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RESUMO: Este artigo tem como objetivo investigar a formação profissional dos
docentes, pesquisando os elementos necessários a profissionalização do ensino.
Diante da onda neoliberal que avançou na seara da educação, o profissional da
educação foi instado a profissionalização, causando mudanças e discussões no modo do
docente desempenhar a sua função.
Os teóricos FISHER (2009), TARDIF (2013), CUNHA (2004), NOVOA (1992), entre
outros autores, embasaram a pesquisa bibliográfica realizada para a elaboração deste
artigo.
INTRODUÇÃO
O papel do docente também mudou ao longo do tempo. Antes, à docência era exercida
por religiosos que ensinavam por vocação, recebendo as vezes nenhuma remuneração
Aluna especial da Disciplina Docência no Ensino Superior, do Mestrado em Educação-UFGD
Professora doutora no Mestrado em Educação, da UFGD
para lecionar. Com o tempo, o Estado assumiu a educação e ensinar se tornou um ofício,
com remuneração e exigência de formação formal, de acordo com TARDIF (2013).
Nas últimas décadas, vem sendo cobrado a profissionalização dos docentes, para que o
profissional tenha competências necessárias para formação de cidadãos e de mão de obra
qualificada para o mercado de trabalho, atendendo a politica neoliberal, causando
mudanças na formação do profissional da educação.
Diante disso, se torna mister discorrer sobre a profissionalização do docente, seus desafios
e impactos para o cenário educacional. Com essa premissa, este trabalho tem por objetivo
principal investigar a profissionalização da formação docente, procurando entender os
anseios e particularidades da docência e os desafios para a concretização desse processo.
E especificamente apresentar um breve relato da evolução docente, pesquisar os
elementos inerentes ao currículo escolar adequado à nova realidade da profissionalização
docente, e demonstrar as ideias e discussões sobre a docência e sua profissionalização em
curso.
Para o embasamento teórico desta pesquisa, foram utilizados os estudos dos pensadores
FISHER (2009), TARDIF (2013), CUNHA (2004), NOVOA (1992), entre outros autores,
entre outros notáveis pesquisados que se debruçam sobre o tema.
O trabalho está organizado em três seções, para melhor organização e leitura. Na primeira
seção, fala sobre a evolução da profissão docente. Na segunda seção, se discorre sobre a
profissionalização da formação docente e a adaptação do currículo escolar a atual
conjuntura. E na última seção, é apresentado a relação da docência com a
profissionalização, demonstrando o quão complexo é ensinar e é feita uma breve análise
da docência.
Espera-se que esta pesquisa possa contribuir para que, tanto professores como alunos,
possam ter na educação um meio de desenvolvimento pessoal e social.
1 A E V O LU Ç Ã O D A P R O F IS S Ã O D O C E N T E : D A VO C A Ç Ã O A
P R O F IS S IO N A L IZ A Ç Ã O
A profissão docente nem sempre foi exercida por profissionais formados, com
legitimidade para lecionar, com competências atinentes a seu cargo. O ato de ensinar
sofreu modificações ao longo do tempo, e novos atores assumiram respaldo para a prática
docente, hoje reservada a professores licenciados, com formação profissional e
competências profissionais .
TARDIF(2013) aponta três períodos históricos acerca do exercício da profissão docente:
idade da vocação, idade do ofício e idade da profissão. Estes períodos representam épocas
em que um paradigma era hegemônico em cada referencial histórico e nos ajuda a
entender a urgência da profissionalização da formação docente, e os desafios e
especificidades que norteiam a docência.
...podemos dizer que a evolução do ensino escolar moderno passou por três
idades que correspondem cada uma a um período histórico particular: a idade
da vocação que predomina do século XVI ao XVIII, a idade do ofício que se
instaura a partir do século XIX e, finalmente, a idade da profissão que começa
lentamente a se impor na segunda metade do século XX.(TARDIF,2013,p.553)
No período denominado idade da vocação, o ensino tinha cunho religioso, era exercido
por religiosos e professoras , impondo disciplina rígida a seus alunos, muitas vezes estes
educadores não eram remunerados ou recebiam formação formal, de acordo com
TARDIF(2013).
2 A PR O FI S S IO N A L I Z A Ç Ã O DA FO R M A Ç Ã O DOCENTE :
D E S A FI O S E A N S E I O S
A busca pela profissionalização docente não ocorreu por acaso. Seu surgimento remete a
necessidade de a educação atender a demanda mercadológica por cidadão instruídos e
capacitados para o mercado do trabalho , atendendo também a politica neoliberal que
almeja uma educação igualitária, com eficácia no uso dos recursos públicos.
Há alguns anos, especificamente desde meados da década de 1980, a
instituição escolar vem sendo desafiada pelas novas exigências do mercado e
da sociedade, que cobram eficácia nos serviços educacionais e competências
que vão além de títulos ou apenas conhecimentos da experiência e/ou
acadêmicos(CÁRIA, OLIVEIRA,2014,p.3)
O professor adquire suas competências para exercer o seu cargo através da sua formação
intelectual e também do exercício do seu oficio, se relacionando e modificando seus
pontos de vista, evoluindo culturalmente e enriquecendo sua prática laboral.
Gesser, Ranghetti (2011) reiteram que o currículo , no seio da formação docente, deve
estar adequado aos anseios e necessidades dos alunos, professores, da sociedade,
procurando atender as expectativas geradas. Um currículo que deva contemplar o
contexto histórico atual, juntamente com a reflexão crítica da função curricular.
Para que um novo currículo escolar emerja, se faça presente e atuante, é necessário
procurar investigar elementos que podem enriquecer o currículo escolar, que possam
atender a necessidade de um currículo dinâmico, moderno adequado aos tempos atuais.
Para isso, a pesquisa é fundamental no intuito de modificar as estruturas regulares da
docência.
...a pesquisa é um princípio básico para um design de currículo que atenda a
formação nesses parâmetros. Como aplicar esse princípio na organização de
um currículo no ensino superior? Acreditamos que problemáticas relacionadas
ao campo de atuação do profissional em formação podem constituir-se em
eixos ou componentes curriculares que mobilizarão o emprego desse
pressuposto; ou seja, a pesquisa como ferramenta mobilizadora de toda a ação
pedagógica com os sujeitos em formação.(GESSER, RANGHETTI,2011,p.7)
Mais do que propor um currículo escolar novo, antenado com as mudanças advindas da
profissionalização docente, é importante que este processo também possui um viés
simbólico: simboliza a capacidade humana de evoluir e se reinventar, de agir diante de
cenários históricos que requerem inovação e ousadia.
Propor ousadia, desafios na constituição de outra racionalidade para o design
de um currículo significa acreditar que o ser humano é história, faz história e a
refaz, conforme o tempo no qual vive. Hoje, a literatura que apresenta as
pesquisas sobre o currículo e os processos de ensinar e de aprender, sobre o
desenvolvimento do ser humano e sua constituição, destacam a relevância do
ser humano como autor de sua história(GESSER, RANGHETTI,2011,p.16)
No ensino superior, a docência não se furta de exibir seu caráter investigador, de propor
soluções e alternativas aos problemas que surgem intempestivamente. O enfrentamento
as demandas educacionais é algo natural da prática docente.” Uma das principais razões
da prática docente na universidade seria fazer pensar, buscar soluções para novos
problemas, descobrir alternativas originais diante dos enfrentamentos teóricos e
práticos.”(FISHER,2009,p.313)
O conservadorismo latente incrustado na seara acadêmica é algo que merece ser avaliado,
estudado. Não se pode simplesmente tecer critica irascível ao modus operandis da
universidade e propor mudanças abruptas, sem levar em conta as peculiaridades do objeto
estudado. A profissionalização da formação mexe com toda a cadeia educacional, fazendo
com que os atores envolvidos na referida discussão sejam convidados a repensar seu
modo de agir, de atuar. Isso também se aplica a docência no ensino superior e a forma
como as mudanças afetam os professores do ensino superior e os alunos, futuros
profissionais da educação.
A temática da formação de professores coloca-se como um tema inesgotável e
é sempre tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo
na pesquisa e é sempre .instigadora na educação superior. Provocou e vem
provocando diferentes abordagens de estudo e exigindo desdobramentos na sua
análise e compreensão. As exigências da profissionalização reabriram
reflexões específicas acerca da formação continuada dos docentes de todos os
níveis, as quais provocaram a necessidade de repensar a formação inicial.
Ambas continuam exigindo esforços e estimulando o espírito investigativo da
base acadêmica.(CUNHA,2013,p.14)
A contemporaneidade vive sob o paradigma da inovação, do fazer algo novo, eficaz, que
impulsione os desejos humanos. No tocante a profissionalização da formação docente, se
espera que os alunos aprendam mais, que possam se tornarem sujeitos ativos , criadores
de seu aprendizado. A possibilidade de isso ocorrer se dá quando o docente assimila em
seu escopo de competências e habilidades , um olhar diferenciado para a prática docente.
O professor deixa de apenas ser um transmissor de ideias e informações, e se torna um
parceiro do seu discente, ao facilitar seu aprendizado e desenvolvimento do seu senso
crítico, da sua cidadania.
O docente que focaliza o seu ensino sobre dados e palavras a serem
memorizados e decorados na prova não tem mais espaço na sociedade
contemporânea: já perdeu o combate contra a Internet e o Google, que
providenciam informações, esquemas, fotografias, links, melhores do que o
professor mais bem-formado pode oferecer. Está agonizando o professor de
informações, mas torna-se cada vez mais indispensável o professor de saber,
ou seja, aquele docente que consegue ensinar como procurar e ligar
informações para produzir sentido, para entender o mundo, a vida, as nossas
relações com os demais e conosco mesmo. Portanto, o problema fundamental
é saber se as universidades do século XXI conseguirão formar tal professor de
saber (CHARLOT,SILVA,2010,p.17)
A prática docente possui natureza multifacetada, sendo que o professor transforma seu
saber, seu intelecto, a medida que leciona a seus alunos. Ou seja, O ato de ensinar não é
algo mecânico, mero transmitir de ideias, e sim um processo dinâmico que o professor
utiliza seu saber técnico e produz novos conhecimentos, em sua prática laboral.
CUNHA (2013) aponta que o professor , ao exercer sua profissão, também cria
conhecimento, pois sua função exibe demasiada complexidade, conciliando seu
conhecimento acadêmico ao conhecimento oriundo de sua práxis no cotidiano, sua
trajetória de vida, seus valores sociais, etc. Ou seja, o contato com a prática docente, a
experiência, geram saberes inéditos que permitem o professor enfrentar problemas
diversos, em sua trajetória.
Isso ratifica a tese que o trabalho docente , ao ser analisado, também deve relevar as outras
dimensões que englobam a prática docente, como a carreira, o desenvolvimento pessoal,
entre outros fatores que influenciam no trabalho do professor.
...é muito difícil isolar a questão do conhecimento dos professores das outras
dimensões do trabalho docente: formação, desenvolvimento profissional,
identidade, carreira, condições de trabalho, tensões e problemas
socioeducativos que marcam a profissão, características das instituições
escolares onde trabalham os professores, conteúdos dos programas escolares,
entre outras dimensões.(TARDIF,2013,p.567)
CUNHA (2013) aponta que vários estudiosos elaboraram teorias sobre a pratica docente
e sua relação com a criação de novos conhecimentos, citando TARDIF, NOVOA,
GAUTHER, entre outros. Entretanto, o referido autor aponta as contribuições de SCHON
(1983), que versam sobre a epistemologia da prática, que é um conceito que reconhece a
prática docente como produtora de novos conhecimentos, reforçando ainda mais a
importância da formação docente e o exercício da docência.
SCHON(1983,apud,CUNHA,2013,p.10) propõe
Desta maneira, a formação docente deve levar em conta que se deve ir além da
racionalidade técnica, além da formação formal, apenas. O papel da docência deve
consistir em desenvolver um olhar humano, sapiente, capaz de entender que a pratica
docente é influenciado pelo meio ambiente, pelas condições de trabalho, pelo contato
diário do professor com seus alunos.
Tardif, Lessard e Lahaye (1991) chamam a atenção para o fato de que o saber
docente é plural, estratégico e desvalorizado, constituindo-se em um
amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação
profissional, dos saberes das disciplinas, dos currículos e da
experiência(MONTEIRO,2001,p.130)
C O N S I D E R A ÇÕ E S FI N A I S
A p r o f i s si o n a l i z a ç ão d a f o r m a ç ã o d o c e n t e v e m s e n d o d e b a t i d a h á c e r t o
t e m p o , c o m o um a m a n e i r a d e a t e n d e r o s i n t e r e s s e s d a p o l i t i c a
n e o l i b e r a l , q u e p r e ga u m a e d u c a ç ã o d e m e l h o r q u a l i d a d e , q u e p r e p a r e
a s p e s s o a s p a r a s e r e m c i d a d ã o s c r í t i c os , a l é m d e o f e r e c e r m ã o d e o b r a
q u a l i f i c a d a a o m e r ca d o d e t r a b a l h o .
A l é m d i s s o , o q u e s e v ê t a m b é m é a e x p a ns ã o d a f o r m a ç ão s u p e r i o r,
c o m a u m e n t o d e e st u d a n t e s n a a c a d e m i a . E n t r e t a n t o, i ss o s e d e v e a
expansão das faculdades particulares, e menores investimentos na
u n i v e r s i d a d e p ú bl i ca , a t e n d e n d o a s s i m a o p a r a d i gm a m e r c a d o l ó gi c o d a
politica neoliberal.
O ensino superior é cada vez menos considerado um bem público e cada vez
mais um serviço lucrativo. Nos países pobres, os governos não podem custear
a expansão do seu ensino superior e, nos países ricos, a lógica neoliberal
apregoa a contenção das despesas públicas, tida como condição da
competitividade no mundo globalizado(CHARLOT, SILVA, 2010,p.13)
E s t e c e n á r i o d e i n c e r t e z a s i m p a c t a n a p r o f i s s i on a l i z a ç ã o d a f o r m a ç ã o
d o c e n t e , p o i s s e ex i ge m a i s d o s d o c e n t e s , m u i t as v e z e s c o m f o r m a ç ã o
a c a d ê m i c a i n s u f i ci e n t e o u i n a d e q u a da , e c o m a i n c o m p r e e n s ã o d o
m e r c a d o , q u e i gn o r a a c o m p l ex i d a d e qu e a d o c ê n c i a p o s s ui .
E s t e t r a b a l h o o b j et i v o u f a z e r u m a an a l i s e s o b r e os de s a f i o s da
p r o f i s s i on a l i z a ç ã o d o c e n t e , s o b r e o q u e s e e s p e r a d o s p r o f i ss i o n a i s da
e d u c a ç ã o , s o b r e a a m á l ga m a d e c o m p e t ê n c i a s e h a b i l i d ad e s q u e o
professor deve ter.
A d o c ê n c i a f o i e s m i u ç a d a e a n a l i s a d a , e m v i r t u d e d e um p ro f e s s o r s e r
m u i t o m a i s q u e um m e r o t r a n sm i sso r d e c o n h e c i m e n t o , s e r um
p r o f i s s i on a l q u e a l i a o s e u s a b e r t é c n i co e , a t r a v é s d a p r á t i c a d o s e u
o f i c i o , c r i a n ov o s c o n h e c i m e n t o s e m e d i a o a p r e n d i z ad o d e s e u s
alunos.
A profissionalização da formação docente merece novos estudos e
c r i t e r i o s a s a n á l i s e s , q u e p o s s a m a ux i l i a r n a b u s c a p o r u m a e d u c a ç ã o
d e m a i s q u a l i d a d e, c o m p r o f e s s o r e s a t u a n d o c o m ex c e l ê n c i a e
v a l o r i z a ç ã o , i n c o r r en d o e m u m a s o c i e d ad e , j us t a , a d e pt a a o p r o gr e s s o .
REFERÊNCIAS