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Ano XXVII- agosto/2016 nº299 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

ZEZÉ DI CAMARGO
& LUCIANO
Por dentro da captação e mixagem
do novo disco da dupla

WAVES BUTCH
VIG VOCALS AO VIVO
GRAVAR
O plug-in cinco em um POR QUE
S EM
modelado para voz e útil OS SHOW ?
TAS
MULTIPIS
para muito mais (PARTE 2
)

VCAS NO LOGIC X
Perguntas e respostas que PRODUTOR FONOGRÁFICO
podem facilitar a sua vida Uma profissão muito além do áudio
A

Luzes da final do Campeonato Brasileiro de League of Legends emocionam ciberatletas


CEN
Z&
LU

Edição Multicâmera no Media Composer: Múltiplos ângulos sem dor de cabeça áudio música e tecnologia | 1
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 1
IssN 1414-2821
EdItorIAL
Áudio Música & tecnologia
Ano XXVIII – Nº 299/agosto de 2016
Fundador: sólon do Valle

Direção geral: Lucinda diniz -

NO CLIMA OLÍMPICO
lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio teixeira
Consultoria de PA: Carlos pedruzzi

CoLABorArAM NEstA EdIÇÃo


Eis que o tempo passou voando e agora já nos vemos verdadeiramente mer- André paixão, Cristiano Moura, Enrico de
gulhados na maior festa do esporte mundial – as Olimpíadas, evento que pela paoli, José Carlos pires Junior e renato
primeira vez acontece na América do Sul. E aí, curtindo muito com o controle Muñoz.
remoto na mão e com o home theater falando alto? Está in loco mesmo,
sentindo o calor da torcida e ouvindo os múltiplos sons, vindos de todos os Foto de capa: Beto Neves
cantos do mundo, dessa verdadeira Torre de Babel em que o Rio de Janeiro
se transformou durante os jogos? Seja qual for a sua resposta, “que beleza” rEdAÇÃo
é a nossa. Aproveite o momento, porque é tudo realmente incrível mesmo, e Marcio teixeira - marcio@musitec.com.br
sabe-se lá quando voltaremos a gritar, em alto e bom som, que a Olimpíada é rodrigo sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
nossa. Se acontecer de novo, provavelmente nem eu, nem nenhum de nossos redacao@musitec.com.br
leitores, ainda caminhará pela Terra. cartas@musitec.com.br

Mas, você, aí no estádio, acompanhando a marcha atlética... Tá chata a pro- dIrEÇÃo dE ArtE E dIAGrAMAÇÃo
va? Abra a revista na nossa matéria de capa! Nela, você ficará por dentro Client By - clientby.com.br
da captação e da mixagem do novo disco de Zezé Di Camargo & Luciano, Frederico Adão e Caio César
que apostaram num som mais enxuto, sintonizado com o que eles faziam no
começo da carreira. E ainda há um belo de um box em que os engenheiros Assinaturas
Grimaldi Gomes e Pepeu Fonseca contam detalhes sobre o processo de trans- Karla silva
crição de todos os tapes gravados pela dupla. São mais de 300, que contam assinatura@musitec.com.br
a história musical dos dois filhos de Francisco ao longo das últimas décadas.
Distribuição: Eric Brito
Então você está quase deitado no sofá, não aguentando mais o futebol de
Neymar & Cia, que querem porque querem a medalha de ouro justamente Publicidade
numa hora em que fica claro que só o Brasil ainda leva o futebol olímpico a Mônica Moraes
sério? Então, anime-se: abra, no seu tablet, a nova edição do Notícias do monica@musitec.com.br
Front. Nela, Renato Muñoz apresenta a segunda parte da série “Por que todo
técnico de PA ou monitor deveria gravar os shows em multipistas?”, que es- Impressão: Gráfica stamppa Ltda.
clarece coisas e incentiva o leitor a ter, por diferentes motivos, os registros
dos seus trabalhos ao vivo. Áudio Música & tecnologia
é uma publicação mensal da Editora
Música & tecnologia Ltda,
Conseguiu ingresso pro badminton mas, apesar de estar aí, curtindo o dia olím-
CGC 86936028/0001-50
pico, não entrou no clima do esporte? Confira a análise que o Cristiano Moura
Insc. mun. 01644696
fez do plug-in Butch Vig Vocals, da Waves. O plug-in, que leva o nome do bate-
Insc. est. 84907529
rista do Garbage e produtor do Nevermind, do Nirvana, apesar de feito para o
periodicidade Mensal
tratamento da voz, pode ser útil de diversas formas diferentes.

AssINAturAs
E se falamos batante de esportes olímpicos, vale destacar que a matéria de
tel/Fax: (21) 2436-1825
capa do caderno Luz & Cena trata do espetáculo de luzes que aguçou emo-
(21) 3435-0521
ções na final do Campeonato Brasileiro de League of Legends. Sim, os eSports
Banco Bradesco
vieram pra ficar, e seu filho ou sobrinho, pode apostar, já tem suas equipes
Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
preferidas nesse universo. Daqui a umas duas décadas, vai saber, um dos
moleques da sua família poderá estar em uma olimpíada, de joystick na mão,
Website: www.musitec.com.br
lutando por uma medalha para o Brasil. A conferir.

Não é permitida a reprodução total ou


Boa leitura!
parcial das matérias publicadas nesta revista.

Marcio Teixeira
AM&t não se responsabiliza pelas opiniões
de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
2 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 3
26 32 César santos & Duocondé
Amigos se juntam e gravam disco
em universidade mineira
rodrigo sabatinelli
Zezé Di Camargo
& Luciano
por dentro da captação
36 Always on The Road
Em entrevista, diego soares revê os dez anos de
e mixagem do novo estrada que o levaram de roadie a diretor de palco
rodrigo sabatinelli
disco da dupla
rodrigo sabatinelli
40 Desafiando a Lógica
VCAs no Logic X: perguntas que não calam,
dúvidas que não acabam e respostas que
podem facilitar a sua vida também
André paixão
14 Em Tempo Real
Fernando Narcizo
Marcio teixeira
44 Produtor Fonográfico
uma profissão muito além do áudio
José Carlos pires Junior
16 notícias do Front
por que todo técnico de pA ou monitor deveria
gravar os shows em multipistas? (parte 2) 64 Lugar da verdade
Engordar a mix (ou a master)
renato Muñoz Enrico de paoli

22 Plug-ins
Waves Butch Vig Vocals – o plug-in cinco em
um modelado para voz, mas útil para muito mais seções
Cristiano Moura
editorial 2 notícias de mercado 6
novos produtos 10 índice de anunciantes 63

54
60
capa
media composer
League of Legends Brasil – Luzes da
Edição Multicâmera no Avid Media Composer
final do Campeonato Brasileiro de LoL
Múltiplos ângulos sem dor de cabeça
emocionam público e ciberatletas
por rodrigo sabatinelli por Cristiano Moura

produtos .................................. 50

EM FoCo .................................... 52

4 | áudio música e tecnologia


FINAL Cut .............................................. 92

áudio música e tecnologia | 5


nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

noTÍCIAs dE MErCAdo

LotAÇÃo MÁXIMA Nos trEINAMENtos


MIX sECrEts NA AEs BrAsIL EXpo 2016
Pela quarta vez na AES Brasil Expo, Enrico De Paoli apre-

divulgação Mix secrets


sentou na edição 2016 dois de seus treinamentos – Mix
Secrets Ears e Mix Secrets Audition – em salas que tive-
ram lotação máxima. No Mix Secrets Ears, Enrico falou
sobre a importância e a diferença que faz a dinâmica em
uma mix para que elementos entrem com o volume impac-
tante. Enrico também debateu o fato de que em algumas
mixes tudo soa baixo, enquanto mostrou na prática sua
técnica para que cada elemento soe alto e presente.
Enrico De Paoli levou
treinamentos à AES Brasil Expo
Já o Mix Secrets Audition foi o primeiro de seus treinamen-
tos em que Enrico não mostrou técnicas de mixagem na

divulgação Mix secrets


prática, mas sim audicionou mixagens dos próprios partici-
pantes, debatendo com a plateia os melhores caminhos de
mix para cada música e arranjo.

Enrico De Paoli é colunista da Áudio Música & Tecnologia há


quase 20 anos, assinando todo mês a última página da revista
Público lotou as salas que
com a coluna Lugar da Verdade. Sua discografia e treinamen-
receberam os Mix Secrets
tos podem ser conferidos no site www.EnricoDePaoli.com.

WorKsHop YAMAHA: CoNsoLEs


dIGItAIs E protoCoLo dANtE EM pAutA
Aconteceu no último dia 26 de julho, no estúdio Laredo Art, no Rio de Janeiro, mais um wokshop da Yamaha sobre Consoles
Digitais CL-QL-TF e Protocolo Dante. Mais um evento organizado pelo ENTER-Rio, o workshop teve Matheus Madeira falando
para um público de mais de 50 profissionais, que ali estavam para aborver todo o conhecimento transmitido pelo profissional.
Atentos e participativos, os presentes ao workshop
tiveram uma bela aula.
AM&t

Inaugurado no mês de junho como estúdio de en-


saio para artistas e bandas, o estúdio Laredo Art,
localizado em Jacarepaguá, passou também a ser o
local onde os profissionais do áudio se reúnem para
as chamadas Terças Técnicas, que, após a AES Brasil
2016, passaram a se chamar ENTER. Sempre orga-
nizados por Maurício Pinto, o workshop Yamaha foi
o terceiro neste novo espaço. O primeiro tratou das
mesas de iluminação MA, enquanto no segundo, re-
alizado no último dia 20 de julho, foi a vez da Penta-
cústica, por meio de Henrique Elisei, que ministrou o Público lotou as salas que receberam os Mix Secrets
workshop, falar sobre instalações elétricas.

6 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 7
noTÍCIAs dE MErCAdo

proGrAMAs EspECIAIs dE trEINAMENto dE


ÁudIo, VídEo, ILuMINAÇÃo, produÇÃo dE
EVENtos E MÚsICA ELEtrÔNICA No IAtEC
O IATEC recentemente divulgou que, em agosto, irá “facilitar atro, entre outros; Iluminação Cênica (89h), curso de forma-
ainda mais para quem tem interesse em se especializar, mas ção para técnicos de iluminação de eventos, shows, teatro, e
ainda não conseguiu se programar financeiramente”. Para isso, mais; o PET Vídeo, que é um treinamento profissionalizante
a instituição oferecerá novas formas de pagamento de seus voltado para filmagem, edição e pós-produção de vídeo; o
cursos PET (Programa Especial de Treinamento), incluindo o PET Discotecagem, que é um treinamento completo para for-
parcelamento em 24 vezes no boleto com 25% de desconto. mação de DJs; Produtor de Música Eletrônica, para formação
de compositores e produtores de música eletrônica, baseado
Entre os cursos PET com aulas iniciadas em agosto, estão: tanto na parte teórica quanto no uso de softwares auxiliares
Sistemas de Sonorização (123 horas), todo voltado para a e PET Especialista em Música Eletrônica, de formação para
área de sonorização ao vivo de shows e eventos; Produção DJs e produtores de música eletrônica.
Musical (170h), treinamento direcionado para a área de gra-
vação e produção musical, com opção de especialização com Os cursos acontecem no IATEC, unidade Centro, no Rio de
o Pro Tools ou Logic; Áudio para TV e Cinema (170h), que Janeiro, localizado na Rua Pedro I, 4, 202, Praça Tiradentes.
oferece formação em captação, pós-produção e trilha sonora Para mais informações, bem como realizar inscrições, visite
para TV e cinema; Produção de Eventos (89h), que é uma www.iatec.com.br, escreva para atendimento3@iatec.com.
formação para técnicos de iluminação de eventos, shows, te- br ou ligue para (21) 2493-9628/(21) 2486-0629.

IMAGINE BrAZIL 2016: CoMpEtIÇÃo


pArA todos os GÊNEros MusICAIs
Uma mistura de estilos musicais, somada ao ganho de experiência pro-
fissional e o contato com diferentes culturas formam o conceito do Ima-
gine, uma competição internacional de música que desembarca pela
segunda vez ao Brasil. Criado pela Jeunesses Musicales International
(JMI), maior ONG de música para jovens do mundo, e realizado pela
Organização Social de Cultura Amigos do Guri – gestora do Projeto Guri,
programa de educação musical da Secretaria da Cultura do Estado de
São Paulo, no interior e litoral do estado –, o festival abriu inscrições
gratuitas em 18 de julho, podendo os interesados se inscreverem até o
dia 18 de agosto pelo site http://br.imaginefestival.net. A participação
é permitida aos residentes de todo o estado de São Paulo, incluindo
capital, interior e litoral, que tenham entre 13 e 21 anos. O Imagine já O Imagine já acontece em dez
acontece em dez países e é um festival que permite a participação de países e permite a participação
de artistas de todos os estilos
solistas ou grupos de até oito pessoas de todos os gêneros musicais.

Nas três fases eliminatórias, todas realizadas no estado de São Paulo,


os participantes serão avaliados em quatro quesitos: qualidade musical e interpretação; comunicação e carisma; originalidade e
repertório; e preparação. A pré-seleção faz parte da primeira rodada da competição e será feita por um comitê interno da Amigos
do Guri e membros do júri. Serão analisados o formulário de inscrição e a mídia MP3 enviados pelos inscritos. Ao todo, serão sele-
cionados até 50 grupos ou artistas para competir ao vivo nas semifinais, que ocorrerão entre setembro e outubro nas cidades de
Araçatuba, Espírito Santo do Pinhal, Marília, São Carlos e São Paulo. O corpo de jurados será composto por quatro músicos profis-
sionais brasileiros, um representante da Amigos do Guri e um membro da JMI (como presidente e moderador). Eles escolherão os
dez finalistas das semifinais regionais, que irão direto para a final, de onde sairá o grande vitorioso do Imagine Brazil.

Quem vencer o Imagine Brazil 2016 (a grande final acontece no dia 29 de outubro) receberá instrumentos e equipamentos
musicais, 12 horas em um estúdio profissional para a gravação de um EP, além de participar da final internacional do Imagine
– com todas as despesas pagas pelo concurso – em 2017, concorrendo com vencedores de vários países europeus.
áudio música e tecnologia | 9
novos produtos

DIMENSÕES REDUZIDAS E POTÊNCIA NA ATTACK L206D


Um dos destaques no estande da Attack, fabricante de sinais com delicados transientes em toda a área de cober-
caixas acústicas para diversos tipos de aplicação, na AES tura. Sua potência é de 875 W RMS, é construído em Ma-
Brasil Expo 2016 foi a ultracompacta L206D, projetada deFibra, com acabamento em poliés-
para sonorizar pequenas áreas. Parte da família Vertcon, ter preto texturizado
a L206D é uma caixa de duas vias autoamplificada de alto e tela de proteção
desempenho que foi projetada para sonorização de espaços em aço com furo
reduzidos com alta performance e, de acordo com a fabri- sextavado e pin-

Divulgação
cante, excepcional cobertura. tura texturizada
preta. Mede 227
O headroom estendido para alta frequência garante res- x 600 x 374 mm e
posta plana para uma ampla extensão de 120 Hz a 20 kHz. pesa 27 kg.
A combinação de cobertura horizontal de 100º com o alto
fator de headroom proporciona detalhada resolução para www.attack.com.br

LURSSEN MASTERING CONSOLE: IK LANÇA APP


DE MASTERIZAÇÃO DE ÁUDIO PROFISSIONAL
A IK Multimedia anunciou o lançamento do Lurssen Mastering Lurssen, Reuben Cohen e o time do Lurssen Mastering, Inc. defi-
Console, o primeiro app de masterização para iPhone disponível nem a cadeia de equipamentos e oferecem os ajustes para pra-
no mercado, que permite aos músicos masterizar suas mixagens ticamente todos os gêneros, incluindo rock, country, americana,
com um modelo do console e das configurações usadas pelos pop e EDM, entre outros. Segundo a desenvolvedora, “pode-se
engenheiros do Lurssen Mastering, Inc., dizer que os segredos vencedores de
que tem base em Los Angeles, Califórnia. Grammy Award do Lurssen Mastering,
Divulgação

De acordo com a IK, a Lurssen Mastering Inc. vêm ‘cozidos’ no próprio aplicativo”.
Console é uma abordagem totalmente Os Lurssen Mastering Console para iPho-
única de masterização de áudio, que re- ne/iPad é um app universal grátis que
cria não apenas a cadeia de equipamen- opera em modo demo (sem recursos de
tos usada, mas também as interações e a exportação de áudio e com ruído inter-
influência exercida por cada processador mitente durante o playback). Usuários
em outros equipamentos da cadeia du- podem liberar funcionalidades completas
rante o processo de masterização. através das opções de compra in-app.

Os presets “Styles” criados por Gavin www.ikmultimedia.com/lurssen

CAIXA ACÚSTICA ALTO PROFESSIONAL TS112A


A Alto Professional tem novidade no merca- voz) e um driver HF 1’’ (neodímio).
do. Trata-se da caixa acústica ativa TS112A,
Divulgação

da linha Truesonic, com duas vias, falante De acordo com a fabricante, todas as caixas acústicas de duas
de 12 polegadas e que oferece 800 wat- vias Truesonic foram concebidas com versatilidade e longe-
ts Classe D. Os drivers do produto, que vidade em mente. São caixas de polipropileno durável e leve
tem alcance de frequência (-10 dB) de 53 que são montáveis em pedestais para shows de fim de semana
Hz – 20 kHz e resposta de frequência (±3 e suspensas para instalações mais permanentes. Além disto,
dB) de 70 Hz – 19 kHz, são projetados de elas têm um design trapezoidal que diminui muito a ressonân-
modo a evitar que energia seja desperdi- cia na caixa para uma reprodução de som mais verdadeira e
çada, e isso se traduz em mais do poder exata. A Truesonic TS112A é a uma solução que a marca indica
do amplificador, que trabalha para gerar para músicos e Djs, sendo adequada para locais como salões,
som, em vez de calor, dando ao alto-falan- shoppings, centros comerciais e casas de culto.
te um desempenho superior ao observado
em outros com especificações semelhantes. www.altoproaudio.com
A Truesonic TS112A apresenta um falante de 12’’ LF (2’’ bobina de www.altoprofessionaldobrasil.com.br
áudio música e tecnologia | 11
novos produtos

soFtWArE NoIZCALC ModELA CAMpo dE EMIssÃo dE ruído


O novo software NoizCalc, que surge a partir de uma parceria -lo para os ouvintes enquanto se ajusta às restrições de ruído
entre a d&b audiotechnik e a desenvolvedora SoundPLAN, usa vigentes. Para garantir que os resultados são confiáveis, o Noiz-
padrões internacionais para determinar e modelar o campo de Calc inclui todos os dados complexos relativos à adição e subtra-
emissão de ruído de um ou mais sistemas d&b. Ele obtém in- ção de ondas sonoras, incluindo informação de fase para descre-
formação do software de simulação ArrayCalc e realiza cálculos, ver os efeitos da combinação e interação dentro de um sistema
gerando snapshots que mostram a propagação sonora e respec- que consiste em

divulgação
tivos valores de atenuação para determinado cenário, levando múltiplos line
ainda em conta as condições meteorológicas existentes. Com es- arrays, subwoo-
tas ferramentas, a experiência sonora ideal é entregue de forma fers e sistemas
confiável e fiel aos corretos destinatários. de delay.

Os resultados são apresentados em uma mapa 3D de terreno, www.dbau-


mostrando a emissão calculada nas áreas que cercam as zonas dio.com
de audição da plateia. Essa representação visual exibe o desem- www.deco-
penho do sistema no campo, permitindo aos usuários otimizá- macbrasil.com

ÁudIo proFIssIoNAL pArA BroAdCAstING CoM o IKLIp A/V


A iK Multimedia já disponibilizou no mercado brasileiro o iKlip A/V, O iKlip A/V apresenta uma empunhadura grande e ergonômi-
suporte para broadcast via smartphone que permite ao usuário ca e um suporte expansível para smartphone que compartilha
capturar e monitorar áudio de qualidade profissional da mesma tecnologia do iKlip Xpand Mini e do iKlip Grip para
para seus vídeos com seu pré-amp de microfone garantir uma pegada segura. Também é possível desacoplar
divulgação

XLR integrado com phantom power. Alimentado o suporte para smartphone e substituí-lo por uma câmera de
por duas pilhas AA, iKlip A/V traz uma entrada vídeo portátil graças ao seu suporte para
XLR com 48V de phantom power, permitindo a câmera padrão. O equipamento também
conexão de microfones condensadores high-end, pode ser acoplado a um monopé ou tripé
e também apresenta um suporte embutido para graças à sua rosca fêmea padrão no lado
acoplar os mais populares receptores de micro- de baixo, tornado-o apto a capturar vídeos
fone sem fio. O iKlip A/V é também desenhado estáveis para Facebook, Periscope e Snap-
para uma experiência simplificada ao gravar com chat, entre outros.
controles de ganho de entrada, saída de monitora-
ção por fone de ouvido e saída de áudio de 1/8” TRRS. www.ikmultimedia.com

sIstEMAs dE pA proEL FrEEpACK EM duAs VErsÕEs


Já está no mercado o sistema de PA Freepack, da Proel, que do mixer, também são fornecidos dois cabos Proel com co-
é composto por um mixer ativo com todos os recursos e efei- nectores de metal jack de 1/4” para as caixas. Esse sistema
tos, incluindo um leitor de MP3 com conexão Bluetooth e duas é ideal para pequenas apresentações ao vivo.
caixas acústicas que se acoplam perfeitamente ao mixer em
um pacote no estilo bagagem, podendo ser facilmente trans- Os sistemas são disponibilizados em duas versões. O Freepack 65
portado e instalado. LT conta com duas entradas de mic/line mono; duas entradas line
estéreo; saídas Aux e Pre-Amp; amplificador de potência Class D
divulgação

Um compartimento Dual 75 W com SMPS e dois alto-falantes ativos de 3” e um tweter


na parte traseira de 6.5”. Por sua vez, o Freepack 812 (foto) oferece seis entradas
do mixer pode ar- de mic/line mono; duas entradas line estéreo; entradas de Amp e
mazenar todos os Sub Out; amplificador de potência Class D Dual 500W com SMPS
cabos de ligação e dois drivers com corneta de 1” e um falante de 8x12” elíptico.
e outros acessó-
rios. Além das www.proel.com
caixas acústicas e www.amercobrasil.com.br

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ricardo oliveira
EM tEMpo rEAL | Marcio teixeira

FernAndo
nArciZo
O
técnico de PA Luiz Fernando Narcizo de Oliveira, De vez em quando, quando ainda na Instalsom, Tuka, dono
conhecido no mundo do áudio simplesmente como da Tukasom, ia pegar caixas de som na empresa e Narcizo
Fernando Narcizo, nasceu em São Paulo há 43 sempre fazia a limpeza delas antes da entrega ao cliente.
anos. Sua lembranças mais antigas que remetem a música “Ele ficava falando para eu ir trabalhar com ele, e eu dizia
lhe falam sobre uma atração que, aparentemente, sempre que não podia... (risos) Um dia fui ver o Tuka fazendo um
existiu. “Ainda criança, eu pegava vinis da Som Livre e show do Ney Motogrosso. Quando vi aquele acabamento no
ouvia Ataulfo Alves, Altemar Dutra, Lupcínio Rodrigues e palco, fiquei mais louco ainda. Pedi as contas e fui para a
Dorival Caymmi”, diz Fernando, lembrando-se de discos Tukasom. Foi então que tudo ‘bombou’. Cada dia de trabalho
nada infantis que pertenciam à sua mãe, Dona Zilda. Na era uma verdadeira aula que eu recebia”, diz Fernando (que
época, suas tias frequentavam bailes como Chic Show, Os também atuou nas empresas Sunshine, Transasom, R4 Som,
Carlos, os do Palmeiras, onde, de acordo com palavras do Maxi Audio, Loudness e Piu Som). A partir daquele momento
próprio Narcizo, endossadas por quem lembra, o som comia ele passou a trabalhar com bandas e não parou mais.
solto. “Minha tia tinha um Polivox eu queria ouvir Tim Maia
, Commodores, Earth Wind and Fire... Sempre gostei de De lá pra cá, Narcizo já fez ou ainda faz o PA de nomes
cantar. Imitava cantores... Era aquela graça (risos)”, lembra de diversos estilos dentro da música brasileiro. A lista é
o técnico. Bem-humorado, ele revela que até hoje, quando grande: Chico César, Titãs, Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Funk
um artista não vai passar o some, ele já corre para o palco, Como Le Gusta, Paula Lima, Nando Reis, Sérgio Brito, Pau-
sempre pronto para mostrar um pouco de seu talento. lo Miklos, Itamar Assumpção, Anelis Assumpção, Arnaldo
Antunes, Art Popular, Wilson Simoninha, Max de Castro,
Em 1989, Narcizo ingressou na empresa de som Instal- Thaíde, Trio Mocotó, Jair Oliveira, Jair Rodrigues, César
som, onde começou atuando como office boy. “Eu fazia o Camargo Mariano, Mestre Ambrósio, Jorge Ben Jor, Emi-
pagamento dos funcionários do galpão, e, quando vi uma cida, Sandy e Junior, Nação Zumbi, Passo Torto, Rodrigo
mesa de som pela primeira vez na vida, fiquei alucinado”, Campos, Bixiga70, Swami Jr., Marcelo Jeneci, Metá Metá,
recorda. Daí para o trabalho com o áudio em si foi um pulo. Karina Bhur, 5aSeco, Isca de Polícia e Russo Passapusso,
Ainda na Instalsom, Narcizo se lembra de ter ido fazer o entre muitos outros. Para a cantora Céu, uma exceção:
carnaval no Rio de Janeiro, e nessa aventura teve a oprtu- Fernando fez o monitor, e não o PA. Entre os artistas com
nidade de trabalhar ao lado de nomes como Sólon do Valle, os quais Narcizo trabalha atualmente, destaque para Black
Vinicius Brasil, Chuvisco, Carlinho e Enzo Mauri. “Aprendi Alien, Criolo, Luiza Possi, Arnaldo Antunes, Elza Soares, Tó
muita coisa com eles”, afirma. Brandileone, Guilherme Kastrup e Marcia Castro.

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Já no “lado gringo” do seu currículo constam trabalhos de para eu ver a agenda e depois falar com ela. Terminada a
PA para o pianista cubano Roberto Fonseca e para a baixista reunião, saí como um louco, pulando de alegria na rua.”
Esperanza Spalding, além de monitor para Ray Charles, B.B.
King, Nina Simone, Paul Di’anno e Ten Thousand Maniacs e o Após tanto tempo na estrada, agora Fernando também
trabalho como montador para Spyro Gira e para as orques- se aventura por outra área, o da produção de trilhas. “Tô
tras de Nova York, de Israel (com Zubin Mehta) e de Munique. gostando muito. Já criei duas, com ajuda de parceiros
Na lista de eventos nos quais Narcizo já atuou, destaque para como Evaldo Luna, Ivan Teixeira e Rovilson Pascoal. O
carnavais do Rio de Janeiro (1990 a 1996), Free Jazz Festival ingresso na área tem a ver com a minha esposa (Miló
(2000 a 2003), Chivas Jazz Festival (2000 a 2003), Festival Martins), que é lighting designer e diretora técnica do
TV Cultura 2005, MTV VMB (2002 a 2011), Skol Rio 2004, espetáculo A Menina e o Sabiá, do Grupo Ares e que
Skol Beats (2003 a 2006), Festival Rec Beat (2003 a 2016), tem direção de Mônica Alla. Além de fazer a trilha dele,
Festival Reggae On The River California e Tour Europa e USA também fiz a do espetáculo Mova-se.” Também vale citar
(2000 a 2008) de Chico César. que, no mundo além-música, Fernando tem outra pai-
xão: cozinhar. Atividade que, baseada na mistura e do-
“Quando fui chamando para a primeira tour na Europa com sagem de ingredientes, tem muito a ver com a arte da
o Chico César, eu tinha 25 anos. Como o tempo passou rá- mixagem, segundo o técnico.
pido... (risos) Antes da excursão, a empresária Constanze
marcou uma reunão comigo e perguntou se eu tinha pas- Perguntado sobre o que é preciso para ser um bom técnico,
saporte. ‘Tenho, sim!’, eu disse, mas não tinha nada! Ela, Narcizo apresenta a sua receita. “Cara, o negócio é ouvir muita
então, perguntou seu eu poderia viajar em determinado pe- música , mas ouvir mesmo, e estudar sem noia”, lista ele, mais
ríodo, e eu, moleque, respondi ‘bem, primeiro tenho que ver uma vez cheio de humor. Sobre os planos para o futuro, estão
minha agenda’”, recorda o técnico, rindo muito. “Ela disse em seu mapa mixar um disco e pagar seu apartamento.

BAte-BolA
Consoles: Midas XL4 e Amek Recall Rupert Neve Plug-in: Classic Limiter 1176, da Universal Audio

Microfones: DPA SPL alto ou baixo? Na medida. Som gostoso, com aque-
la gordurinha, mas sem deixar o colesterol alto (risos).
Equipamentos: Compressor dbx 160 e Manley Vox Box
Melhor posicionamento da house mix: Sempre no
Monitores: d&b audiotechnik centro, para você ouvir o que tá rolando. Posicionada ao
lado funciona, mas não é legal. O mais chato é quando
Periféricos: Meus pedais (risos) você tá em festivais quem têm dois palcos e a organiza-
ção coloca a house no meio. Aí seu estéreo foi pro saco.
Melhor equipamento que já usou: Sistema d&b au-
diotechnik no festival Roskilde, na Dinamarca Unidade móvel: Audiomobile e Mix2Go

Última grande novidade do mercado: Consoles DiGi- Técnicos inspiração: Tuka, Armando Baldassarra, Ro-
Co e Allen & Heath berto Ramos, Victor Correa, Marcelo Salvador, Evaldo
Luna, Gustavo Lenza, Daniel Ganjaman, Buguinha Dub,
Melhor casas de shows do Brasil: HSBC Brasil, em Bruno Buarque e Victor Rice. Eu não tenho palavras so-
São Paulo bre esses caras.

Melhor companheiro de estrada: São vários. Pos- Sonho na profissão: Viajar com um baita equipamento
so citar Antônio Marques Piu-Piu, Gustavo Lenza, Ma- (risos), o que é utopia nos dias de hoje
rio Amaral, Andreas Schmidt, Gabriel Spazziani, Fes-
ta Galo, Eduardo Lemos, Renato Coppoli, Canrobert, Sonho já realizado na profissão: Ter feito som pra
Ohata, Nivaldo Costa, Paulo Seminati, Rubens Damas- muita gente boa
ceno, Paul Lewis, Gury, Nino e Dalvino Machado, além
do nosso garande amigo, o falecido Claudio Fujimori. Dicas para iniciantes: Andar limpinho! (risos) Agora,
falando sério, estar sempre atento ao que você vai fazer
Melhor sistema de som: Os da d&b audiotechnik e estudar música. Pelo menos um instrumento. Você vai
ver que a vida muda. Agora, depois de velho, estou es-
Processador: Dolby Lake tudando piano e baixo.

áudio música e tecnologia | 15


Notícias do Front | Renato Muñoz

Por que todo técnico de PA


ou monitor deveria gravar os
shows em multipistas? (Parte 2)

www.digico.biz
N
o artigo anterior eu iniciei essa série falando sobre rações de guerra, envolvendo uma grande quantidade de
o desenvolvimento dos métodos de gravação ao equipamentos, muitos deles projetados para trabalharem
vivo, começado pelos dois canais, passando por fixos dentro do ambiente controlado dos estúdios de gra-
gravadores em fita analógicos e digitais e depois por vação, começaram a se transformar em algo simples e
gravadores em HD. Falei das dificuldades iniciais e tam- corriqueiro, principalmente com a utilização dos DAW (Di-
bém de como os equipamentos e as técnicas se desen- gital Áudio Workstations) para as gravações ao vivo.
volveram no últimos anos, fazendo com que o processo
ficasse mais acessível. Com os consoles digitais tudo ficou ainda mais simples.
Agora você pode fazer uma gravação ao vivo sem um con-
Mostrei também como as unidades móveis de gravação sole dedicado exclusivamente a isso. Na minha opinião,
surgiram e se desenvolveram no mercado musical, fazen- as gravações feitas direto dos consoles de PA ou monitor
do com que as gravações em multipistas se tornassem um não devem ter uma finalidade comercial, como um CD ou
grande produto, lucrativo tanto para artistas, gravadoras DVD. Sempre precisaremos de técnicos e equipamentos
e técnicos, devido, principalmente, às melhoras tecnológi- extras para este tipo de serviço.
cas que ocorreram nestes últimos 50 anos.
Como veremos neste texto, as gravações multipistas dos
Gravações ao vivo, que eram consideradas pequenas ope- shows podem ter diversas aplicações além de um retorno

16 | áudio música e tecnologia


financeiro qualquer para a banda. Muito pode ser aprovei- sendo utilizados exclusivamente para a gravação. Só era
tado para o desenvolvimento de novas técnicas de mixa- necessário fazer as conexões necessárias entre console e
gem e de aprendizado. Veremos a seguir o que consegui- computador e toda a pós-produção poderia ser feita neste
mos realizar com esta nova realidade. mesmo computador.

grAvAÇÃo em soFtwAre Algum tempo depois, diferentes fabricantes colocaram


no mercado interfaces de áudio e softwares que possi-
Os sistemas de gravação ao vivo durante muito tempo bilitavam aos técnicos trabalharem com outros sistemas
foram baseados em equipamentos digitais que gravavam de gravação e com outros consoles também. Este pro-
em uma fita ou dentro de um HD. Estes áudios, então, cesso democratizou bastante as gravações ao vivo, não
tinham que ser transferidos para outros sistemas, que sendo mais necessário e quase que obrigatório utilizar
fariam as gravações adicionais, edições e mixagem. Ou apenas produtos das Avid.
seja, quase nunca o sistema que gravava era o mesmo
que fazia a pós-produção. Hoje em dia já é possível fazer uma gravação em multi-
pistas utilizando consoles da Yamaha, Behinger, DiGiCo,
No meio da década de 2000 o Pro Tools já era uma fer- Soundcraft, Midas, Roland etc. Ou utiliza-se o próprio con-
ramenta bastante utilizada nos estúdios de gravação, com sole com interface de áudio ou este console é facilmente
uma boa reputação e sem apresentar muitos problemas téc- ligado a uma interface de áudio que, então, manda os
nicos. Este sistema começou a ser utilizado rotineiramente áudios para o computador, que, por sua vez, pode utilizar
pelas unidades móveis de áudio espalhadas pelo mundo afo- diferentes softwares de áudio para a gravação e edição.
ra, e no Brasil também, como o sistema básico de gravação.
quAl A melhor FormA de
A grande revolução que aconteceu no mercado foi o lança-
FAZermos estAs grAvAÇÕes?
mento dos consoles digitais da Avid (Digidesign) D-Show
e D-Show Profile, que deu a possibilidade de integração
As técnicas de captação ao vivo sempre foram um pouco
entre estes consoles e o sistema Pro Tools (todos do mes-
diferentes das técnicas utilizadas nos estúdios, não inte-
mo fabricante). Ou seja, este console poderia servir com
ressando se estamos fazendo a captação do console de PA
interface de áudio para as gravações em multipistas.
ou de uma unidade móvel de áudio. A falta de tempo, por
exemplo, sempre será um problema (que normalmente
A gravação agora poderia ser feita diretamente destes
não temos dentro do estúdio), e pequenas correções de
consoles, que poderiam estar fazendo o PA, o monitor ou
posicionamento ou até mesmo a troca de microfones pode
ser feita tranquilamente.

Uma outra prática comum dentro dos estúdios é a utilização


de mais de um microfone para a captação de um determina-
do instrumento. Isto fica impraticável em cima do palco, e o
que normalmente ocorre é a utilização dos mesmos micro-
fones escolhidos pelos técnicos dos artistas. Quando muito,
alguns poucos microfones podem ser colocados junto com
os já existentes para se tentar uma sonoridade diferente.

Dentro do estúdio podemos tomar algumas


decisões, como a respeito da sonoridade
dos instrumentos ou a equalização e
compressão que iremos utilizar.
Consoles da família Quando gravamos ao vivo estas
Avid foram os decisões não são fáceis de serem
pioneiros do mercado tomadas, então, basicamente,
a trabalharem com o que normalmente se faz é gravar o
gravação ao vivo áudio sem que ele passe por qualquer
NotíCIAs do FroNt

captando muito o público) é fundamen-


Acervo r. Muñoz

tal para um bom resultado.

PAssAgem de som virtuAl


Eu escrevi este artigo basicamente para
falar de dois assuntos. O primeiro é exa-
tamente este – a passagem de som vir-
tual. Esta técnica começou a ser usada
ainda nos antigos sistemas de gravação
digital (ADAT ou DA88), mas a logística
era muito complexa. Com a introdução
dos DAW (Digital Audio Workstation) as
coisas ficaram muito mais simples de
serem feitas.

A ideia é basicamente a seguinte: o téc-


A captação para a gravação é a mesma feita para o PA nico de PA ou de monitor gravam um ou
todos os shows, e até mesmo um ensaio
tipo de processamento, saindo, então, diretamente do ou passagem de som, e depois pegam estes áudios em
pré do console para a gravação. multipistas e tocam nos seus respectivos consoles. Com
isto eles podem fazer testes de equalização, alinhamento
Isto é chamado de “direct out”, e esta configuração é de sistemas, checagem de efeitos ou até mesmo ensaiar
feita no próprio console (podemos encontrar configura- a sua mixagem sem a necessidade da presença da banda.
ções como pré ou pós equalização, pré ou pós inserts
etc.), dependendo do que o console pode oferecer. Um A passagem de som virtual também pode ser uma boa
cuidado que deve ser tomado é relacionado ao fato de oportunidade para o técnico aprimorar a sua mixagem,
que normalmente o mesmo pré do console é usado tan- músicos normalmente ensaiam diversas vezes para um
to para a gravação quanto para uma outra função do show porém, os técnicos raramente tem esta oportuni-
console (PA ou monitor). dade principalmente utilizando todo o equipamento, isto
pode ser feito após a passagem de som, utilizando peque-
Por exemplo, se estamos fazendo o PA e, ao mesmo nas caixas de referência ou até mesmo fones de ouvido.
tempo, gravando, os níveis que acer-

Acervo r. Muñoz
tarmos para a mixagem do PA serão os
mesmo para a gravação (alguns conso-
les podem oferecer controles indepen-
dentes), ou seja, a nossa atenção deve
focar em dois equipamentos diferentes
(console e sistema de gravação) rece-
bendo o mesmo nível de sinal, situação
que nem sempre é a mais confortável.

Um outro aspecto de gravação ao vivo


que deve ser tratado com muito cuida-
do é a captação da plateia. Na verda-
de, se pensarmos bem, tudo – menos
a plateia – pode ser refeito dentro do
estúdio. Ou seja, a escolha de bons mi-
crofones e, principalmente, o posicio-
namento deles (evitando ao máximo a
captação do PA e, ao mesmo tempo, Gravação do show direto do console de PA

18 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 19
NotíCIAs do FroNt

Quando se usa a passagem de som virtual para checar o vei o show pela primeira vez foi poder ver todos os canais
sistema e deixar a mixagem pronta para o show, alguns ao mesmo tempo, saber exatamente o lugar em que cada
cuidados devem ser tomados. O principal deles é que com instrumento toca e, principalmente, conseguir ouvir todos
a passagem de som virtual nós não estamos nunca ou- eles individualmente. Poder ter acesso a toda esta infor-
vindo o som dos instrumentos no palco, então na hora de mação me fez entender melhor a dinâmica do show.
escolhermos os volumes dos instrumentos na mixagem
devemos levar este fator em consideração. Desta forma pude ver como é o nível de vazamento entre
os microfones. Pude, por exemplo, ver que os microfones
Sempre uso o áudio de algum show, mas conheço pes- de pratos (usados por debaixo destes) realmente captam
soas que pediram aos músicos que tocassem de formas pouco vazamento do palco, que os microfones dos metais
diferentes seus instrumentos por um determinado perío- captam mais som de guitarra do que eu imaginei e tam-
do de tempo, como se estivessem realmente passando o bém que os microfones das vozes devem ser bem filtrados
som. Então, o técnico pode usar estes áudios para fazer para evitar a captação de frequências mais graves.

a passagem de som sem os músicos, lembrando que este


Uma coisa importante foi poder mixar as músicas den-
processo não substitui uma boa checagem com os instru-
tro do estúdio, da forma mais parecida possível com o
mento que serão utilizados.
que eu faço ao vivo, depois mandar para os músicos
ouvirem. Assim, todos podem dar opiniões sobre equi-
entender tudo o que Acontece líbrios e timbres ou sobre a mixagem como um todo.
no show APenAs com umA olhAdA Também podemos fazer mixagens com instrumentos
aparecendo mais, para que os músicos possam checar
Na minha opinião, a maior vantagem de se gravar utilizan- mais detalhadamente seu trabalho.
do um software é que nós conseguimos visualizar tudo o
que está acontecendo naquela música de uma vez só. Se Já soube de um exemplo em que a banda ensaiou sem
antes tínhamos que anotar o número de cada parte da mú- o cantor principal, e como um outro ensaio já havia sido
sica em uma folha de papel para podermos nos encontrar, gravado, o que o técnico fez foi colocar os canais de to-
agora podemos ver quando o instrumento toca ou não, sem dos os músicos em input (entrando no console) e o canal
falar, é claro, na imensa quantidade de canais disponíveis. da voz principal saindo do software de gravação. Assim
todos podiam tocar e, ao mesmo tempo, ouvir a voz que
Uma das coisas que mais me surpreendeu quando eu gra- já estava gravada, lembrando que isso pode ser feito com
qualquer outro instrumento.

o que devemos
grAvAr e o
que devemos
FAZer com os
Áudios grAvAdos
Como já foi falado, se estamos
gravando um show ao vivo, o
mais importante é gravar, e
bem, a plateia (normalmente
coloco dois microfones na beira
do palco apontados para o meio
da plateia e dois na house mix,
no caso de posteriormente fazer
uma mixagem 5.1). Os microfo-
nes da gravação são exatamen-
te os mesmos que utilizo para a
Visualização dos canais de áudio do show por inteiro captação do PA e monitor.

20 | áudio música e tecnologia


Microfones são posicionados na house mix para captar o ambiente

Sempre vamos depender da quantidade de canais para a gravação que o


nosso sistema nos permite utilizar, sendo o mais comum o de 48 canais. É
bom estarmos preparados para não ultrapassar este número. Sempre que
possível gosto de gravar canais que normalmente não entram na mixagem,
como click, algum tipo de contagem ou qualquer coisa que possa ajudar nos
trabalhos posteriores.

Em termos comercias, como falei anteriormente, ainda acho necessário a


presença de um técnico e equipamento dedicados a uma gravação inde-
pendente. Muitas bandas estão começando a ganhar um dinheiro conside-
rável vendendo a mixagem dos seus shows pela internet ou diretamente
no local do show, e isso certamente se tornará um grande mercado, que
deve ser visto com atenção.

Um problema que logo pode se tornar uma boa dor de cabeça é saber o que
fazer com todos os shows gravados, levando-se em consideração um show
de duas horas com 48 canais e uma resolução de 48 kHz. Podemos estar
falando em algo perto de 50 GB por show, e dependendo da quantidade
de shows dos artistas, isto pode gerar uma boa quantidade de informação,
levando-se também em consideração o backup.

Sei que este olhar comercial pode dar origem a algo rentável, mas a minha
maior preocupação em relação a este novo formato de gravação ainda é a gran-
de melhora que pode haver na performance do técnico da banda, como o seu
trabalho pode evoluir se ele souber utilizar esta nova possibilidade da maneira
correta. Minha dica é: aproveitem esta novidade o mais rápido possível. •

renato Muñoz é formado em Comunicação social e atua como instrutor


do IAtEC e técnico de gravação e pA. Iniciou sua carreira em 1990 e desde
2003 trabalha com o skank. E-mail: renatomunoz@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 21


Plug-ins | Cristiano Moura

Waves Butch
Vig Vocals
O plug-in cinco em um modelado
para voz, mas útil para muito mais

A
parceria da Waves com o lendário produ- cus” (fig. 2E), que internamente trabalha como um
tor Butch Vig já tem alguns anos, e dela compressor multibanda já pré-regulado para com-
novamente surgiu um belo trabalho, que primir e depois dar ganho em busca de ênfase. O
simplifica a vida de quem esta começando, mas usuário apenas escolhe se quer o processamento
também não deve ser menosprezado pelos pro- centralizado em torno de 1 kHz ou 2 kHz.
fissionais. Neste artigo vamos dar uma olhada no
Butch Vig Vocals. ORGANIZANDO O PENSAMENTO
PARA CONFIGURAR
ESTRUTURA DO SINAL DO PLUG-IN
Quando você pega um processador comum para
Como mencionado no subtítulo, não se trata de um
usar, existem centenas de maneiras de trabalhar,
processador único – é um multiprocessador, com
quais parâmetros escolher primeiro, quais deixar
parâmetros pré-estabelecidos e direcionados para
por último. Mas se você vai partir para uma so-
voz. Seu fluxo de sinal é bem interessante (fig. 1),
lução destas, desenvolvidas em torno da linha de
porém não muito intuitivo olhando pela interface.
pensamento específica, é legal saber mais sobre
Vamos primeiro conhecer o fluxo para depois pensar
como ele foi projetado incialmente. A melhor par-
em como utilizá-lo a nosso favor.
te disto é que você também acaba aprendendo
muito sobre mixagem, e os mesmos conceitos
Após a regulagem do input, o sinal segue pelos fil-
poderão ser aplicados em qualquer outra combi-
tros passa-baixa e passa-alta e além do parâmetro
nação de processadores.
MID DIP (fig. 2A), que é um filtro peaking regu-
lado com atenuação de -6.5 dB. Após estes cor-
tes, o sinal segue para a área de processamento Grande parte dos mixadores concordam que é me-
de dinâmica. Primeiro o de-esser, e, em seguida, lhor começar fazendo cortes, retirando excessos ou
o compressor (fig. 2B). Depois da compressão, áreas que não interessam. E é por este motivo que
o sinal volta para a seção de equalização, desta no Butch Vig Vocals temos os filtros atuando logo no
vez processado pelos controles low, presence e air primeiro estágio do sinal.
(fig. 2C). O ciclo de processamentos em série ter-
mina por aqui, mas ainda há outros processamen- Na maioria das vozes, não há muita informação
tos que acontecem em paralelo. abaixo de 80 Hz, e mesmo que tenha, nem sempre
é necessário ou desejável manter. Então, o primei-
Entra em campo o setor de saturação (fig. 2D), ro parâmetro a ajustar é LoCUT passa-alta. Quando
onde temos um controle que emula a saturação de a voz começar a perder corpo, é hora de parar. O
válvula, e outro que emula a saturação de transis- mesmo conceito vale para o HiCUT, porém seja bem
tor (Solid State). Para limpar um pouco a saturação, mais cuidadoso para não exagerar.
também foram incorporados outros filtros passa-
-baixa e passa-alta. O controle MidDIP está fixo em -6.5 dB, e pode
ser usado em dois casos: primeiro, para amenizar
Também em paralelo, encontramos o controle “fo- os médio-graves, que, em excesso, embolam e ti-

22 | áudio música e tecnologia


ram definição. Geralmente estão situados em tor-
no de 250 a 600 Hz. Uma segunda situação: para
casos em que você esteja processando uma voz
muito “anasalada”. É possível amenizar ajustando
o MidDIP entre 700 Hz e 1 kHz. Com o sinal de-
vidamente filtrado, vá seguindo o fluxo de sinal.

O próximo processador é o De-esser, que cuida da


sibilância. Só para esclarecer, a sibilância é uma ca-
racterística comum de muitas pessoas, que tem o
“S” ou o “Ch” muito pronunciado. É algo que, em
excesso, pode se tornar irritante. Importante: o De-
-esser do Butch Vig Vocals já está fixo para atuar em
6 kHz, que nem sempre será o ideal. Experimente à
vontade, mas não descarte a possibilidade de usar
um de-esser separado. Fig. 2 – Principais componentes

Após o De-Esser, é hora de partir para a com- quanto para dar ganho.
pressão. Segundo o próprio Butch Vig, este com-
pressor foi emulado com as características do TLA Por fim, vale mencionar o LED “Sensitivity” (fig.
100 e 1176, mas o que vale mesmo é entender os 4), que serve para garantir que seu sinal está bem
efeitos práticos. Apesar do usuário acessar ape- equilibrado, para o melhor desempenho do plug-in.
nas um controle, na verdade vários parâmetros O ideal é o LED permanecer o máximo possível no
estão mudando ao mesmo tempo. Usando valores amarelo. Use o controle “Input” para compensar
baixos, ele é bem sutil, como se o ratio tivesse caso o sinal esteja muito baixo ou muito alto.
ajustado em 2:1 ou similar. A partir da metade,
tudo fica mais intenso. Tanto o Ratio quanto as FOCUS E SATURATION – O
características timbrísticas começam a ficar mais TOQUE FINAL
aparentes. Para saber o quanto está comprimindo
(Gain Reduction), é preciso configurar os medido- Como visto no fluxo de sinal, o output é o en-
res para a posição GR (fig. 3). contro de três sinais, e até agora vimos apenas
o primeiro, que vem dos processadores em série,
Agora vamos partir para o ajuste final, que são os onde o último é o equalizador. Em paralelo, temos
equalizadores. Vamos às informações técnicas: o mais dois componentes.
controle Low está ajustado em 250 Hz, o Presen-
ce em 3 kHz e o Air em 15 kHz. Estes três con- A área de saturação é bem interessante, pois foi
troles visam terminar de esculpir o “alicerce” do construída com duas opções. As nomenclaturas
seu timbre. É muito comum, após a compressão, são sugestivas (Tube e Solid State), mas, since-
precisarmos de um novo equalizador, e estas três ramente, não gosto muito desta abordagem por
faixas de frequências são, de fato, as que vão conta da polêmica em torno da intepretação. Mui-
funcionar em 99% dos casos, tanto para cortar ta gente simplesmente associa “Tube” a algo bom
e “Solid State”
a algo ruim, e
é aí que mora
o perigo.

Fig. 1 – Fluxo de sinal Eu acho que devemos


no Butch Vig Vocals carregar menos pre-
conceito e imediatismo,
portanto prefiro que se
concentrem de acordo com a

áudio música e tecnologia | 23


Plug-ins

ção em uma das duas áreas e amplifica levemente.


O resultado é extremamente útil, principalmente
em músicas com arranjo muito denso ou em es-
tilos como rock e pop, em que a voz não pode
ficar muito alta, mas precisa, de alguma maneira,
“atravessar” uma parede de guitarras.

PARTINDO PARA OUTRAS


POSSIBILIDADES
Não gosto de pensar que estou usando um “plug-
-in para voz”. Ele pode até ter sido “otimizado” para
voz, mas não necessariamente só serve para voz.
Como sempre faço com todos os plug-ins deste es-
tilo, testei também em outros instrumentos e, como
Fig. 4 – Medidor de entrada sempre, tive ótimas supresas!

característica sonora, e não com o componente. Em especial, os controles de saturação e Focus fun-
Para um som mais “rasgado”, use o controle Tube. cionam incrivelmente bem com guitarras, caixa,
Para um som mais “ardido”, prefira o controle So- sintetizadores, Hammond e Rhodes. Recomendo a
lid State. Ainda com relação à saturação, você todos fazerem seus próximos experimentos e tenho
vai reparar que em certas faixas de frequências certeza de que vão descobrir muitas outras utilida-
a saturação cai bem, mas em outros casos fica des para este plug-in.
extremamente exagerada ou desagradável. É aí
que entra o segundo par de filtros. Por exemplo, Abraços e até a próxima! •
é comum a saturação estar suave na área mé-
dia, onde a voz tem mais destaque, porém estar
exagerada na região médio-grave. Use, então, o
controle LoCUT para filtrar os graves.

O inverso vai fatalmente acontecer ao saturar


usando o controle Solid State. Quando eu chamei
de “ardido”, é porque de fato ele pode ficar muito
estridente nas frequências mais altas. Então o Hi-
CUT é muito bem-vindo em conjunto com a satu-
ração Solid State.

O último, um dos recursos de que mais gostei, é


o Focus. Podemos encará-lo como um compressor
que atua apenas na região média. Ele vem com
duas pré-configurações, 1 kHz e 2 kHz. É nesta re-
gião que a voz tem maior inteligibilidade, ou seja,
a voz chama mais atenção, e o que está sendo dito Fig. 3 – Meter ajustado para
se torna mais claro. O Focus estabiliza a informa- visualizar o Gain Reduction

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools, Waves,
Sibelius e os treinamentos em mixagem na ProClass. Também é professor da UFRJ, onde ministra as disciplinas Edição de Trilha
Sonora, Gravação e Mixagem de Áudio e Elementos da Linguagem Musical. Email: cmoura@proclass.com.br

24 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 25
CApA | rodrigo sabatinelli

ZeZé di
cAmArgo
& luciAno
Por dentro da captação e mixagem do novo disco da dupla

H
á 25 anos o hit É o Amor ecoava nas rádios single, farão parte de mais um álbum dos sertanejos.
de todo o país e consolidava os filhos de Fran-
cisco, ou melhor, a dupla sertaneja Zezé Di Gravado pelo engenheiro Sidnei Garcia, o Sidão, e
Camargo & Luciano, como uma das mais importantes com 12 das 16 faixas mixadas pelo engenheiro Beto
da história da música brasileira. E, para brindar as Neves (Kiko, ex-KLB, produziu e mixou outras três
ditas “bodas de prata”, os irmãos apresentaram, em no KLB Studios, em São Paulo, enquanto Vinicius
abril passado, sua nova música, Eu e Você. Mas as Leão produziu e Sandro Estevan mixou, no estúdio
comemorações não pararam por aí, e nesse momen- Avalon, também em São Paulo, uma outra faixa, em
to Zezé encontra-se no Mosh Studios, em São Paulo, que Luciano canta sozinho), o trabalho – ainda sem
para finalizar outras 14 canções que, juntamente ao nome definido –, produzido por César Augusto, Hélio

26 | áudio música e tecnologia


Beto Neves

dedé Moreira
diversos trabalhos da dupla, conta que pela pri-
meira vez esteve à frente de um disco inteiro, no
qual registrou todas as faixas, do início ao fim.
“Desde 1992, como funcionário do Mosh, traba-
lho com eles [Zezé Di Camargo & Luciano], mas
sempre fazendo uma coisa ou outra. Agora, no
entanto, assumí todo o processo de gravação de
um mesmo trabalho”, conta ele.

De acordo com o engenheiro, a bateria foi grava-


da da seguinte forma: para o bumbo, destinaram-
-se dois microfones, um Beta 52 e um Beta 91A,
ambos da Shure; para a caixa, os escolhidos fo-
ram os SM57, também da Shure, e, para os tons
e surdo, os MD 421, da Sennheiser. “Os overs”,
diz, “foram feitos com os C414, da AKG, e as ‘sa-
las’ com os KM 184, da Neumann, que passaram
pelos pré-amplificadores Neve 9098 e Tubetech,
entre outros”.

O naipe de cordas, composto por cellos, violas e


violinos, foi captado pela “tríade” C12, U87 e MD
421, enquanto que as percussões receberam, além
do U87, os KM 184; os violões – que, ao contrário
do que se esperava, não tiveram suas linhas cap-
tadas – ficaram com o já citado U87, e os baixos
– esses, sim – captados via direct box.
Helio Bernal, Zezé Di Camargo e César
Augusto no estúdio: material do novo Os registros de vozes de Zezé e Luciano foram,
disco é enxuto e remete às primeiras ainda segundo Sidnei, feitos por meio de uma du-
produções de Zezé e Luciano pla inteligente de microfones, composta por um
Neumann U87, clássico e muito comum nesse
tipo de aplicação, e um AKG C12, também bas-
tante utilizado. Neles, o engenheiro insertou ain-
Bernal e pelo próprio Zezé, chega às lojas em se- da, respectivamente, os pré-amplificadores Neve
tembro. Enquanto a “fornada” é preparada, os res- 9098 e Avalon 737.
ponsáveis pelo feito contam detalhes sobre a capta-
ção e a mixagem do projeto. “Quando iniciamos a captação, senti que [as vo-
zes] estavam ‘opacas’, sem brilho, por isso recorri
a esse setup. Durante a produção, Zezé destinou
cAPtAÇÃo nA mÃo de cerca de duas horas para finalizar cada uma das
“sAnto de cAsA” mais de 20 músicas registradas, das quais 15 fo-
ram selecionadas oficialmente para o disco”, conta
Sidão, que já gravou bases e complementos em Sidnei. “Ele [Zezé] vai regravar um pequeno tre-

áudio música e tecnologia | 27


Capa

60 canais. Com bases clássicas,


Acervo Beto Neves

compostas por baixo, bateria,


pianos, violões e guitarras, entre
outros instrumentos, algumas
delas até são “enxertadas” por
naipes de cordas. No entanto,
isso não significa um aumento
tão significativo no input list. “O
material é bem enxuto mesmo e
remete às primeiras produções
deles [Zezé e Luciano]”, compa-
ra, no bom sentido.

Para mixá-lo, Beto tem utiliza-


do a seguinte configuração: os
tracks saem do Pro Tools – que,
durante a mix, funciona somen-
te como um player –, e seguem
para a mesa, onde tudo é pro-
Pela primeira vez Sidão Garcia gravou todas as bases de um cessado. Dela, por exemplo, são
mesmo disco de Zezé Di Camargo & Luciano. O engenheiro, no usados compressores e equali-
entanto, já havia trabalhado outras vezes com a dupla. zadores, que, juntamente a re-
verbs externos, dão cor às novas
cho de uma das faixas, pois considera que pode músicas da dupla.
fazer melhor”, acrescenta.
“A X-Desk ‘resolve’ muita coisa, mas ainda assim re-
ESTREIA DE LUXO corro ao processador externo Reverb 6000 System,
da TC Electronic, do qual utilizo quatro máquinas;
Como foi dito no início da matéria, a mixagem do ao Lexicon 480L; aos compressores FET Urei 1176,
disco – até o fechamento desta edição,
somente quatro faixas haviam sido finali-

Acervo Beto Neves


zadas – está a cargo do engenheiro Beto
Neves. Ele, que embora tenha trabalha-
do com um sem-número de artistas do
primeiro time da música brasileira, conta
que essa é a primeira experiência ao lado
da dupla e que os resultados têm sido
altamente satisfatórios.

“Em maio, a pedido de Oswaldo [Mala-


gutti Jr, proprietário do Mosh], mixei a
faixa Eu e Você, single desse trabalho,
e a mix agradou ao Zezé, que me con-
vidou para finalizar todo o restante do
CD”, diz o engenheiro, diante da pode-
rosa mesa SSL X-Desk e dos monitores
Neumann KH 120, grandes atrativos da
sala D do Mosh, com os quais tem traba-
lhado diariamente no projeto.

As canções, lembra Beto, não chegam a

Gravação de cordas: time que atuou em disco de Zezé Di


Camargo & Luciano comemora o feito na sala do Mosh

28 | áudio música e tecnologia


usado na voz do Zezé,

Acervo Beto Neves


que também recebe um
Orban 526 De-Esser, e
ao Distressor Empirical
Labs, insertado no bai-
xo, no violão e na voz de
Luciano”, comenta.

“Para arredondar ainda


mais o som, lanço mão
de um Elysia Xpressor
500, que faz o papel de
buss compressor, e no
master uso um módu-
lo Portico 5014 Stereo
Field, da Neve, para
abrir a imagem um
pouco mais. Sem con-
tar que em toda a mix
trabalho com um aditi-
vo do Pro Tools que ofe-
rece a ela um som de Beto, ao lado de Rafael Fadul, seu assistente,
fita”, encerra. está mixando o trabalho na SSL X-Desk do Mosh

áudio música e tecnologia | 29


CApA

histÓriA PreservAdA
Paralelamente à mixagem do novo disco, engenheiros grimaldi gomes e Pepeu Fonseca
cuidam de transcrição de todos os tapes gravados pela dupla

por nenhum tipo de processamento.


Divulgação

Na plataforma, o material é grava-


do no formato digital, em arquivos
Wave, em 24 bit/96 kHz.

Quanto tempo falta para o mate-


rial inteiro ser digitalizado?

Grimaldi: Olha, são mais de 300


fitas. Trabalhando todos os dias,
acredito que, em três meses, tenha-
mos finalizado. Daqui pra frente va-
Zezé e a história da dupla "in the box": caixas
mos trabalhar com o material mais
guardam mais de 300 fitas gravadas por ele e Luciano
recente da dupla. Com registros fei-
tos em ADAT, por exemplo, que têm
AM&T: Vocês estão à frente do projeto de digitali- outros tipos de problemas a serem
zação dos mais de 300 tapes de Zezé Di Camargo & solucionados, como a questão dos alinhamentos das
Luciano. Em que pé está isso? cabeças das fitas etc. •

Grimaldi Gomes: Há um mês recebemos as caixas con-

Divulgação
tendo todas as fitas já gravadas pela dupla, que foram
liberadas pela gravadora dos artistas e vieram do Rio
[de Janeiro] para cá, onde estão sendo transcritas. O
processo está bem avançado, pois já trabalhamos em
diversos desses tapes.

Como é o passo a passo até a transcrição?

Grimaldi: Primeiramente fazemos uma triagem dessas


caixas com o intuito de identificá-las o máximo possí-
vel. Acessamos labels, dados complementares etc. até
termos o máximo de informações. Depois disso, leva-
mos as fitas – de seis em seis – a uma estufa aquecida
a cerca de 62 graus centígrados, temperatura conside-
rada ideal para retirar a umidade delas, e lá as deixa-
mos por sete, oito horas.

Pepeu Fonseca: Esses tapes saem do forno e são res-


friados naturalmente. Em seguida, são rebobinados e,
aí, sim, inicia-se o processo de transcrição. São transcri-
tos, por vez, 24 canais, via SMPTE, até mesmo as can-
ções que contam com mais canais, como, por exemplo,
aquelas que chegam a 48.

As transcrições estão sendo feitas em que máquina?

Grimaldi: Estamos usando uma Studer A827 de duas


polegadas e o processo é bem simples: o sinal analógico Grima e Pepeu são os responsáveis pelo
sai da máquina e entra direto no Pro Tools, sem passar processo de transcrição das fitas analógicas

30 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 31
Victor Martins
No EstÚdIo | rodrigo sabatinelli

césAr sAntos
& duocondé
Amigos se juntam e gravam disco em universidade mineira

O
músico, produtor e engenheiro de som César Santos rios aspectos. A começar pelo prazo estipulado para sua
– que tem, em seu portfólio, trabalhos para Seu Jor- conclusão, visto que o grupo já estava inscrito em diver-
ge, Samuel Rosa, Milton Nascimento, Djavan, Ivan sos festivais de jazz & blues por todo o país e precisava
Lins, Aerosmith, Roger Daltrey, Flavio Venturini e para a Music de material para sua divulgação. Os engenheiros Wesley
Playground, que deu origem ao game Guitar Hero – aceitou Dias, André Torres e Fred Tafuri se dividiram entre as ses-
o convite do baterista André Torres para, juntamente ao bai- sões, produzidas por mim com coprodução de Fred, que
xista Rodrigo Chaffer, compor e registrar um material autoral, além de ter atuado na edição e na pós-produção do mate-
inédito, que simbolizasse a união entre amigos. Como fruto rial, teve gestão artística sobre o projeto.
dessa ideia, nasceu Blues For My Friends, disco gravado ao
vivo pelos engenheiros Wesley Dias, Fred Tafuri e pelo próprio Fred Tafuri: Também tivemos o apoio do Rafael Maizé,
André no estúdio da Universidade de Música Popular de Bar- assistente de estúdio impecável, que nos ofertou seus
bacena-MG, a Bituca, onde César, que produziu o trabalho, valores a todo o momento; dos alunos da turma do cur-
ministra o curso de Engenharia de Som e Produção Musical. so de Engenharia, que se intitulam É-Noise; do multi-
-instrumentista Enéias Xavier, que gravou solo de gui-
“Da noite para o dia montamos a banda, escrevemos as tarra na faixa Giant Gentle Guy, e do cantor solista João
canções e entramos em estúdio. Essa era a condição para Melo, do grupo Ponto de Partida, que ficou responsável
que o projeto saísse do papel em tempo recorde, afinal, por cantar, ao lado de César, 64 vozes que formaram um
já havia uma agenda a ser cumprida, por incrível que pa- coro em Blues For My Friends.
reça, antes mesmo de a banda ser formada”, conta César.
“E fazer tudo ao vivo era a outra condição!”, acrescenta. rec “Ao vivo”
ProduÇÃo “FAmÍliA” Fred: O power trio (guitarra base, baixo e bateria) foi
gravado ao vivo na sala principal de gravação do estúdio
César Santos: A gravação do disco foi “peculiar” em vá- em um Pro Tools 10 com as sessões em 24 bits/88.2

32 | áudio música e tecnologia


kHz. Foram executados alguns takes de cada música e o material
aprovado pelo César foi mantido na playlist da plataforma para seleção
posterior. “Overdubs” de vozes e solos vieram logo a seguir. Durante
todo o processo os músicos mantinham contato visual, e para cada
um deles havia um mixer de fones de ouvido HR-6, do sistema Furman
HDs-6, que recebia cópias dos endereçamentos dos canais da bateria,
guitarra, baixo, voz, click e talk-back. Isso possibilitava aos músicos
um balanço pessoal do que ouviam.

cAPtAÇÃo cuidAdosA de guitArrA


Fred: O processo de escolha da posição do microfone no amplificador
Fender Deluxe Reverb aconteceu da seguinte forma. Foi feita uma nu-
meração de um a dez em fitas adesivas coladas de forma aleatória em
pontos próximos ao falante, na tela frontal do amplificador. Uma pista foi
habilitada no Pro Tools e foram criados dez playlists. Como o falante é
uma zona intensa e perigosa de fase por conta de sua estrutura côncava,
cada centímetro é de muita relevância. Dessas dez marcações, optamos
por duas. O amplificador recebeu um par de Shure SM57 amplificado por
um Avalon 737 e a ambiência ficou com um par de Neumann KM 184,
ligados diretamente aos prés Ensemble Thunderbolt.

O som de guitarra do disco é, basicamente, “limpo”, mas com volu-


me suficiente para conseguir saturação das válvulas quando tocado
com intensidade. Para as distorções usamos o pedal BK Buttler Tube
Driver. Dentre as guitarras tivemos as tele César Santos Psy e strato
César Santos Blackbelt, fabricadas pelo luthier mundialmente conhe-
cido Rodrigo Moreira, que assina guitarras para Dominic Miller, músi-
co de Sting; Jon Anderson, do Yes, e Marc Copely, do The Eagles. Vale
lembrar que César também contou com o apoio da Solsete Musical,
loja de renome que cedeu acessórios e a demanda extra do grupo.
Victor Martins

Blues For My Friends, o disco, foi


gravado ao vivo no estúdio da Bituca

áudio música e tecnologia | 33


No EstÚdIo

miXAgem hÍBridA
Victor Martins

César: A mixagem do disco, feita por mim


com assistência do Fred, foi um híbrido
de analógico e digital, no qual, durante
o processo, pouquíssimos plug-ins foram
adicionados. As compressões foram todas
analógicas e para equalizações usei o Q-
-Clone, meu plug-in favorito da Waves,
que trabalha com curvas de respostas clo-
nadas de equalizadores consagrados.

Foram criados, ao todo, cinco inserts no


Pro Tools, com os seguintes equipamen-
tos: Distressor, Manley Variable-Mu esté-
reo e dois Avalon 737, que tiveram seus
in/out roteados em pares corresponden-
tes de uma Apogee Rosetta 800.

César Santos durante registro de voz do disco: músico usou o TLM 170 Após uma bateria de testes para garantir
a fidelidade e coerência de fase entre as
tracks, iniciamos o processo criativo, que consistia, basi-
“cArinho” se estende camente, na escolha de um compressor para cada track,
A demAis instrumentos

Victor Martins
Wesley Dias: A captação de todas as vozes do disco foi
feita pelo Neumann TLM 170. A exceção ficou a cargo
de My Misery Me, faixa em que utilizamos o Neumann
U87 por ter uma resposta de graves mais acentuada. O
baixo, um Fender Jazz Bass, foi gravado no Instrument
Input de um pré-amplificador Avalon SP 737 10th An-
niversary Edition, e os solos de violão foram gravados
com um par de Neumann KM 184 em “XY”, passando
pelo pré BAE 1073 MP.

A parte superior da caixa de bateria recebeu um Sennhei-


ser MD 421, que passou por um canal do pré BAE 1073
MP, e sua esteira ficou com um e604, que passou por um
pré Apogee. Os tons e o surdo foram captados pelos Sen-
nheiser MD 421, que seguiam para dois canais do pré API
3124+, e o bumbo ficou com um AKG D112, posicionado
na abertura da pele de resposta, passando por mais um
canal do BAE 1073 MP, e um PZM Crown 30D, posicionado
embaixo do casco do instrumento.

À frente do kit, arquitetados no modo Blumlein, estiveram


dois Neumann U87 e, para fazer os Ear Rings, foram usa-
dos mais dois TLM 170. No entanto, na música My Misery
Me os overheads de bateria tiveram configuração omnidi-
recional, reportando à canção um som mais vintage.

Detalhe da captação de ambiente da


bateria: modo blumlein foi o escolhido

34 | áudio música e tecnologia


levando em consideração a proposta artística de

Victor Martins
cada música. Os modelos citados oferecem carac-
terísticas e texturas bem diferentes, o que pro-
porcionou variáveis muito positivas para o produ-
to final. O Manley Variable Mu, por exemplo, foi o
escolhido para todas as vozes, enquanto que os
demais tiveram atuações diversas.

Cerca de 90% das guitarras passaram pelo Dis-


tressor, assim como os overs de bateria pelo
Opto Comp do Avalon. Após as escolhas, eram
feitos os “prints” individuais das trilhas que re-
cebiam os inserts, e, na sequência, automações,
dimensões e profundidades.

Uma curiosidade da mix é a ausência de reverbera-


ção digital, pois optamos por obter a ambientação
natural da sala, além, claro, de usar os reverbs de
mola e comb filtering. Por conta disso, o disco tem
uma sonoridade clean, mas com muita personalida-
de. Particularmente, acho que a performance dos
músicos foi o alvo da gestão criativa, potencializada No detalhe, equipamentos
por uma conduta hábil e de inspirada engenharia. • usados na mixagem do disco

áudio música e tecnologia | 35


Arquivo Diego Soares
ENtrEVIstA | rodrigo sabatinelli

AlwAYs on
the roAd
diego soares revê dez anos de estrada
que o levaram de roadie a diretor de palco
Diego Soares em visita à fábrica da Mesa Boogie

N
os últimos dez anos, o mineiro Diego Soares exer- evolução profissional?
ceu as funções de roadie, produtor técnico e diretor
de palco local ou em tour para artistas como Jota Diego Soares: Aprendi muito, conheci grandes músicos,
Quest, New Order, Paul McCartney, Beyoncé, Red Hot Chili toquei com amigos, gravei um disco que não foi lançado,
Peppers, Megadeth, Faith No More, Guns N› Roses, Mo- estudei inglês, visitei lojas, fábricas, estúdios, enfim, fiz
törhead, Chemical Brothers, Deep Purple, Black Eyed Peas, muita coisa por lá, e, assim que cheguei ao Brasil, fui con-
Alice in Chains e David Gilmour, entre inúmeros outros. tratado por Wilson Sideral para trabalhar como técnico de
suas guitarras. Ele é um excelente músico, manja muito
Mas, até “chegar lá”, lembra ele, “a caminhada foi longa!”. de equipamento, e isso acabou sendo desafiador, pois eu
Ex-aluno do IAV, de São Paulo, onde estudou no início dos sabia que teria que dar o meu melhor, fazer tudo 100%,
anos 2000, ele admite ter se “viciado” em “devorar” ma- senão seria cobrado.
nuais de equipamentos, catálogos de produtos e arquivos
com diagramas de bloco, solicitados, por cartas, a empre- E quais foram suas experiências seguintes?
sas como Mesa Engineering, Lexicon, Midas, Yamaha, T.C.
Electronics, Fender, Gibson, PRS e Roland. “Numa época Depois de trabalhar com Sideral, fui contratado pelo Pato Fu,
em que a internet ainda ‘engatinhava’, não havia outra embora por tempo não muito longo, mas bastante provei-
opção a quem quisesse aprender”, afirma. toso. O John (guitarrista da banda) me ensinou muito sobre
conexões MIDI, programação etc. Em 2006, no entanto, tive
Em entrevista à AM&T, Diego, um defensor ferrenho do minha primeira experiência gigante, digamos, internacional:
estudo e planejamento sem limites, conta um pouco de o festival Pop Rock Brasil, realizado em Belo Horizonte, que
sua trajetória. Hoje, em terras estrangeiras, onde busca trouxe shows de New Order e Black Eyed Peas.
novos desafios, ele revê o passado certo de que seu fu-
turo será “uma verdadeira colheita do que foi plantado ao Esse evento foi, na verdade, o ponto de partida de uma
longo de toda essa década”. história que teve, como capítulos seguintes, o Nokia New
Years Eve, realizado ainda naquele ano, e o Tim Festival,
AM&T: Diego, em 2003 e 2004, antes de ingressar no ano seguinte, nos quais, junto a outros parceiros, tra-
no mercado nacional do show business, você este- balhei na direção de palco decupando os riders dos grin-
ve em países como Estados Unidos e Inglaterra. De gos, fechando pedidos e acompanhando montagens de
que maneira essas viagens contribuíram para a sua som, luz, vídeo, geradores, backline, palco e rigging.

36 | áudio música e tecnologia


Na sequência, excursionei por mais de 30 estados da América do Norte e
por diversos países da Europa com a banda de rock progressivo Mindflow.
Foram, ao todo, três meses intensos de show até receber o convite de Marcio
Buzelin, tecladista do Jota Quest, para trabalhar como seu técnico na estra-
da, em gravações e em projetos paralelos à tour.

O Jota Quest foi a banda com a qual você mais tempo trabalhou.
Concorda que a passagem pela equipe foi das mais significantes
da sua carreira?

Certamente, e por diversos motivos! Um deles é que o Marcio é tão detalhista


quanto eu sou com equipamentos. E o outro é que eu gosto muito de teclados,
tanto que montei a Synth Lead, uma oficina de customização e modificação
[de teclados] na qual, nas horas vagas, customizava os [instrumentos] do
Marcio e de outros clientes. Essa época era insana! Ficava 15 dias fora de
casa, viajando com o Jota, e o restante na oficina, cortando chassi, pintando,
soldando e inventando moda com teclados. Como se não bastasse, eventu-
almente, ainda fazia direções técnicas internacionais de shows de Maroon 5,
Offspring, Rammstein e do Mindflow, que se tornaram grandes amigos.

Quando fez outras tours fora do pais?

Em 2011, saí em turnê com o Mindflow novamente. Dessa vez, ficamos 50


dias viajando junto a banda inglesa U.F.O. e fazendo show em várias cida-
Arquivo Diego Soares

Diego, de chapéu, e seus companheiros de estrada: troca


de conhecimentos foi fundamental para evolução

áudio música e tecnologia | 37


ENtrEVIstA

quebrado que deixei com cara de carro

Arquivo Diego Soares


antigo também. Eu queria aprender com
tudo que chegava a mim.

Daí veio uma proposta para ser ser venue


manager do FIFA Fan Fest durante a Copa
de 2014. Este e outros convites para gran-
des trabalhos me fizeram fechar as portas
[da oficina]. Não me arrependo! Aprendi
muito de pintura, elétrica, projetos, estrutu-
ra e solda bruta, ou seja, coisas que, desde
então, utilizo em meu dia a dia como técnico
de instrumentos e palcos, por exemplo.

E como foi voltar ao mercado?

Os anos de 2013, 2014 e 2015 foram re-


pletos de shows. De produções locais a
Com a mão na massa: técnico trabalhando em sua Custom Shop grandes festivais internacionais. Nesse
período fiz shows de artistas como Beyon-
des dos Estados Unidos, sem voltar ao Brasil. Na equipe cé, Guns N’ Roses, Red Hot Chili Peppers e Paul McCar-
dos gringos havia lendas do mercado, ex-técnicos de tney, entre vários outros, e acabei parando na equipe
guitarras e engenheiros de áudio de Ritchie Blackmore, da Pitty, para a qual fiz produção técnica e direção de
Peter Frampton, Ted Nuggent e Savatage. Eu sentava palco da tour Setevidas. Foi um belo ano! Um ano de
numa mesa com esses caras, grandes nomes de tours plantio, execução e colheita! Até convite de palestra
internacionais, e ouvia suas histórias. Aquilo foi, para em faculdade rolou.
mim, uma verdadeira “faculdade de show business”.
Fale sobre o sistema de teclados que você montou
E veio o SWU. para Buzelin. Foi mais ou menos nessa época que
voltou a trabalhar com ele?
Assim que voltei ao Brasil, fui convidado a ser diretor de
palco de um dos ambientes da segunda edição do SWU. Eu estava de folga entre tours e o Marcio me chamou
Esse festival foi um marco na produção de shows do país. para um show do Jota em São Paulo, pertinho de onde
Na primeira edição, inclusive, tive que negar o
convite, pois o Jota não só tocaria no festival, mas
Arquivo Diego Soares

estava com agenda cheia. Negar festival machuca


o coração, ainda mais porque era com a equipe
dos meus professores e melhores parceiros de
shows internacionais que já tive.

Mesmo com tanto trabalho, você investia


sem parar na sua oficina. Dava para conciliar
tudo isso?

Olha, eu investi todo o dinheiro que ganhei nas


tours e shows naquela oficina. Comprei ferra-
mentas especiais para expandi-la e acabei mu-
dando o nome para Rufus Custom. Me dediquei
integralmente a ela por três anos, nos quais
acabei por me deparar com outras demandas,
como manutenção de carros a geladeiras an-
tigas, sem deixar de lado, claro, os os instru-
Diego, à frente dos carregadores, foi diretor de palco
mentos, como, por exemplo, um Wurlitzer todo
de diversos grandes festivais, dentre eles o SWU

38 | áudio música e tecnologia


eu estava morando. Ele queria conversar sobre um

Arquivo Diego Soares


projeto audacioso que envolvia equipamentos, claro.
A partir do papo que tivemos, desenhei para ele o que
imaginava na ocasião e evoluímos o processo. Virou o
Synergy, um sistema que, na minha opinião, vai mudar
muitos paradigmas, pois trata-se de uma plataforma
que integra artistas, fabricantes e técnicos, possibili-
tando customização, elevação de qualidade e promo-
vendo redução de custos.

Com tantos projetos em execução no Brasil, quais


os motivos que fizeram você buscar, mais uma vez,
uma aventura no exterior?

Atualmente, aqui, nos Estados Unios, estou abrindo


novas portas e buscando novos projetos. Venho es-
tudando algumas propostas de trabalho em busca de
uma passo ainda maior. Gosto disso, das amizades que
fiz aqui e do aprendizado que acumulei em minhas pas-
sagens por aqui. O Brasil tem um lugar reservado no
meu coração, mas chegou a hora de dar voos mais A relação profissional de Diego com o Jota Quest
radicais. Aliás, eu sempre voei de forma radical. Esse, foi uma das mais importantes de sua carreira
portanto, é só mais um grande “voo”, digamos. •

áudio música e tecnologia | 39


dEsAFIANdo A LÓGICA | André paixão

vcAs no
logic X
Perguntas que não calam, dúvidas que
não acabam e respostas que podem
facilitar a sua vida também

D
esde quando comecei a escrever
esta coluna, achei que a divulga-
ção dos meus contatos poderia
ser uma boa opção para que começasse
a surgir algum tipo de diálogo ou troca
de ideias com os leitores. Passei, então,
a responder todos e-mails sempre que
havia algum tempo disponível, e durante
esse período mantive contato com pesso-
as interessadas não apenas no Logic, mas
em sintetizadores e produção musical em
geral. A motivação maior para continuar
com essa interação, que havia se estag-
nado, surge agora, com a criação de uma
coluna dedicada aos leitores. Que tal? Es-
pero que ajude você também. Vamos lá.

Por que vcAs?


O leitor Carlos Antônio, do Rio de Janei- Para visualizar os slots de VCA é necessário, a princípio,
ro, não entende por que motivo, dentro configurar os elementos do seu mixer no Logic
das recentes atualizações do Logic X,
implantou-se o recurso de VCA (Voltage
Controlled Amplifier). tempo, um de nossos bens mais preciosos. A prin-
cípio, quando pensamos num console de mixagem,
“Caro André Paixão, até hoje tenho dúvidas em um VCA nada mais é do que um fader de volume
relação à real utilidade dos VCAs na nova versão que pode ser associado – individualmente – a di-
do Logic X. Você costuma utilizá-los? Por que?” versos canais de um projeto. Grande parte desses
consoles vem equipada com VCAs em cada canal,
Carlos Antônio, essa é uma pergunta que muitos mas é bem provável e óbvio que essa voltagem
usuários antigos do Logic – que ainda insistem em destinada a cada um dos faders possa – e deva –
não atualizar suas versões empedernidas para o ser controlada por um Master Fader, a que chama-
atual sistema X – costumam fazer e que eu res- mos de Grupos de VCA.
pondo indubitavelmente: a implantação desse re-
curso foi uma grande sacada dos desenvolvedores CANAL AUXILIAR ≠ VCA
e vocês não sabem o que estão perdendo. Aliás,
deixe-me responder o que vocês estão perdendo: No caso dos VCAs virtuais também é possível apli-

40 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 41
dEsAFIANdo A LÓGICA

car automações básicas, como volume e pan. Até configurar os elementos do seu mixer no Logic. No
aí, você afirma, já temos os Tracks Stacks (Sum- alto da tela, vá em View > Channel Strip Compo-
ming Groups), Canais Auxiliares ou mesmo o Uti- nents > VCA. Provavelmente essa opção não está
lity Plugin Gain, que vem com o próprio Logic e marcada. Assim que você o fizer, vai se deparar
ajuda a controlar o ganho de canais, especialmen- com essa nova seção na sua interface, logo abaixo
te quando lidamos com uma mixagem batendo em dos botões de Pan. Outra opção é selecionar os ca-
0 db. Porém, o controle de volumes desses canais nais aos quais deseja criar um VCA, e, com a tecla
não tem influência sobre o volume de uma man- Control pressionada, escolha “Create New VCA”.
dada de efeitos, por exemplo. Apesar de similares,
canais auxiliares e VCAs são bem diferentes. Va- Assim que conseguir visualizar a opção VCA na
mos entender melhor essa diferença. sua janela Mixer, comece a aplicar e a nomear
grupos de VCAs de modo a organizar seu traba-
criAndo vcAs lho. Para ter uma ideia mais específica da dife-
rença básica entre VCA e Stacks, direcione os
Para que isso fique mais claro, vamos criar alguns mesmos canais a esses citados subgrupos – os
canais percussivos e outros harmônicos a partir chamados Track Stacks. Crie um canal auxiliar e
de loops da Apple presentes no pacote do Logic. A insira um Reverb. Crie uma mandada de 50% nos
eles vamos aplicar faders de VCA. Caso você não dois canais de vocais e direcione-os ao auxiliar
consiga visualizar a opção respectiva, ela deveria com Reverb. Coloque as vozes para tocar e baixe
estar presente ao lado esquerdo da janela Mixer, o fader de grupo completamente. Repare que a
onde nos deparamos com as opções Input, Audio mandada de reverb continua ativa, ou seja, o si-
FX, Sends, Output, Group etc. Ou seja, para ter nal dos canais auxiliares continua ativo. A relação
acesso aos slots de VCA é necessário, a princípio, entre som limpo e efeitos não é mantida!

Por outro lado, quando baixamos ape-


nas o fader de VCA das vozes, por
exemplo, ele terá influência tanto no
sinal limpo quanto na mandada de efei-
tos. É por isso que os VCAs são ótimos
numa mixagem, por exemplo. Imagine
uma quantidade considerável de canais
distintos sendo direcionada a um de-
terminado canal de efeitos. Como lidar
com esse controle de volumes apenas
em parte deles?

Se possui um controlador MIDI com


faders, pode simular uma mixagem à
moda antiga, como se fazia com os con-
soles físicos. Antes de mais nada, po-
demos visualizá-los na janela de edição,
de preferência próximo às pistas para as
quais queremos gerar automação. Para
esse exemplo vamos associar uma auto-
mação de VCA nos canais de percussão.
Selecione o VCA respectivo e clique em
Read. Automaticamente uma pista VCA
Outra opção é selecionar os canais desejados e, com a é criada em sua janela de edição. A par-
tecla Control pressionada, escolher “Create New VCA” tir daí, entre em modo Latch (no mesmo

42 | áudio música e tecnologia


Baixar o fader de grupo ou attack não vai afetar suas mandadas de efeitos...

Menu de Read), associe o fader de seu controlador ao do canal


que deseja automatizar e comece a ação. Caso não fique satis-
feito, basta repetir a ação.

MÚLTIPLOS OUTPUTS?
Vamos supor que você tenha 12 canais de bateria associados a
um grupo e deseja direcionar dois canais (Over L R, por exem-
plo) para um outro grupo e deste grupo para o output principal.
Se os canais desse grupo de bateria estiverem associados a um
mesmo fader VCA, eles continuarão a manter as mesmas rela-
ções de volume. Cool!

Espero ter sido claro. Qualquer dúvida, seguimos com o papo. Não
deixe de escrever. A troca de ideias é fundamental, além de ser
uma grande motivação. Um abraço! •

André Paixão é compositor e produtor de trilhas sonoras para teatro, TV, publicidade
e cinema. Já trabalhou como roteirista nos canais Telecine e Multishow. Assinou a
direção musical de espetáculos teatrais como “Medea en Promenade” e “O Médico
que Tinha Letra Bonita”.

O SuperStudio é a sua casa e também de artistas que passam por lá. Alguns deles
chegam ao mundo através do selo Super Discos. Como músico, gravou e lançou discos
com bandas como Acabou La Tequila, Matanza, Beach Lizards, Nervoso e os Calmantes,
Lafayete e os Tremendões. Atualmente tenta finalizar o projeto Fora do Ritmo, um disco
autoral com 12 bateristas, entre eles, Wilson das Neves, Pupillo, Guto Goffi e Rodrigo
Barba, entre outros. Acesse foradoritmo.com e descubra mais.

andre@suprasonica.com.br | www.superstudio.com.br
www.facebook.com/DesafiandoLogic

áudio música e tecnologia | 43


Produção Fonográfica | José Carlos Pires Junior

PRODUTOR
FONOGRÁFICO
Uma profissão muito além do áudio

Acervo José C. P. Jr.


Palestra do produtor Tony Berchmans: alunos dos cursos de produção fonográfica
possuem dois perfis distintos. Ambos se realizam, mas também se decepcionam.

H
oje resolvi abordar este assunto, que além em produção fonográfica foram regulamentados
de soar muito autobiográfico, atualmente no Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de
carece de algumas explicações para aqueles Tecnologia, criado pelo MEC no ano de 2006. Nesse
que gostariam de tornar a produção fonográfica sua ano, além de professor no curso de Música da Uni-
profissão. Atualmente, no Brasil, podemos encontrar versidade Estadual de Londrina, também era profes-
alguns cursos de Tecnologia em Produção Fonográ- sor no curso de Música e Tecnologia da Universidade
fica, dentre os quais a Fatec-Tatuí figura como o pri- do Oeste Paulista. Foi nesse momento que todos os
meiro curso gratuito do país. cursos superiores que envolviam áudio, música e
tecnologia passaram a ser enquadrados como cursos
A profissão produtor fonográfico não é nova. Pelo con- superiores de tecnologia em produção fonográfica.
trário, sempre existiu na indústria fonográfica, mas de
maneira descentralizada. Já o profissional de nível su- De lá pra cá, alguns cursos abriram, outros fecha-
perior chamado de tecnólogo em produção fonográfica ram, e por uma manobra do destino participei desde
existe no Brasil há mais ou menos dez anos. o inicio do curso de Tatuí e continuo até hoje. No
entanto, depois de mais de 13 anos como professor
O INÍCIO universitário tanto de música quanto de produção
fonográfica, eu consegui identificar algumas angús-
Poucas pessoas sabem, mas os cursos de tecnologia tias gerais dos alunos que procuram a produção fo-

44 | áudio música e tecnologia


nográfica como uma formação profissional. lação menos desesperada com as expectativas.
Por outro lado, enxerga de maneira reduzida o
A EXPECTATIVA que seria a profissão de protutor fonográfico, em
geral priorizando o áudio sobre a própria música.
Dois perfis distintos de alunos procuram os cursos Muitas vezes esse aluno torna-se resistente em
de produção fonográfica e ambos se realizam, mas conhecer questões administrativas/jurídicas ou,
também se decepcionam em alguns aspectos. ainda, musicais, focando apenas no que fazem
os botões dos equipamentos. Frustração certa!
Perfil 1 – O profissional sem titulação, mas com ex- Cursos superiores de produção fonográfica são
periência de vida. Esse perfil era muito comum no muito mais abrangentes do que cursos técnicos
início da criação dos cursos de produção fonográfica de áudio, principalmente por privilegiar função do
justamente pela grande quantidade de pessoas atu- técnico na produção.
ando no mercado de trabalho, porém sem titulação
superior em áudio ou música, principalmente pela Ou seja, o tecnólogo sempre que possível, deve con-
inexistência desses cursos no Brasil. tratar um técnico para tais funções, ficando a produção
com o gerente da operação completa. Por exemplo: o
Perfil 2 – O jovem saído do ensino médio em busca técnico monta o set, liga os cabos, posiciona os micro-
de uma profissão de garantisse o sustento financeiro fones, e o produtor fonográfico administra o artista, o
aliado a uma vida profissional mais interessante e tempo, o orçamento e o produto final. Claro que ensi-
motivadora. Na grande maioria são jovens sustenta- namos operações técnicas no curso de tecnologia, mas
dos pelos pais, que cobram retorno financeiro rápido isso acontece principalmente porque o gestor da ope-
do investimento na educação dos filhos, algo que ração deve conhecer a fundo a função técnica, mesmo
atualmente não acontece em nenhuma profissão. que ele não vá realizá-la no momento.

A REALIDADE O perfil 2 vive um misto de euforia e medo durante os


primeiros meses do curso, que se não for devidamen-
Na minha opinião de professor do ensino supe- te abordado pode se transformar em uma frustração
rior, o perfil 1, apesar de vir carregado de uma terrível, culminando também no abandono do curso.
experiência prévia, provavelmente já inserido Nada pior do que viver uma vida com uma espada na
no mercado de trabalho, tende a criar uma re- cabeça, mas pra quem a vida não é assim? O jovem
produtor fonográfico consome
os professores até os ossos, se
Acervo José C. P. Jr.

interessa por tudo, está sempre


pronto pra aprender e é muito
produtivo no curso. Em contra-
partida, vive atormentado pela
insegurança financeira e na
maioria das vezes faz escolhas
erradas, fechando os olhos para
oportunidades e para as suas
próprias habilidades pessoais.

O ESTÚDIO, SONHO
MALDITO
Invariavelmente, acabo sen-
do o responsável pela falên-
cia prematura do tão sonhado
“Projeto do Estúdio de Grava-
Galego Teixeira e Igor Kasuya: alunos usando o estúdio para produções próprias

áudio música e tecnologia | 45


Produção Fonográfica

ção”. Quando os alunos chegam para minhas disci- específico, como gospel, sertanejo ou jazz, ou
plinas de consoles ou de gravação, o estúdio passa investir em equipamentos garimpados e raros.
a ser um “prato de comida para um faminto”. Pa- Quando somos reconhecidos como produtores es-
rece que tudo perde importância. Música, som e pecialistas, somos sempre lembrados como pes-
arte dão lugar a marcas, equipamentos e dinheiro, soas especiais.
e as perguntas mais dramáticas começam a surgir.
“Professor, de quanto eu preciso pra montar meu Em certo momento tive um aluno pianista de jazz
estudiozinho e fazer alguns trabalhos pequenos?” que tinha o sonho de comprar um ótimo piano de
“O que eu compro primeiro: interface e um micro- meia calda para poder estudar melhor e também
fone ou um computador Apple?” para sua satisfação pessoal. Logo ele percebeu que
pra receber o piano ele precisava reformar com-
Sempre sou muito sincero com meus alunos, e isso pletamente uma sala para torná-la acusticamente
nem sempre é bem recebido, mas ao longo desses tratada. Quando o sonho se tornou realidade e ele
anos entendi que o estúdio e o produtor fonográfico conseguiu seu piano e sua sala, em pouco tempo
não existem um sem o outro. Porém, eles podem ser passou a ser procurado para gravar as partes de
entidades diferentes. Administrar um estúdio pode piano de alguns discos ou alugar a sala para algu-
ser uma atividade massante e muito cara, além de, mas gravações de piano. Assim, ele passou a ser o
muitas vezes, pouco rentável. especialista em gravação de piano, com a sala mais
bem preparada da região.
Um home studio básico, de qualidade mínima,
do chão ao teto, custa, em média, R$ 50.000, Quem não conhece a história do Gustavo Vas-
incluindo equipamentos modestos. Um médio quez, dono do Rocklab Produções Fonográficas,
que permita um fluxo razoável de clientes com pode conferir no YouTube um trecho de sua entre-
atendimento satisfatório, carece, em média, de vista no #15 Unconvension de 2011. Nesse vídeo
R$ 400.000 e necessita mensalmente de uma re- ele relata exatamente como a busca por um mo-
ceita mínima de R$ 20.000 para pagar funcioná- delo standard de estúdio o levou inicialmente à
rios, manutenção e gerar um lucro mínimo para falência, provocada por investimentos e escolhas
a atividade compensar financeiramente. Estúdios erradas. O fato só foi revertido quando resolveu
grandes devem ser encarados como indústrias de realmente abrir mão de um modelo pré-estabe-
alguns milhões de reais, e para dar certo devem lecido de estúdio e investir em um segmento em
ser geridos por “mestres dos negócios”, e não por
artistas ou produtores.
Acervo José C. P. Jr.

NÃO TENHO
DINHEIRO!
O QUE EU FAÇO?
Não desista. Desapegue
do óbvio. Comprar tudo
o que o mercado “exige”
é um péssimo negócio.
Invista em algo positi-
vo e especial que você
sabe fazer melhor do
que ninguém. Não faltam
exemplos de pessoas que
encontram um caminho
original e passam a ser
reconhecidas por isso.
Seja atender segmento

Busca por novos talentos: músico em potencial deve estar parcialmente pronto
ou, de preferência, muito bem preparado musicalmente para iniciar sua carreira

46 | áudio música e tecnologia


que era realmente influente e especialista, vindo o Produtor indisPensÁvel
a figurar em pouco tempo como um dos principais
estúdios para gravação de rock de Goiás. De maneira muito objetiva, o produtor indispensável
é o que ajuda o músico a viver e ganhar dinheiro
Também no YouTube você pode conferir o Lisciel com sua arte. Todos os produtores podem ser tro-
Franco apresentando o seu Estúdio Lab Forest, com- cados por outro “mais em conta”, mas aquele que
pletamente personalizado com equipamentos que empreende junto com o artista acaba sendo decisivo
foram garimpados ou desenvolvidos para viabilizar e indispensável. Quase sempre o músico de talento
o som que ele concebeu como ideal, indo na con- é um “durango”, então tentar arrancar dele seu úl-
tramão da ideia de que as pessoas só procuram o timo suspiro pra pagar a gravação de seu disco soa
estúdio pela marca dos equipamentos. um tanto triste. O produtor indispensável é aquele
que entra de sócio com o artista. Ele investe tempo,
Enfim, há uma lista imensa de produtores consa- investe conhecimento e está lá junto com o artista
grados que montaram seus estúdios para atender pra fazê-lo tocar com mais frequência, aparecer no
à sua concepção musical fugindo do padrão de cenário musical e, juntos, colherem os frutos finan-
mercado, ou ainda produtores que nunca tiveram ceiros dessa parceria.
seu próprio estúdio e sempre trabalharam em es-
túdios alugados para um projeto de gravação ou Nesse sentido, quando um produtor fonográfico do-
mixagem. O importante nesses casos é apostar mina mais uma área do que outra, ele deve contar
naquilo que você realmente pode oferecer e que com o apoio de uma rede de amigos, na qual um
pouca gente faria tão bem quanto você, seja a ha- produtor cobre a deficiência dos outros e juntos fa-
bilidade de gerenciar de projetos, especialidade zem o artista decolar. Digo sempre aos meus alunos:
em áudio ou produção musical. “sejam empreendedores e não apenas prestadores

áudio música e tecnologia | 47


Produção Fonográfica

de serviço”. Prestar serviço é

Acervo José C. P. Jr.


uma opção para profissionais
já reconhecidos e consagra-
dos que podem cobrar quan-
tias robustas pois já têm uma
clientela fiel que paga o preço
sem titubear. Mas, se está no
início da carreira, bom mes-
mo é se associar a outros
profissionais para garantir
mais fluxo de trabalho.

FARO FINO
Em toda história da indús-
tria fonográfica a percepção
do artista em potencial sem-
pre foi decisiva na carreira
do produtor. Nesse sentido,
Custa muito mais construir um estúdio do que locar um de ponta para realizar
em vez de ser somente um
trabalhos como gravação de bateria e voz. Fora isso, é possível realizar quase tudo
proprietário de um estúdio,
“in the box”, baixando o custo da produção e aumentado o lucro compartilhado
por que não ser um caçador
de talentos? Uma pessoa
bem relacionada é sempre lembrada e isso atrai Quando o artista em potencial não consegue
recursos financeiros. Eu mesmo já encontrei no equilibrar esses três quesitos e essa deficiência
caminho muita gente talentosa precisando de uma não pode ser melhorada com o planejamento de
força. Então elaborei uma tríade de quesitos que uma equipe de produtores, fica muito difícil atrair
o artista precisa atender para que ele se torne um os recursos financeiros necessários para se pro-
investimento em potencial. duzir essas gravações.

- Talento musical: O músico em potencial deve estar Nesse sentido, se você está no começo e precisa
parcialmente pronto ou, de preferência, muito bem entrar no mercado, encontre parceiros e juntos bus-
preparado musicalmente para iniciar sua carreira. quem um potencial artista. Invistam juntos, pois
assim se arriscam na mesma proporção e você não
- Presença de palco: A presença no palco tem que precisará fazer um investimento de milhares de re-
ser do mesmo nível ou ainda melhor do que seu ta- ais para poder se destacar no mercado da produção
lento musical. Desenvoltura com a banda, entrosa- fonográfica. Custa muito mais construir um estúdio
mento e performances arrasadoras atraem público. do que locar um de ponta para realizar trabalhos
como gravação de bateria e voz. Fora isso, é possível
- Carisma com o público: O artista carismático tem realizar quase tudo “in the box”, baixando o custo da
público cativo e potencial pra atrair mais público pe- produção e aumentado o lucro compartilhado com
los lugares por onde passa. É o público que vai fi- setores de digital media, produtores de shows, pro-
nanciar os projetos do artista, ou seja, ir aos shows, dutores de vídeo e com o artista.
comprar discos, camisetas, canecas e colaborar com
crowdfunding, e é esse dinheiro que vai fazer girar a Para encerrar, não se esqueça: o áudio é só o veículo
engrenagem financeira do negócio. da música. •

José Carlos Pires Júnior, músico e produtor fonográfico, é professor das disciplinas de Técnicas de Gravação e Acústica Apli-
cada ao Instrumento. E-mail: cravelha@gmail.com.

FATEC Tatuí - Curso gratuito de Produção Fonográfica. Site: http://tinyurl.com/fatec-prodfono

48 | áudio música e tecnologia


LEAGUE OF
LEGENDS BRASIL
Luzes da final do Campeonato Brasileiro
de LoL emocionam público e ciberatletas

EDIÇÃO MULTICÂMERA
Múltiplos ângulos no Media
Composer sem dor de cabeça
à produtos
WAsHBEAM roBE spIKIE
O Spikie, da Robe, é um pequeno e extremamente transforma a saída em um raio dinâmico
veloz washbeam LED que utiliza uma única fonte de de três feixes estreitos, criando outros
luz de 60 W RGBW com lentes frontais de 110 mm novos efeitos visuais ao show. A rotação
especialmente desenhadas, produzindo, assim, um contínua de pan e tilt dão origem a novos

Divulgação
feixe sólido. O equipamento permite zoons ultrarápi- elementos dinâmicos através do palco.
dos, indo de uma abertura suave de 28° wash para
um feixe afiado de 4°, ou um ou dois incríveis novos O Spikie é um equipamento muito compacto, de apenas
efeitos aéreos (air-effects). 7.3 kg, que pode ser pendurado em qualquer posição.
Pode ser encontrado nas versões unitária e em cases.
O novo e inovador Flower Effect cria picos coloridos e afia-
dos de luz, girando nas duas direções e com velocidade www.robe.cz
variável. Adicionalmente, um único motor de efeito beam www.tacciluminacao.com.br

dupLICAtor 4K dA BLACKMAGIC
O Blackmagic Duplicator 4K torna fácil entregar múlti- comercializado tão logo o evento seja encerrado.
plas cópias de conteúdo para clientes no momento que
um evento é concluído. Trata-se de uma ferramenta de O sistema funciona com codec H.265, que garante
gravação em cartões SD que trabalha com conexões de várias horas de gravação em SD Cards , além de pos-
vídeo em SDI 12G e conta com 25 portas para cartões suir saídas para ligação em cascata, o que torna pos-
SD. De acordo com a Blackmagic, conforme um evento sível a expansão em série com outros Duplicator 4K,
vai sendo realizado, as imagens enviadas de um swi- ampliando a capacidade de cópia. Também há a pos-
tcher, por exemplo, podem ser gravadas em tempo real sibilidade de emendar gravações no mesmo arquivo
e em 4K nos cartões, de modo que o conteúdo possa ser de modo a evitar um número excessivo de arquivos
no disco. Entre as possíveis aplicações estão cultos
e shows, entre outros eventos de grande audiência.
Divulgação

www.blackmagicdesign.com
www.pinnaclebroadcast.com.br

pLs AprEsENtA sEu dIsCo LEd

Divulgação
Com vários efeitos e cores, o Disco LED, produto PLS potência de 40 W, oito lâmpadas LED CREE de
que chega ao mercado nacional via ProShows, conta – como já citado – 5W RGBW e oito canais
com LEDs RGBW de 5 W e uma estrutura que propor- DMX, trabalhando com tensão de 110/240
ciona que seus raios beam ofereçam efeitos dos mais V – 60 Hz. Suas medidas são 280 x 260 x
variados tipos. Além de funcionar com sua controlado- 200 mm. Para conferir um vídeo com o
ra DMX, o usuário poderá operá-lo de forma manual, Disco LED PLS em funcionamento, visi-
automática ou por ativação sonora. te http://tinyurl.com/disco-led.

O equipamento, com garantia de seis meses, conta com www.proshows.com.br

LANCEr BEAM 7r
O Lancer Beam 7R, outro produto da PLS que está dis- mento, e de dimensões reduzidas, o Lancer Beam 7R
ponível nas prateleiras brasileiras por meio da gaúcha possui 15 canais DMX, disco de 14 cores fixas e
ProShows, é um moving head com lâmpada 7R disco de gobos com 17 gobos, conta com lâm-
de 230 watts. O equipamento é conhecido no pada que tem potência de 230 W e trabalha
mercado por sua alta qualidade, confiabilidade, com pan/tilt de 540°/265°. A exemplo do Dis-
desempenho e relação custo-benefício, além de co LED, citado anteriormente, o Lancer Beam
poder ser adquirido em case ou separadamente. 7R também tem garantia de seis meses.
Divulgação

Leve, o que facilita seu transporte e posiciona- www.proshows.com.br

50 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 51
em fo c o
MARTIN REALIZA SÉRIE DE
WORKSHOPS PELO BRASIL
A Martin, empresa de destaque no mercado de iluminação profissional e que faz parte do portfólio da Harman do Brasil, iniciou
uma maratona de workshops pelo país no início de julho. O M Series teve seu ponto de partida em São Paulo no dia 04/07,
quando a Martin realizou o evento no Auro Solutions. O objetivo da empresa com os cursos é fomentar o mercado de ilumi-
nação profissional e oportunizar ao segmento uma maior aproximação com os seus equipamentos e profissionais. Todos os
workshops são ministrados por Amândio Costa, natural de Portugal e especialista de produtos da Martin.

“Proporcionar esses encontros com os profissionais de todo o Brasil nos fortalece como empresa líder que busca uma capacitação do
setor de uma forma ampla. Os cursos oferecem, ainda, aos profissionais de iluminação, a oportunidade de conferir de perto os nos-
sos produtos e tirar todas as dúvidas com relação aos equipamentos, aplicações e suas mais diversas formas de uso”, declara Costa.
Entre os equipamentos apresentados no workshop está a M 1, um console de iluminação da próxima geração da Martin Professional,
que conta com a potência completa de uma mesa maior e agilidade de uma de menor proporção. Já o M2 GO, também presente no
workshop, é um console de iluminação exclusivo, portátil e avançado, que oferece um nível profissional de recursos. Além deles, os
participantes têm acesso à M6 e ao software 3D MSD, da Martin.

Divulgação
O segundo Workshop M Series aconteceu nos dia 19 e 20 de julho no
Centro de Convenções do Manaus Plaza Shopping, em Manaus (AM),
e reuniu 17 profissionais. A próxima parada do M Series acontece no
dia 16 de agosto, em Recife. Depois, os profissionais da Martin se-
guem para mais quatro cidades brasileiras, encerrando a temporada
de 2016 dos workshops.

Workshop M Series reuniu


A entrada para os cursos é gratuita, mas as vagas são limitadas e mais
profissionais no Centro de Convenções
informações podem ser obtidas pelo site da Martin (www.martinpro-
do Manaus Plaza Shopping
fessional.com.br) ou pelo e-mail amandio.costa@harman.com.

BLACKMAGIC TEM NOVO


ENGENHEIRO DE VENDAS NO PAÍS
Distribuidora da Blackmagic Design em território nacional, treinamentos, workshops e demonstrações com toda a linha
a Pinnacle Broadcast anunciou a chegada do engenheiro de de produtos Blackmagic.
vendas Fabio Angelini à sua equipe de atendimento. Angeli-
ni, que trabalhará junto à Blackmagic depois de atuar como “Sempre trabalhei no segmento de produção em vídeo, desde
consultor comercial e técnico para nomes como Broadcast e edição, com a linha Avid Liquid Edition, na Pinnacle Home, pas-
ProAV, atenderá as revendas da marca no Brasil e realizará sando por produções com a NewTek e Matrox. Agora tenho a
oportunidade de trabalhar com uma das linhas de produtos mais
famosa do mercado de áudio, vídeo e broadcast”, destacou o
Facebook

engenheiro. Fabio afirma ter como foco ampliar o conhecimen-


to do canal com toda a linha de câmeras para cinema, como a
URSA Mini, miniconversores, switchers de produção, softwares
e gravadores, “assim como todo o leque de produtos da empre-
sa”, acrescentou o profissional, que, há quase duas décadas no
mercado, já produziu eventos e se especializou atuando como
distribuidor, apoiando revendas na América Latina e no Brasil.
Fabio Angelini: experiência a
serviço da Blackmagic Design Mais informações podem ser obtidas por meio do e-mail atendi-
mento@pinnaclebroadcast.com e do telefone (11) 2605-0563.

52 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 53
Capa Rodrigo Sabatinelli

LEAGUE OF
LEGENDS BRASIL
Luzes de mega espetáculo na final do Campeonato
Brasileiro de lol emocionam público e ciberatletas

N
o Brasil, o League of Legends é chamado fotografia Yamada, o rider, totalmente alimentado
por alguns ciberatletas de “joguinho”. Mas o pela locadora paulistana, ainda passou pelas mãos
apelido, embora carinhoso, é para lá de mo- de outros dois renomados profissionais – os lighting
desto, especialmente se considerarmos os números designers Bruno Lima e Erich Bertti. Em entrevista à
que cercam o game. Ou melhor, se considerarmos Luz & Cena, Bruno, Yamada e Erich contaram deta-
somente a final do CBLoL, o Campeonato Brasileiro lhes sobre a empreitada, indiscutivelmente uma das
de League of Legends, evento que, no último 9 de mais ousadas já vistas neste país.
junho, reuniu no Ginásio do Ibirapuera, em São Pau-
lo, cerca de 10 mil torcedores dos times INTZ e CNB rider “trAnsBordA” movings
– adversários na disputa pela coroação do ano –, roBe e mArtin
além dos mais de cinco milhões de pessoas ligadas
à final via internet e pelo canal Sportv. O mapa de luz da final do CBLoL foi composto por
um grande número de estruturas, que sustenta-
Acostumada a participar de eventos de grande por- ram centenas de aparelhos. De acordo com Bruno
te, como esse, a LPL foi responsável pelo forneci- Lima, “em 14 quadrados de cinco metro por cin-
mento de todos os equipamentos de iluminação co metros, por exemplo, estiveram instalados, em
utilizados no espetáculo. Desenhado pelo diretor de cada, cinco moving lights ColorSpot 2500 e cinco

54 | áudio música e tecnologia


Carol Pereira
ColorWash 2500, totalizan- trário do que se poderia esperar numa situação
do 140 unidades. E, em ou- como essa, optou por pilotar as cenas em vez de
tros dois, sendo esses posi- deixá-las no timecode juntamente a áudio, pro-
cionados nos eixos laterais jeções e mappings. A decisão do iluminador, em-
do mapa, estiveram, em bora arriscada, arrancou elogios dos presentes e
cada, cinco ColorSpot 2500 acabou sendo mais uma das muitas peculiarida-
e cinco Viper Wash DX, da des do espetáculo.
Martin”, disse.
“Em um evento dessa magnitude, a produção es-
Um quadrado de 16 m x pera que tudo saia perfeitamente como o plane-
16 m sustentou, além de jado, daí o desejo de ‘pendurar’ tudo num syn-
quatro grandes telões nos ch. Particularmente, como sei que até mesmo as
quais foram projetadas máquinas podem falhar, prefiro confiar na minha
imagens das partidas, 24 habilidade de concentração e execução e encarar
Viper AirFx, também da a missão ao vivo mesmo. E foi o que fiz! A adre-
Martin, dividos em grupos nalina do momento, de ter que ser ‘o cara’, acabou
de seis unidades por lado. sendo muito mais motivante!”, disse Erich, endos-
Dentro desse quadrado, fa- sado pelo diretor de fotografia do espetáculo.
ceando a borda inferior dos
telões, uma outra estrutu- “A participação [de Erich] se fez mais que funda-
ra similar, de 15 m x 15 m, mental, pois além de conhecer o game, ele con-
contou com oito aparelhos seguiu promover, manualmente, movimentos de
Quantum Spot, da Martin, luz tão encantadores quanto uma aurora bore-
e 24 Robin 600 LED Wash,
da Robe, e, num quadrado

Carol Pereira
central, onde estava insta-
lada uma robocam, estive-
ram mais dois Viper AirFx,
da Martin.

“Internamente, ao redor de
toda a arena onde ocorreu
o evento, foram instalados
três grupos de anéis. Considerando-os de baixo
para cima, os anéis do chão receberam 12 Ato-
mic 3000, da Martin; 36 Robin 600 LED Wash, da
Robe, e seis BMFL WashBeam, também da Robe,
enquanto que os do meio ficaram com 70 Rush
MH3, da Martin, e mais dez BMFL WashBeam, da
Robe, e os superiors com 120 unidades de lâmpa-
das PARLED LP-365, de 3 W, cada, todos eles con-
trolados, via fibra ótica, por um sistema grandMA
composto por uma mesa FullSize 2 e uma Light
2”, completou.

OPERAÇÃO NA MÃO DO
ESPECIALISTA
A operação – literal – das luzes, bem como sua
programação, ficou a cargo de Erich, que, ao con-

Amplo, o rider foi alimentado pela LPL

áudio música e tecnologia | 55


Capa

al. Erich costuma ope-

Carol Pereira
rar uma mesa como
se estivesse tocando
um instrumento mu-
sical, que, em vez de
notas, emite luz, e,
quando levei esse pro-
jeto para a LPL, meu
primeiro pedido ao
Bruno [Lima] foi que
tivéssemos ele [Erich]
por trás da operação,
afinal de contas, trata-
-se do melhor usuário
de grandMA do Brasil”,
completou Yamada,
acrescentando que a
criação e a direção de
arte do CBLoL levaram
a assinatura de Marco A criatividade foi o ponto forte da iluminação do espetáculo
Aurélio ‘Wendigo’.

UMA HISTÓRIA CONTADA se iniciou a contagem regressiva e o ginásio foi


PELA LUZ… tomado por um denso blackout.

De acordo com Erich e Yamada, para cada momen- No segundo, emendou o diretor de fotografia,
to do espetáculo, a iluminação exerceu um papel, três personagens duelavam em cena e o papel
digamos, único. No primeiro ato, disse o lighting da luz foi dar suporte a eles, variando a operação
designer, o foco da cena foi valorizar a dramatici- em intensidade e velocidade, sempre de acordo
dade da trilha sonora, baseada na força e na ex- com seus movimentos e permitindo que o map-
pressividade de grandes tambores, e no impacto ping atuasse livremente nas áreas de projeção.
da atmosfera que invadiu o espaço cênico quando E, no terceiro e último – no qual os “players”, de
fato, entraram em cena –,
as luzes, inicialmente, se
Carol Pereira

assemelharam às de um
show de rock, mas aos
poucos tornaram-se mais
sóbrias, apresentando,
com isso, a magnitude do
design e do evento em si.

“Eu, como jogador des-


se game, quando assu-
mi essa operação, segui
os passos de cada per-
sonagem, reagindo aos
abates, às conquistas de
torres e jogadas marcan-
tes. Com isso, ofereci ao
público, do ponto de vista

Mesmo complexa, a luz foi manualmente operada por Erich Bertti

56 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 57
Capa

Carol Pereira

Carol Pereira
Em sequência, dois momentos distintos nos quais as cores refletem o conceito do game

da iluminação, uma incrível experiência. E a re- de imersão em cores. De início, faríamos o com-
ação deles mostrou o quanto a integração de luz bate com canhões seguidores, que acompanha-
e som foi impactante e importante na exibição. riam os personagens protegendo o chão, mas a
A verdade é que, ali, o que eu queria era jogar claridade desses canhões prejudicava demais a
com eles! E tentei alcançar isso ‘jogando’ com as visualização da projeção, quase que ‘apagando-a’
luzes”, detalhou Erich. por inteiro”, contou Yamada.

…E PELAS CORES MÃOS NO CONSOLE, OLHOS


NA TRANSMISSÃO
Se a intensidade e os movimentos das luzes
acompanharam o clima do jogo, a escolha de co- E por falar em transmissão, Erich, que sabia da
res usadas em cada momento não foi aleatória. importância de a luz do espetáculo imprimir bem
Da opção pelos tons de azul, que coloriam as ce- na transmissão da final do CBLoL, trabalhou com
nas, digamos, mais “calmas”, ao uso dos verme- uma base clássica, mas não deixou de iluminar a
lhos, aplicados nos tensos combates – passando, plateia e não abriu mão dos contraluzes fortes e
claro, pelo amarelo dedicado às explosões de po- contrastados, que se difere radicalmente do que
der de Leona, personagem principal do combate, chama de “branco de estúdio”. Tal ousadia, des-
e pelo branco que servia de base para a entrada tacou o diretor de fotografia, fez com que o pú-
dos players –, tudo fez muito sentido e, mais do blico de casa recebesse um conteúdo tido como
que isso, teve ligação direta com o que os usuá- diferenciado.
rios costumam “viver” quando jogam o League of
Legends em suas casas. “Trabalhamos com a base [de luz] e, claro, todas as
câmeras setadas em 6.000 K . Com isso, consegui-
“Para não prejudicar a projeção mapeada do pal- mos ‘entregar’ ao espectador todas as cores como
co e de toda a arena, e, ao mesmo tempo, atribuir elas realmente estavam sendo usadas ao vivo. Mais
uma aura fantástica às cenas e ainda manter um do que isso, conseguimos ‘passar longe’ daquele pa-
nível suficiente para a captação das imagens para drão ‘azul’ que muitas transmissões ao vivo levam a
broadcast, optamos por investir nessa atmosfera seus espectadores”, disse Yamada, orgulhoso.

58 | áudio música e tecnologia


A ousadia de um time
Diretor de fotografia e lighting designers destacam autoria e liberdade

Luz & Cena: Como vocês veem esse projeto do vimos que a programação “in loco” e a operação da
ponto de vista do planejamento e da execução? mesa em "manual mode" ainda estão na moda.

Erich Bertti: Desde o início, o CBLoL mostrou-se, para O conceito de luz do espetáculo, embora tenha
mim, [um projeto] audacioso. E, a cada decisão toma- ligação com a proposta original do game, refle-
da, não nos importávamos em pensar “fora da caixa”, te muito da “mão” de vocês. Como foi negociar
como chamamos no nosso meio. Essa é, na verdade, essa “autoralidade” com a direção do CBLoL?
uma característica nativa do trabalho do Yamada, e tal-
vez por isso nos demos tão bem. Para mim, esse pro- Yamada: Olha, quando me disseram que o even-
jeto representa o começo de algo grandioso que está to seria no Ibirapuera e que teríamos 360 graus de
nascendo por aqui, já que os e-sports vieram pra ficar, plateia, a primeira coisa que pensei foi que teríamos
bem como a iluminação cênica em programas televisi- que utilizar todo o espaço aéreo do ginásio com algo
vos e streams. Fazer parte dele foi incrível. que envolvesse o público em um clima de realismo
não usual, que surpreendesse, que fizesse o ar rodar
Yamada: O League of Legends é um game que mo- e as pessoas verem a atmosfera de cor passar diante
vimenta cifras do patamar de gente muito grande. de seus olhos e sobre suas cabeças.
No que concerne ao nosso trabalho, temos que des-
tacar o uso de enormes telas de projeção, mapping Erich: Criar uma luz conceitual é o motivo pelo qual
por toda a área cênica e uma mecânica que, apesar trabalhamos diariamente. Afinal de contas, com li-
de muito complicada, deu certo. Acredito, sincera- berdade, colocamos um pouco da nossa personali-
mente, que isso vem da segurança e confiança que dade em cada espetáculo realizado, pois queremos
a Riot Games, idealizadora e realizadora do evento, que eles fiquem guardados na memória do espec-
tem nos seus gestores, que, por sua vez, confiam tador. A iluminação é uma arte como tantas outras
nos parceiros convocados para projetos como esse. que, aos poucos, vêm sendo reconhecidas em nosso
Hoje, é muito bom você trabalhar com pessoas que país. Quando você faz seu trabalho e vê mais de três
acreditam, apostam e compram suas ideias, por mais milhões de tweets falando sobre ele, é sinal de que
diferentes que elas pareçam ser num primeiro olhar. realmente impactou as pessoas. E isso, meu amigo,
Bruno Lima: Por termos como conceito desse even- é arte, ou melhor, é a nossa paixão sendo transferida
to a imersão do espectador no audiovisual, decidi- a outros por meio da luz. •
mos, por consenso, que seria
importantíssimo o tempo de
Carol Pereira

programação “in loco”, junto


com o mapping e com o som
presentes, ou seja, de modo
que pudéssemos vizualizar
100% desse “casamento”, algo
que não teríamos tão intensa-
mente na programação 3D. Mu-
damos, então, nosso cronogra-
ma, trabalhando para que a luz
estivesse pronta antes do pre-
visto, e ganhando, assim, um
tempo maior para a criação. Foi
inspirador sentir a pegada com
tudo funcionando e, com cer-
teza, isso enriqueceu muito o CBLoL: luzes ousadas nas mãos de criativos
resultado final da luz. No final,

áudio música e tecnologia | 59


Media Comp o s e r Cristiano Moura

ediÇÃo multicÂmerA
no Avid mediA
comPoser
múltiplos ângulos sem dor de cabeça

A
edição de múltiplas câmeras pode ser útil em diver- no mesmo exato momento, então, para editar multicâmera
sos cenários. Entrevistas, reality shows, esquetes, (em qualquer programa de edição) é necessário encontrar
shows, videoclipes e muito mais. O Avid Media Com- alguma referência que possa servir de sincronismo.
poser possui uma gama de recursos que fazem desta desa-
fiadora edição algo prático e confortável. Em um mundo ideal utilizamos câmeras capazes de forne-
cer e receber informações de timecode, que funciona como
Vamos conhecer alguns dos principais fluxos de trabalho e um relógio universal para posteriormente servir como re-
recursos a partir de agora! ferência de sincronismo. O processo é relativamente sim-
ples, em que um câmera “mestre” gera informações de
tempo (timecode) para as demais câmeras, e assim todas
métodos de sincronismo registram informações baseadas na câmera mestre.

A edição multicâmera é relativamente simples. A prepara-


Na prática, a vida não é tão bela. Em primeiro lugar, sem
ção é que toma mais tempo. Portanto, neste artigo vamos querer discutir os motivos, o fato é que nem sempre este
nos dedicar a falar com mais cuidado sobre os métodos de processo de sincronismo entre as câmeras funciona. Em se-
sincronismo do que sobre a edição em si. gundo, muitas câmeras não possuem esta funcionalidade,
então temos que pensar em outras soluções.
Quando mais de uma câmera é utilizada, temos um pro-
blema do qual não temos como escapar. Não tem como Como segunda opção, o Avid Media Composer é capaz
todos os cinegrafistas pressionarem o botão de gravação de usar o áudio como referência de sincronismo. Se as
câmeras gravaram áudio, pela análi-
se das formas de onda, o Avid é ca-
paz de fazer o sincronismo. Esta já
é uma opção muito mais popular, já
que a maioria das câmeras tem mi-
crofones embutidos e gravam áudio
e vídeo sem problemas. Mesmo que
a qualidade do microfone não seja
boa, isso não tem relevância para o
processo de sincronismo via análise
de formas de onda.

Agora, como fazer se uma das câme-


ras não gravaram áudio, ou se a aná-
lise pelas formas de onda falhar? Nes-
te caso, vamos partir para a terceira
tática, que é a identificação manual
de uma referência de sincronismo. Ou

Figura 1 – Uma das muitas opções de


aplicativos de Claquete para iOS

60 | áudio música e tecnologia


Figuras 2A e 2B – Último frame antes do flash e frame do momento do flash

seja, vamos carregar um clip por vez no source monitor e co- a mão na cabeça, ou mesmo um flash disparado por
locar um In Point em um momento de fácil identificação em algum fotógrafo pode ser facilmente identificável (figs.
todas as câmeras. Este é um dos vários motivos de se usar 2A, B, C e D).
uma claquete a cada novo take de uma cena. Ela fornece
uma informação precisa de áudio e vídeo, então basta locali- AgruPAndo os cliPs PArA multicAm
zar o frame exato onde a claquete é feita e marcar o In Point.
Continuando nossa preparação, temos que avisar ao Avid
Se você pretende filmar algo com múltiplas câmeras e não Media Composer que temos diversos master clips, que
possui uma claquete, não se preocupe: simplesmente bata na realidade são da mesma cena, porém gravadas por
uma palma antes de cada take que será suficiente para este ângulos diferentes.
processo. Agora, se você quer, de fato, ser mais organiza-
do e ter registro de take, cena e tudo mais, mas não quer O procedimento é bem simples. Primeiro, selecionamos
comprar uma claquete, uma boa solução são os aplicativos todos os master clips, e, depois, pelo menu Clip, acessa-
de claquete para iOS e Android. Basta procurar pelo termo mos a opção “Group” (obs.: em versões anteriores ao Me-
em inglês “Slate” (fig. 1). dia Composer 8.5 a mesma função encontra-se no menu
Bin, com o nome de “Group Clips”).
Por último, se o material já foi filmado e entregue a
você sem nenhuma referência de claquete, palmas ou Na caixa de diálogo a seguir (fig. 3), temos que informar
similar, você pode procurar um momento de fácil iden- qual é o método de sincronismo que usamos. Basta esco-
tificação em todas as câmeras. Pode ser um frame em lher qual dos métodos mencionados acima foi usado para
que o baterista bate em um prato, o entrevistado coloca fornecer referência de sincronismo e apertar ok.

Figuras 2C e 2D – Frame seguinte ao flash e dois frames seguintes ao Flash

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Media Comp o s e r

Um novo clip será criado no mesmo ção como se fosse “ao vivo”, em uma
bin, e repare que o ícone é bem di- mesa de corte. Basta acionar o playba-
ferente. Este clip contém todos os ck e seguir clicando com o mouse nos
masterclips selecionados. Agora es- ângulos de preferência. Ao pressionar
tamos prontos para editar! o stop, os cortes serão feitos.

editAndo rePensAndo
multicÂmerA seus cortes
Obviamente, a primeira coisa a se fa- Dificilmente vamos conseguir fazer, de
zer é criar uma sequência e jogar o primeira, uma edição perfeita. Fatal-
master clip recém-criado na sua timeli- mente, dois ajustes serão solicitados:
ne. A princípio, parece um clip comum, ou alteração no ponto/momento do
mas todos os ângulos estão embutidos corte, ou uma substituição da câmera
neste único segmento. Para acessar os escolhida. Para o primeiro caso, pode-
outros ângulos, vamos acessar, pelo mos usar a função Trim com o Dual
menu Composer, a função Multicamera Roller habilitado (fig. 5) ou Extend
Mode (obs.: em versões anteriores ao Figura 3 – Opções para alterar o ponto de corte.
Media Composer 8.5 a mesma função de sincronismo
encontra-se no menu Special). Por fim, para a troca de câmeras,
basta posicionar o cursor da timeline em qualquer ponto
Com a função habilitada, o usuário pode visualizar quatro do clip em questão e utilizar as setas para cima e para
ou nove ângulos simultaneamente pelo source monitor (fig. baixo no seu teclado para alterar os ângulos.
4). Para fazer a edição/troca de câmera, basta posicionar
o cursor na timeline no local onde a edição deve ser feita e E, com isso, vamos ficando por aqui. Até a próxima!
clicar em um dos vídeos do source monitor.
Abraços. •
Esta edição pode ser feita tanto com o cursor parado quanto
com o playback ativo, com o usuário podendo simular a edi-

Figura 4 – Multicamera Mode Figura 5 – Trim Dual Roller

Cristiano Moura é instrutor certificado pela Avid. por meio da proClass, oferece consultoria e treinamentos customizados,
além de lecionar cursos oficiais em Avid Media Composer. Contato: cmoura@proclass.com.br.

62 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
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Behringer (proshows) 03 11 4083-2720 www.proshows.com.br

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lugar da verdade | Enrico De Paoli

Engordar a mix (ou a master)


T
aí um termo, ou uns termos, muito usados nos úl- te gerar harmônicos diferentes. O meu ponto aqui não é
timos muitos anos: “O som do fulano é ‘gordão’”; dissertar sobre a diferença sônica e origens dos harmô-
“O som de válvula dá uma ‘esquentada’ boa”; “O nicos ímpares ou pares, ou da combinação deles, mas o
compressor vintage deixa o som ‘gigante’”. E por aí vai... fato de que os harmônicos nascem de um sinal compri-
Se pensarmos que o que deixa o som grande é a adição de mido, que, de uma forma boa ou má, altera o formato da
harmônicos, e que quase sempre eles surgem decorrentes onda, gerando outros sons no seu som já existente.
de alguma compressão na dinâmica do áudio, proposital ou
não, começamos a entendê-los e a olhar para eles com ou- Ok... Estamos o tempo todo imaginando que estes tais har-
tros olhos. E, curiosamente, a ouvi-los com outros ouvidos. mônicos são adicionados na mix, no compressor vintage ou
no plug-in que emula isso tudo. Mas não lembramos o mais
Imaginemos o sinal mais puro do mundo, conhecido tam- básico de tudo: nós não costumamos gravar uma orquestra
bém como onda senoidal. Para quem chegou agora, a se- de ondas puras senoidais! Ou seja, um piano purinho, até
noidal é representada não só graficamente, mas também no muito antes de ser microfonado ou gravado, já contém inú-
mundo real, como aquela ondinha pura como uma marola meros harmônicos em seu timbre. E o mesmo vale para um
na água, e quando dizemos “pura”, significa que, digamos, violão, e um contrabaixo, e por que não as cordas vocais?
uma onda senoidal de 1 kHz (ou mil hertz, ou mil ondinhas Microfona-se esses sons e o próprio microfone, dependendo
em um segundo) só vai conter este som, 1 kHz, e nenhum
de qual design eletrônico e qual o nível injetado nele, se-
outro. Sim, eu disse pura. 1 kHz é isso e nada mais. Ok...
guindo o sinal para o preamp, muito provavelmente estare-
até que você alimente este sinal em um circuito valvulado,
mos adicionando algum volume de frequências que são har-
ou transistorizado, ou numa fita, ou, nos dias de hoje, na
mônicos do timbre principal (fundamental) sendo gravado.
sua placa de som do computador, que contém naturalmente
Logo, temos harmônicos diversos misturados e presentes
o preamp analógico, logo um cirtuito transistorizado segui-
por toda a parte em nosso som. Muito bem...
do de um conversor AD (analógico para digital).

Agora sim, estamos na mix, e aplicamos alguns tipos de


Ok, se alimentarmos esta onda ainda pura (senoidal) com
compressores diferentes nos nossos canais, e... obvia-
mais volume do que este circuito aguenta, o “topo” da
mente, os compressores comprimem, limitam, diminuem
onda tocará no “teto” do circuito. Com isso, a onda que
a dinâmica, a variação do volume do nosso sinal de áudio.
tinha o topo totalmente arredondado (característica nata
E, então, nós aumentamos o ganho de saída desse com-
da onda senoidal) passa a ter seu topo achatado ou clipa-
pressor para reestabelecermos o volume do sinal... E, ao
do. A palavra “clip” em inglês significa “cortar”. Ou seja,
aumentar o volume da saida do compressor, adivinhem
uma onda que tinha o topo redondinho, quando passa a
quem passa a soar mais no nosso som? Eles – os harmô-
ter este topo “clipado”, passa a ter quinas. Uma onda que
tem quinas é uma onda... quadrada! Sugiro que vocês nicos. Nessa simples operação (comprimir e aumentar a
procurem ouvir e comparar o som de uma onda “sine” saída), a gente diminui a diferença de volume entre o som
com uma onda “square” (senoidal vs. quadrada). Ime- e os harmônicos existentes ali dentro.
diatamente vocês notarão que o som da “sine” é puro e
doce, e o som da “square” é nervoso e agressivo. Logo, comprimir uma mix é um meio de fazer os harmô-
nicos soarem mais. Mas, por que, quando comprimimos
Existe um grande debate sobre quais harmônicos são demais, o som fica “empastelado”? Não apenas porque
“bons” e quais são “ruins” para o som. Fato é que, se precisamos, sim, de dinâmica no som da nossa música,
lembrarmos que engenharia de música é o encontro da mas também porque existe um equilíbrio musical e artís-
física com a arte, temos que, teoricamente, adicionar tico entre um som puro demais e um som com muito mais
harmônicos num som puro é errado, mas artisticamente harmônicos do que o necessário. E qual é o necessário?
podemos, de fato, honrar o título desse artigo: engordar o Essa parte os seus ouvidos têm que resolver junto com a
som. Cada tipo de clipping, seja entrar com som alto num música que eles estão mixando!
microfone valvulado, num preamp, numa fita magnética,
num Pro Tools ou até num plug-in simulador vintage, vai Acredite neles! E até mês que vem... •

Enrico De Paoli é engenheiro de música e produtor. Conheça um pouco de seus discos premiados visitando o site www.EnricoDePaoli.
com. Lá você também pode conhecer seus treinamentos particulares Mix Secrets.

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