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COMO CONSTRUIR. Pisos industriais de concreto Marcos Dutra de Carvalho Chef do Departament de Proeos e Asisiéncia Teenica ‘da ABCP-Asociagdo Brasileira de Cimento Portiand 1. Concepgao © comportamento dos pisos industriais de conereto segue de um ‘modo geral as dretrizes estabelecidas pela Meciinica dos Pavimentos Rigidos complementadas por consideracoes especificas, em vista das peculiaridades do tipo de utilizacao a que se destinam. Dessa forma, tratando-se de pavimentos tigidos, os pisos industrais deverio ser projetados e construidos de modo a cumprir as seguintes fungdes: ‘© proteger a fundagio (subleito), dando condigdes seguras © adequadas de utlizagtio da area industrial ‘= apresentar suficientemente resisténcia para suportar os esforgos solicitantes (cargas moveis ¢ estiticas, abrasdo por arraste, impacto) eo eventual ataque de substancias presentes no ambiente sem que ‘ocorram falhas estruturais capazes de comprometera integridade do cconjunto; «= ser extremamente duriveis, com manutencio zero ou prOxima de 2020 a0 longo do periodo de utilizacio previsto no projeto (minimo de 20 anos), de mado que nao ocorra paralisacio ou interrupcio dos pprocessos industrais ali instalados. Para tanto, dispoe o projetista das seguintes alternativas de tos rigidos apliciveis aos pisos industrias ‘= pavimento de concreto simples, sem barras de transferéncia ‘= pavimento de concreto simples, com barras de transferéncia; * pavimento de concreto com armadura distribuida descontinua, sem funcao estrutural; * pavimento de concreto com armadura distribui Fungo estrutural; * pavimento de conereto estruturalmente armado; * pavimento de conereto protendido. A experiéncia brasileira concentra-se nas trés primeirasalternativas, restando para as outras apenas aplicagoes incipientes e localizadas, ainda que as duas tltimas sejam promissoras; ndo serio, portanto, objeto de nossa anilise, Ressalte-se, no entanto, que os pisos industriais no Brasil muitas vezes sao dotados de armaduras duplas, ‘sem cfitério racional de cileulo, mesmo porque nao hi ainda na literatura nacional ¢ internacional um método de cilculo de pisos estruturalmente armados que tenha sido comprovado na pritica pela observacio sistematica e criteriosa de seu comportamento. Cita-se rnesse campo a tese de doutorado do sueco Losberg, teoricamente muito bem fundamentada, mas sem a necesséria comprovacio € ajustagem através da observacao dos pavimentos em servigo, abso- lutamente indispensivel para a “calibragem” do método, principal- mente no tocante ao processo de fissuracao das placas. ‘Analisamos aqui apenas os pisos dle concreto simples, com ou sem barras de tminsferéncia ecomou sem aemaduradistibuida descontinu, sem funcio estrutural. Nesses casos, 0 dimensionamento e 6 projeto podem ser feitos de acordo com os procedimentos detalhados nos trabalhos de Carvalho e Pitta, da ABCP (ET-52 e ET-79). Quanto a execugao, resumimos, neste trabalho, apenas as etapas da Construcio de pisos com equipamento de pequeno porte, sem entrar no mérito de técnicas mais avancadas, hoje disponiveis no Brasil ‘como oadensamento do conereto utlizando-se mantas geradoras de viicuo (adensamento a vicuo) ou vibroacabadoras, que permitem 0 ivelamento do concreto controlado por raios laser, do tipo $-240 laser Screed. 2 continua, sem 2. Livros basicos e normas LOSBERG, Anders - Structurally reinforced concrete pavements, Goteborg, Chalmers, 1960 CARVALHO, Marcos Dutra de; PITTA, Marcio Rocha - Pisos industri ais de concreto, parte 1 2" ed, rev. atual, Sao Paulo, ABCP, 1989 (ET-52) PITTA, Marcio Rocha; CARVALHO, Marcos Dutra de - Pisos industri ais de Concreto, parte 2.2 ed, rev. atual, Sto Paulo, ABCP, 1989 (ET-79) PITTA, Marcio Rocha - Dimensionamento dos pavimentos odovis. Fios de conereto, Sio Paulo, ABCP, 1990 (ET-14) PICKETT, Gerald; RAY, RK, Influence chart for conerete pavements; American Society of Civil Engineers, Transactions, v. 116, p. 49-73, 1951 HETENYI, M-- Beams on elastic foundation, theory with applications in the fields of civil and mechanical engineering. Ann Arbor: University of Michigan, 1946 PACKARD, Robert G, - Slab thickness design for industsial concrete floors on grade. Skokie: PCA, 1976 (1S195.01D) Platten und Balken auf nachgiebigem Baugrund, Berlim: Springer Verlag, 1975 DEACON, R, Colin -Conerete ground floors their design, construction and finish, London: CCA, 1982 AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACD - Guide for concrete floor and slab construction; ACI 302.1R-89. In ACI Manual of Concrete Pratice, Detroit, 1993, v. 2 3. Metodologia de calculo O calculo de um piso industrial de conereto consiste em determinar, 4 partir da analise criteriosa das condicoes de suporte da fundacio fe das cargas méveis e estiticas solictantes, a espessura necessaria da placa de concreto de cimento Portland capaz de proteger o subleito garantir uma vida de servigo minima de 20 anos, com pouca ou nenhuma manutengio nesse periodo. Nessa fase define-se a necessidade da utiizacto de revestimentos eciais (quando ha trtfego de empilhadeiras de rodas macicas, por ‘exemplo) do tipo argamassa de alta esisténcia mecdnica, que podem ser incorporados 3 espessura necesséria calculada da placa, no caso da execucaio do tipo timido sobre timido. Para pisos sujeitos a ataque de produtos quimicos, como certos 4cidos, sais, hidroxidos e produtos orginicos, deverio ser previstos revestimentos especiais, podendo ser ou nao incorporados 3 espes- sura calculada de concreto, conforme 0 caso. Citamos, a seguir, 0s procedimentos usuais de cileulo, tendoem vista as cargas dindmicas ¢ estiticas mais comuns aos pisos industriais no Brasil ‘As cargas dindmicas que solicitam um transmitidas por veiculos de linha (os. ‘compoem a frota nacional enquadrados no Cédigo Nacional de Trinsito) ow aquelas transmit das por veiculos especiais: empilhade tratores, caminhoes fora-de-estrada ete infkiveis ou tigidos. ara o dimensionamento dos pisos industriais submetidos ao trfego de veiculos de linha ou comerciais adota-se 0 procedimento proposto pela Portland Cement Association, dos EUA, adaptado e detalhado na 14 da ABCP, em que o cilculo da espessura necessiria de concreto poderi ser feito utiizando-se o método da Carga Maxima Legal ou 19 do Consumo de Resistencia a Fadiga. Em linhas gerais, esse procedimento de calculo pode ser assim resumido: ‘= em fungao do indice de suport California do subleito adotado para projeto (CBR,,,) € do tipo e espessura adotada de sub-base determi- nase coefidiente de recalque do sistema (k,,. ‘= 0 efeito desteutivo do tifego & representadio pelo niimero de solicitagées previstas das cargas por eixo durante o periodo de projeto; essa forma, calcula-se, para cada tipo de eixo (eixo simples, fixo tandem duplo ¢ eixo tandem triplo), 0 nlimero de solicitagoes previstas de cada carga, no final do periodo de projeto; s, carregadeiras, guindastes, dotados de pneumaticos FICHA TECHNE 11 COMO CONSTRUIR, + caleulam-se as tensoes de tragd0 na flexio na borda transversal da placa de concreto, através de abacos especificos para cada tipo de ‘+ determinam-se os consumos de resisténcia a fadiga do concreto promovidos pelas cargas solicitantes, para uma determinada espes- sura-tentativa de placa; = a espessura necessiria de concreto simples seri aquela que Gonduzira um consumo de resistencia a fadiga (CRE) maximo de 100 por cento. No caso de pisos industriais submetidos a0 trifego de Yeiculos especiais,tais como empilhadeiras, carregacdleiras, guindas- tes etc,, dotados de pneumsticos inflaveis, podem ser utilizados os procedimentos descritos na ET 52, Nessa publicacto so mostrados 1 dbacos desenvolvidos por Carvalho e Rocha Pitta, que permitem (0 dimensionamento de pisos de concreto para qualquer tipo de veiculo especial que atenda as seguintes condigdes: * conter somente eixo simples, de rodagem simples ou dupla; ou ser © eixo simples do veiculo o que conduza a maior tensio de tragao 1a flexao;, ‘ rodagem composta por pneumticos inflaveis. Os bacos abrangem dois tipos de eixo simples (de rodagem simples ‘ede rodagem dupla, veja Figura 1); para o caso de rodagem simples ttilizam-se trés abacos e para o.caso de rodagem dupla existem cinco grupos de trés abacos cada um (15 abacos). ‘Tratando-se de empilhadeiras de rodas macicas (poliuretano, ago etc.), recomenda-se o emprego diteto da Carta de Influéncia n* 6, conforme detalhado por Pickett e Ray = 3.2 Cargas estaticas Cargas uniformemente disteibuidas Na ET 52, 08 procedimentos de cileulo de pavimentos rigidos submetidos a cargas uniformemente distribuidas so devidamente pormenorizados, Baseiam-se no estud técnico publicado por Hetényi, Fundamentado nas seguintes hipoteses: + aplaca de concreto € elastica, isotrOpica, homogénea, de espessura constante; ‘a fundacao se comporta como um liquido denso e caracteriza-se pela proporcionalidade entre a pressao exercida num certo ponto © 2 deformacao corespondente nesse ponto. A constante de proporcionalidade ¢ o médulo de reacao ou coeliciente de recalque; * a placa de concreto é tomada como uma viga de grande largura, para efeito de simplificagio de calculo. Calculam-se as tensoes méximas de tracdo na flexdo, considerando asituagdo mais desfavordvel de carregamento, conforme exemplificado na Figura 2. Utlizam-se trés 4bacos para o dimensionamento, em fungao do comprimento adotado para as placas de concreto; os Abacos foram desenvolvidos para comprimentos de placas (L) jguais 44m, 5 me 6 metros. A ET 52 exemplifica detalhadamente 0 procedimento de cilculo mencionado. Cargas concentradas (ou de montante) Nos casos de pisos industriais de conereto submetidos a cargas concentradas, denominadas cargas de montante, transmitidas pelo ema de apoio ou “pernas” das prateleiras, dimensiona-se a estrutura do pavimento de modo que as tensdes oriundas do ‘earregamento (tensio de traglo na flexio, de compressio ¢ de cisalhamento) mantenham-se dentro de limites adequados de segu- ranga, O método adotado € 0 proposto pela Portland Cement Association, dos EUA, adaptado e detalhado na ET 52. (Cangas lineares [As cargas lineares transmitidas aos pisos sto fungao da forma de tempilhamento de determinados produtos, como € 0 caso das bobinas dde co, alguns tipos de lingote de aluminio etc., ou, entao, das ccaracteristicas dos paletes utilizados. No dimensionamento de ut ppiso industrial submetido a cargas lineares langa-se mao dos crtérios ;propostos por Sheri e K”onig, apresentados de forma mais detalhada hha ET 52, A Figura 3 ilustra esse tipo de carregamento, em que as ‘cargas lineares distribuidas (Q..) abrangem toda a largura da placa. ‘© parimetto representativo da capacidade de suporte da fundacao_ €0 médulo de compressibilidade (Es) - admite-se a teoria do s6lido \Veiculos especiais - eixos simples a tres ony ra . ) Twi TSEMETER. | : ia Agee are oie doors Sia [= 2x Campin igi de raconteur 22S SUBS preter meu roe Pe apne ean a etn deli eee pees one Calcite oo Fig. 1 SinnmesctSce snare aunt de raaiue da funda (Pan) comerimera dala (n) Fi sspessur de parade coer n) 4 Seprentecescaregad cx scan) “opments canegese ca cm) Fig.2 c= Comormeno a eam] Fen, Sze” | elistico para o subleito tipo de solo. Calculam-se os momentos fletores miiximos & as tensdes de tragio na fexio maximas, a partir das coordenadas de carregamento eda rigidez (es do sistema placa-fundacao (Ks), conforme pormenorizado na ET 52. FICHA ‘cujos valores sto estimados em funcio do Pisos industriais de concreto Projeto geomeétrico svn de plans, com indeng dos ties de unas de pvimeta) 8) Tipo 1unta longitudinal {e construed, de encaite, ‘com bares de ligand ') Tipo 1B-Junta longitudinal de constrogao, de encaixe, ‘sem barras de ligacdo Tipo Savunta do oxpanséo, ‘som baras de tanstoréncia orate 4) Tipo 3B-Junta de expansdo, ‘am encontos do piso com outa estuturas (FS osama) atrial de enchmaro (FS ovsmia) ‘elite tera do oncinerto 4, Projeto geométrico ET piso industrial de concreto tem peculiaridades que o tornam um caso particular dentre os pavimentos rigidos. Esses pavimentos est20 Sujeltos 20 aparecimento de fissuras transversais ¢ longitudinais, provocadas pelas variagdes volumétricas do concreto e pela combi- hacio dos efeitos do empenamento restringido das placas ¢ das Solicitagoes de carregamento, O controle desse fendmeno é impres- Cindivel, pois influi diretamente na durabilidade, na qualidade do rolamento e na capacidade estrutural do concreto, sem falar no aspecto estético da superficie © projeto geométrico de um piso industrial compreende entio 0 detalhamento dos tipos ¢ espagamentos das juntas necessérias a0 controle do fissuramento causado pelos fendmenos acima citados, conforme mostra o exemplo pritico detalhado a seguir: 4.1 Exemplo pratico Elaborar o projeto geométrico de distribuiga0 das placas de um piso industrial com as seguintes caracteristicas: * espessura de placa = 18 em; + resistencia caracteristica do concreto A tragio na flex f.4,), igual 245 MPa: tb-base granular com 15 em de espessura; *utlizago de papel betumado entre a sub-base ¢ a placa de conereto; + a tea a ser pavimentada ¢ totalmente confinada por baldrames, & ccoberta e nao ha ventos canalizados; * trifego pouco intenso de empilhadeiras eves, sem ditegao preferencial nem forcada; €fornecida a planta baixa da drea a ser pavimentada, com detalhes de colocacio dos pilares (P), baldrames (B) e fundagdes especiais para maquinario (Fs, ® existéncia de cargas estiticas de empilhamento; * variagio méxima prevista da temperatura no conereto, At = 17°C Solugao Nas Figuras 4 e 5 sdo detalhados, em planta ¢ em corte, respect mente, as posigdes e os tipos das juntas empregadas. As regides hhachuradas em torno dos pilares deverao receber uma armadura distribulda descontinua, conforme mostra a Figura 6. As placas hachuradas receberto uma armadura distribuida descontinua, con- forme mostra a Figura 7 Comentarios sobre a solucio adotada io foram adotadas baras de transferéncia nas juntas transversais de retracio (ver Figura 56), fi que as cargas moveis, representadas pelo {rifego de empihadeiras pequenas e de pouca capacidade de carga, nnio sto intensas nem canalizadas. Entretanto, para aumentar ttansferéncia de carga naquelas juntas, optou-se pela adogio de placas mats curtas, de comprimento igual a 5 metros ‘As barras de ligacao foram colocadas nas duas primeiras juntas longitudinais de construgao, nos dois lados do pavimento, com 0 objetivo de dar maior rigidez ao sistema, impedindo a possivel Ocorrencia de deslocamentos horizontais que possam afetar a estrutura (ver Figura 5). Nas ntas longitudinais intemas dispen- Sam-se as barras de ligacao (ver Figura 5 b). E importante observar o isolamento dos pilares, baldrames © fundagdes de méquinas, em relagao a0 pavimento, Utiizaram-se, conforme se vé, dois tipos de junta de expansio (ver Figuras 5.4 ese) ‘ armaduta distribuda, colocada em volta dos pilares quando se tsa junta de expansio do tipo 3b (ver Figura 6), serve para impedir a ocorréncia de fissuras induidas pelas arestas existentes ‘no pavimento. Observasse ainda a existéncia de placas armadas devido irregua ridade evidenciada de suas formas geométricas superficiais, Essas placas (hachuradas) sto armadas conforme detalhe mostrado na Figura 7. Nota: Se fosse necessirio adotar barras de transferéncia nas juntas transversais de retragio, essas seriam do tipo 2 B, colocadas conforme Figuras 8 e 9. TECHNE 11

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