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© 2015, Os autores ©2015, Editora UFMG Este livro ou parte dele ndo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autoriaagio escrita do Editor C822 Corpo, arte e tecnologia / Eneida Maria de Souza, Anténio Luiz Assungdo, Melissa Goncalves Boéchat, organizadores. «Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015, 368 (Humanitas) ‘Textos apresentados no Il Coléquio Critica da Cultura, realizado pelo Programa de Pés-Graduacdo em Letras da Universidade Federal de Sio Joao del-Rei (UFS). Inclui bibliografia, ISBN: 978-85-423-0139-7 1, Ensaios brasileiros. 2. Cultura. 3. Aree tecnologia, 4 Teoria critica, I. Souza, Eneida Maria de. Il. Assuncio, Anténio Luiz. IIL Boéchat, Melissa Gongalves. IV. Série. DD: 809 (DU: 82.091 Elaborada pela Biblioteca Professor Antonio Luiz Paixio ~ FAFICH-UFMG DIRETORA DA COLEGAO Heloisa Maria Murgel Starling COORDENACAO EDITORIAL Michel Gannam ASSISTENCIA EDITORIAL Eliane Sousa DIREITOS AUTORAIS Maria Margareth de Lima e Renato Fernandes COORDENACAO DE TEXTOS Maria do Carmo Leite Ribeiro PREPARACAO DE TEXTOS Lira Cérdova REVISAO DE PROVAS Ana Teresa Campos PROJETO GRAHICO Cassio Ribeiro, a partie de Gloria Campos ~ Mang FORMATAGAO E MONTAGEM DE CAPA Alessandra Magalies IMAGEM DA CAPA Imagem sem titulo extraida do livzo Retratos pintados, org. ‘Martin Pate, Otegon, Nazraeli Press, 2010. (Colegio de fotos de Titus Riedl) PRODUGAO GRAFICA Warren Marilac EDITORAUFMG ‘Av. Antonio Carlos, 6.627 CAD Il Bloco Ill Campus Pampulha’ 31270-901 Belo Horizonte-MG_ Brasil ‘el. +55 31 3409-4650. Fax +55 31 3409-4768 vwww.editoranfmg.com.br editora@uting.br CLAUDIO GUILARDUCI WALTER BENJAMIN E 0 CORPO NA INFANCIA 0 “sem-jeito mandou lembrancas” ‘A meu ver, o mundo que de dia povoava essas janelas ndo era rigorosamente distinto daquele que a noite se punha & espreita para me assaltar em sonhos. Por isso soube logo a ‘que me ater quando deparei com aquela passagem no livro de contos infantis, de George Scherer, que dizia: “Quando 4 adega vou descer/ Para um pouco de vinho apanhar/ Eis, que encontro um corcundinha/ Que a jarra quer me tomar” Walter Benjamin, Rua de mio tinica BENJAMIN E A LITERATURA DE INFANCIA A partir de 1918, Walter Benjamin inicia com sua esposa, Dora Sophie Pollak, uma colegao de livros infantis. Scholem afirma que essa colegio foi “realmente lancada gracas ao entu- siasmo de Dora por esse género. Dora também gostava muito de sagas e de contos de fadas. Ela e Benjamin costumavam presen- tear-se nos seus aniversétios |...) com livros infantis ilustrados, e davam caca particularmente aos exemplares ilustrados & mio”." Além disso, Benjamin, a partir de 1926, inicia seu projeto de tradugdo do Proust. Para uma visio panoramica dos escritos benjaminianos que privilegiaram a infancia, podemos citar os textos Velhos livros infantis (1924), Visdo do livro infantil (1926), Velhos brinquedos: sobre a exposi¢ao de brinquedos do “Markiche Museum” (1928), Histéria cultural do brinquedo (1928) e Brinquedos e jogos: observacdes sobre uma obra mo- numental (1928). ‘Walter Benjamin também escreveu textos com prosa auto biogréfica relatando suas experigncias em Berlim e Paris. Estes foram publicados no Brasil com o titulo Rua de mao tinica’ e em Portugal foram traduzidos como Rua de sentido tinico. Ao analisé-los, Willi Bolle’ sugere o titulo Contramdo. Em Rua de ‘mio tinica, cujos textos sio divididos em trés partes - “Rua de mio tinica”, “Infancia em Berlim por volta de 1900” e “Ima- gens do pensamento” -, é possivel perceber 0 papel do jogo na infancia Benjamin relata em Infancia em Berlim as lembrangas ¢ im- pressdes das ruas, dos monumentos hist6ricos, dos feriados, dos passeios na cidade (jardim zoolégico e parque de diversdes), relata as férias na praia, as visitas & casa de parentes, os dias em que esteve doente, as novidades tecnolégicas (telefone, cinema), 08 brinquedos da época, as escolas, 0 armario que se transfor- mava em um esconderijo, a busca por guloseimas na despensa de sua casa, a escrivaninha de seu quarto, os personagens que ele observava nas ruas (prostitutas e mendigos) e, com isso, a descoberta das diferencas sociais.* Os textos de Infancia em Berlim foram escritos e dedicados a seu filho, Stefan Benjamin, que teve com Dora. Para Bolle” esse livro é uma tentativa de preservar a meméria da cidade de Berlim antes de sua destruigao, pois foi escrito “nos ilti- mos momentos da precéria Repiblica de Weimar, em 1933, quando 0s nazistas conquistam o poder e Benjamin se vé obri- gado a se exilar da sua cidade natal”. Benjamin esta, naquele momento, com 40 anos de idade, e 0 desenvolvimento desse texto ocorre apés a primeira tentativa de suicidio que acon- teceu no vero de 1931 (a segunda tentativa ocorrerd um ano depois). Por razdes teéricas e também pessoais, o primeiro manuscri- to dessa obra foi quase totalmente abandonado, ¢ o texto que 14

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