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ANAMNESE - ROTEIRO DE ESTUDO DE CASO

FUNDAMENTADO NO ARTIGOROTINA DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL DE ARISTIDES VOLPATO


CORDIOLI, HELOISA HELENA ZIMMERMANN E FÉLIX KESSLER
1. DADOS DA IDENTIDADE DO PACIENTE
NOME PRONTUÁRIO

DATA
REÇO
ENDE

TELEFONES:

E-MAIL:

ACOMPANHANTE:

TELEFONES:

IDADE, SEXO ESTADO CIVIL SITUAÇÃO CONJUGAL NATURALIDADE

anos [ ]M [ ]F [ ]C[ ]S[ ]D


OCUPAÇÃO ESCOLARIDADE RENDA PESSOAL FAMILIAR

2. MOTIVO(S) DA PROCURA DO TRATAMENTO


O QUE ACONTECEU NA(S) ÚLTIMA(S) SEMANA(S) QUE DETERMINOU A PROCURA DO TRATAMENTO OU A INTERNAÇÃO
HOSPITALAR; HOUVE ALGUM EVENTO QUE PROVOCOU A CRISE OU O PROBLEMA; TRATAMENTOS JÁ REALIZADOS.

3 . HISTÓRIA DA DOENÇA OU DO PROBLEMA ATUAL


A. EPISÓDIO ATUAL
DESCRIÇÃO DETALHADA DOS SINTOMAS APRESENTADOS PELO PACIENTE NO ATUAL EPISÓDIO E SEU INÍCIO;
INTERFERÊNCIA NA VIDA DIÁRIA, NAS RELAÇÕES FAMILIARES, VIDA SOCIAL E AFETIVA, NO TRABALHO;

ALTERAÇÕES NAS FUNÇÕES FISIOLÓGICAS (SONO, ALIMENTAÇÃO E SEXUALIDADE).

ESTRESSORES (EVENTOS VITAIS, PROBLEMAS SITUACIONAIS) RELACIONADOS AO INÍCIO DO ATUAL EPISÓDIO.

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RESULTADOS DE EXAMES REALIZADOS.

B. EPISÓDIOS ANTERIORES
EPISÓDIOS ANTERIORES DA MESMA DOENÇA, IDADE DE INÍCIO DOS SINTOMAS E PERÍODOS DE AGRAVAMENTO;
ESTRESSORES, EVENTOS VITAIS OU SITUACIONAIS RELACIONADOS ÀS CRISES.

TRATAMENTOS JÁ REALIZADOS: PSICOFÁRMACOS (DOSES, TEMPO DE USO E RESPOSTA),

TRATAMENTOS PSICOTERÁPICOS, HOSPITALIZAÇÕES PSIQUIÁTRICAS ANTERIORES.

OUTROS PROBLEMAS EMOCIONAIS OU TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS.

C. ANTECEDENTES FAMILIARES:
PRESENÇA DO TRANSTORNO OU DA SÍNDROME EM FAMILIARES (GENETOGRAMA – ANEXO 2);

OUTRAS DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS EM FAMILIARES; CAUSAS DE MORTE (SE HOUVE).

4. COMORBIDADES
EIXO I: OUTROS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NO PRESENTE OU QUE SOFREU NO PASSADO
[ ] PSICOSES [ ] TRANSTORNOS DE ANSIEDADE [ ] THB [ ] TDAH [ ] DROGAS E ÁLCOOL [ ] TRANSTORNOS
ALIMENTARES [ ] DEPRESSÃO [ ] TENTATIVAS DE SUICÍDIO[ ] PROBLEMAS LEGAIS [ ] OUTROS:

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EIXO II: TRANSTORNOS OU TRAÇOS DE PERSONALIDADE E RETARDO MENTAL
PADRÕES PERSISTENTES NO MODO DE PERCEBER, RELACIONAR-SE E PENSAR SOBRE O AMBIENTE E SOBRE SI MESMO
EXIBIDOS EM UMA AMPLA FAIXA DE CONTEXTOS SOCIAIS E PESSOAIS DESADAPTATIVOS, CAUSANDO PREJUÍZO FUNCIONAL
OU SOFRIMENTO SUBJETIVO SIGNIFICATIVO (DSM IV).

NÍVEL INTELECTUAL

EIXO III: PROBLEMAS MÉDICOS: DOENÇAS FÍSICAS NO PRESENTE E NO PASSADO


[ ] DIABETE [ ] HAS [ ] HIPERTIREODISMO [ ] HIPOTIREODISMO [ ] PROBLEMAS CARDIO-CIRCULATÓRIOS
[ ] PROBLEMAS NEUROLÓGICOS [ ] PROBLEMAS ALÉRGICOS [ ] CIRURGIAS JÁ REALIZADAS:

[ ] OUTROS:

MEDICAÇÕES EM USO

CUIDADOS COM A SAÚDE: [ ] TABAGISMO, [ ] PREVENÇÃO DE CÂNCER, [ ] HIV E [ ] PROBLEMAS


CARDIOCIRCULATÓRIOS

COMPORTAMENTOS DE RISCO:

BREVE REVISÃO DOS SISTEMAS.

5 . HISTÓRIA PESSOAL E SOCIAL


A. FAMÍLIA DE ORIGEM:
DESCRIÇÃO SUCINTA DOS PAIS, SUA OCUPAÇÃO, TRAÇOS CARACTEROLÓGICOS MAIS MARCANTES, A IMAGEM
PREDOMINANTE

PADRÃO PREDOMINANTE DE RELACIONAMENTO COM CADA UM DOS PAIS, TIPO DE VÍNCULO NO PASSADO E NO PRESENTE,
POSSÍVEIS INFLUENCIAS AMBIENTAIS EM TRAÇOS CARACTEROLÓGICOS, VULNERABILIDADES OU SINTOMAS.

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NÚMERO DE IRMÃOS E A ORDEM DE NASCIMENTOS.

AMBIENTE FAMILIAR, VALORES ÉTNICOS E CULTURAIS, O FUNCIONAMENTO FAMILIAR, AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS.

PRESENÇA DE CRISES FAMILIARES OU DE ESTRESSORES, ESPECIALMENTE NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA (PERDAS,
SEPARAÇÃO, ABUSO FÍSICO, MORAL, SEXUAL).

B. DADOS EVOLUTIVOS
BREVE RESUMO DOS ASPECTOS EVOLUTIVOS RELEVANTES INCLUINDO O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR, VIDA ESCOLAR E
RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS, SEXUALIDADE, CAPACIDADE DE INTIMIDADE E DE ENVOLVIMENTO AFETIVO.

HISTÓRIA OCUPACIONAL E PROFISSIONAL.

PERSONALIDADE PRÉVIA: TRAÇOS CARACTEROLÓGICOS MAIS MARCANTES E ANORMALIDADES.

C. VIDA FAMILIAR ATUAL:


FAMÍLIA ATUAL, COMPANHEIRO(A), FILHOS. AMBIENTE FAMILIAR, QUALIDADE DO RELACIONAMENTO (AFETIVO, SEXUAL),
CRISES, PROBLEMAS SÓCIOECONÔMICOS.

D. VIDA SOCIAL E LAZER:


LAZER, AMIZADES, HOBIES, RELIGIÃO, VIDA SOCIAL.

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6. EXAME DO ESTADO MENTAL
A. ASPECTOS DO PACIENTE NA ENTREVISTA
APARÊNCIA
CABELO: BARBA: FISIONOMIA: CONTATO VISUAL: HIGIENE PESSOAL
ROUPAS: [ ] ALINHADAS OU [ ] EM DESALINHO, [ ] ADEQUADAS OU [ ] NÃO PARA A ESTAÇÃO DO ANO
COMPORTAMENTO NA ENTREVISTA: [ ] QUIETO [ ] AGITADO
FORMA DE SE EXPRESSAR CONTATO COM O ENTREVISTADOR
HUMOR OU AFETO PREDOMINANTE NA ENTREVISTA:
MODULAÇÃO AFETIVA: PENSAMENTO (LÓGICO OU DESAGREGADO, RÁPIDO OU LENTO),
SENTIMENTOS DESPERTADOS NO
MODULAÇÃO AFETIVA,PENSAMENTO [ ] LÓGICO OU [ ] DESAGREGADO [ ] RÁPIDO OU [ ] LENTO, SENTIMENTOS
DESPERTADOS NO ENTREVISTADOR:

7. FUNÇÕES PSÍQUICAS
LISTAGEM DOS SINTOMAS APRESENTADOS OU RELATADOS PELO PACIENTE, PELOS FAMILIARES, ENFERMAGEM OU
PERCEBIDOS PELO MÉDICO NA ENTREVISTA, DE ACORDO COM AS
FUNÇÕES PSÍQUICAS:
CONSCIÊNCIA
ATENÇÃO
SENSOPERCEPÇÃO
ORIENTAÇÃO
MEMÓRIA
INTELIGÊNCIA
AFETIVIDADE
PENSAMENTO
LINGUAGEM
CONDUTA
JUÍZO CRÍTICO OU INSIGHT: [ ] PRESERVADO OU [ ] NÃO PRESERVADO.
FUNÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS:
SONO
ALIMENTAÇÃO
SEXUALIDADE

8. EXAMES COMPLEMENTARES:
EXAME FÍSICO

NEUROLÓGICO

EXAMES LABORATORIAIS

EXAME DE IMAGEM

OUTROS EXAMES

TESTES PSICOLÓGICOS

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9 . DIAGNÓSTICO(S) MULTIAXIAL - DSM IV TR OU CID 10 - E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS.
LISTAR OS DIAGNÓSTICOS DE ACORDO COM O SISTEMA MULTIAXIAL:

EIXO I - TRANSTORNOS CLÍNICOS: DIAGNÓSTICO PRINCIPAL E COMORBIDADES DE EIXO I

GRAU DE CERTEZA: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3
EIXO II - TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE E RETARDO MENTAL

GRAU DE CERTEZA: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3
EIXO III - CONDIÇÕES MÉDICAS GERAIS

GRAU DE CERTEZA: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3
EIXO IV - PROBLEMAS PSICOSSOCIAIS E AMBIENTAIS

1. Problemas com o grupo de apoio primário - morte, separações, novo casamento de


mãe/pai, abuso sexual ou físico, super-proteção, negligência, disciplina inadequada,
discórdia com irmão, nascimento de irmão.
2. Problemas relacionados ao ambiente social - perda de um amigo, morar sozinho,
dificuldades com aculturação, discriminação, adaptação à transição no ciclo vital
(aposentadoria por exemplo).
3. Problemas educacionais - analfabetismo, repetência, discórdia com professores e
colegas, ambiente escolar inadequado.
4. Problemas ocupacionais - desemprego, ameaça de perda de emprego, programa de
trabalho estressante, más condições de trabalho, mudanças no emprego etc.
5. Problemas de moradia - falta de moradia, moradia inadequada, problemas com a
vizinhança.
6. Problemas econômicos - miséria, apoio social inadequado.
7. Problemas com o acesso aos serviços de cuidado à saúde - inadequação dos serviços,
transporte inadequado.
8. Problemas relacionados à interação com o sistema legal/criminal - detenção,
processo, vítima de crime.
9. Outros problemas - exposição a desastres, guerras e outras hostilidades.

GRAU DE CERTEZA: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3
EIXO V - AVALIAÇÃO GLOBAL DO FUNCIONAMENTO (ESCALA AGF)

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GRAU DE CERTEZA: [ ]1 [ ]2 [ ]3

9. DISCUSSÃO DIAGNÓSTICA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:


RAZÕES PELAS QUAIS O ENTREVISTADOR OPTA POR UMA DETERMINADA CATEGORIA DIAGNÓSTICA COMO DIAGNÓSTICO
PRINCIPAL (DADOS DA ANAMNESE E EXAMES COMPLEMENTARES, PREENCHIMENTO DE CRITÉRIOS PARA UMA OU MAIS
CATEGORIAS DIAGNÓSTICAS PELO CID X OU DSM IV), E RAZÕES PELAS QUAIS OUTRAS CATEGORIAS SÃO EXCLUÍDAS.

10. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ETIOLOGIA: MODELOS ETIOLÓGICOS


A PARTIR DAS EVIDÊNCIAS COLHIDAS NA ANAMNESE E EXAMES COMPLEMENTARES FAZER UMA BREVE DISCUSSÃO QUANTO
AOS DIFERENTES FATORES QUE POSSAM TER CONTRIBUÍDO PARA O SURGIMENTO E A MANUTENÇÃO DOS SINTOMAS.
A. FATORES PSICODINÂMICOS
EVIDÊNCIA DA INFLUÊNCIA DE FATORES DE NATUREZA PSICODINÂMICA NA VIDA (AFETIVA, PROFISSIONAL) ATUAL:
CONFLITOS NA HISTÓRIA DO PACIENTE (PADRÕES DE RELACIONAMENTO DESADAPTATIVOS COM FIGURAS RELEVANTES DO
PASSADO);

FORMAS DESADAPTATIVAS DE LIDAR COM IMPULSOS AGRESSIVOS, AMOROSOS, SEXUAIS;

DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA, INDIVIDUAÇÃO, INTERNALIZAÇÃO DE NORMAS OU IDEAIS DE EGO,


PADRÕES DESADAPTATIVOS DE IDENTIFICAÇÃO;

USO DE MECANISMOS DE DEFESA PREDOMINANTEMENTE IMATUROS [ ] DISSOCIAÇÃO [ ] IDEALIZAÇÃO [ ]


DESVALORIÇÃO [ ] PROJEÇÃO [ ] ATUAÇÃO) OU PSICÓTICOS [ ] NEGAÇÃO OU DISTORÇÃO DA
REALIDADE

AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS SADIOS DA PERSONALIDADE: RECURSOS DO EGO, DEFESAS MADURAS.

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B. FATORES COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS
PRESENÇA DE DISTORÇÕES COGNITIVAS, DE PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS E CRENÇAS DISFUNCIONAIS SOBRE
A FORMA DE PERCEBER A SI MESMO, AS PESSOAS E A REALIDADE À SUA VOLTA OU O FUTURO.

USO DE MECANISMOS REFORÇADORES DE SINTOMAS (ESQUIVA, TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO, ESTRATÉGIAS


COMPENSATÓRIAS DESADAPTATIVAS).

C. FATORES SOCIAIS E AMBIENTAIS:


EVIDÊNCIAS DE QUE FATORES SOCIAIS (EDUCAÇÃO, CULTURA) OU AMBIENTAIS (PERDAS, ESTRESSORES, TRAUMAS,
ABUSO) POSSAM TER TIDO NA GÊNESE E CONTINUAM DESEMPENHANDO ALGUM PAPEL NA MANUTENÇÃO DOS SINTOMAS.

D. VULNERABILIDADE BIOLÓGICA:
EVIDÊNCIAS DE QUE FATORES DE ORDEM BIOLÓGICA POSSAM CONTRIBUIR PARA APARECIMENTO DOS SINTOMAS (FATORES
GENÉTICOS, INCIDÊNCIA DO TRANSTORNO EM FAMILIARES, RESPOSTA AOS MEDICAMENTOS, ALTERAÇÕES
CEREBRAIS,ETC.).

11. PLANO DE TRATAMENTO:


PARA O TIPO DE DIAGNÓSTICO APRESENTADO PELO PACIENTE QUAL O TRATAMENTO (OU COMBINAÇÃO DE TRATAMENTOS)
MAIS APROPRIADO:
PSICOFÁRMACOS: [ ]NÃO INDICADO [ ]INDICADO – MEDICAÇÃO INDICADA:

CONDIÇÕES PESSOAIS DO PACIENTE AO USO DE PSICOFÁRMACOS (EVENTUAIS CONTRA-INDICAÇÕES):

PSICOTERAPIA MAIS APROPRIADA: [ ]PSICODINÂMICA, [ ]COGNITIVO-COMPORTAMENTAL, [ ]APOIO, [ ]


TERAPIA OCUPACIONAL E PSICO-SOCIAL, [ ]TERAPIA FAMILIAR [ ]OUTRA:

PSICOEDUCAÇÂO E MANEJO DA FAMÍLIA:

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Anexo –
ROTINA DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL
Aristides Volpato Cordioli, Heloisa Helena Zimmermann e Félix Kessler
INTRODUÇÃO
O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alteraões do
funcionamento mental, durante a entrevista psiquiátrica. As informações são obtidas através
da observação direta da aparência do paciente, da anamnese, bem como do relato de
familiares e outros informantes como atendentes, amigos, colegas ou até mesmo autoridades
policiais.
O exame do estado mental não deve ser realizado apenas pelos psiquiatras, mas deve fazer
parte do exame clínico do paciente, independente da sua morbidade. É essencial não só para o
diagnóstico de possíveis transtornos psiquiátricos, como pode também oferecer indícios
importantes de transtornos neurológicos, metabólicos, intoxicações ou de efeitos de drogas.
Para fins didáticos e de forma arbitrária, divide-se o funcionamento mental em funções na
seguinte ordem: Consciência, Atenção, Sensopercepção, Orientação, Memória, Inteligência,
Afetividade, Pensamento, Juízo Crítico, Conduta e Linguagem.
Além da facilidade mnemônica (CASOMI APeJuCoL), esta ordenação proporciona maior
facilidade no diagnóstico de síndromes específicas através da observação de grupos de
funções alteradas.
O primeiro grupo, CASOMI, destaca as Síndromes Cerebrais Orgânicas, por exemplo, nos
estados de delirium estão alteradas as primeiras quatro funções: Consciência, Atenção,
Sensopercepção e Orientação; e nos casos de Demência, a Memória e a Inteligência.
O segundo grupo (APeJuCoL), por sua vez, altera-se nas Síndromes Psicóticas e nos
Transtornos do Humor.
Esta revisão pretende explicar de forma clara e sucinta cada uma das funções mentais,
conceituando-as, descrevendo a forma como avaliá-las bem como suas alterações. Também
serão destacados os transtornos nos quais as funções mentais quais estão alteradas com mais
freqüência.
1 - ASPECTOS DO PACIENTE NA ENTREVISTA INICIAL
Inicia-se com uma descrição sumária sobre o local onde se realiza a entrevista (hospital, posto
de saúde, consultório particular). Em seguida, descreve-se o motivo pelo qual está sendo
realizada (avaliação para internação hospitalar ou tratamento ambulatorial, diagnóstico,
consultoria), seguindo-se de impressões sobre o paciente registradas pelo entrevistador:
1.1-APARÊNCIA:
Deve-se observar o modo do paciente de andar, sua postura, roupas, adornos e maquiagem
utilizados, sua higiene pessoal, cabelos alinhados ou em desalinho, atitude (amigável ou
hostil), humor ou afeto predominante, modulação afetiva, sinais ou deformidades físicas
importantes, idade aparente, as expressões faciais e o contato visual. O ideal é que seja feita
uma descrição precisa, de maneira que o leitor possa visualizar a aparência física do paciente
no momento do exame. Uma postura encurvada pode sugerir afeto triste, assim como desleixo
no modo de vestir-se. Já o uso de roupas estravagantes e o excesso de adornos fazem pensar
em mania ou características histéricas de personalidade. Uma pessoa com uma doença crônica
ou com um grande sofrimento (por exemplo: depressão) pode aparentar uma idade maior do
que a real, enquanto que pacientes hipomaníacos, histriônicos ou hebefrênicos podem parecer
mais jovens. Pouco contato de olhar pode indicar vergonha, ansiedade ou dificuldade de
relacionamento. É útil a comparação das características de aparência do paciente com os
indivíduos de mesma idade, profissão e condição socioeconômico, assim como a obtenção de
informações com familiares a respeito de mudanças em relação a aparência anterior da
pessoa.
1.2-ATIVIDADE PSICOMOTORA E COMPORTAMENTO:
A atividade psicomotora refere-se a maneira como a atividade física se relaciona com o
funcionamento psicológico, considerando os aspectos quantitativos e qualitativos do
comportamento motor do paciente. Um paciente em agitação psicomotora caminha

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constantemente, não consegue ficar quieto e freqüentemente apresenta pressão para falar e
ansiedade. Outros sintomas comuns são rabiscar, balançar pés ou pernas, cruzar e descruzar
freqüentemente as pernas, roer unhas, ficar enrolando o cabelo, etc, em padrão acelerado. O
retardo psicomotor é caracterizado por uma lentificação geral dos movimentos, da fala e do
curso do pensamento, usualmente acompanhado de humor deprimido. Também ocorrem:
respostas monossilábicas, aumento na latência das respostas, manutenção da mesma posição
por longo tempo, pouca gesticulação, expressão facial triste ou inexpressiva. A atividade
psicomotora pode ser normal, retardada ou acelerada, assim como podem ocorrer sintomas
catatônicos ou de agitação. Consideram-se, ainda, outras formas de distúrbios específicos (que
ocorrem em estados psicóticos), como movimentos estereotipados, maneirismos, negativismo
(fazer o oposto do que está sendo requisitado), ecopraxia (imitar os movimentos de outra
pessoa) e flexibilidade cérea (manter certa posição desagradável por horas apesar do aparente
desconforto). É interessante que se descreva o tipo de atividade que o paciente apresentou
durante a entrevista ao invés de apenas classificá-lo, por exemplo, "o paciente permaneceu
imóvel durante toda a sessão" informa melhor do que apenas "o paciente apresenta grave
retardo psicomotor".
1.3-ATITUDE FRENTE AO EXAMINADOR:
Freqüentemente os pacientes são inicialmente reservados, limitando-se a responder as
perguntas do examinador. Alguns são mais abertos, fornecendo mais dados e informações
ricas a partir de menos perguntas. Outros são reticentes, fechados e até desconfiados, por
vergonha, falta de vontade ou medo de contar suas experiências pessoais. Também podem ser
hostis, numa tentativa de envergonhar ou humilhar o examinador; bajuladores, para agradar
o entrevistador; ou sedutores. Ainda, podem ser ambivalentes, ou seja, apresentarem
simultaneamente emoções aparentemente incompatíveis, positivas e negativas, em relação ao
médico. Assim, a atitude frente ao examinador pode ser amigável, cooperativa, irônica, hostil,
defensiva, sedutora ou ambivalente. Aqui também é interessante que, além de classificar a
atitude do paciente frente ao examinador, se realize uma descrição sumária da parte do relato
do paciente que fez o médico pensar em tal atitude (dar um exemplo).
1.4-COMUNICAÇÃO COM O EXAMINADOR (atividade verbal):
Devem ser descritas as características da fala do paciente, em termos de quantidade,
velocidade e qualidade de produção. Dessa forma, o tipo de comunicação pode ser descrito
como normalmente responsivo, loquaz, taciturno, prolixo, volúvel, não espontâneo. A
verbalização pode ser rápida, lenta, tensa, hesitante, emotiva, monótona, forte, sussurrada,
indistinta.
Também podem ser incluídos aqui defeitos da fala, como gagueira e tiques vocais, como
ecolalia.
1.5-SENTIMENTOS DESPERTADOS:
O entrevistador deve relatar a impressão emocional geral transmitida pelo paciente, ou seja,
os sentimentos despertados em sua pessoa pelo paciente.
Geralmente são sentimentos de tristeza, pena, irritação, desejo de ajudar. Tais dados podem
ser uma importante pista para a psicopatologia subjacente.
Destaca-se, ainda, que este item é intimamente relacionado com a aparência do paciente.
2 - FUNÇÕES MENTAIS
2.1-CONSCIÊNCIA
a-Conceito:
É o estado de lucidez ou de alerta em que a pessoa se encontra, variando da vigília até o
coma. É o reconhecimento da realidade externa ou de si mesmo em determinado momento, e
a capacidade de responder aos seus estímulos. Não se deve confundir com o sentido "moral"
da palavra (superego), que envolve o julgamento de valores; nem com o conceito
psicodinâmico (consciente e inconsciente); nem com o sentido de autocrítica.
b- Avaliação:
Observar as reações do paciente frente aos estímulos, se sua reação é rápida ou lenta; se se
mostra sonolento ou não. No caso de lucidez, percebe-se através da própria conversa com o
paciente, porém, se houver alguma alteração devem-se utilizar estímulos verbais e/ou táteis.
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Na clínica geral usa-se também a escala de Glasgow, a qual avalia alterações no nível de
consciência usando basicamente os parâmetros de: abertura ocular, resposta verbal e resposta
motora a estímulos.
c- Alterações:
 Obnubilação/sonolência: está alterada a capacidade de pensar claramente, para
perceber, responder e recordar os estímulos comuns, com a rapidez habitual. O
paciente tende a cair em sono quando não estimulado. Às vezes é necessário falar alto
ou tocá-lo para que compreenda uma pergunta.
 Confusão: caracterizada por um embotamento do sensório, dificuldade de
compreensão, atordoamento e perplexidade, juntamente com desorientação, distúrbios
das funções associativas e pobreza ideativa. O paciente demora a responder aos
estímulos e tem diminuição do interesse no ambiente. A face de um doente confuso
apresenta uma expressão ansiosa, enigmática e às vezes de surpresa. É um grau mais
acentuado que a obnubilação.
 Estupor: estado caracterizado pela ausência ou profunda diminuição de movimentos
espontâneos, mutismo. O paciente somente responde a estímulos vigorosos, após os
quais retorna ao estupor.
 Coma: há abolição completa da consciência; o paciente não responde mesmo aos
estímulos externos (dolorosos), ou internos (fome, frio, necessidades fisiológicas,
outros).
 Hiperalerta: estado no qual o paciente encontra-se ansioso, com hiperatividade
autonômica e respostas aumentadas aos estímulos. Pode ocorrer em conseqüência ao
uso de drogas (anfetaminas, cocaína), abstinência (benzodiazepínicos), ou no stress
pós-traumático.
d-Transtornos mais comuns:
A obnubilação ocorre freqüentemente em pacientes que sofrem traumatismos cranianos ou
processos infecciosos agudos. Pode, ainda, ser efeito colateral de álcool ou drogas. A confusão
ocorre na fase aguda de algumas doenças mentais, nas doenças associadas a fatores tóxicos,
infecciosos ou traumáticos, na epilepsia, e em situações de grande estresse emocional.
Observa-se o estupor na esquizofrenia (catatônico), em intoxicações, doenças orgânicas,
depressão profunda, reações epilépticas e histéricas.
2.2-ATENÇÃO:
a- Conceito: A atenção é uma dimensão da consciência que designa a capacidade para
manter o foco em uma atividade. Designa, ainda, o esforço voluntário para selecionar certos
aspectos de um fato, experiência do mundo interno (p.e. memórias), ou externo, fazendo com
que a atividade mental se volte para eles em detrimento dos demais.
b- Avaliação: Vigilância: designa a capacidade de voltar o foco da atenção para os estímulos
externos. Pode estar: aumentada - hipervigil - podendo haver, neste caso, um prejuízo da
atenção para outros estímulos; ou diminuída -hipovigil - quando o paciente torna-se desatento
em relação ao meio. A melhor forma de avaliar a atenção é através da observação durante a
entrevista.
 Tenacidade: capacidade de manutenção da atenção ou de uma tarefa específica. Deve-
se observar a capacidade de prestar a atenção às perguntas durante a entrevista, sem
estar constantemente distraíndo-se. Pode-se pedir ao paciente para bater na mesa toda
vez que se diga a letra A, entre uma série de letras aleatórias como
K,D,A,M,X,T,A,F,O,K,L,E,N,A,... Grava-se o tempo e o número de erros.
 Concentração: é a capacidade de manter a atenção voluntária em processos internos do
pensamento ou em alguma atividade mental. O teste formal para a avaliação da
concentração é o da subtração consecutiva do número 7 a partir do número 100. Para
pacientes com défcit cognitivo ou QI abaixo de 80 utiliza-se uma série de 3 números a
partir de 20. Se o paciente já realizou o teste muitas vezes, altera-se os números para
101 ou 21, para evitar que tenham sido decorados.
c-Alterações: Desatenção: incapacidade de voltar o foco para um determinado estímulo.
Distração: incapacidade de manter o foco da atenção em determinado estímulo.

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d-Transtornos mais comuns:A desatenção ocorre em depressões, demências, delirium,
efeito adverso de medicamentos, Transtornos de Déficit de Atenção. A distração ocorre em
depressões, mania, retardo mental, etc. São comuns os estados: hipo ou hipervigil e hipo ou
hipertenaz.
2.3-SENSOPERCEPÇÃO:
a- Conceito: Designa a capacidade de perceber e interpretar os estímulos que se apresentam
aos órgãos dos sentidos. Os estímulos podem ser: auditivos, visuais, olfativos, táteis e
gustativos.
b- Avaliação: A sensopercepção é investigada através da entrevista com o paciente.
c- Alterações:
 Ilusões: ocorrem quando os estímulos sensoriais reais são confundidos ou interpretados
erroneamente; geralmente ocorrem quando há redução de estímulos ou do nível de
consciência (delirium); por exemplo, um cinto é percebido como uma cobra, miragens
no deserto (enxerga-se água nas dunas).
 Dismegalopsias: são ilusões nas quais os objetos ou pessoas tomam tamanho e/ou
distâncias irreais; nas macropsias os objetos parecem mais próximos e maiores; nas
micropsias, parecem menores e mais distantes. Ocorrem em descolamento de retina,
distúrbios de acomodação visual, lesão temporal posterior e intoxicações por drogas.
 Alucinações: ocorre a percepção sensorial na ausência de estímulo externo. Tipos de
alucinações:
o Visuais: As alucinações visuais são mais características de transtornos mentais
orgânicos, especialmente em estados de delírium e podem ser amedrontadoras.
Podem também ocorrer no luto normal (visão da pessoa falecida), em
depressões psicóticas (ver-se dentro de um caixão).
o Hipnagógicas: ocorrem imediatamente antes de dormir e sua ocorrência, quando
ocasional, é normal, porém, experiências repetidas representam invasões do
sono REM na consciência;
o Hipnopômpicas: precedem o acordar, geralmente nos estados semicomatosos.
o Auditivas: (as mais comuns) são classificadas tanto como elementares (ruídos)
ou complexas (vozes ou palavras). São comumente relatadas por pacientes
psicóticos (transtorno afetivo bipolar (TAB), esquizofrenia), mas também
ocorrem nas Síndromes Cerebrais Orgânicas (SCO). Alguns pacientes, nos
estágios iniciais de surtos psicóticos ouvem seus próprios pensamentos falando
em voz alta ("echo de la pensée"). Mais adiante as vozes perdem o contato com
a pessoa, parecendo vir de fora, fazendo comentários sobre o comportamento
do paciente ou discutindo sobre ele na terceira pessoa. As alucinações auditivas
podem ser congruentes com o humor como por exemplo: "mate-se", para um
paciente depressivo, ou incongruentes com o humor (Schneiderianas).
o Táteis: são geralmente referidas como picadas de insetos na pele
(formigamentos) e ocorrem na intoxicação por cocaína, por anfetaminas, em
psicoses e delirium tremens devido à abstinência do álcool. Pacientes
esquizofrênicos podem apresentar sensações estranhas: orgasmos produzidos
por objetos ou seres invisíveis. Devem ser distinguidas do aumento da
sensibilidade (hiperestesia) e da sua diminuição (hipoestesia). Podem ocorrer
em doenças de nervos periféricos e na histeria.
o Vestibulares: alucinações relacionadas com o equilíbrio e localização do indivíduo
no espaço. Ex: sensação de estar voando, comumente vistas em situações
orgânicas, como o delirium tremens e psicoses pelo uso de alucinógenos.
o Olfativas: exemplo: se uma mulher possui baixa auto-estima, pode preocupar-se
com o odor vaginal e interpretar que outras pessoas estão percebendo seu mau
cheiro. Em crises parciais complexas, de origem no lobo temporal, alucinações
olfativas de tinta ou borracha podem representar auras.
o De presença: sensação de presença de outra pessoa ou ser vivo que permanece
invisível. Nas alucinações extra campinas o indivíduo vê objetos fora do campo

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sensorial (atrás de sua cabeça), enquanto que na autoscopia, o paciente
visualiza ele próprio projetado no espaço.
o Somáticas: experiências sensoriais irreais envolvendo o corpo do paciente ou
seus órgãos internos (sentir o fígado apodrecido).
Tipos específicos de alucinações:
 Cinestesias: escutar cores, cheirar músicas;
 Pseudoalucinações: são reconhecidas, percebidas como irreais;
 Despersonalização: esquisita impressão de que o corpo está mudando, perda da
identidade corporal, com sensação de estranheza em relação a ele;
 Desrealização: sensação de que o ambiente está mudando ou mudou, parece irreal,
como se fosse um filme, é comum em esquizofrênicos.
d-Transtornos mais comuns: transtornos psicóticos (principalmente esquizofrenia) e
Síndromes Cerebrais Orgânicas.
2.4-ORIENTAÇÃO:
a- Conceito: Capacidade do indivíduo de situar-se no tempo, espaço ou situação e reconhecer
sua própria pessoa.
b-avaliação:
Tempo: pode-se perguntar ao paciente qual é a hora aproximada, dia da semana, do mês,
mês, ano, estação e há quanto tempo ele está no hospital.
Espaço: o paciente deve ser capaz de descrever o local onde se encontra (consultório, nome
do hospital), o endereço aproximado, a cidade, o estado, o país, sabendo também quem são
as pessoas à sua volta.
A própria pessoa: deve-se perguntar dados sobre o paciente, como nome, data de nascimento,
profissão e o que faz no hospital. Estas informações devem ser conferidas através de uma
fonte confiável, como um familiar hígido.
Demais pessoas: deve ser capaz de identificar seus familiares, amigos próximos e pessoal que
o atende (médicos, enfermeiras, auxiliares, etc.).
c-Alterações:
Quando um paciente fica desorientado, após um quadro de delirium, por exemplo, a primeira
noção de orientação perdida é em relação ao tempo, depois espaço e por último (e raramente)
em relação a si próprio. A recuperação se dá de maneira inversa: inicialmente o paciente
orienta-se em relação à própria pessoa, posteriormente em relação ao espaço e por fim ao
tempo.
Desorientação: pode ser influenciada por alterações na atenção e consciência.
d-Transtornos mais comuns:
Síndromes Cerebrais Orgânicas, psicoses afetivas, esquizofrenia. Pacientes com transtornos
psicóticos (por exemplo: TAB ou esquizofrenia) não são tipicamente desorientados, embora,
pela apatia, eles possam ter falhas no desempenho das rotinas diárias. Já o paciente que sofre
de alguma doença orgânica, caracteristicamente está desorientado. Na Síndrome Cerebral
Orgânica os pacientes freqüentemente mostram flutuação na orientação conforme a hora do
dia (piora à noite), podendo ocorrer total desorientação com o aumento da gravidade.
Nos Transtornos Dissociativos (fuga) ocorre uma amnésia psicogênica, de maneira que o
indivíduo não sabe o seu nome, ou outros dados de identificação ou a identidade das pessoas
de seu ambiente, nem o local de onde é proveniente ou reside.
2.5-MEMÓRIA:
a-Conceito:
É a capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos, pessoas e
experiências passadas ou estímulos sensoriais. São fixados na memória fatos ou situações que
quando ocorreram provocaram emoções associadas: prazer, medo, etc, ou que foram
significativas para a pessoa. Ao ser evocada, a lembrança pode trazer a emoção a ela
associada. A memória fotográfica ou automática é a mais fiel, que reproduz exatamente o
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registro dos fatos, mesmo que a pessoa não os tenha compreendido. A memória lógica recorda
o significado essencial das experiências, sem sua reprodução fiel. As memórias auditiva e
visual ocorrem conforme a maior facilidade em reter o que se vê ou se ouve. A memória é
ainda dividida em memória declarativa ou verbal (de fatos, eventos, nomes de pessoas) ou
procedural: de habilidades ou procedimentos. A primeira é acessível à consciência ao contrário
da segunda que não éexpressa em palavras e é inconsciente, ou implícita.
Funcionalmente as áreas encefálicas responsáveis pela memória podem ser divididas em: área
de registro (córtex cerebral), área de consolidação ou retenção (hipocampo), área de
armazenamento (lobo temporal) e área de recuperação(dorso medial do tálamo).
Para fins de avaliação divide-se a memória em: sensorial, que recebe a informação dos
órgãos dos sentidos e a retém por breve período de tempo (0,5 segundos); imediata,
responsável pelo registro de informações ouvidas nos últimos 15 a 20 segundos; recente,
que divide-se em de curto prazo (5-10min) e de longo prazo (mais de 30 min); e remota, que
é a responsável pela retenção permanente de informação selecionada. Esta seleção da
memória remota é feita em função do significado emocional e é mais facilmente evocada
quando a pessoa está em situação semelhante à ocasião inicial.
b-Avaliação:
Memória imediata: pode-se pedir ao paciente para repetir uma seqüência de números com 3,
4, 5, 6 e 7 algarismos, ou mencionar 3 objetos não relacionados, como "pente, rua e azul" do
"MiniMentalState Examination" (MMSE), e pedir para repetir imediatamente; pode-se fazer o
"Span de Palavras".
Memória recente (passado recente):
a) de curto prazo: pode-se solicitar ao paciente que guarde três palavras ("pente, rua e azul"
do MMSE) e que as repita 5 minutos após;
b) de longo prazo: indaga-se ao paciente sobre o que comeu no café da manhã ou na janta na
véspera, ou o que fez no último fim-de-semana. Pode-se usar o teste Memória remota
(passado remoto): solicita-se que o paciente fale de eventos importantes com a respectiva
data no passado (nascimento, aniversário, casamento, nascimento dos filhos, onde cresceu,
estudou, últimos 3 presidentes).
c-Alterações e Transtornos mais comuns:
Amnésia: incapacidade parcial ou total de evocar experiências passadas.
Amnésia imediata: geralmente existe um comprometimento cerebral agudo.
Amnésia anterógrada: o paciente esquece tudo o que ocorreu após um fato ou acidente
importante. Ex: traumatismo craniano, distúrbio dissociativo (histeria).
Amnésia retrógrada: esquecimento de situações ocorridas anteriormente a um trauma, doença
ou fato importante.
Amnésia lacunar: esquecimento dos fatos ocorridos entre duas datas. Por exemplo: não se
lembra o que fez no ano de 1995, o ano da sua separação. Eventualmente, o paciente pode
preencher estas lacunas com inverdades ou situações não ocorridas, sem dar-se conta. A isto
se dá o nome de confabulação, freqüente em pacientes com Demência.
Amnésia remota: esquecimento de fatos ocorridos no passado.
Pacientes idosos com algum grau de demência.
Classificação das Amnésias:
1. pela extensão: parciais: esquecimento de um nome, um local, uma língua; -total: perda
total das lembranças;
2. pelo mecanismo: de fixação: por falta de reações lógicas, referenciais cronológicos e
memorização; de evocação ou psicógena: por inibição emocional da evocação;
-conservação: por extinção definitiva das lembranças antigas demais;
3. paramnésias: déjà vu: sensação de familiaridade com uma percepção efetivamente
nova; jamais vu: sensação de estranheza em relação a uma situação familiar.
4. hipermnésia: capacidade aumentada de registrar e evocar os fatos.

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2.6-INTELIGÊNCIA:
a- Conceito:
Capacidade de uma pessoa de assimilar conhecimentos factuais, compreender as relações
entre eles e integrá-los aos conhecimentos já adquiridos anteriormente; de raciocinar
logicamente e de forma abstrata manipulando conceitos, números ou palavras. Capacidade de
resolver situações novas com rapidez e com êxito mediante a realização de tarefas que
envolvam a apreensão de relações abstratas entre fatos, eventos, antecedentes e
consequnecias, etc.
Idade Mental é o nível intelectual médio de determinada idade. Binet elaborou uma equação
que permite expressar a capacidade intelectual de um sujeito em Coeficiente de Inteligência
(QI), através da avaliação com testes padronizados.
Segundo a teoria das inteligências múltiplas identificam-se sete tipos de inteligência:
lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésicocorporal, interpessoal e
intrapessoal. Ainda conforme Gardner, cada tipo de inteligência é um sistema genético ativado
por informação interna ou externa que possui uma certa plasticidade, de modo que certas
capacidades intelectuais podem ser ampliadas a partir de estímulos apropriados. Observam-se
pessoas com níveis diferentes de inteligências, por exemplo "inteligência abstrata" (lógico-
matemática, espacial), em que a pessoa tem habilidade para lidar com símbolos; "concreta"
(cinestésico-corporal), com objetos ou situações; "social", habilidade com lingüística inter e
intrapessoal.
b- Avaliação:
É importante coletar informações sobre o desenvolvimento e rendimento escolar do paciente:
idade de ingresso na escola, se repetiu algum ano, dificuldades em matérias específicas,
dificuldade de leitura e escrita, quando parou os estudos, por que motivo (se por dificuldade
em acompanhar). Para avaliar ("grosseiramente") o rendimento intelectual, pode-se
questionar a capacidade do paciente de adaptar-se ao meio e a novas situações, aprender com
a experiência, desenvolver atividades coerentes com um objetivo, utilizar pensamento abstrato
(incluindo conceitos abstratos, como liberdade, amor) e resolver problemas do cotidiano.
A inteligência pode ser inferida através do desempenho intelectual durante o exame e através
de perguntas como: o troco em dinheiro para 6,37 quando se deu 10,00; multiplicar 2 X12;
2X24;2X48; 2X96; distância aproximada entre duas capitais; nome do presidente do país e os
últimos dois que o antecederam; informações sobre programas populares de televisão ou
esportes.
Além disso, é possível avaliar os conhecimentos gerais com perguntas sobre geografia ou fatos
relevantes da história, estando-se sempre atento ao nível cultural do paciente. Se a deficiência
é grosseiramente aparente, informações históricas podem ser utilizadas para verificar se ela
esteve sempre presente (deficiência mental) ou desenvolveu-se a partir de certa idade
(demência).
Quando houver dúvida sobre o nível de inteligência do paciente, deve-se encaminhá-lo para a
testagem psicológica, onde a padronização das perguntas e respostas permite uma avaliação
acurada do seu QI.
O vocabulário e o desempenho nos testes de abstração dependem não somente da capacidade
intelectual, mas também da idade, ambiente social e nível educacional. Por exemplo: a
presença de bom vocabulário e capacidade para abstração, apesar de primeiro grau
incompleto, indicam inteligência acima da média. Se o vocabulário e a capacidade para
abstração são pobres, deve-se considerar a privação social. Na ausência deste fator,
especialmente se o entrevistado tem educação universitária, cogita-se comprometimento
intelectual por algum distúrbio orgânico.
A capacidade de abstração deve ser avaliada através da solicitação de interpretação de
provérbios e metáforas ("Quem não tem cão, caça com gato"; "Mais vale um pássaro na mão
que dois voando"; Não se tira leite de pedras ); e da comparação de objetos semelhantes e
diferentes (maçã e laranja, criança e anão, mentira e engano).
c-Alterações e Transtornos mais comuns:
Deficiência mental: atraso ou insuficiência de desenvolvimento intelectual (QI inferior a 70),
com interferência no desempenho social e ocupacional. É classificado como leve (classe
espacial), moderado (escola especial), grave e severo.
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Demência: deterioração global e orgânica do funcionamento intelectual sem alteração no nível
de consciência.1 Freqüentemente é acompanhada de: distraibilidade; déficit de memória;
dificuldade em cálculos; alteração no humor e afeto; prejuízo no julgamento e abstração; e
dificuldades com a linguagem.
Abstração: interpretação concreta de provérbios, por exemplo: "Quem tem telhado de vidro
não deve atirar pedras no telhado do vizinho", resposta: "O vidro quebrará!".

2.7-AFETIVIDADE e HUMOR:
a-Conceito: É a experiência imediata e subjetiva das emoções sentidas pelo paciente em
relação ao que o cerca, abrangendo desde sentimentos em relação a pessoas e ambientes até
lembranças de fatos, situações, ou pessoas do passado, bem como expectativas sobre o
futuro.
Humor é a tonalidade de sentimento predominante, e mais constante, que pode influenciar a
percepção de si mesmo, e do mundo ao seu redor. Afeto é a experiência da emoção subjetiva
e imediata, ligada a idéias ou representações mentais e que pode ser observada pelas suas
manifestações objetivas: alegre, triste, embotado, expansivo, lábil, inapropriado. Em outras
palavras, humor se refere à emoção predominante, mais constante, enquanto afeto é a sua
expressão, o que se observa, sendo mais flutuante.
O normal, para qualquer tipo de afeto, é que ocorra uma variação naexpressão facial, tom de
voz e gestos, denotando um espectro de intensidade na emoção expressada (de superficial a
profunda). Da mesma forma, é normal que ocorram variações no humor.
Deve ser descrito o tom predominante durante a entrevista, sendo eutímico o paciente que
está com o afeto/humor normal.
b-Avaliação: A avaliação da afetividade e do humor é feita ao longo da entrevista,
observando-se a expressão facial do paciente, sua postura, o conteúdo afetivo predominante
no seu relato (tristeza, euforia, irritabilidade, etc), o tipo de afeto que transmite e que
desperta no entrevistador. Fala-se em afeto achatado, aplainado ou embotado nos casos de
severa redução na expressão afetiva, e grandiosidade ou expansão nos casos de exagero na
valorização das próprias capacidades, posses ou importância. Deve ser observado se o
paciente comenta voluntariamente ou se é necessário pedir para que informe como se sente. É
muito importante considerar a adequação das respostas emocionais do paciente, sempre
levando em conta o contexto do conteúdo do pensamento em que se inserem (por exemplo: a
raiva é adequada em um delírio paranóide).
Em casos de disparidade entre o afeto e o conteúdo do pensamento diz-se que o afeto está
inapropriado ou incongruente.
O entrevistador deve considerar as diferenças culturais na expressão afetiva, como por
exemplo: não considerar um inglês com afeto aplainado nem um italiano ou grego eufórico ou
colérico.
c-Alterações:
 Ansiedade e sintomas autonômicos de ansiedade;
 Medo e tensão;
 Irritabilidade, raiva, ódio, desprezo, hostilidade;
 Labilidade afetiva (rápidas alternações de afetos opostos);
 Incontinência emocional (deixar transparecer todas emoções que sente, geralmente
sendo estas intensas);
 Indiferença afetiva ou "la belle indiference" (ocorre uma restrição importante na saúde
ou vida do paciente, como não conseguir movimentar um membro, e a reação deste é
praticamente indiferente);
 Afeto inapropriado ou incongruente (em relação ao que está sendo relatado);
 Afeto hipomaníaco e maníaco, exaltado, expansivo: euforia e êxtase (sendo este
sentimento desproporcional às circunstâncias);
 Afeto deprimido: tristeza, desesperança, baixa auto-estima e sentimentos de culpa;

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 Apatia, afeto achatado ou embotado (resposta emocional diminuída ou indiferente às
alterações dos assuntos).
d-Transtornos mais comuns:
Transtorno Afetivo Bipolar (tristeza e euforia intercaladas); Esquizofrenia (afeto embotado,
inapropriado); Transtornos de Ansiedade (medo e ansiedade); Demência (labilidade).
2.8-PENSAMENTO:
a-Conceito:
É o conjunto de funções integrativas capazes de associar conhecimentos novos e antigos,
integrar estímulos externos e internos, analisar, abstrair, julgar, concluir, sintetizar e criar.
O pensamento é avaliado em três aspectos: produção (ou forma), curso e conteúdo.
A produção refere-se a como o paciente concatena as idéias, em que seqüência, se segue ou
não as leis da sintaxe e da lógica. O normal é que a produção do pensamento seja lógica (ou
coerente), isto é, clara e fácil de seguir e entender. Diz-se que é ilógica quando a seqüência
não segue as leis da lógica formal, ou seja, ocorrem inferências falsas ou indevidas; e que é
mágica quando não obedece as leis da realidade, tempo e espaço, envolvendo sorte,
misticismo, poder a distância, força do pensamento para provocar ações, etc.
O curso caracteriza-se pela quantidade de idéias que vêm ao pensamento, podendo ser de
abundante a escassa; e pela velocidade com que as idéias passam pelo pensamento, de modo
que o curso pode ser rápido, lentificado ou estar completamente bloqueado.
O conteúdo do pensamento são as idéias propriamente ditas, sua conexão ou não com a
realidade, refletindo ou não aspectos reais do mundo externo ou interno. A principal
preocupação é a presença de idéias que sugiram que o paciente possa apresentar um perigo
para si ou para outros (por risco de suicídio, agressão, homicídio), o que reflete prejuízo no
teste de realidade e no juízo crítico. Por isso, em qualquer entrevista inicial deve-se perguntar
ativamente, mas de forma sensível sobre ideação suicida, homicida e de agressão. O conteúdo
do pensamento expressa as preocupações do paciente, que podem ser idéias supervalorizadas,
idéias delirantes, delírios, preocupações com a própria doença, problemas alheios, obsessões,
fobias, etc.
b-Avaliação:
Em uma amostra do discurso do paciente, ou seja, durante a entrevista, observa-se a
produção, o curso e o conteúdo do seu pensamento. Na avaliação da produção (ou forma) do
pensamento observa-se se o paciente tem um discurso coerente, se segue as leis da sintaxe,
se a inferência de conclusões é lógica, e se as associações entre as idéias fazem sentido.
Deve-se considerar a cultura do paciente ao avaliar-se o conteúdo de seu pensamento, uma
vez que crenças compartilhadas por uma comunidade são vistas como naturais entre seus
membros e não como um sintoma. Por exemplo, acreditar que a sexualidade de uma pessoa
foi enfeitiçada, como por "voodoo", e que um homem não readquirirá sua potência até que o
feitiço seja desfeito não é necessariamente um delírio. Desta forma é preciso conhecer
detalhadamente a cultura e religião dos pacientes em avaliação para que não se identifiquem
falsos sinais e sintomas.
c-Alterações:
 Produção: ilógica (irreal, difícil ou impossível de seguir a linha de raciocínio,
desagregado); mágica (misticismo, poderes, influência a distância) DSM;
 Curso: lento; acelerado; com fuga de idéias (associação de palavras de maneira
inapropriada, com base em seu significado, p.e. branco-pretocaixão); perda de
associações (o paciente se perde no meio do discurso, sem saber sobre o quê vinha
falando); tangencialidade (não ocorre aprofundamento nos assuntos, o paciente detém-
se em detalhes e tem dificuldade de falar sobre o ponto de interesse em si);
circunstancialidade (conta coisas desnecessárias, detalhes, ao invés de chegar ao ponto
em questão); bloqueio do pensamento (parada súbita e inesperada de seus
pensamentos, quando vinham fluindo normalmente, na ausência de ansiedade; é
extremamente raro); perseveração (ocorre a permanência no mesmo assunto, mesmo
que se tente mudar o tópico, o paciente, sem se dar conta, retoma sempre o
determinado assunto); pobreza do pensamento; associação por rimas (semelhante à
fuga de idéias, porem apenas em relação aos sons, p.e. maquinista-fascista)

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 Conteúdo: delírio ou idéia delirante (idéia falsa ou crença irreal com impossibilidade de
conteúdo, certeza extraordinária, não compartilhado por outros com a mesma cultura,
religião e na mesma sociedade, e impossibilidade de remover esta certeza pela lógica;
podem ser, p.e., de inserção, irradiação ou roubo do pensamento); idéias
supervalorizadas (crença exagerada, como desconfiança, implicância gratuita); idéias
de referência (sensação inevitável de que outras pessoas e meios de comunicação
referem-se a si, podendo ser interpretações de palavras ou ações, com crítica de que
este sentimento origina-se no próprio paciente); pobreza (pouca informação, repetições
vazias, vago); obsessões (idéias, imagens ou impulsos repetitivos desagradáveis que
entram involuntariamente na mente do paciente que não consegue livrar-se delas).
Quanto à temática das idéias supervalorizadas ou delirantes (e delírios), elas podem ser
persecutórias ou paranóides (está sendo seguido, observado, procurado, vitimizado,
traído), de grandeza, desvalia, ruína, infidelidade, erotomania, controle, etc.Tipos
específicos de delírios: Bizarro (crença absurda, totalmente implausível, estranha e
falsa); Niilista (o próprio paciente ou outros estão mortos, não existem ou acabaram);
Capgras (os familiares foram trocados por impostores); Cotard (as pessoas são
bonecos).
d-Transtornos mais comuns:
Esquizofrenia; mania; hipocondria (preocupação exagerada com a própria saúde, interpretação
exagerada de sinais e sintomas, crença irreal de que é portador de uma doença grave), TOC
(exagerar o risco ou poder do pensamento).
2.9-JUÍZO CRÍTICO:
a-Conceito:
É a capacidade para perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separá-la dos
aspectos do mundo interno ou subjetivo. Implica separar sentimentos, impulsos e fantasias
próprios, de sentimentos e impulsos de outras pessoas. Refere-se, ainda, à possibilidade de
autoavaliar-se adequadamente e ter uma visão realista de si mesmo, suas dificuldades e suas
qualidades. A capacidade de julgamento é necessária para todas as decisões diárias, para
estabelecer prioridades e prever conseqüências.
Os distúrbios do julgamento podem ser circunscritos a uma ou mais áreas, como dinheiro ou
sexualidade, mantendo as demais áreas adequadas.
Insight é uma forma mais complexa de juízo. Envolve um grau de compreensão do paciente
sobre si mesmo, seu estado emocional, sua doença e as conseqüências desta sobre si, pessoas
que o cercam e sua vida em geral. O insight é reconhecido como um importante mecanismo de
mudança psíquica nas psicoterapias em geral e em especial nas psicoterapias de orientação
analítica. O insight emocional leva o paciente a uma mudança em sua personalidade ou padrão
de comportamento, de modo que este conhecimento altera suas ações e experiências no
futuro. Diferentemente, no insight intelectual não ocorrem alterações na personalidade ou
comportamento, o paciente continua igual, não tira proveito do novo conhecimento para uma
melhora.
b-Avaliação:
A partir da entrevista geralmente tem-se uma boa idéia a respeito da capacidade de
julgamento e insight. Porém, nas ocasiões em que permanecem dúvidas pode-se fazer
perguntas objetivas, como o que o paciente faria se encontrasse uma carta endereçada e
selada na rua, sendo a resposta adequada a de colocar em uma caixa de correio.
c-Alterações:Falar coisas inapropriadas; ser inconveniente; gastar mais do que pode; não
medir conseqüências; não se dar conta da gravidade da doença; não reconhecer limitações.
d-Transtornos mais comuns:Transtornos de Personalidade; Demência; estados psicóticos
(TAB, Esquizofrenia).
2.10-CONDUTA:
a-Conceito: São os comportamentos observáveis do indivíduo: comportamento motor,
atitudes, atos, gestos, tiques, impulsos, verbalizações, etc.
b-Avaliação: A partir da observação do paciente durante a entrevista, de perguntas objetivas
ou de entrevistas com os familiares, pesquisa-se dados sobre os hábitos do paciente, como o
que costuma fazer todos os dias e em situações especiais (maneira como se diverte, trabalha,
convive socialmente); procura-se observar a movimentação do paciente (lento ou agitado), a
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forma como se expressa atavés da anamnese; e procura-se alterações, indagando sobre o uso
de drogas, roubos, tentativa de suicídio, hostilidade, compulsões, impulsos, comportamentos
agressivos, rituais, vida sexual, relacionamentos interpessoais, etc.
c-Alterações:
 Inquietação, agitação (hiperatividade, aumento de energia) ou retardo (hipoatividade,
diminuição do interesse por atividades, lentificação dos movimentos e da fala)
psicomotores; agressividade, sadismo, masoquismo;
 Comportamento catatônico (ficar parado, sem qualquer movimento durante horas,
mesmo em posição desagradável, podendo alternar-se com hiperatividade), bizarro
(fazer coisas absurdas ou estranhas, como revirar lixo) ou autista (concentrado em si
mesmo e independente do mundo ao seu redor);
 Negativismo (fazer o contrário do que é solicitado); tiques e cacoetes;
 Comportamento histriônico (sentimentos expressos de forma exagerada e dramática);
risos imotivados; uso/abuso de álcool e drogas, fissura (ou "craving", perda do controle
em busca do uso de SPA), roubo, vandalismo, exposição ao perigo; jogo,
compras/gastos, comer compulsivos ou excessivos;
 Mesquinhez; anorexia; tentativa de suicídio, suicídio, homicídio; aumento ou diminuição
da atividade sexual, parafilias; tricotilomania; impulsividade;
 Compulsões (urgência irresistível de realizar um ato motor aparentemente sem motivo,
repetitivo, estereotipado, reconhecido como sem significado; rituais, limpeza e ordem
exagerados, evitações); somatizações, estados dissociativos (sintomas físicos
persistentes sem explicação plausível), estados de transe;
 Dimuição das habilidades sociais (não se dar conta que está se comportando mal em
público), piora dos cuidados pessoais (higiene), isolamento social (evitar encontros com
amigos, familiares); aparência excêntrica (diferente do seu grupo sociocultural, com
roupas, ornamentos, postura ou trejeitos muito discrepantes).
d-Transtornos mais comuns: Transtorno de Personalidade Antissocial (conduta impulsiva,
uso de SPA, RA, RH); Depressão (retardo psicomotor, RS, TS, negativismo); Mania
(aceleração, inquietude, RA, gastos excessivos, hiperatividade sexual); Esquizofrenia (bizarra,
catatônica, risos imotivados, RA, RS, RH, piora das habilidades sociais); "Novelty Seeker"; T
Alimentar; TP Borderline, TOC, Fobias.
2.11-LINGUAGEM:
a-Conceito: É a maneira como a pessoa se comunica, verbal ou não verbalmente, envolvendo
gestos, olhar, expressão facial ou por escrito.
b-Avaliação: Costuma-se dar mais ênfase à fala, avaliando-se a quantidade (loquaz, prolixo,
taciturno, não-espontâneo ou normal), velocidade ou fluxo (verbalização rápida, lenta,
hesitante, monótona) e qualidade (gagueira, ecolalia). Também é interessante se observar o
volume (alto ou baixo), a gramática e sintaxe, e o vocabulário ou escolha de palavras, o que
possibilita a realização de inferências sobre a organização do pensamento e cognição.
c-Alterações:
Podem ser encontradas na comunicação oral, escrita e mímica, espontânea ou em
resposta.Exemplos: disartria (dificuldade na articulação da palavra), gagueira, bradilalia (falar
muito devagar), taquilalia (falar muito rápido), ecolalia (repetir as últimas palavras do
interlocutor), afasia (não conseguir falar), logorréia (não parar de falar), mutismo (ficar
completamente quieto), vulgaridade (usar vocabulário de baixo calão), coprolalia (uso de
palavras obcenas); disgrafia (escrever palavras incorretamente); alterações da mímica facial
(ausência, exagero, tiques). Neologismos (invenção de palavras com significados particulares
para o paciente), salada de palavras e associação por rimas refletem um processo de
pensamento desgregado.
d-Transtornos mais comuns: Gilles de la Tourette, Esquizofrenia, SCO e intoxicação por
drogas (afasia, disartria), Mania (taquilalia e logorréia).

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3 - FUNÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS
 SONO: Insônia inicial, terminal, ou no meio da noite; hipersonia; sonambulismo; terror
noturno; apnéia do sono; alterações do ciclo sono-vigília (SCO, Demência), diminuição
da necessidade de sono (Mania).
 APETITE: Aumento ou diminuição, com ou sem alteração no peso (considerar
variações maiores que 5% do peso usual).
 SEXUALIDADE: diminuição ou aumento do desejo ou da excitação (depressão e
mania); incapacidade de atingir o orgasmo; parafilias; ejaculação precoce, retardada,
vaginismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Porto Alegre, 1991.
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Williams & Wilkins, USA, 1995.
 2-MACKINNON, RA; YUDOFSKY, SC. A Avaliação Psiquiátrica na Prática Clínica. Cap 2:
O Exame Clínico do Paciente. p48-93. Artes Médicas, Porto Alegre, 1988.
 3-AKISKAL, HS. Diagnosis in Psychiatry and the Mental Status Examination.
In:WINOKUR, G; CLAYTON, P eds. The Medical Basis of Psychiatry. WB Saunders, USA,
1986.
 4-FLAHERTY, JA; CHANNON, RA; DAVIS, JM. Psiquiatria - Diagnóstico e Tratamento.
Artes Médicas, Porto Alegre, 1990.
 5-BROPHY, JJ. Psychiatric Disorders. in SCHROEDER, SA; TIERNEY, LM; McPHEE, SJ;
KRUPP, MA, EDS. Current – Medical Diagnosis and Treatment. Appleton and Lange,
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 7-HALES, RE; YUDOFSKY, SC; TALBOTT, JA. Talbott - Textbook of Psychiatry. American
Psychiatric Press, 1994, USA.
 8-Glossário de Definições dos Sintomas - PSE. Londres, 1983.
 CID-ICD-10 Simptom Glossary for Mental Disorders. Division of Mental Health - World
Health Organization, Geneva, 1994.
 DSM- American Psychiatric Association : Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. 4th ed, Washington DC, APA, 1994.
 K1-KAPLAN, HI; SADOCK, BJ. Comprehensive Glossary of Psychiatry and Psychology.
Williams & Wilkins, USA, 1991.
 F1-Mielnik, I. Dicionário de Termos Psiquiátricos.

Avaliação do Paciente em Psiquiatria: a Entrevista Psiquiátrica


ARISTIDES V. CORDIOLI

INTRODUÇÃO
Apesar de terem ocorrido muitas mudanças nos sistemas classificatórios e avanços nos
métodos diagnósticos, a entrevista continua sendo o principal recurso de que se dispõe para a
obtenção de dados e avaliação do paciente em psiquiatria. É através dela que o médico
observa o seu funcionamento mental e obtém os dados que lhe permitem concluir se é ou não
portador de algum transtorno, avalia o grau de comprometimento que a doença acarreta, bem
como os aspectos sadios da sua personalidade.
A entrevista é um instrumento essencial para a realização dos tratamentos psiquiátricos,
particularmente as psicoterapias. É através dela que o médico estabelece uma relação
profissional com o paciente, criando o necessário clima para que possa haver um sentimento
de confiança, expectativas positivas de ajuda, e se estabeleça um vínculo afetivo que dissipem
os medos, e se criem as condições para que o tratamento tenha sucesso. Por essas razões
saber entrevistar é uma habilidade essencial para a prática da medicina em geral e da
psiquiatria em particular, constituindo-se numa verdadeira arte, adquirida e aperfeiçoada com
o exercício e a supervisão de professores ou colegas mais experientes.

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O presente texto destina-se particularmente a estudantes de medicina, alunos de cursos de
especialização ou residentes em psiquiatria que estão iniciando sua formação. Serão
apresentados os objetivos da entrevista psiquiátrica e discutidas algumas regras e princípios
para a sua adequada realização.

OS OBJETIVOS DA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA


A entrevista psiquiátrica pode ter várias finalidades:
a) avaliação psiquiátrica do paciente mediante:
 a realização da anamnese psiquiátrica;
 a realização do exame do estado mental;
 o estabelecimento do diagnóstico (ou de hipóteses diagnósticas);
b) indicação ou não de tratamento;
c) como recurso terapêutico (psicoterapia);
d) realização de perícias;
e) obtenção de dados para pesquisa;
f) ensino.
Quanto à sua forma, a entrevista pode ser inteiramente estruturada ou padronizada, semi-
estruturada, ou minimamente estruturada.
Entretanto, todas têm alguma estrutura (no mínimo um tempo limitado e um determinado
objetivo). O entrevistador pode ser totalmente diretivo quando aplica um questionário
padronizado, ou com um mínimo de direcionamento em entrevistas cuja regra é a livre
associação. A entrevistas de avaliação costuma ser mais aberta e menos estruturadas no início
da avaliação e mais dirigidas ao final.
Entretanto é importante destacar que jamais a aplicação de algumas perguntas contendo os
critérios diagnósticos do DSM IV ou CID -10, substituirão e entrevista clínica como será
descrita a seguir.

AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA DO PACIENTE


Um dos principais objetivos da entrevista psiquiátrica é o estabelecimento do diagnóstico (ou
de hipóteses diagnósticas) do paciente, passo essencial para o planejamento da terapia. Para
tal fim são realizados a anamnese (histórico dos antecedentes da doença do paciente) e o
exame do estado mental, aos quais posteriormente são acrescidos os resultados do exame
físico e neurológico, dos exames complementares, exames de imagens, da avaliação
psicológica mediante testagens, aplicação de escalas ou instrumentos diagnósticos
estruturados e outros que se fizerem necessários.
1. A anamnese psiquiátrica
A anamnese ou história da doença do paciente psiquiátrico tem algumas características que a
distinguem da anamnese médica em geral:
 Preocupa-se estabelecer um contato emocional e criar um clima favorável para a
comunicação de emoções perturbadoras ;
 Procura ouvi-lo e compreendê-lo em sua relação com o meio ambiente(família) no qual
cresceu e se desenvolveu e com as pessoas significativas de sua vida;
 Tem um interesse preferencial por suas emoções e sentimentos;
 Valoriza a história pregressa procurando identificar períodos críticos, vivências,
vulnerabilidades que possam ter contribuído para sua saúde, sua doença;
 Procura identificar vulnerabilidades biológicas: antecedentes familiares.
 Preocupa-se em definir as características pessoais do paciente como temperamento,
caráter, traços predominantes de personalidade suas forças e fraquezas, formas de
reagir diante de estresses ou períodos críticos da vida.

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Tem em comum o objetivo de obter dados e informações do paciente, de realizar o
levantamento dos sintomas, sua descrição objetiva detalhada, tanto os que apresentam no
momento presente, como os que surgiram ou se manifestaram em algum momento do
passado.
Ela se inicia, como na anamnese médica, pelo esclarecimento dos sintomas atuais que
motivaram a busca de tratamento:
 quais são, como se manifestam, seu início e seu curso; o grau de interferência na vida
pessoal, profissional e pessoal;
 sua relação com eventos desencadeantes, ou outros fatores com os quais possam estar
associados: (por exemplo interrupção de medicamento em uso, presença de
estressores);
 existência de episódios semelhantes em outros períodos da vida, tratamentos
realizados e resultados obtidos.
É dada uma ênfase especial à história pregressa do paciente:
 seu desenvolvimento neuropsicomotor, seu histórico escolar e desempenho acadêmico,
seus relacionamentos interpessoais, particularmente com as pessoas mais significativas
de sua vida como os pais e irmãos;
 eventos vitais de grande impacto ao longo da vida - particularmente na infância
(perdas, abuso);
 seus envolvimentos afetivos, sexualidade, amizades e lazer;
 aptidões, habilidades, deficiências ou limitações;
 influências culturais, sociais e familiares;
 suas formas predominantes de se relacionar com as pessoas e que caracterizam sua
personalidade - traços ou padrões adaptativos ou desadaptados.
É importante ainda, investigar se existem outros membros da família com problemas
semelhantes ou com outros problemas psiquiátricos, para se inferir se existe ou não algum
grau de vulnerabilidade biológica e consequentemente de predisposição à doença.
Estas informações permitem compreender o paciente como pessoa, e formular hipóteses sobre
as forças que eventualmente influenciaram na formação de sua personalidade, seu psiquismo
e determinam seu funcionamento mental atual: genéticas, ambientais, psicodinâmicas,
crenças disfuncionais, de eventuais estressores atuais, bem como dos suportes sociais com os
quais se pode contar.

2. O exame do estado mental e o estabelecimento do diagnóstico


A entrevista destina-se ainda à realização do exame do estado mental que na verdade é um
sumário transversal das alterações observadas diretamente, relatadas pelo paciente ou
informadas pelos familiares, ou ainda obtidas mediante testes, envolvendo a aparência,
conduta, e diversas áreas do funcionamento mental: consciência, atenção, sensopercepção,
memória, pensamento, afetividade, julgamento, etc.
Tais alterações quando agrupadas podem se constituir em síndromes que juntamente com os
dados da anamnese permitem ao clínico formular hipóteses diagnósticas as quais
posteriormente poderão ser confirmadas com a realização de exames complementares ou
obtenção de outras informações que se fizerem necessárias.
Estabelecido o diagnóstico, associado aos dados obtidos da história do paciente (fatores de
risco, estressores ambientais, predisposição à doença, estruturação da personalidade, suportes
sociais) permitem ainda prever um curso (prognóstico), e com base nos conhecimentos de que
se dispõe sobre fatores de risco e com base nas evidências que se tem, de resposta aos
diferentes tratamentos disponíveis, indicar os mais adequado.

3. Indicação do tratamento
É importante destacar que os dados obtidos na entrevista de avaliação são essenciais para a
tomada de decisões imediatas envolvendo o paciente e muitas vezes sua família.

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Além de estabelecer um diagnóstico e definir a necessidade ou não de tratamento é
importante saber se o paciente
 oferece risco para si ou para seus familiares, para o seu patrimônio ou da família;
 apresenta risco moral e, sobretudo, se tem ou não risco de suicídio.
Tais informações são necessárias para se decidir sobre a necessidade de internação hospitalar
ou não, ou se o tratamento pode ser feito a nível ambulatorial. Mas, acima de tudo, o paciente
espera ( e muitas vezes a família) que ao final da avaliação o profissional informe sobre a
natureza do problema que motivou a consulta, sobre:
 a necessidade ou não de tratamento;
 qual o tratamento mais adequado,
 em que contexto poderá ser realizado (internação, ambulatório, hospital dia, domicílio);
 com que freqüência (número de sessões semanais), duração, e
 se for um paciente privado ou com convênio parcial com que custos terá que arcar.

4. A entrevista como recurso terapêutico


A entrevista é também um importante recurso terapêutico. Por si só, ela possibilita o
compartilhamento e a ventilação de emoções muitas vezes perturbadoras e, conseqüente-
mente, o alívio da angústia.
Se o paciente estabeleceu um vínculo de confiança no médico, o simples fato de com ele
compartilhar seu sofrimento, suas emoções mais intensas, sua desesperança em conseqüência
dos sintomas que apresenta, suas fantasias (muitas vezes catastróficas sobre a
doença) e corrigi-las, tem um efeito terapêutico de alívio momentâneo da angústia. Oferecer
tal conforto ao paciente possibilita que ele se vincule à pessoa do médico, fortaleça sua
confiança e sua disposição para colaborar no plano terapêutico que for proposto (aliança
terapêutica).
A entrevista é ainda o principal recurso terapêutico de que dispõem as diferentes formas de
psicoterapias, desde a psicanálise, a terapia comportamental, até a psicosocial. Neste contexto
seu objetivo pode ser:
 a busca de compreensão psicológica de conflitos inconscientes, através da livre
associação e da análise dos fenômenos transferenciais;
 a correção de pensamentos disfuncionais, a discussão de tarefas comportamentais , a
psicoeducação ou
 a proposição de tarefas a serem cumpridas a domicílio, ou a revisão da medicação em
uso.
Dependendo da técnica ela pode ser inteiramente estruturada como nas terapias cognitivo-
comportamentais ou praticamente sem estruturação como na psicanálise, que utiliza a livre
associação.

5. Realização de perícias
A entrevista psiquiátrica pode ter ainda por finalidade verificar se o paciente está apto a
exercer uma determinada atividade profissional, dirigir automóveis, ou se está
temporariamente ou definitivamente incapacitado para o trabalho em função de doença
mental, ou se está apto a administrar seus bens, etc.
Na maioria das vezes tais avaliações exigem do profissional várias entrevistas além da
realização de exames complementares.

6. Obtenção de dados em pesquisa


A entrevista pode ter por objetivo a coleta de dados para pesquisa. O paciente deve ser
previamente consultado sobre sua concordância em compor uma determinada amostra, e o

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pesquisador deve solicitar o seu consentimento informado. Geralmente a entrevista de
pesquisa é estruturada, com roteiros e questionários a serem preenchidos.
Exemplos de tais roteiros ou instrumentos são o SADS - Schedule for affective disorders and
schizophrenia, o DIS - Diagnostic Interview Schedule, ou o SCID - Strutured clinical interview
for the DSM III-R ou o M.I.N.I..

7. A entrevista destinada ao ensino


É muito comum, em ambientes de ensino, como num hospital universitário, a realização de
entrevistas diante de grupos de alunos.
Mesmo nestas condições o paciente deve ser informado da finalidade da entrevista ou de que
será entrevistado diante dos alunos, de quem o entrevistará, concordando explicitamente com
este tipo de colaboração, devendo-se evitar constrangê-lo a participar de tais atividades. É
importante que não exista abuso de tais exposições, sendo o mesmo paciente, eventualmente
entrevistado ou examinado várias vezes. É importante que os alunos tenham clara a noção de
que da mesma forma que os profissionais, estão participando de um ato médico,
compartilhando de informações sigilosas, estando obrigados à guarda do sigilo profissional.

A ENTREVISTA INICIAL
A primeira preocupação do médico, na entrevista inicial, é estabelecer contato com o paciente
e criar um vínculo de confiança, para que ele possa efetivamente expor seus problemas,
aceitar sua ajuda e eventualmente colaborar com o tratamento que será proposto.
É importante observar se foi ou não o próprio paciente quem tomou a iniciativa de marcar a
consulta, ou se foi algum familiar (esposo, pai ou mãe) - o que pode indicar um grau maior ou
menor de dependência e é um importante indicador de motivação para o tratamento,
especialmente em pacientes candidatos à psicoterapia.
Os pacientes de uma maneira geral resistem a buscar ajuda do psiquiatra. Particularmente os
mais comprometidos eventualmente recusam tal tipo de assistência ou até mesmo de
comparecerem a uma entrevista de avaliação. Independentemente das finalidades da
entrevista, o paciente deve sempre ser informado previamente do motivo pelo qual estará
sendo entrevistado: avaliação do estado mental e diagnóstico psiquiátrico, realização de
perícia, avaliação da necessidade de hospitalização num serviço de emergência, participação
numa pesquisa etc.
Como regra o paciente deve ser informado previamente de que será visto por um psiquiatra,
devendo, sempre que possível, dar seu consentimento explícito (muitas vezes informado por
escrito), e jamais ser levado à consulta mediante subterfúgio ou qualquer outra forma de
engodo.

Transferência e contra- transferência


Muitas vezes já houve um contato preliminar por telefone, no qual tanto o paciente como o
médico, fizeram fantasias ou estabeleceram expectativas um em relação ao outro. O médico
representa para o paciente, sem que ele muitas vezes se dê conta, alguma das pessoas
importantes de sua vida passada (pai, mãe, ou outras pessoas significativas ) em relação às
quais teve e, eventualmente mantém no presente, relações marcadas por afeição, ou
eventualmente por ressentimentos, dependência, ambivalência, etc. e, sem se dar conta
desloca para a pessoa do profissional sentimentos, fantasias, desejos, expectativas ou
impulsos originalmente voltados para tais pessoas, e que podem ser adequados ou
inteiramente distorcidos (transferência) como o medo, desconfiança, apreensão, otimismo
exagerados, idealização ou indiferença e descrédito.
Da mesma forma o médico, no contato com o paciente, pode ter despertados na sua pessoa,
sentimentos - alguns adequados, como desejo de ajudar, simpatia, afeição, ou outros
inteiramente impróprios, como rejeição, indiferença, medo, antipatia, atração sexual (contra-
transferência). É importante que o profissional perceba tais reações, particularmente quando
distorcidas, procurando compreendê-las no contexto de sua história. E, sobretudo, é
fundamental que se dê conta de suas próprias reações e fantasias, controlando as que são
impróprias e que eventualmente tem raízes em sua própria história pessoal.
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ATITUDES DO MÉDICO
Como o primeiro objetivo é estabelecer um contato com o paciente é importante demonstrar
cordialidade, autenticidade, sensibilidade, interesse, calor humano, proximidade,
espontaneidade e empatia, com o objetivo de criar um clima favorável para a difícil tarefa de
expor seus problemas diante de uma pessoa desconhecida, e reviver as emoções que em geral
acompanham tais exposições, o que deixará de ocorrer caso as condições não forem propícias.

1. O que o médico deve fazer


O médico deve ser pontual, evitar atrasos, avisando com antecedência caso isto venha a
ocorrer. Caso não tenha podido avisar, desculpar-se, avisando que irá prolongar o tempo da
entrevista se isto for possível, ou oferecendo uma outra oportunidade para compensar o
atraso, caso o paciente não possa aguardá-lo.
É fundamental que seja honesto e sincero e que saiba guardar sigilo de tudo o que o paciente
lhe comunicar, inclusive com seus colegas e familiares.
Deve usar uma linguagem a mais simples possível, adequada ao nível social e cultural do
paciente. Como regra deve evitar o uso de jargões sejam eles médicos, psiquiátricos ou
psicológicos. Caso o paciente os utilize, solicitar que esclareça, com exemplos, se possível o
que está desejando informar.

2. Iniciando a entrevista
Sem demonstrar pressa deixar que o paciente comece espontaneamente a falar. Caso isso não
ocorra, poderá iniciar a entrevista com uma pergunta aberta: "Porque motivo veio à
consulta...." ou "Porque motivo necessitou baixar no hospital...", procurando ouvir com um
mínimo de diretividade e interrupções. Pode ser uma pergunta ainda mais geral como: "Por
onde vamos começar...".
Caso o paciente tenha sido encaminhado por outro profissional que lhe tenha antecipado
algumas informações, é comum que o paciente queira saber o que o médico já sabe a seu
respeito. Neste caso pode fazer um comentário do seguinte tipo: "De fato ele me deu algumas
informações a seu respeito, mas eu gostaria de ouvi-las diretamente de você...".
Assim que o paciente inicia a falar, ouvi-lo com atenção, com um mínimo de interrupções,
especialmente nos primeiros 5-10 minutos iniciais. No início fazer perguntas apenas para
clarificar algo que tenha ficado obscuro, evitando que mude de assunto enquanto o que está
sendo explorado não foi inteiramente esclarecido. Se o relato está confuso não fazer de conta
que está compreendendo. Neste caso interromper, solicitando que o paciente esclareça os
detalhes que faltam. Fingir que está compreendendo compromete a sinceridade e a
autenticidade da entrevista.
Na entrevista inicial é importante identificar e explorar as áreas de interesse do paciente e
emocionalmente carregadas, pois certamente sobre elas é que ele deve estar mais aflito para
falar. Tais áreas constituirão o foco pelo menos da primeira parte da entrevista ou de toda.
Pode-se começar esclarecendo a natureza dos sintomas atuais, seu início, o grau de
interferência nas atividades diárias e de desconforto que provocam. Se algum tópico não ficou
bem claro solicitar ao paciente que fale um pouco mais sobre o tema com um comentário do
tipo: "Fale-me mais sobre isso...".
Dentro do possível, ainda no primeiro contato, se possível o entrevistador fará perguntas sobre
a história pregressa: episódios anteriores, internações hospitalares, etc..
Caso não tenha sido possível obter todas estas informações poderá comentar com o paciente
que faltam dados relevantes e que necessitará marcar mais uma entrevista para completar sua
avaliação. Como regra usualmente a avaliação não é completada no primeiro encontro
podendo tomar de uma a três ou mais entrevistas. A segunda entrevista poderá começar com
um comentário do tipo: "o que pensou sobre o que falamos no nosso primeiro contato..."ou
"Hoje por onde gostaria de começar...", para mais adiante fazer uma transição com um
comentário do tipo: "No nosso primeiro encontro não conversamos sobre alguns pontos sobre
os quais eu gostaria que me desse algumas informações...".

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O ambiente
O ambiente da entrevista deve ser tranqüilo e silencioso para que os ruídos não interfiram na
comunicação. Dentro do possível deve ser confortável, com cadeiras da mesma altura (para
que um não fique mais alto que o outro), bem iluminado, e de preferência sem nenhuma
barreira entre o médico e o paciente (vidro, mesa).
É importante que não ocorram interrupções para atender chamadas ao telefone, celular, ou
por recepcionistas, pessoal para-médico, ou mesmo por colegas. Deve haver um sistema
eficiente de sinalização de que está em curso uma entrevista para que seja interrompida. O
tempo destinado ao paciente é sagrado, e é um direito seu ter toda a atenção do médico só
para si. Diante de uma interrupção inevitável (alguém batendo na porta, celular tocando), que
seja a mais breve possível, desculpando-se pelo ocorrido.
A entrevista deve ocorrer num ambiente que propicie total privacidade, e que impeça que o
que está sendo falado seja ouvido por outras pessoas. Se a entrevista irá ocorrer numa
enfermaria tentar realizá-la numa sala onde possa estar a sós com o paciente.
Se for à beira do leito, isolar o ambiente com cortinas. Nesta circunstância usualmente a
entrevista é mais curta.

Tempo de duração
Em situações excepcionais, como já foi comentado, com pacientes à beira do leito, agitados,
psicóticos, deprimidos graves, não cooperativos ou em serviços de emergência, a entrevista
pode ser curta (10-20 minutos). Entretanto o usual é que dure em média de 45 a 90 minutos,
tempo suficiente para o paciente vencer suas resistências e poder falar de temas sobre os
quais tem constrangimento. É interessante marcar a primeira entrevista num horário, no qual,
se houver necessidade, o médico possa ter alguma elasticidade e prolongá-la um pouco mais
se houver necessidade.
Entretanto, como regra, depois de uma hora e meia a entrevista passa a se tornar cansativa e
consequentemente improdutiva, sendo preferível marcar um novo encontro.

Anotações
Deve-se evitar ao máximo tomar notas durante a entrevista, pois elas impedem o
entrevistador de observar as expressões faciais do paciente, ou outras expressões de
sentimentos como o choro, alegria ou irritação. Além disso, quebram um importante canal de
comunicação que é o contato visual, fundamental na comunicação, particularmente de
emoções, além de inibirem o fluxo de idéias entre o paciente e o médico. O ideal é tomar notas
imediatamente depois da entrevista, e da forma a mais sintética possível.
Entretanto tem sido usual, cada vez mais, em psiquiatria, e até mesmo em determinadas
psicoterapias, o uso de instrumentos (escalas) para quantificar a intensidade dos sintomas ou
mesmo para finalidades diagnósticas. Tais escalas devem ser aplicadas depois que foi dada
oportunidade ao paciente de falar espontaneamente e de forma menos dirigida.

DANDO PROSSEGUIMENTO À ENTREVISTA


Após o estabelecimento do contato inicial, de esclarecidos os motivos que determinaram a
busca do atendimento, bem como os sintomas que o paciente apresenta, caberá ao médico dar
prosseguimento à entrevista, fazendo as perguntas que considera relevantes para obter as
informações que necessita e que ficaram faltando, para poder ter uma visão mais abrangente
e completa não só da doença atual, mas do próprio paciente como pessoa.
Além dos sintomas que apresenta, de episódios anteriores da mesma ou de outras doenças
são áreas importantes a serem exploradas:
 As relações interpessoais mais significativas (pais, irmãos, namorada(o), cônjuge);
 As formas predominantes e mais típicas de relacionamentos com as pessoas;
 A vida afetiva e sexual;

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 A vida escolar e profissional;
 Eventos vitais significativos na infância e ao longo da vida;
 Amizades e lazer;
 Doenças mentais na família.

O que se deve fazer algumas dicas


Alguns destes tópicos podem deixar o paciente constrangido, devendo o psiquiatra ter
sensibilidade para tal fato e iniciar a exploração por temas mais neutros. Como regra começar
por áreas mais positivas, indo depois para áreas neutras e finalmente para aquelas mais
carregadas emocionalmente ou que provocam maior constrangimento. Se perceber que o
paciente está indo bem e eventualmente interrompe na expectativa de alguma pergunta, pode
simplesmente comentar: "Está indo bem, continue, por favor...". Na avaliação de aspectos
positivos da personalidade do paciente poderá perguntar: "Fale-me do que aprecia na sua
pessoa...".
A maioria dos pacientes pode ter dificuldades de falar sobre determinados tópicos como, por
exemplo, sobre a sexualidade, com alguém com quem não tem maior intimidade. Pode-se
iniciar a abordagem deste tema, depois que foi estabelecido um clima de confiança,
perguntando se já teve namorada, se tem no momento, para depois perguntar como são as
relações sexuais, e finalmente se consegue ter orgasmo.
Ficar atento, reconhecendo mudanças bruscas de humor que porventura ocorram durante a
entrevista: elas podem indicar questões importantes, e emocionalmente carregadas. Se
eventualmente ao relatar um fato o paciente mareja os olhos com lágrimas (por exemplo, ao
relembrar a morte da mãe ocorrida a vários anos), pode empatizar com um comentário do
tipo: "Percebo que está evitando de chorar..." ou "Noto que relembrar este fato ainda o
entristece muito...".
Da mesma forma se o paciente deixa transparecer uma súbita irritação ao abordar um tema
definido. Com tais comentários o médico demonstra empatia para com o paciente e sinaliza
que gostaria de compreender melhor tais reações.
Procurar ampliar os temas abordados usando, se possível, as próprias palavras do paciente,
evitando transições bruscas com a introdução de temas que ele não abordou, pelo menos na
primeira parte da entrevista. Eventualmente é possível conduzi-la do início até ao final,
fazendo perguntas a partir das palavras e afirmações do próprio paciente.
Se o paciente faz afirmativas muito gerais, usando termos abstratos ou teóricos (por exemplo:
"meu ego, meu narcisismo..." ) Perguntar o que ele está querendo dizer com tal termo ou
solicitar que dê exemplos do dia a dia e se possível, recentes. Por exemplo: "Sou muito severo
com meus filhos...." ou "Nossas relações sexuais são muito raras...". Neste último caso, é
interessante solicitar a freqüência com que o casal mantém relações sexuais e a qualidade
das mesmas.
Algumas questões como as que se destinam a esclarecer sentimentos ou cognições exigem
perguntas diretas tais como: " O que sentiu naquele momento..." ou "o que lhe passou pela
cabeça..."
Questões fechadas (com resposta do tipo "sim" ou "não"), também podem ser utilizadas,
mesmo no início da entrevista, como por exemplo para avaliar a extensão dos sintomas,
embora, como regra devam ser evitadas. Por exemplo: "quantos quilos de peso perdeu neste
último mês..."ou "está com falta de apetite..".
Como regra, entretanto, no início da entrevista em geral as questões abertas com
esclarecimentos são as mais utilizadas. Com pacientes muito prolixos ou vagos, as perguntas
diretas e fechadas podem ser necessárias para tornar a entrevista mais produtiva e ser obtida
a informação que se necessita no tempo disponível.
Em raras ocasiões o entrevistador deverá ser um pouco mais incisivo, como, por exemplo,
quando nota que o paciente está sendo demasiadamente reticente para dar informações sobre
seus planos de suicídio, ou sobre suas alucinações, delírios, falhas de memórias ou rituais.

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Se a situação atual foi amplamente esclarecida e o médico tem pouco tempo para obter
informações fundamentais como, por exemplo, sobre tratamentos já realizados, poderá
interromper o paciente que está se estendendo demasiadamente com um comentário do tipo :
"Nosso tempo está terminando e ainda não falamos sobre....".

O que não se deve fazer - dicas


Particularmente o principiante pode por inexperiência cometer certas falhas na condução da
entrevista, podendo ser úteis as regras a seguir:
 Permitir ao paciente expressão de emoções dolorosas sem se perturbar, evitando
demonstrar surpresa, espanto ou interrompê-lo;;
 Evitar ao máximo, questões que sejam respondidas somente com "sim" ou "não",
preferindo perguntas abertas;
 Evitar interromper bruscamente o relato do paciente para solicitar informações sobre
algum tópico que ficou faltando. Tal informação pode ser obtida em entrevistas
subseqüentes;
 Não pôr em dúvida os sintomas referidos, ou os fatos relatados. Não questionar as
opiniões ou sentimentos do paciente;
 Não expor de forma direta suas contradições;
 Evitar fazer julgamentos morais ou opinar sobre convicções religiosas morais ou
políticas;
 Evitar explicações, interpretações ou conclusões apressadas;
 Evitar discussões, mostrar-se ansioso, impaciente ou irritado;
 Ser sincero e direto esclarecendo dúvidas, evitando ser demasiadamente otimista ou
deixando deliberadamente de falar de tópicos sobre os quais o paciente necessita
opinar ou decidir;
 Evitar firmar diagnósticos ou propor condutas sem ter os elementos necessários;
 Evitar perguntas que envolvam mais de um tema simultaneamente.

Manejo do silêncio
Momentos de silêncio passageiro durante a entrevista, mesmo sendo geradores de ansiedade
tanto no médico quanto no paciente, são importantes, pois permitem uma reflexão, por parte
de ambos, sobre o que foi falado. São importantes também, para avaliar o grau de ansiedade
que, em geral, é proporcional ao fluxo da fala. Por outro lado, o silêncio pode ser um indício de
que o paciente esteja com dificuldades de abordar algum tema que lhe é difícil, por culpa ou
medo ou simplesmente resistência.
Pode significar ainda:
 uma quebra na comunicação com o terapeuta.
 dificuldade em confiar no terapeuta e em estabelecer um vínculo;
 ressentimento por alguma atitude ou intervenção do terapeuta;
 manifestação transferencial negativa.
Silêncios prolongados devem ser evitados pois podem determinar um aumento ainda maior do
grau dificuldade, e provocar mais ressentimento, caso esteja existindo. Mantê-lo pode
representar alguma forma de expressar hostilidade não só por parte do paciente, mas
também do terapeuta, que deverá abordar francamente o fato.
Deve tentar empatizar com o paciente questionando ou sugerindo, o que deve estar ocorrendo
na comunicação, com um comentário do tipo: "Percebo que está difícil falar...". Poderá usar
como pista para uma intervenção inicial seus próprios sentimentos contratransferenciais.
É importante salientar que em algumas patologias (por exemplo: esquizofrenia, depressão,
transtornos mentais orgânicos) o paciente pode apresentar-se estuporoso, ou até mesmo, em

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mutismo absoluto. Nestes casos o silêncio pode representar um sintoma do próprio quadro
psicopatológico que o paciente apresenta.

SITUAÇÕES CLÍNICAS
O paciente deprimido
Com pacientes deprimidos, particularmente se a depressão for grave, em razão da baixa
capacidade de concentração, da falta de energia, prostração, informando muito pouco a seu
respeito, a entrevista em geral é curta. Com tais pacientes fazer perguntas específicas e
diretas. Procurar fazer intervenções com a finalidade de empatizar com os sentimentos de
desvalia, desesperança, de baixa autoestima, com a visão pessimista e distorcida de si
mesmo, das pessoas e da realidade à sua volta e em relação ao futuro. Um dos pontos mais
importantes é a avaliação do risco de suicídio com perguntas diretas sobre ideação, tentativas
prévias, e eventuais planos para tal fim.
O paciente violento
Se o paciente está francamente agitado, é importante que na sala de entrevista não existam
objetos que possam ser removidos, ou que exista acesso direto para a porta de saída. Em
pacientes com risco de agressão, o médico deve se fazer acompanhar de pessoal paramédico
ou de colegas, mantendo a porta aberta. Evitar confrontos diretos e de reagir com raiva às
provocações ou desafios. Também nestas condições usualmente a entrevista é mais curta.
Pacientes armados com facas, porretes ou armas de fogo devem inicialmente ser desarmados
pelo pessoal de segurança ou dependendo das circunstancias, pela polícia. Não tentar abordá-
los nestas situações.
Se o paciente está sob contenção mecânica, procurar primeiramente fazer contato com ele,
avaliando as possibilidades de removê-la.
Caso perceba que isto ainda não é seguro, avisá-lo de que a contenção será mantida, pois há o
risco de novamente agitar-se.
Nestas circunstancias fazer a entrevista mesmo com o paciente contido.

O paciente delirante
O primeiro passo é conquistar a confiança do paciente não pondo em dúvidas suas convicções
por mais irracionais e absurdas que possam parecer. Evitar fazer confrontações com base em
argumentos lógicos, embora o entrevistados possa inquirir sobre as eventuais evidências ou
fatos que poderiam fundamentá-las. Evitar fitá-lo diretamente nos olhos por períodos
prolongados, o que pode aumentar a desconfiança.
O paciente com queixas somáticas
As queixas físicas devem ser ouvidas com atenção e avaliando-se detalhadamente suas
características clínicas, as circunstâncias em que surgem e desaparecem, a relação com
estressores ou conflitos de natureza emocional, ou com ganho secundário, sempre com a
preocupação de descartar algum problema físico real. Pacientes com transtornos
somatoformes ou hipocondríacos também podem ter problemas físicos reais, que devem ser
cuidadosamente descartados.
Uma vez realizados os exames necessários e descartada a existência de algum problema físico,
o paciente deve ser reassegurado, no sentido de que não é portador de nenhum problema
grave, reasseguramento que deve ser refeito sempre que venha a ter novas crises, não sendo
adequado afirmar que não tem problema nenhum.
Deve ser informado que é portador de um transtorno caracterizado pelo temor de doença
grave, ou por perceber de forma exagerada ou distorcida, sintomas físicos, etc. indicando os
tratamentos disponíveis para este tipo de transtorno (p. ex. terapia cognitivo
comportamental).
Caso existam conflitos de natureza psicodinâmica subjacentes é importante identificá-los,
demonstrar ao paciente a conexão (se de fato existe) entre seus sintomas e os referidos
conflitos, para que possa dar-se conta da referida conexão, e de que é necessário tratálos,
removendo as causas.

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Completando o exame do estado mental
A maior parte do exame do estado mental é feito durante a própria entrevista através da
observação direta da atitude, comportamento, aparência, contato com o examinador, atenção,
consciência, pensamento, linguagem etc. do paciente. Algumas funções, entretanto, poderão
exigir perguntas específicas (por exemplo para avaliar sensopercepção, presença de delírios,
obsessões, compulsões, uso de álcool ou drogas, etc.) e eventualmente testes, como por
exemplo para avaliar memória, nível intelectual, etc.. Neste último caso pode-se fazer uma
transição na entrevista com um comentário do tipo: "Vou lhe fazer algumas perguntas que
podem parecer óbvias, mas que são importantes...". Em pacientes mais graves é importante
interrogar também os familiares sobre a presença de tais alterações.

ENTREVISTAS COM FAMILIARES


Em várias situações a entrevista com os familiares é necessária e eventualmente
indispensável: pacientes psicóticos, agitados, deficientes mentais, em mutismo que em razão
do quadro psicopatológico não têm condições de informar adequadamente.
Também é necessária a entrevista com familiares quando se trata de uma criança ou
eventualmente um adolescente na fase inicial da adolescência, ou uma pessoa idosa com
sintomas demenciais.
Como regra geral o médico deve sempre entrevistar primeiro o paciente, para depois informá-
lo de que ouvirá também os familiares.
Com pacientes psicóticos ou agitados é usual que a entrevista seja feita em separado. Com
pacientes portadores de outros transtornos (por exemplo: bipolares não psicóticos) a
entrevista pode ser assistida pelo paciente se ele assim o desejar.
Nenhuma informação obtida do paciente será repassada aos familiares sem o seu
conhecimento. A exceção desta regra é a circunstancia em que o médico toma conhecimento
de um plano suicida ou de que o paciente apresenta perigo para si ou para terceiros. Se no
curso de um tratamento os familiares solicitam para ter uma entrevista com o médico, este
deve solicitar sua permissão para realizar tal entrevista. Se os familiares fizeram algum
contato telefônico no intervalo entre as entrevistas, informá-lo na primeira oportunidade, e aos
familiares de que será feita tal comunicação.
Nas entrevistas com o paciente evitar usar informações obtidas através dos familiares.
Entretanto com pacientes que não cooperam de forma alguma, ou que mentem ou omitem
dados, eventualmente o médico, com a devida permissão dos informantes, poderá usá-las
como um último recurso, com um comentário do tipo: " Seu familiar informou que..... gostaria
que me falasse sobre isso". Este tipo de intervenção, sem a presença do informante, poderá
eventualmente acarretar ressentimentos e dificuldades nas relações familiares, que
posteriormente poderão ser compreendidas e sanadas, caso tenha sido feita com o objetivo de
auxiliar o paciente. De qualquer forma deve-se sempre pesar a relação entre os riscos e os
benefícios.

ENCERRANDO A ENTREVISTA
O paciente que vem à consulta está apreensivo para saber a opinião do médico sobre a
natureza do seu problema, se vai ser necessário ou não algum tipo de tratamento como
internação hospitalar, uso de medicação, psicoterapia etc. É conveniente informá-lo do tempo
disponível aproximadamente 10 ou 15 minutos antes do término da entrevista com um
comentário do tipo: "Temos mais 10 (ou 15) minutos e eu gostaria de reservar algum tempo
para lhe transmitir a minha impressão inicial....".
Ao final da entrevista o médico deve fazer uma síntese do que observou, de sua impressão
inicial sobre o que se trata, se são ou não necessários exames complementares ou se
necessita de entrevistas adicionais para completar a avaliação. Se já possui os dados
suficientes para um diagnóstico, poderá informá-lo em termos simples e em linguagem
compreensível, ao próprio paciente, quando ele tem condições de receber este tipo de
informação, evitando o uso do jargão dos sistemas classificatórios. Dependendo das
circunstancias tal informação deverá ser transmitida aos familiares (pacientes psicóticos,
demenciados), e mais tarde, ao paciente se ele demonstrar alguma capacidade de insight.

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Deverá informar ainda sobre as alternativas terapêuticas disponíveis, custos, necessidade ou
não de internação, uso de medicamentos, efeitos colaterais, prognóstico, etc. reservando os
minutos finais para que o paciente possa dirimir suas dúvidas, expressar sua concordância ou
não com as medidas propostas, seu desejo de voltar para completar a avaliação ou de seguir o
tratamento proposto.

Referências bibliográficas
CORDIOLI, A..V. Qual a psicoterapia mais adequada ao paciente. In: Cordioli, A..V.
Psicoterapias: abordagens atuais. Artmed: Porto Alegre, 1998, segunda edição, capítulo 6,
pp.77-98.
COX, A.; RUTTER ,M.; HOLBROOK, D. Psychiatric interviewing tehniques V - Experimental
study: eliciting factual information . Brit. J Psychiatry, v.139, pp.29-37, 1981.
COX, A.; RUTTER, M.; HOLBROOK ,D. Psychiatric interviewing tehniques- A second
experimental study: eliciting feelings. Brit. J Psychiatry, v.152, pp.64-72, 1988.
SCHEIBER, C.S. The psychiatric interview, psychiatric history, and mental status examination.
In: HALES R.R.; YUDOFSKY S.C.;
TALBOTT J.A.. The American Psychiatric Press textbook of psychiatry. American Psychiatric
Press Inc.:Washington, DC: 1994, Chapter 6, pp.187-220.
MACKINNON, R.A. & MICHELS ,R. A entrevista psiquiátrica na prática diária. Editora Artes
Médicas: Porto Alegre, segunda edição, 1992.
STRAUSS G.D. A entrevista psiquiátrica, a história psiquiátrica e o exame do estado mental.
In: Kaplan H.I. & Sadock B.J. Tratado de Psiquiatria. Sexta edição. Cap. 9.1, Artmed: Porto
Alegre, 1999, pp.570-583.

32
33
Como criar um Genograma no Microsoft Word

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Um genograma é um gráfico de árvore genealógica com informações 4. Use as instruções da Etapa 1 para desenhar um círculo para a
adicionais apontando acontecimentos marcantes e características dos esposa ou companheira do ancestral masculino de quem as
membros do gráfico . Criando um genograma no Word é um projeto que crianças vieram .
ajuda a lembrar os destaques em sua história familiar. Uma das vantagens
5. Clique no ícone em linha reta a partir do " Shapes " galeria, clique
de usar o Word para fazer um genograma , em oposição a um programa de
abaixo da caixa do antepassado masculino e arraste para desenhar
gráficos orientados mais é a capacidade de adicionar palavras ou imagens
uma linha curta para baixo. Repita este passo para a esposa do
nas páginas antes ou depois aqueles exibindo o genograma . Aqueles
antepassado, em seguida, desenhar uma linha horizontal que liga
vendo o seu genograma pode referir-se a essas informações para obter
as duas linhas verticais que você acabou de desenhar . Esta linha
detalhes sobre pessoas em particular na carta. Instruções
representa a geração que começa com as crianças do sexo
1. Clique na guia "Inserir" , clique no botão " Formas " . Clique no
masculino e ancestral feminino.
ícone do retângulo da galeria que aparece, em seguida, arraste na
página para desenhar um quadrado, o que representa o ancestral 6. Use as instruções da Etapa 5 para desenhar linhas verticais curtas
masculino mais alto em cima da árvore. Este é o mais antigo para baixo da horizontal que você acabou de desenhar , para cada
ancestral masculino . um dos crianças dos antepassados masculinos e femininos . Em
seguida, desenhe os círculos e quadrados que representam as
2. Clique no botão "Inserir" da aba " Caixa de texto " , em seguida,
crianças , como você fez o masculino eo feminino nas Etapas 1 a 4.
arraste acima da praça para criar uma caixa de texto para
armazenar datas de nascimento e morte do macho . Solte o mouse, 7. Repita o passo anterior para cada geração do genograma , então
em seguida, digite essas datas na caixa de texto . use Passo 2 de instruções para criar uma nova caixa de texto.
Arraste a caixa perto do círculo ou quadrado de um antepassado de
3. Use as instruções anteriores para desenhar uma caixa de texto
quem você gostaria de anexar um comentário. Por exemplo, se o
abaixo o ancestral masculino para o nome do antepassado . Digite o
seu tio-avô Joe ganhou a Medalha de Honra do Congresso , que
nome na caixa de texto .
escrever na caixa de texto .

8. Complete a etapa anterior para cada pessoa sobre a qual você


gostaria de adicionar uma nota a terminar genograma .
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9. Na página a seguir, algumas formas já prontas

Abort esp Aborto Mulher Homem Gravidez H Indice M Indice


ind
1984 1985

Joao Maria

2008 2010

Marina Josue

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