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zainzr2019 Branqueamento de capitais—a experiéncia portuguesa ..- Orem dos Advogados: Branqueamento de capitais — a experiéncia portuguesa Branqueamento de capitais - a experiéncia portuguesa e algumas questées suscitadas pela proposta da 3* Directiva © branqueamento de capitais(1) , lavagem de dinheiro, reciclagem de bens ou dissimulagao de coisas ou direitos, abrangendo as fases de colocagdo, de transformagao e de integracao, visa ocultar os lucros do crime base e os objectos com ele ilicita e culposamente apropriados, criando a aparéncia de legitimidade do patriménio adquirido ou acrescentado (2) Dado que a montante (3) se encontra sempre um crime base grave(4) © a jusante o crime de branqueamento, o que se pretende & a antecipagao da tutela penal pela especial gravidade do crime precedente. Mas também so finalidades da estatuicéo e da punic&o a defesa contra a contaminagao da economia licita @ a concorréncia desieal(5) € a manutengao da credibilidade e confianga nas instituigdes, designadamente comerciais e financeiras, mas nao s6(6). ‘Sem que se esquecam, obviamente, os objectivos da realizagao da justiga(7) ; da protecgéio da democracia, da salvaguarda das préprias estruturas do Estado e do inconfessado mas manifesto interesse deste no confisco dos lucros do crime.(8) ‘A curta histéria do branqueamento em Portugal tem duas fases bem distintas, uma prévia(9) e outra posterior(10) & transposi¢éo da segunda Directiva, e tem sido sobretudo fruto do impulso da legislagao intemacional(11) e ndo de qualquer vontade pré-ordenada e esclarecida do legislador nacional. ‘Chamamos a especial atengdo, em primeiro lugar, para 0 novo art? 368-A do Cédigo Penal(12) E, sobretudo, alertamos para a importancia dos artigos 2°,(13) 3°, (14) 20°15), 29°(16) , 30°(17) , 32°),(18) 50°19) © 51°(20) da Lei n° 11/2004, de 27 de Marco. Impdem-se agora especiais deveres ao advogado(21) . hitpssiporta.oa,pordenvcomissoes-e-nsttutestrienios-anterioresicomissae-dos-deitos-humanostrenio-2005-2007/comunicados-e-regulame 115: zainzr2019 Branqueamento de capitais—a experiéncia portuguesa ..- Orem dos Advogados: Em sintese, e para abreviar, impdem-se ao advogado o dever de identificacéo, ou seja, a verificagao, registo € conservacao da identidade dos clientes; e, para o que ora nos interessa, o dever de comunicagao das operagées suspeitas(22) , ou seja, a obrigagao de dentincia de operagées suspeltas ou de transacgées indiciadoras de branqueamento. Nao, porém, de todas as operagées(23) , nem em todas as circunstancias(24) , como veremos, sob pena de ser posto em causa um dos basilares princfpios deontolégicos do secular oficio da advocacia ‘Até que ponto(25) tais deveres, tal como esto gizados, nao conflituam com a deontologia propria da profissdo, com as regras legais e éticas fundamentais do exercicio da advocacia? Esta ¢ a questo fulcral do presente. © advogado é obrigado a guardar segredo profissional(26) no que respeita a todos os factos cujo conhecimento Ihe advenha do exercicio das suas fungdes ou da prestagdo dos seus servigos, tal como estatul o art? 87° do Estatuto da Ordem dos Advogados.(27) Nao se esqueca que “a obrigagao do segredo profissional(28) existe quer o servigo solicitado ou cometido a0 advogado envolva ou nao representacdo judicial ou extrajudicial, quer deva ou ndo ser remunerado, quer © advogado haja ou ndo chegado a aceitar e a desempenhar a representacao ou o servico"(29) E 6 um facto que, conforme dispéem os n°s 1 ¢ 3 alinea a) do art? 114° da Lei da Organizagao dos Tribunais Judiciais, aprovada pela Lei n° 3/99, de 13 de Janeiro que alterou a Lei n° 38/87, de 23 de Dezembro, se assegura aos advogados as imunidades necessérias ao exercicio do mandato e regula o patrocinio forense como elemento essencial & administragao da justica’ e que ‘a imunidade necesséria ao desempenho eficaz do mandato forense assegurada aos advogados pelo reconhecimento legal e garantia de efectivacao, designadamente do direito & protecgao do segredo profissional"(30) © advogado tem o estrito dever de reserva absoluta(31) , isto & nao esté obrigado ao dever de comunicagao, esta isento da obrigagao de participagdo ou ndo tem o dever de dentincia, bem pelo contrario(32) , em qualquer das seguintes situagées: ttpssfportal.oa.ptordemicomissoes-e-institutostrenios-anteroresicomissao-dos-iitos-humanostenio-2005-2007lcomunicados-e-regulame 2128 ain2r2019 Branqueamento de captais—a experiéncia portuguesa ..- Ordem dos Advogedos 1. quando tenha obtido informagdes no contexto da avaliagao da situagao juridica do cliente, ou no ambito da consulta juridica, incluindo o aconselhamento relativo a maneira de propor ou evitar um processo(33) , € 2. quando exerga a sua missdo de defesa ou representacdo do cliente num proceso judicial, ou a respeit de um processo judicial, isto quer as informagées sejam obtidas antes, durante ou depois(34) do proceso Ou seja, enquanto o advogado age como tal, enquanto pratica actos préprios da advocacia, tal como estéo definidos na Lei n° 49/2004, de 24 de Agosto(35) , nao esté obrigado ao dever de comunicagao ou de dentincia, nem sequer ao Bastonério, Pode, porém, discutir-se e perguntar-se se no decurso da elaboracao de contratos ou da pratica de actos preparatorios tendentes & constituigéo, alteragao ou extingao de negécios juridicos nao esta obrigado o advogado, em caso de suspeita, a denunciar operagdes suspeitas? Estamos em crer que nao. ‘Ais ao momento em que surge a suspeita, 0 advogado est no Ambito da consulta juridica e, por isso, isento da obrigagao de dentincia, A partir do momento em que surge a suspeita ha o dever de recusa da realizagdo da operagao, e de abstengao de aconselhamento(36) , sob pena de considerar-se o advogado comparticipante, co-autor ou cimplice do crime de branqueamento, Mas no se pode exigir ao advogado, nesse momento, a deniincia do seu cliente, porquanto, até af, no extravasou do mero contexto da avaliagao da situagao juridica do cliente ou, se se quiser, do exercicio do mandato forense(37) . Diferentemente, quando o advogado age, néo como advogado(38) , mas 1. como mero consultor econémico ou fiscal, fora da previséo dos servigos conexos com o aconselhament © patrocinio ou a defesa; 2. como mero responsdvel ou, melhor, titular de érgéo de administragdo ou de gestéo de sociedade, designadamente representante de off-shore; ou 3. como mero empresario ou cidadéo, no esta, nem pode estar, abrangido por tal isengao do dever de dentincia das operagdes suspeitas. Ainda assim, e tendo em conta a sua qualidade pessoal de advogado, e no propriamente qualquer acto praticado no exercicio da profisséo, $6 terd 0 dever de dentincia das operagées suspeitas ao seu ttpssfporta.oa.pvordemicomissoes-e-insttutostrenios-anteroresicomissao-dos-iritos-humanostenio-2005-2007Icomunicados-e-regulame... 3726

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