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0, ela las we sta de 0 0 200 4. 0 IMPULSO CARTOGRAFICO NA ARTE HOLANDESA (Os dois capftulos anteriores seguiram a linha froneiriga entre arte e scus modelos, para dizé-lo vigorosamente, ou entre a arte € sas analogias, para expressé-lo de maneira mais amena, Conside- amos os modelos que parecem relevantes para a produso, a obser- ‘ago. a compreenso de imagens na Holanda do século XVI Além ‘da autoconscigneia visual partihada pelo estudo do olho por Kepler ‘e das preacupacses téenicas compartidas por Hooke, Bacon & ‘Comenius, desejo considerar agora 0 que eu chamo de impulso car- togrifico. Nosso ponto de partida € a observagio de que talvez nunca tenha havido, em nenhuma época ou lugar, tamanha eoin- cid2ncia entre cartografar e pinta. Pelo que veriticamos anterior- mente, no deve surpreender que a base dessa coincidéncia seja ‘uma nogdo de conhecimento e crenga comum que deve ser adi rida e afirmada através da pintura. Mas @ congruéncia entre pintu- ras e mapas faz mais do que meramente confirmar © que jé vimos. Dessa vez 0 nosso modelo é, ele priprio, uma imagem. As carac- teristicas descritivas, a que chegamos até aqui por vias indiretas — ‘mediante analogias —, agora seremos capazes de fundamentar di Fetamente na natureza das atitudes para com um tipo particular de imagem e a linguagem ela aplicada ‘A Arte de Pinar de Vermeer (Kimina 2), obra que ilustraa se ‘melhanga entre pinturas e mapas, & um ponto de partida promissor. Em tamanho e tema esta € uma obra tinica e ambiciosa, que chama nossa atengio para uma espléndida representagio de um mapa. Estamos olhando para o atelié de um pintor. © artista comegou & Pintar as fothas da grinalda que encima a cabega de uma jovem, um ddos modelos familiares de Vermeer, que aqui representa, assim so- ‘mos informados, Clio, a musa da Historia, adornada com seus or ramentos embleméticos tal como foi descrita por Ripa. © grande ‘mapa (Fig, 62), pendurado de modo a preencher a parede diante da {ual Vermeer situou 0 pintor e © modelo, no deixou de ser notado Pelos historiadores da arte. Ele foi estudado por seus significados 'morais: sua presenga foi interpretada como uma imagem da vaida- de humana, uma expresso literal de preacupagies mundanas © sua representacio da Holanda setentrional e meridional foi inter- Pretada como a imagem de um passado perdido em que todas as provincias formavam um pais — uma dimensio hist6rica corrobo- ‘ada talvez pelo tre antiquado do pintor © pelas dguias de Hapsburg do candelabro. Mais recentemente, essa representagd0 'o meticulosa permiiu idemtticar © mapa com uma determinada ‘obra, hoje preservada numa nica eépia em Paris. Visto dessa ma- neira, o mapa de Vermeer ¢, inadvertidamente, uma fonte para 0 nosso conhecimento da histéria da cartografia’. 20 jar di lar de otado cados aida Mas todas essas interpretagdes ndo levam na devida conta & afirmagio bvia de que o mapa nos transmite a impressio de ser ‘uma pega de pintura por direto préprio. Existem, € claro, muitas pinturas dessa época que nos lemibram o fato de que os holandeses ram os primeieos a produzir seriamente mapas como tapegarias —sendo esta apenas uma pare da larga produgio, disseminagao &

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