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Capitulo 4 ESCOAMENTO SUPERFICIAL DIRETO Rubem La Laina Porto 4.1 Introdugao A anélise criteriosa do escoamento superficial, que inclui a determinagdio da vazio de pico, © volume, e a forma do hidrograma bem como o periodo de retomo associado a estes valores, constitui um dos mais importantes fatores de sucesso de um projeto de drenagem urbana . Erros cometidos nesta fase poderao introduzir incoeréncias graves no planejamento da bacia e acarretario obras sub ou superdimensionadas. E importante reconhecer também que os valores obtidos nesta anélise serdo sempre aproximados devido as incertezas hidrolégicas, s simplificagdes dos métodos disponiveis ¢ aos critérios adotados. Tal fato nao justifica, entretanto, atitudes pouco cuidadosas nesta etapa pois quanto mais meticulosos ¢ sistematicos forem os procedimentos utilizados menor seré a probabilidade de ocorréncia de erros comprometedores. A melhor forma de evitar problemas de natureza hidrolégica é elaborar um Plano Diretor de Drenagem Urbana para toda a bacia [Porto et al, 1993). Quando tal plano nao existe a melhor atitude serd estudar a hidrologia de toda a bacia, mesmo que 0 projeto em questo se refira a um trecho limitado da mesma. Neste caso dois aspectos devem merecer atengao especial do projetista: + a ocupago futura da bacia principalmente no que se refere as taxas de impermeabilizagio © outras intervengdes humanas que possam, por exemplo, reduzir 0 tempo de concentragio da bacia ou levar a ocupago de éreas inadequadas. + efeitos causados pelas obras em estudo a montante e a jusante do trecho da intervengao. 4.2 Metodologia A metodologia dos estudos hidrolégicos de drenagem urbana segue, na maioria dos casos, © procedimento ilustrado na Figura 4.1. [Porto et al., 1993) Politica: Propésitos. Estratégia, Planejenento ‘Aspectos PASSO 1 Escotha do Sociais & Periado de Econdmicos Retorno , 1 asso 2 [ beterminagso da [essen és Neteorologia Tormenta de Projeto Hidrologia Passo 3 | Determinacao do Pedologia Escoanento Uso do Solo ‘Superficial Direto| | Determinago das Hidrologia Vazbes de Projeto| ———— a Passo 5 | Dinenstonanento idrautica cas Estruturas Hidréulicas Figura 4.1- Seqiiéncia de passos de um estudo de drenagem urbana Nesta figura os passos 2, 3 e 4, respectivamente, a Determinagao da Tormenta de Projeto, a Determinagao da Chuva Excedente e a Determinagdo do Hidrograma de Projeto pertencem ao campo da hidrologia urbana. O passo 1, Escolha do Periodo de Retorno, situa-se em contexto sécio/econémico enquanto 0 passo 5, Dimensionamento de Estruturas Hidréulicas e/ou definigao de outras agdes, refere-se a fase de projeto das medidas a serem implantadas na bacia. Os passos 2, 3 € 4 constituem propriamente o campo da chamada hidrologia urbana. A determinagdo da tormenta de projeto foi objeto de capitulo anterior enquanto os passos 3 ¢ 4, respectivamente a determinagao da chuva excedente e da vazao de projeto, constituem o principal assunto do presente capitulo. Métodos de Anilise Duas abordagens so de uso consagrado em hidrologia urbana: o jé clissico método racional, aplicavel a bacias urbanas com érea de drenagem inferior a 3 km’, e os métodos baseados na teoria do hidrograma unitdrio, cuja utilizagao se recomenda para bacias de maior porte que as primeiras. Em ambas a vazio de projeto e/ou hidrograma de cheias sio determinados a partir de uma tormenta de projeto, da qual sao descontadas as diversas perdas que ocorrem na bacia. O periodo de retorno das vazdes é, por hipétese, considerado igual ao periodo de retomo da tormenta de projeto. Esta hipdtese é, em principio, criticdvel porque nem sempre as mesmas tormentas acarretam as mesmas vazdes uma vez que as condigdes antecedentes de umidade do solo e as modificages das condigdes de escoamento da bacia (geralmente significativas em dreas urbanas) alteram as relagdes entre as chuvas e vazes. Por esta razdo costuma-se adotar valores conservadores da umidade do solo ¢ elaborar previsdes sobre as condigdes futuras de escoamento. 4.3 Periodo de Retorno Periodo de retomo ¢ o inverso da probabilidade de um determinado evento hidrolégico ser igualado ou excedido em um ano qualquer. Ao se decidir portanto, que uma obra sera projetada para uma vazdo com periodo de retomo T anos, automaticamente decide-se o grau de protegio conferido 4 populagdio. Trata-se, portanto, de escolher qual o "risco aceitavel" pela comunidade. Este critério deve ser definido em esferas politicas uma vez que éa comunidade e seus representantes que deverdio decidir 0 grau de protego desejével e o quanto estio dispostos a pagar por ele. Estudos econdmicos podem orientar a escolha do periodo de retomno mas a necessidade de considerar custos e beneficios de dificil quantificagao, e ainda mais, a impossibilidade de levar em conta uma serie de aspectos que nao podem ser expressos em termos monetatios, limitam a aplicagao de métodos objetivos para a escolha do periodo de retomno, Niveis altos de seguranga implicam, portanto, em custos elevados e grandes interferéncias no ambiente urbano. Minimizar custos e interferéncias sao objetivos importantes em projetos de drenagem urbana mas nao devem ser alcangados pela escolha de periodos de retorno inadequadamente pequenos. Caso isto acontega as conseqiléncias muito provavelmente serao perversas pois a ocupagao das éreas "protegidas” sera encorajada pela falsa sensagao de seguranga que as obras propiciam. As dificuldades em estabelecer objetivamente o periodo de retorno fazem com que aescolha recaia sobre valores aceitos de forma mais ou menos ampla pelo meio técnico. Muitas entidades fixam os periodos de retorno para diversos tipos de obra como critério de projeto. Os valores da 3

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