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un HOMEM: OBJETO OU SUJEITO PARA SKINNER? ‘NILZA MICHELETTO ‘TEREZA MARIA DE AZEVEDO PIRES SERIO” Pontificia Universidade Catélica de Sao Paulo Uma antiga e bastante difundida critica ao behaviorismo radical de Skinner refere-se a concepsao de homem que estaria implicita nesta perspectiva, Parece ser primordialmente com esta critica que Skinner se preocupa em About Behaviorism (1974/1976) e as diversas maneiras nas quais ela pode se manifestar séo apresentadas na introdug&o deste livro. Em Richelle (1981) pode-se encontrar também uma interessante apresentagio de manifestagées desta ‘™esma critica, Colocada em sua forma mais simples, esta critica afirma que homem nio ¢ visto como agente, como ser ativo, capaz de imprimir diregdo a suas agSes, a sua vida. Isto é, que o homem no é visto como sujeito. Ao contritio, seria ele objeto do controle do ambiente, recepticulo de influéncias, passivo, meto reflex de determinagdes externas e alheias a ele. Como um coroltio desta concep, a sociedade, a comunidade humana e os grupos sociais teriam como caracteristicas basicas a disciplina, a ordem, o controle, a previsibilidade. A corganizagio da vida social se resolveria na regéncia monstona de recompensas punigdes. E nosso objetivo, neste texto, destacar algumas afirmages de Skinner que indicam que, se se pretend manter a critica, ela precisa, no minimo, de maior sustentagio. Sem fazer uma anilise exaus dos textos de Skinner - e neste sentido esta exposigao nio se pretende conelusiva - indicaremos alguns aspectos da con- cepeio skinneriana, nao necessariamente novos ou recentes, que parecem se con- trapor a esta critica, Neste sentido, o texto pretende muito mais colocar elementos pata a discussio da concepgio de homem implicita no behaviorismo tadical. ‘Como a critiea centra-se na suposigdo de que o homem é visto como objeto em contraposigio a um homem sujeito, iniciaremos nossa anilise abordando sucintamente alguns dos significados que o termo sujeito pode ter. \ Facuidde de Pscclogin, Departamento de Métodese Ténica, Laborde Pscologla Experimental ‘Rear Cardoso de Aieida, 986 - Pedzes- Si Paula -SP- CEP 05013, © As roferéncias dos textos de Skinner indleam, nesta orem, a data original de publcagéo ¢ a data da ubliasio consulta, qual a publeagt consti no fora original Temas em Psicologia (1993), N*2 is {| wy 2 Uma primeito significado do termo sujeito que pode ser identificado nfo vincula este termo exclusivamente ao homem, O termo sujeito pode ser usado para se referira qualquer coisa que tenha existéneia porsi mesma, seja umna planta, _. sentidosignifica singularidade. Cada homem seria original, diossineritico. Neste caso nem cabe a questio da possibilidade deste sujeito ser conhecido, a nio ser por si mesmo. ‘Como um pensador contemporineo, Skinner deveri dialogar com estes significados do termo sujeito. Um didlogo que procura criticar todos estes signifi- cados como fundamento, resultado ou implicagio do estudo do comportamento humano. Em nossa opiniio, Skinner, 40 desenvolver seu sistem labora uma concepgiio d termo Sujeito apontado: forigem, nic é livre (no set de que néo édeterminado), nao éde uma natureza ee dos demais fenémenos e nem contém em si duas naturezas distintas; 0, hhomem est submetido a leis universnis e & passivel de ser conhecido, j ‘Skinner parece se ineluir numa tendéncia contemporinea de dissolugio dosujeitosem que isto implique anegagao de uma especificidade humana. Dentro desta tendéncia, sujeito é vista. como relacio: é istorque fundamenta se nao todas, algumas das negagées citadas. Dizer que Skinner se insere nesta tendéncia oO homem antag nos, 0) homem nao é algo que existe por si mesmo, no ‘| Temas em Psicologia (1993), N#2 1B fica que nao é ele o tinico, nem o primeiro a adotar o significado do termo sujelto como relagio, mas que ele o desenvolve de forma peculiar. Procuraremos, a seguir, indicar algumas proposigdes de Skinner, relacionadas a este significado do termo sujeito, que sustentam sua concepeao de hhomem e Ihe dio peculiaridade. A primeira e mais bisica proposigio skinneriana que pode ser diretamente telacionada com a concepgiio de homem é.a do conceito de operante Nio deve pairar divida sobre a caracterizagao que Skinner faz desta relagio) homem-ambiente. Apesar do proprio autor nio deixar sempre explicito 0,” significado deste conceito e nao se referit aele sempre do mesmo modo, existem |), Passagens significativamente claras que podem inclusive compensar esta © “esllagio™ Desde oinieo, Skinner caracterza 0 compertamento ie compe a fy; relagio operante como aquele que produz conseqiiéncias e, exatamente por isso, \ \/ tais consegiéneias nio poderio ser nunea “incidentais” (1935). A importincia 0!" Is desta caracterizagao esté no termo prodizr; ele indica que o comportamento é 7.” it ‘vel § gue produzira aquilo que, a faz urte de seus deferminante: de outra maneira, a conseqi depende do comportamento ¢ o determina. A telagdo temporal entre os dois elementos (comportamento conseqiiéncia), tio enfatizada por Skinner, e que pode ter dado origem a uma compreensio limitada do conceito de operante, pode (ou talvez deva) ser vista ‘como umna limitagao perceptual do organismo que age. Talvez o tinico ou o mais forte critériojindicio que o organismo tenha para identificar algo eomo conseqiiéncia de seu comportamento seja a relagio temporal entre 0 comportamento € 0 que acontece depois dele. Segundo Skinner, ha uma falha no processo de condicionamento operante, possivelmente em decorréncia da evolugao da espécie: 3 “Oprocesso possivelmente evoluix porque o comportamento foi Jortalecido quando tinha importantes conseqiiéncias para 0 individuo e para a espécie. Entretanto, 0 processo néo poderia evar ent conta.a maneira como ocomportamento produziu suas consegiléncias. Era suficiente que as conseqiiéncias se seguissem mesmo apesar de serem produzidas por varias e diferentes coisas realizadas. O condicionamento ocorre quando as consegiténcias reforgadoras se seguem por alguma razdo, qualquer que seja ela.” (1988b/1991, p. 107). Este mesmo aspecto ¢ por ele abordado, em outro texto, de forma até mais contundente: ““Certas inadequagées na evolugao do condicionamento Temas em Psicologia (1993),

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