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Brasília
2010
B238a Barbosa, Raimundo Pereira
Avaliação de riscos ambientais na região de Sobradinho, Distrito Federal. /
Raimundo Pereira Barbosa. – 2010.
160f.; il. 30 cm
CDU 502(817.4)
25/08/2010
Aos meus pais, Hilário e Eurides pelo amor, carinho
e esmero dedicados a mim e aos meus irmãos em
nossa criação e educação.
AGRADECIMENTOS
Essa dissertação buscou fazer uma interação entre informações sobre avaliação dos
riscos ambientais, história ambiental, geografia e outras áreas do conhecimento para
fazer a avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da ocupação humana na
região de Sobradinho, Distrito Federal, a partir de considerações sobre aspectos
ambientais dessa região contidas no Relatório da Comissão Exploradora do Planalto
Central do Brasil (Relatório Cruls), que se constitui numa importante fonte de dados
sobre a história ambiental dessa região. O estudo considerou para análise o período
que vai de 1894, ano da publicação do Relatório, até os dias atuais. Para avaliar os
riscos ambientais dessa ocupação urbana utilizou-se o método da Avaliação de
Risco Ambiental – ARA com o objetivo de identificar como se estabelece a
construção social dos riscos ambientais em Sobradinho, Distrito Federal. O método
utilizado permite avaliar e potencializar os riscos ambientais derivados de usos
antrópicos determinados por fatores naturais que decorrem desse uso. Escolheu-se
esse método de avaliação porque ele possibilita uma quantificação e espacialização
dos riscos ambientais desse tipo de ocupação e dos efeitos que ela causa ao meio
natural. O conhecimento científico dos riscos ambientais da ocupação humana dessa
região pode orientar o uso e a ocupação do solo visando à conservação do meio
natural. Os dados históricos levantados permitiram a formação de uma imagem
sobre o meio ambiente que a região tinha antes da construção de Brasília. A
pesquisa de campo permitiu constatar a degradação do meio ambiente promovido
pela implantação das áreas urbanas. Na década de 1990 foi criada pelo governo
local a área de expansão urbana de Sobradinho II e foi iniciada a implantação dos
condomínios irregulares que promoveram o uso e a ocupação desordenada do solo
que avançou para as áreas de uso controlado e de fragilidade ambiental como Áreas
de Preservação Ambiental, parques ecológicos e a reserva biológica causando
graves impactos ambientais e a criação de áreas de risco ambiental para a
população.
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Em Sobradinho a ocupação urbana teve início em 1960 à época da
construção de Brasília. Os moradores foram instalados às margens do ribeirão do
mesmo nome. A partir de 1990 foi criada a área de expansão urbana de Sobradinho
II e a implantação de condomínios irregulares.
Para que esse contexto se modifique, esse estudo pretende produzir
informação e conhecimento sobre o meio ambiente dessa região que poderá ser
usado como ferramenta pelos gestores ambientais no planejamento, formulação e
aplicação de políticas públicas que possa viabilizar a criação de critérios para
disciplinar o processo de uso e ocupação do solo nessa região.
A informação sobre o meio ambiente construído pelo homem em razão do uso
e ocupação do solo para expansão urbana, em Sobradinho, deve ser analisada na
perspectiva socioambiental e encarada como uma ferramenta importante para a
construção de conhecimento e de informação que sirva para facilitar o planejamento
de políticas públicas com vistas à gestão sustentável dos recursos naturais.
A criação de legislação ambiental nacional e local, os tratados e as
convenções internacionais sobre meio ambiente, elaborados a partir de reflexões
sobre o modelo de crescimento econômico mundial, feitas pelo Clube de Roma em
1968, pela Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano realizada
em Estocolmo em 1972, pela Conferência do Rio de Janeiro em 1992, a criação de
organismos internacionais como o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e a União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais (UICN), a criação da Agenda 21, dentre outros, estabeleceram conceitos
importantes que servem como ferramentas para se trabalhar a questão ambiental.
Dessa forma a informação tem papel relevante no contexto socioambiental.
Esse contexto revela a preocupação com a intensificação dos problemas
ambientais e sociais provocados pelo crescimento demográfico mundial, pelo modelo
de desenvolvimento econômico predatório que adotou um modelo de consumo
desenfreado a partir da segunda metade do século XX.
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1.2 Objetivos
1.2.1 Geral
1.2.2 Específicos
1.2.3 Hipótese
1.3 Justificativa
Trata-se de um tema atual, relevante do ponto de vista local, que situa o meio
ambiente da região de Sobradinho DF na sistemática política e cultural do país, uma
vez que a ocupação urbana verificada nessa região também ocorre em outras áreas
urbanas em todo país. Não obstante, se observa que não existe fiscalização do
poder público para fazer cumprir a legislação ambiental e criar políticas públicas
para mitigar os riscos de impactos ambientais gerados por essa ocupação.
1 Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil que demarcou o Sítio para a Construção de
Brasília
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A idéia de realizar avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da
ocupação humana da região de Sobradinho é pertinente porque demonstra que a
presença do homem nessa região é anterior à demarcação do sítio para a
construção de Brasília em 1892. A primeira ocupação da região se deu de forma
dispersa à época da exploração aurífera no século XVIII.
A avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica da ocupação humana
de Sobradinho é uma abordagem que depende da contribuição de outras áreas do
conhecimento. Por isso o estudo destaca a preocupação com a interdisciplinaridade,
considera a importância da contribuição de outras áreas do conhecimento.
Dessa forma, o estudo reforça a importância desse tipo de abordagem para a
questão ambiental por possibilitar interligação dos fatos da história local com o
contexto da história regional, nacional e internacional.
A região de Sobradinho está inserida nas Áreas de Proteção Ambiental do
São Bartolomeu e de Cafuringa, de quatro parques ecológicos e de uma reserva
biológica.
A escolha dessa área de estudo se justifica em face do avanço da expansão
urbana ocorrida a partir do final da década de 1980 e início da de 1990, e pela
degradação do meio natural provocada após a implantação de condomínios
“irregulares” que avançaram para áreas de fragilidade ambiental como leito de rios,
córregos e ribeirões, nascentes e área com declividade acentuada em toda região.
Esse estudo trará como resultado a produção de informação e de
conhecimento que possam ser utilizadas para auxiliar no planejamento, formulação
e aplicação de políticas públicas que venham facilitar a criação de critérios para
disciplinar o processo de uso e ocupação do solo, bem como, diminuir e/ou mitigar
os riscos socioambientais da expansão urbana, oferecer alternativas para melhor
aplicação da legislação ambiental na região. E, como consequência subsidiar a
implantação de um processo de uso e de gestão sustentável dos recursos naturais
nessa região do Distrito Federal.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. História Nova/História Ambiental
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A definição a seguir dá uma contribuição definitiva para embasar o escopo
desse estudo.
A história ambiental vem sendo definida como um campo de estudo
dos impactos de diferentes modos de produção e formações sociais
sobre as transformações de sua base natural, incluindo
superexploração dos recursos naturais e a degradação ambiental.
Esses estudos abordam a análise de padrões de uso dos recursos e
de formas de apropriação da natureza, avançando em categorias que
permitem um estudo mais integrado das interrelações entre as
estruturas econômicas, políticas e culturais que induzem certos
padrões de uso dos recursos e as condições ecossistêmicas que
estabelecem as condições de sustentabilidade ou de
insustentabilidade de um determinado território (LEFF, 2001, p. 386).
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e adequadas à promoção do desenvolvimento sustentável em pequenas unidades
político-administrativas.
De acordo com Floriano (2004)
O Planejamento é, portanto, uma ferramenta de gestão. É um
processo de organização de tarefas para se chegar a um fim, com
fases características e sequenciais que, em geral, estão na seguinte
ordem: identificar o objeto do planejamento, criar uma visão sobre o
assunto, definir o objetivo do planejamento, determinar uma missão
ou compromisso para se atingir o objetivo do planejamento, definir
políticas e critérios de trabalho, estabelecer metas, desenvolver um
plano de ações necessárias para se atingir as metas e cumprir a
missão e objetivos, estabelecer um sistema de monitoramento,
controle e análise das ações planejadas, definir um sistema de
avaliação sobre os dados controlados e, finalmente, prever a tomada
de medidas para prevenção e correção quanto aos desvios que
poderão ocorrer em relação ao plano (FLORIANO, 2004).
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Conclui-se então, que o conceito de meio ambiente engloba aspectos
relacionados à natureza e os aspectos decorrentes das ações do homem sobre ela.
Essas ações podem ser avaliadas por meio da avaliação dos riscos ambientais e da
história ambiental. No caso do Distrito Federal o Relatório da Comissão Cruls de
1894 é uma fonte de informação importante que propicia uma análise propositiva da
questão ambiental local, como se verifica a seguir.
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Sobre a missão da comissão
No desempenho de tão importante missão deveis proceder aos
estudos indispensáveis ao conhecimento exacto da posição
astronomica da área a demarcar, da orographia, hydrographya,
condições climatológicas e hygienicas, natureza do terreno,
quantidade e qualidade das águas, que devem ser utilisadas para o
abastecimento, materiaes de construcção, riqueza florestal, etc. da
região explorada e tudo mais que directamente se ligue ao assumpto
que constitue o objecto da vossa missão (GDF 1992, p. 29).
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Sobre os rios e riachos,
O volume das águas dos rios e riachos de alguma importância , entre
elles, o rio do Ouro, Areias, Montes Claros, Saia Velha, Torto,
Sobradinho, Parnauá, que a turma tiver de atravessar, será
determinado (GDF 1992, p. 63).
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• A dos manifestos do Visconde de Porto Seguro que sugeriu o Planalto
Central do Brasil, após visita à região em 1877;
• O projeto de Holanda Cavalcante apresentado ao senado, em 1852,
dispondo sobre a construção da nova capital, mantendo o nome
Brasília sugerido por José Bonifácio; e,
• Finalmente, a destinação de uma área de 14.400 km² no Planalto
Central da República prevista no Artigo 3º da Constituição de 1891,
para ser demarcada com a finalidade de se construir a nova Capital; e a
criação em 1892, da Comissão Exploradora do Planalto Central do
Brasil, pelo então Presidente Floriano Peixoto, para promover a
demarcação da área, sob a chefia do Astrônomo Luiz Cruls (GDF,
1992).
A determinação da transferência da Capital do Rio de Janeiro para o interior
foi mantida nas constituições de 1934, 1937 e na de 1946.
Dando prosseguimento ao projeto de mudança da Capital, foi lançada em
1922, a pedra fundamental na cidade de Planaltina, no Morro do Centenário, como
ato para comemorar o centenário da Independência.
A tese da mudança foi esquecida entre as duas guerras e relembrada na
Segunda Guerra Mundial, com novos argumentos em favor da interiorização do país.
Getúlio Vargas criou em 1943 a Fundação Brasil Central e organizou a Expedição
Roncador-Xingu, batizada de Marcha Para Oeste. Depois de percorrer 2.500 km por
terra e rios, a expedição fundou Vilas, campos militares e contatou 5.000 índios.
Teve como principal resultado a criação do Parque Nacional do Xingu que abrangia
18 aldeias e 5.000 índios (VILAS e VILAS BOAS, apud GANEM, 2008).
O projeto de transferência da Capital foi retomado em 1946, com a nomeação
da “Comissão de Estudos para Localização da Nova Capital do Brasil” chefiada pelo
General Djalma Poli Coelho (PELUSO e CANDIDO, 2006).
Segundo Ganem (2008), em 1953, no Governo Vargas, contratou-se
levantamento aerofotogramétrico de toda a área, cuja interpretação, feita em 1954,
ficou a cargo da empresa norte-americana Donald J. Belcher.
Cinco sítios foram sugeridos por Belcher, nomeados, sítio Castanho, Verde,
Vermelho, Amarelo e Azul. O sítio castanho foi escolhido pela referida Comissão,
segundo as condições de clima e salubridade, facilidade de fornecimento de água e
energia elétrica, acesso às vias de transporte aéreo e terrestre, topografia adequada,
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solo favorável às edificações, facilidade de desapropriação etc. (PELUSO e
CANDIDO, 2006).
O projeto de transferência da Capital foi assumido por Juscelino Kubstcheck,
como objetivo principal do seu governo, realizou o Concurso Nacional do Plano Piloto
da Nova Capital Federal, vencido pelo urbanista Lúcio Costa. A cidade foi inaugurada
em 21 de abril de 1960 (GANEM, 2008).
Bertran (1994) avalia que a ocupação humana do interior do Brasil ocorreu a
partir de 1700 com as bandeiras paulistas que apesar de terem feito várias incursões
desde o século XVI, inicia de fato a colonização no ano de 1700 em Minas Gerais, em
Mato Grosso em 1718 e por último em Goiás, em 1726. A exploração aurífera
promoveu a imigração em massa para essa região de portugueses vindos do norte de
Portugal e de escravos negros africanos.
Segundo essa mesma fonte a exploração de ouro e diamante em Mato Grosso
e principalmente em Goiás, durou pouco tempo, mas deixou aqui as bases para a
construção de uma nova sociedade a partir do que restou das cidades coloniais e da
estrutura econômica como as roças e as fazendas de gado.
Para Bertran (1994), as bandeiras constituem então o primeiro marco histórico
da ocupação e exploração econômica do interior do Brasil, do Centro-Oeste e do
Planalto Central. Além da mineração a criação de gado também promoveu a
ocupação do Planalto Central especialmente nas regiões dos rios Tocantins, São
Francisco, Paranan, etc.
Para Dean (1996, apud Ganem, 2008), a mineração nesta região promoveu
uma ocupação humana dispersa em razão da dispersão dos depósitos aluvionares.
Sobreviveram as vilas e os arraiais em que a mineração durou mais tempo e a
agricultura se desenvolveu.
Segundo Rocha Jr. et al., (2006, apud Ganem, 2008), até a descoberta do
ouro na Serra Dourada, Goiás era uma zona de fronteira. Mineradores, comerciantes
e muleiros, de Minas Gerais e do Nordeste, cruzavam as terras goianas por estradas
que posteriormente tornaram-se intensamente trafegadas. A formação de vilas se
deu após a descoberta do ouro em Goiás (Vila Boa) em 1726, em Pirenópolis em
1732.
Em seguida descobriu-se ouro no rio Maranhão, o que marcou a colonização
das terras do atual Distrito Federal. Na década de 1730 sucederam-se várias
descobertas de ouro em Niquelândia, Paracatu, e no norte (Cavalcante, Arraias,
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Natividade etc.). Em Luziânia em 1747, e, em 1757, no rio Descoberto (BERTRAN,
1994).
De acordo com Rocha Jr. et al., (2006 apud Ganem 2008), o isolamento dos
arraiais de Goiás, espalhados por longas distâncias dificultou a sustentabilidade
econômica dos mesmos. Por causa desse isolamento, quando as minas se
esgotaram, muitos povoados desapareceram ou ficaram em estado de penúria.
Para Bertran (1994) no começo a estrada de São Paulo monopolizava o
tráfego mercantil, onde se cobrava o quinto. Mas, várias estradas de contrabando
abertas no Planalto Central foram legalizadas em 1735.
Fundaram-se postos fiscais, ou Registros e Contagens. Um deles, data de
1736, ano em que o governo português instalou a “Contagem de São João das Três
i2
Barras” – Posto Fiscal na região do atual Posto Colorado - a 10 km do Plano Piloto
de Brasília na estrada para Sobradinho. A Contagem é o mais importante
estabelecimento público do Distrito Federal e ponto importante para a história de sua
colonização. É a instituição fundadora do Distrito Federal. Ela foi desativada em
1823, após o processo de independência (BERTRAN, 1994). Existiam duas grandes
estradas que atravessavam essa região e pelas quais circulavam as caravanas em
direção ao Rio de Janeiro e, principalmente em direção à Bahia, para onde ia a maior
parte do ouro goiano (BERTRAN 1994).
As estradas estruturaram a ocupação em Goiás. As grandes distâncias eram
compensadas pela presença de fazendas e povoados que surgiram onde a estrada
estava estabelecida (ROCHA JR. et al.,2006, apud Ganem, 2008).
Para Bertran (1994), em Goiás a exaustão das minas levou à regressão da
economia, permaneceu uma população reduzida e dispersa. Sobreveio o “império da
subsistência”. A atividade pecuária tornou-se a ocupação econômica predominante,
assim permanecendo até a década de 1950. Das velhas fazendas do século XVIII
sobrou “a posse primitiva da terra”.
De acordo com SEMARH (2004), aqui, o impacto da ocupação humana
acabou se limitando praticamente às fazendas de gado, à agricultura de subsistência
e ao extrativismo vegetal. Mas essa realidade mudaria radicalmente a partir da
construção de Brasília.
2
Posto Fiscal instalado pelo Governo Português na região de estudo em 1736.
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Chaul (1997, apud Ganem 2008), afirma que no início do século XX, o sul do
Estado de Goiás experimentou um crescimento econômico, devido à expansão da
cultura cafeeira e, posteriormente, à industrialização em São Paulo e Minas Gerais.
Essas atividades aumentaram a demanda por produtos agropecuários e Goiás
fortaleceu seu papel de produtor de bens primários. Contudo, de acordo com Bertran
(1994) as demais regiões de Goiás não experimentaram esse desenvolvimento.
Tornando-se autárquicas por não terem como vender ou comprar.
Esse isolamento só foi interrompido segundo a mesma fonte a partir da
década de 1940 com as políticas de integração do litoral com o sertão brasileiro, e na
de 1950 com a construção de Brasília.
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Em 1957, 12.283 pessoas moravam em Planaltina, Brazlândia e fazendas
próximas. Esses foram os primeiros habitantes do DF. Com o início da construção de
Brasília iniciou-se o processo migratório caracterizado por contingentes
populacionais que se diferenciam quanto à função (CODEPLAN, 2006).
Até a década de 1970, o governo incentivou a migração de mão-de-obra para
a construção de Brasília. No período mais intenso da construção de Brasília, nas
décadas de 1960/70 e 70/80, essas correntes migratórias foram o principal fator
formador da população do Distrito Federal, com um número de 358.014 e 488.546
migrantes respectivamente.
Esse número de migrantes diminuiu de forma considerável no período
1980/1991, apresentando uma média anual de 8.966, e uma média de crescimento
anual de 2,84 que permaneceu estável até 2005.
Números da “Contagem da População” realizada pelo IBGE em 1996 registrou
uma população de 1.821.946 habitantes nas 19 Regiões Administrativas existentes à
época. Já no ano 2000 a população era 2.051,146, e em 2005 a estimativa era de
uma população de 2.333.108 habitantes, nas 28 Regiões Administrativas. Pela
“Contagem da População” do órgão em 2007, a população total do DF registra
2.455.903 habitantes em 30 Regiões Administrativas. Confira evolução e densidade
demográfica da população na tabela abaixo.
Tabela 1 – Evolução da População do Distrito Federal, TMGCA e Densidade
Demográfica 1957 – 2005
Ano População TMGCA(¹) Hab/km²
1957 12.283 2,12
1959 64.314 128,82 11,11
1960 140.164 117,94 24,21
1970 537.492 14,39 92,84
1980 1.176.935 8,15 203,30
1991 1.601.094 2,84 276,57
1996 1.821.946 2,62 314,62
2000 2.051.146 3,01 354,31
2005 2.333.108 2,61 403,01
Fontes: Projeções Populacionais – Brasil e Grandes Regiões – IBGE e Censo Demográfico – IBGE
Dados elaborados pela SEPLAN
TMGCA –Taxa Média Geométrica de Crescimento Anual Entre Períodos
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• 1956 a 1973 – marcado pela conquista do território. As decisões, ao
invés de serem planejadas, eram pragmáticas, autoritárias e
voluntaristas. Marcadas pelo imediatismo, com soluções rápidas e
segregadoras, criando, de forma irresponsável, cidades, com o objetivo
de tornar a Implantação da nova capital no Planalto Central um fato
irreversível. Dessa forma mesmo antes da instalação de Brasília, em
1960, já se desenhara um embrião do aglomerado urbano atual,
formado pelo Plano Piloto, Planaltina e Brazlândia, Cidade Livre,
Candangolândia, Taguatinga, Cruzeiro, Gama, e Sobradinho; o Guará
e a foram criadas em 1966 e 1970 respectivamente. Essas cidades
deram origem ao modelo polinucleado sobre o qual está estruturado o
aglomerado urbano de Brasília hoje.
• 1974-1987 – marcou a preocupação com o ordenamento da conquista.
Foram elaborados vários planos voltados para o território do DF. Nesse
período verifica-se o crescimento populacional no entorno de Brasília
em precários loteamentos nos municípios limítrofes como Luziânia,
Santo Antônio do Descoberto e Planaltina de Goiás. O processo de
ocupação dessas áreas atendeu à demanda de habitação resultante
do intenso processo migratório para essas áreas. No DF ocorreram
poucos assentamentos de cidades nesse período (Samambaia e
Águas Claras 1981). Adensaram-se as cidades já existentes,
acomodando as famílias que se encontravam em favelas, invasões, e
fundos de quintal e representavam uma forte pressão sobre a restrita
oferta habitacional. Esse período foi marcado pela explosão do
crescimento demográfico das áreas periféricas e do DF. Ele é o
resultado da falta de uma política de ordenamento territorial local, de
um planejamento tardio e da pressa em consolidar a Brasília capital.
Mais do que isso, resulta também de uma visão que desconheceu o
papel que ela teria no contexto regional e nacional.
• 1988 – marcado pela consolidação do aglomerado urbano de Brasília, a
despeito de uma tentativa desesperada, da parte do governo local de
reverter o crescimento populacional para dentro dos limites do DF, com
ações voltadas para a oferta de lotes que, novamente, geraram a
criação de cidades: Santa Maria, Riacho Fundo, Recanto das Emas e
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São Sebastião. Estas representaram o mais expressivo acréscimo
demográfico do DF, entre 1991 e 1996, e estão localizadas nas bordas
do quadrilátero limítrofes aos municípios goianos que as cercam. Tais
ações estavam vinculadas a grupos de interesses que vislumbravam o
recém-adquirido status de autonomia política do DF, por força da nova
Constituição. Essas cidades foram responsáveis por um aumento de
cerca de 23 mil para 40 mil hectares ocupados, entre 1977 e 1991, ou
seja, um acréscimo de mais de 70% (Anjos, 1991). Mas a Carta Magna
reviveu um antigo instrumento de planejamento, o Plano Diretor. Com
isso, deu-se continuidade ao planejamento iniciado na década de
1970.
Steinberger (2003), também identifica os períodos ambientais na história do
DF, que são os seguintes:
• 1960-1973 – período em que se deu a implantação da cidade e a
criação das primeiras unidades de conservação como: Parque Horto-
Guará (1960); Parque Recreativo do Gama e Parque Nacional de
Brasília (1961); Reserva Biológica de Águas Emendadas (1968).
Código Sanitário que define diretrizes para o meio ambiente e
saneamento, regras para construção de áreas urbanas, propõe a
divisão do DF em três áreas: metropolitana,núcleos satélites e rural,
(1966). Plano Diretor de Água e Esgoto e Controle da Poluição do DF
fazem recomendações quanto à ocupação urbana e recursos hídricos
(1970)
• 1974-1985 – O Decreto nº 2.739/74 propõe a formulação de um Plano
Diretor para o DF, atendendo às três propostas do Código Sanitário de
1966. Em 1975 acontece o primeiro zoneamento sanitário. Faz-se o
zoneamento e delimitação das áreas de preservação, em 1977 por
meio do Plano de Expansão e Organização Territorial (PEOT). São
elaborados o Plano de Ordenamento Territorial (POT) em 1985 e o
Plano de Ocupação e Uso do Solo (POUSO) 1986-1990, com a
criação do Jardim Botânico.
• 1986-1989 – Foram criadas, a Estação Ecológica da Universidade de
Brasília – UNB, e a APA do Gama Cabeça de Veado em 1986; A APA
de Cafuringa, as ARIE Santuário da Vida Silvestre do Riacho Fundo e
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do Lago Paranoá, as Reservas Ecológicas do Gama e do Guará em
1988; a ARIE dos Córregos Taguatinga e Cortado e a APA do Lago
Paranoá em 1989. São criadas em 1986, a Coordenação de Assuntos
de Meio Ambiente (COAMA) e a Secretaria Extraordinária de Meio
Ambiente Ciência e Tecnologia (SEMATEC).
• 1990-2003 – Instituição de dezenove novas Unidades de Conservação,
elaboração do mapa ambiental do DF (2000) pela Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), legalização da área da
Reserva da Biosfera do Cerrado, criação do Pólo Ecológico de Brasília
e aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial, (PDOT).
Ainda de acordo com a mesma fonte, apesar do esforço no sentido de tentar
disciplinar a ocupação urbana no DF, assistiu-se à proliferação de loteamentos
clandestinos e o aparecimento da cidade ilegal com o parcelamento privado de terra
a partir da década de 1990.
A cidade de Brasília transformou-se no único pólo de atração de migrantes da
região levando à formação de favelas, que obrigou os governos locais a criarem as
cidades satélites e os primeiros distritos industriais para absorção de parte dessa
mão-de-obra.
A falta de planejamento regional, aliada à política de “fechamento” do Plano
Piloto, pelos governos militares levou à criação de grandes cidades dormitórios para
essa enorme massa despossuída. Essas satélites foram dotadas de serviços de
infra-estrutura, acima da média nacional para esses tipos de assentamentos
populares, de modo a evitar que quaisquer movimentos reivindicatórios pudessem
abalar a estabilidade dos governos militares (STUMPF e SANTOS, 1996).
Na década de 1980, o Distrito Federal consolidou-se como pólo de
desenvolvimento regional e transformou-se em um novo pólo de atração de
migrantes de todas as regiões do país por causa do avanço da fronteira agrícola que
introduziu a cultura da soja, a cultura irrigada e outras culturas no cerrado. O DF
experimentou nesse período uma explosão demográfica com índices acima da média
do país (SEBRAE/DF, 2004).
Segundo o IBGE em 2000 a densidade demográfica do Distrito Federal era a
mais alta do país com 348 habitantes por km² e em 2005 de 403,1hab./km².
Segundo Peluso e Cândido (2006), ao se observar a distribuição da população
do Distrito Federal no período de 1959 a 1980, verifica-se que as periferias
37
aumentaram muito mais rapidamente do que a área central (Plano Piloto), conforme
demonstra a tabela 2.
.
Figura 1 – População do Distrito Federal por Região Administrativa – 1979
38
Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 1980
39
Figura 3 – População do Distrito Federal por Região Administrativa – 2000
Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 2001
Outro fato relevante que fomentou a migração para o Distrito Federal foi o
processo de redemocratização do país, iniciado a partir da promulgação da
Constituição 1988, que implantou aqui um esquema clientelista, importado das
regiões mais atrasadas de Goiás que passou a dominar o cenário político local,
patrocinando, com fins eleitorais, a distribuição de lotes em novos assentamentos,
agravando o problema (STUMPF e SANTOS, 1996).
Em 1989, o GDF iniciou uma nova política de ocupação do território, com base
na Lei Orgânica local, promulgada em 1992 e no (PDOT) Plano Diretor de
Ordenamento Territorial, Lei 353/92, que consolidou os planos anteriores: (PEOT)
Plano Estrutural de Organização Territorial de 1977, (POT) Plano de Ordenação
Territorial de 1985, (POUSO) Plano de Ocupação e Uso do Solo do DF de 1985/86 e
Brasília Revisitada.
Com o intuito de eliminar as invasões e a sublocação foi instituído o Programa
de Assentamento para População de Baixa Renda que consistiu em distribuir lotes
semi-urbanizados à população de baixa renda. Para atender a essa política, novas
cidades foram criadas, reforçando o modelo de polinucleamento, periferização,
40
horizontalização e expansão urbana na maioria das cidades-satélites existentes, com
a fixação de algumas invasões (SILVEIRA, 1999).
Em 1989 iniciaram-se a implantação de condomínios irregulares em todo o
Distrito Federal. Segundo Steinberger, (1999), esse período foi marcado ainda pela
proliferação de loteamentos clandestinos e pelo aparecimento da cidade ilegal a
partir do parcelamento privado da terra.
Esse processo teve como causa, a falta de uma política habitacional do
governo local, a especulação imobiliária e principalmente a omissão das autoridades
que não reprimiram esse processo.
Para Malagutti (1999) numa análise detalhada sobre a aparição dessas áreas,
identificaram-se alguns fenômenos que têm implicações com os processos de
produção do espaço urbano, chegando-se à seguinte classificação, genérica a todos
os parcelamentos, de acordo com as diversas “ilegalidades”, segundo suas questões
predominantes:
• Parcelamentos com problemas fundiários: implantados em áreas já
desapropriadas – da TERRACAP, da União – ou em áreas em comum;
implantados com deslocamento de títulos de propriedade, isto é, quando
uma área é utilizada em local diferente dos limites definidos em seus títulos
(situação, de fato, não corresponde à de direito); implantados em áreas
particulares, mas ainda em litígio entre proprietários, ou ainda, implantados
com superposição de áreas entre loteamentos contíguos.
• Parcelamentos com problemas quanto à legislação ambiental: implantados
sem atender à legislação sobre Unidades de Proteção Ambiental;
implantados sem o respectivo Estudo de Impacto Ambiental – EIA/Rima -;
implantados em desacordo com o Código Florestal, sobre Áreas de Proteção
Ambiental (áreas inundáveis, de risco geológico, com declividade excessiva,
com problemas de erosão, etc.).
• Parcelamentos com problemas urbanísticos: implantados sem atender às
disposições da Lei Federal nº 6.766/79: implantados sem atender ao
macrozoneamento definido pelo PDOT; ou implantados sem atender às
Normas Técnicas estabelecidas pelo (IPDF) – Instituto de Planejamento
Territorial Urbano do DF.
Esses parcelamentos estão localizados no caso dessa região em áreas de
preservação ambiental e de uso controlado como a APA do São Bartolomeu e em
41
parte da APA de Cafuringa, atingindo 46% dos 317 parcelamentos urbanos do DF de
acordo com números da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
(CODEPLAN, 2004).
De acordo com dados do Diagnóstico Preliminar dos Parcelamentos Urbanos
Informais no Distrito Federal, existiam até 2006, 513 parcelamentos informais (Figura
4), sendo 74% urbanos e 26% rurais. Segundo as informações disponíveis em 1995
existiam 144 parcelamentos urbanos nestas condições significando um aumento de
mais de 50% em apenas 11 anos (SEDUH, 2006).
42
De acordo com a Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente do Rio
Janeiro – FEEMA (1990), impacto ambiental é qualquer alteração significativa no
meio – em um ou mais de seus componentes – provocada por uma ação humana.
Mota (2003) entende impacto ambiental como a cadeia de efeitos que se
produzem no meio natural e social (antrópico) como consequência de uma
determinada ação.
Segundo Sanchez (2008, p. 31, 32), pode-se então postular que impacto
ambiental pode ser causado por uma ação humana que implique:
Quadro 1 – Ação Humana Causadora de Impacto Ambiental
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo:
• Supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação;
• Destruição completa de habitats (por exemplo, aterramento de mangue);
• Destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo,
escavações);
• Supressão de elementos significativos do ambiente construído;
• Supressão de referências física à memória (por exemplo, locais sagrados,
como cemitérios, pontos de encontros de membros da comunidade;
2. Inserção de certos elementos no ambiente, a exemplo de:
• Introdução de uma espécie exótica;
• Introdução de componentes construídos (por exemplo, barragens,
rodovias, edifícios, áreas urbanizadas). (grifo do autor)
3. Sobrecarga (introdução de fatores de estresse além da capacidade de suporte
do meio, gerando desequilíbrio) a exemplo de:
• Qualquer poluente;
• Introdução de uma espécie exótica (por exemplo, coelho na Austrália);
• Redução do habitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada
espécie;
• Aumento pela demanda por bens e serviços públicos como por exemplo:
(Educação e saúde).
Fonte: Sanchez
43
Os impactos ambientais que essa expansão acelerada provocou ao meio
natural, têm feito o Distrito Federal enfrentar problemas ambientais diversos,
principalmente quanto à fauna, a flora, disponibilidade e qualidade da água.
Consequentemente enfrenta também, os riscos ambientais associados a esses
problemas ambientais (SEBRAE 2004).
44
descreve uma situação que, na realidade, representa um desafio para o crescimento
urbano (SANTOS 2007).
O crescimento das cidades nos países em desenvolvimento fundamenta-se
em dois fatores: o aumento do crescimento natural da população e a forte migração
provocada pelo êxodo rural. A falta de condições econômicas tem levado as pessoas
a adquirirem e ocuparem imóveis em terrenos inadequados, em lugares com
carência de infra-estrutura. Onde se conclui que a estrutura interna das cidades foi
repartida de forma desigual e os terrenos impróprios foram ocupados, em sua grande
maioria, pela população menos favorecida.
Pode-se observar que as grandes cidades também são ocupadas pelos ricos
que diferentemente dos pobres possuem meios econômicos para conter as ameaças
de risco.
Nas cidades brasileiras os espaços considerados áreas de risco são aqueles
que oferecem a susceptibilidade de ameaças que comprometem a integridade física
e podem provocar perdas materiais e patrimoniais. De modo geral, essas áreas são
habitadas por populações de baixa renda (favelas) ou parcelamentos irregulares.
As áreas consideradas de risco levantadas por esse estudo em Sobradinho
são: áreas de nascentes, encostas, leitos de rios, córregos e ribeirões.
A Defesa Civil do DF aponta como área de risco em Sobradinho a região da
FERCAL e a Vila Rabelo I e II. Na região da FERCAL existe a ocupação de terrenos
próximos a leito de ribeirões, a encostas, nas proximidades das fábricas de cimento e
de britadores, e, na Vila Rabelo I e II, a ocupação do sopé e dos patamares de
encostas que são consideradas áreas de risco muito alto por esse órgão
governamental.
Nas cidades dos países em desenvolvimento essas áreas são ocupadas pelas
classes sociais menos favorecidas que se tornam vulneráveis a eventos naturais
extremos de grande intensidade (SANTOS 2007).
Dessa forma, foi feita a hierarquização de seis áreas de risco em diferentes
pontos de Sobradinho como: a área urbana representadas pelos quatro parques
ecológicos localizados próximos ao ribeirão Sobradinho e Paranoazinho, a área de
expansão urbana representada pelos 128 condomínios irregulares e a Reserva
Biológica da Contagem, localizada na área da APA de Cafuringa.
As áreas de risco se localizam ao longo dos ribeirões Sobradinho,
Paranoazinho e Contagem que estão presentes no contexto urbano de Sobradinho e
45
em toda sua área de expansão urbana avançando por terrenos acidentados, morros
e encostas sujeitas a riscos de deslizamentos, especialmente em áreas de moradia
para população de baixa renda, como é o caso da Vila Rabelo I e II e FERCAL.
As populações de baixa renda para alcançarem o acesso à moradia ocupam
terrenos de domínio público ou privado. Esses terrenos são áreas protegidas por lei,
inadequadas à urbanização e sujeitas aos riscos ambientais, e terrenos desocupados
que são alvos da especulação imobiliária. Nos dois casos, a falta de infraestrutura
urbana é característica marcante dessas áreas, o que compromete severamente a
qualidade de vida e a segurança social, (SANTOS, 2007).
Na comparação entre ricos e pobres. O rico não ocupa terrenos públicos e/ou
privados para construir suas edificações. Esse tem recursos econômicos, realiza
cortes nas encostas, aterra os fundos de vales, impermeabiliza o solo, e, por ter
acesso ao poder público consegue que as redes de transmissão sejam implantadas
nos locais onde constrói seus empreendimentos.
Contudo, as áreas ocupadas, em especial, as áreas de fragilidade ambiental
como: encostas, fundos de vales, e áreas ribeirinhas não deixam de ser áreas de
riscos, que são caracterizados depois de serem ocupadas pelo ser humano.
O mesmo autor observa que o Risco pode ser entendido como uma categoria
de análise associada às noções de incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos
materiais, econômicos e humanos em função de processos de ordem natural (tais
como processos exógenos e endógenos da Terra) e/ou daqueles associados ao
trabalho e às relações humanas.
Risco também expressa tanto a dimensão social de eventos catastróficos,
como a percepção individual de seus efeitos. Como tal, é uma ponte entre o público
e o privado que pode subsidiar a tomada de decisões sobre alternativas de
desenvolvimento tecnológico e de alocação do gasto público em condições
democráticas de gestão do território. (EGLER, 1996).
47
O risco tecnológico, definido como o potencial de ocorrência de eventos
danosos à vida, a curto, médio e longo prazo, em consequência das decisões de
investimento na estrutura produtiva. Envolve uma avaliação tanto da probabilidade
de eventos críticos de curta duração com amplas consequências, como explosões,
vazamentos ou derramamentos de produtos tóxicos, como também a contaminação
em longo prazo dos sistemas naturais por lançamento e deposição de resíduos do
processo produtivo.
Os riscos naturais, segundo White et al., (2001 apud Castro et al., 2005)
estão intrinsecamente ligados ao uso dos recursos naturais e das transformações
dos sítios pela sociedade.
Para Castro et al., (2005) o risco social é uma categoria que pode ser a
analisada e desenvolvida por vieses distintos. É considerado, muitas vezes, como o
dano que uma sociedade (ou parte dela) pode fazer causar.
Um dos vieses explorado reside na relação entre marginalidade e
vulnerabilidade a desastres naturais, como aponta o trabalho de Wisner (2000, apud
48
Castro et al., 2005) exemplificando o caso dos “sem teto” e a vulnerabilidade desses
aos terremotos.
De acordo com Dagnino & Carpi Jr (2007), entre todos os tipos de risco
devemos enfatizar quatro que aparecem em destaque sobre o tema: os riscos
naturais, os riscos tecnológicos, os riscos sociais e os riscos ambientais.
Esse estudo se preocupa com a Avaliação do Risco Ambiental, que é a
avaliação dos riscos que as atividades humanas impõem ao ambiente. Os riscos
ambientais resultam da associação entre os riscos naturais e os decorrentes dos
processos naturais agravados pela atividade humana e pela ocupação do território
(VEIYRET & RICHEMOND 2007).
Esses autores enfatizam que apesar dos conceitos e suas definições, a
utilização dos riscos como sinalizador de problemas ambientais é a convicção de que
ao falarmos em risco, estamos direta ou indiretamente falando do ser humano
individualmente ou em sociedade. O risco é um objeto social, como afirmam os
autores:
Não há riscos sem uma população [ser social] ou indivíduo [ser
biológico] que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos. Correm-se
riscos, que são assumidos, recusados, estimulados, avaliados,
calculados. O risco é a tradução de uma ameaça, de um perigo para
aquele que está sujeito a ele e o percebe como tal (VEIYRET e
RICHEMOND 2007, p. 11).
52
Allen et al. (1992 apud KIRCHHOFF, 2004) definem risco como a
probabilidade de eventos indesejados acontecerem em um período específico ou em
circunstâncias específicas causadas pela realização de um perigo específico,
podendo ser expresso como uma frequência ou uma probabilidade, dependendo da
circunstância.
Para a Society for Risk Analises (SRA), Risco é o potencial da realização de
uma consequência adversa e indesejada à vida humana, saúde, propriedade ou ao
meio ambiente.
O conceito de Risco Ambiental tem a importância significativa na avaliação e
determinação dos alvos de uma política nacional de meio ambiente. Cada problema
ambiental impõe a possibilidade de dano à saúde humana, à natureza, ao sistema
econômico ou à qualidade de vida humana. A Avaliação de Risco é o processo que
estima a forma, dimensão e característica do Risco (KALLORU 1994 apud
KIRCHHOFF, 2004).
Portanto, Avaliação de Risco é o processo de determinação da natureza e da
magnitude de um efeito adverso causado por um perigo.
A Avaliação de Risco pode ser definida como processo de atribuição de
magnitudes e probabilidades aos efeitos adversos de atividades humanas ou de
catástrofes naturais (SUTTER 1993 apud KIRCHHHOFF, 2004).
A Society for Risk Analises (SRA) define Avaliação de Risco como exame
detalhado com o intuito de entender a natureza das consequências negativas e
indesejáveis à vida humana, a saúde, propriedade, ou ao meio ambiente; é um
processo analítico que fornece informações sobre eventos indesejáveis; é o processo
de quantificação dos problemas e das consequências esperadas dos riscos
identificados.
O objetivo da Avaliação de Risco é, essencialmente, gerar informações
necessárias para se tomar a melhor decisão possível levando-se em conta uma
situação de perigo potencial (MOHAMED E ANTIA 1998, apud KIRCHHOFF, 2004).
A Avaliação de Risco Ambiental (ARA) para Kirchhoff, (2004) nada mais é do
que uma ferramenta para tomadas de decisões mais racionais e efetivas no campo
ambiental.
A Avaliação de Risco tenta quantificar os riscos à saúde humana, aos bens
econômicos e aos ecossistemas gerados a partir de atividades humanas e
fenômenos naturais que causam perturbações ao meio ambiente.
53
A Avaliação de Risco apresenta a frequência e a severidade das
consequências adversas ao meio ambiente de atividades ou interações planejadas
(CAPENTER 1995, apud KIRCHHOFF 2004).
Muitas vezes a Avaliação de Risco é subdividida em áreas (risco à saúde
humana, ecologia e segurança), mas qualquer avaliação tem inicio com a
identificação do perigo ou definição do problema. Definidos os perigos a próxima
etapa é a identificação das populações receptoras potenciais e os locais de
exposição. Depois na etapa de caracterização dos riscos, é caracterizada a
magnitude das consequências de tal exposição (KIRCHHOFF 2004).
A quantificação do risco é precedida por meio da avaliação da magnitude das
consequências dos impactos considerados. Os riscos são então quantificados em
termos de riscos sociais ou riscos individuais. O risco individual é o risco para uma
pessoa na vizinhança de um perigo e pode ser calculado para os indivíduos expostos
a ele e para um grupo de indivíduos em particular ou como uma média individual
para uma determinada área (ARAÚJO, 2001).
Outro conceito importante para a temática desse estudo é o de
vulnerabilidade. Para Dagnino e Carpi Jr (2007) a noção de vulnerablidade que se
associa à de risco é matéria para discussão e tem várias formas de ser identificada e
apresentada.
Para os objetivos desse estudo a vulnerabilidade pode ser identificada de
modo a entender as carências que apresenta uma comunidade ou grupo de
indivíduos, pois a abordagem da vulnerabilidade pode ocorrer em diferentes escalas
(individual x social/coletiva e/ou a partir de diferentes temas (social x socioambiental).
Na vulnerabilidade social pode se dividir um espaço em “zonas de
vulnerabilidade”, o que possibilita identificar carências ou vantagens diferenciadas
que, mais além das disponibilidades materiais, possam dar maior poder de resposta
ao conjunto que o espaço desigual impõe aos habitantes (CUNHA, et al., 2003, apud
DAGNINO e CARPI JR, 2007).
A vulnerabilidade socioambiental, proposta por Hogan (2000, apud DAGNINO
e CARPI JR, 2007) traz à tona a questão de associar à abordagem socioambiental
uma série de dados que desnudam a distribuição desigual dos bens e serviços
(coleta de esgotos e resíduos, abastecimento de água encanada, agentes de saúde)
e as desigualdades socioespaciais, materializadas na ocupação diferenciada do
território.
54
A identificação do risco ambiental pressupõe certo grau de subjetividade,
dessa forma, pode ser identificado pela percepção.
Sobre a questão da percepção, Dagnino & Carpi Jr (2007) observam que
utilizar a percepção de riscos permite que se questionem ou coloquem em dúvidas
laudos técnicos e pareceres de pesquisadores, sobre os quais paira alguma dúvida.
As várias formas de percepção dos riscos por pessoas familiarizadas ou
acostumadas com ritmos e as sutilezas das modificações ambientais, permite a
observação de coisas que o especialista, o acadêmico ou o profissional não pode
perceber. A percepção permite: captar os desvios nas médias pluviométricas
mensais; entender porque determinada área é mais vulnerável aos deslizamentos do
que outra com feição geomorfológica semelhante; questionar qualidade das águas
em rios nos quais são lançadas cargas incomuns de poluentes (DAGNINO e CARPI
JR 2007).
Para esses autores:
A percepção construída coletivamente pode representar um
importante ponto de partida para reverter ou controlar os riscos
ambientais. Os componentes do processo perceptivo que se
encaixam nessa abordagem correspondem à intuição, à experiência
coletiva e à experiência pessoal. Enquanto cada cientista trata a
paisagem sob certo enfoque, conforme seus objetivos, o processo
perceptivo, ao contrário, tenta apreender a paisagem com uma visão
integrativa, colocando em evidência a imagem que o habitante faz de
sua paisagem (DAGNINO E CARPI JR 2007, p. 25-26).
57
Marandola e Hogan (2005) observam que a demografia, à semelhança da
geografia, tem trazido a vulnerabilidade como conceito complementar ao de risco.
Torres, (2000) defende o argumento de que:
A desigualdade ambiental emerge da hipótese de que determinados
grupos sociais, como algumas minorias e grupos de baixa renda,
estariam mais expostos a certos tipos de risco ambiental, tais como
enchentes, deslizamentos, etc. do que outros grupos. Assim, o
reconhecimento de uma situação de risco tem como pressuposto que
os acidentes, em larga medida, são fenômenos sociais, ou seja,
decorrem não de um fenômeno natural em si, mas da relação entre
este fenômeno e os processos históricos de ocupação de
determinados espaços da cidade (BARCELOS & OLIVEIRA 2008, p.
11, apud TORRES 2000).
58
3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
59
aumentando o escoamento superficial das chuvas, facilitando processos erosivos e o
assoreamento dos cursos d’água.
O Distrito Federal está situado nas áreas de altitudes mais elevadas do
Planalto Central do Brasil e apresenta em sua paisagem as Chapadas que ocupam
34% da área do DF, grandes superfícies de relevo plano a suave ondulado ou Vales
Dissecados que corresponde a aproximadamente 35%.
Essa região do Planalto Central é uma divisora de bacias com rios de pequeno
porte, a exemplo do ribeirão Sobradinho e Contagem, afluentes dos rios São
Bartolomeu e Maranhão respectivamente.
No trecho em que o ribeirão Sobradinho tem direção NW corresponde à
Chapada da Contagem. Na direção EW se classifica como Região de Vale
Dissecado do Alto Curso do São Bartolomeu e na APA de Cafuringa o Córrego
Contagem corresponde ao Curso Superior do Maranhão.
Sob o aspecto geológico, o DF está localizado na transição entre as zonas
externas e internas da Faixa Brasília, com rochas dos grupos Canastra, Araxá,
Paranoá e Bambuí. Nessa área são identificadas rochas pertencentes aos grupos
Paranoá e Canastra. O grupo Paranoá ocorre com mais frequência em cerca de 65%
da área do DF (NOVAES PINTO, 1986 apud ZOBY & DUARTE 2001).
Os solos são formados e caracterizados por uma ação combinada do clima,
material rochoso, seres vivos, topografia e variação do tempo. No DF os tipos de
solos têm características de solos de regiões de clima tropical semiúmido e
vegetação de cerrado, apresenta baixa fertilidade, matéria orgânica reduzida,
concentração alta de alumínio e ferro e muita acidez (PELUSO E CANDIDO, 2006).
Os latossolos apresentam baixa capacidade de retenção de água e de troca
de iônica, e alta infiltração. São solos antigos e profundos com mais de 10 metros de
espessura. Esses solos ocorrem em toda área desse estudo que tem relevo de
padrão plano ao norte da Chapada da Contagem e nos vale do ribeirão Contagem
(CAMPOS 2006).
Nessa região predominam os latossolos (vermelho-escuro, vermelho-amarelo
e concrecionários) e cambissolos/litólicos. Ocorrem também os solos hidromórficos e
areias quartzosas.
Os cambissolos e solos litólicos ocorrem em áreas de relevo ondulados a
fortemente acidentado do vale do rio São Bartolomeu. São solos jovens e poucos
profundos.
60
Campos (2006), diz que o padrão do relevo também é diretamente
relacionado ao tipo de rocha. Nessa área o relevo predominante é do tipo
movimentado com grande amplitude altimétrica, vales em V encaixados, alta
densidade de drenagem e com declividade maior que 20% na maior parte da área.
De acordo com a classificação de Koppen o clima do DF enquadra-se entre
os tipos Tropical (Aw) e Tropical de Altitude (Cwa e Cwb). Tem como característica
marcante a existência de duas estações bem definidas: chuvosa no verão e seca no
inverno. As chuvas ocorrem de outubro a abril e o período seco se estende de maio
a setembro (BAPTISTA, 2006).
Ainda de acordo com a mesma fonte o tipo de clima tropical (Aw) – Clima de
Savana tem temperatura do mês mais frio superior a 18º C. Este tipo climático ocorre
nos locais com cotas altimétricas abaixo de 1.000 metros, no caso dessa região
ocorre nas superfícies dissecadas da bacia do rio Maranhão.
Clima Tropical de Altitude (Cwa) tem temperatura no mês mais frio inferior a
18°C com média superior a 22º C no mês mais quente. Ocorrem nos rebordos e
escarpas, intermediárias entre a chapada e os vales dissecados por redes
hidrográficas. Abrange altitudes entre 1.000 e 1.200 metros.
Clima Tropical (Cwb) tem temperatura inferior a 18º C no mês mais frio com
média inferior a 22º C no mês mais quente. Ocorre em áreas com cotas altimétricas
acima de 1.200 metros, presente no Pediplano Contagem/Rodeador.
A temperatura média anual nessa área é de 22º C, enquanto a mínima e a
máxima são respectivamente 16,3 e 27ºC. Os meses mais frios vão de maio a
agosto e corresponde, à estação seca (maio a setembro). Os meses mais quentes
são setembro, outubro e novembro, e apresentam temperaturas médias oscilando
entre 22,8 e 23,3ºC (ZOBY & DUARTE 2001).
Outra característica da área de estudo e do DF no período seco é a
diminuição da umidade relativa do ar, no período mais quente do dia entre 12 e 15
horas, chegando a menos de 20% o que é considerado crítico pela Organização
Mundial de Meteorologia (OMM).
A região apresenta regime de chuvas irregulares. Nos meses mais chuvosos,
novembro, dezembro e janeiro, ocorrem precipitações médias de 725 mm, esses três
meses concentram 49,9% da precipitação anual de (1.453 mm) por outro lado,
praticamente não chove na estação seca. Os três meses mais secos junho, julho e
agosto, apresentam precipitação média de 35 mm (ZOBY & DUARTE, 2001).
61
Segundo a CODEPLAN (2006), as principais bacias hidrográficas do Distrito
Federal são: São Bartolomeu, rio Preto, Descoberto e Maranhão, que drenam 95%
do território, alimentando as grandes bacias do Paraná, Tocantins e São Francisco.
As outras bacias existentes nessa área são as do Corumbá e São Marcos que por
sua vez apresentam uma subdivisão de 36 bacias hidrográficas de unidades
menores, para efeito de planejamento e gerenciamento, as Unidades Hidrográficas
de Gerenciamento, conforme ilustra o quadro 4 abaixo.
PIPIRIPAU
MESTRE D'ARMAS
SOBRADINHO
PARANOÁ
RIO SÃO BARTOLOMEU TABOCA
PAPUDA
CACHOEIRINHA
SANTANA
SAIA VELHA / MARIA
PEREIRA
SANTA MARIA / TORTO
BACIA DO PARANÁ
BANANAL
LAGO PARANOÁ
LAGO PARANOÁ
RIBEIRÃO DO GAMA
RIACHO FUNDO
LAGO DESCOBERTO
DOIS IRMÃOS
RIO DESCOBERTO MELCHIOR / BELCHIOR
BURITI
ENGENHO DAS LAGES
ALAGADO / PONTE ALTA
RIO CORUMBÁ
SANTA MARIA
RIO SÃO MARCOS SAMAMBAIA
SANTA RITA
JACARÉ
SÃO JOSÉ
EXTREMA
BACIA DO SÃO FRANCISCO RIO PRETO
BURITI VERMELHO
ALTO JARDIM
MÉDIO JARDIM
BAIXO JARDIM
CAPÃO DO LOBO
SÃO BERNARDO
BACIA DO TOCANTINS / VEREDA GRANDE
RIO MARANHÃO
ARAGUAIA SONHÉM
PEDREIRA
PALMA
Fonte: IEMA/SEMATEC/DF, 2004
62
Como demonstra o mapa Hidrográfico do DF (FIGURA 5), a bacia do rio São
Bartolomeu é a maior dentro do DF, com aproximadamente 50% da área total,
equivalente a 2.864,05 km². Apesar de sua extensão, a rede hidrográfica local não
oferece condições de navegabilidade e nem para pesca em escala comercial. A
bacia do rio Preto, equivalente a 23% da área total e drena 1.343,75 Km²; o rio
Descoberto com 14% da área total drena 825,0 Km² e o rio Maranhão, com 13%,
drena 750,0 km².
Os rios do Sal, da Palma, os ribeirões da Contagem, Cafuringa, da Pedreira,
Dois Irmãos e seus tributários localizados na APA de Cafuringa são drenagens
perenes encontradas nessa área. São drenagens de pequeno porte e apresentam
vazões inferiores a 10 m³/s. Esses rios são tributários do Rio Maranhão que forma a
Bacia hidrográfica do Tocantins, e o Córrego Paranoazinho, a sudeste, integra a
Bacia do Rio São Bartolomeu que drena para a Bacia do Paraná (SEMARH, 2006).
Nessa APA a distribuição das águas subterrâneas também é estritamente
controlada pelo substrato rochoso. Devido ao grau de permeabilidade das rochas, a
água subterrânea apenas pode ocupar os espaços gerados pelas fraturas ou pela
dissolução do carbonato, o que resulta nos sistemas denominados, respectivamente,
aquíferos fraturados e aquíferos cársticos (CAMPOS 2006).
Dentre os fatores que determinaram a escolha da área para a construção de
Brasília estão a quantidade e a qualidade da água como demonstra o trecho do
relatório Cruls, citado por Candido e Peluso (2006, p. 19) a seguir:
O sistema hidrográfico da zona demarcada é, com efeito, de uma
riqueza tal que qualquer que seja o lugar escolhido para edificação da
futura Capital, encontrar-se-á sem grandes dificuldades, água
suficiente para abastecê-la à razão de 1.000 litros diários por
habitante.
63
Figura 5 – Mapa das Regiões Hidrográficas do DF, em destaque as Regiões Hidrográficas do rio São
Bartolomeu e a do rio Maranhão na área de estudo.
65
Estado de Goiás (Planaltina de Goiás), a leste com Planaltina-DF. Duas rodovias
constituem o limite sul, a EDF 001, que a separa de Brasília e a DF 250 (BR 479)
que a separa do Paranoá, a oeste pela EDF 170 que a separa de Brazlândia.
66
De acordo com SEDUH (2006) os 128 condomínios foram divididos em
Setores Habitacionais, a saber:
1. Boa Vista com 14 parcelamentos, 6.736 habitantes;
2. Contagem com 38 parcelamentos, 12.973 habitantes;
3. Fora de Setor Habitacional com 23 parcelamentos;
4. FERCAL com 7 parcelamentos, com 6.690 habitantes;
5. Grande Colorado com 11 parcelamentos, com 10.367 habitantes;
6. Nova Colina com 12 parcelamentos, com 5.973 habitantes;
7. Região dos Lagos com 13 parcelamentos, com 67.418 habitantes;
8. Setor de Mansões de Sobradinho, com 10 parcelamentos, com 14.297
habitantes, perfazendo um total de 124.454 habitantes sem a apuração dos
habitantes dos 23 parcelamentos Fora de Setor Habitacional.
A criação de novas áreas urbanas determinou um crescimento populacional
acelerado como demonstra Peluso e Candido (2006). Em 1960 ano de sua
implantação, Sobradinho tinha uma população de 8.479 habitantes, 19.247 em 1964,
39.982 em 1970, 69.094 em 1980, 81.333 em 1991, 90.550 em 1995 e 128.789 em
2000. Verifica-se um crescimento contínuo desde a implantação da cidade e uma
aceleração no crescimento populacional a partir 1990 por causa da criação de
Sobradinho II e a implantação dos condomínios na região. Veja evolução da
população entre 1960 e 2000 na tabela abaixo.
67
Figura 6 – Mapa da Região de Estudo em relação ao Distrito Federal
71
Figura 7 – Naturalidade da População Urbana Residente Sobradinho – Sobradinho – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
72
Figura 8 – Naturalidade da População Urbana Residente – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
73
Figura 9 – População Urbana Residente, com 10 anos e mais de idade por Atividade Principal
Remunerada, segundo os Setores – Sobradinho – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
74
Figura 10 – População Urbana Residente, com 10 anos ou mais de idade por Atividade Principal,
segundo os Setores – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD
75
Figura 11 – Distribuição dos Domicílios por Classe de Renda Bruta Mensal – Sobradinho-2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
76
Figura 12 - dos Domicílios por Classe de Renda – Sobradinho II – 2004
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio – PDAD – 2004
77
Tabela 6 – Distribuição dos Domicílios Segundo Algumas Características de
Infraestrutura Urbana – Sobradinho – 2004
DESCRIÇÃO %
ABASTECIMENTO DE ÁGUA 100,0
Rede Geral 87,7
Poço/Cisterna 0,8
Poço Artesiano 11,3
Outros 0,2
ESGOTAMENTO SANITÁRIO 100,0
Rede Geral 87,4
Fossa Séptica 9,2
Fossa Rudimentar 3,4
COLETA DE LIXO 100,0
Serviço de Limpeza Urbana 96,2
Queimado ou Enterrado 0,6
Outro Destino 3,2
Fonte: SEPLAN/CODEPLAN - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
80
Tabela 12 – Efetivo Rebanho Suíno, Produção de Carne – Sobradinho 2005
Rebanho Suíno Quantidade de Produção Participação na
(Cabeças) (Kg) Produção do DF (%)
12.500 1.409,250 13,63
Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento, Coordenação e Parceria do Distrito Federal – Anuário
Estatístico do Distrito Federal 2006
O efetivo das aves conta com 228.800 cabeças, produzindo 2.221,750 kg de
carne, 2,01% da carne de frango do DF, e produz 296.000 dúzias de ovos que
equivale a 0,85% da produção do DF (Tabela 13).
Esses dados sobre a produção agropecuária são válidos para as duas
Regiões Administrativas.
81
4. MATERIAL E MÉTODOS
82
planejamento inicial que marcou a história da construção de Brasília e das primeiras
cidades satélites do DF.
83
4) Dia 09 de julho de 2009 – Vila Rabelo I e II, Condomínio Morada dos
Nobres, Recanto Real e Recanto dos Nobres e córrego Paranoazinho;
5) Dia 11 de julho de 2009 – BR-020, Condomínio RK.
6) Dia 09 de janeiro de 2010 – Orla urbana do Ribeirão Sobradinho, incluindo
o Parque Ecológico dos Jequitibás e o Recreativo de sobradinho II;
7) Dia 12 de julho de 2010 – Região da FERCAL, Parque Canela de Ema e
Sobradinho II.
Finalizada a coleta dos dados foi feita a hierarquização das áreas com
vulnerabilidade a riscos ambientais e a identificação dos tipos de riscos a serem
avaliados. Para isso tomou-se como base a Pesquisa de Informações Básicas
Municipais – (MUNIC) do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística – (IBGE),
publicada em 2005. Essa pesquisa investigou informações ambientais em todos os
municípios brasileiros.
Para efeito dos objetivos dessa dissertação, adotou-se o risco derivado do
meio ambiente criado ou construído. Considerou-se que os elementos sob risco são:
a população, as edificações, e as obras de engenharia, as atividades econômicas, os
serviços públicos e a infraestrutura de acordo com Castro et al., (2005). E também os
recursos naturais da área.
Por fim, será feita a análise e a interpretação dos resultados da Avaliação dos
Riscos Ambientais e a elaboração das Conclusões e Sugestões.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e
exploratória baseada no método dialético, que se fundamenta na dialética proposta
por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a novas
contradições, que passam a requerer solução. Considera que os fatos não podem
ser considerados fora do contexto social, político, econômico, cultural, etc. (GIL,
1999; LAKATOS; MARCONI, 1993).
Embora a abordagem quantitativa não tenha que, necessariamente, estar em
oposição, à abordagem qualitativa, as análises e interpretações graças à natureza da
realidade investigada, não pode ser apenas descritas ou qualificadas (REIS, 2003).
84
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
85
A coleta de esgotos desses parcelamentos é feita por meio de fossas e
sumidouros que despejam o esgoto diretamente no solo promovendo o risco de
contaminação do subsolo.
A análise da ocupação urbana de modo geral e também especificamente nas
Áreas de Preservação Permanentes (APPs) como ocorre nessa área é defendida
pela legislação ambiental e se reveste de vital importância para o monitoramento das
questões sociais e ambientais pelos gestores governamentais.
Essa avaliação dos riscos ambientais e a análise histórica registraram
mudanças e transformações no tempo que possibilitaram a organização territorial
que o país tem hoje. Essa organização foi motivada por interesses políticos e
econômicos que resultaram no povoamento de novas regiões como ficou
demonstrado na ocupação da Região Centro Oeste e do DF.
O ser humano operou ao longo do tempo transformações importantes no meio
ambiente com os recursos da natureza influenciando as suas ações. Essa ação
acontece mais intensamente nas áreas urbanas. Ao alcançar o progresso econômico
o ser humano provoca a degradação dos recursos naturais.
Sobre a expansão urbana, TUCCI (2003), diz que ela se caracteriza pela
expansão irregular da periferia, com pouca obediência à regulamentação relacionada
com o Plano Diretor das cidades que é um instrumento de gestão.
Isso se verifica como característica da dinâmica de ocupação na região de
Sobradinho. Em razão da ocupação indiscriminada de suas terras essa área
apresenta sérios problemas de degradação ambiental.
Essa dinâmica de ocupação promoveu o surgimento de núcleos urbanos sem
infraestrutura básica, consolidando invasões e condomínios irregulares e está
associado ao crescimento demográfico desordenado, devido principalmente à
especulação imobiliária e à necessidade de moradias para a população de baixa,
média e de alta renda.
O crescimento acelerado e desordenado provoca a remoção da vegetação de
áreas que serão substituídas por construções e dispositivos artificiais que acabam
afetando significativamente o equilíbrio natural da região, devido principalmente à
falta de planejamento e estudos com vistas a esse crescimento (TORRES, 1997).
A ocupação irregular e desordenada do território é um dos fatores de risco e
de vulnerabilidade ambiental que pode afetar as condições de vida humana, como foi
percebido pelos gestores ambientais em todos os municípios brasileiros.
86
Esse crescimento desordenado ocorreu apesar do Plano Diretor Local de
Sobradinho de 1994 ter definido o zoneamento criando subzonas de ocupação
espacial.
De acordo com Lima & Anjos (2002):
O PDL de Sobradinho de 1994 definiu o zoneamento da Região
Administrativa, com destaque especial para as subzonas centrais
(SZC), especial de preservação (SZEP), industrial (SZI), urbana com
uso remanescente (SZR) e habitacional (SZH). O rápido crescimento
urbano está fazendo com que boa parte dos espaços de Sobradinho,
que deveriam ser mantidos sem ocupação humana, passe a sofrer
forte pressão por parte da urbanização. Podemos encontrar desde
Matas Ciliares totalmente destruídas até mesmo habitações em solos
que são desaconselhados pela sua alta susceptibilidade a erosão.
Outro importante indicador restritivo à ocupação na região é a
declividade. É possível observar habitações em declividades
superiores a 30%, o que é proibido por Lei. (LIMA & ANJOS, 2002 p.
7).
Áreas com as características apontadas acima foram ocupadas em toda
região de expansão urbana de Sobradinho apesar do impedimento legal. Como
demonstra a figura abaixo, as casas estão localizadas em terreno com declividade
acentuada, onde se pode observar que parte dos quintais das casas estão voltadas
para a encosta, que a vegetação foi degradada, o que acentua o risco de erosão e
de deslizamentos. Nessa área se observa a construção de muros de arrimos para
sustentação do terreno, figura 13.
87
Figura 13 – Casas construídas no topo de morro em declividades acentuadas, nas quebras de relevo,
avançando para a encosta no Condomínio RK
Figura 14 - Dinâmica da ocupação urbana de terrenos com declividade acentuada, vales e encostas,
áreas de nascentes em condomínios da DF 425 e região do Grande Colorado ao fundo
88
Figura 15 – Ocupação Urbana em área de barranco e de encosta em condomínio de baixa renda na
Vila Rabelo II e II
89
5.2 Discussão dos Resultados
90
em estruturas urbanas para cada caso. O primeiro núcleo urbano de Sobradinho se
encaixa nessas condições como demonstra a figura 16 abaixo.
A cidade Sobradinho sempre foi considerada modelo entre as cidades
satélites de Brasília, visto que é dotada de completa infraestrutura urbana, tem um
clima agradável e localização privilegiada. Por volta de 1980 a cidade já se
encontrava totalmente implantada.
Figura 16 – Vista aérea de Sobradinho mostra que a cidade foi planejada e urbanizada a exemplo de
Brasília
Fonte: Infobrasília
91
Figura 17 – Vista de Sobradinho e da expansão de Sobradinho II ao fundo
Fonte: Infobrasília
A APA da Bacia do Rio São Bartolomeu abrange uma área de 84.100 ha, foi
criada pelo Decreto Federal nº 88.940 de 7/11/1983, é a maior bacia hidrográfica do
DF e desempenha um importante papel de corredor de ligação entre a Estação
Ecológica de Águas Emendadas, APA de Cafuringa, APA do Lago Paranoá e APA
das bacias do Gama e Cabeça-de-Veado, reunindo todos os tipos de vegetação,
desde o cerradão até os campos rupestres. Com relação à fauna contém
representantes de diversas espécies da fauna nativa, como dourados, traíras,
codornas, perdizes, seriemas, antas, capivaras etc. (SEMARH, 2006).
Localiza-se também nessa região a APA de Cafuringa Criada pelo Decreto
Distrital 11.123/88, a APA de Cafuringa possui 46 mil hectares, equivalente a 8% do
território do DF, e está localizada a noroeste do Distrito Federal. A APA de Cafuringa
limita-se ao norte e oeste pelo Estado de Goiás, a leste pela DF-150 e pelo Ribeirão
da Contagem, e ao sul pela APA do Descoberto e pelo Parque Nacional de Brasília.
O relevo acidentado é onde estão importantes cachoeiras do DF, como Mumunhas e
Poço Azul. Em Cafuringa estão também as cavernas, como a Gruta do Sal, devido
ao terreno calcário. Engloba parte da Chapada da Contagem e da bacia do Rio
Maranhão (SEMARH, 2006).
Nessa região concentra-se um grande número de espécies da vegetação do
Bioma Cerrado, onde quase todos os tipos estão presentes, contudo, tem duas
fitofisionomias exclusivas: matas mesofíticas em áreas calcárias e os campos de
altitude. Concentra boa parte das jazidas de calcário do DF o que possibilita a
exploração industrial dessas jazidas para fabricação de cimento. A ocupação
humana da região, as atividades agrícolas e a exploração de recursos vegetais e
minerais imprimem grandes pressões à vegetação, principalmente às fitofisionomias
93
de mata mesofítica e de campos de altitudes, colocando em risco a integridade das
populações naturais e ameaçando a biodiversidade local.
É importante observar que no DF as Unidades de Conservação representam
42% do território e apresentam-se como um instrumento disciplinador da ocupação
humana, dentro de uma ótica do desenvolvimento sustentável, considerando
especialmente o fato de o DF possuir mais de 95% da população concentrada em
áreas urbanas, o que evidencia uma forte pressão antrópica sobre os recursos
naturais (BARBO, 2001).
Como se verifica a ocupação do solo em Sobradinho apresenta usos variados
como: ocupação urbana em Sobradinho, Sobradinho II e Condomínios, ocupação
rural: chácaras, granjas, fazendas, exploração de recursos naturais: mineração e
indústria, dentre outros usos. A figura 18 abaixo mostra a dinâmica da ocupação do
solo em Sobradinho II, Setor de Mansões e de áreas rurais remanescentes.
96
técnicos da Administração Regional. Mostra vestígios de erosão, fruto da
impermeabilização do solo em razão da implantação de condomínio acima dessa
área (Morada dos Nobres). O solo descoberto facilita o acúmulo de água de chuva
na bacia de contenção construída próximo ao muro do condomínio abaixo (Vivendas
Serrana).
Figura 19 – Área degradada pela extração de cascalho e erosão do solo entre os Condomínios
Morada dos Nobres e Vivendas Serrana
97
aberto, a presença de lixo e entulho na encosta, apresentando o risco de
contaminação e de doenças infecto contagiosa.
Figura 20 – Ocupação de área com alto índice de declividade, avançando para a encosta na Vila
Rabelo I e II
98
Figura 21 – Retirada da mata ciliar do córrego Paranoazinho entre a DF 425 e Sobradinho II
99
Figura 22 - Solo degradado pela extração de areia dentro da Reserva Biológica da Contagem
100
do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, (2005) que investigou
informações ambientais em todos os municípios brasileiros.
A pesquisa mostrou que a percepção dos gestores ambientais sobre a
ocorrência de situações que poderiam ser caracterizadas como de vulnerabilidade
ambiental estão relacionadas a: assoreamento de rios, poluição dos recursos
hídricos, contaminação do solo e poluição do ar. E que esses processos estão
fortemente associados à degradação de áreas frágeis, potencializadas pelo
desmatamento e pela ocupação irregular de certas áreas.
Foram identificadas por essa pesquisa 17 alternativas de impactos ambientais
que poderiam ter afetado as condições de vida da população, especialmente das
populações mais pobres, que podem ser verificadas na região de Sobradinho como:
esgoto a céu aberto, desmatamento, queimadas, vetor de doença, contaminação de
rio, lagos etc. doença endêmica, presença de lixão, escassez de água, ocupação
irregular do território, trafego pesado em área urbana, inundação, poluição do ar,
deslizamento de encosta, poluição sonora, contaminação do solo.
Serão analisados e avaliados todos esses impactos, contudo, ênfase maior
será dada a contaminação dos cursos d’água, nascentes e a ocupação irregular do
território com a ocupação de leitos de córregos, ribeirões, áreas com declividade
acentuada e encostas.
Esses processos estão fortemente associados à degradação de áreas frágeis
como: Áreas de Proteção Ambiental (APPs), leitos de rios, áreas de nascentes e
encostas, potencializadas pelo desmatamento e pela ocupação irregular de certas
áreas, como ocorre em Sobradinho.
Foram identificadas pela pesquisa do IBGE alternativas de impactos
ambientais que poderiam ter afetado as condições de vida da população nos
municípios brasileiros. Esses impactos ambientais foram identificados na pesquisa
de campo realizada em Sobradinho como indica o Quadro 7 e as imagens abaixo.
101
Quadro 7 - Impactos Ambientais Identificados nos Municípios Brasileiros e em
Sobradinho
Impactos Ambientais
1. Esgoto a céu aberto
2. Desmatamento
3. Queimadas
4. Vetor de doenças
5. Contaminação de rios, nascentes, etc.
6. Doença endêmica
7. Presença de lixo e entulho
8. Escassez de água
9. Ocupação irregular do território
10. Tráfego pesado em área urbana
11. Inundação
12. Poluição do ar
13. Deslizamento de encosta
14. Poluição Sonora
15. Contaminação do solo
Fonte: IBGE, 2005
102
A figura abaixo mostra vestígios de poluição da água do Ribeirão Sobradinho
devido ao lançamento de esgoto sem tratamento pela Estação de Tratamento da
Caesb localizada na Quadra 13 ao lado do clube do SESI, configurando a presença
de esgoto a céu aberto e o risco de contaminação do ribeirão.
103
Figura 25 – Lixo em clareira aberta às margens do ribierão Sobradinho
106
Figura 28 – Ponto onde ocorre o despejo de esgoto no Ribeirão Sobradinho pela Estação de
Tratamento da Caesb
109
Figura 30 – Emissão de partículas por Fábrica de Cimento na FERCAL
110
- Solo – a contaminação dos solos afeta 33% dos municípios brasileiros. Os
principais responsáveis são fertilizantes, agrotóxicos e esgoto doméstico;
- Lixo – nas cidades onde há coleta o lixo é depositado em terrenos usados
para esse fim, lixões, depositados a céu aberto, ou enterrado e compactado
em aterros sanitários. Esses locais sofrem graves impactos ambientais.
O acúmulo de lixo no solo traz uma série de problemas para os ecossistemas e
para a sociedade como: a proliferação de insetos e ratos, que podem transmitir
várias doenças; a decomposição da matéria orgânica que além de gerar mau cheiro,
produz um caldo escuro e ácido denominado chorume, que infiltra no subsolo,
contaminando o lençol freático; provocando a contaminação do solo e de pessoas
que manipulam o lixo com produtos tóxicos.
Riscos associados: doenças, poluição das águas superficiais e subterrâneas,
do solo, de nascentes, do lençol freático, poluição do ar e o risco de contaminação.
A Vulnerabilidade social – Está representada pela ocupação de áreas
impróprias para a expansão ou adensamento urbano é verificada em Sobradinho
pela ocupação de áreas frágeis ambientalmente como: Áreas de Proteção
Permanente (APP) (leito de rios, córregos, nascentes e de encostas), com a
presença de chácaras, clubes de lazer, subhabitações, aglomerados residenciais,
problemas com a segurança do trabalhador, saúde pública, sistema viário, acidentes
e atropelamentos devido ao pesado tráfego de veículos.
A avaliação da vulnerabilidade social e dos riscos ambientais permitiu
identificar como se dá a construção social do risco ambiental nessa área.
Para a realização da Avaliação dos Riscos Ambientais – (ARA) em
Sobradinho, levaram-se em consideração os parâmetros legais necessários para
avaliar a vulnerabilidade da área de estudo e de seu entorno aos efeitos antrópicos
causados pelo uso e ocupação desordenada do solo. Para tanto, observaram-se os
marcos jurídicos a seguir.
Lei n.º 6.938, de 31/8/1981 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio
ambiente, cujo mérito foi o de trazer para o mundo do Direito o conceito normativo de
meio ambiente, trouxe o objetivo de proteção em seus múltiplos aspectos, os
conceitos de degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos
ambientais e instituiu a obrigação de o poluidor pagador reparar os danos causados,
segundo o princípio da responsabilidade objetiva (ou sem culpa) em ação movida
pelo Ministério Público.
111
Lei n.º 7.347, de 24/7/1985 – Disciplina a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético e histórico, com nova redação dada pela Lei n.º 8.078, de
11/9/1990. Essa Lei tem por finalidade o cumprimento da obrigação de fazer, de não
fazer e/ou a condenação em dinheiro, e cria um fundo com recursos advindos das
condenações em dinheiro para a reconstituição dos bens lesados. A Lei da ação civil
pública pode ser considerada como o principal instrumento processual coletivo de
defesa do ambiente e principal fonte de demanda por perícias Ambientais (LIMA e
SILVA, 1999).
Constituição Federal de 5/10/1988 – Deu um grande impulso à questão
ambiental no Brasil, não conferindo ao Estado o monopólio da defesa ambiental, pois
a sociedade e também o cidadão passam a ter o poder e o dever de defender o
ambiente.
Somam-se a esses diplomas legais a Lei Orgânica do DF que em seu Artigo
278 prevê que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. Soma-se à Lei Orgânica do DF a Lei nº 41/99 que define a política
ambiental do DF.
Observou-se o que dispõe o Código Florestal Brasileiro (1965) instituído pela
Lei 4.771 de 15/09/1965, que prevê no seu Artigo 2º que: “consideram-se como
áreas de preservação permanente (APP), as florestas e demais formas de vegetação
situadas, para efeito desse estudo e no caso dessa região:
a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água (Ribeirão Sobradinho,
Paranoazinho e Contagem, etc.), desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima será: de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10
(dez) metros de largura, em toda a sua extensão, e num raio de 50 metros ao redor
das nascentes.
b) No topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas,
com declividade acentuada, nas bordas dos tabuleiros ou chapadas (Chapada da
Contagem), a partir da linha de ruptura do relevo.
E, também, a Resolução nº 004/85 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), de 18 de setembro de 1985, considera Área de Preservação
Permanente (APP) toda forma de vegetação natural ao longo de qualquer curso
112
d'água. Os parâmetros dessa Resolução serão importantes para a avaliação das
condições dos cursos d’água da região, especialmente o Ribeirão Sobradinho.
O Ribeirão Sobradinho percorre toda área urbana da cidade e do Núcleo Rural
I, deságua na Cachoeira Sobradinho. Essa cachoeira não pode ser usada pela
comunidade por causa da poluição.
O Ribeirão Sobradinho faz parte da rede de drenagem das três grandes bacias
hidrográficas (Amazônica, São Francisco e Paraná), e apesar de não abastecer a
população local com água potável, recebe o despejo de esgoto doméstico.
Seis nascentes desse córrego encontram-se no interior do Parque Vivencial e
Ecológico de Sobradinho. Por não ter poligonal definida, ocorrem na área os usos
impróprios do solo como: o cultivo de hortas caseiras com uso de agrotóxico,
utilização das nascentes como ponto direto de captação de água, o desmatamento
de Áreas de Preservação Permanente (APP) e invasões de terras públicas
destinadas à conservação de recursos naturais são exemplos de infrações
ambientais existentes nas margens desse ribeirão, que geram impactos ambientais
negativos. Além disso, o esgoto da cidade, que não é tratado pelas Estações de
Tratamento da CAESB, é jogado “in natura” no córrego.
Fonte: o autor
113
1. Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho
114
pluviais, a deposição de resíduos sólidos (lixo e entulho), dentre outros usos como
agricultura, criação de animais etc.
Essa forma de ocupação do solo coloca em risco a qualidade e a quantidade
das águas do Ribeirão Sobradinho e de outros cursos d’água da região, como o
córrego Paranoazinho e o Contagem e das águas subterrâneas usadas para
abastecimento.
Os usos antrópicos existentes no entorno do ribeirão observados na pesquisa
de campo são: habitações, (unifamiliares, condomínios horizontais e verticais),
chácaras, fazendas, granjas, mineração, comércio, oficinas mecânicas, pequenas
indústrias, postos de combustíveis, lava-jatos, lazer (clubes e turismo predatório),
Estações de Tratamento de Esgotos, Centrais Elétricas, vias asfaltadas, etc.
Os usos antrópicos levantados pela pesquisa de campo na área de estudo
possibilitaram identificar os impactos socioambientais e os riscos a que estão sujeitos
as populações residentes na região, descritos a seguir no Quadro 10.
115
A área do Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho apresenta sinais de uso
antrópico. Apresenta sinais de degradação do solo pela extração de terra vegetal,
desmatamento e a presença espécies exóticas ao cerrado como: eucaliptos,
pinheiros e outras espécies, plantadas próximas ao leito do ribeirão Sobradinho
substituindo a mata ciliar, como mostra a Figura 31.
Toda essa área do parque está sujeita aos impactos e aos riscos associados ao
uso do solo, apresentadas no Quadro 6, confirmadas na pesquisa de campo.
116
Figura 32 – Santuário construído ao lado de uma das nascentes que alimentam o Ribeirão
Figura 33– Nascente canalizada para abastecimento de água do Santuário e de chácaras dentro do
parque
118
Figura 35 – Degradação da mata ciliar e presença de condomínio no entorno das nascentes do
Ribeirão Sobradinho
119
Figura 36 – Sede do Horto Florestal desativado e estrada de acesso às chácaras
120
Figura 37 – Captação de água do ribeirão Sobradinho abaixo de suas nascentes principais – tanque
para criação de peixes e irrigação de hortaliças
121
Figura 38 – Descarte de lixo e entulho às margens do Ribeirão Sobradinho
122
2. Parque Ecológico dos Jequitibás
Dos quatro parques de Sobradinho esse é o único que tem boa estrutura para
visitação, como: casa sede, bebedouros, banheiros, figura 40, trilhas pavimentadas e
123
bem cuidadas para caminhada, figura 40, e, equipamentos de lazer como:
parquinhos, aparelhos para exercícios físicos, lixeiras que estão em mau estado de
conservação, figura 41. Dispõe de técnicos em Educação Ambiental, polícia florestal,
e está cercado.
126
Figura 44 – Ocupação antrópica, depósito e queima de lixo às margens do ribeirão Sobradinho, na
área do parque
O Parque Recreativo e Ecológico Canela-de-Ema foi criado pela Lei nº. 1.400,
de 10/03/1997, está localizado na Área Especial nº 3 do Núcleo Urbano da Fazenda
Sobradinho, no entorno da lagoa “Buriti”, situada nas proximidades da DF 425. Tem
uma área de 52,9 hectares. O parque conta com diversas trilhas não pavimentadas
as quais não foram encontradas nas saídas de campo.
O parque abrange a lagoa Canela-de-Ema ou “Buriti”, situada numa das
vertentes do córrego Paranoazinho, afluente do ribeirão Sobradinho. A vegetação
em torno do parque é constituída por veredas, campo de murundus, buritizais, com
áreas brejosas e grande quantidade da espécie arbustiva denominada Canela-de-
Ema, que dá nome ao parque. Percebe-se na área um alto grau de degradação
como mostra a figura 45 abaixo.
127
Figura 45 – Vista parcial da ocupação e degradação da Lagoa Buriti dentro do parque Canela de Ema
128
Figura 46 – Presença de lixo e da estrada que secciona a Lagoa Buriti no parque Canela-de-Ema
129
Figura 47 – Ocupação de encosta na Reserva Biológica da Contagem próximo ao Córrego
Paranoazinho e à DF 150
130
Figura 48 – Estrada de acesso aos condomínios do Grande Colorado na área da Reserva Biológica
da Contagem
Figura 49 – Solo degradado pela extração de areia dentro da Reserva Biológica da Contagem
131
Está localizada dentro da Reserva Biológica da Contagem a Área de Proteção
de Mananciais – (APM), definidas no Artigo 30 da Lei Complementar nº 17, de 28 de
janeiro de 1997, regulamentado pelo Decreto Distrital nº 18.585, de 9 de setembro de
1997, são áreas destinadas à conservação, recuperação e manejo das bacias
hidrográficas a montante dos pontos de captação da Companhia de Saneamento do
Distrito Federal (CAESB), sem prejuízo das atividades e ações inerentes à
competência de captar e distribuir água de boa qualidade e em quantidade suficiente
para o atendimento da população. Nessa região protegidas e transformadas em
Unidades de Conservação, são consideradas Áreas de Preservação de Mananciais
(APMs), são representadas pelas áreas localizadas nas bacias hidrográficas as
captações do Ribeirão Contagem e Córrego Paranoazinho. As atividades de
captação de água, desenvolvidas pela CAESB no interior dessa reserva, apesar de
atividade conflitante, são asseguradas pelo decreto de criação da unidade de
conservação.
A existência da REBIO visa assegurar a preservação das nascentes do
Ribeirão da Contagem e do Córrego Paranoazinho e parte dos seus cursos, com
suas matas de galeria encaixadas nas encostas escarpadas (SEMARH, 2006).
Próximo à represa de captação do Contagem/Paranoazinho está instalado o
Condomínio Mansões Colorado fazendo divisa com a Área de Proteção de
Mananciais (APM). Além da existência da Vila BASEVI pouco acima, existe a
presença de chácaras, condomínios e outros tipos de ocupação ao longo desses
cursos d’água que vão desaguar no ribeirão Sobradinho e no rio Maranhão
respectivamente.
Essa área é formada por Sobradinho II e pelos condomínios que fazem parte
da área de expansão urbana de Sobradinho.
O modelo de ocupação dos condomínios surgiu no DF e em Sobradinho a
partir de 1989, fruto da falta de uma política habitacional do governo local, da
especulação imobiliária e da falta de fiscalização para reprimir esse processo de
ocupação. Sobradinho possui aproximadamente 20% dos condomínios do Distrito
Federal, ou seja, segundo números fornecidos pela Administração Regional, 128
132
parcelamentos, divididos em oito Setores Habitacionais como foi demonstrado no
quadro 5, dentre os quais, muitos sem a mínima infraestrutura. Em contrapartida,
alguns apresentam uma estrutura igual ou superior a de algumas cidades do DF.
Para conter o crescimento desordenado foi implementado na cidade, além do
(PDOT), Plano Diretor de Ordenamento Territorial e Urbano, o (PDL) Plano Diretor
Local que na condição de instrumentos de gestão urbana não conseguiram conter
esse crescimento.
Segundo Steinberger, (1999), esse período foi marcado ainda pela
proliferação de loteamentos clandestinos e pelo aparecimento da cidade ilegal a
partir do parcelamento privado da terra.
A pesquisa bibliográfica apontou que os parcelamentos apresentam
ilegalidades como: problemas fundiários, títulos de propriedade falsos, superposição
de área¸ terras com litígios entre proprietários, problemas quanto à legislação
ambiental, parcelamentos implantados em áreas de fragilidade ambiental e
problemas urbanísticos.
A pesquisa de campo apontou que essa área apresenta problemas ambientais
comuns às outras áreas analisadas, contudo, a ocupação avança de forma
desordenada para áreas impróprias para o adensamento urbano como encostas,
áreas de nascentes, leitos de córregos e ribeirões. Nesse item será analisada a
ocupação de encostas.
O crescimento das cidades ocorre geralmente em áreas planas ou
suavemente onduladas, onde a ocupação tem menor risco geomorfológico. No
entanto, a intensificação da expansão urbana pode gerar a consolidação de novos
vetores de ocupação do solo (invadindo áreas sujeitas a deslizamentos ou de
preservação ambiental). Conter esse crescimento é tarefa difícil, mesmo com o
planejamento prévio e investimentos necessários, de forma a controlar e direcionar a
ocupação de terras.
Em Sobradinho a partir de 1989 o crescimento urbano se deu de forma
intensa e desordenada. Para solucionar o problema da falta de moradia a população
passou a ocupar as áreas de encostas de forma desordenada, não observando
fatores riscos sócioambientais como: riscos trazidos pelo desmatamento, queimadas
e cortes em terrenos das encostas.
Nas áreas urbanas, o desmatamento e o corte das encostas, para construção
de casas, prédios e ruas, é uma das principais causas da degradação.
133
A desestabilização das encostas, feita pela construção de casas, por
população de baixa ou de alta renda, tem provocado o desencadeamento de uma
série de problemas ambientais. Esse fato se verifica em grande parte dos municípios
brasileiros, no DF e em Sobradinho.
De acordo com Santos (2007) a urbanização em encostas e vales acontece de
forma heterogênea, no tocante à classe social que as ocupam e as degradam.
Entende-se por encosta declive nos flancos de um morro, de uma colina ou de uma
serra.
Com exceção dos fundos de vales e topos de chapadas, quase todas as terras
emersas são constituídas por encostas. Elas podem ocupar paisagens inteiras em
determinadas partes da superfície terrestre (GUERRA, 2003).
As encostas constituem uma conformação natural do terreno originada pela
ação de forças externas e internas por meio de agentes geológicos, climáticos,
biológicos e humanos, os quais, através dos tempos esculpem a superfície da Terra
(BRASIL 2007).
Dentre os riscos a que as populações estão sujeitas nessas áreas está o
escorregamento ou deslizamento que é o termo genérico para vários tipos de
movimento de massa de solos, rochas ou detritos gerados pela ação da gravidade e
tem como principal fator de geração a infiltração de água servida, e, principalmente
das chuvas.
De acordo com Brasil (2007) as pessoas que habitam áreas de risco estão
sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais. Normalmente,
no contexto das cidades brasileiras, essas áreas correspondem a núcleos
habitacionais de baixa renda (assentamentos precários) e favelas.
Esses riscos podem ainda ser gerados por atividades do homem ou
condicionantes antrópicos que são os principais deflagradores do movimento de
massa que modificam as condições naturais do relevo, por meio de cortes para
construção de moradias, aterros, lançamento de águas sobre vertentes, estradas e
outras obras.
Somam-se a esses condicionantes a remoção da cobertura vegetal,
vazamento na rede de água e esgoto, presença de fossas, lançamento de lixo nas
encostas/taludes, e deflagração de processos erosivos. Portanto, o deslizamento é
resultado da ocupação inadequada e é mais comum em zonas de ocupações
precárias de baixa renda (BRASIL, 2007).
134
A ocupação das encostas provoca a modificação da sua topografia, leva ao
desmatamento que intensifica a instabilidade desse ambiente natural. A cobertura
vegetal protege as encostas contra a ação da erosão e dos movimentos de massa.
Portanto, o desmatamento nessas áreas para utilização econômica, expansão
urbana ou exploração de recursos naturais é um fator gerador de impacto ambiental
e de riscos associados.
A ocupação dessas áreas nos municípios brasileiros oferece riscos
especialmente às populações de baixa renda. Por isso o Ministério das Cidades
elaborou um material informativo em parceria com o Instituto de Pesquisa
Tecnológica do Estado de São Paulo – IPT que possibilita o treinamento de equipes
municipais para o gerenciamento de riscos em áreas sujeitas a riscos de
deslizamentos, enchentes e inundações, investindo na capacitação de técnicos
municipais para elaborarem de forma autônoma, o diagnóstico de áreas de riscos e a
montagem de um sistema municipal de gerenciamento de riscos que contemple a
participação ativa das comunidades (BRASIL, 2007).
A ausência ou má aplicação de uma política de habitação e de
desenvolvimento urbano levou boa parte das populações no Brasil a ocuparem áreas
ambientalmente frágeis, especialmente em margens de rios e encostas. Fato que é
observado no DF e em Sobradinho.
A ocupação de encostas nas cidades causa impactos ambientais urbanos que
prejudicam diretamente os seus ocupantes, já que o processo de ocupação irregular
e desordenado desestabiliza a encosta.
No DF a Defesa Civil mapeou 23 áreas de risco, duas das quais estão em
Sobradinho II, na Vila Rabelo e na região da FERCAL.
Na Vila Rabelo I e II se observa a ocupação dos patamares de encostas que
são consideradas áreas de risco muito alto pela Defesa Civil, por serem habitados
por população de baixa renda, como se pode observar na figura 48. Na região da
FERCAL observa-se a presença de moradias na encosta e próximas às margens de
ribeirões, encostas e às fábricas de cimento.
Os impactos ambientais urbanos causados nas encostas repercutem de forma
devastadora ao seu agressor. A ocupação irregular provoca vários processos de
instabilidade da encosta. Os mais comuns são os movimentos de massa.
135
Dentre as várias formas e processos de movimentos de massa, destacam-se
os deslizamentos nas encostas.
136
A ocupação dos condomínios irregulares nessas áreas além de colocar
córregos e nascentes em risco, as construções constituem uma ameaça à vida das
famílias que constroem casas em locais ambientalmente frágeis.
A Defesa Civil do DF apontava em 2007 que das 14 áreas consideradas de
risco no DF, 10 estavam em parcelamentos irregulares e que pelo menos 190 mil
pessoas viviam em locais onde poderiam ocorrer deslizamentos, desabamentos ou
inundações em época de chuva.
A Defesa Civil dá prioridade ao atendimento de famílias carentes, por isso o
mapa de risco do DF inclui somente áreas de baixa renda como: Arapoanga,
Estrutural, FERCAL, Vila Rabelo, Vila Cauhy, Vale do Amanhecer, Condomínio Privê,
Ponte Alta do Gama e Vila Feliz, eram esses os 10 loteamentos ilegais considerados
de risco à época. As áreas regulares do levantamento são: Riacho Fundo,
Samambaia, São Sebastião e Varjão.
Os dados oficiais da Defesa Civil não incluem condomínios em áreas nobres.
Contudo, em Sobradinho existem vários pontos com risco de deslizamento e
desabamento devido à ocupação de encostas identificadas na pesquisa de campo, a
saber: Condomínio Jardim Europa I, Solar de Athenas e Vivendas Colorado I, na
região do Grande Colorado (Chapada da Contagem), Condomínio Recanto dos
Nobres, Morada dos Nobres, Recanto Real, Bianca e algumas chácaras às margens
do córrego Paranoazinho na DF 425 e BR 020, Condomínio Residencial RK e
Império dos Nobres também às margens da BR 020.
Situação mais grave, no entanto, foi verificada na região da FERCAL e na Vila
Rabelo, onde existem casas construídas a exemplo dos outros condomínios, em
declividades superiores a 20%, que é classificado pela Defesa Civil como sendo de
risco muito alto devido à falta de sistema de drenagem da água de chuva, falta de
saneamento básico, presença de lixo e entulho na encosta, casas com estruturas
precárias, construídas em uma região de vales e barrancos, alguns barracos,
especialmente na Vila Rabelo II, ficam inclinados até 45º prestes a cair como ilustra a
figura 52. O perigo aumenta com as chuvas.
137
Figura 52 – Ocupação de encostas na Vila Rabelo destacando, em primeiro plano, a presença de lixo.
139
porque está na beira da encosta destituída de cobertura vegetal, o que aumenta o
risco de deslizamento. Como mostra a figuras 51.
Figura 51 – Casas construídas com muros de arrimo para sustentação do terreno e a encosta
desmatada em condomínio de classe média
140
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). O gerenciamento de riscos
envolve vários atores públicos e privados.
Para gerir os riscos urbanos o poder público deve desenvolver atividades de
natureza administrativa e operacional para minimizar impactos gerados pela
ocupação em áreas de risco. Compete ao poder público elaborar medidas para
reduzir e mitigar os riscos ambientais.
Dessa forma, a Defesa Civil é o órgão responsável por coordenar ações em
todo Brasil com o objetivo de reduzir desastres e criar ações de prevenção, de
preparar para emergências, reconstruir. As suas ações envolvem os três níveis de
governo, federal, estadual e municipal com a participação da comunidade. As ações
da Defesa Civil em todo o Brasil são amparadas pela Política de Defesa Civil criada
em 1995 e aprovada pelo Conselho Nacional de Defesa Civil (CONDEC).
Pelas medidas estruturais aplicam-se soluções por meio de obras de
engenharia com execução de obras para estabilização de encostas, sistemas de
drenagem, obras de infraestrutra urbana, realocação de moradias, etc.
As ações não estruturais aplicam medidas relacionadas às políticas urbanas,
planejamento urbano, legislação, planejamento de defesa civil e educação. Essas
medidas têm custos mais baixos do que as estruturais e apresentam bons
resultados, especialmente na prevenção de acidentes.
As medidas estruturais e não estruturais apresentadas servem para gerir tanto
os riscos de deslizamentos quanto os de inundações. Na região de estudo não se
observa a aplicação dessas ações nas áreas de risco, especialmente nas áreas de
declividade acentuada e de encostas.
Observou-se que não existe uma política do governo local para diminuir os
riscos dessa ocupação e que a Defesa Civil atua pontualmente em locais como a Vila
Rabelo I e II e FERCAL em períodos de chuva quando aumenta o risco de
deslizamento.
A pesquisa de campo levantou os seguintes impactos ambientais e riscos
associados nessa área:
- Falta de saneamento básico, onde a captação do esgoto é feita por fossas e
sumidouros que fazem o tratamento parcial dos resíduos depositando-os diretamente
no solo; presença de esgoto a céu aberto, predispondo os moradores a risco de
contaminação do solo, subsolo/lençol freático, poluição dos corpos d’água e
141
atmosférica, e ao risco de doenças, especialmente a dengue, comum em época de
chuva;
- Abastecimento de água potável feita por bombeamento de poços tubulares e
cisternas, apresenta vários problemas, entre eles, o risco de contaminação do lençol
freático por fossas e sumidouros, falta de tratamento sistemático da água, diminuição
da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos devido ao grande número de
poços tubulares abertos na região;
- Grande produção de resíduos sólidos (lixo, entulho), de forma geral a coleta de
resíduos é feita internamente por funcionários dos condomínios que dispõem os
resíduos em containers a céu aberto para serem recolhidos posteriormente pela
BELACAP. É comum o lixo ser espalhado por animais, o que provoca mau cheiro.
Quanto ao entulho, verificou-se que a sua deposição é feita em terrenos baldios, em
leitos de rios, etc. devido à inexistência de área para esse fim;
- Desmatamento com a retirada da cobertura vegetal original para a demarcação de
lotes, abertura de ruas, exploração de cascalho, areia, argila, calcário em volta dos
condomínios e na área da FERCAL; introdução de espécies exóticas ao cerrado
consorciadas ao plantio de grama. Os impactos e os riscos associados ao
desmatamento podem ser vistos no Quadro 6;
- Falta de drenagem urbana, verificou-se que alguns condomínios de classe média
possuem drenagem interna de águas pluviais. Porém, devido à ausência de rede
externa de escoamento, as águas são drenadas para o entorno dos parcelamentos
provocando erosão, assoreamento dos cursos d’água, e, em alguns casos, a erosão
evolui para voçoroca como se verifica em todo o curso do córrego Paranoazinho;
- Impermeabilização do solo, provocada pelo desmatamento para abertura de ruas,
demarcação de lotes, pavimentação das ruas, extração de cascalho e areia
provocam a aceleração do processo erosivo e mudança no microclima dessas áreas.
Observou-se que os problemas identificados provocam uma cadeia de
alterações como: desmatamento, erosão, impermeabilização do solo, assoreamento
de rios, córregos, lagoas, etc.
A ocupação de um ambiente natural, no processo de urbanização geralmente
ocorre com a remoção da cobertura vegetal. O desmatamento, quando feito de forma
inadequada, resulta em vários impactos ambientais, tais como: modificações
climáticas, danos à flora e à fauna, descobrimento do solo, causando o incremento
da erosão, a remoção da camada fértil do solo, empobrecendo-o, o assoreamento
142
dos cursos d’água, o aumento do escoamento superficial da água e a redução da
infiltração, provocando o risco de inundações (MOTA 2004).
Para demonstrar a extensão do processo de degradação dos recursos
naturais apresenta-se o mapeamento multitemporal realizado pela UNESCO (2000).
Esse estudo revelou um processo de uso e ocupação do espaço geográfico em que,
de forma sistemática vão desaparecendo os espaços naturais e aparecendo áreas
urbanas e/ou espaços agrícolas diferentes dos que existiam anteriormente.
A UNESCO elaborou um quadro onde se pode verificar a dinâmica da
alteração da cobertura vegetal e do uso do solo no DF entre 1954 e 1998.
Esse trabalho da UNESCO concluiu que o adensamento da malha urbana e o
crescimento da ocupação agrícola, em conjunto, concorreram para as
transformações territoriais e para a redução da área de vegetação original do
cerrado. Pode-se verificar que os efeitos dessa ocupação se agravaram entre 1994 e
1998, período de maior pressão para a consolidação dos parcelamentos irregulares
como mostra o Quadro 11.
143
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
144
deslizamentos nas encostas foram ocupadas; observam-se a deposição irregular de
vários tipos de resíduos sólidos e líquidos que são fatores agravantes da poluição.
Constatou-se que essa ocupação gerou como consequência, graves impactos
ao meio natural e o surgimento de áreas de risco e de vulnerabilidade ambiental para
a população das áreas avaliadas.
A pesquisa revelou que existe relação direta entre o processo de uso e
ocupação do solo e a degradação ambiental identificados em Sobradinho e que os
efeitos socioambientais dessa ocupação são irreversíveis. O estudo não identificou
práticas e condutas de conservação do meio natural por parte do governo local, de
particulares ou instituições não governamentais.
A aplicação da metodologia da Avaliação dos Riscos Ambientais – ARA
possibilitou identificar as áreas de risco ambiental e identificar a população sujeita
aos riscos analisados.
E dessa forma, permitiu identificar, também, que o processo de uso e
ocupação dessas áreas de riscos demonstra como se estabelece a construção social
dos riscos ambientais na região. Percebidos especialmente, em comunidades de
baixa renda.
Observou-se que a necessidade de preservação de áreas às margens dos
ribeirões Sobradinho, Paranoazinho e Contagem é uma preocupação da legislação
ambiental demonstrada na criação de Áreas de Preservação Ambiental (APAs),
Parques Ecológicos, Reserva Biológica e Área de Preservação de Manancial.
A ocupação dessas áreas está comprometendo a qualidade e quantidade das
águas superficiais e subterrâneas de suma importância para o abastecimento da
população, e contribuem diretamente na alimentação das bacias do São Bartolomeu
e Maranhão.
As matas ciliares desses ribeirões são importantes porque atuam como
corredores ecológicos entre o Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho, o Parque
dos Jequitibás, Parque Recreativo de Sobradinho II, o Parque Canela-de-Ema e a
Reserva Biológica da Contagem.
Contudo, constatou-se que esses corredores ecológicos estão comprometidos
pela retirada da cobertura vegetal para implantação de condomínios, construção de
rodovias e vias públicas que seccionaram esses corredores, colocando em risco a
biodiversidade local.
145
Os diversos usos e ocupação do solo para habitação, comércio, implantação
de vias e rodovias urbanas, chácaras e condomínios em áreas de uso controlado,
mineração, oficinas, postos de combustíveis, lava-jatos, clubes de lazer, indústria, e
outros usos, trazem risco à população e aos cursos d’água por causa da presença de
atividades que potencialmente causam poluição e contaminação.
Por fim, o estudo concluiu que as áreas de riscos ambientais em Sobradinho
estão relacionadas à ocupação de áreas protegidas pela legislação ou áreas de uso
controlado onde se verifica que a variedade de usos e ocupação do solo provoca a
retirada da cobertura vegetal, principalmente de mata ciliar; a canalização de
nascentes, a abertura de poços e cisternas para abastecimento de água; abertura de
fossas e sumidouros para captação de esgoto; a deposição e irregular de resíduos
sólidos em terrenos baldios e nas margens de ribeirões.
Esses fatores provocam a perda da biodiversidade, causam o seccionamento
dos corredores ecológicos e a contaminação dos cursos d’água.
Diante disso, recomenda-se para a área em estudo:
• Promover o cercamento e a Instalação de infraestrutura nos parques
ecológicos para que possam cumprir os objetivos previstos em lei;
• Promover programas para a recuperação de áreas degradadas com a
implantação de plano de gestão para essas áreas;
• Reposição sistemática da cobertura vegetal nativa, especialmente o
reflorestamento de mata ciliar;
• Implantar programa de fiscalização sistemática para evitar a invasão em áreas
de uso controlado e de risco;
• Implantar projeto de revitalização da área das nascentes e do curso urbano do
ribeirão Sobradinho e o monitoramento da qualidade de suas águas;
• Fiscalizar e controlar a deposição irregular de resíduos sólidos. Diminuir os
depósitos clandestinos com a destinação de local para deposição;
• Fiscalizar e controlar o despejo de esgoto doméstico nos cursos d’água,
especialmente no ribeirão Sobradinho;
• Implantação de infraestrutura de saneamento básico em condomínios já
consolidados;
• Cumprimento da legislação no que se refere a desocupação de áreas
protegidas;
146
• Implementar políticas públicas que inibam o uso e a ocupação desordenada
do solo;
• Promoção de programas e projetos permanentes de educação ambiental, com
o objetivo de produzir conhecimento e informação para garantir o uso
adequado dos parques ecológicos, da reserva ecológica para diminuir os
riscos socioambientais nessas áreas;
• Fiscalizar com o intuito de compatibilizar as ações de proteção e de
preservação dos mananciais com a preservação ambiental.
147
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154
ANEXOS
155
faixa nunca inferior a 100 m (cem metros) em projeções horizontais;
__________
156
1.3 ANEXO B – INTEGRA DO ARTIGO 3° DA CONSTITUIÇÃO DE 1891,
ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DE
1934 E DO ARTIGO 4° DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1946
Art. 4°
A capital da União será transferida para o planalto central do País.
§ 1° - Promulgado este Ato, o Presidente da República, dentro em sessenta dias,
nomeará uma Comissão de técnios de reconhecido valor para proceder ao estudo da
localização da nova Capital.
§ 2°- O estudo previsto no parágrafo antecedente será encaminhado ao Concgresso
Nacional, que deliberará a respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o
início da delimitação da área a ser incorporada ao domínio da União.
§ 3° - Findos os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional resolverá sobre a
data da mudança da Capital.
157
1.4 ANEXO C - CARTA DE GLAZIOU TRANSCRITA NO RELATÓRIO DA
COMISSÃO QUE DEMARCOU A ÁREA DO DISTRITO FEDERAL
159
Quanto à minha opinião, formada desde já, é com a mais solida e franca
convicção que vos declaro que é perfeita a salubridade desta vasta planicie, que não
conheço no Brazil Central logar algum que se lhe possa comparar em bondade. A
esta qualidade primordial do Planalto convem acrescentar a abundancia dos
mananciais d’agua pura, dos rios cudalosos cujas aguas podem chegar facilmente às
extensas collinas que nas proximdiades se vão elevando com declives suavissimos
(1 a 5°). Nada pois deixa a desejar estes elementos indispensavel para o consumo
de uma grande cidade, ainda quanto ao mais remoto futturo: ahi tambem abundam
os materiaes de construcção. A topographia do terreno, tão uniforme, permitte o
emprego dos instrumentos aratorios mais aperfeiçoados; a flora riquissima, com um
cunho ou physionomia de todo particular pela uniformidade, caracter geral impresso
pela regularidade das condições climatologicas do ambiente que habita. A este
respeito, espero poder ministrar-vos amplas e interessantes indiccações de
geographia botanica quando concluidas as nossas observaçãoes e colheitas de
plantas na localidade.
Ao terminar esta resumida apreciação, não posso deixar de externar vos
quanto é para desejar a possibilidade de algum estadista vir aqui ajuizar de visu do
que vemos juntos e das vantagens que ao progresso industrial e social do paiz, que
tanto estremecemos, offerece o Planalto Central do Brazil.
Acceite o Illm. Sr. Dr. Cruls a homenagem dos meus respeitosos sentimentos
e sincera dedicação. _ A Glaziou.
160