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syz017 Histrico, sim! Mas anda ‘insual’?— Critica em Musica Historico, sim! Mas ainda ‘inusual’? ‘Ao mesmo tempo em que se satida o 17° Concerto Oficial da Orquestra Sinfénica de Porto Alegre, é intrigante observar que os adjetivos recebidos na midia porto alegrense 0 trataram como ‘inusual' e ‘histérico’, Mostra-se ainda mais inusitado se levarmos em consideragao que a cidade possui um tradicional curso de composigao, de onde sairam compositores premiados e aclamados em festivais de miisica contemporanea no Brasil; que é a sede do Grupo de Musica Contempordnea de Porto Alegre, que se apresenta com frequéncia em concertos; que ja abrigou importantissimos festivais como 0 Encontro de Compositores Latino-Americanos (ENCOMPOR) ou 0 Contemporanea RS. Mas como uma andorinha nao faz verao, se conclui que essas aproximagdes com os modernos ou contemporaneos musicais nao foram suficientes para criar o hdbito da apreciacdo desse tipo de repertério. Dai que o conservadorismo de nossa cidade foi capaz de fazer com que um repertério quase cinquentao fosse considerado histérico e, pelo ineditismo, inusual. Pois esse momento musical nao poderia ter vindo de maos mais apropriadas: 0 compositor e maestro Anténio Borges Cunha. Através dele, a Orquestra Sinfénica de Porto Alegre mostrou rara competéncia e comprometimento. No programa, Jeux vénitiens, de Witold Lutoslawski; Lontano, de Gyorgy Ligeti; e 0 Concerto n°, para piano e orquestra, de Dmitry Shostakovich Jeux vénetiens, composta em 1960/61, havia sido apresentada uma Unica vez pela OSPA, em 1984, quando o seu diretor artistico era o saudoso maestro Eleazar de Carvalho. Composta para orquestra de camara, é considerada como o ponto de virada estilistica do compositor pela utilizagao do principio da aleatoriedade, inspirada no Concerto para piano € orquestra de John Cage. No entanto, sua aleatoriedade nao envolve a improvisagao nem a liberdade de os musicos escolherem o que ou quando tocar, ja que tanto as alturas quanto o material ritmico das passagens aleatérias s4o especificados. A sua aleatoriedade 6 observada na coordenagao ritmica entre as partes em relagao ao conjunto, gerando uma sobreposigao de blocos texturais, chamado de contraponto aleatério. Portanto, trata-se de uma composigao extremamente plastica, aproximando coneeitos de uma pintura abstrata da dimensao aural da musica. A orquestra apoderou-se da obra com total propriedade e foi possivel observar a qualidade musical do conjunto. A sequéncia do programa trouxe a estreia de uma obra de Gyorgy Ligeti: a sua orquestral micropolifénica Lontano. Uma estreia extremamente tardia para uma orquestra que se pretende atual, jé que é uma composigao de 1967, mesmo ano que viu surgir a minimalista Violin Phase, de Steve Reich, ou o oratério Dies irae, em meméria as vitimas de Auschwitz, de Krzysztof Penderecki hpeiieriicasmmusica wordpress.com /2013!1001storco-sim-mas-sind-inusuallcommant-page-tifeomment-2 w sor? Histrco, sim! Mas snda‘inusul”?— Cram Musica Trata-se de uma obra caleidoscépica, onde as cores sonoras penetram-se, combinam-se, metamorfoseiam-se, criando uma alternancia de densidades. Mais ainda, em Lontano, Ligeti se vale de gestos longos e lentos, criando uma nuvem sonora que, com o passar do tempo, se dissipa ou se adensa. O procedimento aqui utilizado, onde clusters sonoros deslizam e lentamente se desenvolvem, jd havia sido empregado por Ligeti em Atmospheres (1961), no Requiem(1963-65), ou em Lux aeterna (1966). Segundo o compositor, “a complexa polifonia das partes individuais é corporificada no fluxo harménico-musical, no qual as harmonias nao mudam repentinamente, mas emergem uma na outra”. Pois mesmo que tenha sido uma estreia tardia, foi, sim, histérica. A orquestra mostrou maturidade para a obra, mostrou-se envolvente e atenta ao regente. ‘Apés um pequeno intervalo, foi a vez do ja conhecido Concerto n°, para piano e orquestra, de Dmitry Shostakovich, tendo como solista a pianista Catarina Domenici e 0 trompete obligato de Elieser Ribeiro. O resultado manteve as expectativas, com uma interpretagao envolvente, de certa dose de flexibilidade, o que melhor salientou e definiu os momentos de lirismo, de sarcasmo, de ironia. Neste momento do programa, pode-se observar a cumplicidade entre solista, maestro e orquestra com entradas precisas e nuances bem definidas. Foi, de fato, uma oportunidade histérica que espero se tore mais frequente e que nos distancie das consideragées do ‘inusual’. Um repertério diferenciado, com artistas competentes e merecido pela cidade de Porto Alegre. Neste 17° Concerto Oficial da Orquestra Sinfénica de Porto Alegre ficou demonstrado que espago para isso ha. Guilherme Goldberg Musico/Musicélogo Professor do Bacharelado em Ciéncias Musicais da UFPel hpeiieriicasmmusica wordpress.com /2013!1001storco-sim-mas-sind-inusuallcommant-page-tifeomment-2

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