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Copyright © 1996 by Juarez Dayrell 1999 - 1 reimpr. 2001 - 2¢ reimpe Exe livro ou parte dele nto pode ser reproduzido por {qualquer meio sem autorizagao eserita do Editor Dayrell, Juarez M961 _Malltiplos Olhares sobre Educacio ¢ Cultura/ Juarez Dayrell, organizador. - Belo Horizonte: Ed. UEMG, 1996. 194 p. - Humanitas) 1. Sociologia Educacional. 1. Dayrel, Juarez. 0, Titulo pp: 370.19 Cou: 37.0154 Catalogacio na publicagio: Divisio de Planejamento & Divulgaco da Biblioteca Universita - UPMG ISBN: 85-85266-12-0 COLABORADORES: Sindicato Unico dos Trabalhadores de Ensino Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais EDITORACAO DE TEXTO. ‘Ana Maria de Moraes PROJETO GRAFICO E CAPA Glia Campos (tanga) REVISAO DE TEXTO E NORMALIZACAO ‘Olga Maria Alves de Sousa REVISAO DE PROVAS Alexandre Vasconcelos de Melo ‘Ande Luiz Gomes PRODUGAO GRAFICA, ‘Warren de Marlac Santos FORMATACAQ, Marcelo Belico UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor: Fruncsco César de $4 Barreto Vice-Reitort: Ans Lica Almeida Gazzola EDITORA UFMG Av. Ant6nio Catlos, 6627 - Biblioteca Central - ska 405, ‘Campus Pampulha - 31276-901 - Belo Horizonte/MG Tel: GD) 3499-4650 + Fax: GD 3499-4768 Eamall: Edtora@bu.ufmgbe www editora.ufmg be ‘CONSELHO EDITORIAL, Ant6nip Lulz Pinho Ribeiro, Beatra Rezende Dantas, Carlos Antonio Leite Brando, eloisa Nara Murgel Starling, Luiz Otivio Fagundes Amaral, Maria Helena Damasceno © Silva Megat, Romeu Cardoso Guimaraes, Silvana Maria Leal Céser, Wander Melo Mind (Presidente) Cristiano Machado Gontijo, Leonardo Barci Castros, Lucas José Bretas dos Santos, Mark Aparecids dos Santos Paiva, Mara das Gragas Santa fir, Mauro Nunes Vier, Newton Bignosto de Souza, Reinaldo Marinano Marques, Ricardo Castinhcina Pinta Figueiredo A ESCOLA COMO ESPACO SOCIO-CULTURAL PRIMEIROS OLHARES SOBRE A ESCOLA Analisar a escola como espago sécio-cultural significa compreendé-la na tica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensio do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens ¢ mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos ¢ adolescentes, enfim, alunos ¢ professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e hist6ricos, presentes na hist6ria, atores na hist6ria, Falat da escola como espago sécio-cultural implica, assim, resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a constitui, enquanto instituigio. Este ponto de vista expressa um eixo de anélise que surge na década de 80. Até entio, a instituiglo escolar era pensada nos marcos das andlises macro-estruturais, englobadas, de um lado, nas “teorias funcionalistas’ (Durkheim, Talcott Parsons, Robert Dreeben, entre outros), e, de outro, nas “teorias da reprodugio" (Bourdieu e Passeron; Baudelot ¢ Establet; Bowles ¢ Gintis; entre outros). Essas abordagens, umas mais deterministas, outras evidenciando as necessérias mediagdes, expdem a forca das macroestruturas na determinagio da instituigao escolar, Em outras palavras, analisam os efeitos produzidos na escola elas principais estruturas de relagdes sociais que caracterizam a socie- dade capitalista, definindo a estrutura escolar ¢ exercendo influéncias sobre 0 comportamento dos sujeitos sociais que ali atuam. A partir da década de 80, surgiu uma nova vertente de anilise da instituiglo escolar, que buscava superar os determinismos sociais ¢ a dicotomia criada entre homem-circunstincia, agio-estrutura, sujelto-objeto. Essa vertente se inspira num movimento existente nas ciéncias sociais, direcionado por um paradigma emergente que, no dizer de SANTOS (21987, p.43), tem como caracteristica a superacao do conhecimento dualista, expresso na volta do sujeito as ciéncias: “O sujeito, que a céncia moderna langara na diéspora do conhecimento irracional, regressa investido da tarefa de fazer erguer sobre si uma nova ordem cientifica.” O reflexo desse paradigma emergente é um novo humanismo, que coloca a pessoa, enquanto autor € sujeito do mundo, no centro do conhecimento, mas, tanto a natureza quanto as estruturas estio no centro da pessoa, ou seja, a natureza ¢ a sociedade so antes de tudo humanas. Nessa perspectiva, EZPELETA & ROCKWELL (1986, p.58) desen- volvem uma andlise em que privilegiam a ago dos sujeitos, na relagao com as estruturas sociais. Assim, a instituigao escolar seria resultado de um confronto de interesses: de um lado, uma organizagio oficial do sistema escolar, que “define contetidos da tarefa central, atribui funcdes, organiza, separa ¢ hierarquiza 0 espago, a fim de diferenciar trabalhos, definindo idealmente, assim, as relagdes sociais”; de outro, os sujeitos — alunos, professores, funciondrios, que criam uma trama propria de inter- relagdes, fazendo da escola um processo permanente de construgio social. Para as autoras, em “cada escola interagem diversos processos sociais: a reproducao das relagdes sociais, a criagiio e a transformacao de conhecimentos, a conservagao ou destruigio da meméria coletiva, © controle ¢ a apropriagao da instituigdo, a resistencia e a luta contra o poder estabelecido”. (Idem). Apreender a escola como construgio social implica, assim, compreendé-la no seu fazer cotidiano, onde os sujeitos ndo so apenas agentes passivos diante da estrutura. Ao con- trario, trata-se de uma relago em continua construcio, de conflitos ¢ negociagdes em fungao de circunstincias determinadas. A escola, como espago sécio-cultural, 6 entendida, portanto, como um espago social proprio, ordenado em dupla dimensio. Institucionalmente, por um conjunte de normas e regras, que buscam unificar e delimitar a aco dos seus sujeitos. Cotidianamente, por uma complexa trama de relagdes sociais entre os sujeitos envolvidos, que incluem aliangas € conflitos, imposig’io de nomas ¢ estratégias individuais, ou coletivas, de transgressio e de acordos. Um processo de apropriagio constante dos espagos, das normas, das priticas e dos saberes que do forma 2 vida escolar. Fruto da aco reciproca entre 0 sujeito e a instituiglo, esse processo, como tal, é heterogéneo. Nessa perspectiva, a realidade escolar aparece mediada, no cotidiano, pela apropriagao, elaboragio, reelaboragio ou repulsa expressas pelos sujeitos sociais. (EZPELETA & ROCKWELL, 1986). Desta forma, 0 processo educativo escolar recoloca a cada instante a reprodugio do velho e a possibilidade da construgiio do novo, ¢ nenhum dos lados pode antecipar uma vitGria completa e definitiva. Esta abordagem permite ampliar a anilise educacional, na medida em que busca aprender (0s processos reais, cotidianos, que ocorrem no interior da escola, a0 mesmo tempo que resgata o papel ativo dos sujeitos, na vida social e escolar, 137

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