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SOAVENTURA DE SOUSA SANTOS Prof, Assocado da Faculdade de Economia de Coimbra INTRODUCAO A SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAGAO DA JUSTIGA* Entra outras razces, 0 aumento um padréo expeciica ae orgenie ‘iamatco dos procesion sar cor Glo profesional» eran re Soquinciee gua prodcaw nos tibu. Sociagade. ca molilesIneancias ‘eaia pelo estvdo de adminievaeao 93 tribunais na resclugdo dos 6 Investigacto, ais ousgualdaon’ no Sviim do mio a novtaiaege oe Fadunaieconeediaos como subs tema’ do Sistome polten slew a areas om Parag A ' sociologia do direito s6 se constitui em ciéncia Condigées social, na acepeao contemporanea do termo, isto é, em ramo socials @ ‘especializado da sociologia geral, depois da segunda guerra tedricas da mundial. Foi entao que, mediante o uso de técnicas e métodos Sociologia dos de investigagao empirica e mediante a teorizagéo propria feita tribunais ‘sobre 0s resultados dessa investigacdo, a sociologia do direito verdadeiramente construiu sobre 0 direito um objecto tedrico especifico, autonomo, quer em relagéo a dogmatica polltic ‘quer em relacdo a filosotia do dirsito. No entanto, antes deste Periodo foi grande e rica a produgao cientitica orientada por uma perspectiva socioldgica do direito © a tal ponto que a sociologia do dirsito 6, som duvida, de todos os ramos da sociologia aquele em que o peso dos precursores, das suas orientagoes tobricas, das suas preferéncias do investigagao, ddas suas criagdes conceituais, mais fortemente se tem feito ‘sentir. © que no surpreende se tivermos em conta aue, a0 * Ese abaiho (0 niclaimente apresontad, om verado abrevads, no 1 SimposioIntemaciona do Proceseo Cilla Gig leaae a Faculdade ae Dieta Se Colmbca ce 21a 26 Se Weis Ge 1084, © ubleado no Brasil na Revista de Processo 37, 1885, pp. 121-180 e, em gepantols, ne Revota Uruguaye se Oorecna Pocaaa!T, YO8S 2 Boaventura de Sousa Santos contrario doutros ramos da sociologia, a saciologia do direito ‘ocupa-se de um fendmeno social, 0 direito, sobre o qual inci- dem séculos de produgdo intelectual cristalizada na idade moderna em disciplinas como a filosofia do direito, a dogma- tica juridica @ a historia do direito. Uma das ilustragoes mais significativas deste peso dos precursores consiste no privilegiamento, sobretudo no periodo inicial, de uma visdo normativists do direito em detrimento de luma visdo institucional e organizacional e, dentro daquela, no privilegiamento do direito substantive em detrimento do Gireito processual, uma distingao ela propria vinculada a digdes tedricas importadas acrticamente pela sociologia do ito, Sem recuarmos aos precursores dos precursore Giambattista Vico (1953) e Montesquieu (1950-1961), 6 notorio que a visdo normativista e substantivista do direito domina, no século XIX, a produgdo © as discussbes tedricas, quer de juristas, quer de cientistas sociais, como hoje Ihe chamaria- ‘mos, interessados pelo direito. Assim, @ quanto 20s primeiros, de todos 0s debates que na época so portadores de uma perspectiva sociologica do direito, ou seja, de uma perspectiva, ue explicitamente tematiza as articulagGes do direito com as condigdes e as estruturas sociais em que opera, o debate sem diivida polarizador ¢ © que opde os que defendem uma con- copgao de direito enquanto variével dependente, nos termos {da qual o direito se deve limitar a acompanhar e a incorporar (08 valores socials e os padres de conduta espontanea e pau- latinamente constituidos na sociedade, © os que defendem uma concepeao do direito enquanto variavel independente, nos termos da qual o direito deve ser um activo promotor de ‘mudanga social tanto no dominio material como no da cultura @ das mentalidades, um debate que, para lembrar posisoes ‘extromas ¢ subsidiarias do universos intolectuals muito distin= tos, se pode simbolizar nos nomes de Savigny (1840) e de Bentham’). O mesmo se pode dizer quanto ao debate oito- centista sobre 0 direito no ambito da sociologia emergente, Se 6 certo que se acorda em que 0 diteito reflecte as cond (G0es prevalecentes e ao mesmo tempo actua conformadora- mente sobre elas, 0 debate poleriza-se entre os que concebem © direito como o indicador privilegiado dos padrées de soli- dariedade social, garante da composi¢éo harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integravao social © jaliza 0 bom comum, © 0s que concebem o direito como, expressao Ultima de interesses de classe, um instrumento do dominagéo econdmica e politica que por via da sua forma Fe a suns, ponies ergs, Barham procutoy fuera 3 arn 823) = Introducto a Sociologia da ‘Administragdo da Justiga cenunciativa (geral e abstracta) opera a transtormagio ideol6- gica dos interesses particularisticos da classe dominante em Interesse colectivo universal, um debate que se pode simball- zar-nos nomes de Durkheim (1977) (2) ¢ de Mars (2). No primelro quartel do nosso século a visto normativista substantivista do direito continuou a dominar, ainda que com ‘nuances, © pensamento sociolégico sobre o direito. € assim ‘exemplarmente 0 caso de Enrlich, para alguns 0 fundador da sociologia do dirsito, em qualquer dos dois grandes temas da ‘sua produgao clentitica: o direlto vive e a criagao judicidria do direito (1929 e 1967). No que respeita ao primeiro, 0 direito vivo, € central a contraposicao entre 0 direito oficiaimente estatuido e formalmente vigente @ a normatividade emergente das relagées socials pela qual se regem os comportamentos @ se previne e resolve @ esmagadora maioria dos contflitos. No que respelta ao segundo, a criagao judiciéria do direito, & ainda a mesma visto fundante que da sentido & distingao entre a normatividade abstracta e exangue da lel e a normal vidade concreta © conformadora da decisio do julz. Atente-se, ‘no entanto, que este segundo tema, e em geral a orientagao tworiea da escola do diteito livre ov da jurisprudéneia socio logica (Pound, 1911 e 1912)('), ao desiocar a questio da normatividade do direito dos enunciados abstractos da lei para as decisoos particulares do |uiz, criou as pre-condigoes te6ricas da transiga0 para uma nova visio sosiolégica cen- trada nas dimensbes processuals, institucionals e organi cionais do direito. Nesta mesma transigao @ ainda no mesmo periodo (0 primeira quartel do nosso século) se situa a obra {de M. Weber (1964) (3). A preocupagao de Weber em detinir a especificidade e 0 lugar privilegiado do direito entre as demais 2 nc a ica Burka recuse a ditingao erie lei pusice’s ats prvado, or conslera i; fen, substuinge-t Delt SReungto enire H {Giese area comaria at Sratiyciona) "Cada um deste ti Se soldarioga ‘arene repressive corespanae fnosiniea,assonto nos valores oa eonesioncia cole cule viedo cone Wo um exe, uma forms de solisaregage dominante oes somedades So Dascado. 0 siete renttotus corresponde a solidaiasage organica, ante, Ras selene contemparacasabontanacviaio 9. abaho @, Num estudo de autonomizagao terice om ro ‘weta, No ontantow a sua vaste bra esa epic Ge Telrercies nao ss inca a0 rat Cham expan & Cantrowea Gin ot Fioeaa do Diole de Hoge! (1843) 4 Ideciogi Aloma (1845-40) artgos ho No Fhamsene Zertung ("848 10) 6: besota de Brumario te Napolege Sona pate (eo) “Gryndrsee (3b87°08).0 Capt (oBty: A Guerra Cin om Franga W187) © Cries do Programe de Gata (115) "5 ro, ala, Roscoe Pound quem aprosentou Ehvich & comunidade clontifen nglontaxoricn 1590, (2) A'muhorseleceSo'do que nesta obra respeita 4 socologia do sist ea 08 Mx Reine (158.

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