem ocupar diferentes terrenos, de


características naturais distintas. Essa ocupação se dá invariavelmente em áreas
pantanosas, fundos de vales, encostas, topo de morros, manguezais, entre outras.
Esse contexto abordado é verificado nas cidades, em função da divisão dos
espaços pela população que se dá de maneira diversa.
A produção da moradia na cidade pode ocorrer em diferentes terrenos, com
características naturais distintas, especialmente agrupando-se as casas, as lojas
comerciais, os edifícios, as praças, entre outros, formando o tecido urbano, observa-
se que a mesma contorna diversos obstáculos, a exemplo de áreas pantanosas,
fundos de vale, encostas, topos de morros, manguezais, entre outros. Tudo isso

44
descreve uma situação que, na realidade, representa um desafio para o crescimento
urbano (SANTOS 2007).
O crescimento das cidades nos países em desenvolvimento fundamenta-se
em dois fatores: o aumento do crescimento natural da população e a forte migração
provocada pelo êxodo rural. A falta de condições econômicas tem levado as pessoas
a adquirirem e ocuparem imóveis em terrenos inadequados, em lugares com
carência de infra-estrutura. Onde se conclui que a estrutura interna das cidades foi
repartida de forma desigual e os terrenos impróprios foram ocupados, em sua grande
maioria, pela população menos favorecida.
Pode-se observar que as grandes cidades também são ocupadas pelos ricos
que diferentemente dos pobres possuem meios econômicos para conter as ameaças
de risco.
Nas cidades brasileiras os espaços considerados áreas de risco são aqueles
que oferecem a susceptibilidade de ameaças que comprometem a integridade física
e podem provocar perdas materiais e patrimoniais. De modo geral, essas áreas são
habitadas por populações de baixa renda (favelas) ou parcelamentos irregulares.
As áreas consideradas de risco levantadas por esse estudo em Sobradinho
são: áreas de nascentes, encostas, leitos de rios, córregos e ribeirões.
A Defesa Civil do DF aponta como área de risco em Sobradinho a região da
FERCAL e a Vila Rabelo I e II. Na região da FERCAL existe a ocupação de terrenos
próximos a leito de ribeirões, a encostas, nas proximidades das fábricas de cimento e
de britadores, e, na Vila Rabelo I e II, a ocupação do sopé e dos patamares de
encostas que são consideradas áreas de risco muito alto por esse órgão
governamental.
Nas cidades dos países em desenvolvimento essas áreas são ocupadas pelas
classes sociais menos favorecidas que se tornam vulneráveis a eventos naturais
extremos de grande intensidade (SANTOS 2007).
Dessa forma, foi feita a hierarquização de seis áreas de risco em diferentes
pontos de Sobradinho como: a área urbana representadas pelos quatro parques
ecológicos localizados próximos ao ribeirão Sobradinho e Paranoazinho, a área de
expansão urbana representada pelos 128 condomínios irregulares e a Reserva
Biológica da Contagem, localizada na área da APA de Cafuringa.
As áreas de risco se localizam ao longo dos ribeirões Sobradinho,
Paranoazinho e Contagem que estão presentes no contexto urbano de Sobradinho e
45
em toda sua área de expansão urbana avançando por terrenos acidentados, morros
e encostas sujeitas a riscos de deslizamentos, especialmente em áreas de moradia
para população de baixa renda, como é o caso da Vila Rabelo I e II e FERCAL.
As populações de baixa renda para alcançarem o acesso à moradia ocupam
terrenos de domínio público ou privado. Esses terrenos são áreas protegidas por lei,
inadequadas à urbanização e sujeitas aos riscos ambientais, e terrenos desocupados
que são alvos da especulação imobiliária. Nos dois casos, a falta de infraestrutura
urbana é característica marcante dessas áreas, o que compromete severamente a
qualidade de vida e a segurança social, (SANTOS, 2007).
Na comparação entre ricos e pobres. O rico não ocupa terrenos públicos e/ou
privados para construir suas edificações. Esse tem recursos econômicos, realiza
cortes nas encostas, aterra os fundos de vales, impermeabiliza o solo, e, por ter
acesso ao poder público consegue que as redes de transmissão sejam implantadas
nos locais onde constrói seus empreendimentos.
Contudo, as áreas ocupadas, em especial, as áreas de fragilidade ambiental
como: encostas, fundos de vales, e áreas ribeirinhas não deixam de ser áreas de
riscos, que são caracterizados depois de serem ocupadas pelo ser humano.

2.8 Risco Ambiental

Os conceitos básicos sobre risco ambiental, vulnerabilidade e ameaça, entre


outros, nortearam o embasamento teórico dessa pesquisa.
O mais importante de todos é o conceito de risco ambiental que segundo
Castro (2000, apud Santos, 2007).
El riesgo ambiental es una circunstancia de la existencia social cuya
naturaleza y significado depende de la experiencia, del desarrollo
socioeconómico y de las estrategias con que se enfrentan los peligros
(CASTRO 2000 et al, p.44, apud Santos 2007, p. 4).

O termo Risco aparece em vários estudos, acompanhado do adjetivo


Vulnerabilidade essa categoria auxiliará na construção do risco ambiental proposta
por esse estudo. Castro et al., (2005) propõe:
Atualmente os estudos acerca dos riscos ambientais vêm sendo
desenvolvidos em vários setores, estando a noção de risco
consideravelmente difundida na sociedade, figurando em debates,
avaliações e estudos no meio acadêmico e empresarial. Este risco
acompanha, via de regra, um adjetivo que o qualifica: risco ambiental,
46
risco social, risco tecnológico, risco natural, biológico, e tantos outros,
associados à segurança pessoal, saúde, condições de habitação,
trabalho, transporte, ou seja, ao cotidiano da sociedade moderna
(CASTRO et. al. 2005, p. 12).

O mesmo autor observa que o Risco pode ser entendido como uma categoria
de análise associada às noções de incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos
materiais, econômicos e humanos em função de processos de ordem natural (tais
como processos exógenos e endógenos da Terra) e/ou daqueles associados ao
trabalho e às relações humanas.
Risco também expressa tanto a dimensão social de eventos catastróficos,
como a percepção individual de seus efeitos. Como tal, é uma ponte entre o público
e o privado que pode subsidiar a tomada de decisões sobre alternativas de
desenvolvimento tecnológico e de alocação do gasto público em condições
democráticas de gestão do território. (EGLER, 1996).

A Avaliação do Risco Ambiental (ARA) é um método que dispõe de um


modelo que possibilita analisar e potencializar os riscos ambientais derivados de
usos antrópicos determinados por fatores naturais que decorrem desse uso.

Sobre o risco ambiental, observam-se as contribuições de Egler (1996), que


afirma:
A noção de risco ambiental foi originalmente sistematizada por Talbot
Page em 1978, quando distinguiu claramente a visão tradicional de
poluição do conceito de risco, que está relacionado à incerteza e ao
desconhecimento das verdadeiras dimensões do problema ambiental.
Page aponta características para sustentar esta separação radical,
algumas delas associadas à incerteza dos efeitos futuros de decisões
tomadas no presente e outras ligadas à gestão institucional
(EGLER,1996, p.1).
Para Egler (1996) a Análise de Risco Ambiental deve ser vista como um
indicador dinâmico das relações entre os sistemas naturais, a estrutura produtiva e
as condições sociais de reprodução humana em um determinado lugar e momento.
Neste sentido, é importante que se considere o conceito de risco ambiental como a
resultante de três categorias básicas:

O risco natural, associado ao comportamento dinâmico dos sistemas


naturais, isto é considerando o seu grau de estabilidade/instabilidade expresso na
sua vulnerabilidade a eventos críticos de curta ou longa duração, tais como
inundações, desabamentos e aceleração de processos erosivos.

47
O risco tecnológico, definido como o potencial de ocorrência de eventos
danosos à vida, a curto, médio e longo prazo, em consequência das decisões de
investimento na estrutura produtiva. Envolve uma avaliação tanto da probabilidade
de eventos críticos de curta duração com amplas consequências, como explosões,
vazamentos ou derramamentos de produtos tóxicos, como também a contaminação
em longo prazo dos sistemas naturais por lançamento e deposição de resíduos do
processo produtivo.

O risco social, visto como resultante das carências sociais ao pleno


desenvolvimento humano que contribuem para a degradação das condições de vida.
Sua manifestação mais aparente está nas condições de habitabilidade, expressa no
acesso aos serviços básicos, tais como água tratada, esgotamento de resíduos e
coleta de lixo. No entanto, em uma visão de longo prazo pode atingir às condições de
emprego, renda e capacitação técnica da população local, como elementos
fundamentais ao pleno desenvolvimento humano sustentável (EGLER,1996).

Os riscos naturais, segundo White et al., (2001 apud Castro et al., 2005)
estão intrinsecamente ligados ao uso dos recursos naturais e das transformações
dos sítios pela sociedade.

Para Foucher (1982) os riscos naturais aumentam com o crescimento


demográfico e, em uma escala local, aumentam a partir da urbanização dos sítios,
frequentemente, vulneráveis (planícies aluviais, regiões baixas, sopés de encostas
etc.) de maneira especial em países em desenvolvimento.

O Risco tecnológico para Castro et al., (2005) circunscreve-se ao âmbito dos


processos produtivos e da atividade industrial. A noção de perigo tecnológico para
Hewit (1997, apud Castro et al., 2005) surge principalmente da tecnologia industrial,
a partir de falhas internas, ao contrário dos perigos naturais percebidos como
ameaça externa.

Para Castro et al., (2005) o risco social é uma categoria que pode ser a
analisada e desenvolvida por vieses distintos. É considerado, muitas vezes, como o
dano que uma sociedade (ou parte dela) pode fazer causar.
Um dos vieses explorado reside na relação entre marginalidade e
vulnerabilidade a desastres naturais, como aponta o trabalho de Wisner (2000, apud

48
Castro et al., 2005) exemplificando o caso dos “sem teto” e a vulnerabilidade desses
aos terremotos.

Outro viés, apresentado considera o risco social como resultante de carências


sociais que contribuem para uma degradação das condições de vida da sociedade.
Manifesta-se nas condições de habitabilidade, ou seja, na defasagem entre as atuais
condições de vida e o mínimo requerido para o desenvolvimento humano, como por
exemplo, o acesso aos serviços básicos de saneamento, água potável e coleta de
lixo, podendo incorporar em longo prazo avaliações das condições de emprego,
renda, etc. (EGLER, 1996).

A elaboração de uma metodologia para a Avaliação do Risco Ambiental deve


fundamentar-se em três critérios básicos de acordo com EGLER (1996):

(1) Vulnerabilidade dos sistemas naturais compreendida como patamar entre a


estabilidade dos processos biofísicos e situações instáveis onde existem perdas
substantivas de produtividade primária;

(2) A densidade e o potencial de expansão da estrutura produtiva, que procura


expressar os fixos e os fluxos econômicos em uma determinada porção do território
em uma concepção dinâmica;

(3) O grau de criticidade das condições de habitabilidade, vista como a


defasagem entre as atuais condições de vida e os mínimos requeridos para o pleno
desenvolvimento humano.

Em estudo sobre a Análise de Risco Ambiental para a Zona Costeira


brasileira Egler (1996), desenvolveu uma matriz simplificada e sintetizada, que
apresenta a origem do risco em suas diversas escalas de incidência. Essa matriz
apresenta como principal característica a presença de maiores indicadores de risco
em sua diagonal, aqui denominada de diagonal crítica. De forma simplificada
poderíamos visualizar essa matriz segundo o quadro abaixo:
Quadro 2 - Matriz de Composição de Risco Ambiental

Origem/Escala Local Regional Nacional


Vulnerabilidade
dos sistemas Alto Médio Baixo
naturais
Densidade da
estrutura produtiva Baixo Alto Médio
49
Criticidade das
condições de Médio Baixo Alto
habitabilidade
Fonte: Egler, 1996
É evidente que essa tipologia, nacional, regional, local, é importante para a
definição dos níveis de gestão, pois significam diferentes órgãos públicos e
empresas privadas envolvidos no monitoramento e controle do risco ambiental. É
evidente que as responsabilidades devem ser compartidas nas diversas escalas de
gestão do território (EGLER, 1996,).
A concepção de risco ambiental implica em avaliações que estão
determinadas em diversas escalas e em diferentes períodos de tempo, definindo
níveis de gestão, que vão desde o internacional até o local, conforme quadro 3
(EGLER, 1996).

Quadro 3 - Escalas de Gestão do Meio Ambiente: do Global ao Local


Escala Curto Prazo Médio Prazo Longo Prazo
-Modificação do
-Poluição
clima
transfronteira
-Acidente nuclear -Poluição global
-Transportes de
Nível -Derramamento de dos oceanos
dejetos
Internacional e petróleo no mar -Desertificação
-Desflorestação
global -Algas verdes -Chuvas ácidas
massiva
-Baixa global da
-Gestão de zonas
diversidade
de pesca
genética
-Gestão do
-Definição de
território (litoral,
políticas nacionais
montanha e
de meio ambiente
-Intoxicação por áreas agrícolas)
-Gerenciamento de
produtos tóxicos de -Gestão das
parques e florestas
difusão nacional reservas de
nacionais
Nível Nacional -Bloqueios água
-Controle de
generalizados (má -Rejeitos
produtos tóxicos
gestão do tempo). nucleares
-Articulação entre
-Controle de
atividades
tecnologia-
econômicas e meio
Desenvolvimento
ambiente
e meio ambiente
-Impacto de grandes -Gestão de
-Acidente químico
projetos florestas
-Poluição acidental
-Abastecimento de -Equilíbrio rural e
Nível Regional das águas
água de grandes urbano por
Invasão por
empresas e região
espécies exóticas
aglomerações -Proteção do
50
urbanas solo e do lençol
freático
-Controle dos níveis
-Conservação de
de ruído
sítios e
-Tratamento de
paisagens
dejetos poluentes
-Planificação em
-Aplicação de planos -Despoluição do ar
longo prazo do
de alerta para e da água
Nível Local desenvolvimento
poluição atmosférica -Ordenação urbana,
urbano
-Risco de vizinhança espaços verdes
-Tecnologias
-Condições de
limpas
trabalho (danos
-Acesso público
ambientais e
à natureza
sociais).
Fonte: Egler, 1996

De acordo com Dagnino & Carpi Jr (2007), entre todos os tipos de risco
devemos enfatizar quatro que aparecem em destaque sobre o tema: os riscos
naturais, os riscos tecnológicos, os riscos sociais e os riscos ambientais.
Esse estudo se preocupa com a Avaliação do Risco Ambiental, que é a
avaliação dos riscos que as atividades humanas impõem ao ambiente. Os riscos
ambientais resultam da associação entre os riscos naturais e os decorrentes dos
processos naturais agravados pela atividade humana e pela ocupação do território
(VEIYRET & RICHEMOND 2007).
Esses autores enfatizam que apesar dos conceitos e suas definições, a
utilização dos riscos como sinalizador de problemas ambientais é a convicção de que
ao falarmos em risco, estamos direta ou indiretamente falando do ser humano
individualmente ou em sociedade. O risco é um objeto social, como afirmam os
autores:
Não há riscos sem uma população [ser social] ou indivíduo [ser
biológico] que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos. Correm-se
riscos, que são assumidos, recusados, estimulados, avaliados,
calculados. O risco é a tradução de uma ameaça, de um perigo para
aquele que está sujeito a ele e o percebe como tal (VEIYRET e
RICHEMOND 2007, p. 11).

Um dos componentes do risco é o perigo, a conexão entre risco e perigo é


chamada de evento, ou seja, uma situação em que alguém ou algo fica exposto ao
perigo. Portanto, só existe risco quando existir algo ou alguém que esteja exposto a
um perigo (KIRCHHOFF, 2004).
Perigo é a propriedade, condição ou situação de uma substância ou de um
sistema que venha a causar danos. É definido de forma concreta como uma situação
51
física com potencialidade de causar danos ao homem, a bens ou ao ambiente ou a
combinação destes (ANDREWS e MOSS, 1993 apud PIRES, 2005).
Dagnino e Carpi Jr (2007) mencionam o risco antropogênico como outro tipo
bastante abrangente de risco (de anthropos, homem; e gênico, gênese, origem), que
são aqueles originados a partir da condição humana de ser social (cultura) e ser
econômico (produção/reprodução da natureza).
A ação antrópica é mencionada em outras duas modalidades de risco: Riscos
Construídos e Riscos Produtivos (PINTO et al., 2007, apud DAGNINO e CARPI JR,
2007). Os Riscos construídos têm ligação com a temática desse estudo e referem-se
às:
Transformações espaciais construídas sobre o espaço natural,
vinculada à ocupação socioeconômica produtiva espacializada pelas:
edificações prediais, infraestrutura viária, infraestrutura sanitária, etc.,
que geram impactos ao ambiente, de mais ou menos monta,
especialmente se edificadas em locais ambientalmente inadequados.
(PINTO et al., 2007, p.98, apud DAGNINO & CARPI JR, 2007, p.13).

Para Kirchhoff (2004), o uso da Avaliação de Risco (ARA) serve como


ferramenta para a tomada de decisões mais racionais e efetivas onde exista a
possibilidade de danos. A ARA é uma ferramenta importante em análise de novos
empreendimentos ou de empreendimentos já consolidados que possam trazer riscos
ao meio ambiente. Várias são as definições de risco, mas, de maneira geral pode ser
entendida como a combinação de dois conceitos: probabilidade e consequência.

Para Pires (2005) Risco é a possibilidade de ocorrer um dano num


determinado espaço de tempo, isto é, risco representa a probabilidade de um perigo
potencial se manifestar num período de tempo determinado.
O Risco é apresentado também como a combinação da frequência ou da
probabilidade da ocorrência de um evento com a magnitude das suas
consequências. Ou ainda, o risco se apresenta como a probabilidade de um evento
provocar um determinado dano (LOHANI et al 1997 apud PIRES 2005).
O Risco é uma medida da probabilidade e severidade de um efeito adverso
para a saúde, propriedade ou ambiente. O Risco é geralmente estimado pelo produto
entre a probabilidade e as consequências. Entretanto, a interpretação mais genérica
de risco envolve a comparação da probabilidade e consequências, não utilizando o
produto matemático entre estes dois termos para expressar os níveis de risco
(PIRES, 2005).

52
Allen et al. (1992 apud KIRCHHOFF, 2004) definem risco como a
probabilidade de eventos indesejados acontecerem em um período específico ou em
circunstâncias específicas causadas pela realização de um perigo específico,
podendo ser expresso como uma frequência ou uma probabilidade, dependendo da
circunstância.
Para a Society for Risk Analises (SRA), Risco é o potencial da realização de
uma consequência adversa e indesejada à vida humana, saúde, propriedade ou ao
meio ambiente.
O conceito de Risco Ambiental tem a importância significativa na avaliação e
determinação dos alvos de uma política nacional de meio ambiente. Cada problema
ambiental impõe a possibilidade de dano à saúde humana, à natureza, ao sistema
econômico ou à qualidade de vida humana. A Avaliação de Risco é o processo que
estima a forma, dimensão e característica do Risco (KALLORU 1994 apud
KIRCHHOFF, 2004).
Portanto, Avaliação de Risco é o processo de determinação da natureza e da
magnitude de um efeito adverso causado por um perigo.
A Avaliação de Risco pode ser definida como processo de atribuição de
magnitudes e probabilidades aos efeitos adversos de atividades humanas ou de
catástrofes naturais (SUTTER 1993 apud KIRCHHHOFF, 2004).
A Society for Risk Analises (SRA) define Avaliação de Risco como exame
detalhado com o intuito de entender a natureza das consequências negativas e
indesejáveis à vida humana, a saúde, propriedade, ou ao meio ambiente; é um
processo analítico que fornece informações sobre eventos indesejáveis; é o processo
de quantificação dos problemas e das consequências esperadas dos riscos
identificados.
O objetivo da Avaliação de Risco é, essencialmente, gerar informações
necessárias para se tomar a melhor decisão possível levando-se em conta uma
situação de perigo potencial (MOHAMED E ANTIA 1998, apud KIRCHHOFF, 2004).
A Avaliação de Risco Ambiental (ARA) para Kirchhoff, (2004) nada mais é do
que uma ferramenta para tomadas de decisões mais racionais e efetivas no campo
ambiental.
A Avaliação de Risco tenta quantificar os riscos à saúde humana, aos bens
econômicos e aos ecossistemas gerados a partir de atividades humanas e
fenômenos naturais que causam perturbações ao meio ambiente.
53
A Avaliação de Risco apresenta a frequência e a severidade das
consequências adversas ao meio ambiente de atividades ou interações planejadas
(CAPENTER 1995, apud KIRCHHOFF 2004).
Muitas vezes a Avaliação de Risco é subdividida em áreas (risco à saúde
humana, ecologia e segurança), mas qualquer avaliação tem inicio com a
identificação do perigo ou definição do problema. Definidos os perigos a próxima
etapa é a identificação das populações receptoras potenciais e os locais de
exposição. Depois na etapa de caracterização dos riscos, é caracterizada a
magnitude das consequências de tal exposição (KIRCHHOFF 2004).
A quantificação do risco é precedida por meio da avaliação da magnitude das
consequências dos impactos considerados. Os riscos são então quantificados em
termos de riscos sociais ou riscos individuais. O risco individual é o risco para uma
pessoa na vizinhança de um perigo e pode ser calculado para os indivíduos expostos
a ele e para um grupo de indivíduos em particular ou como uma média individual
para uma determinada área (ARAÚJO, 2001).
Outro conceito importante para a temática desse estudo é o de
vulnerabilidade. Para Dagnino e Carpi Jr (2007) a noção de vulnerablidade que se
associa à de risco é matéria para discussão e tem várias formas de ser identificada e
apresentada.
Para os objetivos desse estudo a vulnerabilidade pode ser identificada de
modo a entender as carências que apresenta uma comunidade ou grupo de
indivíduos, pois a abordagem da vulnerabilidade pode ocorrer em diferentes escalas
(individual x social/coletiva e/ou a partir de diferentes temas (social x socioambiental).
Na vulnerabilidade social pode se dividir um espaço em “zonas de
vulnerabilidade”, o que possibilita identificar carências ou vantagens diferenciadas
que, mais além das disponibilidades materiais, possam dar maior poder de resposta
ao conjunto que o espaço desigual impõe aos habitantes (CUNHA, et al., 2003, apud
DAGNINO e CARPI JR, 2007).
A vulnerabilidade socioambiental, proposta por Hogan (2000, apud DAGNINO
e CARPI JR, 2007) traz à tona a questão de associar à abordagem socioambiental
uma série de dados que desnudam a distribuição desigual dos bens e serviços
(coleta de esgotos e resíduos, abastecimento de água encanada, agentes de saúde)
e as desigualdades socioespaciais, materializadas na ocupação diferenciada do
território.
54
A identificação do risco ambiental pressupõe certo grau de subjetividade,
dessa forma, pode ser identificado pela percepção.
Sobre a questão da percepção, Dagnino & Carpi Jr (2007) observam que
utilizar a percepção de riscos permite que se questionem ou coloquem em dúvidas
laudos técnicos e pareceres de pesquisadores, sobre os quais paira alguma dúvida.
As várias formas de percepção dos riscos por pessoas familiarizadas ou
acostumadas com ritmos e as sutilezas das modificações ambientais, permite a
observação de coisas que o especialista, o acadêmico ou o profissional não pode
perceber. A percepção permite: captar os desvios nas médias pluviométricas
mensais; entender porque determinada área é mais vulnerável aos deslizamentos do
que outra com feição geomorfológica semelhante; questionar qualidade das águas
em rios nos quais são lançadas cargas incomuns de poluentes (DAGNINO e CARPI
JR 2007).
Para esses autores:
A percepção construída coletivamente pode representar um
importante ponto de partida para reverter ou controlar os riscos
ambientais. Os componentes do processo perceptivo que se
encaixam nessa abordagem correspondem à intuição, à experiência
coletiva e à experiência pessoal. Enquanto cada cientista trata a
paisagem sob certo enfoque, conforme seus objetivos, o processo
perceptivo, ao contrário, tenta apreender a paisagem com uma visão
integrativa, colocando em evidência a imagem que o habitante faz de
sua paisagem (DAGNINO E CARPI JR 2007, p. 25-26).

Além dessa conceituação já apresentada, não se pode esquecer a


conceituação oficial existente no Brasil, a qual é utilizada e apresentada na Política
Nacional de Defesa Civil, onde estão detalhados os seguintes conceitos:

• Desastre – Resultado de eventos adversos naturais ou provocado pelo


homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos,
materiais e ambientais e consequentemente prejuízos econômicos e
sociais. A intensidade de um desastre depende da interação entre a
magnitude do evento adverso e a vulnerabilidade do sistema e é
quantificada em função de danos e prejuízos.
• Risco – Medida de danos ou prejuízos potenciais expressos em termos de
probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das
consequências previsíveis. Relação existente entre a probabilidade de que
uma ameaça de evento adverso ou acidentes determinados se concretize,
com o grau de vulnerabilidade do sistema receptor de seus efeitos.
55
• Dano – Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante
de um acidente ou evento adverso. Perda humana, material ou ambiental,
física ou funcional, que pode resultar, caso seja perdido o controle sobre o
risco. Intensidade das perdas humanas, materiais ou ambientais induzidas
às pessoas, comunidades, instituições e/ou ecossistemas, como
consequência de um desastre.
• Vulnerabilidade – Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que,
em interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os
efeitos adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis.
• Ameaça – Estimativa de ocorrência e magnitude de um evento, expressa
em termos de probabilidade estatística de concretização do evento e da
provável magnitude de sua manifestação.

2.8.1 Risco e Vulnerabilidade Ambiental

A década de 1960 marcou o início de estudos quantitativos sobre risco


ambiental em várias áreas do conhecimento. O risco foi, inicialmente, concebido
como a possibilidade de que ocorram processos ou circunstâncias adversas que
possam acarretar danos. Na década de 1980, começaram a surgir nas áreas das
ciências sociais, enfoques mais críticos, por meio de estudos em que os riscos foram
trazidos para uma abordagem de maior cunho sociológico e não apenas físico
(BARCELOS e OLIVEIRA, 2008).
Esses autores observam que os estudos sobre risco e vulnerabilidade
começaram a ser considerados imprescindíveis para a compreensão das
características, das transformações urbano-econômicas. O entendimento passou a
ser o de que os riscos têm origem no próprio desenvolvimento científico e
tecnológico que, apesar de seus avanços positivos, adicionam a estes certas
incertezas. Hoje se reconhece que somente por meio dessa perspectiva é possível
abordar, em sua complexidade, as questões envolvendo os temas risco e
vulnerabilidade.
Ao analisar o conceito de Vulnerabilidade, Santos (2007), argumenta que:
O ambiente em que vivemos é formado de sistemas, que podem ser
descritos como um conjunto de elementos que mantêm relações entre
si. Assim, o solo, os recursos hídricos, a vegetação, os campos
agrícolas são elementos estruturais do meio que se relacionam por
meio de fluxos e ciclos. Quando provocamos uma perturbação no
56
equilíbrio desses sistemas, as reações do meio podem ser bastante
diferentes considerando as características locais naturais e da
ocupação humana. Observa ainda que para entendê-lo devemos
considerar também duas questões: a persistência e a resiliência. A
persistência corresponde à medida do quanto um sistema, quando
perturbado, se afasta do seu equilíbrio ou estabilidade sem mudar
essencialmente seu estado. A resiliência representa a capacidade de
um sistema retornar a seu estado de equilíbrio, após sofrer um
distúrbio. (SANTOS, 2007, p. 38).

Barcelos e Oliveira (2008) observam que a noção de vulnerabilidade tem sido


valorizada pelas comunidades científicas que se preocupam com as mudanças
ambientais e a sustentabilidade, é considerada uma categoria analítica importante
para instituições internacionais, como algumas agências das Nações Unidas, tais
como o PNUD, o PNUMA, a FAO e o Banco Mundial. Uma questão bastante
mencionada, por exemplo, é a vulnerabilidade em relação aos recursos hídricos,
traduzida em escassez de água potável e falta de saneamento básico, circunstâncias
que, conjugadas, facilitam a proliferação de doenças de veiculação hídrica.
A vulnerabilidade geralmente é definida como uma situação em que estão
presentes três elementos (ou componentes): exposição ao risco; incapacidade de
reação; e dificuldade de adaptação diante da materialização do risco.
Pode-se pensar, então, genericamente, que a vulnerabilidade está composta
por três elementos: susceptibilidade ao risco, grau de exposição e capacidade da
sociedade se adaptar diante da possibilidade de ocorrência do risco. Nessa
perspectiva, as pessoas, grupos sociais e lugares mais vulneráveis seriam aqueles
mais expostos a situações de risco e com menor capacidade de se recuperar
(ALVES, 2006 apud MOSER 1998,).
A noção de vulnerabilidade social, ao considerar a insegurança e a exposição
a riscos e perturbações provocadas por eventos ou mudanças econômicas, daria
uma visão mais ampla sobre as condições de vida dos grupos sociais mais pobres e,
ao mesmo tempo, consideraria a disponibilidade de recursos e estratégias das
próprias famílias para enfrentarem os impactos que as afetam (CEPAL, 2002).
O termo vulnerabilidade enseja um conceito relativo. Está normalmente
associado à exposição a riscos e determina a susceptibilidade das pessoas, lugar ou
infra-estruturas a situações associadas, em geral, a desastre natural. A construção
do risco, tomada como um somatório de processos em diferentes intervalos
temporais está comumente vinculado, ao modo de vida moderna e à vida cotidiana
nas cidades (BRASIL 2007).

57
Marandola e Hogan (2005) observam que a demografia, à semelhança da
geografia, tem trazido a vulnerabilidade como conceito complementar ao de risco.
Torres, (2000) defende o argumento de que:
A desigualdade ambiental emerge da hipótese de que determinados
grupos sociais, como algumas minorias e grupos de baixa renda,
estariam mais expostos a certos tipos de risco ambiental, tais como
enchentes, deslizamentos, etc. do que outros grupos. Assim, o
reconhecimento de uma situação de risco tem como pressuposto que
os acidentes, em larga medida, são fenômenos sociais, ou seja,
decorrem não de um fenômeno natural em si, mas da relação entre
este fenômeno e os processos históricos de ocupação de
determinados espaços da cidade (BARCELOS & OLIVEIRA 2008, p.
11, apud TORRES 2000).

Ainda para Torres:


Observa-se, ainda, que o risco ambiental não se distribui de forma
aleatória entre os diversos grupos sociais, mas obedece aos padrões
de desigualdade e segregação social que marcam a estruturação das
cidades. Ou seja, são as populações menos favorecidas, por
características de renda, escolaridade, cor, gênero, que residem ou
utilizam os territórios de maior vulnerabilidade ambiental, o que as
coloca numa situação de risco ao desastre ambiental, já que se
sobrepõem vulnerabilidades sociais à exposição a riscos ambientais
(TORRES 2000).

A desigualdade socioambiental pode ser entendida como a exposição de


diferentes grupos sociais às situações de risco ambiental.
Alves, (2006), defende que os indivíduos não seriam todos iguais se
considerarmos a acessibilidade ao ambiente, ficando certos grupos mais vulneráveis
aos riscos ambientais. A hipótese é de que os riscos ambientais são distribuídos de
maneira desigual entre os diferentes grupos sociais assim como a renda e o acesso
a serviços públicos.
Dados da CEPAL (2002) dão conta de que em 1998, 95% das mortes por
desastres ambientais aconteceram nos países pobres. Esses dados reforçam a idéia
de que, independentemente do lugar do planeta, os pobres são sempre as principais
vítimas de catástrofes naturais.

58
3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 Caracterização do Território do Distrito Federal

Segundo a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central – CODEPLAN


(2006), o Distrito Federal está localizado entre os paralelos 15º30’ e 16º30’ de
latitude sul e o meridianos de 47º25’ e 48º12’ de longitude WGr, na região Centro-
Oeste, ocupando o centro do Brasil e o centro-leste do Estado do Goiás, sua área é
de 5.789,16 km², equivalente a 0,06% da superfície do país como demonstra a figura
6, apresentando como limites naturais o rio Descoberto, a oeste e o rio Preto a Leste.
Ao norte e ao sul, é limitado por linhas retas, que definem o quadrilátero
correspondente à sua área.
Limita-se a leste com o município de Cabeceira Grande, pertencente ao Estado de
Minas Gerais, e com os seguintes municípios do Estado de Goiás:
Ao norte: Planaltina de Goiás, Padre Bernardo e Formosa;
Ao sul: Luziânia, Cristalina, Santo Antônio do Descoberto, Cidade Ocidental, e Novo
Gama;
A leste: Cabeceira Grande e Formosa
A oeste: Santo Antônio do Descoberto, Padre Bernardo e Águas Lindas de Goiás.

3.2 Caracterização da Área de Estudo – Região de Sobradinho

3.2.1 Meio Físico

O Distrito Federal está localizado em uma área em que se localizam as


nascentes de três grandes bacias hidrográficas (Tocantins/Araguaia, Paraná e São
Francisco). Os rios do DF possuem pequenas vazões e vem sofrendo a pressão de
uma expansão urbana desordenada em suas margens que compromete a qualidade
e a quantidade das águas para abastecimento da população. A consequência dessa
expansão urbana acelerada é a remoção da cobertura vegetal, a impermeabilização
do solo, que leva à poluição dos cursos d’água, a diminuição das taxas de infiltração

59
aumentando o escoamento superficial das chuvas, facilitando processos erosivos e o
assoreamento dos cursos d’água.
O Distrito Federal está situado nas áreas de altitudes mais elevadas do
Planalto Central do Brasil e apresenta em sua paisagem as Chapadas que ocupam
34% da área do DF, grandes superfícies de relevo plano a suave ondulado ou Vales
Dissecados que corresponde a aproximadamente 35%.
Essa região do Planalto Central é uma divisora de bacias com rios de pequeno
porte, a exemplo do ribeirão Sobradinho e Contagem, afluentes dos rios São
Bartolomeu e Maranhão respectivamente.
No trecho em que o ribeirão Sobradinho tem direção NW corresponde à
Chapada da Contagem. Na direção EW se classifica como Região de Vale
Dissecado do Alto Curso do São Bartolomeu e na APA de Cafuringa o Córrego
Contagem corresponde ao Curso Superior do Maranhão.
Sob o aspecto geológico, o DF está localizado na transição entre as zonas
externas e internas da Faixa Brasília, com rochas dos grupos Canastra, Araxá,
Paranoá e Bambuí. Nessa área são identificadas rochas pertencentes aos grupos
Paranoá e Canastra. O grupo Paranoá ocorre com mais frequência em cerca de 65%
da área do DF (NOVAES PINTO, 1986 apud ZOBY & DUARTE 2001).
Os solos são formados e caracterizados por uma ação combinada do clima,
material rochoso, seres vivos, topografia e variação do tempo. No DF os tipos de
solos têm características de solos de regiões de clima tropical semiúmido e
vegetação de cerrado, apresenta baixa fertilidade, matéria orgânica reduzida,
concentração alta de alumínio e ferro e muita acidez (PELUSO E CANDIDO, 2006).
Os latossolos apresentam baixa capacidade de retenção de água e de troca
de iônica, e alta infiltração. São solos antigos e profundos com mais de 10 metros de
espessura. Esses solos ocorrem em toda área desse estudo que tem relevo de
padrão plano ao norte da Chapada da Contagem e nos vale do ribeirão Contagem
(CAMPOS 2006).
Nessa região predominam os latossolos (vermelho-escuro, vermelho-amarelo
e concrecionários) e cambissolos/litólicos. Ocorrem também os solos hidromórficos e
areias quartzosas.
Os cambissolos e solos litólicos ocorrem em áreas de relevo ondulados a
fortemente acidentado do vale do rio São Bartolomeu. São solos jovens e poucos
profundos.
60
Campos (2006), diz que o padrão do relevo também é diretamente
relacionado ao tipo de rocha. Nessa área o relevo predominante é do tipo
movimentado com grande amplitude altimétrica, vales em V encaixados, alta
densidade de drenagem e com declividade maior que 20% na maior parte da área.
De acordo com a classificação de Koppen o clima do DF enquadra-se entre
os tipos Tropical (Aw) e Tropical de Altitude (Cwa e Cwb). Tem como característica
marcante a existência de duas estações bem definidas: chuvosa no verão e seca no
inverno. As chuvas ocorrem de outubro a abril e o período seco se estende de maio
a setembro (BAPTISTA, 2006).
Ainda de acordo com a mesma fonte o tipo de clima tropical (Aw) – Clima de
Savana tem temperatura do mês mais frio superior a 18º C. Este tipo climático ocorre
nos locais com cotas altimétricas abaixo de 1.000 metros, no caso dessa região
ocorre nas superfícies dissecadas da bacia do rio Maranhão.
Clima Tropical de Altitude (Cwa) tem temperatura no mês mais frio inferior a
18°C com média superior a 22º C no mês mais quente. Ocorrem nos rebordos e
escarpas, intermediárias entre a chapada e os vales dissecados por redes
hidrográficas. Abrange altitudes entre 1.000 e 1.200 metros.
Clima Tropical (Cwb) tem temperatura inferior a 18º C no mês mais frio com
média inferior a 22º C no mês mais quente. Ocorre em áreas com cotas altimétricas
acima de 1.200 metros, presente no Pediplano Contagem/Rodeador.
A temperatura média anual nessa área é de 22º C, enquanto a mínima e a
máxima são respectivamente 16,3 e 27ºC. Os meses mais frios vão de maio a
agosto e corresponde, à estação seca (maio a setembro). Os meses mais quentes
são setembro, outubro e novembro, e apresentam temperaturas médias oscilando
entre 22,8 e 23,3ºC (ZOBY & DUARTE 2001).
Outra característica da área de estudo e do DF no período seco é a
diminuição da umidade relativa do ar, no período mais quente do dia entre 12 e 15
horas, chegando a menos de 20% o que é considerado crítico pela Organização
Mundial de Meteorologia (OMM).
A região apresenta regime de chuvas irregulares. Nos meses mais chuvosos,
novembro, dezembro e janeiro, ocorrem precipitações médias de 725 mm, esses três
meses concentram 49,9% da precipitação anual de (1.453 mm) por outro lado,
praticamente não chove na estação seca. Os três meses mais secos junho, julho e
agosto, apresentam precipitação média de 35 mm (ZOBY & DUARTE, 2001).
61
Segundo a CODEPLAN (2006), as principais bacias hidrográficas do Distrito
Federal são: São Bartolomeu, rio Preto, Descoberto e Maranhão, que drenam 95%
do território, alimentando as grandes bacias do Paraná, Tocantins e São Francisco.
As outras bacias existentes nessa área são as do Corumbá e São Marcos que por
sua vez apresentam uma subdivisão de 36 bacias hidrográficas de unidades
menores, para efeito de planejamento e gerenciamento, as Unidades Hidrográficas
de Gerenciamento, conforme ilustra o quadro 4 abaixo.

Quadro 4 – Bacias Hidrográficas do DF


UNIDADE HIDROGRÁFICA
REGIÃO HIDROGRÁFICA BACIA HIDROGRÁFICA

PIPIRIPAU
MESTRE D'ARMAS
SOBRADINHO
PARANOÁ
RIO SÃO BARTOLOMEU TABOCA
PAPUDA
CACHOEIRINHA
SANTANA
SAIA VELHA / MARIA
PEREIRA
SANTA MARIA / TORTO
BACIA DO PARANÁ
BANANAL
LAGO PARANOÁ
LAGO PARANOÁ
RIBEIRÃO DO GAMA
RIACHO FUNDO
LAGO DESCOBERTO
DOIS IRMÃOS
RIO DESCOBERTO MELCHIOR / BELCHIOR
BURITI
ENGENHO DAS LAGES
ALAGADO / PONTE ALTA
RIO CORUMBÁ
SANTA MARIA
RIO SÃO MARCOS SAMAMBAIA
SANTA RITA
JACARÉ
SÃO JOSÉ
EXTREMA
BACIA DO SÃO FRANCISCO RIO PRETO
BURITI VERMELHO
ALTO JARDIM
MÉDIO JARDIM
BAIXO JARDIM
CAPÃO DO LOBO
SÃO BERNARDO
BACIA DO TOCANTINS / VEREDA GRANDE
RIO MARANHÃO
ARAGUAIA SONHÉM
PEDREIRA
PALMA
Fonte: IEMA/SEMATEC/DF, 2004

62
Como demonstra o mapa Hidrográfico do DF (FIGURA 5), a bacia do rio São
Bartolomeu é a maior dentro do DF, com aproximadamente 50% da área total,
equivalente a 2.864,05 km². Apesar de sua extensão, a rede hidrográfica local não
oferece condições de navegabilidade e nem para pesca em escala comercial. A
bacia do rio Preto, equivalente a 23% da área total e drena 1.343,75 Km²; o rio
Descoberto com 14% da área total drena 825,0 Km² e o rio Maranhão, com 13%,
drena 750,0 km².
Os rios do Sal, da Palma, os ribeirões da Contagem, Cafuringa, da Pedreira,
Dois Irmãos e seus tributários localizados na APA de Cafuringa são drenagens
perenes encontradas nessa área. São drenagens de pequeno porte e apresentam
vazões inferiores a 10 m³/s. Esses rios são tributários do Rio Maranhão que forma a
Bacia hidrográfica do Tocantins, e o Córrego Paranoazinho, a sudeste, integra a
Bacia do Rio São Bartolomeu que drena para a Bacia do Paraná (SEMARH, 2006).
Nessa APA a distribuição das águas subterrâneas também é estritamente
controlada pelo substrato rochoso. Devido ao grau de permeabilidade das rochas, a
água subterrânea apenas pode ocupar os espaços gerados pelas fraturas ou pela
dissolução do carbonato, o que resulta nos sistemas denominados, respectivamente,
aquíferos fraturados e aquíferos cársticos (CAMPOS 2006).
Dentre os fatores que determinaram a escolha da área para a construção de
Brasília estão a quantidade e a qualidade da água como demonstra o trecho do
relatório Cruls, citado por Candido e Peluso (2006, p. 19) a seguir:
O sistema hidrográfico da zona demarcada é, com efeito, de uma
riqueza tal que qualquer que seja o lugar escolhido para edificação da
futura Capital, encontrar-se-á sem grandes dificuldades, água
suficiente para abastecê-la à razão de 1.000 litros diários por
habitante.

63
Figura 5 – Mapa das Regiões Hidrográficas do DF, em destaque as Regiões Hidrográficas do rio São
Bartolomeu e a do rio Maranhão na área de estudo.

3.2.2 Meio Biótico

Segundo a CODEPLAN (2006) o cerrado, em sentido amplo caracteriza a


vegetação do Brasil Central. O DF encontra-se encravado no núcleo da região dos
cerrados, que aqui alcança sua expressão mais típica, cobrindo cerca de 90% da
área. Encontram-se, todos os tipos de vegetação comumente englobados sob o
termo cerrado, que, enquanto tipo fisionômico, encerra uma gama de aspectos
naturais, que vão desde o campo limpo, muito aberto, até o cerradão, com árvores
de porte elevada e alta densidade, passando pelo campo sujo, cerrado ralo e cerrado
típico.
Ainda de acordo com a mesma fonte, o DF dispõe de uma flora rica e variada
que de acordo com levantamentos botânicos foram registradas a ocorrência de cerca
de 1600 espécies de plantas, distribuídas em 600 gêneros pertencentes a 150
famílias. 950 dessas espécies são naturais dos campos, cerrados e outros ambientes
64
diferentes de matas, onde ocorre cerca de 650 espécies entre as quais espécies
fornecedoras de madeira, cortiça e tanino; plantas forrageiras; plantas medicinais;
para ornamentação; plantas fixadoras de nitrogênio, importantes para a agricultura; e
outras para os mais variados usos.
Nessa área encontram-se todas as fitofisionomias desse bioma como: o
Cerrado Sticto Sensu, o Cerradão, Matas de Galeria, Vereda, e Campos, dividido
em: Campo Limpo, Campo Sujo e Campo rupestre (SEMARH, 2006).
O DF possui uma fauna típica do cerrado. Está dividida em três componentes,
segundo os tipos de habitat que as espécies frequentam:
Espécies umbrófilas, amigas da sombra, restritas às formações florestais
(matas ciliares e matas secas), mas que também podem ocorrer nos cerradões e
veredas, tais como: jacu, sagui-estrela, tangará-de-crista vermelha, veado mateiro e
macaco prego;
Espécies heliófilas, amigas do sol, restritas às formações abertas (cerrados,
campos limpos rupestres), mas que também podem viver nos cerrados e veredas. É
a mais típica e característica do Distrito Federal. Como exemplo pode-se citar o lobo-
guará, a perdiz, a seriema, o teiú, o joão-bobo e o tatu-galinha; e,
Espécies ubíquas, presentes em todas as partes, formadas por espécies de
ampla valência ecológica, que podem frequentar praticamente qualquer tipo de
habitat da região, tanto aberto quanto fechado.

3.2.3 Meio Antrópico

Segundo dados da Administração Regional (2006), a cidade de Sobradinho,


objeto desse estudo, foi fundada em 13 de maio de 1960 com a finalidade de alojar
famílias oriundas da Vila Amauri e de outros acampamentos de operários de firmas
construtoras, que se localizavam próximos à Vila Planalto e ao Plano Piloto e que foi
submersa pelo Lago Paranoá e, também para acolher funcionários da NOVACAP
(Companhia Urbanizadora da Nova Capital) e do Banco do Brasil. Contudo, a Região
Administrativa de Sobradinho RA-V só foi criada em 21/10/1964 pela Lei nº 4.545/64.
Teve sua criação confirmada pela Lei nº 49/89 e pelo Decreto nº 11.921/89.
Segundo a CODEPLAN (2006) a Região Administrativa ocupa uma área de
287,60 km², com uma população de 61.290 habitantes dados de 2004. Está situada a
22,1 km a nordeste do Plano Piloto. Limita-se ao norte paralelo 15°30’ sul com o

65
Estado de Goiás (Planaltina de Goiás), a leste com Planaltina-DF. Duas rodovias
constituem o limite sul, a EDF 001, que a separa de Brasília e a DF 250 (BR 479)
que a separa do Paranoá, a oeste pela EDF 170 que a separa de Brazlândia.

Tabela 3 – Limites de Sobradinho


Norte – Paralelo 15º30´S.
Sul – DF – 250; DF – 001.
Leste – Rio Maranhão; rio Palmeiras; córrego João Pires; córrego Terra Branca;
linha que une as nascentes dos córregos Terra Branca, Chapadinha;
Corguinho e córrego do Meio; rio São Bartolomeu.
Oeste – DF – 001; DF – 170.
Fonte: CODEPLAN, 2006

Nas Regiões Administrativas de Sobradinho e sobradinho II a grande maioria


da população está concentrada na área urbana, ou vivem em áreas de condomínios
ou loteamentos que se constituem áreas urbanas ou semi-urbanas, ou seja, a maior
parte da população dessa região considerada como de área rural, ocupa na verdade
áreas com características de zona urbana (ZOBY e DUARTE, 2001).
Em Contagem da População do IBGE (2007) a região apresenta uma
população de 194.890 habitantes, com uma densidade demográfica de 340,35
hab./km² sua população representa 6,28% da população e sua área representa
9,89% da área do DF.
A região tem como principais características o parcelamento e o
desmembramento de áreas rurais. A dinâmica populacional vem sendo marcada pela
demanda habitacional que se realiza através dos condomínios e loteamentos em
zonas rurais. Nestes locais não existe infraestrutura saneamento básico e o
abastecimento de água é realizado, na sua grande maioria, através de poços
tubulares profundos.
Sobradinho possui aproximadamente 20% dos condomínios do Distrito
Federal. Ou seja, segundo números da Administração Regional, 128 parcelamentos,
divididos em oito Setores Habitacionais, dentre os quais muitos sem a mínima
infraestrutura. Em contrapartida, alguns apresentam uma estrutura igual ou superior
a de algumas cidades do DF. Para conter o crescimento desordenado do Distrito
Federal foi implementado na cidade, além do (PDOT), Plano Diretor de Ordenamento
Territorial e Urbano, o (PDL) Plano Diretor Local que não conseguiram conter esse
crescimento (LIMA & ANJOS, 2002)

66
De acordo com SEDUH (2006) os 128 condomínios foram divididos em
Setores Habitacionais, a saber:
1. Boa Vista com 14 parcelamentos, 6.736 habitantes;
2. Contagem com 38 parcelamentos, 12.973 habitantes;
3. Fora de Setor Habitacional com 23 parcelamentos;
4. FERCAL com 7 parcelamentos, com 6.690 habitantes;
5. Grande Colorado com 11 parcelamentos, com 10.367 habitantes;
6. Nova Colina com 12 parcelamentos, com 5.973 habitantes;
7. Região dos Lagos com 13 parcelamentos, com 67.418 habitantes;
8. Setor de Mansões de Sobradinho, com 10 parcelamentos, com 14.297
habitantes, perfazendo um total de 124.454 habitantes sem a apuração dos
habitantes dos 23 parcelamentos Fora de Setor Habitacional.
A criação de novas áreas urbanas determinou um crescimento populacional
acelerado como demonstra Peluso e Candido (2006). Em 1960 ano de sua
implantação, Sobradinho tinha uma população de 8.479 habitantes, 19.247 em 1964,
39.982 em 1970, 69.094 em 1980, 81.333 em 1991, 90.550 em 1995 e 128.789 em
2000. Verifica-se um crescimento contínuo desde a implantação da cidade e uma
aceleração no crescimento populacional a partir 1990 por causa da criação de
Sobradinho II e a implantação dos condomínios na região. Veja evolução da
população entre 1960 e 2000 na tabela abaixo.

Tabela 4 – Evolução da População de Sobradinho – 1960-2000


Ano população
1960 8.479
1964 19.247
1970 39.982
1980 69.094
1991 81.333
1995 90.550
2000 128.789
Fonte: Peluso & Candido, 2006

O mapa a seguir mostra a dimensão da região de Sobradinho em relação ao


Distrito Federal.

67
Figura 6 – Mapa da Região de Estudo em relação ao Distrito Federal

A área urbana de Sobradinho está dividida em: Setor Administrativo, Hoteleiro,


Comercial, Central, Industrial, Esportivo, Setor de Grandes Áreas, Sobradinho II,
Novo Sobradinho e diversos condomínios e recentemente foi criado o Setor de
Expansão Econômica. A área rural é composta pelos núcleos rurais Sobradinho I e II,
Áreas Isoladas: Serandi, Mogi, Buraco, Paranoazinho, Córrego do Meio, Contagem e
São João.
As atividades industriais se desenvolvem principalmente na região da
FERCAL com a indústria de cimento. (acrescentar informação).
O centro urbano da cidade de Sobradinho está localizado numa latitude de
15º39’30” Sul e a uma longitude de 47º47’35” Oeste. Tem uma altitude de 1.105
metros acima do nível do mar no centro da cidade. Contudo, a altitude em seu
território varia de 740 a 1.301 metros.
As variações altimétricas do relevo da Região apresentam níveis
correspondentes a: superfícies planas, nas cotas acima de 1200m, sendo 1301m a
altitude máxima aproximada, (Chapada da Contagem), cobertas predominantemente
68
por reflorestamento; superfície, nas cotas de 1000 a 2000 m, cobertas por cerrado,
cerradão, mata ciliar e reflorestamento. A altitude média aproximada da cidade é de
1120 m; superfície nas cotas inferiores a 800 m até 1000 m, coberta por
cerrado, cerradão, cerrado ralo, mata subcaducidófila e algumas manchas de mata
ciliar.
A sua rede de drenagem é composta de cursos d'água que fazem
parte das Bacias dos rios Maranhão e São Bartolomeu, destacando se, na região, o
ribeirão Sobradinho, afluente do São Bartolomeu e o ribeirão da Contagem, afluente
do Maranhão.
Encontram-se localizadas nessa região a APA São Bartolomeu, parte da APA
de Cafuringa, áreas diversas como Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho
(Antigo Horto Florestal), Colégio Agrícola de Brasília, Parque Ecológico dos
Jequitibás, Parque Ecológico Canela de Ema e o Parque Recreativo de Sobradinho
II, Área de Proteção de Manancial (APM) do Paranoazinho e Contagem, Reserva
Biológica (REBIO) da Contagem, loteamentos ou condomínios irregulares, invasões
e áreas de reflorestamento.
Segundo Vasconcelos (1998), o plano arquitetônico original da cidade de
Sobradinho de autoria do urbanista Paulo Hungria Machado, da equipe de Lúcio
Costa, era composto de 17 quadras residenciais, de áreas comerciais (Comércio
Local) elaborado de acordo com as especificações legais, dividiu a cidade nos
seguintes setores:
Setor residencial Comercial, Unidade celular da cidade, formada por conjuntos
divididos em projeções, (destinadas à habitação coletiva), lotes residenciais e lotes
comerciais. Nas laterais de cada quadra encontram-se áreas reservadas ao comercio
local (CL) em cujas extremidades ficam as áreas especiais e as áreas reservadas.
Foram previstas, também, áreas para escolas, cinemas, igrejas, clubes e praças de
esporte.
Quadra Comercial, localizada no centro da cidade é formada por quadras e
setores relacionados a seguir:
Quadra Central, O conjunto A é dividido em lotes residenciais, e os outros
conjuntos, em projeções para as atividades de comércio e serviços.
Setor Comercial Central, neste setor localizam-se bares, restaurantes,
farmácias, joalherias e relojoarias, rodoviária, supermercados, feiras, escritórios para
profissionais liberais, agências bancárias, cinemas e outros serviços.
69
Setor Administrativo abriga a sede da Administração Regional, CEB, CAESB,
FORUM, Inspetoria de Saúde e outros serviços públicos.
Setor Hoteleiro é destinado à construção de hotéis e restaurantes. Próxima a
este setor está a Rodoviária.
Setor Industrial é destinado a oficinas em geral, pequenas fábricas e
depósitos. O mesmo ocorre com o recém-criado Setor de Expansão Econômica
localizada na margem direita da BR 020 criado para complementar as atividades do
Setor Industrial.
Isoladas se destinam a postos de gasolina, áreas especiais para a instalação
de indústrias e depósitos Áreas que exijam cuidados especiais (depósito de gás, por
exemplo), e áreas especiais destinadas a serviços públicos e clubes recreativos.
A área ocupada pelo loteamento de Sobradinho é de 11.542.890 m² (11,54 Km²), dos
quais 4.126.444 m² (4,12 Km²) correspondem a lotes destinados a venda, 1.191.340
m² (1,19 km²) ao arruamento, e 6.225.106 m² (6,22 Km²) estão reservados aos
parques, jardins e serviços de utilidade pública.
A cidade sofreu algumas modificações no seu projeto urbanístico inicial a
partir de 1980 com o acréscimo da Quadra 18, criada para fixar moradores de
invasões. Em 1989 com a expansão urbana de Sobradinho II e, a partir de 1990 com
a implantação dos Condomínios irregulares.
A área de expansão urbana de Sobradinho II foi criada no início de 1990 como
partes integrantes da Região Administrativa de Sobradinho, com o objetivo de
atender ao Programa de Assentamento de Populações de Baixa Renda do Governo
local. Em 2004 essa área foi desmembrada de Sobradinho pela Lei Nº 3.314/2004,
passando a integrar a RA – XXVI.
De acordo com a CODEPLAN, (2006), a Região Administrativa de Sobradinho
II abriga uma população de 71.805 habitantes, integra os vários condomínios
“irregulares” dessa região, com exceção do Império dos Nobres e do Rural
Residencial RK. Tem uma área de 285 Km², contudo, os seus limites ainda não
foram definidos.
O modelo de ocupação dos condomínios irregulares surgiu no Distrito Federal
a partir de 1989 por falta de política habitacional do governo local. Na região de
Sobradinho esses parcelamentos estão localizados na região do Grande Colorado,
no Setor de Mansões de Sobradinho, na FERCAL, na rodovia DF 425, DF 150, parte
dos condomínios da BR-020, expansão urbana do Lago Oeste, etc.
70
As atividades rurais se desenvolvem em chácaras e granjas que apresentam
um bom nível de produção agropecuária nos núcleos rurais de Sobradinho I e II e
nas áreas isoladas: Sarandi, Sonhém de Cima, Mogi, Buraco (FERCAL),
Paranoazinho, Córrego do Meio e Contagem, Colônia Agrícola São João e outras. E
as atividades industriais se desenvolvem principalmente na região da FERCAL com
as fábricas de cimento CIPLAN e Tocantins.
Segundo dados da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
CODEPLAN (2004), a população urbana residente por sexos é composta de 61.290
habitantes, sendo que 33.355 habitantes são do sexo feminino representando de
54,4% da população, e 27.935 do sexo masculino representando 45,6% desse
número. Observa-se a mesma tendência em relação a Sobradinho II que tem uma
população de 71.805 habitantes sendo 34.293 do sexo masculino compondo 45,6%
e 37.512 do sexo feminino que representa 54,4% desse número, conforme a tabela
abaixo.

Tabela 5 – População Urbana Residente por Sexo – Sobradinho e Sobradinho II


– 2004
MASCULINO FEMININO TOTAL
NÚMERO % NÚMERO % NÚMERO
27.935 45,6 33.355 54,4 61.290 100,0
34.293 47,8 37.512 52,2 71.805 100,0
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

Mais da metade da população 50,4% é natural do Distrito Federal e o restante


é procedente de todas as regiões do país, onde o maior número procede das regiões
Nordeste com 21,9%, seguida do Sudeste com 15,7% e Centro-Oeste com 6,7%
respectivamente.

71
Figura 7 – Naturalidade da População Urbana Residente Sobradinho – Sobradinho – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

A mesma tendência que se verifica também em relação à População Urbana


Residente em Sobradinho II que tem 51,1% da população natural do DF, 25,4%
natural da região Nordeste, 11,6 do Sudeste e 7,6 da Região Centro-Oeste,
conforme indica a figura a seguir.

72
Figura 8 – Naturalidade da População Urbana Residente – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

Quanto ao mercado de trabalho os maiores empregadores são a


Administração Pública do GDF com 5.659 trabalhadores, o comércio com 4.282, e a
Administração Pública Federal com 2.904, os serviços domésticos com 2.527, os
serviços em geral com 1.048, outras atividades com 5.389 trabalhadores, seguido de
outras áreas com menor número. Apesar de ter a presença de trabalhadores em
todos os setores da atividade econômica como demonstra a figura abaixo.

73
Figura 9 – População Urbana Residente, com 10 anos e mais de idade por Atividade Principal
Remunerada, segundo os Setores – Sobradinho – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

Nesse aspecto, em relação à população de Sobradinho II se verifica que o


comércio com 6.495 trabalhadores é o maior empregador, seguido da Administração
Pública do GDF com 3.723, dos Serviços Domésticos com 2.212, Serviços em Geral
com 1.316, Administração Pública Federal com 1.120, Outras Atividades com 9.014,
seguida de outras com menor número de trabalhadores conforme a figura abaixo.

74
Figura 10 – População Urbana Residente, com 10 anos ou mais de idade por Atividade Principal,
segundo os Setores – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD

A renda bruta média mensal domiciliar da população de Sobradinho é de R$


2.401,00 (dois mil quatrocentos e um reais) que corresponde a 9,2 salários mínimos
e a renda per capta é de R$ 623,00 (seiscentos e vinte três reais) que corresponde a
2,4 salários mínimos de acordo com números da Pesquisa Distrital por Amostra de
Domicílio de 2004. A Distribuição dos Domicílios por Classe de Renda Bruta Mensal
encontra-se da seguinte forma: 42,9% da população ganha até um salário mínimo
mensal, 5,9% entre 1 e 2, 13,4% de 2 a 5, 15,4% de 5 a 10, 15,7% de 10 a 20 e
6,7% ganham mais de 20 salários mínimos como ilustra a figura 11.

75
Figura 11 – Distribuição dos Domicílios por Classe de Renda Bruta Mensal – Sobradinho-2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

Percebe-se de acordo com a figura 12 que a renda bruta média mensal e


domiciliar da população de Sobradinho II está abaixo dos níveis da renda da
população de Sobradinho. Encontra se percentualmente distribuída como se segue:
24,3% da população ganha até 1 salário mínimo mensal, 16,5% de 1 a 2, 23,2% de 2
a 5, 17,6% de 5 a 10, 14,4% de 10 a 20 e 4,1% ganha mais de 20 salários mínimos.

76
Figura 12 - dos Domicílios por Classe de Renda – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio – PDAD – 2004

A população na zona urbana de Sobradinho conta em seus domicílios com


100% de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo; 91,3% de
ruas asfaltadas e de meio-fios; 90,6% de calçadas e de rede de águas pluviais; e,
com 98,9% de iluminação pública (Tabela 6).
Segundo Vasconcelos (1998) com a Revolução de 1964, o prefeito Plínio
Cantanhede revitalizou Sobradinho, fazendo dela uma cidade experimental, do que
muito se beneficiou a cidade. Asfalto, iluminação pública, escolas, saúde, telefones,
água e esgoto.

77
Tabela 6 – Distribuição dos Domicílios Segundo Algumas Características de
Infraestrutura Urbana – Sobradinho – 2004
DESCRIÇÃO %
ABASTECIMENTO DE ÁGUA 100,0
Rede Geral 87,7
Poço/Cisterna 0,8
Poço Artesiano 11,3
Outros 0,2
ESGOTAMENTO SANITÁRIO 100,0
Rede Geral 87,4
Fossa Séptica 9,2
Fossa Rudimentar 3,4
COLETA DE LIXO 100,0
Serviço de Limpeza Urbana 96,2
Queimado ou Enterrado 0,6
Outro Destino 3,2
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

Em relação a Sobradinho II os dados apresentam diferenças consideráveis no


que se refere à distribuição de água e esgotamento sanitário porque fazem parte
dessa área os condomínios irregulares que são abastecidos em sua maioria por
poços tubulares profundos e por cisternas e não dispõem de rede de esgotos. Conta
com 100% de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, contando com
fossa séptica e fossa rudimentar nos condomínios, 100% de coleta de lixo como
demonstra a (Tabela 7).

Tabela 7 – Distribuição dos domicílios segundo algumas Características de


Infraestrutura Urbana – Sobradinho II 2004
DESCRIÇÃO %
ABASTECIMENTO DE ÁGUA 100,0
Rede Geral 49,1
Poço/Cisterna 2,1
Poço Artesiano 48,8
ESGOTAMENTO SANITÁRIO 100,0
Rede Geral 47,9
Fossa Séptica 49,5
Fossa Rudimentar 2,4
Vala 0,2
COLETA DE LIXO 100,0
Serviço de Limpeza Urbana 99,4
Queimado ou Enterrado 0,3
Jogado em Terreno Baldio 0,3
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004

O setor econômico primário está subdividido em Áreas de Produção de


Grandes Culturas: produz arroz, feijão, milho, soja; de Produção Hortaliças e de
78
Frutíferas; e Efetivo do Rebanho Bovino para produção de carne e leite; de Suíno
para produção de carne e de Aves para produção de carne e ovos. O setor
secundário é representado pela construção civil que se ocupa principalmente da
construção de residências. O setor terciário é representado pelo comércio e serviços.
A Área de produção conta com uma área de 887 hectares em formação, com
uma produção de 6.089,40 toneladas de grãos por ano (Tabela 8).

Tabela 8 – Área de Produção de Grandes Culturas – Sobradinho – 2005


Ano/Safra
Grandes Culturas 2005(2004/2005)
Área (há) Produção (t)
Total 887,00 6.089,40
Formação 881,00 6.089,40
Formação 6,00 -
Arroz 20,00 16,64
Feijão 60,00 59,40
Milho 557,00 1.949,00
Soja 160,00 432,00
Café - -
Produção 6,00 17,40
Formação 3,00 -
Outras 78,00 3.614,96
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006

A produção de hortaliças (Tabela 9) ocorre numa área de 442,90 hectares


com uma produção de 9.774,90 toneladas que são comercializadas em todo o
Distrito Federal. Bem como a produção de frutíferas (Tabela 10), ocorre em uma área
de 168,50 hectares com uma produção de 1.857,75 toneladas de frutas variadas.

Tabela 9 – Área de Produção de Hortaliças – Sobradinho - 2005


Ano/Safra
Hortaliças 2005(2004/2005)
Área (ha) Produção (t
Total 442,90 9.774,90
Alface 23,00 584,00
Beterraba 5,00 90,00
Cenoura 21,00 460,00
Milho verde 61,00 671,00
Pimentão 10,20 336,00
Repolho 5,00 220,00
Tomate 17,80 1.370,50
Outras 299,90 6.043,40
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006
79
Tabela 10 – Área de Produção de Frutíferas – Sobradinho – 2005
Ano/Safra
Frutíferas 2005(2004/2005)
Área (ha) Produção
Total 168,50 2.857,75

Banana 40,50 238,75


Goiaba 2,00 32,00
Laranja 15,00 90,00
Limão 10,00 150,00
Maracujá 5,00 35,00
Manga 40,00 320,00
Tangerina 3,00 57,00
Outras 53,00 1.935,00
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006

O rebanho bovino é composto por 12.090 cabeças com uma produção


efetiva de 509.390 kg que corresponde a 11,20% da produção do carne bovina do
DF e produção de 3.089.000 litros de leite correspondente a 9,23% da produção do
DF (Tabela 11).

Tabela 11 – Efetivo Rebanho Bovino, Produção de Carne e Leite – Sobradinho


2005
Produção de Produção de Leite
Rebanho Carne
Bovino
(Cabeças) Quantidade Participação Quantidade Participação
(Kg) na Produção (l) na
do DF Produção
(%) do DF
(%)
12.090 509.390 11,20 3.089.000 9,23
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006

O rebanho suíno tem um efetivo de 12.500 cabeças com uma produção de


1.409,250 kg de carne que corresponde a 13,63% da produção de carne suína do
DF (Tabela 12).

80
Tabela 12 – Efetivo Rebanho Suíno, Produção de Carne – Sobradinho 2005
Rebanho Suíno Quantidade de Produção Participação na
(Cabeças) (Kg) Produção do DF (%)
12.500 1.409,250 13,63
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006
O efetivo das aves conta com 228.800 cabeças, produzindo 2.221,750 kg de
carne, 2,01% da carne de frango do DF, e produz 296.000 dúzias de ovos que
equivale a 0,85% da produção do DF (Tabela 13).
Esses dados sobre a produção agropecuária são válidos para as duas
Regiões Administrativas.

Tabela 13 – Efetivo das Aves e Produção de Carne e Ovos – Sobradinho 2005

Produção de Produção de Ovos


Rebanho Aves Carne
(Cabeças)
Quantidade Participação Quantidade Participação
(Kg) na Produção (Dz.) na Produção
do DF do DF
(%) (%)
228.800 2.221,750 2,01 296.000 0,85
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006

81
4. MATERIAL E MÉTODOS

Para avaliar os efeitos socioambientais da ocupação urbana na região de


Sobradinho utilizou-se o método da Avaliação de Risco Ambiental – ARA,
sistematizado por Page (1978). É um método que dispõe de um modelo que
possibilita analisar, avaliar e potencializar os riscos ambientais derivados de usos
antrópicos determinados por fatores naturais que decorrem desse uso.
Para realizar essa Avaliação dos Riscos Ambientais a aplicação do método
teve como foco específico o uso e a ocupação desordenada do solo para expansão
urbana, verificado a partir do final da década de 1980 e início da de 1990 na região
de Sobradinho DF, identificada na figura 6.
Essa pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira foi realizada uma
revisão bibliográfica abrangendo uma análise histórica da ocupação humana do DF e
da região de Sobradinho, a verificação de aspectos ambientais da área de estudo
contidos no Relatório Cruls de 1894 e uma abordagem do processo de parcelamento
do território no DF que possibilitou identificar os riscos socioambientais do uso e
ocupação desordenada do solo verificada na área objeto desse estudo.
Buscaram-se ainda informações por meio de conversas informais com
pessoas residentes na área, com pessoas ligadas a Sindicatos, ONGs, Associações
de Moradores, Síndicos de condomínios, Igrejas, funcionários públicos, etc.
Na segunda etapa foi desenvolvida pesquisa de campo para identificar as
áreas de risco ambiental e relacioná-las ao processo de expansão urbana que vem
ocorrendo nessa área. Contudo, no presente estudo a identificação do risco
ambiental pressupõe um grau de subjetividade.
A revisão bibliográfica propiciou uma análise histórica do uso e ocupação do
solo antes, durante e depois da construção de Brasília.

4.1 Área do Estudo

A escolha da região de Sobradinho para a realização desse estudo se deu em


razão da expansão urbana desordenada ocorrida nessa área e da degradação
ambiental intensificada a partir década de 1990 que descaracterizou o processo de

82
planejamento inicial que marcou a história da construção de Brasília e das primeiras
cidades satélites do DF.

4.2 Áreas Investigadas

Os dados da pesquisa de campo relacionam-se à áreas de fragilidade


ambiental e de uso controlado em pontos diferentes da região de Sobradinho como o
parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho, dos Jequitibás, Recreativo de
Sobradinho e Canela-de-Ema, a Reserva Biológica da Contagem e a área de
expansão urbana de Sobradinho.

4.3 Instrumentos Usados na Coleta de Dados

Os dados foram coletados por meio de pesquisa de campo utilizando-se de


observação não participante e assistemática que de acordo com LAKATOS E
MARCONI (2007), é aquela em que o pesquisador sabe o que pretende observar,
porém, não apresenta um planejamento e controle previamente elaborados.
Os dados foram coletados pelo pesquisador e por um fotógrafo que
documentou por meio de imagens todas as áreas observadas.

4.4 Coleta de Dados

Os dados foram coletados em sete etapas, duas em dezembro de 2008, uma


em fevereiro de 2009, duas em julho de 2009 e duas em janeiro e julho de 2010. As
visitas a campo ocorreram na ordem cronológica a seguir:
1) Dia 10 de dezembro 2008 – Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho
(Horto Florestal);
2) Dia 11 de dezembro de 2008 - Núcleo Rural II de Sobradinho, Pólo de
Cinema e Vídeo;
3) Dia 24 de fevereiro de 2009 – Área dos Condomínios do Grande Colorado,
DF 425 e da DF 150, Reserva Biológica da Contagem;

83
4) Dia 09 de julho de 2009 – Vila Rabelo I e II, Condomínio Morada dos
Nobres, Recanto Real e Recanto dos Nobres e córrego Paranoazinho;
5) Dia 11 de julho de 2009 – BR-020, Condomínio RK.
6) Dia 09 de janeiro de 2010 – Orla urbana do Ribeirão Sobradinho, incluindo
o Parque Ecológico dos Jequitibás e o Recreativo de sobradinho II;
7) Dia 12 de julho de 2010 – Região da FERCAL, Parque Canela de Ema e
Sobradinho II.

4.5 Tratamento dos Dados

Finalizada a coleta dos dados foi feita a hierarquização das áreas com
vulnerabilidade a riscos ambientais e a identificação dos tipos de riscos a serem
avaliados. Para isso tomou-se como base a Pesquisa de Informações Básicas
Municipais – (MUNIC) do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística – (IBGE),
publicada em 2005. Essa pesquisa investigou informações ambientais em todos os
municípios brasileiros.
Para efeito dos objetivos dessa dissertação, adotou-se o risco derivado do
meio ambiente criado ou construído. Considerou-se que os elementos sob risco são:
a população, as edificações, e as obras de engenharia, as atividades econômicas, os
serviços públicos e a infraestrutura de acordo com Castro et al., (2005). E também os
recursos naturais da área.
Por fim, será feita a análise e a interpretação dos resultados da Avaliação dos
Riscos Ambientais e a elaboração das Conclusões e Sugestões.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e
exploratória baseada no método dialético, que se fundamenta na dialética proposta
por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a novas
contradições, que passam a requerer solução. Considera que os fatos não podem
ser considerados fora do contexto social, político, econômico, cultural, etc. (GIL,
1999; LAKATOS; MARCONI, 1993).
Embora a abordagem quantitativa não tenha que, necessariamente, estar em
oposição, à abordagem qualitativa, as análises e interpretações graças à natureza da
realidade investigada, não pode ser apenas descritas ou qualificadas (REIS, 2003).

84
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Risco e Vulnerabilidade Ambiental na Região de Sobradinho

O presente estudo é resultado do levantamento de dados sobre o método da


avaliação do risco ambiental - ARA e de dados históricos da ocupação humana de
Sobradinho com base em considerações sobre aspectos ambientais da região
contidas no relatório Cruls de 1894 até os dias atuais. Partiu, também, da percepção
obtida por meio da observação da ocupação desordenada do espaço urbano dessa
região ha vários anos, e da observação das situações de riscos ambientais
verificadas em algumas saídas de campo.
O risco ambiental resulta de três categorias básicas: (risco natural, risco
tecnológico e risco social) e que eles estão presentes nas cidades por causa das
relações sociais.
Essa análise é pertinente uma vez que a economia da região está centrada na
prestação de serviços e que a maior parte da população trabalha no Plano Piloto,
onde estão localizados os órgãos públicos e as atividades do setor de serviços. Isso
caracteriza Sobradinho como uma “cidade-dormitório”, como todas as outras cidades
satélites do DF. O risco tecnológico também se evidencia em razão da presença de
pequenas indústrias e da indústria de cimento localizada na região FERCAL.
Dessa forma, se analisa aqui os riscos ambientais provocados por processos
naturais que se agravam pela atividade humana e pela ocupação do território.
Os riscos ambientais em Sobradinho, para efeito dessa pesquisa apresentam-
se nos seguintes ambientes: leitos de rios, córregos e ribeirões, área com declividade
acentuada e encostas.

A região de Sobradinho tem como característica marcante o intenso


parcelamento do solo intensificado na década de 1990. Esses parcelamentos, ao
contrário da região urbana de Sobradinho e de Sobradinho II não dispõem de
saneamento básico e têm o seu abastecimento de água feito por meio de poços
tubulares profundos, ou seja, água subterrânea de domínio rochoso.

85
A coleta de esgotos desses parcelamentos é feita por meio de fossas e
sumidouros que despejam o esgoto diretamente no solo promovendo o risco de
contaminação do subsolo.
A análise da ocupação urbana de modo geral e também especificamente nas
Áreas de Preservação Permanentes (APPs) como ocorre nessa área é defendida
pela legislação ambiental e se reveste de vital importância para o monitoramento das
questões sociais e ambientais pelos gestores governamentais.
Essa avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica registraram
mudanças e transformações no tempo que possibilitaram a organização territorial
que o país tem hoje. Essa organização foi motivada por interesses políticos e
econômicos que resultaram no povoamento de novas regiões como ficou
demonstrado na ocupação da Região Centro Oeste e do DF.
O ser humano operou ao longo do tempo transformações importantes no meio
ambiente com os recursos da natureza influenciando as suas ações. Essa ação
acontece mais intensamente nas áreas urbanas. Ao alcançar o progresso econômico
o ser humano provoca a degradação dos recursos naturais.
Sobre a expansão urbana, TUCCI (2003), diz que ela se caracteriza pela
expansão irregular da periferia, com pouca obediência à regulamentação relacionada
com o Plano Diretor das cidades que é um instrumento de gestão.
Isso se verifica como característica da dinâmica de ocupação na região de
Sobradinho. Em razão da ocupação indiscriminada de suas terras essa área
apresenta sérios problemas de degradação ambiental.
Essa dinâmica de ocupação promoveu o surgimento de núcleos urbanos sem
infraestrutura básica, consolidando invasões e condomínios irregulares e está
associado ao crescimento demográfico desordenado, devido principalmente à
especulação imobiliária e à necessidade de moradias para a população de baixa,
média e de alta renda.
O crescimento acelerado e desordenado provoca a remoção da vegetação de
áreas que serão substituídas por construções e dispositivos artificiais que acabam
afetando significativamente o equilíbrio natural da região, devido principalmente à
falta de planejamento e estudos com vistas a esse crescimento (TORRES, 1997).
A ocupação irregular e desordenada do território é um dos fatores de risco e
de vulnerabilidade ambiental que pode afetar as condições de vida humana, como foi
percebido pelos gestores ambientais em todos os municípios brasileiros.
86
Esse crescimento desordenado ocorreu apesar do Plano Diretor Local de
Sobradinho de 1994 ter definido o zoneamento criando subzonas de ocupação
espacial.
De acordo com Lima & Anjos (2002):
O PDL de Sobradinho de 1994 definiu o zoneamento da Região
Administrativa, com destaque especial para as subzonas centrais
(SZC), especial de preservação (SZEP), industrial (SZI), urbana com
uso remanescente (SZR) e habitacional (SZH). O rápido crescimento
urbano está fazendo com que boa parte dos espaços de Sobradinho,
que deveriam ser mantidos sem ocupação humana, passe a sofrer
forte pressão por parte da urbanização. Podemos encontrar desde
Matas Ciliares totalmente destruídas até mesmo habitações em solos
que são desaconselhados pela sua alta susceptibilidade a erosão.
Outro importante indicador restritivo à ocupação na região é a
declividade. É possível observar habitações em declividades
superiores a 30%, o que é proibido por Lei. (LIMA & ANJOS, 2002 p.
7).
Áreas com as características apontadas acima foram ocupadas em toda
região de expansão urbana de Sobradinho apesar do impedimento legal. Como
demonstra a figura abaixo, as casas estão localizadas em terreno com declividade
acentuada, onde se pode observar que parte dos quintais das casas estão voltadas
para a encosta, que a vegetação foi degradada, o que acentua o risco de erosão e
de deslizamentos. Nessa área se observa a construção de muros de arrimos para
sustentação do terreno, figura 13.

87
Figura 13 – Casas construídas no topo de morro em declividades acentuadas, nas quebras de relevo,
avançando para a encosta no Condomínio RK

A figura abaixo mostra a dinâmica da ocupação urbana em condomínios da DF


425 e do Grande Colorado ao fundo, comprovando a ocupação urbana de áreas com
declividade acentuada e de encostas, avançando para as áreas de nascentes do
córrego Paranoazinho, Contagem, etc. é uma característica marcante desse tipo de
ocupação na região.

Figura 14 - Dinâmica da ocupação urbana de terrenos com declividade acentuada, vales e encostas,
áreas de nascentes em condomínios da DF 425 e região do Grande Colorado ao fundo

A imagem abaixo, figura 15, mostra a ocupação do topo de morro, barranco e


de encosta em condomínio de baixa renda na Vila Rabelo. Se observa a construção
de casas dependuradas na encosta sem infraestrutura urbana, casas simples, mal
construídas (sub-habitações), vegetação degradada, corte do talude para acomodar
as construções, ausência de muros de arrimo para sustentação dos terrenos ao
contrário do que se observa nos condomínios de classe média vistos nas figuras
acima.

88
Figura 15 – Ocupação Urbana em área de barranco e de encosta em condomínio de baixa renda na
Vila Rabelo II e II

Apresentam-se a seguir indicadores restritivos à ocupação urbana na Região


Administrativa de Sobradinho que ilustram o que foi relatado acima. A região do
Grande Colorado apresenta as seguintes restrições à ocupação urbana:
(1) Solo Restritivo à Ocupação Urbana;
(2) Declividades Restritivas à Ocupação Urbana;
(3) Matas Ciliares Restritivas à Ocupação Urbana;
(4) Unidades de Conservação Ambiental Restritivas à Ocupação Urbana; e,
(5) Áreas Restritivas à Ocupação Urbana na região de Sobradinho. (grifos
nossos).
A seguir apresenta-se o seguinte resultado, a ocupação das áreas descrita nos
itens 1, 2, 3 e 4 geram as áreas correspondentes ao item 5, e as do item 5 e 6
geram as áreas relativas ao item 7 ou seja:
(5) Áreas Restritivas à Ocupação Urbana; e,
(6) Áreas Urbanas na região de Sobradinho, geram
(7) Áreas Urbanas em Áreas Restritivas à Ocupação Urbana na região de
Sobradinho.

89
5.2 Discussão dos Resultados

A transferência da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central foi um


empreendimento governamental que demandou um longo processo de planejamento
e de pesquisa para a determinação da área a ser escolhida para a construção de
Brasília.
A demarcação do território do Distrito Federal foi oficializada em 1894, com
publicação do Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil
(Comissão Cruls), instituída em 1892 para estudar e delimitar a área da futura
capital. Essa Comissão realizou um estudo minucioso sobre, clima, economia, fauna,
flora, geologia, recursos minerais, materiais de construção, e outros aspectos da
região.
Os estudos sobre os recursos hídricos disponíveis, a indicação dos rios mais
importantes e das principais bacias hidrográficas, e a salubridade do clima foram
elementos importantes que chamaram a atenção da comissão, e que a levou a
escolher a área como a mais indicada para ser a sede da futura capital.
A pesquisa de campo apurou que o uso e a ocupação desordenada do solo
para expansão urbana em Sobradinho gerou impactos socioambientais que levaram
à degradação do meio natural dessa região descrita no Relatório da Comissão Cruls
de 1894 e que toda a população da região está exposta aos impactos ambientais e
aos riscos associados a eles.

Observou-se, portanto, que o principal problema dessa ocupação está ligado


à ocupação indiscriminada de áreas de fragilidade ambiental por moradias para
população de baixa, de média e de alta renda que expõem os moradores a uma série
de riscos ambientais.
A metodologia aqui proposta permitiu a identificação de quantos são, onde
estão, quem são e onde vivem as pessoas sujeitas aos riscos analisados. Dessa
forma o estudo permitiu identificar como se estabelece a construção social dos riscos
ambientais nessa região. Percebido especialmente, em comunidades de baixa renda.
As primeiras regiões administrativas do Distrito Federal foram projetadas e
implantadas paralelamente à construção de Brasília. Nos projetos urbanísticos
dessas cidades aplicaram-se os mesmos princípios urbanísticos da Nova Capital,
analisando-se as condições socioeconômicas e funcionais de cada uma, resultando

90
em estruturas urbanas para cada caso. O primeiro núcleo urbano de Sobradinho se
encaixa nessas condições como demonstra a figura 16 abaixo.
A cidade Sobradinho sempre foi considerada modelo entre as cidades
satélites de Brasília, visto que é dotada de completa infraestrutura urbana, tem um
clima agradável e localização privilegiada. Por volta de 1980 a cidade já se
encontrava totalmente implantada.

Figura 16 – Vista aérea de Sobradinho mostra que a cidade foi planejada e urbanizada a exemplo de
Brasília
Fonte: Infobrasília

Em 1990 foi criado o Núcleo Habitacional Sobradinho II como parte integrante


da RA-V, em consequência do Programa de Assentamento de Populações de Baixa
Renda com o objetivo de transferir o contingente de famílias que ocupavam um
mesmo lote e fixar moradores das invasões do Ribeirão Sobradinho e Lixão
(CODEPALAN, 2006). A figura 17 mostra a expansão de Sobradinho II ao fundo.

91
Figura 17 – Vista de Sobradinho e da expansão de Sobradinho II ao fundo
Fonte: Infobrasília

Devido ao crescimento desordenado e intenso, Sobradinho II foi


desmembrado da RA-V em 27/01/2004 e transformada na RA-XXVI. Foram
incorporados a essa Região Administrativa 126 dos 128 condomínios pertencentes a
Sobradinho, com exceção do Império dos Nobres e do Residencial R.K que
permaneceram ligados a Sobradinho.
Esses condomínios foram divididos em oito Setores Habitacionais, de acordo
com o quadro abaixo.

Quadro 5 – Setores Habitacionais


Setor Habitacional Nº de Nº de Habitantes
parcelamentos
1. Boa Vista 14 6.736
2. Contagem 38 12.973
3. Fora de Setor Habitacional 23 -
4. FERCAL 07 6.690
5. Grande Colorado 11 10.367
6. Nova Colina 12 5.973
7. Região dos Lagos 13 67.418
8 Setor de Mansões de Sobradinho 10 14.297
Total 128 124.454
Fonte: o autor

Esse número total de habitantes não inclui a população dos 23 parcelamentos


Fora de Setor Habitacional dentre os quais estão a Vila Rabelo I e II.
92
É oportuno ressaltar que a região desse estudo está inserida em duas Áreas
de Preservação Ambiental (APAs), consideradas áreas de uso controlado: a APA do
São Bartolomeu e parte da APA de Cafuringa. O Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, Lei nº 9.985 em seu Artigo 15 define que:
Área de Preservação Ambiental APA é uma área em geral extensa,
com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a
qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem
como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais.

A APA da Bacia do Rio São Bartolomeu abrange uma área de 84.100 ha, foi
criada pelo Decreto Federal nº 88.940 de 7/11/1983, é a maior bacia hidrográfica do
DF e desempenha um importante papel de corredor de ligação entre a Estação
Ecológica de Águas Emendadas, APA de Cafuringa, APA do Lago Paranoá e APA
das bacias do Gama e Cabeça-de-Veado, reunindo todos os tipos de vegetação,
desde o cerradão até os campos rupestres. Com relação à fauna contém
representantes de diversas espécies da fauna nativa, como dourados, traíras,
codornas, perdizes, seriemas, antas, capivaras etc. (SEMARH, 2006).
Localiza-se também nessa região a APA de Cafuringa Criada pelo Decreto
Distrital 11.123/88, a APA de Cafuringa possui 46 mil hectares, equivalente a 8% do
território do DF, e está localizada a noroeste do Distrito Federal. A APA de Cafuringa
limita-se ao norte e oeste pelo Estado de Goiás, a leste pela DF-150 e pelo Ribeirão
da Contagem, e ao sul pela APA do Descoberto e pelo Parque Nacional de Brasília.
O relevo acidentado é onde estão importantes cachoeiras do DF, como Mumunhas e
Poço Azul. Em Cafuringa estão também as cavernas, como a Gruta do Sal, devido
ao terreno calcário. Engloba parte da Chapada da Contagem e da bacia do Rio
Maranhão (SEMARH, 2006).
Nessa região concentra-se um grande número de espécies da vegetação do
Bioma Cerrado, onde quase todos os tipos estão presentes, contudo, tem duas
fitofisionomias exclusivas: matas mesofíticas em áreas calcárias e os campos de
altitude. Concentra boa parte das jazidas de calcário do DF o que possibilita a
exploração industrial dessas jazidas para fabricação de cimento. A ocupação
humana da região, as atividades agrícolas e a exploração de recursos vegetais e
minerais imprimem grandes pressões à vegetação, principalmente às fitofisionomias

93
de mata mesofítica e de campos de altitudes, colocando em risco a integridade das
populações naturais e ameaçando a biodiversidade local.
É importante observar que no DF as Unidades de Conservação representam
42% do território e apresentam-se como um instrumento disciplinador da ocupação
humana, dentro de uma ótica do desenvolvimento sustentável, considerando
especialmente o fato de o DF possuir mais de 95% da população concentrada em
áreas urbanas, o que evidencia uma forte pressão antrópica sobre os recursos
naturais (BARBO, 2001).
Como se verifica a ocupação do solo em Sobradinho apresenta usos variados
como: ocupação urbana em Sobradinho, Sobradinho II e Condomínios, ocupação
rural: chácaras, granjas, fazendas, exploração de recursos naturais: mineração e
indústria, dentre outros usos. A figura 18 abaixo mostra a dinâmica da ocupação do
solo em Sobradinho II, Setor de Mansões e de áreas rurais remanescentes.

Figura 18 – Dinâmica da ocupação e usos do solo na região de Sobradinho

A pesquisa de campo apurou que esses usos e ocupação do solo para


habitação, comércio, vias e rodovias urbanas, chácaras, granjas, fazendas, oficinas,
postos de combustíveis, lava jatos, clubes de lazer, turismo predatório, indústrias e
outros usos provocam impactos ambientais e riscos associados a eles como
identifica o quadro 6 abaixo.
94
Quadro 6 – Impactos Ambientais e Riscos Associados ao uso e ocupação do
solo em Sobradinho
Descrição do Impacto Atividades Riscos Associados
Modificação do solo e da Extinção local de
vegetação, relacionada ao grande parte da
plantio possui grande Agricultura e Pecuária comunidade nativa.
impacto sobre a fauna e a
flora.
Diluição de agrotóxicos, de Modificações
fertilizantes e restos de profundas, primeiro
fossas domésticas nos nas comunidades
corpos d’água superficiais e Contaminação da água aquáticas, mas atinge
subterrâneos. Provoca toda a fauna local.
profundas modificações na
fauna.
Retirada da vegetação para Extinção de
o uso de madeira e carvão. significativa porção da
Desmatamento
Possui grande impacto sobre comunidade local.
a fauna e a flora
Substituição de paisagens Extinção pontual de
nativas por paisagens Destruição do Habitat comunidades inteiras.
antrópicas.
Seccionamento das áreas de Redução das
vegetação natural por populações locais,
rodovias, fazendas, etc. perda da diversidade
atinge as populações pela genética, maior
Fragmentação do Habitat
redução do habitat probabilidade de
disponível e pela interrupção extinção.
de intercâmbios de
indivíduos entre populações.
Cães, gatos, porcos, ratos, Causam a extinção de
gado, baratas, pombos espécies nativas,
domésticos, pardais, peixes, além de introduzir
rãs, peixes de pesca e doenças.
ornamentais, dentre outros, Introdução de espécies
desenvolvem populações exóticas
ferais, que competem com a
fauna nativa, provocam
grandes mudanças nos
ambientes.
A erosão provoca o Destruição da
assoreamento dos cursos vegetação nativa,
d’água, a perda de nutrientes movimento do solo,
Mau uso do solo
superficiais do solo pelas perda de ambientes
chuvas. naturais e danos a
flora e fauna.
Exploração de recursos Extinção de toda
geológicos (cascalho, areia, Mineração comunidade animal e
calcário, etc.). da flora, devido a
95
remoção da cobertura
vegetal e dos
nutrientes.
Criação de gado, porcos Compactação do solo,
aves geralmente extensiva e perseguição de
para corte. Formação das grandes predadores
pastagens, pisoteio da que ameaçam a
Pecuária
vegetação criação: felinos,
canídeos e outros
animais como
serpentes.
Introdução ocasional de Contaminação de rios
espécies exóticas e com e lagos por despejo
Piscicultura
grande capacidade de dejetos.
competitiva
Modificação na
Provocadas ou naturais. composição das
Queimadas comunidades, perda
da biodiversidade e
Poluição atmosférica.
Intensificação do tráfego nas Morte de animais:
rodovias. grandes mamíferos e
Rodovias
serpentes que tentam
cruzar as estradas.
Resíduos sólidos Contaminação e
acumulados ao longo dos poluição dos riachos e
Turismo predatório
cursos d’água. Captura de morte ocasional de
animais. animais.
Assentamentos, Extinção de toda
Parcelamento do solo rural
condomínios e novos fauna nativa e
e urbano
bairros. parcialmente, a flora.
Fonte: SEMARH 2006

Apesar das restrições legais em relação à ocupação de Áreas de Preservação


Ambiental – (APAs), a região apresenta várias irregularidades do ponto de vista
ambiental como: não observação das Áreas de Proteção Permanentes – (APPs), no
que diz respeito à ocupação e ao desmatamento, próximo ao leito e às nascentes de
córregos e ribeirões, ocupação de encostas, a mineração para extração de cascalho,
terra vegetal e areia, calcário, argila e a abertura indiscriminada de poços tubulares e
cisternas para abastecimento de água, como se verifica no entorno de toda a área de
expansão urbana na região dos condomínios.
A Figura 19 mostra uma área degradada pela extração de cascalho para
aterro, construção de estradas e pavimentação de vias públicas e rodovias em
Sobradinho nas décadas de 70 e 80 do século XX de acordo com informações de

96
técnicos da Administração Regional. Mostra vestígios de erosão, fruto da
impermeabilização do solo em razão da implantação de condomínio acima dessa
área (Morada dos Nobres). O solo descoberto facilita o acúmulo de água de chuva
na bacia de contenção construída próximo ao muro do condomínio abaixo (Vivendas
Serrana).

Figura 19 – Área degradada pela extração de cascalho e erosão do solo entre os Condomínios
Morada dos Nobres e Vivendas Serrana

A figura 20 mostra a ocupação de área com alto índice de declividade na Vila


Rabelo, onde muitas casas foram construídas dependuradas na encosta sem
infraestrutura urbana, casas mal construídas (subhabitações) onde as casas
apresentam um padrão de construção simples e de baixa qualidade, apresenta risco
de deslizamento. Se observou o uso de materiais diversos como: alvenaria, madeira,
zinco, etc. Na imagem abaixo se observa o corte do morro para o encaixar as casas.
Essa área não dispõe de saneamento básico.
O abastecimento de água é feito por meio de poços tubulares e cisternas. A
presença de fossas e sumidouros para a coleta de esgoto é um fator de risco de
contaminação das águas. Observaram-se também, a presença de esgoto a céu

97
aberto, a presença de lixo e entulho na encosta, apresentando o risco de
contaminação e de doenças infecto contagiosa.

Figura 20 – Ocupação de área com alto índice de declividade, avançando para a encosta na Vila
Rabelo I e II

A figura 21 mostra vestígios da retirada da mata ciliar das margens do córrego


Paranoazinho entre a DF 425 e Sobradinho II. Se observa a presença de pasto para
criação de gado, avançando sobre a Área de Preservação Permanente. O mesmo
fato acontece na outra margem, com o avanço da expansão urbana de Sobradinho II
sobre essa área. Essa região concentra grande número de condomínios e chácaras
para lazer e moradia onde as casas que ocupam as margens do córrego provocam
além do desmatamento, erosão e assoreamento do córrego, a extinção de nascentes
e a contaminação de suas águas. Esse desmatamento gera impactos e riscos
associados apresentados no quadro 6.

98
Figura 21 – Retirada da mata ciliar do córrego Paranoazinho entre a DF 425 e Sobradinho II

A figura 22 apresenta vestígio de solo degradado devido à extração de areia


dentro da Reserva Biológica da Contagem. Se observa nessa área a presença de
várias nascentes que estão desaparecendo, vegetação degradada, desmatamento
de veredas, presença de vegetação secundária, grande erosão evoluindo para uma
voçoroca abaixo dos condomínios Serra Azul e Bela Vista e ao lado do Condomínio
Vivendas Colorado I.

99
Figura 22 - Solo degradado pela extração de areia dentro da Reserva Biológica da Contagem

Como se observa a região de Sobradinho DF abriga vários sistemas


ambientais frágeis que vêm sofrendo transformações por meio do processo de
ocupação urbana desordenada fruto da migração que provocou o crescimento
populacional verificado nos últimos 20 anos. Essas transformações desencadearam
vários problemas socioambientais como a degradação dos recursos naturais que
fizeram surgir áreas de Risco e de Vulnerabilidade Ambiental.

As áreas de Risco e Vulnerabilidade Ambiental foram identificadas por meio da


pesquisa de campo que possibilitou compreender a relação entre o processo de
ocupação do solo e a dinâmica social dessa ocupação, observando o risco natural,
que de acordo com (EGLER, 1996), está associado ao comportamento dinâmico dos
sistemas naturais, isto é, considerando o seu grau de estabilidade/instabilidade
expresso na sua vulnerabilidade a eventos críticos de curta ou longa duração, tais
como inundações, desabamentos e aceleração de processos erosivos.
Após a coleta dos dados foi feita a hierarquização das áreas com
vulnerabilidade a risco ambiental e a identificação dos riscos a serem avaliados. Para
isso tomou-se como base a pesquisa de Informações Básicas Municipais – (MUNIC)

100
do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, (2005) que investigou
informações ambientais em todos os municípios brasileiros.
A pesquisa mostrou que a percepção dos gestores ambientais sobre a
ocorrência de situações que poderiam ser caracterizadas como de vulnerabilidade
ambiental estão relacionadas a: assoreamento de rios, poluição dos recursos
hídricos, contaminação do solo e poluição do ar. E que esses processos estão
fortemente associados à degradação de áreas frágeis, potencializadas pelo
desmatamento e pela ocupação irregular de certas áreas.
Foram identificadas por essa pesquisa 17 alternativas de impactos ambientais
que poderiam ter afetado as condições de vida da população, especialmente das
populações mais pobres, que podem ser verificadas na região de Sobradinho como:
esgoto a céu aberto, desmatamento, queimadas, vetor de doença, contaminação de
rio, lagos etc. doença endêmica, presença de lixão, escassez de água, ocupação
irregular do território, trafego pesado em área urbana, inundação, poluição do ar,
deslizamento de encosta, poluição sonora, contaminação do solo.
Serão analisados e avaliados todos esses impactos, contudo, ênfase maior
será dada a contaminação dos cursos d’água, nascentes e a ocupação irregular do
território com a ocupação de leitos de córregos, ribeirões, áreas com declividade
acentuada e encostas.
Esses processos estão fortemente associados à degradação de áreas frágeis
como: Áreas de Proteção Ambiental (APPs), leitos de rios, áreas de nascentes e
encostas, potencializadas pelo desmatamento e pela ocupação irregular de certas
áreas, como ocorre em Sobradinho.
Foram identificadas pela pesquisa do IBGE alternativas de impactos
ambientais que poderiam ter afetado as condições de vida da população nos
municípios brasileiros. Esses impactos ambientais foram identificados na pesquisa
de campo realizada em Sobradinho como indica o Quadro 7 e as imagens abaixo.

101
Quadro 7 - Impactos Ambientais Identificados nos Municípios Brasileiros e em
Sobradinho
Impactos Ambientais
1. Esgoto a céu aberto
2. Desmatamento
3. Queimadas
4. Vetor de doenças
5. Contaminação de rios, nascentes, etc.
6. Doença endêmica
7. Presença de lixo e entulho
8. Escassez de água
9. Ocupação irregular do território
10. Tráfego pesado em área urbana
11. Inundação
12. Poluição do ar
13. Deslizamento de encosta
14. Poluição Sonora
15. Contaminação do solo
Fonte: IBGE, 2005

A imagem abaixo mostra o flagrante da deposição de lixo e de entulho em


terreno baldio próximo às margens do Ribeirão Sobradinho margeando a Avenida
que contorna a área urbana da cidade.

Figura 23 – Deposição de lixo e de entulho próximo ao Ribeirão Sobradinho

102
A figura abaixo mostra vestígios de poluição da água do Ribeirão Sobradinho
devido ao lançamento de esgoto sem tratamento pela Estação de Tratamento da
Caesb localizada na Quadra 13 ao lado do clube do SESI, configurando a presença
de esgoto a céu aberto e o risco de contaminação do ribeirão.

Figura 24 – Água poluída devido ao despejo de esgoto no Ribeirão Sobradinho

A figura abaixo mostra a presença de lixo numa clareira aberta às margens do


Ribeirão Sobradinho. Se observa na imagem sacos plásticos, garrafas PET, espuma,
isopor, dentre outros materiais que são carreados para dentro do ribeirão como
demonstra a figura 25 e 26. Existe o risco da contaminação de toda a população de
Sobradinho por doenças de veiculação hídrica, dengue, leptospirose pela presença
de ratos. Bem como o assoreamento e erosão do leito do ribeirão com o risco do seu
desaparecimento no longo prazo.

103
Figura 25 – Lixo em clareira aberta às margens do ribierão Sobradinho

Figura 26 – Presença de lixo dentro do Ribeirão Sobradinho

Na figura abaixo percebe-se a retirada da mata ciliar de uma das margens do


Ribeirão Sobradinho para a implantação de pasto. Nesse trecho se observa o
estreitamento do leito do ribeirão e a presença de mata ciliar preservada na outra
margem devido a presença do Parque dos Jequitibás.
104
Figura 27 – Retirada de mata ciliar e estreitamento do leito do Ribeirão Sobradinho

A seguir é apresentado o Quadro 8 com os fatores de risco ambientais


identificados pela pesquisa de campo em Sobradinho, os elementos aos quais
esses riscos estão relacionados e as suas origens.

Quadro 8 - Fatores de Risco Presentes em Sobradinho


Riscos relacionados Origem
Emanação de poluentes atmosféricos
oriundos de: fábricas (Cimento
Ao ar e poluição atmosférica Tocantins e CIPLAN), atividades de
transporte (caminhões e automóveis),
queimadas (vegetação e de resíduos).
Depósito de lixo, entulho, sucatas,
efluentes químicos de indústrias,
agrotóxico, lixo hospitalar, resíduos
Aos resíduos sólidos e contaminações
sólidos de: oficinas, postos de
combustíveis, restaurantes, etc.
estação de tratamento de esgoto.
Extração inadequada de areia,
cascalho, calcário, argila etc. utilização
Ao solo, agricultura e mineração
de agrotóxicos em áreas de cultivo,
problemas com fossas sépticas.
Vinculação entre animais e saúde
pública (mosquitos, carrapatos,
À vegetação e animais
morcegos, cães, gatos, cavalos, etc.),
intervenção em Áreas de Preservação
105
Permanente (APP), desmatamento,
principalmente de mata ciliar.
Poluição e contaminação dos cursos
d’água, nascentes, lençol freático,
À água
lançamento de esgoto, lixo e entulho,
riscos associados a fossas sépticas.
Vinculados a ocupação de áreas
impróprias para ocupação urbana:
presença de subhabitações,
Aos fatores de vulnerabilidade social aglomerados residenciais, problemas
com segurança do trabalhador, saúde
pública, sistema viário, acidentes e
atropelamentos.
Fonte: Carpi Jr., 2004

Foram identificados na pesquisa de campo impactos ambientais e riscos


associados a esses impactos e os fatores de riscos que podem ser observados nos
Quadros 6, 7 e 8 como: casos de erosão, ocupação irregular do território, deposição
de lixo e entulho, lançamento de esgoto nos corpos d’água.
A ausência de mata ciliar fruto do desmatamento, aterro das margens e
nascentes dos ribeirões, rebaixamento do lençol freático, construção em áreas de
risco, canalização inadequada de córregos e de nascentes, despejo de esgoto
doméstico em dois pontos no Ribeirão Sobradinho, na altura da Quadra 01 e 13 onde
se localizam as estações de tratamento da CAESB como mostra a figura 28, e o
despejo de águas pluviais em vários pontos, canalizadas ou não, especialmente nas
áreas dos condomínios que não possuem rede de escoamento dessas águas. Essas
águas poluem e causam mau cheiro.

106
Figura 28 – Ponto onde ocorre o despejo de esgoto no Ribeirão Sobradinho pela Estação de
Tratamento da Caesb

Sobre a poluição das águas, as fontes de água vitais para o abastecimento


humano são as que mais recebem poluentes. Muitos lugares do planeta, cidades e
zonas agrícolas correm o risco de ficar definitivamente sem água. Pode-se chegar a
um momento em que não haja água limpa no mundo por causa do aumento
acelerado de várias formas de poluição em razão ocupação desordenada de regiões
de preservação de mananciais.
É sabido que a falta de saneamento básico produz situações de risco
socioambiental, em especial em áreas ocupadas por segmentos sociais mais
empobrecidos e representam eventualmente, risco potencial de degradação do meio
ambiente e a possibilidade de contaminação da base de recurso com riscos para a
saúde da população.
Na Região de Sobradinho as margens de rios, nascentes são utilizadas para
despejo de esgoto doméstico ou como depósitos clandestinos de lixo. À
contaminação das águas se somam à fumaça proveniente da queima dos gases do
lixo, que polui o ar, e à proliferação de insetos e roedores que funcionam como
vetores de doenças. Com o acúmulo do lixo, em ocasiões de grande precipitação
ocorrem enchentes, trazendo para dentro das moradias localizadas nessas áreas
mais vulneráveis, situações de insalubridade e risco adicionais.
107
O lançamento de resíduos orgânicos em grande quantidade nos córregos, rios,
lagos e lagoas caracterizam a poluição das águas. O fenômeno da poluição é mais
visível nas áreas urbanas, se constatou que em Sobradinho esse fenômeno está
presente nos ecossistemas naturais e agrícolas.
Riscos relacionados às Águas – Percebe-se em Sobradinho a contaminação
dos cursos d’água (Ribeirão Sobradinho, Paranoazinho, Contagem e da Lagoa
Canela de Ema) por lançamento de esgoto, águas pluviais, resíduos sólidos (lixo e
entulho), contaminação de minas, do lençol freático e do solo por fossas e
sumidouros, principalmente na área dos condomínios.
Constatou-se a mudança no curso dos ribeirões em vários pontos, a erosão e
a impermeabilização do solo. Essas situações de risco ocorrem em toda a área de
estudo. Podem ser destacadas as seguintes ocorrências e riscos ambientais
associados:
- desmatamento e alteração do curso dos córregos e ribeirões;
- aglomeração urbana sem infraestrutura básica em área de risco;
- despejo de esgoto sem tratamento ou parcialmente tratado;
- erosão, assoreamento e deslizamento das margens de ribeirões e
represamento;
- extração ilegal de recursos geológicos como: cascalho, areia, argila e calcário
e água por poços tubulares e cisternas;
- presença de água parada com risco de dengue e doenças de veiculação
hídrica, especialmente no período das chuvas;
- queima de lixo e de outros resíduos;
- minas, poços artesianos e cisternas contaminadas (riscos relacionados a
fossas e sumidouros (fossas negras) presentes especialmente na área dos
condomínios;
- presença de animais e insetos com riscos à saúde pública;
Riscos relacionados ao ar e poluição atmosférica – Nessa área a poluição
provém das emissões de poluentes pelas fábricas de cimento Tocantins e CIPLAN,
ambas localizadas na região da FERCAL, de queimadas e incêndios no cerrado de
forma controlada ou não, pela queima de resíduos sólidos como lixo e outros. Esses
impactos e riscos são de abrangência regional como indica o Quadro 3.
Riscos relacionados ao solo, agricultura e mineração – são representados pela
extração de cascalho, areia, argila e calcário, figura 29, para construção civil, aterros,
108
fabricação de cimento e argamassa, utilização de agrotóxicos em áreas de cultivo,
especialmente em hortas cultivadas próximas aos ribeirões, problemas com fossas e
sumidouros nas áreas de expansão urbana desprovidas de saneamento básico (área
dos condomínios).

Figura 29 – Exploração de calcário na região da FERCAL

Riscos associados: destruição das espécies ou do patrimônio genético,


agravamento do processo erosivo, empobrecimento do solo, assoreamento dos
cursos d’água (rios, lagos, lagoas, etc.), desequilíbrio no ecossistema, risco de
enchentes, deslizamentos e escorregamentos, mudança no microclima,
seccionamento de ecossistemas, emissão de CO2 e outros gases para a atmosfera
pela queima de florestas, pelas chaminés das fábricas de cimento da FERCAL
(impacto global) como indicam os Quadros 3 e 6 e a figura 30. Na região das fábricas
de cimento cerca de 6.990 pessoas estão vulneráveis a riscos por causa da poluição
atmosférica, contaminação das águas superficiais e/ou subterrâneas e ao
deslizamento e/ou desabamento pela ocupação de encostas.

109
Figura 30 – Emissão de partículas por Fábrica de Cimento na FERCAL

Riscos relacionados aos resíduos sólidos e contaminações – representadas por


depósitos de lixo, entulho em terrenos baldios e nas margens dos cursos d’água,
efluentes químicos de indústrias, agrotóxicos, lixo hospitalar, resíduos sólidos de
oficinas, postos de combustíveis (caso da contaminação do subsolo pelo vazamento
de combustíveis provocado pelo Posto Brazuca em 2002), restaurantes, estação de
tratamento de esgoto, em Sobradinho existem duas estações de tratamento que
lançam o esgoto no ribeirão sem tratamento.
Um dos problemas mais sérios que as cidades enfrentam particularmente as
grandes cidades é o problema dos resíduos sólidos.
As cidades processam uma grande quantidade de matéria e energia, além de
toneladas de dejetos que não são metabolizados por elas. Acumulam-se os
excedentes em grande escala. Com o crescimento da população e o estímulo ao
consumo, o problema se agrava a cada dia.
As principais causas da poluição identificadas em todo o Brasil estão
presentes nessa região como se verifica a seguir:
- Queimadas – 50% da população é afetada pela poluição atmosférica;
- Rios – 38% das cidades brasileiras têm rios poluídos;

110
- Solo – a contaminação dos solos afeta 33% dos municípios brasileiros. Os
principais responsáveis são fertilizantes, agrotóxicos e esgoto doméstico;
- Lixo – nas cidades onde há coleta o lixo é depositado em terrenos usados
para esse fim, lixões, depositados a céu aberto, ou enterrado e compactado
em aterros sanitários. Esses locais sofrem graves impactos ambientais.
O acúmulo de lixo no solo traz uma série de problemas para os ecossistemas e
para a sociedade como: a proliferação de insetos e ratos, que podem transmitir
várias doenças; a decomposição da matéria orgânica que além de gerar mau cheiro,
produz um caldo escuro e ácido denominado chorume, que infiltra no subsolo,
contaminando o lençol freático; provocando a contaminação do solo e de pessoas
que manipulam o lixo com produtos tóxicos.
Riscos associados: doenças, poluição das águas superficiais e subterrâneas,
do solo, de nascentes, do lençol freático, poluição do ar e o risco de contaminação.
A Vulnerabilidade social – Está representada pela ocupação de áreas
impróprias para a expansão ou adensamento urbano é verificada em Sobradinho
pela ocupação de áreas frágeis ambientalmente como: Áreas de Proteção
Permanente (APP) (leito de rios, córregos, nascentes e de encostas), com a
presença de chácaras, clubes de lazer, subhabitações, aglomerados residenciais,
problemas com a segurança do trabalhador, saúde pública, sistema viário, acidentes
e atropelamentos devido ao pesado tráfego de veículos.
A avaliação da vulnerabilidade social e dos riscos ambientais permitiu
identificar como se dá a construção social do risco ambiental nessa área.
Para a realização da Avaliação dos Riscos Ambientais – (ARA) em
Sobradinho, levaram-se em consideração os parâmetros legais necessários para
avaliar a vulnerabilidade da área de estudo e de seu entorno aos efeitos antrópicos
causados pelo uso e ocupação desordenada do solo. Para tanto, observaram-se os
marcos jurídicos a seguir.
Lei n.º 6.938, de 31/8/1981 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio
ambiente, cujo mérito foi o de trazer para o mundo do Direito o conceito normativo de
meio ambiente, trouxe o objetivo de proteção em seus múltiplos aspectos, os
conceitos de degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos
ambientais e instituiu a obrigação de o poluidor pagador reparar os danos causados,
segundo o princípio da responsabilidade objetiva (ou sem culpa) em ação movida
pelo Ministério Público.
111
Lei n.º 7.347, de 24/7/1985 – Disciplina a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético e histórico, com nova redação dada pela Lei n.º 8.078, de
11/9/1990. Essa Lei tem por finalidade o cumprimento da obrigação de fazer, de não
fazer e/ou a condenação em dinheiro, e cria um fundo com recursos advindos das
condenações em dinheiro para a reconstituição dos bens lesados. A Lei da ação civil
pública pode ser considerada como o principal instrumento processual coletivo de
defesa do ambiente e principal fonte de demanda por perícias Ambientais (LIMA e
SILVA, 1999).
Constituição Federal de 5/10/1988 – Deu um grande impulso à questão
ambiental no Brasil, não conferindo ao Estado o monopólio da defesa ambiental, pois
a sociedade e também o cidadão passam a ter o poder e o dever de defender o
ambiente.
Somam-se a esses diplomas legais a Lei Orgânica do DF que em seu Artigo
278 prevê que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. Soma-se à Lei Orgânica do DF a Lei nº 41/99 que define a política
ambiental do DF.
Observou-se o que dispõe o Código Florestal Brasileiro (1965) instituído pela
Lei 4.771 de 15/09/1965, que prevê no seu Artigo 2º que: “consideram-se como
áreas de preservação permanente (APP), as florestas e demais formas de vegetação
situadas, para efeito desse estudo e no caso dessa região:
a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água (Ribeirão Sobradinho,
Paranoazinho e Contagem, etc.), desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima será: de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10
(dez) metros de largura, em toda a sua extensão, e num raio de 50 metros ao redor
das nascentes.
b) No topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas,
com declividade acentuada, nas bordas dos tabuleiros ou chapadas (Chapada da
Contagem), a partir da linha de ruptura do relevo.
E, também, a Resolução nº 004/85 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), de 18 de setembro de 1985, considera Área de Preservação
Permanente (APP) toda forma de vegetação natural ao longo de qualquer curso
112
d'água. Os parâmetros dessa Resolução serão importantes para a avaliação das
condições dos cursos d’água da região, especialmente o Ribeirão Sobradinho.
O Ribeirão Sobradinho percorre toda área urbana da cidade e do Núcleo Rural
I, deságua na Cachoeira Sobradinho. Essa cachoeira não pode ser usada pela
comunidade por causa da poluição.
O Ribeirão Sobradinho faz parte da rede de drenagem das três grandes bacias
hidrográficas (Amazônica, São Francisco e Paraná), e apesar de não abastecer a
população local com água potável, recebe o despejo de esgoto doméstico.
Seis nascentes desse córrego encontram-se no interior do Parque Vivencial e
Ecológico de Sobradinho. Por não ter poligonal definida, ocorrem na área os usos
impróprios do solo como: o cultivo de hortas caseiras com uso de agrotóxico,
utilização das nascentes como ponto direto de captação de água, o desmatamento
de Áreas de Preservação Permanente (APP) e invasões de terras públicas
destinadas à conservação de recursos naturais são exemplos de infrações
ambientais existentes nas margens desse ribeirão, que geram impactos ambientais
negativos. Além disso, o esgoto da cidade, que não é tratado pelas Estações de
Tratamento da CAESB, é jogado “in natura” no córrego.

5.2.1 Áreas de Risco Ambiental em Sobradinho

Foram escolhidas seis áreas de risco ambiental em pontos diferentes da


região de Sobradinho para realização da avaliação proposta por esse estudo,
descritas no quadro abaixo.

Quadro 9 – Áreas de Risco Ambiental em Sobradinho


Ordem Áreas de Risco Localização
01 Parque Ecológico e Vivencial Sobradinho Abaixo da Q.18
02 Parque dos Jequitibás Abaixo da Q.11
03 Parque Recreativo de Sobradinho II Entre Sobradinho I e II
04 Parque Canela-de-Ema Sobradinho II
05 Reserva Biológica da Contagem Grande Colorado
06 Área de Expansão Urbana de Sobradinho Sobradinho II e Condomínios

Fonte: o autor

113
1. Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho

Na área urbana de Sobradinho às margens do ribeirão de mesmo nome estão


localizados os Parques: Ecológico e Vivencial de Sobradinho, dos Jequitibás e o
Parque Recreativo de Sobradinho II.
O Parque Canela de Ema situa-se numa das vertentes do córrego
Paranoazinho, afluente do ribeirão Sobradinho em Sobradinho II.
E, a área de expansão urbana de Sobradinho, representada por Sobradinho II,
por 128 condomínios, e, a Reserva Biológica da Contagem localizada na APA de
Cafuringa.
As principais nascentes do Ribeirão Sobradinho estão localizadas na Serra da
Canastra abaixo da Quadra 18, às margens da BR 020. Essa área abriga o Parque
Ecológico e Vivencial de Sobradinho área do (antigo Horto Florestal), esse parque foi
criado pela Lei nº. 1457, de 5 junho 1997, tem uma área de 200 hectares, é limitado
pela BR 020 no sentido Planaltina/Sobradinho, ao lado direito da Quadra 17 e ao
lado esquerdo do Condomínio Alto da boa Vista.
Esse e os outros parques de Sobradinho foram criados com o objetivo de
garantir a preservação do ecossistema natural, por meio de reflorestamento de
espécies nativas, desenvolvimento de pesquisas, programas de observação
ecológica e atividade de proteção ambiental. A lei de criação desses parques prevê a
instalação de equipamentos urbanos para atendimento ao público, o que é
observado somente no Parque dos Jequitibás.
Nas visitas feitas a esse parque verificou-se que a infraestrutura prevista na
Lei de criação não foi implantada, apesar de ter sido criado ha 12 anos.
Nas saídas de campo observou-se: Relevo, solos, vegetação, estradas de
acesso, habitações e processo de ocupação, recursos hídricos, infraestrutura
existente, espacialidade/ordenamento territorial e áreas de preservação atingidas.
O Ribeirão Sobradinho a partir desse ponto encontra-se ameaçado pelos usos
que se desenvolveram em suas margens e entorno, os quais têm provocado
impactos aos recursos naturais como: desmatamento, assoreamento, canalização
das nascentes principais, represamento do ribeirão em alguns pontos de seu curso
para criação de peixes, irrigação e lazer. Somam-se a essas ameaças o turismo
predatório, o despejo de esgoto doméstico sem tratamento e o lançamento de águas

114
pluviais, a deposição de resíduos sólidos (lixo e entulho), dentre outros usos como
agricultura, criação de animais etc.
Essa forma de ocupação do solo coloca em risco a qualidade e a quantidade
das águas do Ribeirão Sobradinho e de outros cursos d’água da região, como o
córrego Paranoazinho e o Contagem e das águas subterrâneas usadas para
abastecimento.
Os usos antrópicos existentes no entorno do ribeirão observados na pesquisa
de campo são: habitações, (unifamiliares, condomínios horizontais e verticais),
chácaras, fazendas, granjas, mineração, comércio, oficinas mecânicas, pequenas
indústrias, postos de combustíveis, lava-jatos, lazer (clubes e turismo predatório),
Estações de Tratamento de Esgotos, Centrais Elétricas, vias asfaltadas, etc.
Os usos antrópicos levantados pela pesquisa de campo na área de estudo
possibilitaram identificar os impactos socioambientais e os riscos a que estão sujeitos
as populações residentes na região, descritos a seguir no Quadro 10.

Quadro 10 – Impactos Socioambientais


Impactos Sociais Impactos Ambientais
Aumento do contingente populacional Alteração da paisagem natural
Processo acelerado de urbanização Desmatamento
Transformação de área rural em urbana Aumento do processo erosivo
Construções inadequadas Alteração na ecodinâmica do cerrado
Aumento do consumo de água Prejuízos para o setor agrícola
Falta de segurança Fracionamento de lotes rurais
Falta de emprego Alteração na forma de uso e ocupação
do solo
Aumento da violência Alteração da qualidade da água e do
ar
Aumento da criminalidade Assoreamento dos cursos d’água
Conflitos sociais Alteração da dinâmica geomorfológica
Modificação na estrutura imobiliária local Alteração da biota do cerrado
Aumento da demanda de imóveis Perda da qualidade de vida da flora e
fauna do cerrado
Choque cultural pela migração Alteração de ecossistema
Aumento do volume de lixo/entulho Poluição indiscriminada dos cursos
d’água
Aumento do esgoto Seccionamento de ecossistemas
Incremento do setor terciário Mineração
Aumento do fluxo de veículos Construção de rodovias
Turismo predatório
Fonte: SEMARH

115
A área do Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho apresenta sinais de uso
antrópico. Apresenta sinais de degradação do solo pela extração de terra vegetal,
desmatamento e a presença espécies exóticas ao cerrado como: eucaliptos,
pinheiros e outras espécies, plantadas próximas ao leito do ribeirão Sobradinho
substituindo a mata ciliar, como mostra a Figura 31.
Toda essa área do parque está sujeita aos impactos e aos riscos associados ao
uso do solo, apresentadas no Quadro 6, confirmadas na pesquisa de campo.

Figura 31 – Solo descoberto, desmatamento e presença de eucaliptos substituindo a mata ciliar do


Ribeirão Sobradinho

O parque abriga o Segundo Santuário da Eterna Aliança, Figura 32 aberto à


visitação pública, foi construída no sopé da chapada ao lado de uma das várias
nascentes (Fonte do Arco Iris), Figura 33, que fornece água às residências das
chácaras abaixo do santuário e alimenta o Ribeirão Sobradinho.

116
Figura 32 – Santuário construído ao lado de uma das nascentes que alimentam o Ribeirão

Figura 33– Nascente canalizada para abastecimento de água do Santuário e de chácaras dentro do
parque

Em toda área do parque observam-se sinais de uso antrópico pela presença


de chacareiros. A vegetação às margens do ribeirão e na área das principais
117
nascentes está bastante alterada pela ação humana. Em grande parte da extensão
do ribeirão houve a retirada total da vegetação ciliar.
Esse parque tem importância vital para a região porque abriga as principais
nascentes do Ribeirão Sobradinho. As nascentes encontram-se poluídas, suas
águas canalizadas para abastecimento doméstico, criação de peixes e irrigação e o
seu entorno imediato pisoteado por animais. A área apresenta um estado de
degradação avançado como mostra a Figura 34.

Figura 34 – Vestígios de poluição e captação de água da nascente principal do Ribeirão Sobradinho

A vegetação no entorno das nascentes encontra-se degradada pela retirada da


mata ciliar e de toda vegetação em sua volta para a formação de pastos, pela
presença de moradias, solo descoberto, chácaras, e do Condomínio Alto da Boa
Vista nos limites do parque como mostra a Figura 35.

118
Figura 35 – Degradação da mata ciliar e presença de condomínio no entorno das nascentes do
Ribeirão Sobradinho

A Figura 36 mostra a edificação que abrigava sede da administração do horto


florestal desativado, a presença de uma das várias estradas de acesso às chácaras
existentes nessa área, vegetação secundária com espécies exóticas ao cerrado
como: eucaliptos, pinheiros, árvores frutíferas, dentre outras que avançam para as
margens do ribeirão Sobradinho.
Segundo dados do Instituo Brasília Ambiental IBRAM existem dentro do parque
por volta de 30 edificações dispersas. Fato confirmado nas visitas feitas ao local.

119
Figura 36 – Sede do Horto Florestal desativado e estrada de acesso às chácaras

Outros trechos do ribeirão encontram-se desmatados sem a presença de


vegetação arbórea que deram lugar aos pastos para criação de animais, onde há a
predominância de capim ou de gramíneas, como a Baquearia e outras espécies. As
duas margens nesse trecho são ocupadas por pastos. Observam-se em outros
trechos fragmentos de mata de galeria e de mata de encosta. As matas de encosta
apresentam em alguns locais certo grau de preservação por estarem localizadas em
áreas de difícil acesso.
A poluição das nascentes principais, a canalização da água para
abastecimento doméstico, irrigação, criação de peixes e irrigação de hortaliças nesse
e em outro ponto abaixo das nascentes, foi denunciado em reportagem do Jornal
Campus On Line da Universidade de Brasília e confirmado pela pesquisa de campo
como se vê na Figura 37.

120
Figura 37 – Captação de água do ribeirão Sobradinho abaixo de suas nascentes principais – tanque
para criação de peixes e irrigação de hortaliças

O Jornal Campus On Line em reportagem de 28/09/2009 denuncia que meio


século depois de sua fundação Sobradinho apresenta impactos ambientais
semelhantes aos dos grandes centros urbanos. O ribeirão Sobradinho que banha
toda a área urbana está poluído e assoreado e suas águas estão contaminadas
devido aos resíduos lançados pelos visitantes. O ribeirão foi represado ilegalmente
em dois pontos: dentro do Parque Ecológico e Vivencial Sobradinho (Horto Florestal)
para a construção de uma granja a 200 metros de sua nascente principal e na área
do clube BANCREVEA abaixo da Quadra 17.
Foram encontradas embalagens plásticas (garrafas PET), pneus, lixo, entulhos
de construção civil que são deixados por frequentadores em vários pontos às
margens do ribeirão que é um dos principais afluentes do Rio São Bartolomeu. Os
resíduos sólidos descartados às margens e dentro desse curso d’água podem
comprometer o ecossistema local e tornar a água imprópria para o consumo, além do
risco de contaminação do solo e do lençol freático. Fato constatado nas visitas a
campo, como demonstra a Figura 38.

121
Figura 38 – Descarte de lixo e entulho às margens do Ribeirão Sobradinho

O assoreamento sofrido pelo córrego também é um indicador de agressão


ambiental. O desmatamento para o plantio de pastos nas proximidades do ribeirão
causa a erosão do solo e o acúmulo de sedimentos no leito do curso d'água. Quando
há a retirada da cobertura vegetal, a terra é levada pelas chuvas com facilidade e
acaba sendo depositada dentro do córrego, diminuindo a sua vazão e
descaracterizando o solo. Os impactos observados aqui são a contaminação e o
assoreamento do ribeirão.
Mais abaixo, na área cedida ao Espaço Cultural Bumba-Meu-Boi (abaixo da
Quadra 15) existem fossas e sumidouros para captação do esgoto das residências
muito próximas ao leito do ribeirão.
Nesse ponto o ribeirão foi desviado há seis anos para a construção da granja
conhecida como Trem da Serra, o que provocou um processo erosivo no local
segundo um morador.

122
2. Parque Ecológico dos Jequitibás

O Parque Ecológico dos Jequitibás está localizado abaixo da Quadra 11 às


margens do Ribeirão Sobradinho, foi criado pelo Decreto nº. 16.239 de 28 dezembro
de 1994, fica entre os Clubes de lazer do SESI e SODESO abaixo da Quadra 10.
Possui uma área de 11,2 hectares e consiste num ótimo lugar para o lazer. As belas
formações da Mata de Galeria e Mata Mesofíticas são fundamentais à proteção do
Ribeirão Sobradinho, possui grande número de Jequitibás que dão nome ao parque.
Essas matas têm grande importância para a fauna, pois proporcionam refúgio
seguro à reprodução, alimentação e proteção. Contudo, a área de cerrado acima do
parque na margem direita do ribeirão Sobradinho encontra-se com sua vegetação
degradada pelo desmatamento provocado pela ocupação de chacareiros e
invasores. O parque é cortado por uma estrada de acesso às chácaras. O ribeirão
Sobradinho nesse ponto está assoreado e poluído pelo lançamento de esgoto não
tratado e de águas pluviais, como demonstra a Figura 39.

Figura 39 – Vestígios de assoreamento, poluição das águas e desmatamento das margens do


Ribeirão na área do Parque dos Jequitibás

Dos quatro parques de Sobradinho esse é o único que tem boa estrutura para
visitação, como: casa sede, bebedouros, banheiros, figura 40, trilhas pavimentadas e

123
bem cuidadas para caminhada, figura 40, e, equipamentos de lazer como:
parquinhos, aparelhos para exercícios físicos, lixeiras que estão em mau estado de
conservação, figura 41. Dispõe de técnicos em Educação Ambiental, polícia florestal,
e está cercado.

Figura 40 – Sede da administração do parque dos Jequitibás

Figura 41 – Trilhas pavimentadas para caminhada no Parque dos Jequitibás


124
Figura 42 – Equipamentos de lazer no Parque dos Jequitibás

Após o Parque dos Jequitibás na Avenida Contorno encontra-se o clube


SODESO que a exemplo do BANCREVEA E DO SESI tem sua sede edificada muito
próxima à margem esquerda do ribeirão Sobradinho. Entre esse clube e a ponte que
dá acesso a Sobradinho II, DF 420, se observam na mesma margem a presença de:
campo de futebol, sede de uma obra assistencial da APAE, invasão de chacareiros,
viveiro de plantas da Administração Regional de Sobradinho. Na margem direita
estão as chácaras, algumas arrendadas pelo governo local, outras invadidas.
Observa-se ainda, a retirada da mata ciliar, o desvio do leito do ribeirão em vários
pontos e um avançado processo de erosão e assoreamento.

3. Parque Recreativo de Sobradinho II

O Parque Recreativo de Sobradinho II foi criado pela Lei nº. 923, de


19/9/1995. Está situado em uma área que tem como limites o Ribeirão Sobradinho, a
DF-420 e o Posto de Saúde Sobradinho II, não dispõe de infraestrutura para visitação
pública e não está cercado. Esse parque divide as áreas urbanas de Sobradinho e
Sobradinho II, essa área está degradada pela ocupação do leito do ribeirão por
chácaras, invasões (habitações de baixa renda), curral comunitário, pisoteio de
125
animais, existência de estradas de acesso entre as cidades, Casa do Índio da
FUNAI, presença de lixo, entulho de construção civil e queima de resíduos sólidos
como se verifica nas Figuras 43 e 44. Além da ausência de mata ciliar, nesse trecho o
ribeirão encontra-se bastante assoreado devido ao lançamento de esgoto e de águas
pluviais.

Figura 43 – Presença de lixo e entulho na área do parque

126
Figura 44 – Ocupação antrópica, depósito e queima de lixo às margens do ribeirão Sobradinho, na
área do parque

4. Parque Recreativo e Ecológico Canela-de-Ema

O Parque Recreativo e Ecológico Canela-de-Ema foi criado pela Lei nº. 1.400,
de 10/03/1997, está localizado na Área Especial nº 3 do Núcleo Urbano da Fazenda
Sobradinho, no entorno da lagoa “Buriti”, situada nas proximidades da DF 425. Tem
uma área de 52,9 hectares. O parque conta com diversas trilhas não pavimentadas
as quais não foram encontradas nas saídas de campo.
O parque abrange a lagoa Canela-de-Ema ou “Buriti”, situada numa das
vertentes do córrego Paranoazinho, afluente do ribeirão Sobradinho. A vegetação
em torno do parque é constituída por veredas, campo de murundus, buritizais, com
áreas brejosas e grande quantidade da espécie arbustiva denominada Canela-de-
Ema, que dá nome ao parque. Percebe-se na área um alto grau de degradação
como mostra a figura 45 abaixo.

127
Figura 45 – Vista parcial da ocupação e degradação da Lagoa Buriti dentro do parque Canela de Ema

Devido à proximidade com assentamentos para população de baixa renda e


com Sobradinho II, a lagoa e as demais áreas do parque servem como depósito de
lixo, entulhos, escoamento de esgoto e todo o tipo de devastação.
A vegetação desse lugar é rica em taboas e buritis, e muitas outras espécies do
cerrado que estão ameaçadas. A Lagoa “Buriti” foi seccionada e aterrada para
construção da estrada que liga Sobradinho II aos condomínios da DF 150 e 425.
Como mostra a figura 46.

128
Figura 46 – Presença de lixo e da estrada que secciona a Lagoa Buriti no parque Canela-de-Ema

5. Reserva Biológica da Contagem (REBIO)


A Reserva Biológica da Contagem – (REBIO), foi criada pelo Decreto Federal
s/n° de 13 de dezembro de 2002, com área total de 3.460 hectares, tem o objetivo de
assegurar a preservação do equilíbrio natural da diversidade biológica e dos
processos ecológicos naturais. Seus limites correspondem a uma poligonal que
engloba as cabeceiras do Ribeirão da Contagem e do Córrego Paranoazinho, e parte
de suas microbacias. Abrangem, ainda, as encostas e o topo da Chapada da
Contagem, próxima aos condomínios do Grande Colorado, o entorno da Vila BASEVI
e a extremidade leste do Núcleo Rural Lago Oeste, região bastante ameaçada pelas
ocupações irregulares das margens da DF-001 e da DF-150 como se vê na Figura
47.

129
Figura 47 – Ocupação de encosta na Reserva Biológica da Contagem próximo ao Córrego
Paranoazinho e à DF 150

A Reserva Biológica da Contagem é parte integrante da APA de Cafuringa. É,


a exemplo das outras áreas analisadas, frágil do ponto de vista ambiental e tem o
seu entorno ocupado por condomínios, chácaras, mineração de areia, cascalho e
outros tipos de ocupação que avançam para o leito dos rios e córregos Paranoazinho
e Contagem, para as encostas e nascentes ao longo de todo o percurso desses
cursos d'água.
Além do abastecimento de água potável na maioria dos condomínios dessa
área ser feito por meio de poços tubulares, a região não conta com infraestrutura de
saneamento básico e a coleta de esgoto é feita por fossas e sumidouros (buracos
negros) que depositam os efluentes diretamente no subsolo favorecendo o risco de
contaminação do lençol freático.
Nas visitas feitas à REBIO se constatou a degradação da vegetação, a
presença de estradas, erosão do solo evoluindo para voçoroca, solo descoberto e
degradado pela extração de areia e cascalho como demonstra a Figura 48 e 49.

130
Figura 48 – Estrada de acesso aos condomínios do Grande Colorado na área da Reserva Biológica
da Contagem

Figura 49 – Solo degradado pela extração de areia dentro da Reserva Biológica da Contagem

131
Está localizada dentro da Reserva Biológica da Contagem a Área de Proteção
de Mananciais – (APM), definidas no Artigo 30 da Lei Complementar nº 17, de 28 de
janeiro de 1997, regulamentado pelo Decreto Distrital nº 18.585, de 9 de setembro de
1997, são áreas destinadas à conservação, recuperação e manejo das bacias
hidrográficas a montante dos pontos de captação da Companhia de Saneamento do
Distrito Federal (CAESB), sem prejuízo das atividades e ações inerentes à
competência de captar e distribuir água de boa qualidade e em quantidade suficiente
para o atendimento da população. Nessa região protegidas e transformadas em
Unidades de Conservação, são consideradas Áreas de Preservação de Mananciais
(APMs), são representadas pelas áreas localizadas nas bacias hidrográficas as
captações do Ribeirão Contagem e Córrego Paranoazinho. As atividades de
captação de água, desenvolvidas pela CAESB no interior dessa reserva, apesar de
atividade conflitante, são asseguradas pelo decreto de criação da unidade de
conservação.
A existência da REBIO visa assegurar a preservação das nascentes do
Ribeirão da Contagem e do Córrego Paranoazinho e parte dos seus cursos, com
suas matas de galeria encaixadas nas encostas escarpadas (SEMARH, 2006).
Próximo à represa de captação do Contagem/Paranoazinho está instalado o
Condomínio Mansões Colorado fazendo divisa com a Área de Proteção de
Mananciais (APM). Além da existência da Vila BASEVI pouco acima, existe a
presença de chácaras, condomínios e outros tipos de ocupação ao longo desses
cursos d’água que vão desaguar no ribeirão Sobradinho e no rio Maranhão
respectivamente.

6. Área de Expansão Urbana de Sobradinho

Essa área é formada por Sobradinho II e pelos condomínios que fazem parte
da área de expansão urbana de Sobradinho.
O modelo de ocupação dos condomínios surgiu no DF e em Sobradinho a
partir de 1989, fruto da falta de uma política habitacional do governo local, da
especulação imobiliária e da falta de fiscalização para reprimir esse processo de
ocupação. Sobradinho possui aproximadamente 20% dos condomínios do Distrito
Federal, ou seja, segundo números fornecidos pela Administração Regional, 128

132
parcelamentos, divididos em oito Setores Habitacionais como foi demonstrado no
quadro 5, dentre os quais, muitos sem a mínima infraestrutura. Em contrapartida,
alguns apresentam uma estrutura igual ou superior a de algumas cidades do DF.
Para conter o crescimento desordenado foi implementado na cidade, além do
(PDOT), Plano Diretor de Ordenamento Territorial e Urbano, o (PDL) Plano Diretor
Local que na condição de instrumentos de gestão urbana não conseguiram conter
esse crescimento.
Segundo Steinberger, (1999), esse período foi marcado ainda pela
proliferação de loteamentos clandestinos e pelo aparecimento da cidade ilegal a
partir do parcelamento privado da terra.
A pesquisa bibliográfica apontou que os parcelamentos apresentam
ilegalidades como: problemas fundiários, títulos de propriedade falsos, superposição
de área¸ terras com litígios entre proprietários, problemas quanto à legislação
ambiental, parcelamentos implantados em áreas de fragilidade ambiental e
problemas urbanísticos.
A pesquisa de campo apontou que essa área apresenta problemas ambientais
comuns às outras áreas analisadas, contudo, a ocupação avança de forma
desordenada para áreas impróprias para o adensamento urbano como encostas,
áreas de nascentes, leitos de córregos e ribeirões. Nesse item será analisada a
ocupação de encostas.
O crescimento das cidades ocorre geralmente em áreas planas ou
suavemente onduladas, onde a ocupação tem menor risco geomorfológico. No
entanto, a intensificação da expansão urbana pode gerar a consolidação de novos
vetores de ocupação do solo (invadindo áreas sujeitas a deslizamentos ou de
preservação ambiental). Conter esse crescimento é tarefa difícil, mesmo com o
planejamento prévio e investimentos necessários, de forma a controlar e direcionar a
ocupação de terras.
Em Sobradinho a partir de 1989 o crescimento urbano se deu de forma
intensa e desordenada. Para solucionar o problema da falta de moradia a população
passou a ocupar as áreas de encostas de forma desordenada, não observando
fatores riscos sócioambientais como: riscos trazidos pelo desmatamento, queimadas
e cortes em terrenos das encostas.
Nas áreas urbanas, o desmatamento e o corte das encostas, para construção
de casas, prédios e ruas, é uma das principais causas da degradação.
133
A desestabilização das encostas, feita pela construção de casas, por
população de baixa ou de alta renda, tem provocado o desencadeamento de uma
série de problemas ambientais. Esse fato se verifica em grande parte dos municípios
brasileiros, no DF e em Sobradinho.
De acordo com Santos (2007) a urbanização em encostas e vales acontece de
forma heterogênea, no tocante à classe social que as ocupam e as degradam.
Entende-se por encosta declive nos flancos de um morro, de uma colina ou de uma
serra.
Com exceção dos fundos de vales e topos de chapadas, quase todas as terras
emersas são constituídas por encostas. Elas podem ocupar paisagens inteiras em
determinadas partes da superfície terrestre (GUERRA, 2003).
As encostas constituem uma conformação natural do terreno originada pela
ação de forças externas e internas por meio de agentes geológicos, climáticos,
biológicos e humanos, os quais, através dos tempos esculpem a superfície da Terra
(BRASIL 2007).
Dentre os riscos a que as populações estão sujeitas nessas áreas está o
escorregamento ou deslizamento que é o termo genérico para vários tipos de
movimento de massa de solos, rochas ou detritos gerados pela ação da gravidade e
tem como principal fator de geração a infiltração de água servida, e, principalmente
das chuvas.
De acordo com Brasil (2007) as pessoas que habitam áreas de risco estão
sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais. Normalmente,
no contexto das cidades brasileiras, essas áreas correspondem a núcleos
habitacionais de baixa renda (assentamentos precários) e favelas.
Esses riscos podem ainda ser gerados por atividades do homem ou
condicionantes antrópicos que são os principais deflagradores do movimento de
massa que modificam as condições naturais do relevo, por meio de cortes para
construção de moradias, aterros, lançamento de águas sobre vertentes, estradas e
outras obras.
Somam-se a esses condicionantes a remoção da cobertura vegetal,
vazamento na rede de água e esgoto, presença de fossas, lançamento de lixo nas
encostas/taludes, e deflagração de processos erosivos. Portanto, o deslizamento é
resultado da ocupação inadequada e é mais comum em zonas de ocupações
precárias de baixa renda (BRASIL, 2007).
134
A ocupação das encostas provoca a modificação da sua topografia, leva ao
desmatamento que intensifica a instabilidade desse ambiente natural. A cobertura
vegetal protege as encostas contra a ação da erosão e dos movimentos de massa.
Portanto, o desmatamento nessas áreas para utilização econômica, expansão
urbana ou exploração de recursos naturais é um fator gerador de impacto ambiental
e de riscos associados.
A ocupação dessas áreas nos municípios brasileiros oferece riscos
especialmente às populações de baixa renda. Por isso o Ministério das Cidades
elaborou um material informativo em parceria com o Instituto de Pesquisa
Tecnológica do Estado de São Paulo – IPT que possibilita o treinamento de equipes
municipais para o gerenciamento de riscos em áreas sujeitas a riscos de
deslizamentos, enchentes e inundações, investindo na capacitação de técnicos
municipais para elaborarem de forma autônoma, o diagnóstico de áreas de riscos e a
montagem de um sistema municipal de gerenciamento de riscos que contemple a
participação ativa das comunidades (BRASIL, 2007).
A ausência ou má aplicação de uma política de habitação e de
desenvolvimento urbano levou boa parte das populações no Brasil a ocuparem áreas
ambientalmente frágeis, especialmente em margens de rios e encostas. Fato que é
observado no DF e em Sobradinho.
A ocupação de encostas nas cidades causa impactos ambientais urbanos que
prejudicam diretamente os seus ocupantes, já que o processo de ocupação irregular
e desordenado desestabiliza a encosta.
No DF a Defesa Civil mapeou 23 áreas de risco, duas das quais estão em
Sobradinho II, na Vila Rabelo e na região da FERCAL.
Na Vila Rabelo I e II se observa a ocupação dos patamares de encostas que
são consideradas áreas de risco muito alto pela Defesa Civil, por serem habitados
por população de baixa renda, como se pode observar na figura 48. Na região da
FERCAL observa-se a presença de moradias na encosta e próximas às margens de
ribeirões, encostas e às fábricas de cimento.
Os impactos ambientais urbanos causados nas encostas repercutem de forma
devastadora ao seu agressor. A ocupação irregular provoca vários processos de
instabilidade da encosta. Os mais comuns são os movimentos de massa.

135
Dentre as várias formas e processos de movimentos de massa, destacam-se
os deslizamentos nas encostas.

Figura 51 – Ocupação de Área de Risco na Vila Rabelo

A ocupação das encostas provoca a retirada da cobertura vegetal, tornando-as


frágeis aos movimentos de massa como mostra a figura 51. Esse desmatamento tem
os seguintes riscos ambientais associados: aceleração de processos erosivos,
alteração da dinâmica fluvial, redução da capacidade de infiltração, aumento do
escoamento superficial, carreamento de maior volume de sedimentos para a calha
fluvial, assoreamento do leito dos rios com risco de enchentes na planície de
inundação, presença de lixo e de entulho que possibilita o deslizamento de terra.
As metrópoles brasileiras convivem com acentuada incidência de
deslizamentos induzidos por cortes para implantação de moradias e de estradas,
desmatamentos, atividades de pedreiras, disposição final do lixo e das águas
servidas, com grandes danos associados (BRASIL, 2007).
A pesquisa de campo identificou que a ocupação de encostas em Sobradinho
se dá tanto em condomínios de baixa, quanto nos de média e alta renda.
Observou-se que em diferentes condomínios existem casas construídas na
beira de penhascos, e tem se a impressão de que elas podem desabar.

136
A ocupação dos condomínios irregulares nessas áreas além de colocar
córregos e nascentes em risco, as construções constituem uma ameaça à vida das
famílias que constroem casas em locais ambientalmente frágeis.
A Defesa Civil do DF apontava em 2007 que das 14 áreas consideradas de
risco no DF, 10 estavam em parcelamentos irregulares e que pelo menos 190 mil
pessoas viviam em locais onde poderiam ocorrer deslizamentos, desabamentos ou
inundações em época de chuva.
A Defesa Civil dá prioridade ao atendimento de famílias carentes, por isso o
mapa de risco do DF inclui somente áreas de baixa renda como: Arapoanga,
Estrutural, FERCAL, Vila Rabelo, Vila Cauhy, Vale do Amanhecer, Condomínio Privê,
Ponte Alta do Gama e Vila Feliz, eram esses os 10 loteamentos ilegais considerados
de risco à época. As áreas regulares do levantamento são: Riacho Fundo,
Samambaia, São Sebastião e Varjão.
Os dados oficiais da Defesa Civil não incluem condomínios em áreas nobres.
Contudo, em Sobradinho existem vários pontos com risco de deslizamento e
desabamento devido à ocupação de encostas identificadas na pesquisa de campo, a
saber: Condomínio Jardim Europa I, Solar de Athenas e Vivendas Colorado I, na
região do Grande Colorado (Chapada da Contagem), Condomínio Recanto dos
Nobres, Morada dos Nobres, Recanto Real, Bianca e algumas chácaras às margens
do córrego Paranoazinho na DF 425 e BR 020, Condomínio Residencial RK e
Império dos Nobres também às margens da BR 020.
Situação mais grave, no entanto, foi verificada na região da FERCAL e na Vila
Rabelo, onde existem casas construídas a exemplo dos outros condomínios, em
declividades superiores a 20%, que é classificado pela Defesa Civil como sendo de
risco muito alto devido à falta de sistema de drenagem da água de chuva, falta de
saneamento básico, presença de lixo e entulho na encosta, casas com estruturas
precárias, construídas em uma região de vales e barrancos, alguns barracos,
especialmente na Vila Rabelo II, ficam inclinados até 45º prestes a cair como ilustra a
figura 52. O perigo aumenta com as chuvas.

137
Figura 52 – Ocupação de encostas na Vila Rabelo destacando, em primeiro plano, a presença de lixo.

Moradores dessas áreas em conversas informais, disseram desconhecer a


ocorrência de desabamentos de terra, mas admitiram ter medo de morrer no local.
Contudo, observaram-se na Vila Rabelo que 145 famílias estão vulneráveis ao risco
de desabamento por causa da precariedade das construções.
De acordo com matéria publicada em 9 de dezembro de 2009 no Correio
Braziliense a Defesa Civil do DF afirma que existem 23 áreas de risco em todo o DF.
Verifica-se, portanto, que houve o aumento da ocupação irregular de terras entre os
anos de 1997 e 2009.
Ainda sobre a ocupação de encostas, a legislação, por meio da Lei Lehman
(Lei Federal 6.766/79) permite construções em terrenos com declividade de até 17º
(30%) conforme tabela de conversão entre os valores de declividade e inclinação
apresentada por (BRASIL 2007). Mas o tipo de solo predominante nessa área é
propício aos deslizamentos tornando o risco alto, mesmo com índice de declividade
de 11º (20%). Verificou-se que na região do Grande Colorado, o solo é do tipo
cambissolo, que é fácil de ser fragmentado. O tipo de solo e a declividade são
indicadores restritivos à ocupação urbana nessa região. Como indica a figura 50.
Na Reserva Biológica da Contagem na região do Grande Colorado a
declividade é grande e a altitude é de 1.216 metros acima do nível do mar próximo
138
aos Condomínios Solar de Athenas e Vivendas Colorado I e ali algumas casas foram
construídas na encosta.

Figura 50 – Solo suscetível a fragmentação e a ausência de muros de arrimo para sustentação do


terreno ao fundo na Vila Rabelo

Observou-se anteriormente que os ricos, diferentemente dos pobres, possuem


meios econômicos para conter as ameaças de risco em razão da ocupação irregular
de áreas frágeis nas grandes cidades, como no caso das encostas.
Moradores de condomínios de classe média em Sobradinho relataram em
conversas informais que é comum a queda de paredes de muros de arrimos nas
encostas, mas, que isso não representa risco para eles. Alegam que para diminuir o
risco de desabamento, basta reforçar a estrutura da edificação. A maioria não tem a
percepção do risco a que estão expostos.
Nas conversas informais descobriu-se ainda que alguns moradores optaram
pela construção na beira da encosta para apreciar a vista da região. Ignoram o risco
de deslizamento da encosta e de desabamento da edificação.
Observou-se que as casas são construídas na borda do vale. São construídos
muros de arrimo com a finalidade de sustentar o terreno. O mesmo não ocorre em
condomínios de baixa renda. Percebe-se que muitas casas não dispõem de quintal

139
porque está na beira da encosta destituída de cobertura vegetal, o que aumenta o
risco de deslizamento. Como mostra a figuras 51.

Figura 51 – Casas construídas com muros de arrimo para sustentação do terreno e a encosta
desmatada em condomínio de classe média

Os riscos de deslizamentos são mais frequentes por causa do tipo de


ocupação em morros e encostas, cuja topografia é suscetível à movimentação de
terras. Observa-se que o problema se agrava com as ocupações irregulares.
Para ocupação dessas áreas as pessoas fazem um corte na encosta ou
barranco, aterram uma parte para deixar o terreno mais plano e constroem a
moradia. Quando chove há um aumento do peso do terreno, favorecendo o
surgimento de zonas de risco. Dependendo da área, da declividade e da intensidade
da chuva, pode se tornar uma ameaça aos moradores.
Observa-se ainda que, habitações precárias, pobreza, ausência de fiscalização
por parte do poder público e a falta de uma política adequada de moradias populares
estão entre as principais causas das ocupações em áreas de risco nas cidades
brasileiras e nos países em desenvolvimento.
As ações de gerenciamento envolvendo áreas de risco de deslizamento nas
cidades devem ser feitas por meio de medidas estruturais e não estruturais,
envolvendo de acordo com critérios desenvolvidos pelo Ministério das Cidades e o

140
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). O gerenciamento de riscos
envolve vários atores públicos e privados.
Para gerir os riscos urbanos o poder público deve desenvolver atividades de
natureza administrativa e operacional para minimizar impactos gerados pela
ocupação em áreas de risco. Compete ao poder público elaborar medidas para
reduzir e mitigar os riscos ambientais.
Dessa forma, a Defesa Civil é o órgão responsável por coordenar ações em
todo Brasil com o objetivo de reduzir desastres e criar ações de prevenção, de
preparar para emergências, reconstruir. As suas ações envolvem os três níveis de
governo, federal, estadual e municipal com a participação da comunidade. As ações
da Defesa Civil em todo o Brasil são amparadas pela Política de Defesa Civil criada
em 1995 e aprovada pelo Conselho Nacional de Defesa Civil (CONDEC).
Pelas medidas estruturais aplicam-se soluções por meio de obras de
engenharia com execução de obras para estabilização de encostas, sistemas de
drenagem, obras de infraestrutra urbana, realocação de moradias, etc.
As ações não estruturais aplicam medidas relacionadas às políticas urbanas,
planejamento urbano, legislação, planejamento de defesa civil e educação. Essas
medidas têm custos mais baixos do que as estruturais e apresentam bons
resultados, especialmente na prevenção de acidentes.
As medidas estruturais e não estruturais apresentadas servem para gerir tanto
os riscos de deslizamentos quanto os de inundações. Na região de estudo não se
observa a aplicação dessas ações nas áreas de risco, especialmente nas áreas de
declividade acentuada e de encostas.
Observou-se que não existe uma política do governo local para diminuir os
riscos dessa ocupação e que a Defesa Civil atua pontualmente em locais como a Vila
Rabelo I e II e FERCAL em períodos de chuva quando aumenta o risco de
deslizamento.
A pesquisa de campo levantou os seguintes impactos ambientais e riscos
associados nessa área:
- Falta de saneamento básico, onde a captação do esgoto é feita por fossas e
sumidouros que fazem o tratamento parcial dos resíduos depositando-os diretamente
no solo; presença de esgoto a céu aberto, predispondo os moradores a risco de
contaminação do solo, subsolo/lençol freático, poluição dos corpos d’água e

141
atmosférica, e ao risco de doenças, especialmente a dengue, comum em época de
chuva;
- Abastecimento de água potável feita por bombeamento de poços tubulares e
cisternas, apresenta vários problemas, entre eles, o risco de contaminação do lençol
freático por fossas e sumidouros, falta de tratamento sistemático da água, diminuição
da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos devido ao grande número de
poços tubulares abertos na região;
- Grande produção de resíduos sólidos (lixo, entulho), de forma geral a coleta de
resíduos é feita internamente por funcionários dos condomínios que dispõem os
resíduos em containers a céu aberto para serem recolhidos posteriormente pela
BELACAP. É comum o lixo ser espalhado por animais, o que provoca mau cheiro.
Quanto ao entulho, verificou-se que a sua deposição é feita em terrenos baldios, em
leitos de rios, etc. devido à inexistência de área para esse fim;
- Desmatamento com a retirada da cobertura vegetal original para a demarcação de
lotes, abertura de ruas, exploração de cascalho, areia, argila, calcário em volta dos
condomínios e na área da FERCAL; introdução de espécies exóticas ao cerrado
consorciadas ao plantio de grama. Os impactos e os riscos associados ao
desmatamento podem ser vistos no Quadro 6;
- Falta de drenagem urbana, verificou-se que alguns condomínios de classe média
possuem drenagem interna de águas pluviais. Porém, devido à ausência de rede
externa de escoamento, as águas são drenadas para o entorno dos parcelamentos
provocando erosão, assoreamento dos cursos d’água, e, em alguns casos, a erosão
evolui para voçoroca como se verifica em todo o curso do córrego Paranoazinho;
- Impermeabilização do solo, provocada pelo desmatamento para abertura de ruas,
demarcação de lotes, pavimentação das ruas, extração de cascalho e areia
provocam a aceleração do processo erosivo e mudança no microclima dessas áreas.
Observou-se que os problemas identificados provocam uma cadeia de
alterações como: desmatamento, erosão, impermeabilização do solo, assoreamento
de rios, córregos, lagoas, etc.
A ocupação de um ambiente natural, no processo de urbanização geralmente
ocorre com a remoção da cobertura vegetal. O desmatamento, quando feito de forma
inadequada, resulta em vários impactos ambientais, tais como: modificações
climáticas, danos à flora e à fauna, descobrimento do solo, causando o incremento
da erosão, a remoção da camada fértil do solo, empobrecendo-o, o assoreamento
142
dos cursos d’água, o aumento do escoamento superficial da água e a redução da
infiltração, provocando o risco de inundações (MOTA 2004).
Para demonstrar a extensão do processo de degradação dos recursos
naturais apresenta-se o mapeamento multitemporal realizado pela UNESCO (2000).
Esse estudo revelou um processo de uso e ocupação do espaço geográfico em que,
de forma sistemática vão desaparecendo os espaços naturais e aparecendo áreas
urbanas e/ou espaços agrícolas diferentes dos que existiam anteriormente.
A UNESCO elaborou um quadro onde se pode verificar a dinâmica da
alteração da cobertura vegetal e do uso do solo no DF entre 1954 e 1998.
Esse trabalho da UNESCO concluiu que o adensamento da malha urbana e o
crescimento da ocupação agrícola, em conjunto, concorreram para as
transformações territoriais e para a redução da área de vegetação original do
cerrado. Pode-se verificar que os efeitos dessa ocupação se agravaram entre 1994 e
1998, período de maior pressão para a consolidação dos parcelamentos irregulares
como mostra o Quadro 11.

Quadro 11 – Qualificação multitemporal das áreas de cobertura vegetal e uso


do solo em hectare (ha)
CLASSE 1954 1964 1973 1984 1994 1998
LEGENDA
Mata 109.414 94.533 88.017 73.060 69.415 57.770
Cerrado 220.003 198.694 176.103 105.281 100.541 57.622
Campo 251.609 275.267 254.597 222.187 144.762 130.501
Corpos d’água 160 4.074 4.749 5.750 5.909 5.369
Área Agrícola 93 2.570 35.223 120.954 213.896 269.365
Área Urbana 121 4.625 12.208 21.409 28.134 38.179
Reflorestamento 0 0 0 19.357 11.977 9.235
Solo Exposto 0 1.637 10.503 13.402 6.765 13.357
TOTAL 581.400 581.400 581.400 581.400 581.400 581.400
Fonte: Unesco

143
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Por meio desse trabalho buscou-se a interação entre informações sobre a


avaliação dos riscos ambientais, história ambiental, geografia e outras áreas do
conhecimento para fazer a avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da
ocupação humana do Planalto Central e da região de Sobradinho, Distrito Federal, e
analisar os efeitos socioambientais dessa ocupação. Dessa forma, constatou-se que
o povoamento dessa região teve início na primeira metade do século XVIII, antes,
portanto, da demarcação do sítio para a implantação da capital.
Utilizaram informações sobre o meio natural da região contidas no Relatório
da Missão Cruls de 1894, que realizou um estudo minucioso sobre, clima, economia,
fauna, flora, geologia, recursos minerais, materiais de construção e outros aspectos
da região. Contudo, os estudos sobre recursos hídricos e a salubridade do clima
tiveram peso relevante para a comissão escolher essa área como a mais indicada
para a construção da nova capital.
Apresentaram-se no corpo do trabalho alguns fragmentos desse Relatório
Cruls com considerações sobre aspectos ambientais dessa área na época da
demarcação que possibilita ter-se idéia do meio ambiente existente na região em
1892. Isso permitiu dimensionar os efeitos socioambientais da ocupação urbana em
Sobradinho nos dias atuais.
O estudo constatou que a exemplo do que ocorreu em todo Distrito Federal,
em Sobradinho o avanço da ocupação urbana se deu de forma planejada a partir da
implantação da cidade em 1960. E, a partir da década de 1990 de forma
desordenada com a implantação da região de expansão urbana de Sobradinho II e a
implantação de condomínios irregulares que geraram graves impactos ambientais
levando à degradação do meio ambiente da região descrito no Relatório Cruls.
Verificou-se que esse processo de expansão urbana aconteceu rapidamente,
sem planejamento, de forma acelerada e sem fiscalização dos órgãos do governo
local.
Essa ocupação não levou em conta a legislação ambiental, o Plano Diretor de
Ordenamento Territorial (PDOT) e desrespeitou as características naturais da região
visto que quase toda a cobertura vegetal foi retirada; os cursos d’água foram
poluídos; nascentes foram usadas à exaustão ou desapareceram; áreas sujeitas a

144
deslizamentos nas encostas foram ocupadas; observam-se a deposição irregular de
vários tipos de resíduos sólidos e líquidos que são fatores agravantes da poluição.
Constatou-se que essa ocupação gerou como consequência, graves impactos
ao meio natural e o surgimento de áreas de risco e de vulnerabilidade ambiental para
a população das áreas avaliadas.
A pesquisa revelou que existe relação direta entre o processo de uso e
ocupação do solo e a degradação ambiental identificados em Sobradinho e que os
efeitos socioambientais dessa ocupação são irreversíveis. O estudo não identificou
práticas e condutas de conservação do meio natural por parte do governo local, de
particulares ou instituições não governamentais.
A aplicação da metodologia da Avaliação dos Riscos Ambientais – ARA
possibilitou identificar as áreas de risco ambiental e identificar a população sujeita
aos riscos analisados.
E dessa forma, permitiu identificar, também, que o processo de uso e
ocupação dessas áreas de riscos demonstra como se estabelece a construção social
dos riscos ambientais na região. Percebidos especialmente, em comunidades de
baixa renda.
Observou-se que a necessidade de preservação de áreas às margens dos
ribeirões Sobradinho, Paranoazinho e Contagem é uma preocupação da legislação
ambiental demonstrada na criação de Áreas de Preservação Ambiental (APAs),
Parques Ecológicos, Reserva Biológica e Área de Preservação de Manancial.
A ocupação dessas áreas está comprometendo a qualidade e quantidade das
águas superficiais e subterrâneas de suma importância para o abastecimento da
população, e contribuem diretamente na alimentação das bacias do São Bartolomeu
e Maranhão.
As matas ciliares desses ribeirões são importantes porque atuam como
corredores ecológicos entre o Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho, o Parque
dos Jequitibás, Parque Recreativo de Sobradinho II, o Parque Canela-de-Ema e a
Reserva Biológica da Contagem.
Contudo, constatou-se que esses corredores ecológicos estão comprometidos
pela retirada da cobertura vegetal para implantação de condomínios, construção de
rodovias e vias públicas que seccionaram esses corredores, colocando em risco a
biodiversidade local.

145
Os diversos usos e ocupação do solo para habitação, comércio, implantação
de vias e rodovias urbanas, chácaras e condomínios em áreas de uso controlado,
mineração, oficinas, postos de combustíveis, lava-jatos, clubes de lazer, indústria, e
outros usos, trazem risco à população e aos cursos d’água por causa da presença de
atividades que potencialmente causam poluição e contaminação.
Por fim, o estudo concluiu que as áreas de riscos ambientais em Sobradinho
estão relacionadas à ocupação de áreas protegidas pela legislação ou áreas de uso
controlado onde se verifica que a variedade de usos e ocupação do solo provoca a
retirada da cobertura vegetal, principalmente de mata ciliar; a canalização de
nascentes, a abertura de poços e cisternas para abastecimento de água; abertura de
fossas e sumidouros para captação de esgoto; a deposição e irregular de resíduos
sólidos em terrenos baldios e nas margens de ribeirões.
Esses fatores provocam a perda da biodiversidade, causam o seccionamento
dos corredores ecológicos e a contaminação dos cursos d’água.
Diante disso, recomenda-se para a área em estudo:
• Promover o cercamento e a Instalação de infraestrutura nos parques
ecológicos para que possam cumprir os objetivos previstos em lei;
• Promover programas para a recuperação de áreas degradadas com a
implantação de plano de gestão para essas áreas;
• Reposição sistemática da cobertura vegetal nativa, especialmente o
reflorestamento de mata ciliar;
• Implantar programa de fiscalização sistemática para evitar a invasão em áreas
de uso controlado e de risco;
• Implantar projeto de revitalização da área das nascentes e do curso urbano do
ribeirão Sobradinho e o monitoramento da qualidade de suas águas;
• Fiscalizar e controlar a deposição irregular de resíduos sólidos. Diminuir os
depósitos clandestinos com a destinação de local para deposição;
• Fiscalizar e controlar o despejo de esgoto doméstico nos cursos d’água,
especialmente no ribeirão Sobradinho;
• Implantação de infraestrutura de saneamento básico em condomínios já
consolidados;
• Cumprimento da legislação no que se refere a desocupação de áreas
protegidas;

146
• Implementar políticas públicas que inibam o uso e a ocupação desordenada
do solo;
• Promoção de programas e projetos permanentes de educação ambiental, com
o objetivo de produzir conhecimento e informação para garantir o uso
adequado dos parques ecológicos, da reserva ecológica para diminuir os
riscos socioambientais nessas áreas;
• Fiscalizar com o intuito de compatibilizar as ações de proteção e de
preservação dos mananciais com a preservação ambiental.

147
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154
ANEXOS

1.2 ANEXO A – ARTIGOS 2° E 3° DO CÓDIGO FLRESTAL BRASILEIRO – LEI


4.771 DE 15 DE SETEMBRO DE 1965

Art. 2º - Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as


florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em
faixa marginal cuja largura mínima seja:
1) de 30 m (trinta metros) para os cursos d'água de menos de 10 m (dez metros) de
largura;
2) de 50 m (cinquenta metros) para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 m
(cinquenta metros) de largura;
3) de 100 m (cem metros) para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 m (duzentos metros) de largura;
4) de 200 m (duzentos metros) para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos)
a 600 m (seiscentos metros) de largura;
5) de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d'água que tenham largura superior
a 600 m (seiscentos metros).
__________
: Redação determinada pela Lei nº 7.803/89
_________
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer
que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 m (cinquenta metros) de
largura;
__________
: Redação determinada pela Lei nº 7.803/89
_________
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45 , equivalente a
100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em

155
faixa nunca inferior a 100 m (cem metros) em projeções horizontais;
__________

: Redação determinada pela Lei nº 7.803/89


_________
h) em altitude superior a 1.800 m (mil e oitocentos metros), qualquer que seja a
vegetação.
__________
: Redação determinada pela Lei nº 7.803/89
_________
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas
nos perímetros urbanos definidos por lei municipal e nas regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos
respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites
a que se refere este artigo.
__________
: Acrescentado pela Lei nº 7.803/89
_________
Art. 3º - Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim
declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação
natural destinadas:
a) a atenuar a erosão das terras;
b) a fixar as dunas;
c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;
h) a assegurar condições de bem-estar público.
§ 1º - A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será
admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária
à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse
social.

156
1.3 ANEXO B – INTEGRA DO ARTIGO 3° DA CONSTITUIÇÃO DE 1891,
ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE
1934 E DO ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1946

Art. 3º - Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona


de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela
estabeIecer-se a futura Capital federal.

ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1934


SOBRE A MUDANÇA DA CAPITAL

Art. 4º - Será transferida a Capital da União para um ponto central do Brasil. O


Presidente da República, logo que esta Constituição entrar em vigor, nomeará uma
Comissão, que, sob instruções do Governo, procederá a estudos de várias
localidades adequadas à instalação da Capital. Concluídos tais estudos, serão
presentes à Câmara dos Deputados, que escolherá o local e tomará sem perda de
tempo as providências necessárias à mudança.

ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1946

Art. 4°
A capital da União será transferida para o planalto central do País.
§ 1° - Promulgado este Ato, o Presidente da República, dentro em sessenta dias,
nomeará uma Comissão de técnios de reconhecido valor para proceder ao estudo da
localização da nova Capital.
§ 2°- O estudo previsto no parágrafo antecedente será encaminhado ao Concgresso
Nacional, que deliberará a respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o
início da delimitação da área a ser incorporada ao domínio da União.
§ 3° - Findos os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional resolverá sobre a
data da mudança da Capital.

157
1.4 ANEXO C - CARTA DE GLAZIOU TRANSCRITA NO RELATÓRIO DA
COMISSÃO QUE DEMARCOU A ÁREA DO DISTRITO FEDERAL

Planalto Central do Brazil, 16 de Novembro de 1894 – Illm. Sr. Dr. Cruls.- E’


com a maior satisfacção que venho responder summariamente às perguntas que vos
dignastes dirigir-me relativamente à minha opinião concernente à natureza e ao clima
do – Planalto Central do Brazil, estudo que me proponho submetter-vos, finda a
viagem, de um modo escrupulosamente detalhado e mais condigno com tudo quanto
tiver observado.
O aspecto das regiões até hoje percorridas é de um paiz ligeiramente
ondulado; lembra-me o Anjú, a Normandia e mais ainda a Bretanha, excepto todavia
na direcção Oeste onde campêa a Serra dos Pyrineus, tão pitoresca. A Leste,
estende-se o bello e grandioso valle que vai prolongando-se até aos pequenos
montes do rio Paranauá, ramificando-se, em outros pontos, em todas as direcções.
Esta planície immensa, de superfície tão suavemente sinuosa, e riquíssima de
cursos d’agua limpida e deliciosa que manam da menor depressão do terreno. Essa
fontes como os grandes rios que regam a região, são protegidas por admiraveis
capões aos quaes nunca deveria golpear a machada do homem, senão com a maior
circunspecção. São magníficas de verdura os pastos e certamente superiores a
todos os que vi no Brazil Central. Todos esses elementos cuja disposição se poderia
attribuir às inspiração de um artista sublime dão à paizagem o aspecto mais aprazivel
e de que não há nada comparavel a não ser em miniatura os antigos parques
inglezes, desenhados por Le Notre ou Paxton. Tão profundamente gravou-se-me na
memoria a belleza do clima que de continuo tenho na mente.
Em consequencia da constiuição geologica do solo, não é absolutamente fertil
a totalidade do territorio, porém as localidades desprovidas dessa qualidade são
cobertas de excellentes especies de gramineas principalmente dos generos
Paspalum Panicum. A essas hervas espontaneas é que a região deve a
superioridade do gado vaccum e de seu producto lacticínio certamente igual aos
melhores da Europa. Eis a razão porque a criação de gado, que não acarreta senão
desembolços minimos, será indubitavelmente a industria agricola mais vantajosa do
paiz. A margem dos rios, dos bosques assim como das innumeras cabeceiras
existem ainda vastos terrenos aptos para o cultivo de muitas especies de arvores
fructiferas dos climas temperados, taes como as pereiras, as macieiras, as figueiras,
158
etc., e principamente a vinha cujo futuro é garantido por todas as condições que a
sua prosperidade exige. A estação aqui chamada-fria-que corresponde ao tempo
secco, dá simultaneamente logar à queda das folhas exactamente como na Europa
succede com o inverno obstando o movimento ascendente da seiva, e impõe ao
vegetal uma inacção indispensavel à maturidade dos galhos novos para a
fructificação vindoura. A ser licita a esperança da prosperidade das arvores
fructiferas, não é menos fundada a de todos os legumes indispensaveis ao consumo
diario. Além do cultivo em maior e menor escala dos differentes generos, o das
florestas que, certamente, não será de menor vantagem para a economia geral pela
producção das plantas industriaes, é igualmente digna de attenção do agronomo.
Com bastante sorpreza observei a existencia de numerosas Sapotaceas susceptiveis
de fornecerem a-Guta-Percha,-substancia mui procurada, hoje rara no estado de
pureza. Por toda parte nas mattas marginais dos rios encontam-se especies
congeneres taes como Lucumma, Chryzophyllum, Bassia, Mimusops, etc., das que
produzem as melhores Gutta de Sumatra inconsideradamente quasi destruidas pela
cobiça dos indigenas que da exportação auferiam grande lucro. Com essas
Sapotaceas associam-se outros muitos vegetaes cuja utilidade tão pouco não é para
desprezar, como sejam as plantas de gomma, fibrosas, etc., e mais a introducção de
especies exoticas que tembem seriam de muita vantagem para o paiz.
Agora que tenho a dita de viver sob o clima ameno do Planalto, cada dia o
acho melhor pela temperatura perfeitamente constante, a leveza e pureza do ar: ahi
tudo é amavel e calmo; quanto à configuração, os vegetaes não lembram nem os
das rgiões quentes nem os dos paizes frios; às vezes verifico especies pertencentes
à flora alpestre do Itatiaia, do cume da Serra dos Orgãos ou a região distintas do
equador, taes como o Chili, a Plata, etc. Muitas d’essas plantas brazileiras
provenientes de sementes que remeti para a Europa haverá 20 ou 30 annos, acham-
se hoje perfeitamente acclimatadas em Nice e nos contornos, prova evidente da
analogia que existe entre regiões não raros afastadíssimas umas das outras. Ora se
os vegetaes das regiões altas do Brazil tem vida normal, ao ar livre, estou
firmemente convencido que o mesmo se ha de dar no Planalto quanto às essencias
mencionadas. Para se conseguir esse fim, convem, evidentemente, renunciar à
rotina e recorrer à intelligencia, sobretudo de homens praticos, pelo menos para dar
o impulso.

159
Quanto à minha opinião, formada desde já, é com a mais solida e franca
convicção que vos declaro que é perfeita a salubridade desta vasta planicie, que não
conheço no Brazil Central logar algum que se lhe possa comparar em bondade. A
esta qualidade primordial do Planalto convem acrescentar a abundancia dos
mananciais d’agua pura, dos rios cudalosos cujas aguas podem chegar facilmente às
extensas collinas que nas proximdiades se vão elevando com declives suavissimos
(1 a 5°). Nada pois deixa a desejar estes elementos indispensavel para o consumo
de uma grande cidade, ainda quanto ao mais remoto futturo: ahi tambem abundam
os materiaes de construcção. A topographia do terreno, tão uniforme, permitte o
emprego dos instrumentos aratorios mais aperfeiçoados; a flora riquissima, com um
cunho ou physionomia de todo particular pela uniformidade, caracter geral impresso
pela regularidade das condições climatologicas do ambiente que habita. A este
respeito, espero poder ministrar-vos amplas e interessantes indiccações de
geographia botanica quando concluidas as nossas observaçãoes e colheitas de
plantas na localidade.
Ao terminar esta resumida apreciação, não posso deixar de externar vos
quanto é para desejar a possibilidade de algum estadista vir aqui ajuizar de visu do
que vemos juntos e das vantagens que ao progresso industrial e social do paiz, que
tanto estremecemos, offerece o Planalto Central do Brazil.

Acceite o Illm. Sr. Dr. Cruls a homenagem dos meus respeitosos sentimentos
e sincera dedicação. _ A Glaziou.

160

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