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é é A ASSOCIACAO NACIONAL DOS PROFESSORES UNIVERSITARIOS DE HISTORIA Alice Piffer Canabrava Parece-nos auspicioso o lancamento da Revista Brasileira de His- téria, no aniversério comemorativo de vinte anos da fundacdo da Asso- ciacdo Nacional dos Professores Universitarios de Histéria (ANPUH). Duas décadas de existéncia que registraram a consolidacio e a expansio, © que vale dizer, 0 sucesso da. entidade. Nascida simplesmente como As- sociacio dos Professores Universitdrios de Historia (APUH), podia rei- vindicar para si, ao completar a primeira década, em 1971, no VI.° Sim- Pésio, em Golania-GO, a qualificacéo de “nacional”, pata referendar Sua presenca firmada em quase todo o territério brasileiro, A idéia de uma sociedade de docentes de Histéria das universidades brasileiras foi apresentada em Marilia-SP, por ocasiao do 1.° Simpésio de Professores de Histéria do Ensino Superior, promovido pela sua Fa- culdade de Filosofia, Ciéneias e Letras, instituto isolado de ensino su- perior, no periodo de 15 a 20 de outubro de 1961. A mogdo, assinada por um dos membros do seu corpo docente, José Roberto do Amaral Lapa, 6 registro de nascimento da primeira sociedade de professores de His toria de nivel superior, em nosso pais: “Considerando 0 isolamento em que trabalham os professores uni- versitérios de Histéria, uns em relagao aos outros. Considerando a importancia que, em nossos dias, assume o didlogo para o cientista, Considerando 0 éxito que, no género, tém logrado outras iniciati. vas, submeto apreciacao desta Mesa Redonda, a proposta da cria- eGo de uma entidade que possa congregar os professores universi- tarios de Histéria (1)”. Os professores reunidos no Simpésio, ao findar os debates que pri- vilegiaram as questées de ensino, expressavam o consenso quanto & importancia do didlogo para superar o isolamento sob o qual trabalha- vam. Como se 1é na apresentacao de seus Anais, o ensino da Histéria em nivel superior, “na perspectiva pré-simposiana”, distinguia-se “por nenhuma posic&o’definida, poueo conhecimento do que se estava efe- tuando ou planejando em outras Faculdades, falta total de ocasides para o encontro dos colegas das varias regides do pais. Numa floresta nao se procede como num campo arado e cultivado. Se houve mérito em nossa. iniciativa, nao pretendemos outro, liminarmente que o de termos criado condigdes que nao existiam antes do Simpésio, tanto para a possibilidade de contatos pessoais — quanto para um primeiro desbastamento do espesso feixe de problemas relativos ao ensino da Histéria”. Segundo os motivos explicitos, 0 surgimento da nova entidade U- gava-se as condicdes negativas do trabalho solitario em suas comuni- 2 dades, sob a preméncia de duividas quanto aos rumos a seguir no ensino superior da Histéria. Dialogar, conhecer a experiéncia de outras Facul- dades, estabelecer um consenso quanto a diretrizes essenciais, parece- nos as razoes imediatas, ao nivel da observaco do mais proximo, que nao disfarcam fundamentos mais profundos dos problemas apontados. Para compreendé-los nao se pode esquecer que a Associacéo Na- clonal dos Professores Universitarios de Historia € uma projecao das Faculdades de Filosofia. Ainda que, elementos de outras Faculdades figurem em seus quadros, representam vergénteas a vicejar em tronco vigoroso nutrido por aquélas entidades. As Faculdades de Filosofia sa as matrizes onde ganham forma professores e pesquisadores de Histo- ria — a substancia da Associagao. As raizes do sodalicio emaranham-se nos problemas das Faculdades de Filosofia, os quais, por sua vez, fazem parte do contexto da Universidade como um todo, e estas, da sociedade brasileira de modo geral. A inquietude dos Professores de Histéria do instituto isolado de ensino superior de Marilia, nos reporta ao borbu- Ihar da inquietude do corpo social. As primeiras universidades brasileiras haviam sido criadas nos anos 30, juntamente com as primeiras Faculdades de Filosofia, em S.Paulo (1934) e no Rio de Janeiro (1935), ambas precedidas pela Escola de Sociologia e Politica, instituico de nivel superior fundada em S.Paulo em 1933, com o patrocinio particular. Sao iniciativas pioneiras, num amplo painel de mudangas que visam superar a ordem tradicional, atra- vés de novas instituicdes no campo educacional. O conhecimento mais profundo da realidade brasileira a que as universidades vinham servir, com a pesquisa desinteressada, desdobra-se com a formacao de cientis- tas, professores e técnicos, para atender & diversificacao crescente das atividades profissionais exigidas pelo desenvolvimento do pais. Quando de sua fundacdo, reservou-se papel integrador A Faculdade de Filoso- fia, Ciéncias e Letras de S.Paulo — 0 de proporcionar estudos basicos para toda a Universidade. Esta funcao foi desvirtuada em seu principio original, ao mesmo tempo que a entidade se concentrava, como acontecia. com as demais Faculdades do pais, na formagao de professores para seus préprios quadros e sobretudo para o ensino médio, necessidade mais imediata, de maior coeficiente de profissionalizacio. Em 1961, ao tempo do Simpésio de Marilia, hd muito havia se esta- belecido o consenso, nas unidades de ensino superior, quanto & urgén- cia da reforma das Universidades. Acelerava-se 0 compasso das mudan- 83, sob a pressio de fenémenos que no cessaram de afetar profunda- mente a fisionomia do nosso pais, tais como o aumento réipido do vo- Jume populacional, mareado pela proporeionalidade dos jovens de 14 29 anos, o fluxo ininterrupto das 4reas rurais para os aglomerados ur- banos, a industrializacio de varias areas do territorio, sobretudo S.Paulo, a expansdo sem precedentes da burocracia, o desenvolvimento dos estratos médios da sociedade, a politizacio crescente. A palavra de ordem é a reforma, o reencontro da sintonia entre a Universidade e a realidade social para se nfo frustrarem os objetivos daquela. Impunha- se modelar de novo a estrutura das universidades, de modo a conferir- hes maior flexibilidade administrativa, curricular e docente, enfim, 7 rever o elenco das disciplinas, alterar as normas do recrutamento do corpo docente ¢ da ascen¢do dos degraus da carreira académica, conce- der real importancia & pesquisa, como atividade bésica da universidade, que dé a medida do seu “status” no cenario cientifico internacional. Centenas de unidades do ensino médio estavam em funcionamento e as Faculdades de Filosofia proliferavam na capital e no interior dos Es- tados. O apelo dos professores de Historia da Faculdade de Marilia consubstanciou 0 ressoar de muitos outros, e coincidia com a concreti- zacao de novos modelos de estrutura e funcionamento das Universida- des, tais como o de Brasilia e do Ceara. A estreita vinculagéo com as Faculdades de Filosofia condicionou, desde o inicio, alguns caracteristicos da Associacdo, que a distinguiram de outras, muito mais antigas, pioneiras como confraternidades de professores, estudiosos e interessados no desenvolvimento dos estudos historicos. De modo geral, pertenciam estes aos segmentos superiores da hierarquia social. Ser recebido por esses sodalicios significava atin- gir 0 cendculo dos maiores, alcancar uma culminancia que consagrava, ha eoleividade dos intelectuais, os esforgos a servigo da cléncla hhisté- ica. Realizaram essas instituigdes tarefas relevantes para o desenvol- vimento da Histéria, da Geografia e Etnografia, singulares em seu al- cance. Assihala-se, a par com o estudo da Histéria, centrada na His- toria Nacional, as pesquisas arqueoldgicas, o levantamento documental em arquivos do pais e do exterior, a guarda de acervos preciosos, a for- mago e o funcionamento de bibliotecas especializadas, ao mesmo tempo em que em seus periddicos e obras impressas deram publicidade aos seus trabalhos. Em sintese, mantiveram um estimulo permanente ao desen- yolvimento da consciéncia histérica, que nao se apartava da valorizacdo das elites. Devemos reconhecer que, em grande parte, o caminho percor- rido foi obra de apaixonados estudiosos autodidatas, eruditos em His- térla, portadores de graus académicos obtidos em outras areas do conhe- cimento. Mantiveram viva a chama do interesse pelo saber histérico, em alto nivel, quanto inexistiam no pais institulgdes oficiais votadas ao seu desenvolvimento. Feigdes algo diferentes marcaram desde logo a Associagdo Nacio- nal dos Professores Universitatios de Historia. Ao tempo em que se re- gistrava como entidade, segundo a letra dos estatutos, o toque de reu- nir conclamava exclusivamente os professores de Histéria que integra- vam 0 corpo docente das Faculdades de Filosofia (2). A continuidade regular dos Simpésios promoveu o alargamento muito significativo das categorias do seu quadro de associados. A presenca dos estudantes, acel- ta em cardter facultativo, cresceu rapidamente, acompanhando o ritmo sob 0 qual expandia-se o ensino superior da Histéria. Nos ano 70 0 niumero de estudantes alcancou sempre cerca da metade dos participan- tes do conclave. Concomitantemente, cresceu também o interesse pela Associagéo, da parte dos professores das outras Ciéneias Sociais, dos docentes do ensino do segundo grau e das instituigdes votadas a ativi- dades conexas com o passado, como arquivos e museus. De modo geral, ‘08 associados procedem dos mais diversos segmentos do corpo social,

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