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cee NO ATLARTICOS ao «CF 0 Trato dos Vivente A363 Tov S.REIP:, LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO O trato dos viventes Formagiio do Brasil no Atléatico Sul Séculos xvi e xvi mt Copyright © amo Lai Felipe de Alene cape sore nen, cmm a piu da arta 0 centro (Gast Os ut cane) 8, le ie be dean van Kes. igo, ‘le Pirshotheknhen Ae Photek Inc matic Masi lana Carbo Malina enw cn none BIGLICTES# SEDO FEDERAL ene becta wos teen setieas eae fae hn Dantas Pig de Aug do ae de Si Pl ap «ea de ch etal ‘Gc 19h 198) ernie Mecano ge : : bev Tor oe dios Sets So eserados 3 a anc aa 25332 cugueca— So Palo “Tene sys Feu) usa ‘ew compminsltsscombr Sumario Preficio 1. Oaprendizado di colonizacao, Caminhosdos cslonos: Reparos da Metropole, Oescopo do comércio pormgues Instrumentos de politica colonial, Demand ¢ oferta, qual €0 "primum mobile” 2. Aficanos, “os essravosde Guin” Ventos negreiros : Sio"Tomé—Ladorat6rio tropical... Congnistaecatequese na Africa Central 5, Lisboa, capital negreira do Ocidente ‘Comescado thero-americana Cativoseeseravos Experimentos subatlinicos, Preadores, assertistas, governadores bangueitos » “ 44 x 6 7 Guerra e coméreio no Adlintico Sul Luanda, © Rio de Janeiro e 0 tio da Prata, Mercadoria aglutinante e mercadoria ancilar Um comércio triangular? -4-indios, os “escravos da terra” Otrabatho compulséro indigena Owificode indios, As duasfrentes militares portuguesas Entraves estruturais 20 trato continental dos indios A.unificagio microbiana do mundo. Doutares eempiricos A cescravidio africana e o desencravamento da Amazinia. (O desenraizamento do cativona Affica ena América A reprodugio social dos escravos. 5. Aevangelizacio numa s6 colénia. (Oantiescravisme dos santos sacramentos. Aceorianegreirajesuita ‘Descimento” de indios erafico de africanos A bipolaridade do escravismo luso-brasflico. 6, As guetras pelos mercados de escravos. ciclo do trato de indios Peruleiros ebancdeirantes. (Oespansionismo atlantico flurminense. Ocativeiro indigena e o autonomismo paulista A guerra pelos africanos. Nassau: “principe humanista” enegreiro, Produtores coloniais versus acionistas metropolitanos. Contra-ataque hiso-brasilicoem Angola Luanda, abatalha estratégica do Adlantico Quem reconguistou Angola? Refluso do trifico de indios Palmares ¢ paradioxo de Domingos Jonge Velho Adequacio espacial e adequaco social da colonizaca0 195 109 ng 16 a 5 ny 3 18 ma 8 5 162, 168 70 186 a5, aus 231 238 238 2 7-Angolalorastica A mandioca nos tumbeiros enasferasaficanas Zimibo, jimbo. Ocondominio husitano, angolistee brasilico na Affica Centeal Ajomada dos negreiros ‘Ajuda inaciana na reconquista de Angola Os sucessores de Salvador de Siem Luanda. Joo Fernandes Vieira em Angola, ‘A maravilhosa conversio da rainha nga ‘Congo cismitico Negreiros eo desbarato do Congo. Ambuila:abatalha tricontinental ‘Visicas brasilicas nas guerrasaficanas ‘Quartelada em “anda epuntaladas no Recife Continuidade basilica na Africa Cental ‘Onowo pacto politico entre a Corte eos guesteiros ultramarinos A.conquista dosmercados afticanos pela cachaca Ovinho,asaguardemtes europtiase o malaio, Avitoria da cachaca Ostumaleos dosjeribiteiros Ascontas do trato bilateral Brasi-Aftica : Concusio — Singslaridade do Brasil Areafirmaco a poiicade etorias ma Africa Central portuguesa © repovoamenta da América portuguesa O gado comtacsincios Ainvengo do mulato Apéndice r—LufsMendes de Vasconcelos e seus filhos Apéndice 2—O atastecimento das capitanias do Norte pelas capitanias do Sul durancea guerra holandesa Aptndice 3— A familia de Salvador Cotrea de Sé e Benevides, Apéndice 4A alegada proclamacio de Amador Bueno em 1641 Apéndice 5 —Notas sobre alguns expedicionarios portugueses e brasilicos da ferca-tarefa de 1648 que reconguistou Angola. 25 256 259 22 266 a BSey 294 207 302 307 au 3 a4 Bs 37 330 336 340 345 387 36 365 367 369 Apéndice 6 — Armas de fogo manuais no Atlintico sescentista portugues “Apéndlice 7 — Sobre o ntimero de escravos sidos de Angola e entrades 10 Brasil nos séculos3xv1€ XV Notas. Abreviaturas utilzadas. Fontes e bibliografia ciradas. Crbdito de iustragbes indice onomastico. Sobre o autor. ws 381 am ea} 50 5 535 Prefacio “Forma¢io do Brasil no Atlintco Su": oleitor que bates 0 lho na capa do lio estardntrigao com o subsitlo, Querdizerentio queo Braslseformou ora dio Bras F exatamente isso tléo paradoxo histérico que pretendo demonstrar nas piginasseguintes. Nossa histria colonial nif se confide coma continuidade do nosso terité= vio colonial Sempre se pensou o Brasil fora do Brasil, mas de maneiraincomplea: ‘pals aparece no prolongamentoda Europa, Ora, aidéiacxposta neste livro€dife- rente relativamente simples a colonizagio portuguese, fundada no escravismo, eu higara um espaco econdinico e socal bipolar, englobando uma zona de pro- dugoescravisa sua no litoral da América do Sul euma zona de veprodugio de cscrmoscentradaem Angola. Desde o final do sécato x, surge um espagoatert- torial, um arquipélago lus6fono composto ds enclaves da América portuguesa e das feitorias de Argola, £ da que emerge 0 Brasil no século xvi, N4o se trata, 20 longo dos capitulos, de estudar de forma comparativaascolbnias portuguesas no [Atlantico. O que we quer, a0 contro, é mostrar como essas duas partes unidas pelo oceano se conpletam num sé sistema de exploracio colonial cuja singular dade anda marca profundamente o Brasil contemporineo. Daas palavtas a mais sobre o método € 0 estilo, Por razbesexplicadasadhan- te, os nimerosdoteifico negrero so problemniticas para os sécules x4 xv. Na circunstincia,a andlise quantitativa da deportagiio de afticanos paraa América s6 _ganha verdadeiro alcance nos séculos ville xx, periodo que serd objec de um pré- ximollvro, Assim, asindicagSes estatisticas apresentadasrestringem se A distribui- ‘ko dos principais agregados ¢ &s evolugdes mais nitidas no tempo e no espaco atlintico. A propésito do modo de eserever, é preciso notar que o territério do historia dor da Coldnia deve abranger toda a extensao da lusofonia, da documentagio ultramarina onde esto registrados os contatos entre as culturas que nos forma am, Além do mais, numa cultura tradicionalmente oral como a nossa, rm meio privilegiado de patentear'a presenca do passado consiste em dar relevo a perenida- de daspalavras, Daspalavras, das cologuialismos — ainda vives agora—grafados nos textos, na linguagem das estradas, das ruelas e das praias brasileiras. Por isso, da leitura dos documentos e dos textos seiscemtistas, retomei expresses que enca deiam a narrativa das oito partes do livro. [Nas quebradas do mundo, hi um momento de verdacle em que muitas coisas se definem, Meu momento de verdade sucedeu em 1972-3, quando recebi no esteangeiro a noticia vinda do Brasil de que trés de meus companheiros de Universiclace (de Brasflia ede Aix-en-Provence) tinbam sido assassinadospela dita dura, Entendera sua morte, entender o Brasil era o que queria fazer dali em dian: re, €0 que tento fazer neste livro, dedicado 4 meméria sempre presente de Heleny Guariba, Paulo de Tarso Celestino e Honestino Guimaries Paris —Sio Pasilo Luiz Felipe de Alencastro 1. O aprendizado da colonizac¢ao' Lisboa, agosto de 149, D. Manuel esceeve ao papa anunciando 0 retorno de ‘Vasco da Gama da primeira viagem maritima 3 india e outorga-se um novo titulo “Rei de Portugal e dos Algarves ’aquém e @além-mar em Aifica, Senor de Guiné «eda Conquista da Navegacio e Comércio da Etipia, Arabia, Prsiae(.. In Respaldaconasbulsponsifcaisenascaravelas,¢-reipodiase trbuirosenhoriodos tratos teritrias longinguos que se conestavm a Europa. Tudo se cornari bem mais complicado quando a Metspoletentar pérem pritica apaliicanoulteamar [Ancorados em és continentes as voltas com comunidades exbticas, os con: aqustadores bérccs enveredam por caminhos vésios para se asegurar do contre le dos nativos e do 2xcesente econdmico das conquistas. Nem sempre esses carn hos entroncam ra rede mercantile no aparelho institucional reinol. Por isso, antes mesmo do término doséculo dos Descobrimentos (1450-1550), as metropo- lesteorientamas correntesultcamarinasa fim de colonizar seus proprioscolonos. “Entre gente remota edificaram, novo reino que tanto sublimaram’, canrava ‘Camies. Poréma, como 0 “novo reino” d'além mar se juntou a0 “velho reino ‘europeu? Comoa gente lusitana dominow a "gente remota” ea fez trabalhar para elie? “Mesmo nos lugares onde arelagio de forgas se afigurava favorivel 2osinvaso- ses europea, nio adiantava cair matando: a eseravidio e outras formas de traba-

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