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TJRN

PJe - Processo Judicial Eletrônico


Consulta Processual

30/11/2017

Número: 0853142-90.2017.8.20.5001
Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Órgão julgador: 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Natal
Última distribuição : 15/11/2017
Valor da causa: R$ 1000.0
Processo referência: 0837954-28.2015.8.20.5001
Assuntos: Concurso Público / Edital
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes
Tipo Nome
EXEQUENTE MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
EXECUTADO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
13200 15/11/2017 13:02 Cumprimento de sentença Petição Inicial
285
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
MINISTÉRIO PÚBLICO
EX-39a PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NATAL

EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA


COMARCA DE NATAL

AÇÃO CIVIL PÚBLICA N.º 0837954-28.2015.8.20.5001


PARTE AUTORA: Ministério Público Estadual
PARTE RÉ: Estado do Rio Grande do Norte

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO


NORTE, pela 70º Promotor de Justiça de Natal, no uso das atribuições
concernentes ao acompanhamento das políticas de execução penal
desenvolvidas pelo Estado do Rio Grande do Norte, e especialmente ao
acompanhamento de questões envolvendo a compatibilidade, a adequação e a
regularidade do quadro de pessoal penitenciário, inclusive quanto ao
recrutamento e treinamento de servidores (Resolução n.º 004/2017 – CPJ), vem,
com base nos artigos 536 e 537 do Código de Processo Civil, requerer

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

contra o ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa jurídica de direito


público, CNPJ 08.241.788/0001-30, representado pela Procuradoria-Geral do
Estado, com endereço para intimações na Avenida Afonso Pena, n.º 1155, Tirol,
Natal/RN, em razão dos seguintes fatos e fundamentos:

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I.- RELATÓRIO

01. Trata-se de ação civil pública em que, em 26 de janeiro de 2017, o


juízo dessa 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Natal proferiu sentença
julgando parcialmente procedente a demanda para condenar o Estado do Rio
Grande do Norte a, no prazo de seis meses, nomear e dar posse a quinhentos e
trinta agentes penitenciários, com prévia realização de concurso público (Eventos
9035329 e 9145639) e, posteriormente, homologou acordo entabulado entre as
partes em que o Estado do Rio Grande do Norte se comprometeu a conferir
celeridade ao processo administrativo aberto para a deflagração do concurso
público tendente à seleção de novos agentes penitenciários, adequando-o ao
novo quantitativo de cargos decorrente da sentença (cargos já vagos + novos
cargos) e observando o prazo máximo para a homologação do concurso no dia 29
de setembro de 2017 e para a publicação do ato de nomeação dos aprovados no
dia 2 de outubro de 2017 (Evento 9145639).

02. Embora com certo atraso, o Estado do Rio Grande do Norte realizou
o concurso público até a sua última fase, qual seja, o curso de formação, como se
pode ver do sítio <http://www.idecan.org.br/getConc.aspx?key=bxdbMAISNtY
pV4=>, restando apenas a divulgação do resultado da prova objetiva referente ao
curso, a homologação do concurso e a nomeação dos aprovados.

03. Ocorre que, por força de atos praticados pelo Tribunal de Contas
Estadual no Processo n.º 9180/2017 – TC em 8 de novembro de 2017 (decisão
monocrática) e 14 de novembro de 2017 (ratificação em plenário), o Estado do
Rio Grande do Norte pretende suspender a homologação do concurso até o
julgamento definitivo daquele processo, o que, todavia, desrespeita os direitos
fundamentais ao acesso à justiça, à vida e à segurança pública.

04. Assim, não resta outro caminho ao autor da ação civil pública senão
buscar o Poder Judiciário para fins de obter o cumprimento das obrigações de
fazer reconhecidas em sede de sentença transitada em julgado.

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II.- FUNDAMENTOS

05. Em termo jurídicos, a situação estampada no presente cumprimento


de sentença é bastante simples.

06. O Poder Judiciário condenou o Estado do Rio Grande do Norte à


realização de concurso público para o provimento dos cargos vagos de agente
penitenciário, o que foi posteriormente ratificado em acordo também chancelado
judicialmente.

07. Após o trânsito em julgado da sentença e uma vez deflagrado o


concurso, o Tribunal de Contas Estadual instaurou o Processo n.º 9180/2017 para
apreciar a legalidade do concurso público, culminando por determinar que o
concurso não fosse homologado, com base nas seguintes justificativas: a)
ausência de estimativa do impacto orçamentário-financeiro das nomeações no
exercício de 2017 e nos dois exercícios subsequentes; b) ausência de
comprovação de que os custos com o curso de formação e das nomeações têm
previsão orçamentária, considerado o crédito suplementar aberto pelo Decreto n.º
26.713/2017; c) ausência de comprovação de que a despesa com as nomeações
não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo da Lei de Diretrizes
Orçamentárias do exercício de 2017; d) ausência de autorização expressa, na Lei
de Diretrizes Orçamentárias de 2018, para as nomeações.

08. Como se vê, o Tribunal de Contas Estadual deu um passo


demasiadamente largo ao apreciar a legalidade do concurso público(1) e, com
isso, da própria sentença judicial que determinou e/ou chancelou a sua
realização, como se lhe fosse permitido desautorizar o cumprimento de decisões
judiciais e até mesmo rescindir a coisa julgada.

09. Vale salientar que o nosso sistema jurídico lida com a lógica de que
todos os fundamentos jurídicos capazes de influenciar uma determinada decisão

1 Em tese, o Tribunal de Contas Estadual até poderia aplicar multa ou outra sanção ao
gestor público na hipótese de inobservância de regras orçamentárias e financeiras, mas nunca
determinar a suspensão de um concurso cuja realização foi objeto de decisão judicial.
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judicial são considerados superados a partir do respectivo julgamento, somente
podendo ser novamente opostos em sede recursal. Não é por outro motivo que o
artigo 508 do Código de Processo Penal determina que “Transitada em julgado a
decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e
as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do
pedido”.

10. Em outras palavras, não cabe ao Estado do Rio Grande do Norte,


quer por vontade própria que por provocação do Tribunal de Contas Estadual, se
valer de fundamento jurídico já superado no processo judicial para modificar, ao
seu talante, o conteúdo da sentença transitada em julgado.

11. A pretensão de suspender o concurso público somente seria


possível mediante a utilização das vias adequadas para a impugnação de
decisões judiciais (recurso, ação rescisória ou ação anulatória de acordo), sendo
de todo extravagante no nosso cenário jurídico que um ato administrativo (ainda
que de cunho fiscalizatório) venha desautorizar um ato judicial.

12. O Estado do Rio Grande do Norte, que já vinha em atraso no


cumprimento da obrigação de fazer que lhe foi imputada judicialmente, vem agora
suspender a homologação do concurso e a nomeação dos aprovados, postura
essa que atenta contra o próprio Estado Democrático de Direito e a dignidade do
Poder Judiciário, que são pilares do nosso modelo constitucional.

13. Como se sabe, o princípio do acesso à justiça, plasmado no artigo


5º, inciso XXXV, da Constituição exige a efetividade e a concretude das decisões
judiciais.

14. Por sua vez, o Código de Processo Civil estabelece que é dever das
partes e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo cumprir
as decisões judiciais com exatidão e não criar embaraços à sua efetivação (artigo
77, inciso IV), além de que, na hipótese do cumprimento de sentença que
reconhece a exigibilidade de obrigação de fazer, autoriza o juiz a determinar, de

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ofício ou a requerimento, todas as medidas necessárias para a efetivação da
tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente (artigo
536).

15. Em resumo, a postura do Estado do Rio Grande do Norte ao preferir


a observância da decisão do Tribunal de Contas Estadual no Processo n.º
9180/2017 em detrimento da sentença transitada em julgada na Ação Civil
Pública n.º 0837954-28.2015.8.20.5001 não tem respaldo jurídico.

16. Mas é no campo fático que o descumprimento da obrigação de fazer


imposta e/ou chancelada judicialmente se mostra mais grave.

17. Não se pode esquecer o pano de fundo da ação civil pública: o caos
no sistema penitenciário norterriograndense, que, além de estar oficialmente
reconhecido através dos Decretos n.º 25.017/2015, n.º 25.508/2015, n.º
25.924/2016, n.º 26.350/2016, n.º 26.694/2017 e n.º 27.265/2017, atingiu
dimensões superlativas quando das rebeliões e confrontos ocorridos na
Penitenciária Estadual de Alcaçuz e na Penitenciária Estadual Rogério Coutinho
Madruga em janeiro de 2017, cujo resultado foi a morte de 26 presos [outros 16
permanecem desaparecidos], a sensação generalizada de insegurança no
território estadual e a transmissão global das imagens de barbárie e caos, que
podem ser resumidas nas cabeças degoladas empunhadas como troféus e no
churrasco de partes de cadáveres humanos.

18. De lá pra cá, o único fator que vem impedindo a ocorrência de novas
tragédias no nosso sistema prisional é o emprego da Força-Tarefa de Intervenção
Penitenciária (FTIP), organizada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública,
que, porém, não se presta a atuar a indefinidamente, máxime pelos custos
envolvidos e pela necessidade em outras unidades federativas.

19. Aliás, a atuação da FTIP na Penitenciária Estadual de Alcaçuz e na


Penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga foi autorizada em janeiro de
2017 pelo período de 90 dias, sendo prorrogada em abril por 30 dias, em maio por
mais 30 dias, em julho por mais 90 dias e em outubro por mais 30 dias. Frise-se
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que tais prorrogações vêm sendo justificadas pelo Estado do Rio Grande do Norte
no tempo necessário para a realização do concurso público e a nomeação dos
aprovados, o que é contraditório com a decisão de suspender a homologação do
concurso.

20. E, se realmente concretizada a saída da FTIP a partir do dia 23 de


novembro de 2017, sem nenhuma expectativa de nomeação dos novos agentes
penitenciários, o sistema prisional estará sujeito à repetição das cenas ocorridas
no começo do ano, com o agravante de que, agora, o número de presos na
Penitenciária Estadual de Alcaçuz e na Penitenciária Estadual Rogério Coutinho
Madruga é maior(2).

21. Ademais, os presos de facções rivais agora dividem a Penitenciária


Estadual Rogério Coutinho Madruga, embora em celas diferentes, o que somente
é possível em virtude da atuação dos agentes penitenciários dentro dos pavilhões
e da internalização de procedimentos para com os presos.

22. É dizer, a paralisação do concurso público e, consequentemente, a


inviabilidade das nomeações dos novos agentes penitenciários é um fator que
coloca em sério risco a estabilidade do sistema prisional, propiciando a ocorrência
de novas rebeliões e de novos sacrifícios da vida de agentes penitenciários e
presos, da segurança da população e da integridade física dos estabelecimentos
prisionais.

23. Não se trata de um mero temor, mas de uma previsão factível diante
de um cenário de facções criminosas em guerra, superlotação carcerária e
insuficiência de agentes penitenciários.

24. Nessa quadra, impõe-se a indagação: o que vale mais, no nosso


ordenamento jurídico, os direitos fundamentais à vida e à segurança pública,
decorrentes da normalidade do sistema prisional, que somente é possível através
de sua estruturação, conforme tutelado na ação civil pública; ou o respeito a

2 Isso se deve ao fechamento de Centros de Detenção Provisória e à admissão de [mais]


presos provisórios naquelas unidades.
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regras orçamentárias e financeiras supostamente inobservadas, conforme
tutelado no processo de apreciação de legalidade do concurso público?

25. A resposta já foi dada e está estampada no trânsito em julgado da


sentença judicial, que, por força do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição, não
pode ser prejudicada sequer por lei, que dirá por ato administrativo, seja do
Tribunal de Contas seja do Estado do Rio Grande do Norte.

III.- CONCLUSÃO

26. EM FACE DO EXPOSTO, o Ministério Público requer o


cumprimento da obrigação de fazer encartada na sentença proferida na Ação Civil
Pública n.º 0837954-28.2015.8.20.5001 e, para tanto, a expedição de ofício ao
Presidente do Tribunal de Contas Estadual para que se abstenha de praticar atos
que criem embaraços à efetivação da decisão jurisdicional, como também ao
Governador do Estado e ao Procurador-Geral do Estado para que cumpra com
exatidão a obrigação de fazer imposta e acordada judicialmente, dando
seguimento ao concurso público para o provimento de cargos de agente
penitenciário, homologando-o ao seu final e nomeando os aprovados, com
urgência, haja vista a expiração dos prazos estabelecidos no termo de acordo
homologado judicialmente.

27. Segue, em anexo, cópia do Processo n.º n.º 9180/2017 – TC


e da Portaria n.º 898 do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública.

Natal/RN, 14 de novembro de 2017.

VITOR EMANUEL DE MEDEIROS AZEVEDO


Promotor de Justiça

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